segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Paulo Henrique Amorim, em entrevista para Luis Nassif, discute o Primeiro Poder (da Globo)




Em entrevista a Luis Nassif, PHA conta bastidores de meio século de jornalismo, registrado no seu mais recente livro: O 4º Poder - Uma outra História (veja o vídeo da entrevista ao final do texto).

Jornal GGN – Em meio século de jornalismo, passando pelos principais veículos nacionais, o que é possível descobrir da imprensa brasileira? Quais são os bastidores por trás das câmeras da rede Globo, depois que se finaliza a edição da revista Veja dos anos 70 e do Jornal do Brasil? Paulo Henrique Amorim reúne no livro “O Quarto Poder – Uma Outra História” (São Paulo, Hedra, 2015) suas impressões.

Em conversa descontraída – e afiada, Paulo Henrique Amorim relembrou episódios narrados em seu livro e outras de suas experiências ao jornalista Luis Nassif. Acompanhe:

Luis Nassif: O Jornalista Paulo Henrique Amorim está lançando o livro “O Quarto Poder”, que conta um pouco sua carreira jornalística e um pouco dos meandros da imprensa. Conheci Paulo Henrique quando fui para Economia, PHA já era um prestigiado editor de economia da Veja ao lado do saudoso Emilio Matsumoto. Paulo, a questão da Time Life, você fala que tinha algum problema que aproximou a Veja, como é que era essa história.

Paulo Henrique Amorim: Os Civita, o seu Vitor e o irmão dele, o argentino, tinham uma longa ligação com a Disney. E eles vieram fazer as revistas infantis no Brasil. Mas eles tinham também uma ligação com o grupo Time Life. Acontece que como deu confusão a ligação da Globo, do Roberto Marinho, com o grupo Time Life, quando eu fui ser correspondente da Veja em Nova York, eles me mandaram para a NewsWeek, porque a Veja começou acordo com eles. Mas também era uma solução que não agradava, por exemplo, o Roberto Civita. Tanto é que ele, quando pôde, copiou e tentou replicar as revistas do grupo Time Life.

Quando você pega na Argentina e aqui, toda aquela profusão de títulos é copiada do grupo Time Life?

PHA: É copiada do grupo Time Life. E há uma ligação suspeita entre o Walt Disney, que era informante do FBI, e aparece como delator no macarthismo. E a ligação dos Civita com os interesses subterrâneos da política americana.

O próprio presidente do grupo Time Life tinha ligações com o Henry Luce, foi o cara que estimulou o Macarthismo lá.

PHA: O Henry Luce passou um bom tempo da vida dele na China e foi o maior defensor do Chiang Kai-shek.

O que provoca o desequilíbrio no mercado de televisão aqui é a Time Life com a Globo. Você conta algumas tentativas dos Diários Associados de associar outra rede, e a própria Time Life.

PHA: Houve a tentativa dos americanos de se associarem ao Chateaubriand. Ele se associou num primeiro momento com a NBC. A ABC procurou o Nascimento Brito, mas o que realmente fez a indústria da televisão no Brasil foi a ligação da Time Life com a Globo. E o problema é que essa era uma ligação ilegal, porque a legislação brasileira não permitia que grupos estrangeiros participassem.

Eles se disfarçavam na forma de empréstimos...

PHA: Na forma de empréstimos e assistência técnica. Agora, uma revelação que tem no livro, eu acho interessante, é como que o Costa e Silva mandou o Roberto Marinho comprar as ações da Time Life. Porque o Castelo já não tinha gostado dessa ideia de Time Life ser sócia da Globo. E o Costa e Silva herdou isso e deu uma instrução clara a um de seus ministros, que foi: resolva esse problema de ter uma companhia estrangeira sócia de uma televisão no Brasil. E isso foi feito com um acordo através do banco Morgan. Roberto Marinho levantou dinheiro no Morgan, deu em garantia receitas que ia ter. Deu em garantia a casa dele no Cosmo e Velho. Essas receitas eram a publicidade estatal do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, da Eletrobrás, na Globo.

Mas não foi o Banco Nacional que financiou o Roberto Marinho?

PHA: Não, não. Isso foi depois.

Uma vez o Zé Luis Magalhães Lins me disse que ele que garantiu...

PHA: Isso... Ele ajudou, depois! Mas num primeiro momento foi uma operação com o grupo Morgan para recomprar as ações do grupo Time Life.

E o que você conta...

PHA: O Banco Nacional tanto é que o Jornal Nacional chama Nacional, não é porque fosse nacional, mas era o Banco Nacional que era o patrocinador do jornal!

Você levanta a bibliografia do Álvaro de Moya, sobre a TV Excelsior, com um conjunto, um know-how de televisão que eu achava que a Globo tinha começado através da Time Life. Eles já tinham essa visão então?

PHA: A Excelsior tinha uma visão pioneira. Ela que iniciou com esse produto que é a grade. Com a divulgação da novela no país inteiro. Ela criou a tabela nacional de publicidade. A Excelsior é pioneira em vários aspectos, inclusive no jornalismo, com aquele jornal de vanguarda do Fernando Barbosa.

Que depois a Bandeirantes tentou reeditar, muitos anos depois...

PHA: E o problema é que a Excelsior foi dinamitada por uma operação do Herbert Lever contra o Wallace e o Saulo Ramos.

Agora, eu achava que era o Walter Clark, com o know-how da Time Life, que tinha montado aquele modelo de publicidade e o Boni o modelo de grade. Então eles trazem esse pessoal depois da Excelsior?

