sexta-feira, 31 de maio de 2019

População volta às ruas em protestos contra "governo" Bolsonaro e cortes na Educação



Manifestações foram motivadas contra o bloqueio de 30% do orçamento das universidades federais, mas incluem críticas à reforma da Previdência


Recife. Foto: Tarsio Alves
Jornal GGN Em em todas as capitais do país a população organiza manifestações hoje, 30 de maio, contra o governo Bolsonaro. Os atos são uma repetição do dia 15 de maio, com o foco central contra o corte nas verbas para universidades e instituições federais de ensino e a reforma da Previdência.
Logo pela manhã, milhares bloquearam a Esplanada dos Ministérios, no centro de Brasília. O ato foi convocado pelas redes sociais. O grupo iniciou a concentração na Museu Nacional da República e deu uma volta na Esplanada dos Ministérios. Segundo informações do G1, três faixas do Eixo Monumental ficaram bloqueadas para a passagem dos manifestantes e foram liberadas por volta das 13h40.
Durante a marcha, ocorreu um princípio de tumulto entre policiais militares e manifestantes. A polícia chegou a usar spray de pimenta e um homem foi preso e encaminhado para a 5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte. Uma mulher também foi detida, mas liberada em seguida, porque passou mal e precisou de atendimento do Corpo de Bombeiros.
No centro de Recife, estudantes, professores e sindicalistas se reuniram para protestar contra o governo Bolsonaro. A concentração começou no Ginásio Pernambucano, na Rua da Aurora, de onde saíram para uma passeata pelo centro da capital às 16h50.
“O presidente Jair Bolsonaro não voltou atrás com os cortes. Não vamos parar enquanto ele não suspender o contingenciamento até que ele entenda que só com a educação o Brasil vai voltar a avançar”, disse a presidente da União dos Estudantes de Pernambuco (UNE-PE), Manuella Mirella.
No Rio de Janeiro, a concentração começou às 16h, próxima à Igreja da Candelária. Por conta do volume esperado de manifestantes, a prefeitura interditou o trânsito da Avenida Presidente Vargas, sentido Rua Primeiro de Março, na altura da Avenida Rio Branco por volta das 16h40. A Avenida Presidente Antônio Carlos também foi bloqueada, segundo informações do G1.
Em São Paulo, a concentração dessa vez aconteceu no Largo da Batata, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Assim como em todas as cidades do Brasil, os atos foram convocados pelas redes sociais.
Os manifestantes bloquearam o trânsito na Avenida Faria Lima sentido Rebouças e fecharam a rua Teodoro Sampaio. Durante o ato, a população abriu uma faixa com a frase “O Brasil e une pela educação”.
Às 15h, ainda no Largo da Batata, a Faculdade de Educação da USP e da PUC organizou uma aula aberta para discutir o papel da universidade pública e da importância da pesquisa, realizada por Bia Lopes, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
“A defesa da ciência e da pesquisa científica tem a ver com a defesa dos investimentos, mas também de um projeto de país que seja soberano e que dê respostas para nossos problemas. Ao diminuir as bolsas de pesquisa, Bolsonaro sucateia isso e oferece para iniciativa privada. Mas sabemos que 90% da nossa produção científica é feita dentro das universidades”, disse.
Por volta das 18h, os organizadores iniciaram uma marcha em sentido à Avenida Rebouças até a Avenida Paulista, onde o ato continua.
Veja a seguir as imagens compartilhadas de manifestações em vários pontos do país:




O combate fascista ao saber e ao conhecimento como política de estado


Eis o grande motivo para irmos às ruas para defender a Educação. Em defesa da educação. Em defesa da liberdade de ensinar e de aprender. Em defesa da pesquisa e da ciência. Em defesa do pensamento.

  "Descartar uma pesquisa científica apelando ao senso comum é não entender minimamente o sentido da ciência. Ela existe para desafiar o senso comum. Se o senso comum nos bastasse, não precisaríamos de ciência." - Luis Felipe Miguel

Do GGN:


As conclusões de uma pesquisa científica nunca são indiscutíveis. Pelo contrário, é próprio da ciência sempre estar aberta à contestação e ao debate. Mas isso se faz a partir de crítica interna séria, de reinterpretação dos dados a partir de outros ângulos ou outros enquadramentos teóricos, de novas pesquisas.

Descartar uma pesquisa científica apelando ao senso comum é não entender minimamente o sentido da ciência. Ela existe para desafiar o senso comum. Se o senso comum nos bastasse, não precisaríamos de ciência.

