Carlos Antonio Fragoso Guimarães, Jáder Sampaio e Alexandre Moreira-Almeida
Que a indústria da imprensa, ao menos em seus setores mais poderosos, é um comércio que busca o lucro, por vezes em cima de polêmicas, por vezes em cima de deturpações, não chega a ser novidade. Na TV, por exemplo, o triste caso da Escola Base, ocorrido em 1994, bem ilustra tal fato. Na ocasião, professores e propietários da referida escola foram acusados injustamente pela Globo - e como geralmente ocorre em tais casos, o que a Globo fala é logo copiado pela maioria dos veículos de comunicação - de terem abusado sexualmente de uma aluna. Apesar de ter sido provado que os acusados nada tinham a ver com o que foi publicado, o descrédito, a desconfiança e danos morais e profissionais se abateram sobre aquelas pessoas, transformadas, de fato, em vítimas, e nada foi feito contra a poderosa denunciante e demais redes que seguiram a falsa acusação que, contudo, auferiram os lucros das vendas de jornais e das audiências de TV.
A parcialidade classista e preconceituosa de certos repórteres e "âncoras" de veículos de comunicação também teve uma ilustração patética no último dia do ano de 2009 quando Boris Casoy - o apresentador que por tantas vezes se auto-intitula de ético - fez um ácido e preconceituoso comentário assim que terminou de repassar os quadros das matérias a serem transmitidas àquela noite, em que apresentou-se os desejos de feliz ano novo que dois garis, por sinal muito simpáticos - sendo um deles já um senhor de certa idade -, gravaram para o Jornal da Band a pedido da própria emissora. O pronto comentário de Casoy, que não sabia que o áudio estava aberto após a chamada da reportagem, foi: "Que m... "Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho" (clique aqui para ver o ocorrido em video no Youtube). A polêmica geral levou Casoy a pedir desculpas no outro dia, mas de forma visivelmente contrariada, como também se pode ver em video do Youtube. Muito mais nobre e sensível foram as declarações posteriores dos próprios garis ridicularizados por Casoy, que pode ser vista clicando aqui.
Cabe, então, a dúvida se o citado apresentador teria expresso apenas a sua opinião pessoal ou esta seria reflexo do pensamento geral dominante nos meios de comunicação... Se for este o caso - e não faltam para isso indícios -, fica comprovado que não existe parcialidade jornalistica nas principais empresas de comunicação de massa, mas sim formas de repassar assuntos e comentários de modo a modelar o pensamento dos ouvintes, leitores e telespectadores de acordo com os critérios da ideologia e da visão de mundo de uma minoria economicamente dominante, com maquiagens de tolerância de democracia, como se pudessem cobrir lobos com peles de cordeiro.
O mesmo processo de tendenciosidade, de modo geral, pode se dizer que é encontrado no império gráfico da família Civita, dona do conglomerado Abril que edita - a agora já conhecida como mui-parcial - Revista Veja, que por tantas vezes já causou diversas polêmicas por, à guisa de ex-articulistas como Diogo Maynard e outros, promover matérias em prol de tal orientação política ou, super-financiada que é por empresários do Brasil e do exterior, para canalizar comportamentos de consumo, etc. (Veja também o seguinte link: http://www.consciencia.net/midia/revistaveja.html). Aliás, retomando o comentário do jornalista Luís Nassif, em seu blog sobre a mesma, de que "nos últimos tempos, Veja passou a praticar o jornalismo mais escabroso", parece servir também às outras publicações da Editora Abril, que têm assumido uma atitude superficial e tendenciosa em suas publicações, incluindo-se a revista que serviu de ponto de partido para este artigo, a Superinteressante. Cabe aqui uma frase célebre do jornalista Joseph Pulitzer (1847-1911), que daria nome a um dos prêmios mais cobiçados por jornalistas e escritores na mídia americana:
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma."