PHA: Na verdade, o Walter Clark que montou a Rede Nacional da Globo. Foi o Arce que trouxe a estratégia de publicidade, e o Boni que trouxe todo o know-how dele de programação e de direção de novela. Mas, a verdade também é que a origem disso, o gérmen dessa indústria de televisão do Brasil já estava na Excelsior.

Você conta ali, a visão de futuro do Boni. É fantástico que é muito de acordo com os tempos atuais de internet, que é o online. Como é que era isso aí?

PHA: O Boni tinha uma visão pioneira, muita parecida com o que hoje se imagina seja uma saída pra TV aberta, que é cada vez mais aproximar a TV Aberta da comunidade. É o que ele chama de tirar o âncora do estúdio, ele parodia uma expressão que se usa nos EUA: “o âncora é aquele que fica numa caverna, dizendo às pessoas que estão lá fora o que é que está acontecendo lá fora”. Então, ele diz, temos que tirar os âncoras, botar eles na rua, conversar com as pessoas, e trazer informação da rua para dentro da redação.

Agora, para isso teria que ampliar a produção regional que vai contra a lógica da Globo.

PHA: Contra a lógica do sistema de comercialização da Globo. Quanto maior a regionalização da TV Aberta, menos o encaixe da Globo.

Hoje a gente vê na Globo um conjunto de brincadeiras para tentar criar uma atmosfera mais descontraída. Os próprios repórteres não têm aquele apuro estético que tinham. Quais são os pontos centrais, que você vê no padrão Globo hoje, que não seriam aceitos pelo padrão Boni?

PHA: Em primeiro lugar, o Boni queria um jornalismo mais local, digamos, municipal, regional. Segundo lugar, o Boni era muito exigente ao tipo de repórter que podia entrar no Jornal Nacional. Eu me lembro que eu era da Globo num momento em que ele estabeleceu um critério tão rigoroso que restringiu o acesso ao Jornal Nacional a alguns outros repórteres, entre outros motivos, por causa da voz. Porque o Boni era um radialista, ele veio do rádio, ele era um homem do som, ele fazia som no rádio. Então, ele tinha muito cuidado com isso, ele exigia que os repórteres tivessem não só presença, mas também voz. Ele achava que não devia entrar no JN ninguém com menos de 40 anos. Porque se você entra com menos de 40 anos, chega em casa e pensa que é Deus.

Essa questão hoje do jornalista celebridade, o que aconteceu, foi uma perda de controle da Globo?

PHA: Foi uma perda de qualidade, de controle. A Globo perdeu alguns critérios básicos desde a saída do Armando e do Boni, houve uma confusão completa e que hoje se materializa, por exemplo, no papel que o Bial representa, fazendo propaganda da Fiat. A Fátima Bernardes fazendo propaganda de presunto...

Ou aquele programa dela sem conexão com aquela imagem sóbria no Jornal Nacional.

PHA: Passou 20 anos no Jornal Nacional e, de repente, ela faz pole dancing, anúncio de presunto... O Bial era repórter, chefe do escritório da Globo em Londres e agora está fazendo BBB, anúncio da Fiat. Houve essa “misturança”, evidentemente prejudicial para o jornalismo. Agora, a Globo mantem um padrão, um cânone aí dentro. Esse cânone se chama Caco Barcellos. É o último sobrevivente do jornalismo sério, responsável, que existe na TV hoje.

Uma coisa que se chama atenção no livro, o poder interno dos diretores da Globo, principalmente o Alberico. Ao Evandro, quando eu falava do  Jorge Serpa, ele tremia na minha frente. Todo o poder dele e com medo da futrica. Como que houve o fenômeno Alberico de se desgrudar do Roberto Marinho e tentar criar uma luz própria, e o que ocorreu depois disso no poder individual dos diretores da Globo?

PHA: O que aconteceu foi que Roberto Marinho ficou com medo de perder o poder quando houve a troca do Sarney para o Collor. Ele aderiu ao Collor quando ele já estava eleito, Collor foi a última opção dele. Começou com o Covas, depois para o Quércia, Afif. E quando o Collor já estava na liderança das pesquisas, ele aderiu. E o Collor disse para mim, está no livro, “eu não serei o Sarney, eu não vou comer pela mão do Roberto Marinho”. O Roberto Marinho se apavorou e aí escolheu uma pessoa que ele achava que era de confiança do Collor, que era o Alberico. O Collor manipulava o Alberico, mas ele não ia depender... Tanto é que ele tentou montar aquela rede no Paraná. E quando o Alberico cresceu demais, quando começou a achar que ele que mandava, e o Sergio Mota deu uma declaração dizendo que não precisava dialogar com os Marinhos porque ele acertava tudo direto com o Alberico, o Alberico caiu!

A mesma coisa do pessoal que tinha contato...

PHA: Há uma versão de um confidente do Alberico, que diz que o Alberico caiu, teria dito essa fonte minha, porque o doutor Roberto escolheu o Alberico sem avisar os filhos. Talvez para enfraquecer o próprio Alberico. Mas, os filhos sempre quiseram que o Evandro substituísse o Armando. Quando houve o primeiro tropeção, os filhos mandaram o Alberico embora.

O JB era o jornal mais influente do país na época, a gestão da família que o assassinou?

PHA: Foi, o Nascimento Brito era um péssimo empresário. Era muito vaidoso e muito incompetente e ele perdeu todas as oportunidades, inclusive, de fazer televisão. O Juscelino deu um canal para ele em Niterói, e a partir daí ele poderia ter partido para uma rede de televisão.

Você fala de uma rede americana que tentou parceria...

PHA: Sim... Foi a ABC. Na cisão do grupo associados, ele foi pretendente, poderia ter conseguido o canal televisão junto ao governo Figueiredo e não conseguiu! Então ele deixou o Roberto Marinho fazer o Globo de domingo, que é quando o Jornal do Brasil era mais forte, e não teve reação a um fato que o Globo passou a usar a televisão e o rádio para anunciar o Jornal. Ele não teve coragem de enfrentar o Roberto Marinho no CADE, na Justiça, no Ministério Público, achou que aquilo não ia ter importância.

Mas o fato de ter ido para o Silvio Santos, na época, não se devia a uma desconfiança sobre uma pretensa independência do Jornal do Brasil?

PHA: No livro eu explico de outra maneira. Explico que quem fez o projeto junto ao Ministério das Comunicações para o Adolpho Bloch ganhar o canal, a rede, foi o Marinho. O Roberto Marinho escolheu os seus adversários e ele escolheu também o Silvio. Porque ele não queria nem Jornal do Brasil, nem Abril. Ele imaginava que esses dois poderiam vir a ser concorrentes de um nível mais importante. Tem um capítulo que se chama “Roberto Marinho escolhe os adversários”.

A internacionalização do jornalismo da Globo, inclusive você como correspondente, tinha um padrão?

PHA: O objetivo ali era o seguinte: Armando Nogueira, durante o regime militar, percebeu que ele não ia conseguir fazer um jornalismo local nacional competente. Porque tinham as limitações da censura e as limitações da própria empresa. Então ele resolveu dar respeitabilidade com a criação dos escritórios do exterior. Veja bem, o Boni criou o escritório em Nova Iorque, com o Hélio Costa, para servir o Fantástico. Depois, reforçou o escritório para servir também o Jornal Nacional. Criou o escritório do Jornal Nacional em Washington, com o Silvia Pinto e o Paulo Zero. Tinha um em Londres. A Globo tinha stringers permanentes em Roma, Paris, Tóquio, na Cidade do México e Buenos Aires. Era uma rede muito forte. Alguns dos melhores quadros do jornalismo da Globo se viram nos escritórios do exterior.

Você estava nos EUA quando começa o fenômeno da TV a cabo, que a Globo passou a analisar esse fenômeno?

PHA: Estava! A Globo trabalhou para não permitir a canibalização da TV Aberta. A Globo fez de tudo para ter o controle da expansão da televisão a cabo e não expandiu a TV a cabo.

Eu conheço pessoas que foram procuradas pela Globo, na época para assumir concessões em cidades do interior, como laranjas da Globo. Mas a intenção era segurar então?

PHA: Era segurar a expansão! Não permitir a canibalização. Não permitir que a TV a cabo se tornasse uma concorrência.

As disputas internas na Globo. Antes se tinha a figura do Armando Nogueira, do Boni...

PHA: Antes tinha a figura do Roberto Marinho. Era o seguinte, ele não dava muito palpite na área do Boni, não dava muito palpite na área do Arce, área de comercialização, porque ele não sabia comercializar televisão. Não sabia programação, direção de novela, ele não se metia com escalação de ator, atriz, nada... Agora, no jornalismo, quando eu cheguei na Globo, vindo do Jornal do Brasil, Alice Maria me falou “nosso melhor repórter é o Dr. Roberto”. Tem um episódio que eu conto no livro, eu dei a noticia de que o Hélio Beltrão ia ser presidente da Petrobras, numa coluna que eu tinha no Jornal da Globo, no dia seguinte, o Armando chega e diz assim: “O Dr. Roberto quer falar com você”. Aí eu falei “você vem comigo?”. “Não, melhor você ir sozinho.” Aí, cheguei lá, ele disse: “Olha, aqui só quem dá noticia sobre a Petrobras sou eu”. Aí eu falei: “mas doutor Roberto, na minha coluna, no jornal da Globo...” Aí ele disse: “um momentinho, a coluna é minha, a coluna é do Globo!”

Como é que era a cabeça dele? Não era cosmopolita, diz que era muito mais chão a chão...

PHA: Não, ele era um provinciano do Rio de Janeiro. Se você soltasse ele aqui em São Paulo, ele não sabia nada. Era um provinciano, tinha um apartamento em Nova Iorque, mal ia lá, não ia a Paris... Era inculto, ele, como os filhos, não fez curso universitário. Como os filhos, não sabia falar inglês...

Daí, talvez, o Jorge Serpa tenha impressionado aí...

PHA: Ele tinha algumas pessoas que o influenciaram muito: o Jorge Serpa, o Armando Falcão, o Nascimento Silva, da Previdência, que era um advogado sofisticadíssimo da aristocracia carioca. Começou com o Herbert Moses, que era o presidente da ABI lá atrás...

Aquele episódio que você conta da conversão de dívida em vendas de casas pré-fabricadas. Aquilo era com o Mendes Junior, “eu dei minha mãozinha para melar isso aqui também”...

PHA: Porque o Mendes Junior era muito ligado ao Sarney. O Sarney uma vez me disse que se pudesse nomeava o Murilo Mendes de ministro das Relações Exteriores. Para que o Itamaraty tivesse uma visão comercial.

A visão comercial dele era jogar a dívida dele no Iraque em cima do Banco do Brasil

PHA: (Risos). Foi uma visão brilhante.

Alice Maria, uma personagem, o trabalho que ela fez na Globo News, do ponto de vista estético e padrão, ela parece ser muito competente.

