Direção Geral: Bob Fernandes
Direção Executiva: Antonio Prada
Produção: Daniel Yazbek
Edição: Yuri Rosat
Arte e Vinhetas: Lorota
Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé
Fotos: Claudia Andujar e Luciano Andrade
Imagens/Filmes: Pau Brasil, Nande Guarani, Vozes e Visões e Alma Palavra Alma. Produção da Start Filmes
Imagens Brasília: Deriva Jornalismo @derivajornalismo
Mesmo centrais na crise brasileira, Bolsonaro e Moro são meros sintomas de elite decadente e do intervencionismo jurídico dos EUA. Sistema não se reciclará. Para reconstruir país, esquerda precisará ir além de arranhar estruturas
Nas sociedades contemporâneas a fabricação da atualidade política é tão intensa quanto evanescente, tão dramática quanto efêmera. Como não aceita mais que um tópico no topo da atualidade, não permite fazer relações entre diferentes temas, nem estabelecer hierarquia entre eles. Neste momento, a atualidade política brasileira é a iminente queda de Bolsonaro e a equação que ela oferece é óbvia: Bolsonaro cai, salva-se a democracia.
Esta equação é tão simples quanto traiçoeira. Oculta mais perguntas do que aquelas a que responde. O que cai quando cai Bolsonaro? Bolsonaro cai no abismo ou na almofada do “setor privado” (como Sérgio Moro)? Cai Bolsonaro ou o bolsonarismo? Cai o indivíduo Jair Bolsonaro ou o clã Bolsonaro? Que democracia se salva com a queda de Bolsonaro? Em que estado se encontra? Sofreu alguma incapacidade permanente? Pode ser desbolsonarizada? Há vacinas eficazes contra o bolsonarismo? Quais as variantes deste vírus? Vai o Brasil estar sujeito a bolsonarites sazonais? Neste contexto, a tarefa dos democratas é fazer uma sociologia das questões ausentes da atualidade – questões omitidas, presentes sob disfarce, ou apresentadas como pertencendo ao “novo ciclo”. Entre muitas outras possíveis, refiro duas.
Bolsonaro ou Moro? A primeira pode formular-se assim: Bolsonaro é a causa da crise atual? Ou a consequência de quem a quis provocar para outros objetivos? Não tenho dúvidas em afirmar que Bolsonaro é mais consequência do que causa e que, nessa medida, a sua queda, apesar de ser urgente, não deve deixar os democratas descansados.
Ao longo dos últimos setenta anos, os EUA lançaram quatro guerras globais, cada uma delas considerada permanente contra inimigos da democracia. Por ordem cronológica: a guerra contra o comunismo, a guerra contra as drogas, a guerra contra o terrorismo, a guerra contra a corrupção. Com exceção da primeira, estas guerras foram declaradas contra inimigos aparentemente não ideológicos contra os quais é fácil obter consensos alargados. Todas estas guerras foram eficazes, mas para atingirem outros objetivos que não os publicitados. Nem o comunismo, nem as drogas, nem o terrorismo, nem a corrupção foram eliminados, nem era esse o objetivo. O objetivo era, e continua a ser, o de submeter os países aos interesses geopolíticos e econômicos dos EUA.
Desde 2014, o Brasil tem vindo a ser objeto de uma das interferências mais invasivas por parte dos EUA no sentido de obrigar um país ao alinhamento incondicional. Muito está em causa: os BRICS, a influência da China, a concorrência das grandes empresas brasileiras, o controle dos hidrocarbonetos, a Amazônia. Como sabemos, a arma privilegiada foi o sistema judicial e o lawfare.
O lawfare tem sido usada ao longo da história, e os povos indígenas e afrodescendentes conhecem isso muito bem. A versão usada agora no Brasil teve traços específicos devido à colaboração da grande mídia e ao protagonismo político de Sérgio Moro. Pode mesmo falar-se de um tipo especial de justiça manipulada, a justiça morizada. A luta contra a corrupção é um serviço precioso à democracia quando não é politicamente seletiva e atua no marco da lei. Nada disto é possível no caso da justiça morizada.
Do ponto de vista dos interesses dos EUA, a operação Lava Jato foi um enorme sucesso e o seu autor foi Moro. Daí que ele seja o seu homem de confiança ou candidato nos próximos anos. Por Moro estar transitoriamente desmascarado, é-lhe oferecido um exílio dourado, e é-lhe concedido desde já o privilégio de ser um especialista da Amazônia em reuniões promovidas pela embaixada norte-americana.