O mais recente caso de "surf" oportunista das revistas da editora Abril se deu por ocasião do lançamento do filme sobre Chico Xavier, em dois de abril do corrente mês. Claro, uma boa reportagem se baseia, por lógica, na apresentação clara dos posicionamentos pró e contra determinado assunto, no caso, a polêmica da mediunidade do médium mineiro. Contudo, a reportagem escrita pela repórter Gisela Blanco pecou, para dizer o mínimo, pelo primarismo do que deveria ser uma "investigação" - se é que houve este espírito -, e não um pinçamento de opiniões das quais a parte destacada na estrutura da repórtagem impressa pareceu ter sido montada em um mosáico já previamente traçado pela repórter, talvez por ter já sua idéia preconcebida sobre a questão em pauta. Seja como for, a tal reportagem apresentou com inúmeras falhas e uma visível parcialidade que não escapou a quem, por mais cético que seja mas mantendo o senso crítico equilibrado, tenha suficiente equilíbrio para analisar e pesar uma escrito que se diz sério.
A falta de base em pesquisas psíquicas salta aos olhos, bem como a parcialidade e a ironia, com em se destacar mais os dizeres de outros quando pareciam confirmar a suspeita "naturalista" de fraude enquanto as opiniões opostas eram resumidas e reinterpretadas, quando não ironizadas, pelo discurso da repórter. Um simples exemplo: por que a jornalista Giesela Blanco não procurou seu colega de profissão mais experiente, Marcel Souto Maior, responsável pela pesquisa que deu origem ao filme? Não seria isso ao menos uma base reconhecida de pesquisa? Ele não teria nada a dizer sobre as questões de fraude que a repórter ventila? É por essas e outras que a mim ficou a má impressão de que todo o texto da "investigação" foi um arranjo do tipo "ouvi dizer que" seletivo, muito mais do que no confronto isento de referências. O "ouvi dizer que", especialmente quando catados para dar sustentação a preconceitos a priori adotados por quem os escolhe, pode bem servir para boataria e difamação, dando certo embalo a achismos, mas certamente não são provas de nada, muito menos fundamentos ou evidências sérias de uma reportagem que se pretente ser investigativa.
No caso, contudo, é visível que a reportagem de capa foi efetuada oportunisticamente e, parece, meio às pressas, já que a citada revista, para aproveitar a "onda" claramente esperada para a estréia do filme sobre Chico Xavier, resolveu aproveitar um tema popular e que, já se sabe, vende, e vende muito bem: o Espiritismo e, mais especificamente, a figura de Chico Xavier. Contudo, a imersão no paradigma de mercado claramente adotada pela Editora Abril não parece ter levado em conta a qualidade da pesquisa da matéria, talvez por supor, a priori, que o ponto de vista ultrapassado do modelo biomédico do tempo de Charcot, Freud e Janet, que viam nos "Médiuns" ou qualquer sujeito que aparente ter qualquer capacidade psíquica, incluindo a PES (perceção extra-sensorial, incluindo traços de telepatia ou precognição, etc.) como pessoas com sinais de desequilíbrio e/ou fraudadores mais ou menos hábeis, o que, segundo a revista citada, em uma forçada maquiagem cientificista resolveria o "mistério" que a mesma diz ter "descoberto", subrepticiamente postulando queas premissas do espiritismo é uma impossibilidade ante à comunidade científica, o que deixa claro o desconhecimento total da repórter pelos pesquisas mais básicas da área Psi, já que autores como o Prêmio Nobel Charles Richet (Traité de Metapsychique) e, mais recentemente, o parapsicólogo Joseph Banks Rhine (Fenômenos Psi e Psiquiatria), bem como outros pesquisadores, como Guy Lyon Playfair e o astrônomo britâncio Archie Roy, ambos membros atuantes da Society for Psychical Research, e todo o Departamento de Estudos da Personalidade da Universidade de Virgínia, EUA, cujas pesquisas e coleta de dados, especialmente as efetuados pelos Drs. Ian Stevenson e Jim Tucker (http://wwww.healthsystem.virginia.edu/personalitystudies), afirmam exatamente o oposto.
Josph Rhine, pai da moderna parasicologia, citando pesquisas de colegas em universidades, é taxativo ao afirmar que
"em todas as direções mencionadas é completa a ausência de qualquer conexão entre o sucesso em PES com aspectos neurôticos ou tendências psicóticas. Até hoje nada indicou qualquer elo especial entre funções psicopatológicas e parapsicológicas" (Fenômenos Psi e Psiquiatria, Hemus Editora, São Paulo, 1966, p. 40).
Tal tese associativa entre PES e psicopatologia, por mais esdrúxula que saibamos ser hoje, é, por motivos tendenciosos a-científicos, amplamente defendida por falsos ou pretensos auto-intitulados parapsicólogos, especialmente os de batina, como o folclórico Pe. Quevedo (que não é membro da Parapsychological Association de Nova York, embora diga que tenha seus livros validado por tal instituição. Estas e outras afirmações muito mais graves de Quevedo foram por várias vezes desmentido por pesquisadores autênticos da área, como podemos ver aqui) e seus diletos discípulos, Juarez da Silva Farias e o não menos virtualmente conhecido - posto que histriônico polmeista de sites da internet, contudo sem grandes recursos a não ser de repetir superficiais e já muitas vezes desmentidos chavões quevedianos -, o "fenômeno" Luiz Roberto Turatti.
Também existe uma impressão forte de que a repórter tivesse suprepticiamente expondo suas próprias idiossincrasias e preconceitos em uma repórtagem que deveria primar ao máximo pela imparcialidade, ainda mais por a repórter não ser nem psicóloga, nem cientista, mas alguém que tenta apresentar um assunto com base - ou ao menos deveria ser assim - em pesquisas bem fundamentadas, a menos que desde o início, até por uma questão de honestidade, a pessoa que levantou as informações já antemão esclarecesse que possuia uma visão definida, ainda que negativa, do caso Chico Xavier. Deste modo, ficaria claro para o leitor que o material, tal como foi a presentado, seguiria os critérios desta visão prévia, ou a priori, do assunto e por que assim o fez. Seja como for, pela estruturação e apresentação da matéria da Superinteressante, ficou claro que, nela, o Espiritismo é basicamente atacado em cima, como bem apontou Ricardo Alves da Silva, não por uma análise investigativa que procurasse uma dinâmica de pontos de vistas dípares, mas por ação "das falhas de um jornalismo realizado para atender interesses próprios (que gera e/ou justifica a pressa no levantamento das informações e conclusões da matéria)." (veja seu comentário integral no blog do Dr. Jader Sampaio, professor da UFMG, do qual extraimos um ensaio apresentado mais adiante).
Ao que tudo indica, das entrevistas feitas pela repórter da Superinteressante com as pessoas sobre Chico Xavier (muitas das quais forneceram materais que acabaram ou ficando de fora, ou sendo truncadas de acordo com a linha já anteriormente formatada pela revista antes mesmo das entrevistas, como ficou claro no testemundo do Dr. Alexandre Moreira-Almeida, da Universidade Federal de Juiz de Fora, que teve sua entrevista estranhamente reduzida e "adaptada" na reportagem citada, descontextualizando e retirando muito do que foi dito pelo citado psiquiatra) foram pinçadas ou não dependendo do acordo que exibiam com a aproximação referencial já de antemão tomada pela repórter: a de que Chico é uma fraude. Veja-se, para tanto, que boa parte da reportagem parece se ter fundamentado nos trabalhos de Vitor Moura, que, ao estilo dos antigos pesquisadores de gabinete, também pínça qualquer texto que pareça dar margem à sua percepção pessoal de fraude, fazendo pouco de quem pensa (com base) o contrário de sua tese. Veja-se, de Moura, seu blog em http://obraspsicografadas.haaan.com
Sobre esta reportagem típica do império Civita pós-morte do seu fundador, Victor Civita, vejamos o que escreveu o professor do departamento de Psicologia da UFMG, Dr. Jader Sampaio em seu artigo "SUPERENVIESADO":
O difícil trabalho do jornalista
O trabalho do jornalista exige que ele apresente prós e contras de um ponto polêmico sobre o qual está escrevendo, aponte diferentes pontos de vista, favoreça o diálogo entre os atores sociais. Nem sempre o que ele escreve é afim à nossa forma de pensar, e o jornalista competente sabe traduzir os contraditos com qualidade e de forma bem embasada.