Dito isso, é constrangedor o ministro “da Cidadania”, Osmar Terra, difamando o trabalho de pesquisadores sérios porque o resultado não lhe agradou. E usando suas impressões pessoais, após um passeio por Copacabana, como argumento.

Eu poderia dizer que as ruas do Rio de Janeiro estão vazias porque as pessoas não saem de casa com medo de serem metralhadas pelos helicópteros de Witzel. Seria também uma maneira de generalizar a partir de um evento singular (em determinada hora de determinado dia, determinadas ruas estavam vazias) e tirar da cartola uma explicação que me agrada (seja ela epidemia de drogas ou governador psicopata).

Para não cair nesse erro tão primário, só tem um jeito. Fazer pesquisa. Foi o que a Fiocruz fez.

A fala do ministro se explica por ignorância ou mau-caratismo. Osmar Terra é médico. Certamente teve contato, em sua formação, ao menos com rudimentos do método científico. É difícil justificar sua fala por ignorância.

Se houvesse a intenção sincera de combater o vício e reduzir o consumo de substâncias nocivas, se houvesse preocupação de fato com a saúde pública, o conhecimento produzido pelas pesquisas seria o fundamento da produção de políticas governamentais, não o inimigo.

A paranoia sobre as drogas ilegais não apenas sustenta o discurso de muitos políticos da direita, que encontram um culpado para nossa mazelas sociais externo ao sistema capitalista, como garante a repressão permanente às populações marginalizadas e alimenta uma indústria florescente de “benemerência” sustentada com verbas públicas. Terra tem bons motivos para preservá-la.

Também não é difícil ver quais são os motivos para Ernesto Araújo insistir que não há aquecimento global. Ontem, na Câmara, ele voltou a dar vexame com um argumento estapafúrdio: as pessoas acham que há aquecimento global porque estão colocando os termômetros mais perto do asfalto.

Há uma comunidade internacional de cientistas que debate a mudança climática há décadas. Ela usa um conjunto extremamente amplo de medidas, equipamentos de alta sofisticação e simulações computadorizadas altamente elaboradas. Está munida de séries históricas complexas e maneja referenciais teóricos de ponta.

Essa comunidade chegou ao consenso de que existe um processo acelerado de aquecimento do planeta. E eis que vem o chanceler brasileiro e tira, da sua cabecinha de seguidor de um guru que acha que o sol gira em torno da terra, a informação de que os cientistas são “ideológicos” e não perceberam que estavam colocando seus termômetros no lugar errado.

Bom para o “agronegócio” que quer desmatar à vontade. Bom para seus chefes nos Estados Unidos, que querem emitir CO2 como se não houvesse amanhã. E não vai haver mesmo.

Não vou me estender, mas dá para olhar também para Paulo Guedes. Ele inventa os números que quer para justificar suas “reformas” e se aferra à mentira de que a implantação de seu receituário ultraliberal levará à prosperidade e ao bem-estar – contra todas as evidências. Com o auxílio inestimável da grande mídia, os muitos dados, argumentos e pesquisas que contradizem esse enquadramento são simplesmente ignorados. É como se não existissem.

Não é de hoje, aliás. Há décadas o debate sobre a Previdência Social é nosso melhor exemplo de pós-verdade institucionalizada.

Enfim: vivemos num país em que o combate ao conhecimento está se tornando política de Estado.

Este é mais um grande motivo para irmos às ruas hoje. Em defesa da educação. Em defesa da liberdade de ensinar e de aprender. Em defesa da pesquisa e da ciência. Em defesa do pensamento.

Luis Felipe Miguel
No GGN

quarta-feira, 29 de maio de 2019

“O bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira”: a íntegra da troca de cartas entre o Papa e Lula


Do DCM:

O Papa Francisco enviou uma carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso político desde abril de 2018. No texto, o Pontífice manifesta solidariedade a Lula por suas recentes perdas, pede que o ex-presidente não desanime e siga confiando em Deus.
Francisco lembra ainda a morte e a ressurreição de Jesus Cristo e ressalta que, ao final, “o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”.
Essa é a segunda vez que o Papa se comunica com o ex-presidente desde que Lula foi preso injustamente em Curitiba. Em 2018, o Pontífice enviou um rosário abençoado e uma mensagem de paz escrita na versão italiana do livro “A Verdade Vencerá”, de Lula.
No início de abril, o ex-presidente escreveu ao Pontífice e agradeceu o apoio de Francisco em pró da justiça e dos direitos dos mais pobres. Leia a íntegra das mensagens:
Carta do ex-presidente Lula ao Papa Francisco: