domingo, 27 de outubro de 2013

A tensa dinâmica entre auto-afirmação e integração





Duas forças em tensão: a auto-afirmação e a integração


Texto de Leonardo Boff

Biologicamente nós humanos, somos seres carentes (Mangelwesen). Não somos dotados de nenhum órgão especializado que nos garanta a sobrevivência ou nos defenda de riscos, como ocorre com os animais. Alguns biólogos chegam a dizer que somos “um animal doente”, um “faux pas”, (um passo em falso), uma “passagem” (Übergang) para outra coisa, por isso nunca fixado, inteiros mas  incompletos.

 Tal verificação nos obriga a continuamente a garantir a nossa vida, mediante o trabalho e a inteligente intervenção na natureza. Deste esforço, nasce a cultura que organiza de forma mais estável as condições  infra-estruturais e também humano-espirituais para vivermos humanamente em sociedade.

Acresce ainda outro dado, presente também em todos os seres do universo, mas que no nível humano ganha especial relevância. Vigoram duas forças: a primeira é  auto-afirmação, a segunda, a integração. Elas atuam sempre em conjunto num equilíbrio difícil e sempre dinâmico.

Pela força da auto-afirmação cada ser se centra em si mesmo e seu instinto é conservar-se, defendendo-se contra todo tipo de ameaça contra sua integridade e a sua vida. Ninguém aceita morrer. Quer viver, evoluir e se expandir. Essa força explica a persistência e a subsistência do indivíduo.

Precisamos neste ponto superar totalmente o darwinismo social segundo o qual somente os mais fortes e adaptáveis triunfam e permanecem. Essa é uma meia verdade que está na contramão do processo evolucionário. Este não privilegia os mais fortes e adaptáveis. Se assim fora, os dinossauros estariam ainda entre nós. O sentido da evolução é permitir que todos os seres, também os mais vulneráveis, expressem virtualidades latentes dentro da evolução. Esse é  o valor da interdependência de todos com todos e da solidariedade cósmica. Todos, fracos e fortes, se entreajudam para coexistir e coevoluir.

Pela segunda força, a da da integração, o indivíduo se descobre envolto numa rede de relações, sem as quais,  sozinho como indivíduo, não viveria nem sobreviveria. Existe o individuo mas ele vem de uma família, se insere num grupo de trabalho, mora numa cidade e habita um país com um tipo de organização social. Ele está ligado a toda esta cadeia de relações. Assim todos os seres são interconectados e vivem uns pelos outros, com os outros e para os outros. O indivíduo se integra, pois, por natureza, num todo maior. Mesmo que o indivíduo morra, o todo garante que a espécie continue permitindo que outros representantes venham a nos suceder.

Sabedoria humana é reconhecer o fato de que chega certo momento na vida no qual  a pessoa deve se despedir para deixar o lugar, até fisicamente,  a outros que virão.

O universo, os reinos, os gêneros e as espécies e também os indivíduos humanos se equilibram entre estas duas forças: a da auto-afirmação do indivíduo e a da integração num todo maior. Mas esse processo não é linear e sereno. Ele é tenso e dinâmico. O equilíbrio das forças nunca é um dado, mas um feito a ser alcançado a todo o momento.

É aqui que entra o cuidado responsável. Se não cuidarmos ou pode prevalecer a auto-afirmação do indivíduo à custa de uma insuficiente integração e então predomina a violência e a autoimposição ou, ao contrário, pode triunfar a integração a preço do enfraquecimento e até anulação do indivíduo e então ganha a partida o coletivismo e o achatamento das individualidades. O cuidado aqui se traduz na justa medida e na autocontenção para não privilegiar nenhuma destas forças.

Efetivamente, na história social humana, surgiram sistemas que ora privilegiam o eu, o individuo, seu desempenho, sua capacidade de competição e a propriedade privada como é o caso da ordem capitalista ou ora  prevalece o nós,  o coletivo, a cooperação e a propriedade social como é o caso do socialismo real que foi ensaiado na União Soviética e ainda persiste, em parte, na China.

A exacerbação de uma destas forças em detrimento da outra, leva a desequilíbrios, conflitos, guerras e tragédias sociais e ambientais. Com referência ao meio ambiente tanto o capitalismo quanto o socialismo foram depredadores e pioraram as condições de vida da maioria das populações. Em ambos os sistemas o cuidado responsável desapareceu para dar lugar à vontade de poder, ao enfrentamento entre ambos e até a brutalidade nas relações mundias visando a corrida armamentista e a dominação do curso do mundo.

Qual é o desafio que se dirige ao ser humano? É o cuidado reponsável de buscar o equilíbrio construído conscientemente e fazer desta busca um propósito, uma atitude de base e até um projeto político. Portador de consciência e de liberdade, o ser humano possui esta missão que o distingue dos demais seres. Só ele pode ser um ser ético, um ser que cuida de si e que se responsabiliza pela comunidade de vida. Ele pode ser hostil à vida, colocar-se, como indivíduo dominador, sobre as coisas. Mas pode ser também o anjo bom que se sente integrado na comunidade de vida, junto com as coisas. Depende de seu empenho manter o equilíbrio entre a auto-afirmação e a integração num todo e não permitir que forças dilaceradoras dirijam a história.

Por ser ético, coloca-se ao lado daqueles que tem dificuldades em se auto-afirmar e assim sobreviver e impedir uma integração que destrói as individualidades em nome de um coletivo  amorfo. Eis uma síntese sempre a ser construida.

Leonardo Boff escreveu: O despertar da águia: o sim-bólico e o dia-bólico na construção do real, Vozes 2010.

sábado, 26 de outubro de 2013

Em algum lugar, em algum tempo, seremos mais humanos


Segue uma vídeo montagem com a letra da canção "Somewhere", do compositor e regente norte-americano Leonardo Bernstein e parte do musical "West Side Story", interpretado por Barbra Streisend (1985).

Abaixo, a letra em português




Algum dia, em algum lugar

Encontraremos uma nova maneira de viver
Encontraremos uma forma de perdoar
Em algum lugar
Existe um lugar para nós
Algum lugar para nós
Calmo e pacifico e ao ar livre
Esperando por nós
Em algum lugar
Há um tempo para nós
Algum dia, haverá um tempo para nós
Tempo de união e tempo para poupar
Tempo de aprender, tempo para se importar
Algum dia, em algum lugar
Descobriremos que há um novo modo de viver
Descobriremos que há um modo de perdoar
Em algum lugar, em algum lugar, em algum lugar
Há um lugar para nós
Um tempo e um lugar para nós
Segure a minha mão e já estaremos na metade do caminho
Segure a minha mão e eu te levarei até lá
De alguma forma
Algum dia. Em algum lugar

domingo, 13 de outubro de 2013

Sobre as imensas diferenças entre o Jesus histórico e o Cristo distorcido das Igrejas


          

A Tradição de Jesus versus a Religião Cristã




Leonardo Boff 

      Para se entender corretamente o Cristianismo se fazem necessárias algumas distinções, aceitas pela grande maioria dos estudiosos. Assim importa distinguir entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Sob o Jesus histórico se entende o pregador e profeta de Nazaré como realmente existiu  sob César Augusto e Pôncio Pilatos. O Cristo da fé é o conteúdo que surge da pregação dos discípulos que veem nele o Filho de Deus e o Salvador.

         Outra distinção importante é entre Reino de Deus e Igreja. Reino de Deus é a mensagem originária de Jesus. Significa uma revolução absoluta redefinindo as relações do ser humano com Deus (filhos e filhas), com os outros (todos irmãos e irmãs) com a sociedade (centralidade dos pobres) e com o universo (a gestação de um novo céu e uma nova terra). A Igreja não é o Reino de Deus mas uma construção histórica para levar avante a causa do Reino. Encarnou-se na cultura ocidental mas também em outras como na oriental e na copta.

         Outra distinção importante é entre a Tradição de Jesus e a religião cristã. A Tradição de Jesus se situa anteriormente à escritura dos evangelhos, embora esteja contida neles. Os evangelhos foram escritos depois de 30 até mais de 60 anos depois da execução de Jesus. Nesse entretempo já se haviam organizado comunidades e igrejas, com suas tensões internas naturais às instituições. Os evangelhos refletem esta realidade. Não pretendem ser livros históricos, mas de edificação e de difusão da vida e da mensagem de Jesus como Salvador do mundo.

         Dentro deste emaranhado que significa a Tradição de Jesus? É aquele núcleo duro, aquele conteúdo que cabe numa casca de noz e que representa a intenção originária e a prática de Jesus (ipsissima intentio et acta Jesu) antes das interpretações que posteriormente se fizeram dele. Esta pode ser resumida nos seguintes pontos, entre outros:    

         Em primeiro lugar vem o sonho de Jesus: o Reino de Deus como uma revolução absoluta da história e do universo, proposta conflitiva pois se opunha ao político Reino de César. Depois sua experiência pessoal de Deus que a transmitiu ao seguidores: Deus é Paizinho (Abba), cheio de amor e de ternura. Sua característica especial é a misericórdia, pois ama  até os ingratos e maus (Lc 6, 35). Em seguida prega e vive o amor incondicional ao outro que é posto na mesma altura que o amor a Deus

       A centralidade reside aos excluídos, pobres e invisíveis. Eles são os primeiros destinatários e beneficiários do Reino, não por sua condição moral, mas porque são privados de vida, o que leva o Deus vivo a optar por eles. Neles se esconde o próprio Cristo (Mt 25, 40).    
         Outro ponto importante é a comunidade. Ele escolheu doze para viverem com ele; o número doze é simbólico: representa a comunidade das 12 tribos de Israel e a comunidade de todos os povos, feitos Povo de Deus. Por fim é o uso do  poder. Só se legitima aquele uso que é serviço e seu portador deve  buscar o último lugar.

         Este conjunto de valores e visões constitui a Tradição de Jesus. Como se depreende, não se trata de uma instituição, doutrina ou disciplina. O que Jesus queria era ensinar a viver e não criar uma nova religião com fregueses piedosos. A Tradição de Jesus é  um sonho bom, um caminho espiritual que pode ganhar muitas formas e que pode ter seguidores também fora do quadro eclesial ou religioso.

         Ocorre que essa Tradição de Jesus se transformou, ao longo da história, numa religião, a religião cristã: uma organização religiosa, sob a forma de diversas Igrejas especialmente a Igreja romano-católica. Elas se caracterizam por serem instituições com doutrinas, disciplinas, determinações éticas, ritos e cânones jurídicos. A Igreja católico-romana concretamente se organizou ao redor da categoria poder sagrado (sacra potestas) todo concentrado nas mãos de uma pequena elite que é a Hierarquia com o Papa na cabeça, com exclusão dos leigos e das mulheres. Ela detém as decisões e a pretensão ao monópolio da palavra. É hirárquica e criadora de grandes desigualdades. Ela caiu na tentação de se identificar com a Tradição de Jesus que é maior que a Igreja.

         Esse tipo de tradução histórica encobriu de cinzas grande parte da originalidade e do fascínio da Tradição de Jesus. Por isso as Igrejas todas estão em crise, pois a maioria se colocou como fim em si mesmo e não como caminho para Jesus.        

O próprio Jesus entrevendo este desenvolvimento, advertiu que pouco adianta observar as leis e “não se preocupar com o mais importante que é a justiça, a misericórdia e a fé; é isso que importa, sem omitir o outro”(Mt 23, 23).

      Atualizemos: em que reside o fascínio da figura e dos discursos do Papa Francisco? Reside no fato de se ligar mais à Tradição de Jesus do que à religião cristã. Afirma que “o amor vem antes do dogma e o serviço aos pobres antes das doutrinas” (Civiltà Cattolica). Sem essa inversão o Cristianismo perde “o frescor e a fragrância do evangelho” e se transforma numa ideologia e numa obsessão  doutrinária.

         Não há outro caminho para a recuperação da credibilidade perdida da Igreja senão voltar à Tradição de Jesus como  o faz  sabiamente o Papa Francisco.


Lonardo Boff é autor de Cristianismo: o mínimo do mínimo, Vozes 2012.


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Leonardo Boff e sua avaliação dos reacionários às reformas da Igreja pretendidas pelo Papa Francisco

Papa Francisco e a despaganização do papado 

Leonardo Boff 

 

            As inovações nos hábitos e nos discursos do Papa Francisco, abriram aguda crise nos arraiais dos conservadores que seguiam estritamente as diretrizes dos dois papas anteriores. Intolerável para eles foi o fato de ter recebido em audiência privada um dos inauguradores da “condenada” (pelos coservadores) Teologia da Libertação, o peruano Gustavo Gutiérrez. Se sentem aturdidos com a sinceridade do Papa ao reconhecer erros na Igreja e em si mesmo, ao denunciar o carreirismo de muitos prelados, chamando até de “lepra” ao espírito cortesão e adulador de muitos em poder, os assim chamados  “vaticanocêntricos”. O que realmente os escandaliza é  a inversão que fez ao colocar em primeiro lugar, o amor, a misericórida, a ternura, o diálogo com a modernidade e a tolerância para com as pessoas mesmo divorciadas, homoafetivas e  não-crentes e só a seguir as  doutrinas e disciplinas eclesiásticas. 


Já se fazem ouvir vozes dos mais radicais que pedem, para o “bem da Igreja”(a deles obviamente) orações nesse teor: "Senhor, ilumine-o ou elimine-o”. A eliminação de papas incômodos não é raridade na longa história do papado. Houve uma época entre os anos 900 e 1000, chamada de a “idade pornocrática” do papado na qual quase todos os papas foram envenenados ou assassinados.

