sábado, 28 de dezembro de 2013

Leonardo Boff sobre o funesto império das corporações multinacionais




O Funesto Império Mundial das Corporações

Leonardo Boff



Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/12/28/o-funesto-imperio-mundial-das-corporacoes/


O individualismo, marca registrada da sociedade de mercado e do capitalismo como modo de produção e sua expressão política o (neo)liberalismo, revelam toda sua força mediante as corporações nacionais e multinacionais. Nelas vigora cruel competição dentro da lógica do ganha-perde.

Pensava-se que a crise sistêmica de 2008 que afetou pesadamente o coração dos centros econômico-financeiros nos USA e na Europa, lá onde a sociedadade de mercado é dominante e elabora as estratégias para o mundo inteiro, levasse a uma revisão de rota. Ainda mais que não se trata apenas do futuro da sociedade de mercado mundializada mas de nossa civilização e até de nossa espécie e do sistema-vida.

Muitos como J. Stiglitz e P. Krugman esperavam que o legado da crise de 2008 seria um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Enganaram-se rotundamente. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor.


Richard Wilkinson, epidemiologista inglês e um dos maiores especialistas sobre o tema desigualdade foi mais atento e disse, ainda em 2013 numa entrevista ao jornal Die Zeit da Alemanha:”a questão fundamental é esta: queremos ou não verdadeiramente viver segundo o princípio que o mais forte se apropria de quase tudo e o mais fraco é deixado para trás?”.


Os super-ricos e super-poderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte e que se danem os mais fracos. Mas comenta Wilkinson: “creio que todos temos necessidade de uma maior cooperação e reciprocidade, pois as pessoas desejam uma maior igualdade social”. Esse desejo é intencionalmente negado por esses epulões.


Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra (eufemisticamente se diz que se fizeram fusões). Quando se chega a um ponto em que só restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: ao invés de se guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como cordeiros. Assim articuladas detém mais poder, acumulam com mais certeza para si e para seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.


A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fracos que elas, é extremamente constrangedor, interferindo no preço das commodities, na redução dos investimentos sociais, na saúde, educação, transporte e segurança. Os milhares que ocupam as ruas no mundo e no Brasil intuíram essa dominação de um novo tipo de império, feito sob o lema:”a ganância é boa” (greed is good) e “devoremos o que pudermos devorar”. 

Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporações multilaterais. Conhecido é o do economista norte-americano David Korten ”Quando as corporações regem o mundo”(When the Corporations rule the World, Berret-Koehler Publisher 1995/2001)). Mas fazia falta um estudo de síntese. Este foi feito pelo Instituto Suiço de Pesquisa Tecnológica (ETH)” em Zurique em 2011 que se conta entre os mais respeitados centros de pesquisa, competindo com MIT. O documento envolve grandes nomes, é curto, não mais de 10 páginas e 26 sobre a metodologia para mostrar a total transparência dos resultados. Foi resumido pelo Professor de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor em seu site. Baseamo-nos nele. 

Dentre as 30 milhões de corporações existentes, o Instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados: de um, são as corporações que compõe o núcleo e do outro, aquelas que são controladas por ele. Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Essse pequeno núcleo (core) constitui uma super-entidade(super entity). Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.


Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda rede de corporações. São apenas 737 atores, presentes em 147 grandes empresas. Ai estão o Deutsche Bank, o J.P. Morgan Chase, o UBS, o Santander, o Goldes Sachs, o BNP Paribas entre outros tantos. No final menos de 1% das empresas controla 40% de toda rede.


Este fato nos permite entender agora a indignação dos Occupies e de outros que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.


Foi esta absurda voraciade de acumular ilimitadamente que gestou a crise sistêmica de 2008. Esta lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aquenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite nem a economia é tudo. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro. Como diz Dowbor: ”A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”. Ele está quebrando tudo, critais, louças e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a super exploração, a mentira e a anti-vida.


A grande alternativa é oferecida por David Korten que tem trabalhado com Joanna Macy, uma das mais comprometidas educadoras com o novo paradigma e com um futuro diferente e otimista do mundo. A grande virada (The Great Turning) se dará com a passagem do paradigma “Império” para o da “Comunidade da Terra”. O primeiro dominou nos últimos cinco mil anos. Agora chegou seu ponto mais baixo de degradação. Uma virada salvadora é a renúncia ao poder como dominação imperial sobre e contra os outros na direção de uma convivência de todos com todos na única “Comunidade da Terra”, na qual seres humanos e demais seres da grande comunidade de vida convivem, colaboram e juntos mantém uma Casa Comum hospitaleira e acolhedora para todos. Só nesta direção poderemos garantir um futuro comum, digno de ser vivido.



Sobre o ódio das elites de direita: o retrato de Rodrigo Constantino, da sujíssima Revista Veja

Texto extraído do Portal Luis Nassif:


Ódio ao povo, a Lula e a Dilma: breve síntese ideológica da direita

Postado por Osvaldo Bertolino em 26 de dezembro de 2013 às 20:30

Burrice, mediocridade e mau-caratismo geralmente se somam quando a direita brasileira tenta formular alguma teoria. Esse lodaçal se forma pela boca de gente desclassificada, que se presta ao papel ridículo de expor suas ideias (devem ganhar muito para tanto sacrifício). Foi assim que entrou em cena um tal Rodrigo Constantino, economista e colunista da "Veja", uma aposta dos fascistas para reciclar seus quadros puídos, como Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.

Rodrigo Constantino lembra dois indivíduos, tidos por Maurício Grabois como "desclassificados", comprados pela direita para criar os lances patéticos que levariam à cassação do registro e dos mandatos do Partido Comunista do Brasil na década de 1940.

Tratava-se do deputado Barreto Pinto (PTB-RJ), eleito na garupa de Getúlio Vargas com apenas 400 votos e que quase apanhou de Maurício Grabois e Henrique Oest na Câmara dos Deputados, e de Himalaia Virgulino, ex-conselheiro do horripilante Tribunal de Segurança Nacional do Estado Novo, um desclassificado, que andava pedindo dinheiro emprestado e do qual todos corriam quando ele chegava por perto.

