"Não resta dúvida que o Papa Francisco se coaduna com os pensamentos da Igreja católica no Brasil e vice-versa. Todos percebem o ser maligno no poder que ludibria brasileiros para apenas escapar da justiça, da lei e da cadeia."
30/04/22 - Faltam 155 dias para as nossas eleições. A política no Brasil é muito dinâmica. A Igreja Católica tem observado a corrosão em nossa sociedade advinda das orientações anticristãs do atual ocupante da presidência do Brasil.
Vigaristas que usam o nome de Deus em vão associados com ateus bandidos que também seguem o mesmo método contra o povo brasileiro, seguem sorrateiros a enganar como podem.
Bolsonaro difunde o mal em todas as formas e não tem mais a complacência do catolicismo orgânico.
Não resta dúvida que o Papa Francisco se coaduna com os pensamentos da Igreja católica no Brasil e vice-versa. Todos percebem o ser maligno que ludibria brasileiros para apenas escapar da justiça, da lei e da cadeia.
Discurso de ódio e conspirações não param de circular e amedrontar incautos.
Todos nós temos o dever de reagir a essa estratégia demoníaca a favor dos interesses do dinheiro contra a nossa nação e sanidade mental de todos.
Bolsonaro terá o seu dia de Juízo Final. Esperamos que esse momento se dê aqui na terra dos homens muito antes do seu julgamento em outro plano.
Amanhã, no Dia do Trabalhador, os vigaristas estarão insuflando brasileiros a irem para as ruas para clamarem por sua própria ruína e a favor de seus algozes.
Para Jeferson Miola, a restauração da democracia deverá instituir uma justiça de transição. "Para que os responsáveis por esses crimes sejam punidos e presos"
STF, Sérgio Moro e o ex-presidente Lula (Foto: Agencia Brasil | Stuckert)
Debaixo da toga de juiz de Direito se camuflava um agente político orientado pelos órgãos de inteligência e pelos Departamentos de Estado e de Justiça dos EUA.
Sérgio Moro chefiou a Lava Jato como um gângster mafioso chefia uma gangue. Abusando do falso pretexto de combater a corrupção, ele e seus parceiros do judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público produziram aquilo que ficou mundialmente conhecido como o maior escândalo judicial da história.
O paralelo mundial mais próximo desta atrocidade contra Lula é o caso Dreyfus, que embasou os estudos da historiadora Hannah Arendt sobre as origens do totalitarismo e do nazismo.
Moro e seus parceiros contaram, na sedimentação da farsa jurídica e do herói nacional, com uma narrativa criminalizadora e semiótica da mídia hegemônica. Capitaneada, obviamente, pela Rede Globo.
Nessa empreitada, Moro não agiu sozinho, como ele próprio reconhece. Para se defender, ele argumenta, inclusive, que suas decisões enviesadas e abusivas foram todas endossadas pelas três instâncias do judiciário – 13ª Vara, TRF4, STJ e STF.
Por isso, pode-se depreender da alegação dele, que o conjunto do judiciário esteve implicado na farsa jurídica que impediu a candidatura virtualmente vitoriosa do Lula em 2018 para viabilizar a eleição da extrema-direita fascista.
Afinal, não é nada usual integrantes da gangue de Curitiba celebrarem ministros do STF com exaltações do tipo “Aha, Uhu, o Fachin é nosso”, ou “In Fux we trust”, ou, ainda, “Barroso vale mais que 100 PGR’s”.
Por isso Moro também faz questão de enfatizar, sempre, que a instância que autorizou a prisão do ex-presidente foi a Suprema Corte. Ministros do STF que na época perpetraram barbaridades, mas que hoje se converteram novamente à democracia, sabem o que ele quer dizer.
Nisso – o comprometimento do conjunto do judiciário na farsa jurídica contra Lula – o ex-juiz tem razão. Na vigência de um verdadeiro Estado de Direito, Lula jamais teria padecido da brutal violência jurídica que padeceu e o país não seria mergulhado num Estado de Exceção. Em algum grau de jurisdição a farsa seria detectada, e então o processo fatalmente soçobraria.
Mas havia, porém, um jogo com alto nível de condicionamento e de elevada convergência persecutória entre o juiz, procuradores da República, policiais federais, desembargadores do TRF4 e ministros do STJ e STF. Sem esta orquestração estratégica, teria sido impossível à gangue de Curitiba concretizar o plano concebido e detalhado em Washington.
Ainda está por ser decifrada a inteligência estratégica por trás de toda esta orquestração. De igual modo, ainda está por ser detalhadamente apurada a articulação e a coordenação orgânica entre o bando de Moro e as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas. Nunca é demais lembrar o agradecimento de Villas Bôas, o general traidor que conspirou contra Dilma e emparedou do STU, ao “ministro Sérgio Moro, protagonista da cruzada contra a corrupção ora em curso”.
É apenas uma questão de tempo. Informações já disponíveis e catalogadas permitirão chegar-se brevemente ao esclarecimento desses aspectos fundamentais.
Na reportagem sobre a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU favorável à reclamação do ex-presidente Lula, Jamil Chade/UOL anota que “a queixa envolvia quatro denúncias feitas pela defesa do petista, todas elas atendidas pelo comitê de forma favorável ao ex-presidente”: [1] a detenção arbitrária de Lula pela PF em 2016 em uma sala do aeroporto de Congonhas; [2] a parcialidade do processo e julgamento; [3] a difusão de mensagens de caráter privado de familiares de Lula; e [4] a impossibilidade de uma candidatura em 2018.
Segundo Jamil Chade, “o Comitê concluiu que houve violação dos direitos do ex-presidente em todos os artigos”.
Sérgio Moro, que já foi considerado um juiz suspeito pelo STF – o maior demérito e uma desonra irreparável para qualquer juiz – agora sofre esta dura condenação internacional do Comitê de Direitos Humanos da ONU.
O Estado brasileiro, que será responsabilizado pelos crimes cometidos por um agente público contra o ex-presidente Lula, deverá cobrar legalmente de Moro e seu bando a reparação que terá de pagar a Lula.
A restauração da democracia no Brasil, quando acontecer, necessariamente deverá instituir uma justiça de transição, para que os responsáveis por todos esses crimes sejam exemplarmente julgados, processados, punidos e presos.
Não se trata de sentimento de vingança, de rancor ou de justiçamento, mas de um encontro do país e do povo brasileiro com o direito à verdade, à memória e à justiça – para que nunca se esqueça, e para que nunca mais aconteça.
E, em um contexto de modificação da correlação de forças em favor do campo democrático e popular, será fundamental uma Assembléia Constituinte que possa concretizar um conjunto de reparações profundas, dentre elas a reforma democrática do judiciário, este campo oligárquico e aristocrático que garante a produção e a reprodução da exploração capitalista fascista, racista, misógina, machista e retrógrada.
A vitória de Lula na ONU é uma derrota fragorosa do jornalismo empresarial brasileiro (Globo, Estadão, etc.), que fica exposto ao mundo, agora, como um jornalismo golpista e persecutório.
Assista à live de Nassif com o linguista Gustavo Conde e saiba mais sobre a vitória do petista, no canal do GGN no Youtube
A vitória de Lula na ONU é uma derrota fragorosa do jornalismo empresarial brasileiro, que fica exposto ao mundo, agora, como um jornalismo golpista e persecutório. Este jornalismo carimba esse vexame internacional, negando-se a noticiar a decisão da ONU, uma decisão histórica e uma das mais importantes da cena dos direitos humanos internacionais.
O Comitê de Direitos da ONU decidiu que Lula teve seus direitos políticos e individuais violados por Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato, coordenados por Deltan Dallagnol.
Para repercutir o tema, Luis Nassif conversa com o linguista Gustavo Conde, no programa Afinando a Notícia, na TVGGN. Inscreva-se gratuitamente no canal clicando aqui.
Assista a transmissão ao vivo a partir das 20 horas desta quinta (28), usando o link abaixo.
Decisão afirma que o petista teve seus direitos políticos violados em 2018, e é decisão legalmente vinculante, já que os tratados assinados pelo Brasil obrigam o estado a seguir a recomendação
O Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou nesta quarta-feira (27/4) a conclusão sobre o caso envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e afirmou que a sentença proferida pelo então juiz Sergio Moro em 2018 foi parcial e violou os direitos políticos do petista, ao não permitir que ele fosse candidato nas eleições presidenciais daquele ano.
O organismo internacional foi acionado pelo próprio Lula em 2016, dois anos antes da prisão do líder petista, através de ação movida pelos advogados Geoffrey Robertson, Valeska Zanin Martins e Cristiano Zanin Martins. Os trabalhos do Comitê costumam tardar anos em ser terminados, por isso a conclusão chegou somente agora, seis anos depois do pedido do brasileiro e quatro após a sentença de Moro.
A conclusão do Comitê de Direitos Humanos é a primeira vitória internacional de Lula, que já acumula 23 no âmbito nacional. Inclusive, o próprio STF (Supremo Tribunal Federal), que será notificado pela ONU em função dessa decisão, foi responsável por algumas das correções nas condenações sofridas por Lula no âmbito da Operação Lava Jato e em outros processos.
Também vale destacar que decisão do Comitê é legalmente vinculante, devido aos tratados internacionais ratificados pelo Brasil, que obrigam o estado a seguir a recomendação.
O fato de o STF e outros tribunais terem absolvido Lula nos casos referidos deve fazer com que não seja necessária nenhuma outra correção, ficando, como fato destacado, apenas a questão do reconhecimento internacional da inocência do petista e da parcialidade do ex-magistrado e agora político paranaense.
Em maio de 2013 a presidenta Dilma Rousseff ostentava confortáveis 65% de aprovação de seu governo, mas já no mês seguinte despencou para cerca de 30%.
O movimento pelo passe livre havia se insurgido contra o aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus e do metrô de São Paulo, mas com uma velocidade inédita se transformou em protestos pelo Brasil inteiro contra a única pessoa que seria a responsável por todas as mazelas de um país que caminhava para a frente social e economicamente: Dilma, a nova anta da classe média e da grande mídia.
Hoje se sabe – embora os autores da urdidura do golpe que tirou a presidenta honesta do poder, neguem – que as hordas de pessoas vestidas de verde-amarelo que invadiram as ruas foram comandadas pela atuação do Departamento de Estado dos Estados Unidos que estava de olho no petróleo do Pré-sal que Dilma resistia em entregar ao Tio Sam. Esse modelo de atuação tem sido replicado em todo o mundo, segundo os interesses norte-americanos.
A verdade é que os governos do PT haviam alçado o Brasil à sexta posição mundial na economia, superando o Reino Unido. A projeção do gráfico de crescimento fazia supor que o país emergente seguia segura e continuamente seu projeto de se tornar uma grande nação.
O golpe pôs fim a esse projeto com muita gente ganhando dinheiro e poder, e um juiz alçado à posição de celebridade nacional ao articular com o ministério público a prisão daquele que iria recolocar o país de volta aos trilhos do crescimento.
Hoje temos no poder um tirano que prometeu no início do mandato não só acabar com o sonho de nos tornarmos uma grande nação, mas destruir o país. Esse é o único projeto que aquele que, no auge da pandemia, recebeu a alcunha de Capitão Morte.
O ousado lance de decretar uma graça ilegal constitucionalmente a um daqueles desqualificados, soldados da guerra contra a democracia, que invariavelmente o capitão abandona para trás, tem o intuito de, não só confrontar forças com o Supremo, mas sobretudo de dar o primeiro xeque contra a democracia brasileira.
Nesse xadrez em que, de repente, o país se vê envolvido, é imprescindível que o STF contra ataque, sob pena de que a porteira para a boiada do golpe já comece a se escancarar.
As pesquisas de opinião apontam há meses, com pequenas variações, um quadro em que Lula vence o inominável em todos os cenários, com possibilidade de vitória em primeiro turno, sem possibilidade de terceira via. Parece não haver nada que altere esse estado de coisas até 3 de outubro.
O capitão PRECISA de mais um mandato para que não seja preso e para que dê continuidade às maracutaias que se tornariam de domínio público assim que Lula assuma a presidência em 2023. E após mais quatro anos, precisará mudar a Constituição para um terceiro mandato ou colocar no poder um dos filhos para assegurar sua impunidade eterna.
Por isso, o capitão não esperará o dia das eleições em primeiro turno para dar um golpe.
Recentemente boa parte do exército reagiu contra a revelação de que em 1975 o STM (Superior Tribunal Militar) tinha conhecimento das torturas e assassinatos que ocorriam no Doi-Codi durante a ditadura. O inominável se aproveita desse fato para tentar aglutinar as forças que ele não conseguiu no último 7 de setembro.
Precisamos que o STF tenha a coragem de anular o decreto, mas, mais que isso, precisamos que as outras instituições, a sociedade civil responsável, os movimentos sociais e os partidos de oposição se organizem para dar suporte à decisão do Supremo.
Se a resposta ao inominável não for mais forte que o lance que acabou de fazer, desistiremos de ser uma nação para nos tornarmos a Cuba de Fulgêncio Batista.
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepauta@jornalggn.com.br.
por Marco Aurélio de Carvalho e Renato Afonso Gonçalves
O que fuzis e cravos têm em comum?
Essa combinação improvável eternizou a manhã lisboeta de 25 de abril de 1974.
Transcorria a primavera em Portugal, e uma cena inusitada iluminou o Chiado. Um soldado pedira um cigarro à Celeste Martins Caeiro, “empregada de mesa” de um restaurante no icônico Edifício Franjinhas, que voltava à casa com um punhado de cravos destinados às comemorações de um ano de vida do estabelecimento, canceladas em virtude da notícia de um Golpe de Estado no país. Como Celeste não era fumante, ofereceu-lhe um dos cravos e o colocou na ponta do fuzil. E assim Celeste se desfez de todos os cravos distribuindo-os aos soldados que se dirigiam ao Quartel do Carmo. Nascia a romântica imagem que empresta significado à democracia e à liberdade em Portugal, e que corporifica a famosa Revolução dos Cravos.
Mas o romantismo revolucionário não se encerra aqui. As circunstâncias em que se deu o movimento conspiratório dos Capitães são profundamente inspiradoras. Às 22h55 da noite de 24 de abril de 1974 é implementado um levantamento militar minuciosamente construído pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), que se inicia com a transmissão da canção “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, através dos Emissores Associados de Lisboa; o primeiro sinal do avanço das operações. Às 00h20 do dia 25, os militares que ocupavam a rádio Renascença deram o segundo sinal, com a transmissão de “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, e no Rádio Clube Português, às 4h, é lido o primeiro Comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA), orientando a população a não ocupar as ruas. Nesse momento, os Capitães dão publicidade aos seus objetivos consistentes na queda da ditadura e no fim da guerra colonial, com a consequente implementação da democracia. E então ocorreu o inesperado. Preparados para uma batalha sangrenta, os Capitães foram surpreendidos pelo imenso apoio da população que massivamente ocupou as ruas naquele 25 de abril. Desgastado pelos anos de resistência democrática e por uma profunda crise econômica acentuada pela guerra colonial que teve início nos anos 60, o regime não resistiu à associação do levantamento militar à mobilização popular, que formou o elemento motor da pacífica revolução.
Eram as últimas horas dos 48 anos da ditadura instituída pelo Golpe Militar de 28 de maio de 1926, consolidada por uma Constituição de matiz fascista em 1933. A censura, polícia política, repressão e torturas, propaganda, leis repressivas, imperialismo e isolamento econômico marcaram os anos de António de Oliveira Salazar à frente do país, até ser afastado das funções por sua frágil saúde em 1968. Em seu lugar, assumiu o Professor Marcello Caetano, a quem caberia liderar o regime até a histórica manhã de 1974, quando cercado por Salgueiro Maia no Quartel do Carmo, foi deposto e mandado ao exílio no Brasil.
Claro que o processo no qual redundou a Revolução do Cravos é complexo, como não menos complexos foram os meses que se seguiram, marcados pela intensa polarização ideológica presente no cenário europeu e mundial daquele período. Mas o programa do MFA – Movimento das Forças Armadas, consistente nos 3 “Ds”, democratizar, descolonizar e desenvolver, foi implementado com sucesso. Em suma, os Militares de Abril tomaram o Poder e o devolveram ao seu legítimo dono, o povo português. Eleições livres foram convocadas e em 25 de abril de 1976 a República Portuguesa instituiu a sua Constituição Democrática, ainda em vigor, e que foi uma das inspirações para a combalida Constituição Brasileira de 1988, incansavelmente defendida de forma intransigente pelo grupo “Prerrogativas” e pelos democratas brasileiros.
A Revolução dos Cravos eclodiu para além das fronteiras portuguesas, servindo de inspiração para movimentos democráticos em todo o mundo, inclusive para a resistência à ditadura militar no Brasil, fato eternizado na canção “Tanto Mar”, de Chico Buarque de Holanda, um dos maiores gênios da música popular brasileira.
Após viver 48 anos em plena ditadura fascista, Portugal chega aos 48 anos de vida democrática celebrando a Revolução dos Cravos e preparando as celebrações de seu cinquentenário em 2024. A Revolução dos Cravos construiu um “terreno comum” na política portuguesa, uma sociedade profundamente comprometida com a Democracia e com o Estado Social, e um país plenamente inserido no contexto político e econômico internacional. A forma como Portugal enfrentou o COVID-19 sem politizar a pandemia é um fato a ser bem observado e uma das razões do sucesso português nessa questão. Após a crise orçamentária ao final de 2021, que derrubou o governo de António Costa, os portugueses, longe de qualquer crise institucional, foram às urnas e conferiram ao premiê mais quatro anos de mandato com maioria absoluta, afugentando a extrema direita europeia que ameaçou colocar as “garras para fora”. Com um Presidente popular de centro-direita, o grande jurista e constitucionalista Marcelo Rebelo de Souza; e com um Primeiro Ministro de centro-esquerda, o socialista António Costa, Portugal demonstra um profundo equilíbrio político e institucional, que dá a estabilidade necessária para a consolidação do cenário econômico e social promissor que se projeta para o país.
Se os portugueses comemoram as conquistas de Abril, de ontem e de hoje, nós, do lado de cá do Atlântico, temos um ano decisivo para a democracia e para o futuro econômico, institucional e social do Brasil. Após enfrentarmos o desgoverno negacionista da pandemia e da ditadura militar, nos encontramos atolados numa profunda crise ética, econômica e social. Temos em nossas mãos uma arma letal para o retrocesso e a barbárie instalados, e que se bem utilizada pode resgatar tudo o que conquistamos com a democratização do Brasil. É com o voto democrático que podemos virar essa página sombria da nossa história e nos reconciliarmos com os valores e direitos constitucionalmente estabelecidos, conquistados com muita luta democrática.
Que neste 25 de abril nossos irmãos portugueses mandem para o Brasil “um cheirinho de alecrim”, e que com esse “cheirinho” tenhamos a sabedoria de fazermos dos votos nas urnas os “cravos” que um dia resgataram para sempre a esperança, a liberdade e a democracia em Portugal.
Que o ano de 2022 seja o início de um novo tempo no qual o povo brasileiro jamais flertará com o autoritarismo. Que 2022 fique marcado no Brasil como o ano da revolução pacífica que promoveu o reencontro definitivo de nosso país com o que ele tem de mais precioso, a democracia cidadã.
Que neste ano de 2022 os brasileiros possam ver “em cada rosto igualdade” e que ao final do processo eleitoral as urnas apontem para uma “terra da fraternidade”, onde “o povo é quem mais ordena”.
Assim, quem sabe, “esta terra ainda vai cumprir o seu ideal/
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”.
“25 de abril: Sempre!”
Marco Aurélio de Carvalho. Advogado e coordenador do Grupo Prerrogativas.
Renato Afonso Gonçalves. Advogado e Professor do IDP/SP. Membro do Grupo Prerrogativas e Vice-Presidente da Casa de Portugal de São Paulo.
A jornalista Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel e irmã Stuart Angel, ambos mortos pela ditadura brasileira, comenta sobre os áudios que revelaram que o Superior Tribunal Militar tinha conhecimento da tortura de mulheres grávidas. Entrevista exibida ao vivo em 20/4/2022 no Fórum Onze e Meia.
É um erro menosprezar o golpismo bolsofascista e o nível de apoio que este golpismo em franca fermentação pode vir a alcançar.
Brasília, 7 de maio de 2019: Bolsonaro discursa na cerimônia de assinatura do decreto da nova regulamentação do uso de armas e munições (Foto: Marcos Corrêa/PR)
A mídia corporativa ora se empenha em infinitas considerações, explicações, especulações jurídicas sobre o “indulto da graça” dado por Jair Bolsonaro a Daniel Silveira.
Porém, importa menos saber se o troglodita vai ou não vai amargar uma temporada no xadrez e mais medir o ânimo e a confiança de Bolsonaro para o enfrentamento total, e o indulto dá a medida deles de uma vez por todas. Por mais que há tempos destrua e afronte à vontade, é ilusão supor que Bolsonaro se arrisque anulando atos de outro Poder apenas para manter coeso seu eleitorado cativo, para fazê-lo delirar na expectativa de colher algum dividendo eleitoral.
Nesta linha, convém inverter o bordão dos grupos bolsonaristas-armamentistas: não é sobre liberdade (no caso, a de Silveira), é sobre armas.
Em primeiro lugar, a última ordem do dia “alusiva ao 31 de março” de 1964 confirma uma vez mais que entre generais de exército, almirantes de esquadra e brigadeiros do ar ainda grassa, isto sim, a pretensa justeza de que “os anseios e as aspirações da população” resultem em golpe de Estado, a depender da interpretação que se faz deles pelo Estado-maior verde-oliva, branco-naval e azul-força-aérea.
Assinar a ordem do dia foi o último ato do general Braga Netto como ministro da Defesa. Não porque ele foi demitido depois dela, mas porque o general deixou o cargo para ser candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.
Em segundo lugar, convém lembrar, ainda que esteja fresquinho, que há poucos dias a Agência Pública mostrou o secretário da Lei Rouanet, de microfone em punho e levando no peito o logotipo do Movimento Pró-Armas, escancarando o que realmente move a proliferação de clubes de tiro país afora: o combate à “criminalidade de Estado”.