         As críticas mais frequentes que circulam nas redes sociais destes grupos, historicamente velhistas e atrasados, vão na linha de acusar o atual Papa de estar desacralizando a figura do papado até banalizando-o e secularizando-o. Na verdade, são ignorantes da história, reféns de uma tradição secular que pouco tem a ver com o Jesus histórico e com o estilo de vida dos Apóstolos.  Mas tem tudo a ver com a lenta paganização e mundanização da Igreja no estilo dos imperadores romanos pagãos e dos príncipes renascentistas, muitos deles cardeais.

         As portas para este processo foram abertas já com o imperador Constantino (274-337) que reconheceu o cristianismo e com Teodósio (379-395) que o oficializou como a única religião permitida no Império. Com a decadência do sistema imperial criaram-se as condições para que os bispos, especialmente, o de Roma, assumissem funções de ordem e de mando. Isso ocorreu de forma clara com o Papa Leão I, o Grande (440-461), feito prefeito de Roma, para enfrentar a invasão dos hunos. Foi o primeiro a usar o nome de Papa, antes reservado só aos Imperadores. Ganhou mais força com o Papa Gregório, o Grande (540-604), também proclamado prefeito de Roma, culminando mais tarde com Gregório VII (1021-1085) que se arrogou o absoluto poder no campo  religioso e no secular: talvez a maior revolução no campo da eclesiologia.

         Os atuais hábitos imperiais, principescos e cortesãos da Hierarquia, dos Cardeiais e dos Papas se remetem especialmente a Papa Silvestre (334-335). No seu tempo se criou uma falsificação, chamada de “Doação de Constantino”, com o objetivo de fortalecer o poder papal. Segundo ela, o Imperador Constantino teria doado ao Papa a cidade de Roma e a parte ocidental do Império. Incluida nessa “doação”, desmascarada como falsa pelo Cardeal Nicalou de Cusa (1400-1460) estava o uso das insígnias e da indumentária imperial (a púrpura), o título de Papa, o báculo dourado, a cobertura dos ombros toda revestida de arminho e orlada com seda, a formação da corte e a residência em palácios.

         Aqui está a origem dos atuais hábitos principescos e cortesãos da Cúria romana,  da Hierarquia eclesiástica, dos Cardeais e especialmente do Papa. Sua origem é o estilo pagão dos imperadores romanos e a suntuosidade dos príncipes renascentistas. Houve, pois, um processo de paganização e de mundanização da igreja como instituição hierárquica.


         Os que querem a volta à tradição ritual que cerca a figura do Papa sequer tem consciência deste processo historicamente datado. Insistem na volta de algo que não passa pelo crivo dos valores evangélicos e da prática de Jesus.

         Que está fazendo o Papa Francisco? Está restituindo ao papado e à toda a Hierarquia seu estilo verdadeiro, ligado à Tradição de Jesus e dos Apóstolos. Na realidade está voltando à tradição mais antiga, operando uma despaganização do papado dentro do espírito evangélico, vivido tão emblematicamente por seu inspirador São Francisco de Assis.

         A autêntica Tradição está no lado do Papa Francisco. Os tradicionalistas são apenas tradicionalistas e  não tradicionais. Estão mais próximos do palácio de Herodes e de César Augusto do que da gruta de Belém e da casa doartesão de Nazaré. Contra eles está a prática de Jesus e  suas palavras sobre o despojamento, a simplicidade, a humildade e o poder como serviço e não como fazem os príncipes pagãos e “os grandes que subjugam e dominam: convosco não deve ser assim; o maior seja como o menor e quem manda, como quem serve”(Lc 22, 26).
O Papa Francisco fala a partir desta originária e mais  antiga Tradição, a de Jesus e dos Apóstolos. Por isso desestabiliza os conservadores que ficaram sem argumentos








Leonardo Boff, O bóson de Higgins e a a compreensão humana de Deus

Questões para além da física: partícula Deus ou partícula de Deus?

Fonte:  http://leonardoboff.wordpress.com/2013/10/11/questoes-para-alem-da-fisica-particula-deus-ou-particula-de-deus/http://leonardoboff.wordpress.com/2013/10/11/questoes-para-alem-da-fisica-particula-deus-ou-particula-de-deus/


Só para recordar: em janeiro deste ano de 2013 publiquei aqui neste blog um artigo escrito para o Jornal do Brasil on-line sobre a famosa “particula Deus” ou “partícula de Deus”, fruto da pesquisa sobre as partículas elementares no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN) em busca de um “bóson” (energia em forma  de onda, enquanto a energia em forma de partícula material se chama “férmion”), responsável por conferir massa às partículas e assim possibilitar o surgimento da matéria da qual todos nós surgimos. Por estar na raiz de todo o universo a presumida descoberta deste bóson passou a ser chamado de ”partícula Deus”. Como agora em outubro, os dois cientistas que estavam à frente desta pesquisa, François Englert e Peter Higgs ganharam o prêmio Nobel de física, seria interessante revisitar esse tema, de forma crítica, pois aí estão envolvidas questões que transcendem a física e penetram  no campo da filosofia e da teologia. Dai a razão para republicarmos o artigo que, ademais, teve boa acolhida nas várias traduções que conheceu por este mundo afora. Lonardo Boff


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Desde os anos 60 do século passado, físicos teóricos se punham a questão: como podem as partículas elementares sem  massa que surgiram com o big bang, ganharem massa, após trilhonéssimas fracções de segundo? Qual foi a partícula ou o campo energético que conferiu massa às partículas virtuais e assim fez irromper a matéria que compõe todo o universo?

            Sabemos e, o faço de forma extremamente pedestre, que a matéria (segundo Einstein é energia altamente condensada) é composta por partículas elementares: topquarks e léptons. Quando estes se unem dão origem aos prótons e aos nêutrons. Esses, por sua vez, se unem e formam o núcleo atômico. Léptons, de carga negativa, são atraídos pelo núcleo atômico, com carga positiva e juntos formam os átomos. De átomos se compõem todos os seres existentes.

            Portanto, topquarks e léptons são os tijolinhos básicos com os quais todo o universo e nós mesmos somos  construídos. Junto com estas partículas elementares agem as quatro forças originárias que ordenam todo o universo, cuja natureza, a ciência não conseguiu ainda decifrar. Elas atuam conjuntamente e respondem pela expansão, ordenação e complexificação de todo o processo cosmogênico: a força gravitacional, a eletromagnética, a nuclear fraca e forte.

            Peter Higgs (*1929) um tranquilo pesquisador de física teórica da universidade de Edinburgo na Inglaterra, sugeriu que deveria existir uma partícula, um bóson ou um campo energético, responsável pela massa de todas as partículas. O físico Leon Lederman (Nobel de Física) chamou-a de partícula de Deus. Outros a denominaram de partícula Deus, porque ela é a criadora de toda a matéria do universo.

            Que seria esse bóson Higgs ou campo Higgs? Os físicos o imaginam como um fluido viscoso finíssimo que enche todo o universo, à semelhança do éter de Aristóteles e da física clássica. Quando as partículas elementares sem massa, puramente virtuais, tocam esse bóson ou interagem com o campo Higgs sofrem resistência, são freadas, pressionadas e consolidadas e destarte ganham massa e peso.

            No dia 4 de julho de 2012 no Grande Colisor de Hádrions entre a Suíça e a França, após acelerar partículas que colidiam, quase à velocidade da luz, os cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN) identificaram uma partícula que preenche as características atribuídas ao bóson de Higgs. Supõe-se que seja ele ou outra partícula similar, mas que efetivamente confere massa às partículas elementares.

            Esta verificação confirma o modelo standard do universo originado pelo big bang; daí a sua importância.

            Mas como entra Deus nisso tudo? Se dissermos que esta partícula é Deus, seguramente a teologia não o  aceitaria, pois faria de Deus uma parte do universo. Ele é mais. É aquela Energia de Fundo, aquele Abismo possibilitador e sustentador do universo, que antecede ao big bang. Ele estaria além do “muro de Planck”, o limite intransponível, anterior ao tempo zero a partir do qual  em 10 na potência 43 de segundos após o big bang teria surgido a matéria do universo. Atrás deste muro se esconde aquela Energia poderosa e amorosa que origina tudo, inalcançável  pela física mas acessível pela mística.

            Se dissermos que o bóson de Higgs é a partícula de Deus podemos teologicamente aceitá-lo; seria o meio pelo qual Deus traria à existência as partículas materiais e assim todo o universo: um ato exclusivamente divino. Essa é a ontologia originária de Deus. A partícula de Deus nos mostra como se cria tudo o que nos é dado ver. Filosófica e teologicamente diria: ela nos revela como  Deus fez surgir o mundo. E esse ato não se encontra no passado, mas se realiza em cada momento e em todas as partes do universo e também em nós que estamos à mercê desta partícula de Deus. Caso contrário tudo deixaria de ser, voltaria ao nada.