PHA: A Alice era muito competente. A Alice era, na verdade, a Dilma do Armando. A Alice era a diretora executiva do Armando. O Armando era extremamente criativo, não tinha nenhuma sensibilidade para assuntos de política, era do esporte. Mas ele conhecia o metrie da televisão muito bem. Agora, para meter a mão na massa, para ir na ilha, montar uma matéria, mexer no áudio, ilustração, era Alice. E quando havia uma discussão de ordem técnica do jornalismo com o Boni, o interlocutor do Armando era a Alice. Ela que tinha diálogo para tratar da luz, do áudio, da posição... Entendeu? Tem alguns momentos caricatos. Eu tinha ido a Nova Iorque e comprei uma gravata muito bonita, azul e vermelha. E fui fazer uma entrevista, aí quando chegou no primeiro bloco, no intervalo, ela entrou no estúdio, com uma tesoura, ela cortou a minha gravata, tirou e substituiu por outra. Ela disse assim “está todo mundo prestando atenção na sua gravata e não no que o entrevistado está falando... Nunca mais me usa essa gravata, hein! É espalhafatosa!”

A questão de Monte Carlos... O que levou a tentar aquela aventura?

PHA: Aquilo foi uma tentativa do Roberto Irineu. Ele precisava ter uma brincadeira própria, indústria própria. Porque na TV do Brasil, TV Globo, ele não metia a mão. O Boni não deixava, até porque ele não tem cabedal para isso. Então, o pai achou que tinha sentido internacionalizar a Globo. Eu acho que o pai percebeu que a Globo tinha um ativo fixo muito custoso que precisava transcender o Brasil da escala. Ele tentou vender a ideia da Tele Monte Carlo na Itália. Procurou envolver o Agnelli, da Fiat, na operação, mas ele não topou. E aí o Roberto Irineu foi com armas e bagagens e gastou, jogou no lixo, cerca de 120 milhões de dólares da época. Mas que o Roberto Marinho, segundo eu conto no livro, recuperou numa operação com o Banco Central, e o câmbio paralelo.

Apesar do grande poder da Globo hoje, o auge desse poder foi onde? Governo Sarney?

PHA: Foi Sarney! Ele governou o Brasil, aliás eu pergunto a um entrevistado: “ele governou ou co-governou o Brasil?” Governou! E eu perguntei: “ele tinha algum constrangimento?”. “Não, ele achava muito natural, porque de fato ele era dono do Globo e da Globo e, portanto, ele governava o Brasil”...

Celso Antônio Bandeira de Mello, jurista e professor: "O maior inimigo do Brasil é a mídia brasileira"


Bandeira de Mello defende o aumento do nível cultural da população para se contrapor aos efeitos deletérios da imprensa


Bandeira de Mello: "O maior inimigo do Brasil é a mídia brasileira"

O Jornal de todos Brasis
 

 
Jornal GGNEle é considerado um dos expoentes do Direito Administrativo no Brasil, é a quinta geração envolvida com o mundo jurídico na sua família, começou como professor da Faculdade de Direito da PUC, onde mais tarde se tornou vice-reitor acadêmico. Aos 78 anos acumula os títulos de professor honorário da Faculdade de Direito da Universidade de Mendoza, na Argentina; da Faculdade de Direito do Colégio Mayor de Rosário, em Bogotá (Colômbia), membro correspondente da Associação Argentina de Direito Administrativo, membro honorário do Instituto de Derecho Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade do Uruguai, professor extraordinário da Universidade Notarial Argentina e membro titular de seu Instituto de Derecho Administrativo e professor titular visitante da Universidade de Belgrano - Faculdade de Direito e Ciências Sociais, também da Argentina.
 
Estamos falando de Celso Antônio Bandeira de Mello, que em entrevista concedida ao jornalista Luis Nassif, no programa Brasilianas.org (TV Brasil) reconheceu a necessidade de uma reforma no poder judiciário. Para ele, os ministros do Supremo Tribunal Federal deveriam ocupar o cargo por no máximo oito anos. Hoje, o cargo é vitalício.
 
“Uma ministra do Supremo [Tribunal Federal] me disse, não faz muito tempo: ‘tanto nos chamam de excelência que a gente acaba pensando que é mesmo’”. Segundo o professor, a ministra em questão se referia à necessidade de se estabelecer um limite para os mandatos no STF.
 
Ele ponderou que o conservadorismo ainda é um dos elementos que atrapalham o aprimoramento das relações entre o poder judiciário e o cidadão comum.  E criticou severamente a imprensa brasileira. “Eu considero que o maior inimigo do Brasil, o mais perigoso inimigo do Brasil, é a mídia brasileira e do jeito que ela é”. 
 
E explica: “Fala-se muito em liberdade de imprensa como sendo uma coisa importante por uma razão óbvia: onde é que nós recebemos informações sobre o Brasil e sobre o mundo? É pela mídia. Logo, se ela nos der uma informação truncada, orientada, encaminhada para valorar certas coisas e desvalorizar outras, o que nós brasileiros vamos ter dentro da cabeça?”. Bandeira de Mello defende o aumento do nível cultural da população para se contrapor aos efeitos deletérios da imprensa.
 
Durante o debate, o professor abordou a histórica polarização entre a Faculdade de Direito da USP "Largo de São Francisco" e a Faculdade de Direito da PUC; falou das suas principais influências e críticas em relação ao julgamento da Ação Penal 470.
 
“Estava tão indignado com a decisão do Supremo. Isso me fez pensar que, se eu vivesse de renda, fecharia meu escritório no dia seguinte, não admitiria reedição mais de livro nenhum meu, porque o direito acabou”, declarou.