Ouvir e ler Rodrigo Constantino é um bom exercício para se compreender como a direita junta burrice, mediocridade e mau-caratismo para defender os seus interesses. Ele consegue expressar com clareza como essa gente passou a vida, de geração em geração, trocando favores, construindo atalhos, traficando influência, montando toda essa rede de relações obscuras, essa indústria da maracutaia que tantos males causa ao país. E por que essa gente luta com tanto ódio contra o ciclo de governos progressistas inaugurado em 2003. Simples assim!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Jesus, o Maior Revolucionário de Todos os Tempos



texto de

Carlos Antonio Fragoso Guimarães


   Por ter sido considerado um perigo ao império romano e ao status quo elitista judeu, Jesus de Nazaré foi condenado à uma morte vergonhosa e dolorosa em público. Apesar disto, este homem só pregou o amor, a fraternidade, a igualdade, justiça social.... Por pregar exatamente estas coisas, nunca cobrando dízimos ou fazendo distinções de classe, credo ou nível social, foi condenado ontem e tem hoje seu exemplo e palavras deturpadas pelas atuais elites e líderes religiosos farisaicos, especialmente os midiáticos, que se auto-intitulam enfatuadamente de "Cristãos". Até mesmo seu Natal foi transformado em uma festa comercial, em grande parte por pessoas que se julgam "salvas", embora ele mesmo tenha dito que não são as que dizem "Senhor, Senhor" que entrarão no Reino de Deus, mas as que, de fato, fizeram boas obras ao próximo (Mt. 25: 41-45) e não as que, gritando hoje "Senhor, Senhor" dedicam grande parte de suas vidas ao deus do capitalismo.

  Abaixo, segue os dizeres do pessoal da Occupy Wall Street sobre o Maior Revolucionário de todos os tempos:

"JESUS FOI UM REVOLUCIONÁRIO RADICAL NÃO-VIOLENTO, que andava com prostitutas, leprosos e bandidos. Não era estadunidense, nunca falou inglês, foi anti-riqueza, avesso à pena de morte, e contra orar em público, mas nunca foi anti-gay, jamais mencionou aborto nem controle de natalidade. Nunca chamou o pobre de preguiçoso, não defendeu a tortura, não lutou por reduzir impostos dos nazarenos mais ricos, nunca cobrou para atender leprosos. Foi um judeu de cabelos longos, pele morena, sem teto, um organizador comunitário que se opunha ao apedrejamento de prostitutas.
FELIZ ANIVERSÁRIO PRA ESSE GRANDE CARA!! E um triste festejo cheio de consumismo para os fiéis que não entenderam nada."

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O homem que roubou o Natal de Jesus


"Não conheço nenhuma festa religiosa no mundo cujas principais manifestações sejam gastar muito dinheiro, comer para caramba e encher a cara. A festa máxima dos cristãos é a festa religiosa mais capitalista do planeta." - Cynara Menezes


texto de
No shopping próximo à minha casa, o tema da decoração de Natal é “a floresta encantada de Papai Noel”. Juro que procurei entre as folhagens de plástico, as girafas de pelúcia e os chimpanzés músicos para ver se o achava, mas não encontrei Jesus. Nada de Maria, José, do anjo, dos reis Magos e das cabras, bois e vacas. Nada que se assemelhasse a uma manjedoura. Enfim, nada de Natal na decoração de Natal.
Fiquei pensando quando foi que o menino Jesus deixou de ser protagonista de sua própria festa de aniversário. Jesus, o profeta a quem, pelo menos nas estatísticas, um terço da humanidade dedica sua fé, faz uma ponta no Natal hoje em dia. A figura central, a grande estrela da maior festa do mundo cristão é um velho barbudo de aparência nórdica que só criancinhas acreditam que exista. E, aparentemente, ninguém está nem aí.
O Natal é uma verdadeira cilada. TVs, jornais, familiares, tudo conspira para que você se sinta tomado pelo “espírito natalino”, que se traduz em: se meter em shoppings abarrotados de gente para comprar coisas que sairiam pela metade do preço no mês seguinte. Mesmo que você não queira participar, é obrigado a seguir o fluxo porque não quer que seus filhos cresçam traumatizados por não ganhar presente quando todo mundo recebe –do Papai Noel, claro, aquele gordinho que espera o ano todo por este bico, suarento debaixo da roupa vermelha e da barba branca em pleno verão brasileiro.
Aliás, a disparidade entre o que se construiu como “Natal” no hemisfério Norte e a realidade dos trópicos é um mico à parte. Bonecos de neve de feltro, de gorro, cachecol e cenoura no lugar do nariz, se espalham pelo País e tomam de assalto até as repartições públicas, enquanto as secretárias se abanam de calor. O “jeitinho” brasileiro se desdobra para recriar a atmosfera gélida, condição sine qua non para que o “espírito natalino” baixe, e dá-lhe neve de pipoca, de isopor, de algodão… Tenho certeza que nunca seremos uma nação de fato enquanto precisarmos macaquear um clima que não é nosso para conseguir algo tão singelo quanto o congraçamento familiar.
Não conheço nenhuma festa religiosa no mundo cujas principais manifestações sejam gastar muito dinheiro, comer para caramba e encher a cara. A festa máxima dos cristãos é a festa religiosa mais capitalista do planeta. E olhem que a mensagem de Cristo era o exato oposto. Não foi o filho de Deus quem expulsou os vendilhões do templo? Não foi ele quem disse que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”? Quer mensagem menos capitalista do que esta?
Mas falar dessas coisas é querer estragar a festa, quebrar a “magia” do Natal –muito embora a única visível seja o mágico tilintar das caixas registradoras. Para o comércio, a data é uma bênção. Para as igrejas, o mundo do dinheiro nunca foi exatamente um incômodo e pode, afinal de contas, render belos donativos. Tampouco parece ser um empecilho que os fiéis gastem todo o 13º salário e se endividem em compras, porque depois engrossarão as fileiras dos que procuram as casas de Deus em busca de conforto não para os flagelos da alma, mas do bolso.
Tem igrejas pentecostais que vivem disso, de oferecer aos crédulos a superação das dívidas financeiras e o sucesso econômico através do poder de Deus. De que lhes serviria abrir os olhos dos fiéis e pregar que o Natal não é sinônimo de gastança? Deixa quieto, Papai Noel é bem mais conveniente que Jesus, até porque não fere suscetibilidades. Sem essa de rico não poder entrar no reino dos céus: seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem, não é mesmo? “Compre, compre. Ho, ho, ho”.
Meu lado cristão (de formação) se revolta de ver que o Natal se transformou nessa pseudo festa religiosa, vazia de significado espiritual. Em vez de se incomodar com a vida íntima do próximo, de tentar interferir na orientação sexual do semelhante ou de se empenhar em lutas surreais como a cruzada contra a proteção da camisinha, as igrejas cristãs deviam se dedicar a repensar sua festa mais importante. Se os cristãos fossem de fato cristãos, tinham de estar preocupados que o nascimento de Jesus perdeu o lugar para o consumismo que o Papai Noel representa. Tentar resgatar a mensagem do Natal: esta, sim, seria uma luta de fato agregadora, digna da data e do aniversariante.
Dá para começar em casa, montando o presépio com as crianças como aconteceu no passado e, no mínimo, explicando a elas que o dono da festa não é o Papai Noel, que não é por causa dele que o Natal existe. Quantos cristãos fazem isso?
Boas festas a todos.
Texto de Cynara Menezes, a "Socialista Morena".

sábado, 21 de dezembro de 2013

O materialismo comercial e capitalista do Papai Noel contra a espiritualidade do Menino Jesus, propositalmente esquecido no próprio Natal

Mais uma profunda e brilhante reflexão crítica de Leonardo Boff sobre como o materialismo capitalista destroçou tudo o que havia de mais sagrado:

O materialismo do Papai Noel e a espiritualidade do Menino Jesus




Leonardo Boff

21/12/2013

Um dia, o Filho de Deus quis saber como andavam as crianças que, outrora, quando andou entre nós,“as tocava e as abençoava” e que dissera: "deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o Reino de Deus”(Lucas 18, 15-16).

À semelhança dos mitos antigos, montou num raio celeste e chegou à Terra, umas semanas antes do Natal. Assumiu a forma de um gari que limpava as ruas. Assim podia ver melhor os passantes, as lojas todas iluminadas e cheias de objetos embrulhados para presentes e principalmente seus irmãos e irmãs menores que perambulavam por aí, mal vestidos e muitos com forme, pedindo esmolas. Entristeceu-se sobremaneira, porque verificou que quase ninguém seguira as palavras que deixou ditas: "quem receber qualquer uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe”(Marcos 9,37).

E viu também que já ninguém falava do Menino Jesus que vinha, escondido, trazer na noite de Natal,
presentes para todas as crianças. O seu lugar foi ocupado por um velhinho bonachão, vestido de vermelho com um saco às costas e com longas barbas que toda hora grita bobamente: ”Oh, Oh, Oh…olhem o Papai Noel aqui”. Sim, pelas ruas e dentro das grandes lojas lá estava ele, abraçando crianças e tirando do saco presentes que os pais os haviam comprado e colocado lá dentro. Diz-se que veio de longe, da Finlândia, montado num trenó puxado por renas. As pessoas haviam esquecido de outro velhinho, este verdadeiramente bom: São Nicolau. De família rica, dava pelo Natal presentes às crianças pobres dizendo que era o Menino Jesus que lhes estava enviando. Disso tudo ninguem falava. Só se falava do Papai Noel, inventado há mais de cem anos.

Tão triste como ver crianças abandonadas nas ruas, foi perceber como elas eram enganadas, seduzidas pelas luzes e pelo brilho dos presentes, dos brinquedos e de mil outros objetos que os pais e as mães costumam comprar como presentes para serem distribuidos por ocasião da ceia do Natal.

Propagandas se gritam em voz alta, muitas enganosas, suscitando o desejo nas crianças que depois correm para os pais, suplicando-lhes para que comprem o que viram. O Menino Jesus travestido de gari, deu-se conta de que aquilo que os anjos cantaram de noite pelos campos de Belém "eis que vos anuncio uma alegria para todo o povo porque nasceu-vos hoje um Salvador…glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa-vontade”(Lucas 2, 10-14) não significava mais nada. O amor tinham sido substituído pelos objetos, o mundo humano desvalorizado pelo mundo das coisas e a jovialidade de Deus que se fez criança, tinha desaparecido em nome do prazer de consumir.

Triste, tomou outro raio celeste e antes de voltar ao céu deixou escrita uma cartinha para as crianças. Foi encontrada debaixo da porta das casas e especialmente dos casebres dos morros da cidade, chamadas de favelas. Ai o Menino Jesus escreveu:


Meus queridos irmãozinhos e irmãzinhas,

Se vocês olhando o presépio e virem lá o Menino Jesus e se encherem de fé de que ele é o Filho de Deus Pai que se fez um menino, menino qual um de nós e que Ele é o Deus-irmão que está sempre conosco.
Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas, especialmente nos pobrezinhos, a presença escondida do Menino Jesus nascendo dentro deles.

Se vocês fizerem renascer a criança escondida no seus pais e nas pessoas adultas para que surja nelas o amor, a ternura, o carinho, o cuidado e a amizade no lugar de muitos presentes.

Se vocês ao olharem para o presépio descobrirem Jesus pobremente vestido, quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente pobres e mal vestidas e sofrerem no fundo do coração por esta situação desumana e se decidirem já agora, quando grandes, mudar estas coisas para que nunca mais haja crianças chorando de fome e de frio...
Se vocês repararem nos três reis magos com os presentes para o Menino Jesus e pensarem que até os reis, os grandes deste mundo e os sábios reconheceram a grandeza escondida desse pequeno Menino que choraminga em cima das palhinhas,

Se vocês, ao verem no presépio todos aqueles animais, como as ovelhas, o boi e a vaquinha pensarem que o universo inteiro é também iluminado pela Menino Jesus e que todos, galáxias, estrelas, sois, a Terra e outros seres da natureza e nós mesmos formamos a grande Casa de Deus,

Se vocês olharem para o alto e virem a astrela com sua cauda e recordarem que sempre há uma Estrela como a de Belém sobre vocês, iluminando-os e mostrando-lhes os melhores caminhos,

Se vocês aguçarem bem os ouvidos e escutarem a partir dos sentidos interiores, uma música celestial como aquela dos anjos nos campos de Belém que anunciavam paz na terra, Então saibam que sou eu, o Menino Jesus, que está chegando de novo e renovando o Natal. Estarei sempre perto de vocês, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia em que chegaremos todos, humanidade e universo, à Casa do Pai e Mãe de infinita bondade para sermos juntos eternamente felizes como uma grande família reunida.