O livro O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação de M.Hathway e L.Boff foi premiado nos USA em 2010 com a medalha de ouro em Ciência e Cosmologia. Está em português pela Vozes 2012.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A sabedoria de Bezerra de Menezes: a capacidade de amar é mais importante que pertecer a uma doutrina religiosa




  Interessante notar que diante de algo nobre dito por alguém equilibrado sobre a coerência da ética e do amor acima das crenças e adesismos facilitadores logo apareça um um fundamentalista com seus dizeres decorados e apapagaidamente repetidos, pensando que dizem verdadeiramente alguma coisa.... Eles é que não tem formação para aceitar o que se é, senão provado, evidenciado e preferem acreditar que estão com a verdade do Adão e da jumenta falante de Balaão

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Acuada pela Receita Federal e pressionada por patrocinadores de Direita, a Globo politiza minisséries visando as eleições de 2014




Fonte: Brasil 247

Emissora dos três Marinhos aciona máquina de guerra para influir o mais possível nas eleições presidenciais de 2014; minisséries disparam mísseis; no ar, A Mulher do Prefeito mostra político que desviou verbas para construir estádio para a Copa do Mundo sendo substituído por sua esposa; Amores Roubados, em janeiro, promete revelar contradições da região Nordeste a partir do vale do rio São Francisco; O Brado Retumbante, exibido no ano passado, mostrou presidente ético e galanteador; qualquer semelhança com personagens reais não é mera coincidência; Globo foi multada pela Receita Federal em R$ 274 milhões por irregularidades na compra dos direitos da Copa do Mundo de 2002; tudo a ver?
8 DE OUTUBRO DE 2013 ÀS 11:49
Do Brasil 274 – No Jornal Nacional, da Rede Globo, uma matéria considerada grande, em extensão, tem contados três minutos. No sábado 5, a entrada da ex-ministra Marina Silva no PSB teve uma cobertura de nada menos que 4 minutos e 22 segundos. Foi um claro sinal de que a emissora dos três irmãos Marinho entrara de cabeça, e ao seu modo, nas eleições presidenciais de 2014. Mas já há bem mais politização na telinha da Globo do que as escolhas de seu Departamento de Jornalismo.
Depois dar uma no cravo, ano passado, com a minissérie O Brado Retumbante, na qual o presidente da República era mostrado como um homem ético e profundamente sedutor, agora a Globo dá outra na ferradura.
Com a também minissérie A Mulher do Prefeito, no ar neste momento, a emissora testa seu poder de destruição de imagem. O que se tem no roteiro é um prefeito corrupto, que desviou todas as verbas de sua cidade para a construção de um estádio de futebol para a Copa do Mundo. Derrubado do cargo, ele é substuído por sua esposa.
Foi facil enxergar o senador Aécio Neves no presidente fictício de O Brado, assim como é inevitável lembrar o ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff nos papéis ocupados por Toni Ramos e Denise Fraga agora. Sem nenhuma discrição, a Globo dos três Marinho vai mostrando de quem gosta e de quem não gosta.
Em janeiro, a emissora vai colocar no ar Amores Roubados, minissérie na qual pretende mostrar as contradições da região Nordeste. O foco estará no vale do rio São Francisco, cuja obra de transposição de águas é talvez o maior fracasso do governo Lula – e um grande abacaxi para a gestão Dilma. A região, de resto, tende a ser o palco principal das eleições de 2014, onde o governo tentará manter e ampliar a diferença de 10 milhões de votos conquistada sobre a oposição nas últimas eleições. Ali, a oposição renovada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e sua neoaliada Marina Silva, do PSB, jogará a mãe de todas as batalhas eleitorais. A Globo, portanto, procura chegar antes.
Ao tratar dos desvios de verbas públicas para a construção de um estádio para a Copa do Mundo, em A Mulher do Prefeito, a Globo nem passa perto, é claro, de discutir um problema que, para ela própria, vem dando muita dor de cabeça – e de caixa. Este ano, a emissora foi multada em R$ 274 milhões pela Receita Federal, em razão de operações consideradas irregulares na compra dos direitos para transmitir a Copa do Mundo de 2002.
SEM LIMITES ÉTICOS - Uma multa dessa expressão financeira – do tamanho de um estádio de futebol de pequeno porte, diga-se – dá argumentos de sobra para qualquer roteirista escrever uma novela sobre os meandros da maior máquina de propaganda política do País, a própria Globo. Mas é claro que não espaço na grade da emissora para qualquer tipo de autocrítica. O que se quer, ali, é jogar problemas no ventilador, dividir os políticos em duas categorias, entre corruptos e honestos, e praticar em escala via satélite ações de latente politização e falsa moralização.

