sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Henrique Vieira de Melo discute a disputa política no movimento evangélico: do fundamentalismo extremo, conservador, racista e seu plano de poder aos setores mais progressistas







Trechos da participação do pastor Henrique Vieira no debate que foi amplamente considerado o mais quente e fértil de todo o Seminário Internacional "Democracia em colapso?". Com Amanda Palha, Flávia Biroli e Henrique Vieira, ele marcou o lançamento da edição especial da revista Margem Esquerda dedicada a enfrentar as articulações e tensões produtivas entre marxismo e lutas LGBT, para além da querela da "cortina de fumaça". A mediação foi de Andrea Dipp.

Henry Bugalho comenta o filme-denúncia coreano ao capitalismo e indicado ao Oscar 2020 Parasita!



Do Canal do filósofo e escritor Henry Bugalho:



"O filme sul-coreano "Parasita" tem feito barulho pelo mundo abordando um tema urgente: a desigualdade social."

Tensões científicas na CAPES e a Igreja Presbiteriana do Brasil: a farsa ardente para a ampliação do poder evangélico e destruição da ciência no Brasil, por Alexandre Filordi



Em uma dimensão, há o respaldo ideológico de uma instituição de fé a um governo que deliberadamente desmantela a pesquisa CIENTÍFICA no Brasil

(Homenagem a Serveto em Genebra, condenado à morte pela inquisição, uma vez denunciado por Calvino – o pai do Presbiterianismo).

Tensões científicas na CAPES e a Igreja Presbiteriana do Brasil: a farsa ardente 

por Alexandre Filordi

O símbolo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) é a sarça ardente. Remete-se ao encontro de Moisés, no monte Horebe, com o inominável YHWH – יהוה – “sou o que sou”. A sarça não se consumia, daí o sentido da perenidade de “Deus”. Mas dadas as circunstâncias atuais, poder-se-ia ver na apropriação de tal símbolo uma farsa ardente. 
Recentemente, a mídia noticiou um dos pastores da IPB, em pleno ato solene de culto, fazendo proselitismo para que os membros de sua igreja assinassem a ficha de apoio à criação do partido Aliança pelo Brasil – sim, aquele cujo logo foi feito com cartuchos de munição de arma de fogo! (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/01/29/em-culto-pastor-pede-apoio-ao-alianca.htm).
Instada a se posicionar, a IPB emitiu uma lacônica nota dizendo que não é uma igreja apolítica, porém, sempre apartidária (https://www.ipb.org.br/informativo/nota-de-esclarecimento-4235). Talvez seja obra do costume. Durante a ditadura cívico-militar brasileira, o AI 2 suprimiu os partidos políticos. A partir de 1966, o regime permitiu a criação de dois partidos: Aliança Renovadora Nacional, mais conhecida como Arena, de apoio ao governo cívico-militar, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição consentida e tímida. A mentalidade partidária maniqueísta do brasileiro tem o seu esteio aí: ou se é isso ou aquilo. Atualizando: se você discordar de algo relacionado aos mandos e desmandos do governo federal, destruindo as redes de proteção do Estado, imediatamente, você se torna esquerdopata, comunista, socialista, terrorista, petista, e, sob um curioso revival, subversivo.
Curioso notar, contudo, que a IPB, durante os anos de chumbo privilegiou o governo vigente. Protestantismo e Repressão, escrito por Rubem Alves – aliás, caçado pela IPB como pastor subversivo – é esclarecedora obra. Inquisição sem fogueiras, escrito por João Dias de Araújo – também caçado pela IPB, revela as perseguições aos estudantes de teologia do Seminário Presbiteriano do Sul – Campinas, gerando expulsões e impedimentos na formação seus futuros teólogos e pastores. O pecado dos estudantes: estudar fora do Index Librorum Prohibitorum da IPB. 
Essa pecha de ser apartidária vem da veia história da supressão dos partidos políticos e da adesão por consenso preconceituoso e tacanho da própria IPB. É que o presbiterianismo que chegou ao Brasil não foi o europeu, com um certo grau de emancipação intelectual entre o fim do século XVIII e o amadurecimento do XIX. O presbiterianismo que se aclimatou aqui foi o norteamericano, com pecha sulista, contaminado pelos preconceitos da guerra da secessão (1861-1865) e todos os atrasos intelectuais, além de uso e de costume, daí eivados. 
A permanência dessa lógica é tão presente na consolidação da extrema-direita norte-americana que basta ver o laço do trumpismo com as igrejas evangélicas, além da presbiteriana, nos EUA, sem contar o papel da “evangelização” na guerra-fria, etc. (Uma obra interessante sobre isso é Dark Money – The hidden history of the billionaires behind the rise of the radical right, de Jane Mayer). Logo, não precisa a IPB dizer que é apartidária, pois não sendo apolítica, ela sempre foi de extrema-direita: independentemente de partidos, claro está. 
É assim que, num lance de mestre de xadrez, as ciências brasileiras passam a ser vexadas e ameaçadas. O atual presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, agência de fomento fundamental para o desenvolvimento e a maturação das pesquisas no Brasil, sustenta a necessidade de se defender o criacionismo. Ele chega à CAPES após ocupar o cargo de Reitor em uma instituição educacional da IPB – o Mackenzie. 
O triste sintoma possível de se encontrar nessa conjuntura é assustador. Em uma dimensão, há o respaldo ideológico de uma instituição de fé a um governo que deliberadamente desmantela a pesquisa CIENTÍFICA no Brasil: cancela financiamentos, altera políticas de concessão de bolsas de pesquisa vigentes, estrangula a mobilidade dos pesquisadores, cancela editais de pesquisa, sem contar a incompetência precisa no caso do ENEM, comprometendo o ingresso de milhares de jovens nas Universidades e nos rituais iniciais da pesquisa científica. Tudo isso ocorre com a IPB tentando ocultar o seu acumpliciamento histórico com a farsa ardente da ditadura, da direita e da extrema-direita. Em outra perspectiva, por mais que a fé deva ser respeitada, uma instituição de fomento à pesquisa, portanto laica, como a ciência deve ser, passa a ser usada como couraça ideológica ao próprio governo. Assim, as ciências passam a ser reduzidas a uma profissão de fé.
Desnecessário continuar este texto para dizer que vamos de mal a pior. Fico imaginado se houvesse no comando da CAPES um adepto do candomblé e defendesse, publicamente, que no princípio, Olorum, o ser supremo, governava o Orun, o céu. A Terra não era nada mais que uma imensidão de pântanos governada por Olokun, a grande mãe, guardiã da memória ancestral. Então, Obatalá, a divindade da criação, teve a ideia de colocar terra sólida sobre os pântanos… 
Podemos imaginar o que o patriarcado, os brancos, os evangélicos, os cidadãos de bem fariam? Podemos? 
Alexandre Filordi (EFLCH/UNIFESP)

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Petra Costa, diretora do filme documentário Democracia em Vertigem, no The Washington Post, discorre sobre a guerra de Bolsonaro contra a verdade





A guerra de Bolsonaro contra a verdade, por Petra Costa

O Brasil está imerso em um drama sem fim, enquanto o governo leva a democracia à beira do abismo
Por Petra Costa
Na semana passada, meu documentário Democracia em Vertigem foi indicado ao Oscar na categoria melhor documentário. No filme, entrelaço a ascensão e queda dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro com a minha própria história familiar — tenho a mesma idade da democracia brasileira e, em grande parte, a divisão do país está refletida na minha família.
Após a nomeação, minha equipe foi inundada por mensagens nas mídias sociais nos parabenizando pela conquista. Já o governo reagiu de forma diferente. O então Secretário de Cultura, Roberto Alvim disse: “se fosse na categoria de ficção, a nomeação seria correta”.
Em 2016, eu entrevistei Bolsonaro sobre seus planos para o setor cultural e ele reclamou que nenhum filme brasileiro era bom o suficiente para ser premiado com uma indicação ao Oscar. Na semana passada, no entanto, ele desprezou nossa indicação dizendo “para quem gosta do que urubu come, é um bom filme”. Em seguida, ele admitiu não ter visto o filme, mas isso não impediu que a legião de trolls que o seguem nas redes sociais de papaguear a acusação de que o filme era fake news.
Na quinta-feira, era Roberto Alvim quem estava nas manchetes. Em um vídeo postado nas redes sociais para promover um prêmio nacional de arte, ele proclamou que “a arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional”, “será dotada de uma grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que é profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo — o então não será nada”. O discurso repete frases do ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels, proclamadas em maio de 1933. Um retrato de Bolsonaro aparecia atrás de Alvim, enquanto Lohengrin — uma ópera do compositor favorito de Adolf Hitler, Richard Wagner — podia ser ouvida ao fundo.
Alvim foi deposto um dia depois, após um clamor público que incluiu a veemente condenação das embaixadas da Alemanha e de Israel. Mas creio que ele foi demitido não porque o governo condena suas opiniões e sim porque foi demasiado explícito sobre opiniões que ambos compartilham. Este é apenas um exemplo de como a democracia brasileira se aproxima do abismo.
O assalto sistemático do governo Bolsonaro à verdade tomou agora um rumo preocupante. Na terça-feira, os promotores federais acusaram o jornalista americano Glenn Greenwald de crimes cibernéticos. As acusações decorrem de uma série de artigos publicados no site The Intercept Brasil, que ele co-fundou, expondo o que parecia ser conluio entre os principais atores da Operação Lava Jato, uma investigação anti-corrupção.
Nos últimos cinco anos, o Brasil tem estado atolado em um drama contínuo, repleto de reviravoltas inesperadas. Em 2016, Dilma Rousseff, nossa primeira mulher presidente, foi alvo de um impeachment por conta uma questão técnica ininteligível para a maioria da população. A imprensa e mídias sociais propagaram a percepção de que ela estava sendo alvo de impeachment por corrupção, o que um grande setor da população estava satisfeita em acreditar. Na semana do seu impeachment, três das cinco notícias mais compartilhadas no Facebook eram falsas.
Dois anos depois, Lula, candidato favorito para as eleições presidenciais de 2018, foi preso e impedido de concorrer, no que pareceu ser a conclusão perfeita para um longo reality show.
Sérgio Moro, o juiz responsável pela prisão de Lula, foi premiado com o cargo de ministro da Justiça depois que Jair Bolsonaro foi eleito. A eleição de Bolsonaro, um deputado do baixo clero, homofóbico e misógino, foi o resultado de uma extraordinária campanha baseada na disseminação de fake news nas redes sociais. Mais de 98 por cento dos seus eleitores foram expostos a uma ou mais manchetes falsas durante a campanha e quase 90 por cento acreditavam que elas eram verdadeiras, segundo estudo da organização Avaaz. O seu governo dominou a arte de manipular a verdade.
Em Democracia em Vertigem, eu entrecorto as últimas décadas da história política brasileira com a minha história familiar. Meu avô co-fundou uma das maiores construtoras do país, uma das empresas investigadas pela Operação Lava Jato. Meus pais foram militantes de esquerda durante a ditadura (1964-1985), chegaram a ser presos e passaram anos no Sul do país fazendo trabalho de base com estudantes e trabalhadores. Os ideais deles me fizeram acreditar que um Brasil melhor, menos desigual e que não fosse governado por elites corruptas e autoritárias, era possível. Eu votei em Lula com a esperança de que ele faria as mudança políticas tão necessárias. Mas logo o vi formar alianças com as velhas oligarquias do país.
Espectadores do mundo inteiro se identificaram com minha tentativa de discernir os fatos em meio a tanta ficção que está moldando o futuro do Brasil. Acredito que as pessoas se conectam com nosso filme porque sentem que suas democracias estão sob um tipo de ataque semelhante. O que inicialmente pareciam ser casos isolados (na Índia, Brasil e Turquia) se transformou em uma epidemia global. O filme critica os líderes que tentam silenciar pensamentos divergentes. Talvez esta seja a razão pela qual alguns políticos autoritários de extrema-direita, no Brasil e no exterior, queiram classificar os esforços artísticos e jornalísticos para desvendar a verdade como ficção e fake news.
É interessante que Lügenpresse, ou “imprensa mentirosa”, foi um slogan amplamente usado na Alemanha durante o terceiro Reich para descreditar qualquer jornalista que discordasse da posição do governo.
Esforços para descreditar a imprensa e as artes tem sido particularmente devastadores no Brasil. A sua influência vai muito além da política partidária. Desde 2019, as elites de extrema-direita e os grupos conservadores religiosos têm travado uma guerra cultural a níveis que não se viam desde os anos mais duros da ditadura militar.
O líder do governo caracterizou o Carnaval brasileiro, uma grande fonte de orgulho em nossa cultura, como uma festa degenerada. Alguns de nossos maiores artistas foram atacados, livros escolares estão sendo reescritos e recursos foram cortados para séries e projetos cinematográficos sobre temas L.G.B.T.Q. Mais de 30 obras de arte foram censuradas, auto-censuradas ou canceladas. Essa guerra cultural atingiu novos patamares em dezembro quando a produtora, Porta dos Fundos, foi atacada com coquetéis Molotov por conta de seu episódio satírico A Primeira Tentação de Cristo, que retrata Jesus como homosexual.
Não há luz visível no fim do túnel desta guerra cultural que procura censurar os valores liberais e progressistas e desconstruir a verdade para impor um fascismo tropical. Como aponto em Democracia em Vertigem, a elite se cansou do jogo da democracia. A história do nazismo mostra que as elites que se calaram diante do avanço do autoritarismo acabaram sendo engolidas por ele. A extinção é o preço da omissão.
Petra Costa é cineasta. Seu último filme, Democracia em Vertigem, foi indicado para o Oscar de melhor documentário

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A geopolítica do capital: pré-sal na mira dos EUA e a grande ajuda que a Lava Jato lhes deu para tomá-lo do Brasil




Como o pretexto (e seletividade) da luta anticorrupção virou instrumento da geopolítica norte-americana, uma arma mais eficiente do que as intervenções militares convencionais
Por Luis Nassif e Cintia Alves, do GGN
O atentado de 11 de setembro de 2001 mudou a história e a doutrina de segurança dos Estados Unidos.
Desde o fim da União Soviética, o governo norte-americano acreditava ter entrado em uma era de controle total sobre os concorrentes.
De repente, com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, a sensação de invulnerabilidade começou a desmoronar.
O episódio representou uma ruptura no sistema de relações internacionais, forjando um realinhamento dos Estados Unidos em relação à ordem global.
O governo então passou a exercer uma marcação maior sobre transações financeiras e intensificou as ações políticas e a cooperação jurídica com outros países.
A toque de caixa, eles aprovaram um novo plano nacional de segurança.
“Eu dizia que os EUA estavam agindo como um império, pela força, pela independência, pela reação sem levar em consideração regras internas e regras internacionais. E realmente, naquele momento, acho que nunca houve na história da humanidade nenhum País que concentrasse tanto poder. Não tinha outra potência fazendo contraste. Eram os EUA que faziam tudo para assegurar sua segurança”, afirmou o ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa.
“Na doutrina de segurança norte-americana que foi passada logo em seguida tinha um parágrafo que dizia que os EUA farão qualquer coisa para impedir que uma outra nação se aproximasse do poderio americano”, acrescentou.
O Departamento de Segurança Interna, o DHS, e a Agência de Segurança Nacional, a NSA, foram encarregados de preparar o País contra novas ameaças.
Juntos, eles formam o núcleo de proteção cibernética dos Estados Unidos.
Com orçamento estimado em 8 bilhões de dólares, a NSA surgiu na década de 1950, para fazer espionagem eletrônica dentro e fora dos Estados Unidos, em continuidade ao trabalho desenvolvido a partir da Segunda Guerra Mundial.
Já o DHS começou com um orçamento 5 vezes maior. Foi criado em 2002, justamente para coordenar o serviço de inteligência depois do fracasso em prevenir os atentados de 11 de setembro.
Com o tempo, ficou evidente que essa grande estrutura de combate à corrupção era capaz de operar como um instrumento geopolítico. Sobretudo porque o papel de polícia mundial incorporado pelos Estados Unidos começou a esbarrar na soberania de outras nações.
Historicamente, o governo norte-americano tem invadido países em guerras armadas. Essas guerras se tornaram cada vez mais caras e ineficazes. Mas nesse contexto existiam poucos recursos para que eles pudessem interferir nas grandes disputas comerciais, a não ser que fosse apoiando golpes de Estado em favor de aliados.
A soberania nacional impedia qualquer atuação mais decisiva em favor dos interesses das companhias norte-americanas. Pois cada País deveria julgar os crimes cometidos por suas empresas e cidadãos.
Uma primeira brecha para subverter esse processo interno foi aberta a partir da criação de uma corte internacional para julgar crimes contra a humanidade, uma pauta humanitária legítima.
Em cima dessa brecha, surgiu a Convenção Anti-Suborno da OCDE, na qual os Estados Unidos pressionaram para que os países membros se comprometessem com o combate aos crimes de colarinho branco.
“Me parece que a ideia está correta, mas houve também uma deturpação. E hoje, tanto a FPCA como também essas leis que foram criadas supostamente para o combate à corrupção e ao suborno, estão sendo hoje utilizadas para a prática de lawfare, seja para fins geopolíticos, políticos e também comerciais”, avaliou o advogado Cristiano Zanin.
Assim os Estados Unidos montaram a parte central da nova estratégia geopolítica:
Com a NSA e o Departamento de Segurança Interna, teceram a maior rede de inteligência e espionagem do planeta.
Com a profusão de leis anticorrupção impulsionada pela Convenção da OCDE, ganharam poder para punir empresas estrangeiras através de um conceito bastante elástico. Bastava alegar que o dinheiro investigado, em algum momento, transitou por um banco nos Estados Unidos ou prejudicou um cidadão norte-americano.
Para colocar o bloco anticorrupção nas ruas, o Departamento de Justiça, o DOJ, passou a assinar acordos de cooperação com o Ministério Público em diversos países, especialmente da América Latina.
Rapidamente, ocorreu a cooptação de procuradores, juízes e delegados federais, instituindo uma parceria informal.
A forma de cooptação era simples: os procuradores ganhavam poder com as informações repassadas pelo DOJ sobre corrupção política em seus países. Depois, montavam denúncias contra grandes corporações nacionais que disputavam o mercado global.
Mais tarde, esses mesmos procuradores poderiam integrar grandes escritórios de advocacia e usufruir da indústria do compliance, sobre a qual falaremos nos próximos capítulos.
Nesse modelo, bastava ao DOJ direcionar as investigações para países ou empresas que, de alguma maneira, afrontam os interesses dos Estados Unidos. É só oferecer aos procuradores aliados o prato pronto, com os dados que alimentam as investigações.
Ex-procurador do DOJ, o advogado William Burck esteve no Brasil em maio de 2019 e admitiu que “não há a menor dúvida” de que os Estados Unidos usam o combate à corrupção como “um instrumento de política externa.”
No caso da Lava Jato, ele declarou que os procuradores brasileiros “trouxeram a raposa para tomar conta do galinheiro.”
Burck ainda citou na entrevista ao site Consultor Jurídico uma máxima cravada na história de seu País: “O negócio dos Estados Unidos é fazer negócio. O governo sempre vai querer garantir que as empresas americanas estejam bem onde quer que estejam. Eles querem sempre proteger seus negócios.”
E encontraram na Lava Jato os melhores parceiros que poderiam conseguir, pois em nenhum momento os agentes brasileiros manifestaram publicamente a menor preocupação com os interesses nacionais.
“As empreiteiras brasileiras eram a grande arma, instrumento de projeção do Brasil na África e América Latina. Você queimou todo esse canal de influência para abrir espaço para chinesas e empreiteiras do mundo inteiro. Quem vai para a África são as indonésias, tailandesas, turcas, gregas. Eles vão dar comissão também na África. Sai ‘nós’, entram outras. Que vantagem tem para o Brasil isso? Perdemos tudo isso porque a cruzada moralista liquidou com isso.”
Essa cruzada moralista merece um comentário à parte, porque não é apenas o governo dos Estados Unidos que usa a luta contra a corrupção em benefício próprio.
Ao longo das últimas décadas, grandes empresários passaram a injetar muito dinheiro na campanha eleitoral de políticos e na formação de jovens lideranças ao redor do mundo.
Magnatas do petróleo como os irmãos Koch, ou a família Mercer – que fez fortuna no mercado financeiro – criaram institutos e fundações que operam como verdadeiros “think tanks” dos novos movimentos conservadores que cresceram no embalo das redes sociais.
Onde a democracia representativa entrou em colapso, esses bilionários encontraram espaço para uma intervenção rigorosa através dessas fundações.
Assim avançaram as militâncias digitais que, no Brasil, foram usadas na defesa incondicional da Lava Jato, no impeachment de Dilma Rousseff e na promoção de uma ampla agenda neoliberal para a economia.
O Movimento Brasil Livre é fruto dessa árvore. Seus membros passaram pelo principal programa de treinamento da academia de lideranças da Atlas Network, uma fundação  que atua em mais de noventa países, com patrocínio dos Koch.
O PRÉ-SAL NA MIRA DOS EUA
Qual foi o impacto da descoberta do pré-sal brasileiro para o Departamento de Estado?
“Foi muito maior do que se imagina. Porque há uma lógica nos EUA, de que não podem ser vulneráveis a zonas de conflitos permanente, como é no Oriente Médio. Outra coisa que também estão tentando fazer é usar petróleo de lugares mais próximos dos Estados Unidos. Então o pré-sal, nesse sentido, serial o ideal”, afirmou o advogado e consultor André Motta Araújo.
O pré-sal foi talvez o melhor campo para os Estados Unidos fazerem uso da chamada guerra híbrida, uma estratégia militar que une táticas de guerra convencional e ciberguerra, misturando ainda fake news, lawfare e interferências no plano político-eleitoral. A Petrobras foi alvo desse tipo de artilharia.
Em 2008, a empresa foi vítima de um furto. Levaram quatro notebooks e dois HDs trancados no interior de um contêiner, com dados sigilosos sobre o pré-sal. As suspeitas eram de espionagem industrial, mas o episódio foi deixado de lado.
Nos anos seguintes, uma missão diplomática dos Estados Unidos no Brasil começou a enviar correspondências para Washington sobre a exploração do pré-sal.
Revelado pelo Wikileaks, o conteúdo das mensagens indicava que as petroleiras não gostaram nada do regime de partilha discutido ao final do governo Lula.
O fato da Petrobras ser a operadora de todos os campos transformaria as estrangeiras em meras financiadoras da prospecção, diziam seus representantes.
Havia ainda uma preocupação com o avanço da concorrência chinesa a partir do novo modelo.
Em 2013, Joe Biden, então vice-presidente dos Estados Unidos, visitou o Brasil e alguns países vizinhos, de olho no petróleo.
O governo norte-americano não escondia de ninguém que buscava aumentar sua influência na América Latina por causa do “papel estratégico” que a região representa para o futuro dos Estados Unidos na questão energética.
Biden, inclusive, disse à imprensa que os países do continente seriam os responsáveis por dois terços do crescimento do suprimento mundial de petróleo nas próximas décadas.
“A meta principal deles na América Latina, desde sempre, tem sido ter países alinhados completamente, ou mais importante, alinhados à política externa deles. É com isso que eles mais se preocupam agora”, disse o economista e pesquisador Mark Weisbrot.
“É impossível para os EUA ‘aceitar’ outra potência no hemisfério. Aí acho que tem várias coisas, tem o pré-sal aqui, e tem uma política externa que tem várias consequências. Uma integração da América do Sul, né? Eu sempre cito, tem uma capa da Economist que diz assim: ‘não é mais o quintal de ninguém’. Cê acha que… Isso para o pensamento estratégico americano é impossível”, acrescentou o ex-chanceler Celso Amorim.
“Então você tem aqui grandes reservas de petróleo. Além do interesse econômico, você ao mesmo tempo abre um canal de estratégias com os Brics, sobretudo com China e Rússia, que até hoje são os problemas centrais dos EUA, o resto é tudo secundário comparado com China e Rússia. Acho que isso mexeu com o estado profundo”, pontuou.
“E ao mesmo tempo você tem, eu acho, a partir de pelo menos 2008, 2009, uma visão de que o Brasil tinha crescido demais e era preciso cortar as asas. E aí, o que eles usam sempre, é a coisa da corrupção”, finalizou.
Em setembro de 2013, cerca de seis meses antes da primeira fase da Operação Lava Jato ser deflagrada, o mundo foi abalado pelo dossiê Snowden, que desnudou a espionagem dos Estados Unidos sobre lideranças políticas e empresas estratégicas.
A ex-presidente Dilma e a Petrobras foram vigiadas ilegalmente.
Snowden escreveu ao povo brasileiro para esclarecer a finalidade daquela violação. A carta dizia:
“A NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa própria ‘segurança’ – em nome da ‘segurança’ de Dilma, em nome da ‘segurança’ da Petrobras –, revogaram nosso direito de privacidade e invadiram nossas vidas.”
“Dizem que isso é feito para manter as pessoas em segurança. Estão enganados.”
“Esses programas nunca foram motivados pela luta contra o terrorismo: são motivados por espionagem econômica, controle social e manipulação diplomática. Pela busca de poder.”
“Há muito questionamento por conta de diversos países sobre a espionagem para fins comerciais, que não envolve interesse de segurança nacional, mas sim de interesse comercial. Então eles utilizam todo esse documento, esse arquivo de espionagem via FISA, que é uma corte que ninguém tem acesso, e utilizam nos autos para munição, para municiar as operações anticorrupção do FCPA, mas que na realidade visam, de alguma forma, privilegiar as empresas americanas”, explicou a advogada Valeska Teixeira.
TENTÁCULOS PELA AMÉRICA LATINA
Em julho de 2017, durante um evento promovido por um centro de lobby de Washington, Kenneth Blanco, que na época era advogado-geral adjunto do Departamento de Justiça, fez uma das mais comprometedoras revelações a respeito dos bastidores da Lava Jato.
Ao lado de Rodrigo Janot, então procurador-geral da República, Blanco escancarou que os procuradores brasileiros se comunicavam com os norte-americanos sem o acompanhamento da autoridade central, que tem o papel legal de intermediar a troca de informações e cuidar dos interesses nacionais em xeque.
Blanco não parou por aí. Ele celebrou a prisão de Lula como resultado do sucesso da cooperação internacional na Lava Jato. E de quebra, mostrou como os Estados Unidos espalharam seus tentáculos por outros países da América Latina.
A declaração de Blanco é a prova final de que os Estados Unidos conseguiram transformar os procuradores do continente em seus colaboradores, sem a necessidade de uma guerra declarada.
Hoje, esse coleguismo resulta em encontros curiosos, como o que ocorreu no final de 2019 entre Victor Laus – o desembargador que condenou Lula em segunda instância – e um “conselheiro” da embaixada dos Estados Unidos em Brasília.
O agente do governo norte-americano queria trocar figurinhas sobre como a Justiça brasileira está tratando grandes casos de corrupção, como a Lava Jato.
No final da reunião, Laus ainda afirmou que é muito importante que os Estados Unidos se aproximem dos nossos tribunais, pois isso possibilita maior “integração e articulação entre as instituições”.
“O Brasil tem sido o grande prêmio para eles. Eles perderam o Brasil depois de 2002 até 2016. Eles não tinham esse País no bolso. O Brasil é mais difícil do que, especialmente, estes outros países para os EUA conseguirem se aproximar, porque tem uma longa tradição, uma questão de tradição moderna de independência, mesmo na ditadura militar”, disse Weisbrot.
“Quando essa história for finalmente escrita, eu acho que o golpe contra Dilma, Lula e o PT, será visto como um dos mais importantes apoios dos Estados Unidos, em grande escala, a um golpe na América Latina”, finalizou.
No próximo capítulo: Como o desinteresse do governo brasileiro e da Lava Jato submeteu a Petrobras a multas bilionárias nos Estados Unidos, e ajudou na destruição da engenharia nacional.
O CAPÍTULO 4 ESTREIA EM 5/2/2020.
Assista aos episódios 1 e 2:

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Diante de Damares, Bozo, Alvim, Weintraub e assemelhados percebe-se a dificuldade de enfrentar ideológicos (e por vezes fabricados) mitos de Poder, por Bruno Reikdal Lima



 "Na introdução de um pequeno livro intitulado O mito desenvolvimento, publicado pela Editora Vozes, Celso Furtado afirma que todo cientista social sempre traz consigo um conjunto de hipóteses que não podem ser testadas. A isso, Furtado chama de “mito”. Para se imaginar que existe a possibilidade de toda a humanidade consumir como um estadunidense médio, por exemplo, é preciso que se assuma o mito de que os recursos (e a própria vida humana) são infinitos, assim como tendentes à perfectibilidade, em um progresso contínuo de melhoras e aperfeiçoamento rumo a um futuro necessariamente melhor (e perfeitamente possível). Essas são hipóteses que não podem ser testadas, mas assumidas como ponto de partida ou mesmo como pressuposto necessário, tornam possível a interpretação da realidade e o desenvolvimento de projetos humanos, como afirma Franz Hinkelammert em seus livros (como, por exemplo, Crítica da razão utópica, publicado em português pela Editora Vozes, ou Totalitarismo del Mercado, recentemente publicado apenas em espanhol pela Akal). É condição humana ter um “modelo transcendental” para se posicionar e interpretar o mundo."








A dificuldade de enfrentar mitos, por Bruno Reikdal Lima

O subterfúgio imediato de Damares está nos modelos partilhados e socialmente reproduzidos todos os dias nas comunidades religiosas

A dificuldade de enfrentar mitos, por Bruno Reikdal Lima

No intuito ou sob o pretexto de evitar a ocorrência de gravidez na adolescência, o governo Bolsonaro lança por meio da pasta dirigida pela ministra Damares Alves uma campanha de abstinência sexual. Assumidamente sem pesquisas a respeito da eficácia desse tipo de campanha ou mesmo da abstenção do sexo como melhor caminho para evitar uma gestação precoce, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos segue sua cruzada gerando polêmicas, posicionamento de entidades religiosas e apoiadores, críticas de especialistas e até discordâncias dentro do próprio governo (sendo o ministro da Saúde, por exemplo, contrário ao programa).
No entanto, antes de uma questão “moral” ou ainda uma disputa por “o que é racional”, o fundamento dos embates está nos projetos humanos ou de organização social, nos projetos de como deve ser o futuro, que se chocam a cada instante. E nesse campo, incluem-se não apenas os sonhos de uma sociedade de mercado total e competição perfeita ou de uma sociedade sem classes e economia planificada, mas também do Reino dos Céus e outras utopias.
Na introdução de um pequeno livro intitulado O mito desenvolvimento, publicado pela Editora Vozes, Celso Furtado afirma que todo cientista social sempre traz consigo um conjunto de hipóteses que não podem ser testadas. A isso, Furtado chama de “mito”. Para se imaginar que existe a possibilidade de toda a humanidade consumir como um estadunidense médio, por exemplo, é preciso que se assuma o mito de que os recursos (e a própria vida humana) são infinitos, assim como tendentes à perfectibilidade, em um progresso contínuo de melhoras e aperfeiçoamento rumo a um futuro necessariamente melhor (e perfeitamente possível). Essas são hipóteses que não podem ser testadas, mas assumidas como ponto de partida ou mesmo como pressuposto necessário, tornam possível a interpretação da realidade e o desenvolvimento de projetos humanos, como afirma Franz Hinkelammert em seus livros (como, por exemplo, Crítica da razão utópica, publicado em português pela Editora Vozes, ou Totalitarismo del Mercado, recentemente publicado apenas em espanhol pela Akal). É condição humana ter um “modelo transcendental” para se posicionar e interpretar o mundo.
Damares partilha ou utiliza de um desses modelos. Um modelo histórico, fruto do desenvolvimento humano no tempo, materialmente, em comunidades com seus modos de produção, suas disputas, narrativas, organização etc. Especialistas em sexualidade, em geral, pelo menos os sérios, também partilham ou utilizam de outros modelos, diferentes, que também são frutos de processos históricos. E é necessário que tenhamos isso sempre em nossas discussões: primeiramente ou fundamentalmente temos modelos fundados em hipóteses que não podem ser testadas e que dão condições para que pensemos, planejemos, nos posicionemos, entremos em disputas (quando necessário).
No mito de Damares e de boa parte das comunidades brasileiras, entra no horizonte dos modelos transcendentais uma orientação de vida que visa encontrar um Reino futuro melhor do que a vida cotidiana “neste mundo”, mediado por práticas comunitárias religiosas que salvam ou garantem a passagem a cada pessoa para essa nova terra após a morte, dependendo de como se age hoje. Entre a lista de exigências, temos comumente restrições e mandamentos sexuais. Criar proteções para os tropeços dos ainda “não iluminados pelo Espírito” é justificável nesse projeto humano. Afinal, é dar oportunidade para que pessoas participem dessa utopia. A partir de outros modelos, a maioria dos especialistas em sexualidade (com quem estou de acordo nesse ponto), não se visualiza um Reino bom pós morte, mas a construção de uma sociedade com mais recursos que garantam o melhor controle possível sobre gestações e um melhor planejamento, evitando não apenas a gravidez, mas também DST’s, imaginando que há maior ganho na qualidade de vida próximas gerações levando em conta os resultados de pesquisas desenvolvidas e demonstráveis e, claro, a “educação sexual”, que iluminaria com informações diferentes grupos humanos. Mas qual utopia essa solução imaginada compõe?
A dificuldade que gostaria de indicar para os especialistas (e para mim) diz respeito ao modelo que o acompanha, em um espectro social maior, de projeto político e econômico mais amplo. Assim como o não demonstrável Reino de Deus promete uma terra perfeita para a eternidade e legitima a abstinência sexual como programa, a questão da gravidez na adolescência levada em conta por outros caminhos não está isolada de projetos políticos com hipóteses que não podem ser testadas, e que são completamente distintas. Ela pode compor, por exemplo, um projeto de mercado capitalista de pessoas voltadas exclusivamente para tarefas laborais. Pode ser fruto de uma imagem liberal de máxima responsabilização individual, seja em uma sociedade revolucionária ou em uma sociedade competitiva de mercado. O “mito”  que orienta o tipo de organização humana que se espera dá conteúdo para a solução cientificamente proposta por especialistas.
Esse modelo, quando fragmentado, ou seja, quando se discute apenas o ponto do tabu sem apresentar a rede maior de qual sociedade é esperada, não constitui comunitariamente alternativas para o que garante a aposta de parcelas religiosas da população no apoio à campanha de Damares. O que legitima uma tomada de posição – para além do mito moderno de uma sociedade automatizada por uma ciência perene e partilhada por todos os indivíduos humanos que tomariam suas decisões baseados em probabilidades e experimentos demonstráveis – é o modelo transcendental no qual estamos firmados. Seu conteúdo é constituído e justificado em um campo que não pode ser reduzido a um debate de “evidências” e nem a uma individualização de preferências, na qual cada um pode (ou deve) acreditar no que quiser. No caso, estamos falando de políticas públicas, que envolvem diferentes comunidades do mesmo território, com processos históricos distintos e modelos diferentes, projetos fundados em mitos diferentes, disputando a instituição moderna Estado nacional. Trata-se da construção de um “mito” (ou no mínimo de tornar explícito algum já existente).
Nas discussões em economia política, Hinkelammert mostra como os modelos transcendentais orientam, justificam e tornam possível os modelos econômicos. É uma das brechas para se discutir a “ideologia da economia”. Esses modelos são o que chamamos de conteúdos ou discursos ideológicos. Negativamente seriam a “falsa consciência” (como nos acostumamos a considerar o que é ideologia), mas positivamente, quando assumidos explicitamente, são as condições que tornam possível a transformação, melhoria ou abandono de instituições ou organizações sociais, tendo como ponto de partida um projeto humano alternativo, um “modelo transcendental alternativo”.
O subterfúgio imediato de Damares está nos modelos partilhados e socialmente reproduzidos todos os dias nas comunidades religiosas, que sem afirmar qual seu programa ou projeto político amplo, aponta para os ordenamentos sociais fundados na esperança de salvação futura. Subentende-se que o Reino de Deus é o plano desejado pelo governo, e suas ações vão de encontro para essa ordem social desejada. Mas qual é o modelo transcendental que permite o sonho de uma nova ordem social no qual outros programas de prevenção estão inseridos e que faz frente a isso? Qual o nossomito?

Referências bibliográficas
FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Paz e Terra: São Paulo – SP, 1983.
HINKELAMMERT, Franz. Crítica da razão utópica. Editora Vozes: Petrópolis – RJ, 1984.
_____. Hacia una crítica de la razón mítica: el laberinto de la Modernidad. Ediciones Desde Abajo – Costa Rica, 2007.

_____. Totalitarismo del Mercado. Akal Editorial – Costa Rica, 2016.

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