Belém, 25 de dezembro do ano 1.

Assinado: Menino Jesus















sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O fracasso das promessas de felicidade da tecnociência, a desumanização das relações humanas, a atualidade da mensagem de Cristo e uma nova luz no fim do túnel


Mais uma reflexão de Leonardo Boff sobre as ilusões do mecanicismo e a resistência e força da vida, da mensagem de espiritualidade resistindo  às armadilhas de alienação do neoliberalismo capitalista direitista e "coisificador":

Há saída para o desamparo atual e alegria para o coração?




Leonardo Boff



Inegavelmente vivemos tempos sombrios nos quais as estrelas-guias desapareceram e com elas a alegria de viver e a esperança de uma humanidade mais humana e de uma Terra mais cuidada. As promessas do projeto da tecno-ciência com seu sonho de um progresso ilimitado e da economia neoliberal de mercado oferecendo um consumo generalizado produziram decepção e fracasso. Excluíram milhões e milhões de pessoas. Bem diz o Papa Francisco: "a sociedade técnica multiplicou as possibilidades de prazer mas tem  grandes dificuldades de engendrar alegria”(Exortação,n.7). Prazer é coisa dos sentidos. Alegria é coisa do coração. E nosso modo de ser é sem coração.

Eis que no meio deste mal-estar mundial irrompeu uma figura que nos devolveu esperança, alegria e gosto pela beleza: o Papa Francisco. Seu primeiro texto oficial leva como título Exortação Pontifícia Alegria do Evangelho. Todo texto vem perpassado pela alegria, pelas categorias  do encontro, da proximidade, da misericórdia, da centralidade dos pobres, da beleza, de “revolução da ternura” e da “mística do viver juntos”.

Essa alegria não é de bobos alegres que o são sem saber porquê. Ela brota de um encontro com uma Pessoa concreta que lhe suscitou entusiasmo, lhe produziu elevo e simplesmente o fascinou. É a figura de Jesus de Nazaré. Não se trata daquele Cristo, coberto de títulos de pompa e glória que a teologia posterior lhe conferiu. Mas é o Jesus do povo simples e pobre, das estradas poeirentas da Palestina que trazia palavras de frescor e de fascínio. O Papa Francisco testemunha o reencontro com essa Pessoa.  Foi tão arrebatador que mudou sua vida e lhe criou uma fonte inesgotável de alegria e de beleza. Para ele evangelizar é refazer esta experiência e a missão da Igreja é resgatar o frescor e o fascínio pela figura de Jesus. Evita a palavra já feita oficial de “nova evangelização”. Prefere “conversão pastoral” feita de alegria, beleza, fascínio, proximidade, encontro, ternura, amor e misericórdia.

Que diferença com os seus predecessores de séculos. Apresentavam um Cristianismo como doutrina, dogma e norma moral. Exigia-se adesão irrestrita e sem qualquer laivo de dúvidas pois  gozava das características da infalibilidade.

O Papa Francisco entende o Cristinianismo em outra chave. Não é uma doutrina. É um encontro pessoal com uma Pessoa, com sua causa, com sua luta, com sua capacidade de enfrentar as dificuldades sem fugir delas.    Agradam-se sobremaneira as palavras contidas na Epístola aos Hebreus onde se diz que Jesus “passou pelas mesmas provações que nós… que foi cercado de fraqueza… que entre clamores e lágrimas suplicou àquele que o  podia salvar da morte e que não foi atendido em sua angústia”, consoante os estudos de dois grandes sábios nas Escrituras A. Harnack e R. Bultmann que dão essa versão no lugar daquela que está na Epístola”e foi atendido em sua piedade”(eusebeia em grego pode significar alem de piedade, também angústia)…”que teve que aprender a obedecer mediante o sofrimento”(Hebreus 4,15; 5,2.7-8).

Na evangelização tradicional tudo passava pela inteligência intelectual (intellectus fidei) expresssa pelo credo e pelo catecismo. Na Exortação, o Papa Francisco chega a dizer que “aprisionamos Cristo em esquemas enfadonhos…e assim privamos o cristianismo de sua criatividade”(n.11). Em sua versão, a evangelização passa pela inteligência cordial (intellectus cordis) porque aí tem sua sede o amor, a misericórdia, a ternura e o frescor da Pessoa de Jesus. Ela se expressa pela proximidade, pelo encontro, pelo diálogo e pelo amor. É um cristianismo-casa-aberta para todos, “sem fiscais de doutrina” e não uma fortaleza fechada e intimidada.

Pois é esse cristianismo que precisamos, capaz de produzir alegria, pois tudo o que nasce verdadeiramente de um encontro profundo e verdadeiro gera alegria que ninguém pode tirar. É como a alegria dos sulafricanos no sepultamento de Mandela: nascia do fundo do coração e movia todo o corpo.

Falta-nos em nossa cultura mediática e internética esse espaço do encontro, do olho  no olho, de cara a cara, da pele a pele. Para isso temos que realizar “saídas”, palavra sempre repetida pelo Papa. “Saída” de nós mesmos para o outro, “saída” para as periferias existenciais (as solidões e os abandonos) “saída” para o universo dos pobres. Essa “saída” é um verdadeiro “Exodo” que trouxe alegria aos hebreu livres do jugo do faraó.

Nada melhor que lembrar o testemunho de F. Dostoievsky ao “sair” da Casa dos Mortos na Sibéria:”Às vezes, Deus me envia instantes de paz; nestes instantes, amo e sinto que sou amado; foi num desses momentos que compus para mim mesmo um credo, onde tudo é claro e sagrado. Esse credo é muito simples. Ei-lo: creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais humano, de mais perfeito do que o Cristo; e eu o digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se encontra nele, prefiro ficar com Cristo a ficar com a verdade”.

O Papa Francisco faria suas estas palavras de Dostoievsky. Não é uma verdade abstrata que preenche a vida, mas o encontro vivo com uma Pessoa, com Jesus, o Nazareno. É a partir dele que a verdade se faz verdade. Se 2014 nos trouxer um pouco desse encontro (chamem-no de Cristo, de o Profundo, o Mistério em nós, de o Sagrado de todo o ser) então teremos cavado uma fonte donde jorra alegria que é infinitamente melhor que qualquer prazer induzido pelo consumo.

“A misericórdia de Deus não tem limites”, reafirma Francisco



Mas que Deus realmente superior e bom, o de Francisco.... Bem acima daquele monstro exclusivista, ciumento, infantil e inseguro que precisa ser "louvado" o tempo todo e ainda precisa do dinheiro do povo, como O apresentam certos fanáticos evangélicos e padres ultra-reacionários!


Papa Francisco volta a afirmar que ateus não precisam crer em Deus para serem salvos: “A misericórdia de Deus não tem limites”





O papa Francisco havia afirmado, meses atrás, que ateus poderiam ser salvos mesmo não crendo em Deus, se eles seguissem suas consciências na conduta de vida. Dias depois, a Igreja Católica divulgou um comunicadocontrariando as declarações de seu pontífice.
Agora, a imprensa mundial volta a noticiar que o papa escreveu uma carta aberta direcionada ao fundador do jornal La Repubblica, Eugenio Scalfari, voltando a afirmar que os não crentes seriam perdoado por Deus, caso seguissem suas consciências.
A iniciativa do papa em escrever foi no sentido de responder uma lista de perguntas feitas e publicadas por Scalfari – que não é católico – em seu jornal.
“Você me pergunta se o Deus dos cristãos perdoa aqueles que não acreditam e que não buscam a fé. Gostaria de começar por dizer – e isso é o fundamental – que a misericórdia de Deus não tem limites, se você for a Ele com um coração sincero e contrito. O problema para aqueles que não acreditam em Deus é obedecer a sua consciência. O pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, existe quando as pessoas desobedecem a sua consciência”, escreveu o papa Francisco.
A tréplica de Scalfari foi, em síntese, um único comentário de elogio ao papa: “Mais uma prova de sua capacidade e vontade de superar os obstáculos no diálogo com todos”, afirmou, referindo-se à postura de humildade do pontífice.
Robert Mickens, correspondente no Vaticano do jornal católico The Tablet, afirmou que o discurso do papa é uma tentativa de transformar a imagem da Igreja Católica, que é estigmatizada e vista como conservadora extrema. “Francisco é um conservador. Mas isso tudo significa que ele tenta ter um diálogo mais significativo com o mundo”, afirmou Mickens, em entrevista ao jornal The Independent.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Leonardo Boff e Mauro Santayana contra a imbecilidade do atual anticomunismo




     O texto parece diretamente voltado aos ilustres fascistóides da mídia golpista e seus admiradores de pouco pensar, com "cérebros" como os de Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, William Waack, Marcos Kadayan, Mayara Petruso, Ali Kamel, Jair Bolsonaro, o astrólogo que se diz "filósofo" Olavo de Carvalho, a musa do coxinhas, Eliane Cântanhede, e tantos outros papagaios da Globo, Veja, Folha, etc.:

Contra a imbecilidade do atual anticomunismo


Leonardo Boff


  Mauro Santayana é um dos jornalistas mais eruditos do jornalismo brasileiro. Sempre comprometido com causas humanitárias, contundente e dotado de um estilo de grande elegância. Somos colegas como colunistas do Jornal do Brasil-on line. 
  Recentemente, no dia 17/12/2013, publicou um artigo sob o título HAMEUS PAPAM (transcrito abaixo)  com o qual me identifiquei imediatamente. Sofro ataques imbecis de que sou comunista e marxista, como se para um teólogo com 50 anos de atividade, fosse uma banalidade fazer esta acusação. Sou cristão, teólogo e escritor. Marx nunca foi pai nem padrinho da Teologia da Libertação que ajudei a formular. O atual anticomunismo  revela a anemia de espírito e a pobreza de pensamento  que  estão prevalecendo como disfarce para esconder o desastre que significa a economia de mercado, altamente predadora da natureza e agressora de todo tipo de direitos humanos e agora numa crise da qual não sabem como sair. Há tempos o Zürcher Zeitung, o maior jornal suiço e pouco depois o Times diziam que o autor mais lido hoje é Marx. Não só por estudiosos, mas por banqueiros e financistas conscientes que querem saber por que seu sistema foi a falência e por que tem tantas dificuldades em sair dele, se é que encontram uma saída que não signifique mais sacrificio para a natureza (injustiça ecológica) e para a humanidade já sofredora (injustiça social). 
  Hoje mais e mais se percebe que este sistema é anti-vida, anti-democracia e anti-Terra. Se não cuidarmos poderá nos levar a um abismo fatal. É uma reflexão que faço contra meus acusadores gratuitos e faltos de razão. 

  Penso, às vezes, que Einstein tinha razão quando disse: ”Existem dois infinitos:um do universo e outro dos estúpidos; do primeiro tenho dúvidas, do segundo, absoluta certeza”. Estimo que muitos dos anticomunistas atuais se inscrevem nesse segundo infinito. É fácil serrar árvore caída e covardia chutar cachorro morto. 

  Pensemos, antes, no presente com sentido de responsabilidade, unidos face a um feixe de crises que nos poderá levar a uma tragédia ecológico-social. Como fazer tudo para evitá-la e garantir um futuro comum para todos, inclusive para a nossa civilização e para nossa Casa Comum. Essa é a questão maior a ser pensada e sobre ela inaugurar práticas salvadoras e não distrair-se com discutir um comunismo inexistente, morto e sepultado. LBoff
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Habemus Papam
Acusado por um conservador norte-americano de ser marxista, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, negou sê-lo, mas disse que não se sentia ofendido, por ter conhecido ao longo de sua vida muitos marxistas que eram boas pessoas.
A declaração do papa, evitando atacar ou demonizar os marxistas, e atribuindo-lhes a condição de comuns mortais, com direito a ter sua visão de mundo e a defendê-la, é extremamente importante, no momento que estamos vivendo agora.
Espalha-se, na internet — e um monte de beócios, uns por ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso — que o Golpe Militar de 1964 — apoiado e financiado por uma nação estrangeira, os Estados Unidos — foi uma contrarrevolução preventiva. O país era governado por um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do Estado de Direito, e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck presidente da República em 1965.


A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando chique ser de extrema direita — baseia-se em manipulação canalha, com que se tenta, por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar criando uma absurda realidade paralela.
Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita fundamentalista, “museus do comunismo”; surgem por todo mundo, como nos piores tempos da Guerra Fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de se defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma absolutamente fantasiosa, 100 milhões de mortos ao comunismo.
Busca-se associar, até do ponto de vista iconográfico, o marxismo ao nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado, em que os alemães e seus aliados perderam 850 mil homens, e a Batalha de Berlim, vencidas pelas tropas do Exército Vermelho — que cercaram e ocuparam a capital alemã e obrigaram Hitler a se matar, como um rato, em seu covil — a Alemanha nazista teria tido tempo de desenvolver sua própria bomba atômica e não teria sido derrotada.
Quem compara o socialismo ao nazismo, por uma questão de semântica, se esquece de que, sem a heroica resistência, o complexo industrial-militar, e o sacrifício dos povos da União Soviética — que perdeu na Segunda Guerra Mundial 30 milhões de habitantes — boa parte dos anticomunistas de hoje, incluídos católicos não arianos e sionistas, teriam virado sabão nas câmaras de gás e nos fornos crematórios de Auschwitz, Birkenau e outros campos de extermínio.
1964 foi uma aliança de oportunistas. Civis que há anos almejavam chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso, segmentos conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e oficiais — não todos, graças a Deus — golpistas que odiavam a democracia e não admitiam viver em um país livre.
Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres fascistas pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do papa Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como quaisquer outras — e não são os monstros apresentados pela extrema-direita fundamentalista e revisionista sob a farsa do “marxismo cultural” — representam um apelo à razão e um alento.
Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer, pelo menos até agora, que Habemus Papam, com a clareza da fumaça branca saindo, na Praça de São Pedro, em dia de conclave, das veneráveis chaminés do Vaticano.
Um Papa maiúsculo, preparado para fortalecer a Igreja, com o equilíbrio e o exemplo do Evangelho, e a inteligência, o sorriso, a determinação e a energia de um Pastor que merece ser amado e admirado pelo seu rebanho.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Marco Feliciano diz que "Nelson Mandela implantou a cultura da morte"




Existirá limites à imbecilidade e à estupidez de quem se julga conhecedor da "verdade" que lhes é mais conveniente? Talvez a existência e ações de pessoas como Marco Feliciano, Silas Malafaia, Edir Macedo ou R.R. Soares, entre outros pseudo-cristãos, nos faça perder a fé na possibilidade de inteligência e solidariedade nas pessoas...

Segue adiante parte do texto em que se divulga a afirmação "lúcida" e "cristã" de Marco Feliciano sobre Nelson Mandela (fonte original: último segundo):

Nelson Mandela implantou a cultura da morte', diz Marco Feliciano

Por Marcel Frota e Nivaldo Souza - iG Brasília  - Atualizada às 

Ao iG, deputado critica líder sul-africano por aprovação de lei que autoriza aborto, revela sonhar com Senado e afirma que em hipótese alguma apoiará reeleição de Dilma

O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) polemiza ao falar sobre o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, morto no último dia 5 de dezembro. Apesar de homenagear Mandela com um minuto de silêncio durante a última sessão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Feliciano dispara contra o líder negro por causa da aprovação de lei de aborto na África do Sul.
"Quem mata uma criança, para mim, não é meu amigo. Então Mandela implantou a cultura que chamamos de cultura da morte dentro da África do Sul", diz Feliciano, em entrevista ao iG. "E até hoje os índices de aborto na África do Sul são dos maiores do mundo. Então, nesse quesito, Mandela não foi feliz", criticou o deputado. Em 1996, a legalização do aborto foi tomada por Mandela com base no alto índice de violência sexual contra a mulher. Segundo autoridades sul-africanas, cerca de 60 mil estupros são denunciados todos os anos no país.


A questão ideológica do Brasil contemporâneo


As tentativas da Direita em desqualificar a esquerda por meio de uma mídia tendenciosa




Da Carta Maior


Texto de Francisco Fonseca (*)

Embora já surrada, a questão do “fim das ideologias”, assim como do “fim da história”, reaparecem de tempos em tempos, abertamente ou de forma subliminar. Trata-se de uma questão internacional, mas com contornos específicos no Brasil.

Há, de certa forma, uma espécie de “ideologia da não ideologia”, isto é, a tentativa permanente, aguçada em períodos pré-eleitorais e eleitorais, dos setores liberais e conservadores desqualificarem, por estratégias diversas, os pressupostos, objetivos e formas de atuação dos grupos à esquerda.

Mesmo que os aspectos concretos quanto à forma de atuar dos grupos sociais – à esquerda, ao centro e à direita no espectro – dependa de um conjunto de circunstâncias históricas, tais como o contexto internacional, a correlação de forças numa dada sociedade, o grau de organização e mobilização das forças sociais, o papel das instituições políticas, os padrões do modelo de acumulação, entre outras variáveis, há elementos essencialmente definidores do significado de esquerda e direita.

Vejamos, de forma panorâmica e sem a pretensão de esgotar suas características, alguns desses elementos essenciais quanto à atualidade da esquerda.

Primariamente, diz respeito ao tema da igualdade: política e social. O pensamento à esquerda – concretizado em governos – tem como objetivo central a diminuição das desigualdades e, num plano de longo prazo, sua eliminação. Em termos da agenda governamental, esse pressuposto implica: ampliação do gasto social (medido em relação ao PIB); busca pela universalização de direitos, mas contemporaneamente combinada com focalização aos grupos mais vulneráveis; descrença no “mercado livre”, panaceia vendida pelo liberalismo, uma vez que se apoia o direcionamento dos agentes econômicos, e sobretudo o reconhecimento das assimetrias entre os detentores do capital e da força de trabalho, reconhecimento que se transforma em políticas de apoio aos trabalhadores via políticas públicas; apoio às formas de participação popular, como conferências nacionais, audiências públicas, entre diversas outras; como decorrência, o estímulo ao chamado “controle social”, em que cidadãos organizados em suas comunidades são partícipes ativos dos processos de implementação e monitoramento de políticas públicas, caso do exitoso Programa Bolsa Família; a questão crucial da aceitação dos conflitos como legítimos, cuja consequência é a negociação e não a repressão policial. Por fim, do ponto de vista das relações internacionais, a busca por autonomia perante as potências mundiais e suas instituições, em que o tema da soberania ganha relevo, e conduz, claramente, a uma visão de mundo à esquerda, em clara contraposição com a chamada direita, tradicionalmente associada às potências hegemônicas.  

Em claríssimo contraste, quais são os pressupostos da direita?

Seu pressuposto fundamental é a ordem, resultante da rejeição e aversão aos conflitos, sobretudo de classe, que permanecem revestidos majoritariamente como “conflito distributivo”. Daí o discurso clássico da direita ter na violência do Estado, por meio do “endurecimento das penas”, da brutalidade policial, da “criminalização” dos movimentos sociais, entre tantas outras formas, uma de suas características marcantes. Tal violência, destituída de controles democráticos, volta-se à proteção da propriedade e à “harmonia entre as classes” (mesmo que se negue sua existência).

Afinal, o pressuposto do pensamento liberal/conservador é justamente a “ideologia do mérito”, revestida de “meritocracia”, em que os indivíduos – independentemente de suas condições coletivas históricas – devem competir, sobressaindo-se os “melhores”. Daí o clássico mote do jornal O Estado de S. Paulo, de certa forma compartilhado por toda a grande mídia, de que as elites são constituídas pelos “melhores e mais capazes, venham de onde vierem”. Do ponto de vista internacional, a aceitação da “ordem mundial” tal como dada e ao papel subalterno conferido ao Brasil pela “divisão internacional do trabalho” fez e faz parte do conservadorismo liberal encarnado na perspectiva da direita.

Keynes, mesmo não sendo um intelectual de esquerda, já havia chamado a atenção, num profético artigo publicado em 1926, intitulado “The end of laissez faire”, a respeito dos efeitos nocivos da competição sem regras e da falácia da “mão invisível do mercado”, ambientes em que a ideologia do mérito prospera. Trata-se de pressupostos intrínsecos ao pensamento conservador e liberal, que conflui vigorosamente à direita no espectro.

Albert Hirschman, num primoroso livro sobre o pensamento conservador e liberal – encarnado na direita não nazista –, intitulado a “Retórica da Intransigência: perversidade, futilidade, ameaça” (publicado no Brasil pela Cia. das Lestras em 1992), demonstra detalhadamente os argumentos esgrimidos ao longo de dois séculos contrários à introdução dos direitos civis, políticos e sociais no mundo ocidental. São fortemente reativos em sua ânsia por garantir privilégios.

No Brasil não tem sido diferente, embora nossa direita, sobretudo no século XX, tenha se caracterizado pela adesão a golpes “clássicos”, e também aos “brancos” (mais sutis), respectivamente o golpismo civil/militar até 1964, e toda forma de casuísmo anti-institucional: emenda da reeleição em plena regra que a proibia, populismo cambial, “engavetadores gerais” da República etc.

Mais ainda, no marcante momento da Assembleia Constituinte de 1986/87, um sem-número de críticas ácidas, na perspectiva analisada por Hirschman, foram desferidas contra a “Constituição Cidadã”. Analisei detalhadamente tais críticas em meu livro “O Consenso Forjado – a grande imprensa e a formação da agenda ultraliberal no Brasil” (Editora Hucitec, 2005), e pude observar quão conservadora, em plena redemocratização, fora a direita reunida em torno do “Centrão”.

Em outras palavras, essencialmente falando, como sugerido por Norberto Bobbio, há diferenças cruciais entre esquerda e direita, ideologias – ou doutrinas, termo mais correto, pois indica um corpus conceitual e valorativo sistêmico – que continuam vivas e antagônicas, cujos efeitos governamentais sob seu comando são sentidos na vida dos cidadãos comuns, notadamente os pobres.

No Brasil, embora as grandes coalizões partidárias, resultantes, por seu turno, do financiamento privado legal e ilegal das campanhas e da lógica privatista do sistema político brasileiro, embaralhem e turvem a posição de ambas as ideologias, isso não significa que sua vigência seja menor. Ao contrário.

As contradições nos Governos Lula e Dilma expressam justamente os efeitos nefastos de um sistema político fundamentalmente protetor das elites, cujas reformas sociais são sempre incrementais e marginais, como tenho escrito em diversos artigos neste Portal. Em outras palavras, uma verdadeira “inversão de prioridades” (orçamento, crédito, infraestrutura, gastos sociais, dívida pública, universalização de direitos, transparência e participação popular/controle social etc), capaz de “radicalizar a democracia”, é travada em razão da grande aliança conservadora: de classes, que se expressa no sistema político.

A sensação de “geleia geral” do sistema partidário, e mesmo a desilusão perante o Partido dos Trabalhadores de amplas parcelas da sociedade brasileira não destituem o legado – reconhecido sistematicamente nas urnas – de que a obra do pensamento à esquerda está presente nos Governos Lula e Dilma. Apesar de suas imensas contradições e da ausência de um Projeto de sociedade e nação desses governos, os pressupostos de esquerda claramente estiveram e estão presentes, a ponto de as candidaturas oposicionistas dos grandes partidos patinarem em busca de um discurso capaz de se sobrepor aos notáveis avanços sociais, políticos e institucionais vivenciados pela sociedade brasileira.

A questão das concessões de serviços públicos, as parcerias público/privado, a contratualização de setores da gestão pública e o papel dos agentes privados nos sistemas universais de direitos sociais não são suficientes para derrogar os avanços sociais existentes justamente por ter havido pressupostos e objetivos de esquerda. Trata-se, além do mais, de estratégias e táticas articuladas ao momento histórico que, embora possam ser derrogadas, não denotam intrinsecamente traição aos pressupostos de esquerda. Afinal, a diminuição da desigualdade, a ampliação do gasto social e dos direitos sociais universais, assim como da participação popular, vicejaram vigorosamente, alterando em vários sentidos os legados perversos, e convivem contraditoriamente com políticas conservadoras (forma e conteúdo).

O grande desafio é ampliar e aprofundar a democracia política e social no país, invertendo e revertendo prioridades, o que, contudo, somente será realizado por uma política de esquerda, o que implica o “fim do pacto conservador de classes”. Embora o momento eleitoral não se preste a isso, uma vez que as regras estão dadas, as jornadas de junho demonstraram que é possível “ir além” – forma e conteúdo. Para tanto, novas e outras formas de fazer política precisam ser inventadas e reformadas, cujo centro – à luz dos pressupostos de esquerda – é a participação popular, o controle social e a transparência, dado que capazes de inverter/reverter prioridades e que representam justamente os anátemas da direita!

(*) O cientista político Francisco Fonseca, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).


sábado, 14 de dezembro de 2013

Jesus Cristo “capitalista” e Papa Francisco “marxista”?



Nos EUA, o pontífice tem sido extremamente criticado por suas observações contrárias ao capitalismo moderno. A principal acusação? Marxismo
Por Vinicius Gomes
Após a rodada de conferências da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Bali, na Indonésia, o “embaixador” do Vaticano na ONU, o Arcebispo Silvano Tomas, emitiu as considerações da Santa Fé sobre o atual sistema econômico no mundo, onde vale destacar um parágrafo:

“Enquanto uma minoria está vivendo um exponencial crescimento de riqueza, o abismo cresce entre a vasta maioria da prosperidade usufruída por esses poucos felizes. Esse desequilíbrio é o resultado de ideologias que defendem uma autonomia absoluta do mercado e de especulação financeira [...] Uma nova tirania então nasce, invisível e quase virtual, a qual impõe, unilateralmente e impiedosamente, suas próprias regras e leis”. 
Já não é de hoje que o Vaticano tem atacado o atual sistema econômico mundial. Em maio desse ano, o papa Francisco alertou em um discurso sobre os perigos de uma economia “sem rosto” que esquece as pessoas e agrava as desigualdades. Pode parecer absurdo, mas o papa tem sido extremamente criticado por suas observações contrárias ao capitalismo moderno. A principal acusação ao pontífice? Marxismo.

Papa Francisco x Ultraconservadores
“Jesus Cristo era um capitalista e agora está chorando no Paraíso por culpa dele!”.
“Ele está acabando com o capitalismo e está acabando com a América!”.
“É Marxismo puro saindo da boca dele!”
Em todas essas frases, o “ele” se refere a Francisco e todas vieram de alguns dos ultraconservadores norte-americanos espalhados pela mídia. Em fins de novembro, o pontífice compartilhou alguns de seus pensamentos sobre o capitalismo selvagem e suas consequências para milhões de pessoas, em sua exortação de 84 páginas intitulada de Evangelii Gaudium. Após condenar a idolatria ao dinheiro, a desigualdade e a economia de exclusão, é seguro dizer que o papa não é um fervoroso capitalista. Fato esse que despertou a ira da extrema direita dos EUA, que chegou ao ponto de fazer comentários como os relatados acima.
O intelectual espanhol Vicenç Navarro destacou em seu artigo a respeito diversas passagens do documento papal, no qual Francisco se utilizou muito mais das palavras de Jesus (o grande “capitalista”) do que de “O Capital” de Karl Marx para condenar o sistema. “A crítica não se limita aos excessos do capitalismo, mas ao capitalismo em si, há partes do documento que parecem aproximar-se desta postura. Escreve Francisco: ‘o mandamento Não matarás estabelece um mandato de respeitar a vida humana. Daí que este ‘não matar’ deve aplicar-se a um sistema econômico baseado na desigualdade e na exclusão’. Acrescenta Francisco que “tal economia mata”.
E, diferentemente do que seus detratores tentam apontar, o papa parece saber muito bem do que está falando ao criticar o capitalismo moderno, como aponta Navarro ao citar o pontífice. “Algumas pessoas (Francisco poderia ter escrito a maioria dos establishments econômicos, financeiros, políticos e midiáticos europeus e estadunidenses) continuam defendendo as teorias do “trickle-down”, segundo as quais a concentração de riqueza produzida no crescimento econômico (capitalista) e em seus mercados trará inevitavelmente maior justiça e inclusão, ao aumentar a riqueza, melhorar a vida de todos e a coesão social. Essa opinião, que nunca foi confirmada por dados, expressa uma fé ingênua e crua na bondade dos que concentram o poder econômico e na eficiência sacrossanta do sistema econômico existente”.
Não é necessário ser um seguidor da Igreja Católica para admitir a propriedade que Francisco tem quando fala do capitalismo moderno. Ao acusá-lo de ser marxista e atacá-lo por defender os mais oprimidos pelo sistema, afirmando que o Jesus capitalista pregou contra a “distribuição de riqueza”, os conservadores caem no ridículo, ainda mais quando nos lembramos de algumas de suas clássicas e verdadeiras pregações, como “abençoados sejam os pobres” ou “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulho do que um rico entrar no Paraíso”.
Outra forma de criticar Francisco é compará-lo também a seus predecessores e seus antagonismos ao pensamento marxista. O falecido João Paulo II, por exemplo, é apontado como um dos grandes responsáveis pela derrota vermelha na Guerra Fria, junto ao ex-presidente norte-americano, Ronald Reagan. O comentarista financeiro da conservadora Fox News, Stuart Varney, apontou que “ele entendia que os livres mercados são necessários, pois cresceu sob um regime comunista”. Pouco mais de um ano atrás, Bento XVI destacou a falha do marxismo em Cuba: “Hoje é evidente que a ideologia marxista, como foi concebida, não corresponde à realidade”.
Ironicamente, todos esses críticos de Francisco e defensores da econômica global fazem parte do “Tea Party”, a mesma linha conservadora republicana que poucos meses atrás quase provocou uma crise mundial com a paralisação do governo dos EUA, fazendo a Casa Branca de “refém” e a qual, Noam Chomsky classificou como profundamente reacionária. Não é a toa que as críticas ao Vaticano se juntam aos ataques a Obama.
Em tempo: o papa Francisco acaba de ser escolhido como a personalidade de 2013 pela revista Time. No ano passado havia sido Barack Obama.