sábado, 29 de maio de 2021

Saiu no The New York Times: a tragédia na pandemia de Coovid-19 no Brasil, com a desculpa de "Imunidade de Rebanho", foi planejada por Bolsonaro e comparsas

 

O assassínio e genocídio na atuação deliberada de Bolsonaro e comparsas para que o coronavírus se espalhasse pelo Brasil segundo o The New York Times

Do Canal Meteoro Brasil:


"O governo de Jair Bolsonaro agiu para que a população fosse imunizada pelo vírus e não pelas vacinas, mesmo sabendo que isso poderia custar 1,4 milhão de vidas. A conclusão é de um artigo do New York Times."


quarta-feira, 26 de maio de 2021

Otto Alencar contradiz estudos apresentados por Mayra Pinheiro, a bolsonarista "capitã cloroquina"

 


Jornal GGN A médica Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde, afirmou que a cloroquina é um medicamento de aplicação antiviral, e que existem publicações científicas publicadas desde 2005 que tratam do assunto.

Mayra respondeu a um questionamento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) a respeito. E, “para tirar qualquer dúvida”, Tasso passou todo seu tempo para o senador e médico Otto Alencar (PSD-BA), que detalhou todo o processo de validação de uma pesquisa científica dentro da área médica, além de mostrar sua contrariedade com o uso da hidroxicloroquina como medicamento para tratamento da covid-19.

“A cloroquina/hidroxicloroquina é um antiparasitário – é uma droga antiga, usada para combater malária, causada pelo plasmodium, que é um parasita”, disse Alencar. “Não existe nenhuma medicação que possa, proposto nesse testecov, que possa evitar contaminação pelo vírus”.

Alencar também lembrou que outras doenças causadas por vírus só podem ser evitadas com vacina – dentre elas sarampo, paralisia infantil, varíola e H1N1. “Como é que inventaram agora que hidroxicloroquina pode evitar que uma pessoa se contamine do coronavírus? É um absurdo! E dizer que é um antiviral – Não tem nenhum estudo para comprovar, a não ser o estudo que deve ter sido feito sem os protocolos normais do estudo”.

Quando questionada pelo senador, Mayra afirma que são necessárias pelo menos quatro fases de estudos clínicos para que uma medicação possa ser aplicada. No que Alencar respondeu: “Então, a senhora está consciente de que não foi feito as quatro fases da hidroxicloroquina no combate ao covid-19. Não tem nenhum estudo que possa demonstrar que foi feito primeira, segunda, terceira e quarta fase. E, além disso doutora, todos esses estudos tem que ser acompanhados do ponto de vista farmacológico, farmodinâmico e farmocinético para saber como a droga no organismo do paciente desenvolve a sua ação”.

“Hidroxicloroquina não é antiviral em estudo sério nenhum no mundo, eu tenho lido sobre isso, tenho informações – tenho, inclusive, no meu estado, talvez o melhor infectologista do Brasil, um dos maiores do mundo, professor doutor Roberto Badaró, que é infectologista – a senhora não é infectologista”, disse o senador do PSD.

“A minha discordância aqui nunca foi política, sempre foi científica. Não tem nenhum antiviral agora, nem um antiviral até agora, que possa controlar a doença. O remdesivir tá em teste, e eu lutei muito no ano passado pra Anvisa liberar, veio a liberar agora, mas também não é a droga que a gente chama, e que a senhora também chama, de ‘escolha’ para tratar a doença”, ressaltou Otto Alencar.

“Essa insistência de permanecer no erro não é virtude, doutora, é defeito de personalidade. Não é da senhora não, eu tô me referindo até ao presidente da república”, ressaltou o senador. “É um fato de uma instituição jurídica da importância do Ministério da Saúde colocar no seu site TrateCov, para as pessoas olharem e tomar medicação. O presidente levantar a caixa de hidroxicloroquina. Isso não é honesto. Isso é uma coisa que deve ser combatida”.

Alencar finalizou sua explicação afirmando que a única coisa que pode combater a covid-19 é a vacina. “A vacina negada permanentemente pelo presidente da República. ‘Vai comprar vacina na casa da tua mãe’. Não é na casa da mãe, é no laboratório. Isso é uma falta de respeito para o povo brasileiro que vive, sobretudo, penando pelas ruas atrás de uma vacina”.

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Reinaldo Azevedo: Chegou a hora de a CPI prender os mentirosos deliberados explícitos

 

Do Canal BandNews FM:


Mentiras de Pazuello e Mayra Pinheiro capitã cloroquina na CPI da Covid Pandemia Genocídio em análise de Reinado Azevedo

terça-feira, 25 de maio de 2021

Vídeo do canal Poderes, de Bob Fernandes: A rota do dinheiro, ministério paralelo, negacionismo. A história da cloroquina de Bolsonaro

 

Do Canal do analista político Bob Fernandes:



CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Imagens: Gage Skidmore, Carolina Antunes/PR, Alan Santos/PR, Isac Nóbrega/PR, Valter Campanato/EBC, Fernando Frazão/Agência Brasil, Site oficial Dr. Cássio, Samuel Pancher e Raphael Veleda/Metrópoles, Sindicato dos Médicos do Ceará, O Globo, EBC, TV Brasil, Fox News, Apsen, Oracle, Mar-a-Lago, White House, Presidência da República Este vídeo é uma produção do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.