Fazendo pressão com suas brigadas do departamento de jornalismo, de um lado, e seus exércitos na área de produção, de outro, sobre o governo e em benefício da oposição, a Globo mostra que pretende ser um fator de pressão ao eleitor na eleição de 2014.
Em 1982, no famoso caso Proconsult, a Globo fez uma apuração paralela, no Estado do Rio de Janeiro, para tirar a eleição que terminaria sendo vencida por Leonel Brizola para o governo fluminense. Deu errado.
Em 1989, a mesma Globo editou o debate presidencial decisivo entre os candidatos Fernando Collor e Lula de modo a favorecer o primeiro. Deu certo.
Agora, o jogo de influência começou um ano antes e não se sabe até onde poderá ir. Como já se viu, os limites éticos da emissora dos três Marinho na prática não existem.


sábado, 5 de outubro de 2013

O Papa Francisco e a revolucionária reforma da Igreja


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  O Papa Francisco demonstrou publicamente que já iniciou os preparativos para a Reforma  da Igreja. Ele já se reúne com o conselho de cardeais mais progressistas para discutir outras mudanças e transformações em todos os níveis da Igreja Católica, a começar pela Cúria Romana.   O pontífice já havia dado uma declaração à imprensa onde criticou os excessos dos líderes religiosos.

  Francisco está fazendo o certo, mas sabe que estará batendo de frente com poderosos setores conservadores e reacionários dentre e fora dos muros do Vaticano.

  Pessoalmente, eu espero e desejo que Francisco tenha suficiente equilíbrio, coragem e fibra para levar adiante as reformas e ajude a varrer da Igreja os resquícios farisáicos tradicionalistas da curia romana, de setores laicos extremamente conservadores como a TFP, das superficialidades de um Marcelo Rossi, do clubinho burguês que são o ECC e o EJC e o reacionarismo fundamentalista dos carismáticos... Com isso, que seja permitido entrar nos claustros novos ventos mais condizentes com a mensagem de fraternidade, transformação social e espiritualidade de Cristo e que, com isso, se possa permitir também a volta ou a emergência de cabeças como as de Leonardo Boff, Frei Betto e Hans Küng ( o primeiro e o último perseguidos por Joseph Ratzinger quando, nos anos 80, este era o respósnável pela Congregação para a Defesa da Fé, a antiga Inquisição. O do meio é mal visto pelos conservadores de direita da Igreja, incluindo padres e leigos extgremados como Olavo de Carvalho).

   Que a renovação de Francisco sirva de exemplo para a mudança no mundo laico, que revisemos nossos paradigmas e modelos mecanicistas, egoístas, conservadores para a abertura à solidariedade, à democracia real e à fraternidade universal.




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O discurso de Pepe Mujica e a ofensiva norte-americana


Do Observatório da Imprensa:

MÍDIA & GEOPOLÍTICA

O discurso de Mujica e a ofensiva norte-americana

Por Maria Luiza Franco Busse em 01/10/2013 na edição 766


28 de setembro de 2013. Deu na primeira página do jornal uruguaio La República:
Biden le aseguró a Mujica que visitará Uruguay – El vicepresidente norteamericano transmitió a Mujica que propondrá en las esferas diplomáticas un plan de apoyo para que Uruguay pase a ocupar una silla en el ámbito del Consejo de Seguridad de la ONU em el período 2015-2016.
A reação estadunidense ao discurso do presidente uruguaio pronunciado na 68ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas confirma a tese de que o sistema se apropria de tudo, com especial interesse no que o desnuda e sugere outra roupagem. Pois assim foi o pronunciamento de Pepe Mujica. Com o vigor das palavras, evocou a totalidade, conclamou o coletivo e celebrou a vida. (...) “devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização”, diz em um ponto, para ir adiante.
“Estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando. (...) De um lado a outro sobram ativos para vislumbrar essas coisas e para vislumbrar o rumo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais sobre isso porque a cobiça individual triunfou largamente sobre a cobiça superior da espécie (humana).”
Num tempo nascido do efeito de um fracasso histórico e que por conta disso a política foi fragmentada em identidades, não é pouco falar do que não se fala mais. Coisas como capitalismo, imperialismo, ideologia, classe, Estado, modo de produção, distribuição e igualdade, exemplos de totalidade que fazem a diferença na vida prática, mas perdeu-se a significação desse fato porque, como já disse um importante teórico de esquerda inglês, captar a forma da totalidade exige raciocínio rigoroso e cansativo incompatível com a ambiguidade e a indeterminação, ícones do chamado pós-modernismo.
Mujica, em seu aparente coração simples, acusou o dilema observando que a” globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal” e que é preciso pensar “nas causas profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-joga fora que o que joga fora é o tempo da vida humana, mal gasto em questões inúteis”.
Novo tempo
Depois de criticar a política da guerra levada pelas grandes potências, Mujica não poupou a ONU, “a nossa ONU” que, segundo ele, “se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para com o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta”. E pediu aos seus pares que pensassem sobre a grandeza que é viver. (...) “Nada vale mais que a vida”, disse o um dia chefe da guerrilha tupamara que passou 13 anos preso, dez dos quais numa solitária.
O discurso impactou. Tenha sido pela transgressão, pelo realismo, ou pela ousadia do realismo. Mas o fato é que testemunhas contaram não se lembrar de tamanho silêncio no plenário da Assembleia da ONU. Em resposta, o governo dos Estados Unidos, na pessoa de seu vice-presidente Joe Biden, transmitiu ao presidente Mujica que vai propor nas esferas diplomáticas um plano de apoio para que o Uruguai passe a ocupar um assento no Conselho de Segurança da ONU no período de 2015-2016. O chanceler uruguaio Luis Almagro aproveitou para lembrar que há tempos seu país solicita um lugar como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O jornal La República, de apoio à Frente Ampla que forma o governo, comemorou a proposta estadunidense. Daqui, de nossa parte, vale sonhar que a evocação totalizante de Mujica contemple o Mercosul e o bloco tome os assentos do Conselho de Segurança dando início a um novo tempo inspirado no coletivo de homens e mulheres que vêm do Sul.
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Maria Luiza Franco Busse é jornalista e doutora em Semiologia

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A violência contra professores é reflexo da violência e descaso para com a Educação




A violência contra professores é reflexo da violência e descaso para com a Educação e meio de deter o poder impedindo a conscientização críticas das pessoas, em especial do grande público, através de uma educação pública de qualidade. Para as elites que há mais de 513 anos exploram a maioria neste país, apenas banqueiros, golpistas, executivos de multinacionais leitores da Veja e do astrólogo Olavo de Carvalho e do difusor golpista Reinaldo Azevedo  é gente que vale a pena respeitar... O resto é apenas resto a ser usado e maltratado...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães






Palavras de uma PROFESSORA aos POLICIAIS: 

"Eu posso olhar nos olhos de vocês porque não preciso ter vergonha de nada! Eu fui professora de muitos de vocês, dos seus irmãos e dos seus filhos. Eu trabalho ao lado de suas mães e esposas, em escolas miseráveis, caindo aos pedaços... Eu tenho a cara e o coração limpos porque minhas mãos não estão sujas de sangue, minhas mãos estão sujas e calejadas de giz!".


Para o Jornal do Brasil:

Os professores do Rio de Janeiro, que lutam por melhores salários, enfrentam agora a truculência da Polícia Militar, que no sábado - acionada pelo governador Sérgio Cabral, a pedido do prefeito Eduardo Paes – retirou a força os representantes da categoria da Câmara de Vereadores. Uma categoria da maior importância para o desenvolvimento de qualquer município, estado, nação, recebe no Rio entre R$ 1.200 e R$ 3.500 mensais, um dos piores salários pagos a um profissional com esse nível de capacitação para exercício da profissão.  A prefeitura acena com um reajuste de míseros 8%, enquanto a categoria pede 19%.
Não bastam os salários aviltados, é preciso bater, humilhar e impor um plano de cargos e salários que deverá piorar ainda mais a vida dos professores. Esquece o prefeito que aumentar a carga horária para 40 horas semanais vai transformar o professor em mero aplicador de provas e exercícios já prontos e que, provavelmente, deverão ser elaborados por alguma empresa privada “especialista nesse tipo de serviço”, cobrando o inimaginável para ser pago pelo contribuinte carioca, enquanto a educação da população vai piorando cada vez mais. 
Uma solução excelente do ponto de vista da secretária de Educação, Cláudia Costin, ex-funcionária de construtora e sem a menor capacidade para estar à frente da secretaria. Sua proposta de cargos e salários foi recusada por ser considerada pior do que a situação atual dos professores. O que já é péssimo ficaria pior. Parece piada, mas é a pura realidade. Uma luta que deveria ser de todos, mas infelizmente não vem contando com muito apoio.
Postura bem diferente de certos articulistas da mais suja das revistas nacionais:


 a fonte destes dizeres fascistas de Reinaldo Azevedo está neste link: