Do Portal do José:
30/10/24 - SÓ FALTA AGORA FAZEREM MANIFESTAÇÃO PARA PEDIR PERDÃO A LULA. JN: SUCURSAL DO GOVERNO DOS EUA EM AÇÃO NO BRASIL. SIGAMOS.
Do Portal do José:
30/10/24 - SÓ FALTA AGORA FAZEREM MANIFESTAÇÃO PARA PEDIR PERDÃO A LULA. JN: SUCURSAL DO GOVERNO DOS EUA EM AÇÃO NO BRASIL. SIGAMOS.
É urgente que façamos uma contenção de horas no celular. Que baixemos a ansiedade com coisas reais, que nos abasteçam psiquicamente
Crônica (ansiosa) do WhatsApp
por Dora Incontri, no Jornal GGN
Enquanto escrevo este artigo, preciso decidir se silencio o WhatsApp, para me concentrar melhor. E se alguém próximo tem alguma urgência? E se uma pessoa ligada ao meu trabalho precisa me dar uma notícia? Silencio, mas fico olhando de vez em quando. Atenção dividida, concentração comprometida.
Mais tarde, olho as mensagens não lidas. Não consigo responder todas (algumas são de “bons dias com florezinhas”, mas de pessoas solitárias e queridas…). Respondo algumas e deixo outras para mais tarde. Mas elas vão para baixo e se perdem no meio do tsunami de outras mensagens. A culpa se instala, quando lembro horas ou dias depois de não ter respondido. Quando lembro. As pessoas se magoam, se sentem negligenciadas, abandonadas etc.
Mando uma mensagem importante para um grupo próximo. Nem um joinha. A maioria nem viu. Os que viram não responderam e não comentaram. Agora sou eu que fico chateada.
Envio uma carta para 50 pessoas (como fiz essa semana) a respeito de um convite importante – pessoas próximas e interessadas na causa em questão. Para a maioria precisei passar pelo menos duas ou três vezes, cobrando uma resposta de sim ou não. Depois de uma semana de insistência, a maioria respondeu, alguns nunca vão responder.
Estou vendo as mensagens das últimas horas e de repente, entra uma notificação do Instagram ou de algum jornal que sigo, com alguma notícia alarmante. Saio do WhatsApp e vou saber das tragédias que estão acontecendo no mundo. Deprimida ou indignada, me esqueço de voltar às mensagens. Constato dias depois, quando a pessoa me cobra, que havia escrito uma resposta, mas não foi enviada, porque saí às pressas do WhatsApp. Achava que tinha mandado. Ansiedade aumentando.
No meio da noite, que deixo desligadas as notificações, com exceções de pessoas muito próximas que podem precisar de mim, de repente ouço o tilintar das mensagens. Acordo assustada. Já aconteceu de ser coisa grave mesmo. Mas também já aconteceu de a pessoa achar que estou acordada ou não saber (ou lembrar) que tem esse status privilegiado no meu WhatsApp e mandar algo que poderia ser enviado no dia seguinte… e assim se vão horas de sono.
Esse breve relato mostra como vivemos sobressaltados, invadidos, ansiosos 24 horas por dia. Acrescente-se a isso a enxurrada de notícias (geralmente ruins), informações e apelos comerciais, que nos tomam a cada instante. E assim a ansiedade cresce, o sono se perturba, a memória se altera.
Ainda numa geração como a minha – 61 anos, quase 62 – temos uma formação, que nos garante o livro impresso, a concentração num trabalho, uma conversa em família ou com amigos, com o celular desligado. Mesmo assim, somos atravessados por essa dispersão perturbadora.
As gerações mais novas, que cresceram com o celular na mão, não conseguem mantê-lo à parte, num jantar de família, num estudo, numa tarefa qualquer.
Isso impacta igualmente a nossa capacidade de conexão interior, de elevação espiritual, numa prece, numa meditação, na participação de uma reunião religiosa… Ou ainda, a nossa capacidade de ler um livro, apreciar uma obra de arte (que não seja num ritmo alucinante e pesado). Ou seja, aquilo que poderia nos ajudar a abaixar a ansiedade, as novas gerações têm ainda mais dificuldade em acolher, justamente por essa invasão desordenada de apelos, que já fez parte de sua formação.
E nem vou me deter aqui nos exércitos de produtores de Fake News que formam redes de seguidores pelo WhatsApp e doutrinam multidões no mundo, que não querem ou não sabem se informar por jornais sérios, ou por uma leitura mais aprofundada da história.
O que fazer com tudo isso? As pessoas que se recusam a participar e nem instalam o WhatsApp (pode haver uma necessidade grave de saúde mental para isso) vivem alienadas e a mim me irritam, pela dificuldade de comunicação.
É urgente que façamos uma contenção de horas dedicadas ao celular. Que baixemos a ansiedade com coisas reais, concretas, que nos abasteçam psiquicamente: como toques físicos trocados entre pessoas queridas, leituras em papel, concertos tranquilos, exposições de arte, passeios no meio da natureza, almoços e jantares preparados e compartilhados amorosamente, momentos de oração individual ou coletiva.
Medidas urgentes precisam ser tomadas para nos livrarmos da drogadição das telas. Menos ansiedade e mais calma no dia a dia. E estou falando também para mim mesma!
Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.
PF vai indiciar Bolsonaro, Heleno, Braga Netto e ex-chefe da Marinha no inquérito do golpe
atualizado
Novembro vai ter um gosto amargo para Jair Bolsonaro e alguns de seus ex-ministros: a Polícia Federal vai indiciar, em meados do mês, o ex-presidente; os ex-ministros e generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto; o ex-comandante da Marinha e almirante Almir Garnier Santos; o ex-ministro Anderson Torres; e o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, entre outros. Os seis serão indiciados no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado, após a derrota para Lula, em 2022.
A Polícia Federal tem elementos que mostram a participação dos cinco na trama golpista colocada em prática ao longo de 2022, e, em especial, após o resultado do segundo turno da eleição daquele ano.
Mensagens encontradas recentemente pela PF ligam Bolsonaro à minuta golpista que implementava instrumentos jurídicos que permitiram contestar o resultado das eleições, à margem da Constituição. No texto, encontrado posteriormente com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, constava o decreto de Estado de Sítio e de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem.
A situação de Bolsonaro também foi agravada pela confirmação dos ex-comandantes do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, e da Força Aérea Brasileira (FAB), tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Júnior, de que Bolsonaro os pressionou a aderir a um golpe de Estado para se manter no poder.
O ex-comandante da Marinha Almir Garnier foi o único dos três chefes militares a, segundo a investigação da PF, colocar suas tropas à disposição para uma intentona golpista. O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, é listado como pertencente ao núcleo de oficiais de alta patente que teriam se valido do cargo “para influenciar e incitar o apoio aos demais núcleos de atuação, por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas, para a consumação do golpe de Estado”.
Já Anderson Torres, fora a omissão no 8 de Janeiro — quando ele, mesmo sendo secretário de Segurança e sabendo do risco de invasão das sedes dos Três Poderes, decidiu tirar férias e deixar Brasília —, será indiciado por ter servido, nas palavras dos ex-comandantes militares, como “tradutor jurídico” da minuta golpista.
Contra o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno, uma das principais provas encontradas pela Polícia Federal foram anotações de teor golpista em uma agenda apreendida em sua casa. O compilado reunia medidas que poderiam ser adotadas pelo governo Bolsonaro, por exemplo, para frear a Polícia Federal e o Supremo, prevendo até a prisão de delegados que se dispusessem a cumprir ordens judiciais consideradas ilegais pelo governo.
A PF também encontrou no celular de Braga Netto mensagens trocadas em dezembro de 2022 entre ele e Ailton Gonçalves Moraes Barros, amigo de Bolsonaro, com orientações para que o ex-comandante da Aeronáutica Baptista Júnior fosse atacado, pela mesma razão.
Diante da resistência de Baptista Júnior em aderir aos planos golpistas, Braga Netto o classificou como “traidor da pátria”, enquanto fazia elogios a Garnier, comandante da Marinha, em concordância com o golpismo bolsonarista.
Todos os seis negam que tenham participado de qualquer plano ilegal ou golpista.
O pânico se instala à simples pronúncia da palavra morte. Um tabu nas conversas diárias. Mas essa não é a nossa única certeza?
Precisamos falar da morte
por Dora Incontri, no Jornal GGN
Quem me conhece há pouco tempo não sabe que me dediquei durante anos ao tema da morte e que em 2007, o médico geriatra Franklin Santana Santos e eu criamos o primeiro curso de tanatologia na Faculdade de Medicina da USP, que se chamava Educação para a morte. O curso perpassava todas as áreas do conhecimento – da história à filosofia, da medicina às tradições espirituais, da estética à psicologia. Logo em seguida,lançamos um livro A Arte de morrer – visões plurais, pela Editora Comenius, que foi até indicado para o prêmio Jabuti. Hoje completamente esgotado. Houve inúmeros desdobramentos, em cursos, livros, artigos científicos etc.
Mesmo antes dessa empreitada e igualmente depois, sempre me confrontei com esse tema, de que precisamos sim falar. Recentemente, uma pessoa muito próxima iria passar por uma cirurgia de alto risco e antes da operação, tivemos uma conversa serena e franca sobre a possibilidade da morte. Foi impactante, bonito e emocionante. Felizmente a cirurgia foi um sucesso. Mas podia não ter sido.
Meu pai, com 88 anos atualmente, mantém diálogos diários comigo sobre quando “a indesejada das gentes” chegar, lembrando Manuel Bandeira. No caso dele, nem tanto indesejada, nessa altura de idade e já com certas limitações. Mas conversamos de forma leve, nada mórbida ou trágica, às vezes até com alguma piada. Na semana passada, cheguei a dizer a ele que até lhe tinha uma certa inveja… deixar esse mundo de tanta dor não é uma má pedida, principalmente para quem já viveu e fez tudo o que podia e devia.
A maioria das pessoas, porém, fica estatelada, aterrorizada, diante de uma conversa assim natural. O pânico se instala à simples pronúncia da palavra morte. Um tabu nas conversas diárias. Mas essa não é a nossa única certeza? Não é melhor lidarmos de frente com a nossa finitude do que escamotear mesmo às portas da passagem, negando até o fim que certamente a morte virá?
Lembro-me da bela cena da morte de Sócrates, narrada por Platão no Fédon. Quando o aconselham a esperar mais um pouco para beber a cicuta – a maneira piedosa com que os atenienses condenavam alguém à morte – ele responde que não iria se prestar ao ridículo de economizar algumas horas de vida, quando dela quase nada mais restava.
É verdade, mas nem sempre, que alguma forma de espiritualidade amenize o medo da morte porque nos faz encará-la sob o ponto de vista da transcendência. Era o caso de Sócrates.
O espiritismo, por exemplo, é tido por muitos, mesmo não espíritas, como a filosofia mais consoladora nesse campo. A possibilidade de entrar em contato com os mortos queridos e algumas evidências de que tais comunicações tenham elementos comprobatórios da identidade do Espírito trazem a convicção da continuidade da vida.
Mas nem sempre a crença, a ideia ou mesmo a certeza da vida depois da morte promovem tranquilidade e naturalidade para acolhê-la quando chega o momento. Isso porque há fatores emocionais que podem perturbar a hora da passagem. Sentimentos de culpa, pendências afetivas, revoltas existenciais, apegos vários a pessoas ou a bens materiais – tudo isso pode gerar desassossego.
Por isso dizia o grande educador Jan Amós Comenius, ao falar explicitamente sobre educação para a morte em sua obra Pampédia (publicada no Brasil pela Editora Comenius), que é preciso viver bem para morrer bem.
A educação para a vida implica necessariamente a educação para a morte, e vice-versa.
Educação aqui entendida como um processo permanente de autoconhecimento, autossuperação e busca de paz interna. Despojamento de mágoas, ressentimentos e picuinhas também ajuda muito. E acima de tudo, é preciso um sentido existencial bem cumprido. Tudo isso deveria ser despertado desde a infância e não essa forja de educação voltada para o mercado, em que todos são formatados para se submeterem a um sistema que lhes suga a vida até a morte.
É evidente, portanto, que num cenário de aceleração e dispersão, consumismo compulsivo e rebaixamento de valores de compromisso com o bem e com a generosidade, esses cuidados se tornam distantes. E não somos preparados nem para viver, nem para morrer.
O dia em que nos organizarmos como sociedade para viver de maneira saudável, natural e amorosa, poderemos ainda e sempre chorar nossos mortos, mas de maneira suave. E diante da nossa própria morte, olhá-la de frente, sem medo e culpa. Apenas sorrindo em paz.
Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.
"Os elementos de convicção até então colhidos indicam que a atuação da organização criminosa investigada foi essencial para a eclosão dos atos depredatórios ocorridos em 8.1.2023", escreveu Gonet, em documento sigiloso enviado ao STF no mês de junho. O UOL teve acesso à manifestação da PGR.
Apesar de todos os riscos e advertências, Israel mantém planos de agredir o Irã. Arrogância, fanatismo religioso e aposta no apoio dos EUA alimentam a insensatez. Um Biden alienado e confuso e uma mídia cúmplice compõem o quadro
Depois que o “gabinete de segurança” de Israel autorizou ataques aéreos contra o Irã, os objetivos de guerra ampliaram-se e incluem o risco de uma guerra regional contra o Irã, que teria o objetivo de remodelar radicalmente o cenário político do Oriente Médio a favor de Tel Aviv
Essa meta ambiciosa, até mesmo fantasiosa, está repleta de perigos para a região e para o mundo. Israel não pode alcançá-la sem o apoio total e indisfarçável dos EUA. Apesar de a alegação do presidente Joe Biden, de que teria insistido infrutiferamente com Benjamin Netanyahu para um cessar-fogo, ele sempre endossou todas as escaladas israelenses. É razoável que Israel conclua que pode atacar o Irã com impunidade, pois, se algo der errado, terá o apoio das forças armadas estadunidenses.
Os historiadores podem um dia chegar a uma conclusão sobre até que ponto a cauda israelense está abanando o cachorro americano, aproveitando a fraqueza de Biden para atrair os EUA a outra aventura militar imprudente no Oriente Médio. É muito fácil atribuir a culpa pela diplomacia displicente e ineficaz dos Estados Unidos ao declínio cognitivo de Biden nos últimos três anos. Mas, se não for Biden, não está claro quem são os verdadeiros responsáveis por tomar as decisões na Casa Branca e nos escalões superiores do governo.
Julgando a Casa Branca por suas ações e não por suas palavras, ela vê uma vantagem geopolítica em derrotar o Irã – um aliado da Rússia e da China, embora distante – e seus aliados.
O pensamento positivo provavelmente desempenha um papel importante. Israel tem sido muito mais bem-sucedido em matar os líderes e comandantes de nível médio do Hezbollah do que se esperava. Será que um ataque agressivo ao Irã e ao seu “Eixo de Resistência” não poderia produzir vitórias semelhantes?
Essa é uma perspectiva atraente, embora as intervenções militares dos EUA – da Somália em 1992/93 ao Afeganistão em 2001 e ao Iraque em 2003 – tenham fracassado em grande parte devido à arrogância e à subestimação do inimigo.
Um perigo inédito
O histórico de Israel é semelhante. Tel Aviv forçou a mão de forma arrogante na Cisjordânia, após derrotar o Egito e a Síria em 1967 e invadir o Líbano em 1982. No entanto, décadas depois, o exército de Israel (que se intitula Forças de Defesa — ou IDF, em inglês) ainda está lutando em ambos os lugares.
Essas analogias históricas são frequentemente citadas por comentaristas ocidentais como avisos sinistros sobre o que pode dar terrivelmente errado para os EUA e Israel quando dependem exclusivamente da força. No entanto, as comparações são um pouco enganosas, pois o cenário político, tanto na política interna israelense quanto na região como um todo, foi transformado nos últimos 20 anos. São essas mudanças que tornam a crise atual muito mais perigosa do que as anteriores.
O governo israelense formado por Netanyahu após vencer as eleições gerais em novembro de 2021 foi imediatamente reconhecido como o mais fanaticamente de direita e ultranacionalista da história de Israel. Para citar apenas um exemplo, Itamar Ben-Gvir, líder do partido Poder Judaico, tornou-se ministro da segurança nacional – um cargo recém-criado que o coloca no comando da força policial nacional. Colono religioso de Kiryat Arba, próximo à cidade de Hebron, na Cisjordânia, ele já havia sido condenado no passado sob a acusação de incitar o racismo e apoiar o terror. Ameaçou o primeiro-ministro Yitzhak Rabin ao vivo pela televisão e tinha pendurada em sua casa uma fotografia de Baruch Goldstein, que assassinou 29 palestinos enquanto rezavam na mesquita de Hebron em 1994.
Considerando a composição ideológica do gabinete israelense, não é de surpreender que os objetivos de Israel em Gaza e na Cisjordânia pareçam ter se alargado, a ponto de incluir agora o fim de toda a vida normal para os cinco milhões de palestinos que vivem lá. Um ataque aéreo a uma escola no centro de Gaza na quinta-feira (10/10) matou 28 pessoas, muitas das quais, segundo a Unicef, eram mulheres e crianças que faziam fila para receber tratamento contra a desnutrição.
O exército de Israel justificou o ataque alegando que a escola abrigava um posto de comando do Hamas. Mesmo supondo que isso seja verdade, em sua tentativa de se justificar, as IDF estão confessando que o Hamas está presente em todos os lugares de Gaza um ano após a invasão israelense.
Israel alega que a cifra de 42 mil mortos em Gaza é exagerada pelo ministério da Saúde palestino, mas está repetindo exatamente o mesmo padrão de promover ataques aéreos, independentemente de vítimas civis, no Líbano. Um ataque em Beirute, no mesmo dia do ataque em Gaza, matou 22 pessoas, incluindo três crianças de uma família de oito pessoas, que haviam fugido do sul do Líbano.
A nova elite
O que torna a crise atual duplamente perigosa é o fato de que Israel não tem apenas uma liderança política etnonacionalista. Um desenvolvimento paralelo ocorreu entre a liderança da elite do Estado israelense – serviço civil, polícia, Judiciário e, cada vez mais, o exército – que são oriundos da ala fundamentalista e messiânica da sociedade.
Essa nova elite é menos sofisticada do que seus antecessores (embora esses também fossem muitas vezes linha-dura), mais propensa a ver os inimigos de Israel como demoníacos e ameaçadores, mas vulneráveis quando confrontados com o uso implacável da força.
O curso da guerra até agora no Líbano tende a confirmar isso, e há outros argumentos poderosos a seu favor. Os EUA estão dando carta branca a Israel de uma forma sem precedentes e é improvável que oponha resistência a uma estratégia israelense agressiva em relação ao Irã.
Ameaças iminentes
Os Estados-nações árabes que já foram hostis a Israel, incluindo Síria, Iraque, Líbia e Sudão, estão todos gravemente enfraquecidos por guerras civis nos últimos 20 anos. Os líderes árabes estão mudos ou são ineficazes em relação a Gaza e ao Líbano. O Irã está mais isolado do que nunca desde o fim da guerra Irã-Iraque em 1988.
No entanto, a vulnerabilidade do Irã e de seus aliados pode ser um pouco enganosa. Um grupo de Estados dominados por muçulmanos xiitas, que se estende pelo norte do Oriente Médio – Irã, Iraque, Síria e Líbano – não vai desaparecer.
Israel e os EUA podem tentar provocar conflitos religiosos e étnicos em países como o Líbano, que testemunhou uma guerra civil sectária e cruenta entre 1975 e 1990. Já há relatos de muçulmanos xiitas que fogem dos bombardeios israelenses e são vistos com hostilidade quando buscam refúgio em áreas não xiitas.
Quanto ao Irã, ele pode concluir que não pode deter Israel, que está preparado para arriscar uma guerra regional, mas que seria melhor ampliar o conflito por meio de ataques às rotas de comércio de petróleo, aos aliados ou às bases dos EUA. Seu objetivo seria forçar os EUA a conter Israel – a alegação de Washington de que não pode fazer isso é amplamente desacreditada no Oriente Médio.
Está se tornando cada vez mais difícil ver como uma guerra regional pode ser evitada – e ainda mais difícil ver como ela pode ser encerrada.
Abaixo do radar
Na corrida para a eleição presidencial dos EUA, é fascinante ver como a mídia anti-Trump evita qualquer referência às dificuldades cognitivas de Biden. Esta mídia ficou feliz em divulgar isso em julho, quando pressionou o presidente a desistir de sua candidatura à reeleição, mas desde então há poucas referências ao fato de que o homem supostamente responsável por empurrar os Estados Unidos para a guerra no Oriente Médio é incapaz de pensar direito.
Ocasionalmente, há evidências visíveis disso quando Biden se liberta de seus manipuladores, ao caminhar em direção ao helicóptero presidencial e falar com os repórteres. Quando suas palavras são coerentes, elas tendem a causar medo e pânico, como quando ele murmurou que os EUA estavam conversando com Israel sobre atacar instalações petrolíferas iranianas.
Na década de 80, os assessores do presidente Ronald Reagan tiveram um problema semelhante com seu chefe, que talvez já estivesse sofrendo do mal de Alzheimer, fato admitido publicamente vários anos depois. Sabendo do risco de Reagan ouvir e responder às perguntas dos repórteres a caminho do helicóptero presidencial – e, ao fazê-lo, revelar sua saúde mental em processo de deterioração – , eles determinaram aos pilotos que ligassem os motores mais cedo, para que todas as palavras fossem abafadas pelo barulho.
Há 76 anos, pressionados pela União Soviética, EUA lançavam o Plano Marshall e apostavam em saídas comuns para os problemas globais. O que leva agora mundo eurocêntrico a flertar com o abismo e ter por emblemas tipos como Elon Musk?
Publicado 16/10/2024 às 20:00 - Atualizado 16/10/2024 às 20:23
Por Ladislau Dowbor em Meer | Tradução: Glauco Faria
Até que ponto precisamos ir pelo ralo até acordarmos? Muitos de nós estão cientes das catástrofes ambientais e sociais que estamos construindo, mas a compreensão individual tem pouca influência no processo global de tomada de decisões. Temos, de fato, corporações poderosas e as reuniões de Davos que elas usam para se congratular. Porém, os cosméticos, no estilo ESG, não nos impedirão de chegar ao desastre. Uma abordagem global pode ajudar. A ganância é estúpida.
Uma mudança sistêmica é necessária e inevitável, mas estamos acostumados a simplesmente empurrar as coisas para ver o que acontece e a tomar medidas em larga escala somente depois que as catástrofes acontecem. O New Deal foi possível, no sentido de que havia força política para ele, depois que o desastre de 1929 havia penetrado em tantos interesses que Franklin Roosevelt foi eleito presidente dos EUA, e teve força para tomar medidas para mudanças estruturais. Tributar as fortunas financeiras e promover tantos investimentos em infraestrutura e bem-estar só foi possível quando a dor se espalhou e atingiu os mais abastados.
As instituições de governança global que ainda temos só se tornaram possíveis diante do desastre da Segunda Guerra Mundial, com mais de 60 milhões de mortos, outro número semelhante de feridos, cidades bombardeadas em todo o mundo, o choque da bomba atômica e um sentimento geral de que precisávamos de instituições de governança global. Tivemos Yalta, mas também Bretton Woods e muitas instituições que possibilitaram alguma regulamentação em escala global. Mas isso foi há 80 anos, e a capacidade de governança global não melhorou, apesar das muitas mudanças: descolonização, informática, conectividade global, dinheiro virtual, gigantes corporativos de escala mundial, plataformas de comunicação, financeirização global nas mãos do setor de gestão de ativos. Nunca é demais repetir que nossas instituições de governança global datam da década de 1940.
Atualmente, temos 193 países membros da ONU e um pequeno núcleo de membros do Conselho de Segurança, que representam outra era. Como ainda podemos esperar que o acordo monetário baseado no dólar faça sentido em 2024? Os desafios ambientais globais mal eram imaginados em 1944; a enorme desigualdade que está explodindo e se aprofundando até mesmo nos países ricos mal era discutida. O principal sentimento era o horror, e o principal desafio era a reconstrução do que havia sido destruído em muitos países. O plano Marshall foi apenas uma parte das medidas tomadas, mas forneceu soluções práticas para as necessidades mais urgentes. Foi uma grande ajuda para os países que precisavam, em parte motivada pelo grande urso no Oriente, mas o mais importante é que ajudou simultaneamente as nações necessitadas e estimulou a economia dos EUA ao fornecê-la. Certamente foi uma solução vantajosa para todos, estimulando a reconstrução e o crescimento em ambos os lados.
Atualmente, podemos imaginar uma reorientação estrutural em nível global? Temos de esperar por outra crise financeira global e pela Terceira Guerra Mundial? Estamos nos afogando em estatísticas sobre a fome no mundo (800 milhões) e mais de dois bilhões em insegurança alimentar, estamos vendo incêndios e inundações em todos os lugares, enquanto os céticos estão se perguntando se, afinal, pode haver algo nessa alegação de mudança climática. Estamos engolindo resíduos plásticos em todas as refeições e pisando neles em todas as praias. Empresas privatizadas de gestão de água despejam esgoto em rios e mares por toda parte (Grã-Bretanha, meu Deus!), navios pesqueiros de alta tecnologia destroem a vida nos oceanos, as florestas do Brasil, do Congo e da Indonésia estão sendo derrubadas (isso aumenta o PIB), os produtos químicos persistentes (PFAs) estão por toda parte e nem os países nem as empresas fazem nada a respeito, além de apontar o dedo uns para os outros.
A desigualdade está atingindo níveis grotescos, e temos que assistir à reunião absurda de governos que decidiram despejar 50 bilhões de dólares, uma quantia enorme, na guerra da Ucrânia, ao mesmo tempo em que Elon Musk recebeu um cheque de 46 bilhões de dólares para uso pessoal. E não é apenas a questão da pobreza, com o sofrimento gigantesco que ela gera, mas também a própria desigualdade, a sensação desesperadora de estar preso no fundo do poço, alimentando a frustração, o ódio e o populismo de extrema direita. Até mesmo o Papa está pregando por uma nova economia. Estamos chegando a um momento em que os diferentes desastres convergem e provocam uma crise civilizatória. Isso possibilitará uma mudança estrutural? Os EUA estão basicamente pedindo mais guerra em todos os lugares, afogando o mundo em equipamentos militares, impulsionados pela enorme máquina de guerra militar e econômica. O domínio global da Pax Americana é um sonho doentio. As guerras permanentes que Washington trava não levarão a um sistema mundial coerente. Precisamos de um pacto global.
Basicamente, o chamado Norte Global tem 16% da população, mas 56% da riqueza acumulada. Contudo, de acordo com Relatório da Riqueza Global, do banco suíço UBS, o , “a participação da população adulta é mais do que o dobro da participação da riqueza na América Latina, cinco vezes a participação da riqueza na Índia e dez vezes a participação da riqueza na África”. (p.15) As riquezas estão lá em cima; a população está aqui embaixo. A China está fora do cenário, mas é um ator poderoso para a mudança global estrutural. Em paridade de poder de compra, o PIB de 2022 é de 31 trilhões de dólares na China e 25 trilhões de dólares nos EUA. Em 2024, deve chegar a 36 trilhões e 28 trilhões, respectivamente.1 Não há Pax Americana em vista, e uma nova estrutura de poder global está surgindo. Ou mais guerras, e muito possivelmente a guerra final.
Fonte: UBS, Global Wealth Report 2023 – Leading perspectives to navigate the future, 2024, p.15.
A questão não é nova. Li novamente o relatório de 1980, produzido sob a coordenação de Willy Brandt, ex-chanceler alemão e prêmio Nobel da Paz, [North-South: a program for survival].2 A capa do livro apresenta um mapa global muito semelhante ao acima, a divisão global estava lá e só se aprofundou. Quando o relatório foi apresentado, com grande impacto internacional, no mesmo ano, Ronald Reagan e Margareth Thatcher estavam chegando ao poder, com um programa geral de mais desigualdade, aprofundando a divisão global, na visão de que os ricos são a solução e o Estado é o problema. Nesses 44 anos desde que o relatório foi publicado, vimos um aprofundamento da desigualdade e dos dramas ambientais, tantas conferências e resoluções internacionais para enfrentá-los, mas uma explosão do poder corporativo e uma erosão das democracias, bem como das instituições de regulamentação global. A tecnologia avançando, a democracia retrocedendo.
Hoje temos a Agenda 2030 — 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, bem projetados, aprovados por todas as nações (com os EUA em um ioiô de entrada e saída) e claramente inatingíveis nas tendências atuais. Mas olhar para trás, para o que ficou conhecido como Relatório Brandt, é preocupante. No resumo das recomendações, o relatório começa com a questão dos países mais pobres: “Deve ser lançado um programa de ação que inclua medidas emergenciais e de longo prazo para ajudar os cinturões de pobreza da África e da Ásia, especialmente nos países menos desenvolvidos.” O segundo item diz respeito à fome e aos alimentos: “É preciso acabar com a fome e a desnutrição em massa”, com base em fluxos financeiros para o desenvolvimento agrícola e em um conjunto de outras medidas. O relatório continua com recomendações ligadas à proteção do meio ambiente, ao “terrível perigo para a estabilidade mundial causado pela corrida armamentista, à necessidade de reformas sociais e econômicas no Sul, complementando o papel a ser desempenhado pelo meio ambiente internacional”.
O relatório resume as recomendações relativas às transações de commodities, com mais processamento local, industrialização e regulamentação do comércio mundial. Particularmente interessante é a questão das corporações transnacionais: “Legislação, coordenada nos países de origem e de destino, para regulamentar as atividades das empresas transnacionais em questões como comportamento ético, divulgação de informações, práticas comerciais restritivas e padrões trabalhistas”. A ordem monetária mundial precisa de uma reforma urgente, com uma moeda internacional: “Tal moeda substituiria o uso de moedas nacionais como reservas internacionais”, uma referência direta ao absurdo domínio do dólar, evidente até mesmo neste momento. Seria necessária a participação do Sul “na equipe, na administração e na tomada de decisões do FMI”.
De modo geral, o relatório enfatiza a necessidade de “uma nova abordagem para o financiamento do desenvolvimento”, atribuindo “um papel maior na tomada de decisões e na gestão dos países mutuários” e criando um “Fundo Mundial de Desenvolvimento” com filiação universal e tomada de decisões compartilhada de forma mais equilibrada entre mutuantes e mutuários, e usando o dinheiro arrecadado com a tributação do “comércio internacional, produção ou exportação de armas, viagens internacionais, bem como bens comuns globais, como os minerais do fundo do mar”. Tudo isso exige um fortalecimento do sistema da ONU e de várias organizações multilaterais.
Tudo isso lhe parece familiar? Bem, eu participei da cúpula mundial da Rio-92, depois da Rio+20 e, atualmente, da batalha árdua pela Agenda 2030 no Brasil. O fato é que nós, assim como outros países, estamos nos afogando na desigualdade e nos desastres ambientais, ao mesmo tempo em que temos de ouvir graves considerações do mundo corporativo, atualmente fortemente ligado à política, à grande mídia, aos think tanks e até mesmo a uma boa parte da academia. Desde o Relatório Brandt de 1980, com uma apresentação clara dos desafios e das medidas necessárias, já se passaram 44 anos e ainda estamos conversando. Qual COP estamos preparando, a COP29? A última foi em Dubai, estávamos discutindo petróleo e mudanças climáticas. Em Dubai.
Esse mundo organizado para os 15% não está funcionando. A China, hoje a maior potência econômica, não será derrubada com o mimetismo do apoio armamentista de Taiwan pelos EUA; a Rússia não sairá do mapa-múndi, a Índia não teve problemas em deixar o dólar para o comércio de petróleo, os Brics estão se expandindo rapidamente, Dilma Rousseff está à frente do Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de banco dos Brics, o presidente Lula está trabalhando em uma iniciativa poderosa para costurar os interesses dos países do Sul Global. E as populações dos países em desenvolvimento estão atualmente conscientes do absurdo de sua pobreza. Em números compreensíveis, o PIB mundial de 110 trilhões de dólares equivale a 4.200 dólares por mês para uma família de quatro membros. Nossos problemas não são econômicos, mas de organização social e política.
Uma questão fundamental é o que acontece nos Estados Unidos, economicamente mais frágeis, mas um gigante militar. E eles atingiram um nível de desigualdade que abre caminho para o populismo de extrema direita, impulsionado pela trágica mudança de 2010 na Constituição que permite que grandes fortunas elejam políticos. O sangue está secando e coagulando em um sistema político, econômico e cultural diferente, desigual, autoritário e liderado pelo poder corporativo global que conecta o complexo militar e industrial de armas, o domínio da comunicação em escala mundial da GAFAM, a capacidade de vigilância global (GAFAM, NSA, CIA, Five Eyes etc.). É uma mistura perigosa. Tantos políticos de alto nível mentindo com todos os dentes sobre os resultados das eleições e sobre tantas questões, em uma potência militar tão grande, é assustador.
A desigualdade tem impactos sociais, principalmente para os pobres, mas também em termos de poder político dos ricos. Nenhuma democracia pode funcionar quando se aprofunda a desigualdade — entre outros motivos, porque os ricos se esforçarão para aumentar seu poder para extrair mais riquezas. O gráfico abaixo é explícito:
De 1990 a 2019, praticamente 30 anos, vemos na cor dominante mais escura a evolução da participação dos 10% mais ricos na riqueza dos EUA. Na cor mais clara abaixo, a participação dos 50% a 90%. E pouco visível na parte inferior, a linha milimétrica mostra a evolução dos 50% inferiores, metade da população dos EUA estagnada na base, vendo seus filhos sem perspectivas. Frustrados e furiosos, eles sabem que foram deixados de fora e se tornam um grande cliente para o discurso de ódio e o populismo de direita. Isso, obviamente, não se limita aos Estados Unidos. Mas o peso militar e político dos EUA ameaça o equilíbrio mundial global.
Por que estou voltando ao Relatório Brandt, um documento de 1980? Porque, além de mostrar as medidas óbvias necessárias para um desenvolvimento sustentável global em escala mundial, ele mostra a saída óbvia: o plano Marshall para a Europa estimulou o desenvolvimento em ambas as extremidades. Uma iniciativa de desenvolvimento mundial para o Sul Global teria um impacto semelhante, representando para os países mais ricos uma nova fronteira econômica, um estímulo para mais produção, mais empregos e desenvolvimento em ambos os lados. Um pacto global eficaz não se trata de dinheiro para os pobres, mas de um lembrete realista de que orientar nossas capacidades financeiras, econômicas e tecnológicas para onde elas são mais necessárias é o caminho mais eficiente não apenas para evitar a catástrofe, mas para gerar prosperidade global, incluindo o Norte Global.
Gerar desenvolvimento e empregos nos países mais pobres é muito mais sensato do que construir muros e gritar contra os imigrantes. A catástrofe está se aproximando também no Norte Global, um pesadelo político. Mas tente convencer Elon Musk… Sim, eu chamo esses tipos de caras de idiotas da alta tecnologia. Precisamos de mudanças estruturais.