Os EUA sabem que, no caso do Brasil, não há democracia bolsonarizada sem justiça morizada. Se alguém tiver de cair, que seja Bolsonaro, não Moro. Explica-se assim o interesse da direita nacional e internacional em continuar a propagandear Moro como o grande campeão da luta contra a corrupção. Enquanto Moro não for criminalizado pelas graves ilegalidades cometidas e se mantiver ativo na política, os democratas brasileiros não podem estar descansados. Não será preocupante que os argumentos jurídicos apresentados no STF em 2016 só tenham tido resposta adequada em 2021?
O novo ciclo? O neoliberalismo desertificou a política ao privá-la de alternativas reais. Tanto a direita como a esquerda foram duramente afetadas. Às direitas foi exigido que promovessem exclusivamente os interesses do capital nacional e/ou estrangeiro, enquanto às esquerdas foi exigido que mantivessem as maiorias empobrecidas sob controle, fazendo, se necessário, concessões, desde que não significassem prejuízos maiores para os interesses do capital. Quando as esquerdas desobedeceram, foram consideradas radicais e inimigas da democracia. Logicamente, as esquerdas foram as primeiras a aperceber-se da armadilha em que tinham caído, e daí que novas lideranças tenham vindo a emergir, talvez não menos pragmáticas, mas certamente menos inocentes. As direitas foram de tal modo devastadas que a certa altura o capitalismo deixou de confiar nos políticos profissionais e procurou entregar o poder aos empresários, fossem eles Donald Trump ou Maurício Macri.
No caso do Brasil, enquanto as elites brasileiras continuarem a mandar incontestadas, não haverá novos ciclos. Haverá apenas reciclagens. A devastação da política de direita é de tal ordem que é preciso inventar empresários (Sérgio Moro) ou ir buscar líderes à esquerda. De modo algo patético, Fernando Henrique Cardoso, ansioso por recuperar o seu lugar (qual? eis a questão) na história do Brasil que julgou ameaçado por Lula da Silva, deu a mão ao concorrente que foi vítima da justiça morizada para o neutralizar duplamente. Primeiro, para lhe dizer que ele afinal nem é de esquerda, ou seja, que é um filho adotivo das elites; depois, para lhe dizer que, nessa qualidade, deve obedecer ao que elas exigem dele neste momento: que não seja candidato.
As direitas sabem que o Brasil vive um momento de polarização criado pelo seu próprio desvario. Como a polarização é inevitável, querem privá-la de quem melhor pode beneficiar dela, Lula da Silva. Como Lula, segundo ele próprio diz, aprendeu muito durante os dezoito meses que esteve preso, é de confiar que esteja plenamente consciente da armadilha.
Boaventura de Sousa Santos
Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.
Você pode acompanhar as análises dos principais assuntos do dia feitas por Reinaldo Azevedo no programa “O É da Coisa”, com Alexandre Bentivoglio e Bob Furuya, de segunda a sexta-feira, das 18h às 19h20, aqui na BandNews FM: https://youtu.be/zlw0lj9Hdq0
Desertificação do Nordeste e savanização na Amazônia começam a gerar secas intensas. O desmatamento e queimadas recordes começam a mudar drasticamente o clima do país, e seus impactos podem ser irreversíveis… na agricultura
O Brasil viverá, nas próximas décadas, secas cada vez mais prolongadas, temperaturas mais altas e extremos climáticos que terão um profundo impacto na forma como sobrevivemos e produzimos energia e comida.
Na prática, o clima vai mudar tanto a vida nas cidades grandes quanto a produção agrícola - causando o risco de o Brasil perder o status de gigante global na produção de alimentos.
E a responsabilidade disso recai sobre o avanço do desmatamento, aliado às (e potencializado pelas) mudanças climáticas no mundo inteiro.
A avaliação é do cientista do clima Carlos Nobre, que já foi pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coordena o Instituto Nacional de Tecnologia para Mudanças Climáticas e é um dos principais especialistas do tema no Brasil.
Nobre conversou com a BBC News Brasil para comentar os dados recém-divulgados pela organização MapBiomas, que mostram que a superfície de área com água no Brasil ficou 15% menor desde o início dos anos 1990 - esses 3,1 milhões de hectares perdidos equivalem a uma vez e meia à superfície de água de todo o Nordeste.
A maior perda (absoluta e proporcional) de superfície de água na série histórica analisada pelo MapBiomas ocorreu no Mato Grosso do Sul, com uma redução de 57%.
Enquanto isso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais identificou que os focos de incêndio neste ano até agora cresceram, em relação ao mesmo período no ano passado, na Mata Atlântica, no Cerrado e na Caatinga - neste último, o aumento foi mais de 100%.
Na Amazônia, o Instituto Imazon aponta que o acumulado do desmatamento na floresta nos últimos 12 meses até julho atingiu a pior marca dos últimos dez anos.
Todos esses dados estão interligados: quanto mais avança o desmatamento - em conjunto com o aumento das temperaturas globais -, menores ficam as temporadas de chuva no Brasil.
"Há estudos que mostram claramente que as chuvas estão diminuindo em áreas altamente desmatadas, e as estações secas estão mais longas", explica Nobre.
"No sul da Amazônia, as secas já estão de três a quatro semanas mais longas, com menos chuvas e temperaturas cerca de 3°C mais altas."
O grande problema é que, em áreas desmatadas, perde-se a capacidade de reciclar água, o que intensifica as secas. "Há menos vegetação e raízes para absorver a água, transpirá-la e jogá-la de volta à atmosfera", diz o cientista.
Portanto, quanto mais incêndios e florestas derrubadas, mais seco e quente o clima ficará no curto e no longo prazo.
Embora ainda não seja possível saber se esses efeitos serão permanentes, a secura do clima vivida neste momento em grande parte do Brasil - parte de uma tendência já observada nos últimos anos - é uma espécie de "fotografia do que será o clima do Brasil no futuro", observa Nobre.
No "melhor dos cenários", diz ele, a redução das chuvas será de 10%.
"Mesmo que consigamos manter o máximo de aumento da temperatura (global) em 1,5°C, que é o plano mais ambicioso da Convenção das Mudanças Climáticas (o chamado Acordo de Paris), devemos estar preparados para uma estação de chuvas mais curta e uma estação de secas mais longa na maior parte do Brasil."
Os impactos disso foram observados pelo coordenador do MapBiomas água, Carlos Souza Jr.
"As evidências vindas do campo já indicam que as pessoas já começaram a sentir o impacto negativo com o aumento de queimadas, impacto na produção de alimentos, e na produção de energia, e até mesmo com o racionamento de água em grandes centros urbanos", afirmou Souza no comunicado emitido pela organização.
Semi-deserto no Nordeste e savana na Amazônia
As regiões do Brasil a serem mais afetadas pelas secas prolongadas serão o Norte, o Centro-Oeste e o Nordeste, segundo Nobre.
No Nordeste, caso a temperatura global continue aumentando, o perigo é "mais de 50% da região virar um semi-deserto", em vez do semiárido atual, explica o cientista.
O alerta já havia sido dado, no início de agosto, pelo relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês):
"O Nordeste brasileiro é a área seca mais densamente povoada do mundo e é recorrentemente afetado por extremos climáticos", destacou o texto.
O impacto será direto na vida de ao menos 10 milhões de pessoas que vivem atualmente na agricultura e pecuária nordestinas. Isso porque um Nordeste semi-desértico "não terá agricultura como se pratica hoje. Poderia haver só um pouco de agricultura à beira do rio São Francisco, mas mesmo a vazão do São Francisco vai diminuir, afetando também o potencial de geração de energia elétrica", diz Nobre.
É um exemplo da crise hídrica vivida em todo o Brasil e que já impacta a produção de energia pelas hidrelétricas do país, leva a aumento nos custos das contas de luz pagas pelos consumidores e força o uso de usinas termelétricas - que, por sua vez, são mais poluentes e contribuem para mais emissão de gases do efeito estufa.
Enquanto isso, na Amazônia, o perigo identificado por pesquisadores como Carlos Nobre é com o iminente risco de a região virar uma savana - perdendo, portanto, as características únicas de uma floresta tropical.
"Vários estudos mostram que se continuarmos a desmatar, vamos passar do que chamamos de ponto de não retorno - um ponto irreversível de savanização", diz Nobre. Espécies animais e vegetais únicas do Brasil serão perdidas no processo. "Antes, víamos uma mega-seca a cada 20 anos na Amazônia; agora são duas secas por década."
Em julho, um estudo publicado na revista Nature, que teve participação do Inpe, apontou que, por conta do desmatamento e das queimadas, a Amazônia já está emitindo mais CO2 do que consegue absorver.
"Precisamos zerar o desmatamento a jato (rapidamente), em poucos anos, no que talvez seja o maior desafio que o Brasil pode enfrentar", opina Nobre.
Saúde humana e agricultura
Se sentimos (literalmente) no corpo os efeitos do clima mais seco na saúde, a produção agrícola também vai viver os impactos da escassez de água, explica Nobre.
"(Produção de) grãos, pecuária - toda essa estrutura que são importantes elementos econômicos (do Brasil) já está sendo prejudicada pelo aumento dos extremos climáticos", afirma.
"Por mais que empresas de pesquisas, universidades e Embrapa (agência de pesquisas agrícolas) tentem desenvolver variedades de grãos mais adaptadas a secas prolongadas e a temperaturas mais elevadas, o clima está ganhando a guerra. A agricultura tem que se preparar para isso", prossegue.
"E temos que torcer para (o aumento global da) temperatura não passar de 1,5°C, porque se nós continuarmos com este ritmo de emissões e não tivermos sucesso em zerá-las até 2050, na segunda metade do século, o Brasil tropical deixará de ser uma potência agrícola - ficará muito quente e seco e inapropriado para esse tipo de agricultura", prossegue.
Ele cita como exemplo a queda na produtividade da soja na região conhecida como Matopiba (que reúne Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) em decorrência do ar mais quente que tem sido soprado da Amazônia.
Boletim de julho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou efeitos mistos da crise hídrica no mês passado: de um lado, prejudicou a irrigação de lavouras; de outro, ajudou na maturação das safras de milho e algodão.
Eventos climáticos extremos
E se no centro e no norte do Brasil as chuvas ficarão mais escassas, a tendência é de que o mesmo não se repita em parte do Sudeste e Sul do país - que podem, na verdade, ver sua quantidade de chuvas aumentar nas próximas décadas, diz o pesquisador.
Com isso, essas regiões (onde o clima é, por si só, mais ameno que no restante do país, por sua localização geográfica) podem acabar ganhando força na produção agrícola nacional.
O que não significa, porém, que não sofrerão com os devastadores efeitos dos chamados eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais, secas prolongadas e ondas de calor.
Esses eventos climáticos têm se tornado mais frequentes em todo o mundo são também consequência direta do aquecimento global, como apontou o relatório do IPCC divulgado no início de agosto.
"Com o aumento gradual do nível do mar, os eventos extremos que ocorreram no passado apenas uma vez por século ocorrerão com mais frequência no futuro", disse, na ocasião do lançamento do relatório, Valérie Masson-Delmotte, copresidente do grupo de trabalho do IPCC que produziu o texto.
No Brasil, segundo Carlos Nobre, mesmo que - hipoteticamente - não houvesse um aquecimento global em curso no mundo, os sucessivos recordes de desmatamento na Amazônia e no Pantanal já estariam tendo impactos nocivos sobre o clima brasileiro.
Na prática, os dois fenômenos - desmatamento e aumento das temperaturas - têm ocorrido juntos, potencializando um ao outro.
"Mesmo no ano passado, quando a maioria dos países reduziu suas emissões (de gases do efeito estufa) por conta da pandemia, o Brasil aumentou suas emissões por culpa do desmatamento", diz Nobre.
Embora ele destaque que, nos últimos anos, o Brasil avançou em construir uma matriz energética mais limpa - cerca de 11% da nossa energia vem de fontes eólicas ou solares, diz ele -, o Brasil, até o momento, "está na contramão dos compromissos assumidos" de participar do esforço contra o aquecimento global.
Jornal GGN – Uma carta aberta em defesa da democracia, contra Jair Bolsonaro e a postura do governo na pandemia, assinada por mais de 2.500 pessoas, entre personalidades, cientistas sociais, acadêmicos e lideranças políticas, será entregue nesta segunda-feira (30) às entidades OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Chico Buarque, Frei Beto, Eduardo Suplicy, Laerte Coutinho, Leci Brandão, Dilma Rousseff, Luiza Erundina, Marilena Chauí, Bete Mendes, Fernando Morais, Luis Nassif, entre outros, assinam a carta e integram a Geração 68, grupo que representa a luta contra a ditadura do regime militar no país e organiza manifestações pela saída de Jair Bolsonaro da Presidência.
No documento, eles manifestam a ameaça à democracia representada pelo presidente, com má conduta no enfrentamento da pandemia, aprofundamento do desemprego, da miséria e da estagnação da economia e o risco de ameaça às eleições 2022, desestabilizando a democracia brasileira. Entre as petições levantadas, estão o auxílio emergencial de R$ 600, o fim do genocídio do governo Bolsonaro e a defesa da democracia.
Também convidam movimentos sociais e a população a irem às ruas no dia 26 de junho, “com toda a segurança sanitária necessária frente à pandemia”, quando será comemorada a passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro. “Se, então, gritávamos ‘Abaixo a Ditadura!’, hoje gritaremos em alto e bom som que ‘Ditadura Nunca Mais!’”, afirmam.
Para a entrega da carta, foram organizadas comissões junto às três entidades: às 11h desta segunda à OAB, às 13h30 à ABI, ambos no Rio de Janeiro, e às 15h à CNBB, em Brasília.
Leia a Carta Aberta da Geração 68:
Às brasileiras e aos brasileiros, aos movimentos sociais, partidos, sindicatos, centrais, ONG’s, organizações da sociedade civil, redes e a todas(os) que estejam dispostas(os) a lutar pelo Direito à Vida e pela Democracia.
Somos parte da Geração 68, uma das gerações que ao longo do tempo participaram de inúmeras passeatas e lutaram contra a Ditadura Militar e por um Brasil mais justo e igualitário.
Nesse momento, no ano de 2021, estamos agregando forças para lutar pelo Direito à Vida, contra o genocídio em curso, pela interdição do governo do presidente que intencionalmente tem induzido a morte de milhares de brasileiros, pelo direito do povo de viver e de ter esperança.
Nosso país já tem mais de 400 mil mortos em fins de abril. Em maio poderá chegar a meio milhão de óbitos [e são quase 580 mil mortos na última semana de agosto]. Conjugada à pandemia, pela inépcia governamental, se abateu sobre os segmentos mais fragilizados a miséria e a fome. Quantos ainda terão de morrer pelo negacionismo do governo federal?
Assinar esta carta não representa apenas um desejo de viver, mas de lutar para proteger as pessoas que amamos, a economia local e nacional, um futuro melhor sem o risco mortal de uma doença que assola todo o planeta.
Todos sabemos que o epicentro da pandemia, o maior aliado da propagação do vírus, é o atual presidente da república e seu governo, sendo o único dirigente do mundo a sabotar a política de vacinação, deixando de adquirir vacinas quando elas estavam disponíveis. Tornou o Brasil em berçário de variantes do coronavírus e uma ameaça não apenas para a nossa população como para o mundo inteiro.
Assinar esta carta representa igualmente lutar pela democracia que tem sido cotidianamente ameaçada pelo atual governo desde que tomou posse. Significa, ainda, lutar contra a violência que está presente no país aniquilando jovens pobres, pretos e os povos originários
Deste modo, participamos e convidamos todos os movimentos organizados e a população em geral a se unirem nesta luta, pela vida e pela democracia, que é de todo o povo.
Iremos, em princípio, realizar uma manifestação pública – com toda a segurança sanitária necessária frente à pandemia – em diversas cidades do país no dia 26 de junho1. Nesta data serão comemorados os 53 anos da gigantesca passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro. Se, então, gritávamos ‘Abaixo a Ditadura!’, hoje gritaremos em alto e bom som que ‘Ditadura Nunca Mais!’
[os atos marcados para 26 de junho aconteceram em diversos estados, com destaque para o de São Paulo, do qual participaram cerca de mil pessoas. O Movimento Geração 68 Sempre na Luta tem atualmente representação em 16 dos 27 estados da Federação e esteve também presente em todas as manifestações organizadas desde 19 de maio pelo Movimento Fora Bolsonaro].
Estamos dispostos a participar de qualquer outra manifestação, em qualquer outra data, que tenha os mesmos objetivos que expusemos acima.
Esperamos encontrá-la(o) na manifestação, ou através das redes sociais, unindo forças pelo direito à vida e democracia.
POR UM AUXÍLIO EMERGENCIAL DE R$ 600
PELA DEMOCRACIA SEMPRE! DITADURA NUNCA MAIS! BASTA DE GENOCÍDIO! FORA BOLSONARO!
Assinam:
Afonsinho (ex-jogador de futebol) André Singer Bete Mendes Carlos Minc Celso Amorim Chico Alencar Chico Buarque Cristovam Buarque Dalmo Dallari Dilma Rousseff Djalma Bom Eduardo Jorge Eduardo Suplicy Emir Sader Ermínia Maricato Fábio Konder Comparato Fernando Gabeira Fernando Morais Fernando Pimentel Flávio Tavares Franklin Martins Frei Beto Hildegard Angel Humberto Costa Idibal Pivetta Ivan Valente Jean Marc von der Weid João Alberto Capiberibe José Álvaro Moisés José Aníbal Peres de Pontes José Dirceu José Genoíno José Miguel Wisnik José Trajano Juca Ferreira Juca Kfouri Laerte Coutinho Leci Brandão Leonardo Boff Lucélia Santos Lucia Murat Luiz Carlos Barreto Luiz Gonzaga Belluzzo Luiz Nassif Luiza Erundina Manoel Conceição Maria Rita Kehl Maria Victoria Benevides Marieta Severo Marilena Chaui Marina Silva Max Mauro Olívio Dutra Paulo Sérgio Pinheiro Renan Calheiros Renato Janine Ribeiro Roberto Amaral Roberto Freire Roberto Requião Sebastião Salgado Sérgio Mamberti Silvio Tendler Sueli Carneiro Tânia Bacelar Tarso Genro Vitor Buaiz Vladimir Palmeira Walter Lima Jr.
Reinaldo Azevedo conversa com cristãos que apoiam um presidente apoiador da compra de fuzis e violência. Em conversa no Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro incentivou que a população adquira armas de fogo. O chefe do Executivo chamou de "idiota" quem diz precisar comprar feijão.
A vida dos brasileiros pouco importa. Somos governados por uma mistura de vigaristas, negociantes, batedores de carteira travestidos de economistas inteligentes, falsos profetas e bandidos de farda fantasiados de "homens de bem".
O Brasil não tem um Presidente! Na cadeira do Mandatário existe apenas um fantoche com inclinação permanentemente assassina e golpista. O clã que nos governa, entretanto, gosta muito de luxúria e dinheiro. A vida dos brasileiros pouco importa. Somos governados por uma mistura de vigaristas, negociantes, batedores de carteira travestidos de economistas inteligentes, falsos profetas e bandidos de farda fantasiados de "homens de bem".
Impressiona a escala de insensatez e vigarice. Bolsonaro é capaz de dizer as aberrações assassinas mais profundas e sair incólume dos meios onde circula.
Trabalhar é uma atividade estranha ao ser que nos desgoverna. Gosta de usar dinheiro público apenas para servir de escada para que bajuladores festejem a morte alheia e ganhem algum dinheiro extra.
Hoje Bolsonaro recomendou que compremos fuzís.
Somente uma mente criminosa e perturbada poderia dizer tamanha aberração.
Quem ainda apoia a loucura ou é louco também ou é bem pior: vigarista que tira proveito da demência alheia.
Guedes ainda engana muita gente. Haverá algum lugar na história para os criminosos que ora nos atormentam. Sigamos.
CRÉDITOS
Direção Geral: Bob Fernandes
Direção Executiva: Antonio Prada
Produção: Daniel Yazbek
Edição: Yuri Rosat
Arte e Vinhetas: Lorota
Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé
Este é um vídeo do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.
Hoje compartilho artigo que vai na direção do que tenho dito no Portal do José há algum tempo.
Texto em O Estado de S. Paulo.
Assistam também ao DESMASCARANDO
https://www.facebook.com/desmascarand..."Ninguém teme Bolsonaro"
O medo é da tragédia que o presidente parece empenhado em provocar
De tanto se atormentar com fantasmas, Jair Bolsonaro está conseguindo que eles se tornem realidade. Cristaliza-se em círculos do Judiciário, Congresso e também entre oficiais-generais a ideia de que o arruaceiro institucional precisaria no mínimo ser declarado inelegível. E o caminho seria através dos tribunais superiores.
Esse perigo (não poder disputar as eleições) para Bolsonaro é real, mas não imediato. A “conspiração” não passa, por enquanto, de um desejo amplamente compartilhado nas instâncias mencionadas acima. Generalizou-se nesses círculos de elite política, judicial e militar a convicção de que Bolsonaro provocou um impasse institucional para o qual não há saída aparente, e ele nem parece interessado em buscá-la.
A “conspiração” carece, contudo, de coordenação central e efetiva articulação. Setores do Congresso, do STF e das Forças Armadas estão conversando informalmente, e já se falou no Alto Comando do Exército em atribuir ao comandante dessa arma a missão de “pôr uma coleira” em Bolsonaro. Dois personagens políticos de peso nessa paisagem – os caciques do Centrão Arthur Lira e Ciro Nogueira – têm dito a jornalistas que desistiram disso.
Quem conversa quase que diariamente com o presidente o descreve como possuído de um quadro mental para lá de preocupante. Bolsonaro está totalmente convencido de que a “conspiração” contra seu mandato começou já no primeiro dia do governo, e é conduzida por uma difusa e ao mesmo tempo bem entrincheirada coligação de corruptos no Congresso, corporativistas na administração pública, empresários que perderam dinheiro, esquerdistas treinados em Cuba, governadores gananciosos e todos unidos em torno de alguns ministros do STF.
Dois aspectos tornam o absurdistão que é a cabeça de Bolsonaro num problema real, pois ele age a partir dessa percepção de mundo. O primeiro é a “legitimação jurídica” que ele julga ter encontrado para ir ao que chama de contragolpe contra os usurpadores do poder do presidente. A interpretação que adotou do artigo 142 da Constituição é espúria, mas lhe confere um ar de certeza no campo do Direito para, eventualmente, chamar forças militares a intervir – no mínimo para garantir lei e ordem num cenário conturbado que Bolsonaro se empenha em piorar.
O segundo aspecto que faz do desequilíbrio presidencial um perigo real é a crença de que disporia de instrumentos de poder tais como irresistível quantidade de “povo nas ruas”, “adesão de setores das Forças Armadas” além de PMs amotinados, insubordinados e levados às ruas por lideranças corporativistas. Em outras palavras, ele acha que estaria em posição de superioridade em se tratando da relação das forças treinadas para exercer violência – um cenário implícito nas posturas do presidente.
O problema para Bolsonaro é que tanto no plano político-jurídico como no plano das “forças das ruas” ele está isolado. É completamente refém de um conjunto fisiológico de caciques políticos cínicos que o espremem deixando aberta a possibilidade de decidir quando jogam fora o bagaço. O cerco judicial ao presidente, no STF e no TSE, é um fator que tornou inclusive irrelevante se o PGR estaria (não está) disposto a denunciá-lo.
Sem ter criado uma organização política capilarizada e sem ter a adesão das cadeias de comando das Forças Armadas, Bolsonaro acha que manda, mas não comanda nada a não ser fanáticos imbecilizados em redes sociais que não sabem até agora muito bem onde está o “Palácio de Inverno” a ser tomado e ocupado. Eles são contra um monte de coisas, mas ainda aguardam uma ordem específica do “mito” sobre em qual direção marchar e qual inimigo precisam aniquilar
Em outras palavras, Bolsonaro não dispõe de sólidos argumentos jurídicos, de amplas forças políticas, de nutridos contingentes militares, do domínio das ruas, da adesão das principais elites econômicas e é rejeitado pela maioria dos eleitores, pela quase unanimidade do mundo intelectual e cultural e visto como um estorvo passageiro pelas grandes potências. Ninguém tem medo dele como dirigente político.
O que se teme é a tragédia que ele parece empenhado em provocar
Daqui até 7 de setembro haverá a contagem regressiva parar ver se Bolsonaro terá ou não condições de golpe. Mesmo falhando, ele continuará tentando, erodindo dia a dia a democracia com cada arremate contra as instituições
A politização da Polícia Militar tem vários capítulos prévios.
O mais trágico e simbólico foi quando o sanguinário Secretário de Segurança de Säo Paulo, Saulo de Castro Abreu, liberou a PM para os massacres do que ficou conhecido como os crimes de maio de 2006.
Havia até então, no governo Alckmin, um equilíbrio precário entre Saulo, o Secretário de Administração Previdenciária, o excepcional Natasha Furukawa, e o Secretário da Justiça.
O PSDB caminhava inapelavelmente para a direita selvagem. O próprio Alckmin estimulava a violência da PM, para desespero dos oficiais mais preparados, que tentavam reprimir os abusos.
De um deles, ouvi na época: quando o comandante maior (no caso, o governador) estimula a violência, não tem como segurarmos os policiais na ponta.
Na época, vivia-se o conflito com o PCC. Alckmin conseguiu montar uma política de segurança eficaz, porque Saulo tratava de emporcalhar todas as reuniões com sua agressividade.
Quando Alckmin se retirou, para se candidatar à Presidência, assumiu o vice-governador Cláudio Lembo. Pressentindo a tragédia que se avizinhava, fui a Lembro para aconselhá-lo a não dar gás a Saulo. Em três momentos, Saulo demonstrara desequilíbrio amplo: no massacre de Castelinho; quando invadiu a Assembleia Legislativa acompanhado de PMs armados; e quanto prendeu o dono de um restaurante, por ter fechado a rua para o trânsito.
Foi em vão. Lembo já tinha sido emprenhado pelo ouvido. Alegou que todos lhe disseram que Saulo era o mais capaz. Dias depois, o massacre, a peça mais vergonhosa da história de São Paulo. Houve ordem central, foram desligados os rádios dos veículos, para não deixar pistas para a imprensa. E mataram-se jovens estudantes, grávidas prestes a dar luz.
O massacre só terminou quando pessoas ligadas a direitos humanos convenceram o Conselho Regional de Medicina a enviar peritos isentos ao Instituto Médico Legal.
Como é um homem de bem, o episódio deve ter sido decisivo para Lembo reavaliar o papel de uma certa elite branca paulista.
A partir dali, a selvageria se instalou. Multiplicaram-se os massacres na periferia, apesar dos esforços de contenção de oficiais mais responsáveis.
Nada aconteceu com os assassinos. As mães de maio tentaram inutilmente levantar o tema, mas uma imprensa insensível, um Tribunal de Justiça partidarizado, capaz de isentar os assassinos do Carandiru, e uma Polícia Civil impotente impediram a apuração dos crimes.
Depois disso, o pacto com o PCC foi a humilhação final, o reconhecimento da incapacidade do estado mais rico da União de montar uma política de segurança.
Finalmente, João Doria foi eleito com um discurso de estímulo à violência policial, inclusive prometendo fornecer defesa jurídica aos PMs acusados de assasinato.
As redes sociais
Nesse quadro, a expansão das redes sociais e dos grupos de WhatsApp foi o segundo fator de politização das PMs. Eles saíram de sua bolha e passaram a conviver com a ultradireita civil, nacional e internacional. E muitos se lançaram candidatos do poder militar.
Mais que isso, decidiram enveredar pelo empreendedorismo espúrio, tornando-se fornecedores do complexo militar. O portal da tal Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), a falsa ONG que pretendia intermediar venda de vacinas, expõe diversas falsas ONGs e associações, em vários países, ligadas a militares da ativa e da reserva
O caso mais emblemático é do general Braga Neto, quando comandante da intervenção militar no Rio de Janeiro. Abusou das compras emergenciais, sem licitação, tentando adquirir equipamentos até de uma empresa de Miami, especializada na contratação de mercenários para ações terroristas.
A CPI da Pandemia desnudou, de forma definitiva, a rede de negócios estranhos envolvendo militares e ex-militares.
Some-se a isso, uma leniência histórica – e indesculpável – do modelo de segurança brasileiro, de permitir a oficiais da PM serem proprietários de empresas de segurança.
A infiltração no poder civil
A ampliação da participação de militares no poder civil começou ainda nos governos petistas, permitindo que assumissem cargos no Ministério da Defesa, que deveria ser fundamentalmente civil.
Michel Temer – e seu Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes – trouxeram os militares para o coração no governo, no Gabinete de Segurança Institucional e no comando da operação de Garantia da Lei e Ordem no Rio de Janeiro.
Além disso, com o governo politicamente enfraquecido, Moraes tentou fabricar até um grupo terrorista para justificar a ampliação das relações com militares.
Bolsonaro consolida esse movimento, com um número incalculável de militares nas mais distintas áreas da administração pública.
Nesse período, a inoperância de militares das Forças Armadas, e oficiais de Polícias Militares, atuando em áreas desconhecidas para eles, provocaram dois efeitos fulminantes na opinião pública: liquidaram com a imagem de que militares eram mais eficientes e que eram infensos à corrupção.
Mesmo assim, criou-se uma extensa rede de interesses pessoais e familiares, com a melhoria de rendimentos permitida por esse movimento de Bolsonaro.
Mesmo assim, está longe a possibilidade de um golpe militar, mesmo com a adesão de quadros das PMs estaduais. Aparentemente, não há uma estrutura sólida de apoio ao golpe. Mas não se descartam atentados ou outras manifestações terroristas. Afinal, o próprio Bolsonaro saiu dos porões das Forças Armadas.
A volta à institucionalidade
Aparentemente, falta massa crítica para Bolsonaro ser bem sucedido em suas ameaças de golpe miliciano-militar. Mas as manifestações de indisciplina de oficiais da PM, estimulados pela leniência do Alto Comando com o general Pazuello, indicam mais um desafio pós-Bolsonaro: o reenquadramento dos PMs e das Forças Armadas, de volta aos quartéis.
Daqui até 7 de setembro haverá a contagem regressiva, se Bolsonaro terá ou não condições de golpe. Mesmo falhando, ele continuará tentando, erodindo dia a dia a democracia com cada arremate contra as instituições.
Tudo isso amplia a necessidade do grande pacto nacional, juntando atores políticos de diversas cores em defesa da democracia.