O mercantilismo da mídia e o jornalismo inescrupuloso
Ao lado da nobre profissão, temos o uso dos meios de comunicação como investimento, altas tiragens, vendas elevadas, etc. Ao transformar o jornalismo em produto mercantil, há quem não se incomode com o sensacionalismo e até mesmo com o direcionamento do que escreve para uma finalidade instrumental.
O Jornalismo Manipulador
Quem não se recorda da lamentável matéria televisiva veiculada por uma grande emissora após o debate entre os candidatos Lula e Collor? Eu havia assistido o debate na véspera e fiquei atônito ao ver que um órgão de comunicação havia escolhido os piores momentos de Lula e os melhores momentos de Collor no dia seguinte. (E olha que não votei em Lula na última eleição).
Eu conheço jornalistas sérios e notáveis. Recordo-me de um que após a entrevista que concedi, desabafou: não vou escrever a matéria, não tenho a clareza necessária sobre o tema.
Recordo-me de outro de uma revista de circulação nacional, que me telefonou, sedutor, dizendo que queria saber o que eu fazia de espírita na Universidade para dar visibilidade ao Espiritismo. Eu desconfiei do tom amigável e sedutor e não lhe disse nada. Ele insistiu, queria saber se eu ensinava Espiritismo em minhas aulas de Psicologia do Trabalho (!!!!) e se adotava outras atitudes claramente sem ética. Na semana seguinte vinha a matéria, que tinha por interesse vilipendiar um funcionário de alto escalão do governo Fernando Henrique, apenas por ser espírita confesso e atuante. Conversei com alguns dos entrevistados e eles me disseram que o repórter chegou com uma pauta e perguntou outras coisas sem qualquer conexão com o objetivo expresso, que publicou, pontual e maldosamente no artigo, visando desacreditar o Espiritismo, para com isto atacar sua vítima. Não preciso dizer que não houve qualquer menção à minha entrevista e à de outros que responderam de forma semelhante.
É inesquecível, em meus tempos de estudante de graduação, o trabalho de um jornalista que colheu entrevistas visando identificar irregularidades no ensino público superior. Suas informações ficaram guardadas por meses e vieram à luz na semana em que o congresso constituinte votava a gratuidade do ensino superior público. Não preciso dizer que não se publicou nada de bom das universidades públicas. Pergunto ao meu leitor: havia ou não intenção de interferir parcialmente no trabalho dos constituintes, na defesa da opinião dos donos do jornal?
O Jornalismo de Superinteressante
Não me surpreende, portanto, que a Super, adote eventualmente esta linha sensacionalista. Aparentemente o trabalho sobre o Chico Xavier quer mostrar dois lados de um debate sobre a mediunidade. Seria excelente se fosse apenas isso, mas as entrelinhas e insinuações da repórter denunciam sua intenção (será mesmo dela ou da revista?): a de gerar descrédito e até ridículo na imagem pública do Chico.
1. Para fazer o contradito eles procuraram especialistas que estudaram o Chico ou sua obra? Não.
2. Estudaram o trabalho do Chico em profundidade? Não.
3. Apresentaram os autores que pesquisam mediunidade? Sim e não (Ficou isolada e descontextualizada a entrevista com o Dr. Alexander Almeida).
4. Usaram material de blogueiro, sem formação científica adequada? Sim.
5. Usaram termos da metapsíquica, há muito abandonados pela parapsicologia, como hipótese alternativa à mediunidade? Sim.
6. Usaram epistemologia positivista do século XIX? Sim (comprovação de hipóteses como sinônimo de verdade, em lugar de teste, corroboração ou falsificação de hipóteses).
7. Sugeriram a explicação da mediunidade a partir dos sintomas das crises de epilepsia? Surpreendentemente, sim.
8. Apresentaram hipóteses físicas sobre materialização como se fossem conhecimento científico? Curiosamente sim. (Eles calculam a energia necessária para "surgir uma massa do nada", o que não é hipótese espírita para a explicação de fenômenos de materialização).
9. Ocultaram o conteúdo do episódio envolvendo David Nasser, seu colega de profissão, mesmo falando da matéria de O Cruzeiro? Sim
10. Inventaram uma nova explicação para a mudança do Chico para Uberaba, sem qualquer evidência? Sim.
11. Criaram uma imagem pública depreciativa para o Chico ao alcunhá-lo como piadista? Sim. (Ao que me consta, ele não escreveu nenhum livro de piadas, e o próprio Simonetti indignou-se ao ver como usaram o título de um de seus livros)
12. Alegaram fraude para as mensagens psicografadas pelo Chico com base em boatos? Sim.
13. Fizeram um ataque ao filho de Chico Xavier, Eurípedes Higino, sem lhe dar o direito do contradito? Sim, e ficou insinuado que ele usa os direitos autorais do pai adotivo em benefício próprio.
14. Sugeriram com base em um depoimento de um repórter que todos os fenômenos de odores no ambiente de materializações são fraudes? Sim.
15. Omitiram as conclusões do trabalho do Marcel Souto Maior, que estudou o Chico e outros médiuns durante muito tempo para escrever seus livros? Sim.
16. Afirmaram a existência de uma indústria com o nome do Chico Xavier? Sim, e se esqueceram de afirmar que eles também estão auferindo lucros, ao publicarem esta matéria agora e não há um ano.
Concluindo
Depois disso tudo, devem ter vendido muitas revistas. Parabéns ao administrador financeiro da Abril, meus pêsames ao editor. Não vou ficar argumentando contra um trabalho tão pueril e maldoso. Se o leitor quiser, acesse o link do site de Richard Simonetti. Ele está indignado e escreveu de forma incisiva, mas apresentou muitas evidências em contrário do que publicou a Superinteressante (ou será Superenviesada?)
http://www.richardsimonetti.com.br/artigos/superinteressante.html
Posteriormente, o autor, Jader Sampaio, acrescetou ao seu blog:
Publiquei o seguinte comentário na SUPER:
Que tal a super fazer uma nova matéria consultando pesquisadores da obra do Chico? Recomendo o Dr. Alexandre Caroli Rocha - UNICAMP (mestrado e doutorado na obra de Humberto de Campos), dar um espaço maior ao Dr. Alexander Almeida, o Dr. Raul Teixeira - UFF, Benedito Fernando Pereira (Bacharel em Letras com monografia sobre Olavo Bilac) Franklin Santana Santos (USP), Ubiratan Machado, Carlos Augusto Perandréa entre outros. Acho que seria muito decente dar direito de resposta ao Eurípedes Higino.
Por que não entrevistam direito o Marcel Souto Maior, que ficou anos estudando a mediunidade do Chico antes de publicar os livros? Por que não listam todos os autores que escreveram através do Chico para podermos cotejar com a suposta biblioteca que afirmam que ele teria (com base no estudo da Magali?)?
Porque não descrevem o dia a dia do Chico antes e depois da aposentadoria, para vermos o tempo que ele tinha para o estudo? Por que não apresentam as conclusões do estudo de Alan Gauld sobre mediunidade (SPR - Inglaterra)?
Por que não apresentaram os resultados do trabalho de grafoscopia do Perandréa? Uma coisa é certa, voces continuam na linha crítica da mediunidade, como já tive a oportunidade de comentar em artigo escrito para a matéria médiuns de sua revista e em outros trabalhos que escrevi discutindo outras publicações da editora Abril sobre o tema. http://espiritismocomentado.blogspot.com/search?q=superinteressante.
Uma sugestão: saiam da suposta neutralidade jornalística e admitam que são críticos da mediunidade. É mais honesto.
E o Dr. Alexandre Moreira-Almeida, psiquiatra e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora com vários estudos sobre mediunidade publicados, escreveu:
Abaixo, o e-mail que enviei ao editor da Superinteressante, Sérgio Gwercman
(...) No seu editorial da SUPER deste mês, você fala que uma boa reportagem deve ter respeito e não reverencia, que o jornalismo exige a coragem de fazer perguntas. Concordo plenamente, mas se um bom repórter deve ter a coragem de fazer perguntas incômodas, deve também ter a coragem ainda maior de ouvir e levar seriamente em consideração as respostas, mesmo que não estejam de acordo com a opinião do repórter. Caso contrário, infelizmente, se confirmará o que o meu supervisor de pós-doutorado na Duke Univeristy nos EUA, uma vez me disse:"quando um repórter vai te entrevistar, ele geralmente já tem a matéria e as conclusões na cabeça dele, ele apenas vai buscar na sua entrevista algumas frases que dêem autoridade ao que ele quer escrever". E veja que esta opinião vem de um pesquisador líder no mundo e que já deu centenas de entrevistas aos mais importantes órgãos de imprensa do mundo.(..)
Não vou me deter em aspectos gerais da matéria e que deveriam ser evitados em qualquer matéria de jornalismo científico respeitável, como evitar ironias, adjetivos e lançar suspeitas sem uma sustentação sólida. Me deterei apenas na parte que me diz respeito. (...) expliquei para a repórter as possíveis explicações para o fenomenos que têm sido levantadas por cientistas, inclusive indiquei para ela uma biblioteca virtual (www.hoje.org.br/bves) onde ela poderia ver artigos cientíticos nesta área. Algumas considerações:
- Embora ela tenha publicado que, para cientistas, a explicação não seria nem fraude, nem "palavras do outro mundo", eu incluí estas duas possibilidades nas minhas explicações. Possibilidades que são exploradas, por exemplo, nos artigos em anexo e em de vários outros pesquisadores de todo o mundo nos artigos da referida biblioteca virtual. Quem conhece pesquisas na área, sabe que estas são duas hipóteses que devem sempre ser consideradas.
- Sobre psicose, ela omitiu que a hipótese de psicose foi uma hipótese muito comum no início do século passado, mas que está desacreditada
- sobre o eletroencefalograma, enviei para a repóter dados da Liga Brasileira de Epilepsia e de vários pesquisadores enfatizando que não é possível fazer um diagnóstico de epilepsia com base apenas neste exame e ainda menos com base em um fragmento muito pequeno e sem descrição das condições em que ele foi realizado. A matéria ignorou todas estas informações para apresentar apenas o que foi publicado em uma matéria jornalistica dos anos 70, de que seria epilepsia.
Com relação às poesias psicografadas por Chico Xavier e atribuídas a poetas falecidos, indiquei que ela entrasse em contato com a maior autoridade academica na área: o prof. Alexandre Caroli Rocha que defendeu mestrado e doutorado em Literatura na Unicamp com base nos poemas e outros textos psicografados por Chico Xavier. Tive o prazer de fazer parte de sua banca de doutorado. Ela de fato o entrevistou, mas para minha surpresa ele ou as conclusões do trabalho dele não foram citados na matéria, que continha apenas um trecho em que afirma que eram "obras razoavelmente fiéis ao estilo dos autores que as assinavam", sem citar as fontes para tal afirmação.
Naturalmente que um repórter deve ter a liberdade de escrever suas opiniões, mas, principalmente em uma publicação de divulgação científica que se preze, não deve ocultar deliberadamente as informações que não condigam com suas opiniões pessoais. Todo o fruto da investigação jornalística deve ser exposto para que o leitor faça seu julgamento. Espero que estas considerações sejam úteis à Superinteressante no apimoramento de sua missão de bem informar a população brasileira realiando um jornalismo científico criterioso e responsável.
Alexander Moreira-Almeida
- da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
- Diretor do NUPES - Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF www.ufjf.br/nupes