Reinaldo Azevedo: Pazuello, a prisão que deveria vir, os militares e o maior morticínio da história

 

Do Canal BandNews FM:

 "Reinaldo Azevedo comenta a participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, membro das Forças Armadas, em uma manifestação política a favor do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, no último domingo (23)."




sexta-feira, 21 de maio de 2021

Vídeo resumo do segundo dia do militar Pazuello (ex-ministro da Saúde sem especialização na área) na CPI da Covid Pandemia efetuada pelo Meteoro Brasil

 

Comentário em vídeo de Bob Fernandes sobre um Brasil destroçado e vilipendiado pela extrema-direita: Pazuello mente por Bolsonaro, Carluxo na mira, PF pega Ricardo Salles e Marcelo Adnet debocha dos farsantes

 Do canal do comentarista político Bob Fernandes:


CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Imagens: Lula Marques, Chico Ribeiro/Governo Mato Grosso/EBC, Valter Campanato/Agência Brasil, Marcelo Camargo/Agência Brasil, Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil, José Cruz/Agência Brasil, TV Brasil, TV Justiça, TV Senado, Palácio do Planalto, Polícia Federal Este é produção do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.


quarta-feira, 19 de maio de 2021

Análise do Professor José Fernandes sobre o primeiro dia de depoimento do Gal. Eduardo Pazuello na CPI da Covid Pandemia. Similaridades com o caso Eichmann discutido por Hannah Arendt

 

Do Canal Portal do José:


Faltam 509 dias para o segundo turno de 2022. O Brasil tem a obrigação de responsabilizar todos os causadores do genocídio que está em curso em nosso país. Se isso acontecer, não teremos Bolsonaro nas eleições. Um processo eleitoral deve existir numa democracia para que escolhamos o melhor para nos governar. No caso atual o Brasil tem um grupo de assassinos e saqueadores em todos os níveis governamentais no âmbito da gestão federal. Pazuello é o retrato de um poder que mata e despreza a vida. São alienados ou vigaristas unidos. O resultado é a morte, dor e sofrimento. Os meios de comunicação são cúmplices da matança, pois ganham cada vez mais com a alienação e falta de percepção da sociedade do roubo que é praticado sem que percebamos. O depoimento de Pazuello se assemelha ao julgamento do nazista Eichmann em Israel. O criminoso não se julgava como tal e se colocava apenas como um bom cumpridor de ordens. O seu fim foi a forca. Esperemos que uma forca moral elimine esses monstros de nossa vida política. Sigamos.


Um resumo do primeiro dia do militar e ex-ministro da saúde Eduardo Pazuello na CPI da Covid Pandemia em vídeo do Meteoro Brasil

 

Do país em que até a morte se compadeceu, por Eduardo Ramos

 

Falou-me a velha senhora sobre os povos inteiros exterminados por nações poderosas e gananciosas, por puro lucro

Do país que até a morte se compadeceu

por Eduardo Ramos

Não sou dado a narrar encontros místicos que tive em minha vida, até pela incredulidade que suscita nos outros, mas essa exceção se faz necessária. É com tristeza e perplexidade que conto meu encontro com ela, a Morte.

Me disse a velha senhora, que pelos milênios no ofício de transportar os vivos para um outro plano, uma casca de frieza quase impenetrável já fazia parte de seu ser. Mas que não era totalmente imune ao sofrimento humano, nem ao que ela chamava de “convites desnecessários e perversos à sua presença” – caso das guerras, dos massacres, das grandes covardias, dos genocídios.

Falou-me a velha senhora sobre os povos inteiros exterminados por nações poderosas e gananciosas, por puro lucro, falou-me do “uso canalha e cínico do nome de variados deuses” por homens e nações que visavam apenas poder e lucro, e por fim olhou-me com seus olhos frios, olhos envelhecidos como a idade do mundo, e declarou de supetão: “mortes às centenas de milhares, evitáveis, desnecessárias, como aqui, há meses e meses, em seu país, o Brasil”.

E como num assomo de tristeza, abaixou a cabeça dona Morte, reflexiva, talvez pensando se deveria ou não me dizer o que pensava. Logo depois continuou o seu monólogo.

“Há uma ordem perfeita no universo. Não vou falar aqui de mistérios ou explicações teológicas, não me é permitido, minha função é essa apenas, transportar os mortos para seu destino final… Mas posso te dizer essa coisa óbvia! pessoas nascem, vivem e morrem… nada mais natural com todos os seres vivos. Mas se tem uma coisa que me irrita é essa hipocrisia de gente cínica ou ignorante que usa o meu nome, a morte, para dizer: “Morreu porque chegou a sua hora!” E falou, furiosa, um palavrão que não ouso repetir no texto.

“…então é culpa minha, se europeus massacraram índios e negros aos milhões por séculos e séculos? é culpa minha o racismo, as guerras, o Holocausto, a Palestina?!? Hipócritas! Fosse minha a decisão eu levaria todos eles antes de se tornarem os monstros que viraram…”

Mais uma pausa, eu perplexo com a perda da frieza tão peculiar à velha senhora, e seu acesso de fúria contra os genocidas de todos os tempos… Termina a Morte sua fala a mim, sem que eu soubesse porque me coube ouvir-lhe o desabafo:

“E agora, no meio de uma pandemia, absolutamente controlável, medidas simples, absurdamente simples, fazendo com que uma pequena parcela das pessoas do seu país morressem, cá estou eu, caminhando para MEIO MILHÃO DE MORTOS! Tolos e cínicos, mais uma vez, falarão em “vontade de Deus”, “chegou a hora desses coitados”, e outras sandices do tipo… Vocês escolheram o processo social e político que trouxe vocês a esse inferno! Vocês escolheram o juiz herói que hoje foge de seu país, o covarde! vocês apoiaram o fim de sua democracia e o fim de tudo o que lhes dava uma mínima e digna base civilizatória! Por fanatismo, ignorância, preconceitos e ódios, vocês fraturaram sua sociedade, e aos poucos, chocaram o ovo da serpente e da besta, e olha quem escolheram para presidente de seu país? Um louco bestial, defensor de tortura, e agora, um GENOCIDA! Cada vez que venho aqui buscar seus mortos, sinto-me acolhendo nos braços uma criança indefesa, que não tem quem a proteja, quem a salve de minha presença…. Até eu, a Morte, me compadeço por um desperdício tão inútil de vidas ainda produtivas, com sonhos e coisas lindas a realizar… Não culpem os deuses, nem o acaso, nem nada! Vocês são os responsáveis por todo o horror, porque vocês colocaram o GENOCIDA no poder e permitem em sua omissão covarde, que lá ele permaneça. Sinto pena de você. E, me perdoe, uma vergonha alheia imensa, imensa…”

Termina meu encontro com a morte. Ela me mostra a gravura que ilustra o que me diz, ela, Morte, com um país vulnerável e desprotegido em seus braços.

Sinto uma dor no peito, e silencio.

Tomado de vergonha e tristeza…

(eduardo ramos)

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terça-feira, 18 de maio de 2021

Bob Fernandes: Ernesto Ahhhnnnn Araújo mente à CPI ao negar os ataques à China e confessa ter atuado por cloroquina para atender Bolsonaro e a extrema-direita

 

Do Canal do Analista Político Bob Fernandes:



CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Este vídeo é produção do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Ministério da Saúde finalmente reconhece a inutilidade da cloroquina

 

"Não há evidência de benefício seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicamentos", diz relatório técnico da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec)


Agente de saúde segura comprimido de cloroquina

Agente de saúde segura comprimido de cloroquina (Foto: REUTERS/Diego Vara)


BRASÍLIA (Reuters) - A comissão do Ministério da Saúde responsável por assessorar a pasta no processo de incorporação e exclusão de medicamentos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) contraindicou o uso da cloroquina, da hidroxicloroquina e da azitromicina no tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19.

A orientação dada pelo órgão vai na contramão da defesa enfática que o presidente Jair Bolsonaro faz do uso dos medicamentos sem comprovação de eficácia do chamado "kit Covid" para tratar a doença.

"Não há evidência de benefício seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicamentos", disse relatório técnico da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

O documento destacou ainda que a cloroquina e a hidroxicloroquina não devem ser utilizadas, independentemente da via de administração: oral, inalatória ou outras.

O relatório abre a exceção para que pacientes que usam esses dois medicamentos devido a outras condições de saúde, como doenças reumatológicas e malária, mantenham-nas caso contraiam a Covid-19.

Por sua vez, a utilização da azitromicina pode ser feita na presença ou suspeita de infecção bacteriana, de acordo com orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar local e/ou protocolos institucionais de uso de antimicrobianos.

O relatório da Conitec não fala do uso da cloroquina e dessas outras medicações em casa.

O relatório Conitec, de 101 páginas, servirá de base para uma decisão final do Ministério da Saúde sobre o uso dessas medicações para o tratamento de Covid-19.

A compra e a distribuição da cloroquina e de outros medicamentos estão no cerne da investigação da CPI da Covid-19 e de apurações que envolvem o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ele foi convocado a depor nesta quarta na CPI.

O documento da Conitec também recomenda não utilizar a ivermectina em pacientes hospitalizados com Covid-19 ante o que consideram de "certeza da evidência muito baixa". A ivermectina --um popular vermífugo-- é outra medicação defendida pelo presidente como tratamento precoce contra a Covid.

O texto também sugere não usar o remdesivir em pacientes hospitalizados com Covid-19, citando, por exemplo, que essa medicação não reduziu mortalidade em pacientes nessa condição e tampouco "parece haver benefício nos pacientes em uso de ventilação mecânica".

"Houve redução do tempo para recuperação em pacientes com uso de oxigênio em baixo fluxo em um ensaio clínico, contudo, há incertezas sobre esse benefício e sua significância clínica, não justificando seu uso de rotina mesmo nesse grupo de pacientes", disse o Conitec.

O documento cita que pode haver "algum benefício marginal" com o remdesivir, mas observa que "seu alto custo, baixa experiência de uso e incerteza em relação à efetividade não justificam seu uso de rotina".

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou de imediato a respeito do relatório e de que caminho vai adotar.

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130 anos da Rerum Novarum: A doutrina social católica e o direito do trabalho no Brasil, por Nasser Ahmad Allan

 Se considerado o período de formação do Direito do Trabalho e Direito Sindical no país ao referir-se a doutrina social católica está a se tratar de três encíclicas papais: RerumNovarum, do Papa Leão XIII, de 1891, QuadragesimoAnno, de 1931, e DiviniRedemptoris, de 1937, ambas de Pio XI.



130 anos da Rerum Novarum: A doutrina social católica e o direito do trabalho no Brasil

por Nasser Ahmad Allan, publicado no Jornal GGN

É muito comum serem encontradas, nos livros brasileiros de Direito do Trabalho, alusões à doutrina social da Igreja Católica como entre as principais, senão a principal, influências neste ramo do direito, sobretudo, inspirando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943.

Se considerado o período de formação do Direito do Trabalho e Direito Sindical no país ao referir-se a doutrina social católica está a se tratar de três encíclicas papais: RerumNovarum, do Papa Leão XIII, de 1891, QuadragesimoAnno, de 1931, e DiviniRedemptoris, de 1937, ambas de Pio XI.

Em 15 de maio de 1891, a Igreja Católica Apostólica Romana divulgava a encíclica RerumNovarum, das coisas novas, em latim. O documento papal representava importante guinada da Santa Sé sobre a “questão social”, pois rompia com uma política passiva e silenciosa adotada pela alta hierarquia da Igreja Católica no tratamento da desmedida exploração econômica a que se sujeitava a classe trabalhadora.

O liberalismo econômico, então em voga, produzira uma sociedade extremamente desigual, onde a miséria e a fome do operariado eram contrapostas à riqueza e à prosperidade dos proprietários dos meios de produção, não tardando a surgirem movimentos insurgentes com críticas anticapitalistas e desejos de transformação social.

A relutância estatal em interferir nas relações de trabalho, regulamentando-as, a fim de minorar a exploração ao estabelecer diretrizes legais basilares, como limites à jornada de trabalho e salário mínimo, fomentava o recrudescimento dos movimentos de trabalhadores que, por seus sindicatos, organizavam-se cada vez mais, conseguindo eleger representantes nos parlamentos de alguns países.

O antagonismo entre capital e trabalho causava fissuras na tecitura social induzindo a manifestação da Santa Sé sobre os problemas envoltos na questão social. A fim de legitimar a intervenção no debate e recorrendo a um argumento de autoridade, o Vaticano apresentava o tema como consequência da crise moral da sociedade burguesa, resultado do egoísmo e individualismo acentuado do liberalismo, de um lado, mas também da propagação do socialismo, de outro.

Para a Santa Sé a sociedade burguesa representava a derrocada da humanidade prestando-se a impulsionar algo ainda pior, o socialismo e o comunismo. Assim, a Igreja Católica deveria restabelecer a condição de centro da humanidade e, para tanto, apresentava inflexão não no sentido de enfrentar os desafios futuros, mas a partir da perspectiva de retomar valores e modelos do passado. A solução repousaria, portanto, na restauração da moral e dos valores cristãos, relegados a plano inferior pela ascensão da Modernidade e do ideário liberal, que profanaram, a antes sacra, sociedade. Seria factível, com isso, restabelecer princípios medievais e a vida dos estamentos em plena harmonia. Em suma, mostrava-se urgente recristianizar a sociedade.

A necessária colaboração entre as classes sociais, portanto, constituiu-se em um dos principais pilares de sustentação da encíclica Rerum Novarum. Os pobres precisavam se conformar com sua condição econômica e social que decorreria da vontade de Deus, pois a desigualdade se originaria das diferentes habilidades e qualidades obtidas com o nascimento, descartando-a como fruto de uma sociedade injusta.

Além da naturalização da desigualdade, a Santa Sé preocupou-se em defender a propriedade privada opondo-se, frontalmente, à proposta de sua coletivização formulada por sindicatos e partidos socialistas. Neste sentido, a organização dos operários em associações profissionais era percebida como possível, se essas entidades fossem confessionais, isto é, cristãs, e ainda assim, cabendo ao Estado reprimir aquelas que se filiassem às doutrinas sectárias ou exóticas, como costumeiramente referia-se ao socialismo, comunismo e anarquismo. É com essa perspectiva que a encíclica estipulou alguns deveres dos “patrões”, destacando entre eles, “zelar para que o operário não se entregue ao socialismo”, nos dizeres de Leão XIII.

Em outra vertente, a moral cristã provocaria nos ricos os sentimentos de caridade e justiça em relação aos trabalhadores o que implicaria conceder um salário digno e condições de trabalho mais adequadas. Desse modo, patrões e operários assumiriam os seus lugares no corpo social ao compreenderem a necessidade recíproca de ambos, passando a viver em harmonia, sem maiores sobressaltos nas relações sociais de produção.

A encíclica de Leão XIII também trouxe importante inflexão concernente à ética católica sobre o trabalho. Na obra de São Tomás de Aquino o trabalho era compreendido como moralmente indiferente, sendo necessário para quem dele sobrevivia. Com isso, preserva-se os interesses de uma classe social privilegiada, a aristocracia que, por deter muitas posses, não necessitava trabalhar.

Na Rerum Novarum o ato de trabalhar é revestido de um caráter ambivalente, pois, representado, ao mesmo tempo, como castigo e salvação. O sofrimento e a dor do trabalho são justificados a partir do texto bíblico, em especial na passagem que narra a expulsão de Adão e Eva do Éden. Assim, assentava-se que as péssimas condições laborais seriam consequências do pecado original e da queda do homem do paraíso. De outra parte, foram inúmerosos trechos extraídos do Novo Testamento com a intenção de demonstrar Jesus Cristo como um operário, um trabalhador.

Nessa perspectiva, o trabalho apesar de causar dor, porque castigo, também motivaria a expiação e a santificação de quem trabalha, passando a ser encarado como algo absolutamente essencial e natural à sociedade capitalista e, portanto, constituindo-se em obrigação de todo cristão. Fato bem ilustrado nas palavras de Pio XI na encíclica Quadragesimo Anno, quando afirmou que “o homem nasceu para trabalhar como a ave para voar”.

A estrutura hierárquica da Igreja Católica contribuiu muito para permitir propagar tais valores e ideias, em especial, a partir das Cartas Pastorais dirigidas pelos Bispos aos fiéis e clérigos das respectivas dioceses, com leitura mandatória em missas, mosteiros, conventos, etc. 

Com a proposta de recristianizar a sociedade, podendo conduzir os valores cristãos aos espaços profanos, sem restringi-los às missas e igrejas, o Papa Pio XI fundou um movimento, difundido a partir do Vaticano, porém, destinado a organizar os leigos católicos a agirem como se fossem um “exército de Cristo”, na expressão papal.

A Ação Católica Brasileira – como ficou conhecido esse movimento – fomentou a criação e desenvolvimento de importantes organizações que exerceram alguma influência na sociedade civil brasileira da primeira metade do século XX. Entidades como os círculos operários, juventude operária católica, juventude universitária católica, intelectuais católicos, certamente, contribuíram para formar e espraiar um pensamento social elaborado a partir da doutrina da Igreja.

Com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder houve um estreitamento, a partir da convergência de interesses, entre Igreja Católica e Estado. Tal relação não se ateve à apropriação da imagem e de símbolos da Igreja Católica, mas também resultou no recrutamento de militantes dos movimentos católicos. O aliciamento, principalmente, de intelectuais católicos para ocupar cargos na burocracia estatal também alcançou o alto escalão do Governo Vargas, em especial, o Ministério do Trabalho, com as nomeações como ministros de Waldemar Falcão e Alexandre Marcondes Filho, que contrataram inúmeros técnicos extraídos dos movimentos católicos, como Oliveira Viana, Luiz Augusto do Rego Monteiro, Arnaldo Sussekind, entre outros nomes importantes no processo de elaboração da CLT.

Não há de restar dúvidas, portanto, que a doutrina social da Igreja Católica influenciou na formação do Direito do Trabalho e do Direito Sindical brasileiros, deixando salientes noções como o respeito ao princípio da autoridade que contaminou o conceito de subordinação do empregado ao empregador, compreendendo-a como obrigação moral, quase similar a dos filhos em relação aos pais, como defendido em alguns artigos jurídicos da época, de onde deriva também o dever de obediência.

Ou, ainda, evidencia-se o princípio da colaboração entre as classes sociais que produz a obsessão conciliatória que impregna não só direito material do trabalho, mas também o direito processual e sindical, ao mesmo tempo em que se detrata o conflito e repele-se o exercício de autotutela com a greve.

Se for verdade que nem tudo sobreviveu ao tempo, também não deixa de o ser o fato de ainda restarem – na pior das hipóteses – muitos vestígios de ideias e valores introduzidos pela doutrina social católica daquela época, que buscou produzir um trabalhador cordato, obediente, resignado e uma classe trabalhadora conformada, quando muito, organizada em sindicatos dependentes do Estado.

Nasser Ahmad Allan – Doutor em Direito pela UFPR. Autor dos livros Direito do Trabalho e Corporativismo: análise das relações coletivas de trabalho (1889-1945) (Juruá, 2010) e Cultura Jurídica Trabalhista Brasileira: doutrina social católica e anticomunismo (1910-1945), (LTr, 2015). Advogado trabalhista em Curitiba, sócio de Gonçalves, Auache, Salvador, Allan & Mendonça Advocacia.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Xadrez dos "bastardos inglórios" da direita (Moro, Dallagnol, Lava Jato, Globo, Centrão, Barroso, militares, Temer) que levaram o Brasil ao caos... Por Luis Nassif

 

  E enquanto Bolsonaro procede à mesma desavergonhada distribuição de recursos públicos, através do orçamento oculto, que o centrão domina o país, que o Ministro do Meio Ambiente sai em defesa de criminosos ambientais, Barroso morre abraçado à bandeira da Lava Jato, sustentando que hoje em dia a corrupção pelo menos é envergonhada. O país não abdicou apenas da inteligência, mas do pudor.



Xadrez dos bastardos inglórios que levaram o Brasil ao caos, por Luis Nassif


Peça 1 – a teoria e a realidade

Uma das implicâncias que acumulei na minha carreira jornalística foi em relação a intelectuais livrescos, incapazes de utilizar os princípios que supostamente dominam na análise da realidade. Só aceitam a realidade abstratamente quando ela aparece em forma de livro – e, de preferência, aceito pelo sistema – e quando endossada pela maioria. 

No início da Lava Jato, na visita da Força Tarefa aos Estados Unidos, já havia indícios da influência do Departamento de Justiça na operação. No entanto, em maio de 2018, com todos os sinais no horizonte, cientistas sociais para se mostrarem “modernos” tratavam de classificar as teses de interferência de “teoria conspiratória”.

Não é prerrogativa dos cientistas sociais. Os economistas repetiram, em 20 anos, os dois maiores desastres da história recente do país – a explosão de juros do início de 1995 e o pacote Levy, de 2015. Em ambos os casos seguiam a cartilha – independentemente da realidade econômica e social em que a teoria seria aplicada. Agiram como o médico que receita doses de antibiótico iguais para adultos e crianças.

Essa desmoralização da análise e da informação está na raiz do que viria a ganhar a forma de bolsonarismo e que prosseguirá vivo e fatal como uma cobra cascavel, minando todos os esforços de tentar recuperar o país para a contemporaneidade.

Peça 2 – como se formam as ondas

O processo psicológico que explica a timidez em entender a crise de 1995, os efeitos da Lava Jato, a inação autodestrutiva de Paulo Guedes, é a mesma que levou a ondas como a que sacrificou os donos da Escola Base.

Desafiados a explicar o fenômeno, a cada novo evento, a mídia – e seus especialistas, os cabeças de planilha e os cientistas de papel – saem correndo atrás da primeira interpretação, buscando a faixa de menor risco através de dois expedientes.

O primeiro, seguir o mesmo padrão de coberturas similares, mesmo quando se vive situações excepcionais, isto é, sem precedentes comparáveis – como o fim da inflação do Real ou a crise de 2008.

O segundo, usar a explicação mais acessível ao leitor que, em geral, é a mais superficial e descontextualizada. Cria-se, então, a onda em cima da primeira versão, e amarram-se todas as opiniões posteriores.

Se disser a maior estultice do mundo, mas estiver em companhia da maioria, não será cobrado. Se defender uma posição inovadora ou minoritária, será questionado de todas as formas, e precisará de argumentos seguros para se defender. 

O efeito manada, que tanto criticam no bolsonarismo, é companheiro de cabeceira desse pessoal.

Os que ousam ir contra a maré vivem dois momentos. Na primeira etapa, são vistos com total desconfiança. Depois que as teses são assimiladas, há uma multidão aderindo, diluindo seu pioneirismo.