 
Bandeira de Mello pontuou, ainda, que o direito administrativo brasileiro é, historicamente, autoritário quando deveria ser literalmente o oposto. “O direito administrativo nasceu exatamente [durante a constituição] do estado de direito, com o esforço para a contenção dos poderes do estado e valorização do cidadão”. E foi esse princípio que procurou, junto com Geraldo Ataliba, inspirar no curso de especialização de direito administrativo da PUC, realizado durante a ditadura militar. Ele conta que objetivo das aulas era o de questionar “todas as manobras que levavam o poder a querer se prevalecer sobre o cidadão”. O curso chamou a atenção dos órgãos de repressão, mas não chegou a ser fechado.
 
“Nesse período éramos alertados para ter cuidado, porque falávamos muita coisa. Mas eu tinha um realismo sutil de saber que eu não tinha importância suficiente para ser preso”, ironizou. Com o final da ditadura militar, se alastrou no Brasil um movimento para a construção de uma nova Constituição Federal. Como advogado, Bandeira de Mello colaborou com o PMDB. “Mas foi uma assessoria inútel. Os deputados não queriam ser assessorados, foi uma coisa  figurativa”.
 
Ainda assim conseguiu emplacar o Artigo 37, que legisla sobre a administração pública no país. “Não está exatamente nos termos que eu encaminhei para ele”, se referindo ao então líder do PMDB no Senado Federal, Fernando Henrique Cardoso. Bandeira de Mello ressalta que, décadas mais tarde, já como presidente, FHC “fez o possível e o impossível para tentar mutilar a constituição”, dizendo-se ingênuo por um dia ter admirado o ex-presidente.

domingo, 30 de agosto de 2015

A possível (e necessária) Ética do Antropoceno

Para lutar contra mudança climática é preciso mostrar que uma vida digna, porém frugal, pode ser muito mais prazerosa e estimulante que o ilusório“conforto” ligado ao consumismo.


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O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, na chácara onde vive. "É preciso cultivar um conjunto de virtudes que permitirão uma vida significativa, de cooperação social e respeito à natureza", diz Abramovay
O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, na chácara onde vive. “É preciso cultivar um conjunto de virtudes que permitirão uma vida significativa, de cooperação social e respeito à natureza”, diz Abramovay

A possível Ética do Antropoceno


Por Ricardo Abramovay*
A psicologia climática e a filosofia ética convidam os ativistas socioambientais a repensar seu trabalho. A comunicação sobre mudança climática, nos últimos anos, vem enfatizando os eventos extremos, o derretimento das geleiras, as inundações, as secas e um assustador conjunto de catástrofes que já atingem a vida no planeta. Além disso, como o sistema de preços não sinaliza o real custo do que se produz e consome, parte cada vez maior da sociedade tem um padrão de vida que só se mantém por não respeitar os limites ecossistêmicos além dos quais a própria reprodução social está ameaçada.
Culpa e medo têm sido o prato cotidiano que se oferece à sociedade, na abordagem da mudança climática, seja nos comunicados do IPCC, seja na mensagem da esmagadora maioria das organizações não governamentais.
Não se trata de censurar os movimentos sociais ou os cientistas pelas denúncias que fazem nem de sugerir que elas sejam atenuadas. Mas, se não forem compreendidas as razões culturais e cognitivas da convivência tolerante com a mudança climática, as chances de avanço serão muito limitadas.
O problema não está apenas no negacionismo climático e sim na timidez da mobilização social para interromper o caminho desastroso que se está tomando. É aqui que tanto a filosofia ética como a psicologia climática oferecem contribuições decisivas. E estas contribuições, mesmo que se refiram especificamente à mudança climática, são fundamentais para a esmagadora maioria dos temas socioambientais contemporâneos.
São ao menos dois os pontos de convergência entre a filosofia ética e a psicologia climática. O primeiro, enfatizado no indispensável livro de Dale Jamieson [1], tem por eixo a noção de responsabilidade. Mesmo que haja elementos empíricos demonstrando a imensa desigualdade social na ocupação do espaço carbono, é muito difícil conceber o consumo dos bens que dão origem às emissões como moralmente suspeito, no mesmo sentido, por exemplo, de um roubo ou um assassinato. Diferentemente de um roubo ou um assassinato, não há intenção de destruir o sistema climático no ato de consumo e isso não é moralmente irrelevante, por uma razão decisiva para a qual a psicologia climática, segundo o recém-publicado livro de Per Espen Stoknes [2], chama atenção: a culpa e o medo são péssimos conselheiros.
O tiro da culpa e do medo costuma sair pela culatra, mostra Stoknes, sob a forma de uma autojustificação complacente que vai desde o “todos-agem-assim” até a minimização idealizada dos impactos provocados pelo consumo de cada um de nós. Com isso, diz Stoknes, a dissonância cognitiva entre o que dizem os cientistas e as condutas dos indivíduos aumenta. Esse fosso é ampliado tanto pelo interesse de muitas empresas em persistir na oferta de bens e serviços altamente emissores como pela dificuldade de os indivíduos nem sequer vislumbrarem mudanças na maneira como vivem. O que se torna ameaçador, então, é menos a mudança climática do que a chamada para que seu enfrentamento traga alterações nos modos de vida. A inércia no comportamento dos indivíduos e das organizações (privadas e públicas) é especialmente forte quando se trata dos padrões sociais de consumo.
A resposta a este problema, para Jamieson, não está na economia, na atribuição de preços ao uso dos recursos ecossistêmicos, mesmo que isso seja, em princípio, importante: “A economia — diz ele — tem muito a dizer sobre incentivos e custos, mas pouco ou nada sobre as finalidades que nós devemos perseguir”. E é por isso que Jamieson se empenha na formulação de uma ética do Antropoceno, um conjunto de virtudes que poderão permitir uma vida significativa, de cooperação social e respeito à natureza, apesar de toda a destruição que marca o mundo atual e que vai marcar seu futuro ainda por muito tempo.
É interessante, aqui também, a convergência com a psicologia climática. Muito mais que a culpa, o medo ou a informação científica, o principal elemento capaz de fortalecer a mobilização social contra a aceleração da mudança climática é a esperança de que a vida sob uma economia de baixo carbono possa ser melhor do que a propiciada pelo conforto ligado aos atuais padrões de consumo, intensivos em combustíveis fósseis e comprometedores dos ecossistemas.
Longe de exprimir crença cega no poder da ciência e da técnica, esta mudança de foco é que vai permitir que ética e política – “como viver uma vida significativa sob o Antropoceno?”, pergunta Jamieson – ocupem centro da luta contra o aquecimento global.
Ricardo Abramovay contribui regularmente para a seção “Outro Desenvolvimento” de Outras Palavras. Este texto foi publicado originalmente em Página22
[1] Reason in a Dark Time: Why the struggle against climate change failed and what it means for our future. Oxford University Press. 2014
[2] What We Think About When We Try Not to Think About Global Warming. Toward a New Psychology of Climate Action. Chelsea Green Publishing. 2015

sábado, 29 de agosto de 2015

O Capitalismo (em especial a Indústria Farmacêutica) contra o bem-estar geral: brasileiro é perseguido por ter encontrado fórmula eficaz no combate ao câncer



Pesquisador catarinense descobriu e começou a produzir a substância em 2008, reconhecida pela USP e Fiocruz como eficaz, após caso da mãe. Em consequência de seu desejo de ajudar,
Carlos Kennedy Witthoeft passou 17 dias preso e responde por falsificação.


Veja o vídeo e, depois, leia a reportagem:




24/08/2015 09h31 - Atualizado em 24/08/2015 10h13

'Consciência em paz', afirma homem preso por doar cápsula contra câncer

Catarinense começou a produzir a substância em 2008, após caso da mãe.
Carlos Kennedy Witthoeft passou 17 dias preso e responde por falsificação.

Stefhanie PiovezanDo G1 São Carlos e Araraquara
Carlos Kennedy Witthoeft quis produzir as cápsulas após ver a melhora da mãe (Foto: Paulo Chiari/EPTV)Carlos Kennedy Witthoeft quis produzir as cápsulas após ver a melhora da mãe (Foto: Paulo Chiari/EPTV)
Carlos Kennedy Witthoeft afirma que está "com a consciência em paz”. Durante uma visita a São Carlos (SP), ele contou como conheceu a fosfoetanolamina sintética, apontada por pesquisadores como um tratamento alternativo para o câncer, por que quis doá-la e o que aconteceu após ser preso e indiciado por falsificação de medicamento. "Não tem como mensurar o que a gente sentia a cada pessoa que vinha falar que estava curada", disse.
O catarinense relatou que conheceu a fosfoetanolamina em 2007. No dia 19 de março daquele ano, sua mãe teve uma hemorragia e exames apontaram câncer no útero. “Ela tinha o coração fraco, não daria para fazer cirurgia e nem quimioterapia, só radioterapia para dar mais qualidade de vida, mas não a cura”, relatou.
Dois meses após o diagnóstico, quando amigos e familiares julgavam que a idosa de 82 anos não aguentaria por muito mais tempo, ele soube que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos distribuíam uma substância para a doença. Pediu o telefone do coordenador dos estudos, o professor Gilberto Orivaldo Chierice, e ganhou as cápsulas.
“Minha mãe não levantava mais da cama, dava duas, três mordiscadas no pão e isso era a refeição do dia inteiro. Pedi para ela tomar o remédio e, no terceiro dia, ela andou, desceu as escadas, foi à cozinha e disse: ‘Eu queria comer uma sopa’”, narrou Kennedy.
Ele afirmou que a melhora foi progressiva e, no 18º dia de consumo da fosfoetanolamina, foi surpreendido. "Eu havia saído para ir ao banco e, chegando em casa, uns 40, 50 minutos depois, a minha mãe estava no canto do jardim segurando a enxada. Eu disse: 'Mãe, o que tu queres com a enxada?'. E ela disse: 'Vou dar uma capinadinha'”.
Nesse dia, ele deu a mãe como curada e ligou para Gilberto perguntando se poderia indicar as cápsulas, mas ouviu que a produção era insuficiente para atender mais pacientes. “Minha mãe era conhecida em Pomerode, pessoas viam a recuperação e perguntavam o que ela tinha feito, se eu conseguia para elas. Eu queria que amigos pudessem tomar, como podia dizer que não tinha como fornecer? Eu perguntei então se eu podia produzir”, contou.
Eu disse: 'Mãe, o que tu queres com a enxada?'. E ela disse:
'Vou dar uma capinadinha'"
Carlos Kennedy
“O doutor Gilberto me perguntou se eu era químico e eu contei que não, então ele disse que eu não poderia fazer, mas continuei insistindo porque, se eu estivesse com câncer, queria que me dessem a fosfo. Disse: ‘O que eu tenho é muita vontade de ajudar essas pessoas, não adianta ser químico e não ter vontade de ajudar’. Acho que esse argumento o sensibilizou e ele perguntou quando eu poderia vir aprender”.
Kennedy viajou várias vezes para São Carlos e a cada visita passava alguns dias na cidade. Ao todo, acredita que ficou cerca de quatro meses aprendendo a ser um químico prático e a sintetizar a substância. Quando finalmente conseguiu, começou a produzir as cápsulas em casa e a distribuí-las de graça.
Quando o câncer aparece,
cai todo mundo, a família
quer ajudar, o pai, o filho...
Muitos ainda recebem como sentença de morte"
Carlos Kennedy
Prisão
Kennedy produzia as cápsulas na companhia da esposa, Aridina Gutknecht Witthoeft, mais conhecida como Rita. Era ela que atendia as ligações e conversava com as pessoas que pediam ajuda. “Quando o câncer aparece, cai todo mundo, a família quer ajudar, o pai, o filho... Muitos ainda recebem como sentença de morte. Ela atendia as pessoas e as confortava, ficava uma hora, duas horas conversando. É preciso paciência, não é fácil, mas ela tinha o dom para isso”.
No começo, em 2008, ele conciliava a produção com o trabalho como representante comercial, mas a demanda cresceu. Sensibilizadas, várias pessoas começaram a ajudar e a dedicação passou a ser exclusiva. “Cada curado trazia em média três, quatro pessoas”, estimou.
Mas, no fim de junho deste ano, a produção cessou. Uma denúncia  levou a polícia ao imóvel e a Vigilância Sanitária apreendeu o material. Kennedy passou 17 dias preso e foi indiciado por falsificação de medicamento, uma vez que a fosfoetanolamina sintética não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No dia em que saiu da cadeia com um habeas corpus, Aridina passou mal. Ela foi internada e, após dias na unidade de terapia intensiva (UTI), faleceu em 1º de agosto, em decorrência de um aneurisma.
Carlos Kennedy Witthoeft passou 17 dias preso por produzir as cápsulas (Foto: Paulo Chiari/EPTV)Carlos Kennedy Witthoeft passou 17 dias preso
por produzir as cápsulas (Foto: Paulo Chiari/EPTV)
“Até dois meses atrás eu morreria feliz. Não tem como mensurar o que a gente sentia a cada pessoa que vinha falar que estava curada”, afirmou.
Entenda o caso
Na última segunda-feira (17), o G1 divulgou a existência de processos envolvendo pacientes com câncer e a USP. Eles pedem que a universidade continue fornecendo as cápsulas da substância, mas uma nova norma da instituição impede a distribuição sem o registro na Anvisa.
Segundo a agência, o registro de um novo medicamento só pode ser solicitado após testes clínicos e os pesquisadores da USP afirmam que a substância foi testada em um hospital em Jaú, mas a parceria acabou e eles precisam que uma nova unidade de saúde aceite concluir o estudo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Bob Fernandes, a crise do "quanto pior melhor" (não para o Brasil) e a corrupção de uma só via destacando os membros estelares da Casa Grande (Gilmar, Aécio, Cunha, etc.)



"Com Eduardo Cunha já citado na Lava Jato, Gilmar Mendes foi à casa de Cunha, e lá discutiu o impeachment. 
Isso uma semana antes de Cunha ser acusado de receber propina de US$ 5 milhões. O que disse a respeito disso o ministro do Supremo? Nada.
O Procurador Janot pede 184 anos de prisão para Eduardo Cunha e devolução de US$ 40 milhões? O que dizem PSDB, DEM, Caiado, Gilmar, panelas e ruas...?" - Bob Fernandes


Segue reflexões (em vídeo e transcrição textual) do comentarista político e jornalista Bob Fernandes:


Bob Fernandes: Corrupção que enfurece é a do PT. A dos demais, secular, já está no DNA



Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, disse: "A crise política é mais forte que a econômica. Quanto pior, melhor, é melhor para quem? Para o Brasil, não é".
Agora Roberto Setubal, dono do maior banco privado do país, o Itaú, opina na Folha:
-Pelo que vi até agora impeachment não tem cabimento, e isso criaria instabilidade para a democracia.
Setubal diz: "É muita discussão de Poder pelo Poder e pouca discussão sobre o país."...
O que querem alguns dos principais envolvidos nessa luta pelo Poder?
O vice presidente, Michel Temer, já se coloca. Aécio Neves quer nova eleição. Alckmin sabe que sua chance é 2018... E Serra... sempre quer.
Eduardo Cunha e Renan Calheiros querem é salvar o pescoço. E Gilmar Mendes é... Gilmar Mendes.
Ministro do Supremo e TSE, Gilmar quer investigar contas da campanha de Dilma, que recebeu doações legais de empreiteiras que lavaram a jato.
Com voto de Gilmar, e unanimidade, o TSE aprovou as contas em dezembro...
As campanhas de Aécio e Eduardo Campos/Marina receberam... das mesmas empreiteiras. A respeito disso, nem um pio do ministro.
Com Eduardo Cunha já citado na Lava Jato, Gilmar Mendes foi à casa de Cunha, e lá discutiu o impeachment.
Isso uma semana antes de Cunha ser acusado de receber propina de US$ 5 milhões. O que disse a respeito disso o ministro do Supremo? Nada.
O Procurador Janot pede 184 anos de prisão para Eduardo Cunha e devolução de US$ 40 milhões? O que dizem PSDB, DEM, Caiado, Gilmar, panelas e ruas...?
Nas ruas, 5 dias antes, essa oposição atacou a corrupção do PT... e silenciou sobre Cunha e demais. Mais até. Anunciou em cartazes: "Somos milhões de Cunhas".
E Fernando Henrique, demais tucanos e aliados? Silêncio tumular sobre Eduardo Cunha. Que segue presidente da Câmara, e pontificando.
Eduardo Cunha e os 40 - milhões de dólares- são solução mágica para livrar o Brasil da corrupção. Mas a corrupção que incomoda e enfurece; a do PT
A secular corrupção de todos os demais é aceitável. Já está no DNA.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Ricardo Melo em artigo para a Folha analisa a teimosia dos, segundo ele, três patéticos na obsessão pantomímica do impeachment


"Presidente do PSDB, o senador mineiro-carioca pouco se incomoda com o ridículo de suas atitudes. Aécio sempre defendeu um programa de arrocho contra os pobres. Gabou-se da coragem de adotar medidas impopulares para “consertar o Brasil”.

  Agora sobe em trios elétricos como porta-voz do povo. Critica medidas de ajuste, jura pensar no Brasil e usa qualquer artimanha com uma única finalidade: isolar a presidente. Convoca sabujos para atacar um jornalista que revelou o escândalo do aeroporto construído para atender a ele e à própria família." - Ricardo Melo



Segue texto de Ricardo Melo, publicado na Folha de São Paulo, precedido de uma introdução crítica de Fernando Brito, extraído do Tijolaço.com.

   Ricardo Melo, hoje, na Folha, exerce com crueldade a arte jornalística de ir ao essencial. 
  Aécio Neves, Gilmar Mendes e Eduardo Cunha teimam em, pateticamente, continuar suas falas catastróficas do impeachment da pantomima “É agosto, e agora a casa cai” com que pretendia o fim do governo eleito e o abocanhamento do poder total. 
  Não perceberam – ou melhor, não se conformam – que uma composição com os que Melo chama, com propriedade, de os “verdadeiros comandantes da nossa democracia” representou o desembarque – sempre parcial, porque ao sabor da maré da economia –  da aventura golpista.  
  Menos, convenhamos, por convicções democráticas que pelo panorama devastador de mediocridade das forças que surgiam como alternativa ao governo eleito.  
  Não apenas os três indigitados, mas a vasta fauna humana em que surfavam, composta de fundamentalistas religiosos, vivandeiras de quartel, neonazistas, desajustados de todos os matizes, que sempre existiram mas, agora, estão em estado de excitação e, certamente, teriam os dentes à mostra diante do botim que um governo caído representaria.  
  Ou do risco de que o “moralismo seletivo” que hoje se pratica ganhasse força e desbordasse para as imoralidades “intocáveis” que são a base de seu poder no país. 
  Lembremos que, nem em 1964, confiaram em Lacerda o suficiente para deixarem-no ir ao poder.

Os três patéticos

Ricardo Melo, na Folha

  Aécio Neves, Gilmar Mendes e Eduardo Cunha atuam como protagonistas de uma causa falida. Mesmo assim, não perdem uma oportunidade de expor em público sua estreiteza de horizontes. São golpistas declarados. Não importa a lógica, a política, a dialética ou mesmo o senso comum. Suas biografias, já não propriamente admiráveis, dissolvem-se a jato a cada movimento realizado para derrubar um governo eleito.

  Presidente do PSDB, o senador mineiro-carioca pouco se incomoda com o ridículo de suas atitudes. Aécio sempre defendeu um programa de arrocho contra os pobres. Gabou-se da coragem de adotar medidas impopulares para “consertar o Brasil”.

  Agora sobe em trios elétricos como porta-voz do povo. Critica medidas de ajuste, jura pensar no Brasil e usa qualquer artimanha com uma única finalidade: isolar a presidente. Convoca sabujos para atacar um jornalista que revelou o escândalo do aeroporto construído para atender a ele e à própria família. Maiores informações na página A3 desta Folha publicada ontem (23/08).
Seu ajudante de ordens, ou vice-versa, é o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Sintoma da fragilidade do equilíbrio de poderes vigente no Brasil, Mendes emite toda sorte de opiniões fora de autos. Muda de ideia conforme as conveniências. De tão tendencioso e parcial, seu comportamento público seria suficiente para impugná-lo como síndico de prédio. Na democracia à brasileira, pontifica como jurista na mais alta corte do país. Quem quiser que leve a sério. 

  Mendes endossou as contas da campanha da presidente eleita alguns meses atrás. Coisas do passado. Esqueçam o que ele votou. De repente, detectou problemas insanáveis na mesma contabilidade e ruge ameaçadoramente contra o que ele mesmo aprovou. No meio tempo, acusa o Planalto de comandar um sindicato de ladrões financiado por empreiteiras envolvidas na roubalheira da Petrobras.

  Bem, mas as mesmas empresas financiaram a campanha dos outros partidos. O que fazer? Vale lembrar: Mendes até hoje trava o julgamento favorável à proibição do financiamento empresarial de campanhas políticas. Seu pedido de vistas escancara um escândalo jurídico, legal e moral que o STF finge não existir. Ora, isso não vem ao caso, socorreria o juiz paladino Sergio Moro.

  E aí aparece Eduardo Cunha, o peemedebista dirigente da Câmara. Terceiro na linha de sucessão presidencial, Cunha encenava comandar um exército invencível. Primeiro humilhou o Planalto na eleição para o comando da Casa. Depois, passou a manobrar o regimento para aprovar o que interessa a aliados nem sempre expostos. Tentou ainda se credenciar como alternativa golpista. Curto circuito total. Pego numa mentira de pelo menos 5 milhões de dólares, a acreditar no procurador geral, Cunha atualmente circula como um zumbi rogando piedade de parlamentares muito mais interessados em salvar a própria pele.

  Cambaleante, o trio parece ter recebido a pá de cal com os pronunciamentos dos verdadeiros comandantes da nossa democracia. O mais recente veio do chefe do maior banco privado do país, Roberto Setubal. Presidente do Itaú Unibanco, Setubal afirmou com todas as letras não haver motivos para tirar Dilma do cargo. Tipo ruim com ela, pior sem ela -que o digam os lucros pornográficos auferidos pela turma financeira.

  Sem a banca por trás, abandonada pelo pessoal do dinheiro grosso e encrencada em acusações lançadas contra os adversários, à troupe do impeachment não resta muito mais que baixar o pano.