Leia-se: o combate armado a qualquer possibilidade de freio à fulminante ascensão armamentista no Brasil, ao mais pálido vislumbre de restauração democrática no país.
Mais este golpista, André Porciúncula, disse o que disse na convenção nacional do Pró-Armas. Mas é o MST que convive com cercos do Ministério Público e da Justiça para enquadrá-lo como “organização criminosa”. O Pró-Armas segue bem à vontade.
No Brasil, já são mais de meio milhão de colecionadores de pistolas e armas de grosso calibre, atiradores esportivos e caçadores de javali e sabe-se lá mais de quê, ou de quem. O grosso dos CACs é de devotos (esta é a palavra) de Jair Bolsonaro, de fanáticos pelo Capitão Caverna, santo padroeiro do ferro, do berro e do pipoco.
A internet está cheia de listas das coisas mais cavernosas que devotos fazem por seus ídolos, ainda mais em transe coletivo, digamos que “sob violenta emoção”. A história também.
É um erro menosprezar o golpismo bolsofascista e o nível de apoio que este golpismo em franca fermentação pode vir a alcançar. Por extensão, é leviandade desconsiderar que as eleições marcadas para outubro estão sob forte ameaça.
Que o “indulto da graça” dado a Daniel Silveira é inconstitucional, até os cartuchos de munição sabem muito bem. Mas o jogo não é mais, e não é de hoje, sobre o livro constitucional, relegado a calço da mesa de tabuleiro.
É sobre o pau na mesa.
The stick is on the table, senhoras e senhores. Quem tem olhos para ver, que veja.
“Esses áudios… eles confirmam tudo aquilo que a gente já sabia, tudo aquilo que já vinha à tona há muito tempo, mas ouvir a fala pessoal desses ministros, na época, tem um poder imenso”, diz Eugênia Augusta Gonzaga, procuradora regional da República e que chegou a presidir a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP).
A declaração do presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministro Luís Carlos Gomes Mattos, de que “ninguém perdeu o sono na Páscoa” com o vazamento dos registros onde ministros confirmaram a ocorrência de torturas nas prisões durante a ditadura militar, não chega a ser surpreendente, por mais torpe que seja tal declaração.
“Esses áudios… eles confirmam tudo aquilo que a gente já sabia, tudo aquilo que já vinha à tona há muito tempo, mas ouvir a fala pessoal desses ministros, na época, tem um poder imenso”, diz Eugênia Augusta Gonzaga, procuradora regional da República e que chegou a presidir a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP).
Em entrevista à TV GGN 20 horas, Eugênia diz esperar que a divulgação de tais áudios, ocorrida no último final de semana pela jornalista Miriam Leitão (ela mesma vítima de tortura) “sensibilize as pessoas que continuam dizendo que não houve tortura nesse país, que isso é uma afirmação exagerada de algumas pessoas”.
Além disso, Eugênia ainda considera “impressionante” como boa parte das autoridades – e não necessariamente bolsonaristas – ignoraram todas as denúncias feitas por presos políticos e autoridades contrárias à ditadura militar.
“Estou falando, por exemplo, dos constituintes de 1988, em que a Constituição brasileira não trouxe nem uma única palavra sobre os mortos e desaparecidos políticos”, diz Eugênia. “(A Constituição) trouxe menções sobre anistias, mas não falou nada sobre tortura, sobre responsabilização dos agentes…”.
Para a procuradora regional da República, tudo o que foi feito “foi um acordo para se encobrir esse tipo de coisa”, e a revelação de tais áudios são “de uma importância imensa” em um cenário onde o próprio presidente da República negue tais fatos com veemência.
“Esses áudios são de uma importância imensa para que a gente consiga falar ‘não, isso aconteceu, é verdade, está aqui… A Justiça sabia, o Ministério Público sabia. Todos estavam cientes e, mesmo assim, as coisas caminharam como a gente está vendo até hoje'”, pontua Eugênia Gonzaga.
Veja mais a respeito da ditadura militar na íntegra da TV GGN 20 horas desta quarta-feira, disponível no link abaixo:
O que vocês vão ver e ouvir logo a seguir, amigas e amigos, é de extrema utilidade pública.
É uma aula de história num tempo em que um governo, o de militares e Bolsonaro, tenta apagar a história, a memória, para mais uma vez repeti-la.
Como fazem, para não irmos muito longe, desde a Proclamação da República, que nasce com um golpe militar. Um dos tantos e tentativas desde então.
Por isso, em nome da memória, do presente, do passado e do futuro, vamos reproduzir trechos da entrevista de Valdemar Martins de Oliveira, 71 anos, soldado reformado do Exército.
Valdemar relata a Juliana Dal Piva, jornalista do UOL, a tortura e o assassinato do casal João Antônio e Catarina Abi-Eçab, no dia 8 de novembro de 1968.
Valdemar, então paraquedista do Exército, assistiu à sessão de espancamento, tortura e morte comandadas pelos então capitães do Exército Rubens Paim Sampaio e Freddie Perdigão Pereira.
Os tiros fatais em João Antônio e Catarina foram dados por Freddie Perdigão.
Isso depois de choques elétricos nos lábios, vagina e ânus de Catarina.
João e Catarina não haviam participado do que os militares os acusavam: a morte do capitão Charles Chandler, um norte-americano.
Valdemar fala agora em resposta a Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.
Eduardo, que há dias, canalha como só essa gente sabe ser, disse que a jornalista Miriam Leitão não tem como provar ter sido torturada na ditadura.
Muitas vezes, mesmo com provas, há quem negue a verdade.
Vide a família Bolsonaro diante de sua espantosa fortuna imobiliária.
Fruto, segundo Ministério Público do Rio, de vasto e criminoso esquema de peculato: as rachadinhas.
Como negar, por exemplo, profundo significado das suas relações com gente tipo Queiroz e os matadores Adriano da Nóbrega e Ronnie Lessa - esse, o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Os militares, por ação, cumplicidade ou omissão tomaram o Poder novamente. E avançam.
Tutelam o país com, por ora, frágil resistência. O Supremo Tribunal Federal, com uma sociedade anômica, oferece espasmos de ação e reação.
Há uma semana, no jornal O Globo, Miriam Leitão, jornalista, publicou fitas do Superior Tribunal Militar à época da ditadura.
Com ministros militares conhecendo e aceitando, uns se esquivando, as denúncias das torturas praticadas por militares e civis a serviço de militares durante a ditadura.
- …Esse moço apanhou um bocado. Baixou no hospital e citou o nome das duas pessoas que martelaram ele. Estou inteiramente com o ministro Rodrigo Octávio, às vezes discordo de sua excelência quando é difícil apurar. Eles podem negar, mas que os nomes dos dois estão aí, estão. É fulano e beltrano. Martelaram esse moço, daí a confissão dele.
O general Mourão, vice de Bolsonaro, mais uma vez mostrando quem e o que verdadeiramente é, debochou:
- Apurar o quê? Já morreram tudo. (risos) Vai trazer os cara do túmulo de volta?
Mourão usa a argumentação habitual do poder militar; que, aliás, está tentando apagar a suja história da ditadura.
Sob ataque, nesses tempos, a memória exposta na Biblioteca Nacional, no Museu Histórico Nacional e na Casa de Rui Barbosa, entre outras instituições.
Mourão repete o máximo permitido a quem tem a capacidade intelectual e moral de defender ou justificar tortura e ditadura.
Diz que a ditadura existiu para, imaginem só, impedir uma ditadura.
21 anos de censura, sequestros, tortura, assassinatos e emburrecimento do Brasil para impedir que outros, supostamente, viessem a fazer exatamente o que eles fizeram.
(Vídeo do soldado reformado Valdemar Oliveira)
- Então ela foi colocada naquele pau de arara, nua. Tiraram a roupa e foi colocada lá, e aquela sessão de pancadaria, e perguntando sobre a morte do capitão Chandler. E ela não falava. Não falava porque calculo que não sabia. Porque uma pessoa apanhando daquela forma, eu calculo que, sei lá…
- Quem estava no comando de tudo isso era o capitão Freddie Perdigão Pereira, e eu disse que eles não sabiam nada. Na minha visão, né? E foi uma bobagem eu falar aquilo. Eles eram uma força extrema diante da menina e do rapaz. Então esse Freddie Perdição me pegou pelo pescoço, me encostou na parede e me chamou de “comunista”, na época, né? Depois ele disse que eles eram da esquerda, que eram comunistas. Até então eu não tinha uma noção muito exata do que era aquilo.
- Não concordei nem um pouco com aquilo. Foi uma covardia muito grande. E depois eles foram tirados de lá, já estavam quase apagados. Apanharam muito. A menina tomou choque na vagina, no ânus, na boca, nos lábios… E eles ficaram desfalecidos ali. Aí foram dispostos um do lado do outro no chão. E o Freddie Perdigão disse: “Esses aí não servem mais para nada, não têm mais utilidade nenhuma”. E sacou uma pistola e atirou na cabeça de cada um. Executou os dois ali.