É por isso que, em todas as discussões, a maioria dos interlocutores procura a faixa de menor risco, que é acompanhar as ondas. No Brasil esse movimento foi acentuado pelo populismo da mídia, de não entrar em dividida contra os consensos.

Peça 3 – a importância da análise empírica

Mas não apenas isso. Há uma enorme mediocridade, uma incapacidade crônica dos cabeças de planilha e dos cientistas de papel de aplicar conceitos aos dados da realidade. Se a realidade não bate com o livrinho, abole-se a realidade. Isso não é ciência.

Lembro-me do início do Plano Real. Abriu-se a economia, apreciou-se violentamente o câmbio e ficou-se aguardando a entrada das importações, para segurar pressões de preços. E as importações não entravam, para desespero dos economistas do Real.

Na época, escrevi um artigo mostrando que havia uma defasagem entre abertura de mercado e entrada das importações. Seria um tempo para identificar produtos importáveis, fornecedores externos, demanda interna.

O então Ministro do Planejamento José Serra me telefonou perguntando se havia lido os trabalhos do até então desconhecido Paul Krugman – que começava a desbastar esse tema.  Não, apenas fui dar uma palestra para um grande atacadista de Uberlândia e ele me contou. Ou seja, bastaria a qualquer dos brilhantes economistas do Real chamar um atacadista e perguntar o óbvio. Mas ficaram esperando os estudos de Krugman.

André Lara Rezende levou vinte anos para entender e defender a relevância da análise empírica, especialmente na identificação das correlações na economia, em eventos extraordinários.

Peça 4 – a lógica da homogeneização da análise

Essa falsa ciência – de se basear em manuais de uso geral, sem se debruçar sobre as características específicas do país -, foi utilizada exclusivamente para a universalização de normas favoráveis ao capital financeiro. 

Usa-se, então, política monetária para lumbago, dor de dente e pneumonia. Uma economia continental, complexa como a brasileira, ficou restrita às mesas de operação. 

Tome-se o fenômeno da inflação. Há inúmeros fatores que podem pressionar preços, quebras de safra, preços de comercializáveis, interrupção de cadeias de produção, aquecimento da demanda. A formação de preços passa por grandes grupos, pequenas empresas, cadeias produtivas agrícolas, aluguéis, serviços pessoais, estado de espirito do consumidor, níveis de inadimplência.  Em países racionais, governos atuam sobre problemas de oferta, quebra de safras, quebra de cadeias produtivas, efeitos do câmbio etc. Mas como o Estado foi demonizado, e o mercado exige homogeneização de análises, qualquer combate à inflação passa exclusivamente pelo Banco Central.

Por trás dessa insuficiência de análise está uma dependência férrea da noção do equilíbrio geral da economia. Monta-se um mundo fictício em que só existem mesas de operação justamente para facilitar o trânsito de capitais, permitindo aos gestores comparar indicadores semelhantes de todos os países. Indicadores, aliás, muitas vezes sem nenhuma relação com a economia real, mas que permitem a sincronização de expectativas do mercado – exclusivamente do mercado, saliente-se.

Criaram-se fantasias, então, como a taxa de juros de equilíbrio. Anos atrás, quando ganhou o prêmio de Economista do Ano, Pérsio Arida calculou uma taxa de juros de equilíbrio de 8% ao ano. Ou seja, cada vez que a taxa real de juros (acima da inflação!!!!) ficasse abaixo de 8%, dispararia reajustes de preços.

Na época, almocei com Pérsio e lhe disse que todos os formadores de preços que eu conhecia se baseavam em princípios tradicionais: há mercado? aumenta. Não há mercado? Reduz. Há competição? Reduz. Há cartelização? Aumenta. Há condições de aumentar os preços? Os preços aumentarão independentemente da tal taxa de juros de equilíbrio.

Mas como sintetizar essa soma complexa de fatores em um único indicador? Toca então a criar essas miragens, que são tão falsas quanto as notas das agências de risco, o Triple A para o Lehman Brothers.

Peça 5 – a burrice institucional brasileira

Concentrei as análises em temas econômicos, que acompanhei mais de perto. Mas essa burrice institucional, de cabeças de planilha e de cientistas de livros, é generalizada e pega todos os escalões da República. Surge no curto-prazismo do operador de mercado, ecoado pela mídia econômica, e no personagem público, autoridade ou editor, que quer surfar, viver intensamente seu momento fugaz de brilho, e o futuro que exploda – especialmente para a organização que ele representa.

Vamos a alguns exemplos de relações causa-efeito óbvias de uma geração de ignorantes, sem nenhuma noção sobre a relevância institucional de suas respectivas instituições e sem nenhuma capacidade analítica de perceber as consequências óbvias de seus atos.

Lava Jato e a antipolítica

Há uma ampla literatura mostrando que, quando se desmoraliza o poder político, abre-se espaço para outras formas de poder não eleitos – em geral, o poder militar. Foi o que ocorreu na Itália, Alemanha e Brasil dos anos 30; no Brasil e outros países latino-americanos nos anos 60 e 70. 

No Brasil, mídia, Supremo e mercado ignoraram completamente essa lógica e abriram espaço para o poder militar pegar carona em um líder popular sociopata.

Mídia como partido político

Como dois e dois são quatro, era óbvio que, ao se transformar em partido político, a mídia entraria em uma armadilha fatal. Nenhum grupo político, de esquerda, direita, aceitaria passivamente a convivência com uma mídia que se propõe a sequestrar a política e a se colocar acima do poder político. Diretores de redação mandaram os princípios jornalísticos à merda e gozaram intensamente o poder que detiveram, comprometendo irreversivelmente a segurança futura do próprio exercício do jornalismo.

O Judiciário militante

A mesma ignorância institucional se manifestou no Judiciário. Há o choque do pré e do pós impeachment, cria-se o vácuo de lideranças e deslumbrados sem-noção ganham visibilidade, devido ao protagonismo de suas instituições naquele cenário específico. E passam a se julgar ungidos por Deus para ocupar o espaço vazio e se tornar condutores de povos. Aconteceu com Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Luis Roberto Barroso, trinca de ignorantes vaidosos de diversas extrações.

Depois, à medida que o organismo social e político vai se reconstituindo, são expelidos como vírus nocivos à volta do equilíbrio.

Os militares políticos

Esse mesmo deslumbramento com o vácuo político contaminou militares, como o ex-comandante do Exército, general Villas Boas.

Houve uma invasão do Estado por militares, e a grande derrota na batalha contra o Covid-19 recaiu sobre eles, o maior desgaste à imagem das Forças Armadas desde a redemocratização.

General Pazuello se tornou o paradigma do militar administrador. E os milhares de camaradas levados para o serviço público liquidaram definitivamente com o estereótipo de que as “boquinhas” do serviço público eram prerrogativa de civis.

Peça 6 – os danos à democracia

Essa soma de personagens públicos ignorantes, sem responsabilidade institucional, conseguiu o feito de colocar no comando do país o grupo mais despreparado da história da República, um sociopata que corteja a morte e a destruição.

Bolsonaro é filho direto da irresponsabilidade dos Barrosos, Moros e Dallagnols, dos diretores de redação, dos donos de grupos de mídia, de militares que perderam o pudor, de lideranças políticas que não tiveram paciência de retomar o poder pelo voto.

O legado não é apenas Bolsonaro e seus próximos 500 mil mortos. É a desorganização institucional completa do país e um legado, na opinião pública, que mostra a que foi reduzida a ex-7a economia do mundo, o país que encantava o globo no início da década.

Segundo pesquisa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, denominada de “A Cara da Democracia”, 22,2% dos brasileiros acreditam que a terra é plana; 50,7% acreditam que o coronavírus foi criado pelo governo chinês; 56,4% acreditam que os hospitais são pagos para aumentar o número de pacientes mortos pela Covid-19.

Como conclui Leonardo Avritzer, organizador da pesquisa:

“Elas estão ligadas a uma diminuição da influência da mídia tradicional na formação da opinião pública: 62,6% dizem não confiar na Rede Globo e 41,7% dizem não confiar na Rede Record. Ainda mais surpreendente é que o número de pessoas que confiam na Record, 11,2% é quase o dobro daquelas que confiam na Globo”.

Desde 2005, era óbvio que o jornalismo de esgoto implementado conduziria a isso. Mas a ignorância institucional brasileira, e o oportunismo do curto prazo, falou mais alto. 

Naquele início de autodestruição, quem ousasse discordar da mídia era massacrado por toneladas de ataques pessoais e de ações judiciais.

Hoje, todos pagam por essa irresponsabilidade. E enquanto Bolsonaro procede à mesma desavergonhada distribuição de recursos públicos, através do orçamento oculto, que o centrão domina o país, que o Ministro do Meio Ambiente sai em defesa de crimonosos ambientais, Barroso morre abraçado à bandeira da Lava Jato, sustentando que hoje em dia a corrupção pelo menos é envergonhada.

O país não abdicou apenas da inteligência, mas do pudor.

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quinta-feira, 13 de maio de 2021

Yanomamis sob ataque de garimpeiros ilegais e o risco de uma nova chacina

 

Yanomamis sob ataque e o risco de nova chacina

Ontem, tiroteio em território indígena de Roraima deixou cinco feridos – e elevou a tensão entre aldeias e garimpeiros. Lideranças alertam órgãos públicos e pedem proteção. Áudios apontam uso de “facção armada” para atacar aldeias

No ISA

Tiroteio na manhã desta segunda-feira (10/5) deixa cinco pessoas feridas e garimpeiros ameaçam retaliação. Hutukara pede às autoridades que atuem “com urgência para impedir a espiral de violência contra a comunidade Yanomami de Palimiu”

Uma série de áudios transmitidos nesta segunda-feira 10/5 em grupos de WhatsApp de garimpeiros, que atuam dentro da Terra Indígena Yanomami, indica a escalada da tensão entre os invasores e as comunidades indígenas. As conversas apontam para a movimentação de uma “facção” fortemente armada com “fuzis e metralhadoras” no Rio Uraricoera, região mais invadida por garimpeiros em toda a Terra Indígena, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas.

Garimpo conhecido como “Tatuzão do Mutum”, no rio Uraricoera, TI Yanomami. Crédito Divulgação

A Hutukara Associação Yanomami denunciou um tiroteio ocorrido na manhã desta mesma segunda-feira 10/5, quando sete embarcações de garimpeiros atracaram na comunidade do Palimiú e deram início ao ataque contra os indígenas. A ação deixou ao menos cinco pessoas feridas na comunidade. Quatro garimpeiros e um indígena, de raspão, foram baleados. Os áudios do grupo de garimpeiros, contudo, dão conta ainda de um grande número de vítimas (leia transcrição abaixo) que, felizmente, não foram confirmados. “A informação de oito mortos não procede, falei agora por radiofonia com a liderança do Palimiu e os parentes estão protegidos”, relata Dário Kopenawa Yanomami, diretor da Hutukara Associação Yanomami.

De acordo com Dario, houve tiroteio em conflito aberto “por cerca de meia hora”. As embarcações dos garimpeiros saíram rio acima e ameaçaram voltar para vingança, diz a liderança indígena. Em ofício enviado ao Exército, à Polícia Federal, à Funai e ao Ministério Público Federal, a Hutukara pede aos órgãos que atuem “com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu”.

As comunidades Yanomami do Palimiu, no médio curso do Rio Uraricoera, estão situadas nas proximidades das estruturas da Missão construída em 1966 pela equipe da Missão Evangélica da Amazônia (MEVA). Atualmente a região abriga 937 pessoas, distribuídas em cerca de quinze comunidades.

O Rio Uraricoera é uma das mais afetadas pelo garimpo ilegal de ouro na TI, e não é de hoje. Entre 1987 e 1989, estima-se que mais de 2 mil balsas de garimpo trafegavam por esse rio. A primeira grande invasão garimpeira aconteceu entre o fim dos anos 1980 e 1990, afetando enormemente a vida dos Yanomami e Ye’kwana que viviam ali. Com a retomada das invasões, especialmente após 2019, o rio se consolidou como uma das principais rotas de entrada e abastecimento dos garimpos ilegais da TIY. Hoje, as comunidades indígenas estão cercadas pelos garimpeiros.

A logística do garimpo no Rio Uraricoera tem se tornado, cada vez mais, dependente do acesso fluvial, razão pela qual os Yanomami do Palimiu assistiram nos últimos anos os seus portos serem invadidos ilegalmente por milhares de garimpeiros, que trafegam livremente pelo curso do rio, com o objetivo de levar insumos e combustível para as áreas de exploração ilegal rio acima.

Histórico recente de conflitos

Há 10 dias, em 30 de abril de 2021, a Hutukara encaminhou carta para a PF, Funai e MPF, informando a essas instituições de um conflito armado ocorrido entre Yanomami e garimpeiros na comunidade de Palimiu. No ocorrido, os indígenas pedem apoio dos órgãos públicos para que ações fossem tomadas de modo a garantir sua segurança. Na carta, a Hutukara alerta para a possibilidade da violência escalar, com consequências graves. Leia aqui

Dois meses antes, em 1º de março de 2021, a Hutukara já havia encaminhado outra carta para a PF informando sobre um conflito ocorrido na comunidade de Helepe, também às margens do Rio Uraricoera, em que um grupo de oito garimpeiros teria abordado a comunidade e atirado contra um indígena, iniciando um conflito que resultou na morte de um garimpeiro e em um indígena ferido. Na ocasião, os garimpeiros em retirada já ameaçavam retaliações.

Leia abaixo a transcrição dos áudios transmitidos nesta segunda-feira 10 de maio em grupo de garimpeiros dentro da Terra Indígena Yanomami:

Áudio 1
“Fala aí meus amigo. Pois é, meus amigo. Alguém me informa aí o que tá acontecendo no [Rio] Uraricoera?”

Áudio 2
“Rapaz, o negócio aqui vai pegar. Tá descendo uma canoa aqui da Facção. Mais de vinte homens armados, lá para os Americano [apelido de Missão Evangélica na Terra Indígena Yanomami], que tomaram os óleo deles aí. Tá os [motores] 75 [HP] aqui. Bem perto do flutuante. Vai descer agora, tudo com metralhadora, fuzil, os caralho aí. Vão descendo pros Americano lá. O negócio vai pegar. Se eles matarem 10, 15 índios, o negócio pega aqui dentro. E a gente tem de ficar pila, cabreiro por aqui. Eles estão descendo, estão bem aqui pertinho, onde era o barraco da Roseli, bem aqui do Piuí. Daqui a pouco, eles descem aí.”

Áudio 3
“Rapaz, Patrick, aqui deu BO, dos cabra desceram lá… Chegaram nos Americano [apelido de Missão Evangélica na Terra Indígena Yanomami] lá, foi atirando. Tem gente baleada para todo lado. Chegou aqui dois baleado já. E lá diz que tem um bocado de índio baleado […]”

Áudio 4
“Desceu hoje foi duas canoa, duas canoa com home tudo armado. Chegaram num contaram a história, metendo fogo. Já chegou gente baleado pra todo lado. Diz que lá o negócio tá feio. Lá o tiroteio tá grande.”

Áudio 5
“Mas eu ia descer amanhã. Tô arrumado… Já tô arrumado para descer, esperando a canoa. Mas agora como é que desce? Tá vindo meio mundo de homem aí, tudo armado lá, […], terminar de matar os índio. Aí, quem é que desce? Ninguém desce mais.”

Áudio 6
“É mais de 500 índio. Tudo encapuzado, tudo armado. É uma guerra. Vai ser um tiroteio monstro.”

Áudio 7
“Inda agora, parou uma canoa aqui. Nós vamo pensar que é dos índio. Já ia correndo… O negócio vai ficar feio.”

Áudio 8
“Alguém tem informação das pessoas que desceram para confrontar com os índios, e os índios lá, o que que houve?”

Áudio 9
“[…] É mais certeza que amanhã ou hoje mesmo o aviaozão roda aí.”

Áudio 10
“Hein, foi a galera da Facção todinha. Morreu um… Informação que tá tendo aqui… que morreu um, da Facção. E tem dois baleado. E lá morreu parece que oito índios. E tem pra mais de dez baleado.”

Áudio 11
“Ó, tô falando com dois meninos que tava na canoa lá. Ele tá pedindo, para espalhar aí, pros canoeira não passar hoje lá não. Porque não sabe o que os índio vão querer aprontar. Quem tiver subindo com carga é para avisar, no Estreitinho, entendeu? No Korekorema. É para canoeiro não passar lá não. Pra ninguém confiar nesses índio lá, não. Dois menino da canoa, lá, [carinha] da canoa. Mandou [recado] para mim, pedindo: para avisar isso aí.”