- Eu venho contando isso há mais de 40 anos para muitas autoridades. Tenho nome e documentos aqui, inclusive, pra provar. E falei com muitas pessoas. A última pessoa, inclusive, o Caco Barcellos fez uma matéria sobre isso no ano 2001.
- E já propus que me levassem ao foro devido para falar sobre isso… Já falei com juízes do Exército… Tem muita gente boa no Exército. Tem generais aí que devem ficar horrorizados com essas coisas… E a última tentativa que eu fiz foi no GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), lá em Brasília, no quarto andar. Fui recebido por três coronéis e tentei falar tudo o que eu sempre falei e estou falando aqui, dentro da legalidade que mandam os ditames da política e inclusive das Forças Armadas, do Exército. É você procurar superiores para falar a respeito de tudo isso que estamos falando aqui. Mas nem documentos eles quiseram ver. Inclusive um deles me tratou de uma forma muito grosseira.
Os militares são O Poder novamente. E querem seguir no Poder.
Bolsonaro é o boneco do ventríloquo. Seu pré-candidato a vice é o general Braga Neto.
Até outro dia, o ministro da Defesa.
Braga Netto foi convidado para o governo dois dias depois do assassinato do capitão Adriano da Nobrega.
Figura central no esquema das milícias no Rio de Janeiro.
Porque Adriano era acusado de ser um matador.
De chefiar uma equipe de pistoleiros. O Escritório do Crime.
Poucos podem conhecer essa história mais a fundo do que o anunciado vice de Bolsonaro, General Braga Netto.
Porque em 2018 ele foi interventor militar no Rio de Janeiro.
Com todos os serviços de informação, das Forças Armadas e das polícias a seu serviço.
Da intervenção no Rio, Braga Netto foi chefiar o Estado Maior do Exército.
Portanto, o que Braga Netto sabe sobre milícias e facções, do crime organizado no Rio, o exército deve saber, tem que saber.
O exército, as Forças Armadas, querem continuar no Poder.
Tutelando o país.
O Estado não investigou e não puniu pra valer os crimes cometidos pela ditadura.
Sequestros, tortura, desparecimentos e assassinatos.
Agora novamente expostos para quem quiser ver, ouvir, aprender.
Se 21 anos de terror não foram punidos, não será o ridículo e grotesco espetáculo de um milhão de quilos de carnes, de dinheiro público pagando Viagra e próteses penianas que será investigado pra valer.
Sim, obviamente há o que se investigar no sistema de licitação dessa farra militar.
A começar por quem leva o que para a própria residência, para a própria casa.
E, sim, essa farra pantagruélica desmoraliza as Forças Armadas dentro e fora do país.
Basta ver no noticiário mundo afora. E, sim, isso une ainda mais as Forças Armadas.
Fortalece ainda mais seu secular desejo de seguir no Poder.
Fazendo-se de heróis em defesa da Pátria, essa pátria que vai sendo estraçalhada, quando a começar o exemplo pelo topo ora no Poder, o que querem é o que milhões querem: se dar bem, ter uma vida boa.
Não por acaso a aliança de militares com o Centrão, símbolo-mor da corrupção, o tal Centrão.
E a cumplicidade, a sociedade com um governo que, para tentar se reeleger, já tem medidas de sua máquina pública que ultrapassam os R$ 600 bilhões.
E aquilo que, quando se está na oposição, se chama de mamata, mordomia ou, pior ainda, corrupção.
Como desde sempre, para se manter no Poder, inventam inimigos e fazem o que bem entendem.
Diante de um país de história marcada por extremadas violências, inclusive física e oral, e ainda mais extrema covardia moral.
As fitas do Superior Tribunal Militar na ditadura e a repetição das denúncias do soldado Valdemar Martins Oliveira ensinam mais uma vez...
Ao menos duas coisas não se consegue esconder: a tosse e quando um país, um sistema está profundamente corrompido.
Com o desprezo e aquela valentia de quem tem a seu lado o poder das armas, mas não a história, por mais que tentem, o presidente do Superior Tribunal Militar, Luiz Carlos Gomes Mattos respondeu à denúncia sobre fatos já conhecidos por quem pode e quer conhecer.
- Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. Porque a minha não estragou.
A arrogância e o deboche diante da denúncia, feita, repetida por um militar, mostram o que pensam, quem são os militares novamente donos do poder no Brasil.