sábado, 10 de outubro de 2009

Allan Kardec, 1804-1869



Música: Noturno Nº 19, Op. 72, nº 2, de Chopin





Quem foi e o que fez Allan Kardec





Durante todo o século XVIII, a França se ergueu como o farol intelectual da civilização ocidental. Para lá iam artistas, professores, filósosfos e cientístas. Apesar do esbanjamento e da corrupção da côrte, Paris foi, desde muito tempo, a capital europeia mais atrativa para os intelectuais do continente. Juntamente com a Alemanha, sua maior rival, a França era quem dirigia os rumos do intelecto humano, e foi com o Iluminismo que Paris passou ser conhecida como "a Cidade Luz", pois, depois de tanto tempo à mercê dos ditames do clero e da aristocracia, o homem era incentivado a ser independente, a pensar com a própria cabeça. "Todos os homens são iguais", era o slogan do Iluminismo, que nasceu e teve seus maiores conseqüências em solo francês.

Embora tenha sido, na verdade, um retumbante movimento burguês, com seus lamentáveis e invitáveis excessos, a Revolução Francesa teve o mérito de desmitificar a pseudo-superioridade das classes privilegiadas (a corrupta aristocracia e o hipócrita clero católico), levantando a bandeira contagiante da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", e da "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão". Evidentemente, a efervescência do período desembocou num paradoxo: surge o império napoleônico. Mas os frutos intelectuais da Revolução permitiram limpar a Europa do velho ranço aristocrático, forçando a melhoria dos direitos sociais em todas as nações do ocidente, fortificando, mais do que nunca, o papel do Direito.

Foi em meio a esse clima de mudanças e de reconstrução de um novo mundo, onde vingava, por toda parte, o perfume primaveril do romantismo, que nasce, a 03 de outubro de 1804, em plena era napoleônica, na cidade de Lyon, Hippolite Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo Allan Kardec. Ele era filho de um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e sua mãe chamava-se Jeanne Duhamel.

Conta-se que o pai o iniciou com todo cuidado nas primeiras letras e o incentivou à leitura dos clássicos, já em tenra idade. Denizard Rivail sempre se mostrou muito interessado em ciências e em línguas. Após completar os primeiros estudos em Lyon, Denizard partiu para a Suiça, para completar seus estudos secundários na escola do célebre professor Pestalozzi, na cidade de Yverdun. Bem cedo o jovem de Lyon chama a atenção do mestre, que o coloca como seu auxilar nos trabalhos acadêmicos que exercia, tendo algumas vezes substituido Pestalozzi na direção da escola, enquanto este empreendia alguma viagem de divulgação de sua metodologia de ensino ou era convidado para criar, em outras localidades, uma insituição nos moldes de Yverdun. Denizard também exercia com prazer o papel de professor, ensinando aos seus colegas as lições que aprendera. Ele, apesar de tão responsável, era visto como um jovem amável e espirituoso, mas muito disciplinado. Não há registros de que tenha sido mal-quisto em qualquer fase de seu período estudantil.

Denizard Rivail bacharelara-se em Letras e Ciências. Falava fluentemente vários idiomas. Após ser dispensado do serviço militar, resolve fundar, em Paris, uma escola nos moldes da de Yverdun, que foi chamada de Liceu Polimático. Ele estava empenhado no aperfeiçoamento pedagógico da educação francesa, e, por isso, escreveu vários livros no assunto, tendo sido premiado, em 1831, por seu trabalho, pela Academia Real de Arras. Por esta mesma época casa-se com a professora Amélie Gabrielle Boudet.

Quando tudo parecia ir bem, o sócio de Rivail, que era seus tio, leva o Liceu à ruína, por dissipar, no jogo, vastas somas. Nada restava a Rivail que pedir a liquidação do Instituto a que se dedicara com tanto amor. Com o dinheiro resultante da partilha, Rivail sofre um outro revés da sorte. Após ter aplicado o dinheiro na casa comercial de um de seus amigos, este logo abre falência, por realizar maus negócios, e Denizard se vê na constrangedora situação de nada mais ter.

Para poder sobreviver, Rivail se lança freneticamente a escrever livros didáticos e a trabalhar como contador de três firmas comerciais, o que lhe possibilitou, após o susto e o desespero iniciais, recuperar parte de seu antigo padrão de vida. Chegou a organizar, também, cursos de Física, Química, Astronomia e Anatomia Comparada que eram muito populares entre os jovens da época.

Depois de algum tempo, Denizard Rivail já tinha o necessário para viver com certo conforto e se dedicar ao ensino novamente.

Quase que paralelamente a estes acontecimentos na vida de Denizard Rivail, ocorre nos E.U.A um conjunto de fenômenos que deram início ao nascimento do moderno espiritismo (este termo, espiritismo, foi cunhado em 1857, por Rivail, para distinguir este movimento do de outras escolas espiritualistas). Trata-se dos fenômenos ocorridos em Hydesville, estado de New York, em 1848, na casa da família Fox, que era metodista, e, portanto, longe de ter qualquer queda ou interesse por fatos que poderíamos hoje chamar de paranormais. As fortes pancadas pancadas que começaram a ser violentamente ouvidas no quarto das irmãs Katherine e Margaretta e que se fizeram frequentes por várias semanas levaram a primeira, então com nove anos, a desafiar "o batedor" a reproduzir as pancadas que ela mesma daria. A prontidão das respostas acabaria por marcar o início desse tipo de comunicação entre vivos e mortos (Enciclopédia Mirador-Britannica, p. 4171).

Por esta época, em Paris, estava em voga uma nova moda (como se dizia na época). Tratava-se das chamadas "mesas falantes" ou "mesas girantes", que consistia em se fazer perguntas ao redor de uma mesa ou outro móvel qualquer que respondia através de pancadas às perguntas formuladas. Isto era visto apenas como uma sutil e inexplicável diversão de salão, quando não era encarada como uma brincadeira ou embuste espirituoso. Mas havia quem levasse a sério tais coisas, pois muitas vezes as mesinhas davam respostas corretas sem que ninguém conseguisse provar o descobrir quem ou o que fazia as mesas responderem as questões. Convém notar que esta "moda" das mesinhas que giravam parecia ocorrer em todos os lugares e em vários países, num boom que dificilmente pode ser creditado ao acaso. Em 1854, Deinzard ouve falar pela primeira vez sobre tais "fenômenos", mas sua primeira atitude é a de ceticismo: "eu crerei quando vir, e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, dêem-me a permissão de não enxeragar nisso mais que um conto para provocar o sono".

Por insistência dos amigos, Rivail presencia algumas das manifestações físicas das mesinhas. Depois da estranheza e da descrença inicial, Rivail começa a cogitar seriamente na validade de tais fenômenos. Eis o que ele nos relata: "De repente encontrava-me no meio de um fato esdrúxulo, contrário, à primeira vista, às leis da natureza, ocorrendo em presença de pessoas honradas e dignas de fé. Mas a idéia de uma mesa falante ainda não cabia em minha mente". E ainda: "Pela primeira vez pude testemunhar o fenômeno das mesas que giravam e pulavam em tais condições que dificilmente poderia se acreditar serem frutos de embuste ou frade (...) Minhas idéias longe estavam de terem sofrido uma modificação, mas em tudo aquilo que se sucedia devia haver uma explicação" (segundo Henri Sausse, in Allan Kardec, ed. Opus, 1982). Foi em 1855 que Rivail testemunha pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Passa então a observar estes fatos; pesquisa-os cuidadosamente e, graças ao seu espírito de investigação, que sempre lhe fora peculiar, resiste a elaborar qualquer teoria preconcebida. Ele quer, a todo custo, descobrir as causas. Como disse Henri Sausse: "(...) Sua razão repele as revelações, somente aceita observações objetivas e controláveis. (...) Vários amigos que acompanhavam há cinco anos o estudo dos fenômenos, (...) colocam à sua disposição mais de cinquenta cadernos, contendo as comunicações feitas pelos Espíritos (...). O estudo desses cadernos constituiu, para Rivail, o trabalho mais profundo e mais decisivo. Foi por esse estudo que ele se (...) convenceu da existência do mundo invisível e dos Espíritos."

Ele utilizava o material dos cadernos, com as respostas dadas pelos supostos espíritos, para refazer as mesmas perguntas para outros médiuns, de preferência desconhecido dos primeiros. Com base nas novas respostas, Rivail comparava o conteúdo de ambas, e ficava perplexo com as similaridades freqüêntes entre as elas. Ele reformulava as perguntas, e pedia a ajuda de amigos para faze-las a outros médiuns, em outras localidades. Ele recebia as respostas e compilava-as organizadamente por tópicos e assuntos.

Como poderia pessoas que nunca se viram dar as mesmas respostas para as mesmas perguntas, às quais possuiam, frequentemente, um grande peso filosófico e uma amplidão de conhecimentos que escapavam à formação ou aos conhecimentos normais dos médiuns? A única resposta lógica seria a de que agentes inteligentes as dariam por intermédio de certas pessoas com uma sensibilidade psíquica especial: os médiuns. Além do mais, Rivail notou que poderia existir uma extraordinária discrepância entre o desenvolvimento moral e intelectual de um médiun e as comunicações obtidas em estado de transe, que na época se chamava estado sonambúlico, ou, algumas vezes, de mesmerização, nome devido ao pioneiro da hipnose, Mesmer. Sendo assim, a faculdade de comunicar-se com os agentes inteligentes invisíveis independente do grau de desenvolvimento espiritual do médiun, havendo médiuns moralmente medíocres, e até mesmo, perversos, e outros médiuns de grande desenvolvimento moral, que podem, uns e outros, receberem mensagens de cunho elevado ou banal.

Por estarem numa dimensão diferente da nossa, estes agentes inteligentes invisíveis teriam de vivenciar uma realidade própria ao estado vibratório de sua dimensão que explicaria algumas características das repostas dadas. Isso abriria um imenso leque de cogitações e de explicações extraordinárias. Mas Rivail não se deixou levar pelo entusiasmo.

Ele percebeu claramente, desde o início, que muitas das respostas obtidas por meio dos médiuns eram tolas e pueris, e outras tinham muito a ver com os conhecimentos ou as crenças do próprio médium, embora, durante o transe, ele comumente não tivesse consciência do que dizia ou escrevia. Assim, Rivail chegou às seguintes conclusões:

Primeiro, se são agentes inteligentes não físicos que dão as respostas, nem por isso eles parecem ser muito diferentes dos homens vivos, pois suas respostas são parecidas às repostas que qualquer homem daria, inclusive dentro do nível de instrução a que tenham chegado, pois há respostas muito bem elaborados junto com muitas outras muito fúteis. E, segundo, algumas vezes as respostas são dadas de forma não-consciente, pelo próprio médium. Então, seria o agente inteligente do próprio médium que daria certas respostas, em certas ocasiões. Estas repostas não são destituídas de valor. Elas podem apresentar um extraordinário grau de maturidade, mesmo que sejam estranhas ao pensamento normal do médium quando em estado de vigília ou de consciência desperta noraml.

Assim, Denizard Rivail reconhecia clara e lucidamente que as entidades, por serem seres extra-corpóreos, nem por isso eram necessariamente mais sábias que os homens encarnados. Elas mesmas diziam que nada mais eram do que os Espíritos dos homens que já morreram, e por isso mesmo, continuavam tão humanas e cheia de falhas quanto antes. E mais ainda, Rivail antecipou-se extraordinariamente em mais de quarenta e três anos a Sigmund Freud (1856-1939) ao reconhecer uma ação incionsciente pessoal agindo sobre a manifestação mediúnica, algumas vezes. Assim, poderemos nos perguntar, Rivail não teria sido um precursor da cética Psicanálise?

Com o estudo meticuloso das respostas dadas pelos espíritos, por meio de diversos médiuns e em diversas localidades de diversos países, Rivail teve suficiente material para compor um livro. Ele faz uma lúcida introdução sobre seu trabalho no prefácio da obra que fez nascer o moderno Espiritismo: O Livro dos Espíritos, lançado em Paris, em 18 de abril de 1857 (faça um download deste e de outros livros de Kardec na Home Page da FEB). Na capa da obra, está o nome do autor, ou melhor, o seu pseudônimo, Allan Kardec. Rivail preferiu por este nome em sua mais importante obra, para diferenciar sua temática das de suas obras anteriores, voltadas à educação e à pedagogia. E por que Allan Kardec? Bem, certa ocasião, depois repetida inúmeras vezes, um espírito, que se denominava de Z, havia dito a Rivail que eles haviam sido amigos numa vida anterior! Eles haviam vivido entre os Druidas, nas Gálias, e o nome de Rivail era, na ocasião, Allan Kardec. É incrível, mas mais uma vez uma antiga concepção (certeza?) fluente no ocidente desde Pitágoras, Sócrates, Platão, Plotino e entre os povos originários da Bretanha Maior e Menor, como os dos Celtas, bem como como nos chamados movimentos heréticos como a dos Cátaros e a dos Templários, vinha à tona novamente na Europa: a idéia da Reencarnação.

De uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes, O Livro dos Espíritos possui passagens e reflexões que vão muito além do nível de conhecimento ordinário de sua época de publicação, inclusive no que tange aos aspectos científicos da obra. Citemos, só de passagem, a noção de evolução das espécies vivas dado pelos espíritos e comentado por Kardec, publicado nesta obra um ano antes do livro seminal de Charles Darwin, A Origem das Espécies, ou , ainda, da indentidade entre matéria e energia (chamado por Kardec de fluido universal), que se diferenciam entre si apenas por um estado de condensação da energia, muito antes de Albert Einstein.... De igual modo, as noções de percepção de consciência como sendo diferentes manifestações de maturação psíquica lembra e muito as atuais abordagens da Psicologia, principalmente a Psicologia Transpessoal. Há momentos em que a apresentação da doutrina em O Livro dos Espíritos não fica a dever em nada às melhores teorias da personalidade da Psicologia moderna. A descrição de Kardec do Fluido Universal lembra a do conceito de orgônio, ou orgon, dado pelo psicanalista Wilhelm Reich, pai da Bioenergética. Da mesma forma, os fundamentos e causas do processo da reencarnação é idêntico aos fundamentos e causas postulados por alguns psicoterapêutas (muitos dos quais não conhecem Allan Kardec) e que, por meios de desenvolvimento e pesquisas diversos, a paritr do atendimento clínico de pacientes, chegaram à técnica da Terapia de Vida Passada - TVP. E a filosofia de vida que a doutrrina estimula a adotar é, em muitos pontos, similar às condições propícias ao desenvolvimento da auto-atualização que é o lema dos psicólogos humanistas, tais como Abraham Maslow e Carl Ransom Rogers. A noção de animismo aponta para o conceito de inconsciente que teve em Sigmund Freud seu mais sério teórico, e a de evolução espiritual lembra o processo de individuação postulado pelo gênio de Carl Gustav Jung.

E ainda mais assobroso, Kardec logo reconheceria que seu estudo sobre a comunicação dos chamados espíritos (como elas mesmas se diziam ser, as forças inteligentes), que ele chamou de espiritismo, não trazia nada de realmente novo, a não ser o fato destes fenômenos serem vistos e entendidos sob a ótica moderna, científica: (...) Constituindo uma lei da natureza, os fenômenos estudados pelo Espiritismo hão de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antigüidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor da mentempsicose (ou seja, da transmigração da alma pela reencarnação); ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais (...) o que não padece dúvidas é que uma idéia não atravessa séculos e séculos, e nem consegue impor-se à inteligências de escol, se não contiver algo de sério (...)" (Kardec, p. 143 de O Livro dos Espíritos, ed. FEB).

É por isso também que a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de 1864 (obra de cunho filosófico com o objetivo de escalarecer a posição da doutrina frente à mensagem do Cristo) traz um estudo histórico que culmina em um resumo do posicionamento de Sócrates e Platão como precursores dos mais elevados ideiais cristãos e, em suas filosofias, de vários tópicos do espiritismo, como bem fica evidenciado no diálogo Fédon, de Platão. Já em O Livro dos Espíritos, Kardec tece comentários sobre a ancestralidade das idéias básicas do espiritismo (c.f. capítulo V da obra citada) e como os fenômenos ditos espíritas são universais.

Os fenômenos que caracterizam o espiritismo, especialmente o da comunicação entre vivos e "mortos", são mencionados e reconhecidos como existentes em todas as épocas da humanidade, qualquer que seja a cultura considerada. Um dos mais antigos e claros registros a este respeito, dentro de nossa tradição judáico-cristã, é a referência bíblica que está em 1 Samuel 28,7-19, onde Saul visita a pitonisa (médium) de En-Dor, que lhe possibilitou a comunicação com o espírito do profeta Samuel. Os fenômenos referentes ao Novo Testamento, mais apropriadamente aos Evangelhos, podem ser consultados na Home Page sobre Jesus.

A idéia da reencarnação, por exemplo, é tão antiga e universal quanto a própria humanidade (ver o capítulo V de O Livro dos Espíritos), e é a base de diversas tradições filosóficas e religiosas do oriente, como o Budismo e o Hinduismo, por exemplo, e a das religiões pré-cristãs da Europa, como a dos Druidas, ou, posteriormente, baseados no cristianismo, o posicionamento de alguns pais da Igreja antes do concílio de Constantinopla, em 533, quando a doutrina da reencarnação foi abolida por motivos políticos, mas que é encontrada em figuras excepcionais da igreja, como em Orígenes de Alexandria, só para citar um exemplo. Ainda houve a presença de alguns movimentos fortemente contestatórios da ação da Igreja de Roma, como a dos Cátaros, embora os conhecimentos antropológicos, históricos e sociológicos de seu tempo não permitissem a Kardec ir muito além na análise destas tradições, filosofias e ocorrências históricas. Além do mais, diferentemente de outras escolas espirtualitas, Kardec fez absoluta questão de expor seus estudos de forma racional, sem cair nas armadilhas do discurso místico ordinário, mais levado pela emoção e pela fantasia que pela razão, a partir de fatos, fenômenos e percepções reais, com o máximo zelo à análise e ao cuidado da descrição dos fenômenos a partir de sólidos referenciais lógicos. Seu trabalho seria, então, de trazer ao nível intelectual moderno alguns fenômenos que sempre acompanharam o homem em sua história e que foram negligencados pela ciência mecanicista moderna, principalmente a partir do legado mecanicista de Descartes e de Newton, apesar de ambos terem sido pessoas espiritualizadas, principalmente o segundo, que foi o primeiro grande cientista da era moderna e o último grande mago dos tempos alquímicos.

Em 1º de Janeiro de 1858, Allan Kardec publica o primeiro número da Revista Espírita, que serviu como poderosa auxiliar para os trabalhos ulteriores e para a divulgação da Doutrina Espírita na Europa e América.
Segundo Henri Sausse, "em menos de um ano (...)", a Revista Espírita "(...) estava espalhada por todos os continentes do Globo. (...) De tal maneira aumentou o número de assinantes, que Kardec, a pedido destes, reimprimiu duas vezes as coleções de 1858, 1859 e 1860 (...)".

Dentre os mais célebres admiradores, amigos e estudiosos de Kardec ou do espiritismo, destacamos o famoso astrônomo francês Camille Flammarion, o filósofo H. Bergson, o psicólogo e filósofo William James, o físico William Crookes, o biólogo Alfred Russel Wallace, o físico Oliver Lodge, o escritor Arthur Conan Doyle, dentre inúmeros outros.

Podemos expor a importância do trabalho de Kardec por estas palavras do pai da moderna Parapsicologia, o fisiólogo Charles Richet: "Allan Kardec foi o homem que no período de 1857 a 1871 exerceu a mais penetrante influência, e que traçou o sulco mais profundo na ciência metapsíquica" (Charles Richet in "Traité de Métapsychique", p. 34). Da mesma forma, vários outros estudiosos confirmam a importância de Allan Kardec no desenvolvimento dos estudos psíquicos no mundo inteiro. Camille Flammarion, um dos maiores astrônomos da história, sempre lhe foi grato pelos estudos que eram correntes na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, e foi ele quem fez o discurso fúnebre de Kardec, e a lista poderia se alongar com o nome de vários outros célebres pesquisadores, como Ernesto Bozzano, César Lombroso, dentre vários outros.

Em 1º de abril de 1858, Allan Kardec funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que tinha por objetivo "(...) o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas. (...)" - Não era intenção de Kardec fundar uma religião, como ocorreu posteriormente a partir do seu legado. Para ele "A ciência espírita compreende duas partes: uma experimental, relativa às manifestações em geral; a outra, filosófica, relativa às manifestações inteligentes e suas conseqüências" (Kardec, in O Livro dos Espíritos, tópico XVII da Introdução). Discutiremos sobre isso mais adiante, tomando o próprio Kardec e outros autores como referência.

Em outubro 1861 ocorreu um patético acontecimento, para não dizer repulsivo. Trata-se do famoso "Auto-de-Fé", promovido pela Igreja Católica na cidade de Barcelona, Espanha, onde foram queimadas em praça pública cerca de trezentas publicações espíritas. Estas obras, encomendadas a Allan Kardec pelo bibliotecário e livreiro Maurício Lachâtre, foram enviadas de forma comum, nas condições alfandegárias normais, tendo as taxas de importação sido pagas pelo destintário às autoridades espanholas; porém a entrega das encomendas não foi realizada. Elas foram confiscadas pelo Bispo de Barcelona, com a seguinte justificativa: "A Igreja Católica é universal, e estes livros são contrários à fé católica, não podendo o governo (veja só, voltamos a ter a mistura do poder temporal com o religioso, sendo este último mais forte) permitir que eles passem a perverter a moral e religião de outros países".

Talvez com saudades dos áureos tempos de absoluto domínio das consciências humanas, à base de ferro e fogo, o douto Bispo de Barcelona, em doentia demonstração de esnobismo típicas de quem se acha no direito pertencer à seleta instituição dos únicos representantes da vontade de Deus na Terra, fez reacender as fogueiras que tantas vítimas inocentes fizera em séculos anteriores, onde, pelas mãos de um carrasco, as obras foram queimadas certamente no lugar das pessoas que deveriam lá estar: os espíritas franceses em geral, e um homem em particular: Allan Kardec. Em tudo a pantomima seguiu as regras de uma execução inquisitorial, como podemos ler pelos autos do processo:

"Assitiram ao auto-de-fé:

"Um padre, com seus hábitos sacerdotais, tendo, em uma das mãos, a cruz e, na outra, uma tocha;

"Um tabelião encarregado de redigir o processo verbal do auto-de-fé;

"O assitente do tabelião;

"Um funcionário superior da administração das alfândegas;

"Três serventes da alfândega, com a função de alimentar o fogo;

"Um agente da alfândega, representando o proprietário das obras condenadas;

"Uma incalculável multidão se fez presente, enchendo os passeios, cobrindo a esplanada onde ardia a fogueira;

"Depois de o fogo ter consumido os trezentos volumes e brochuras espíritas, o sacerdote e seus auxiliares retiraram-se cobertos pelas vaias e maldições dos inúmeros assitentes, que bradavam: Abaixo a Inquisição!

"Depois, muitas pessoas, em protesto, aproximaram-se e apanharam as cinzas".

E, graças a esta demonstração de brutalidade da religião de Roma, o espiritismo acabou tendo uma grande repercussão em toda a Espanha, granjeando inúmeros adeptos. De certa forma, este ato alçou o Espiritismo ao mesmo patamar de outros mártires da liberdade de espírito, incluindo Jacques DeMolay, Galileu, Giordano Bruno e aquela que, com toda a infalibilidade papal, foi condenada como bruxa à fogueira para, quatro séculos depois, ser elevada à categoria de santa, Joana D'Arc (demorou bastante para a infalibilidade papal reconhecer o erro).

Eis uma observação de Kardec, na Revue Spirite de 1864, p. 199, com respeito à divulgação do Espiritismo como umra religião pelos doutores da Lei da era moderna: "Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até o presente, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar uma religião, o clero é quem o terá provocado".

Kardec passou o resto da de sua vida no mister de divulgar os resultados de seus estudos e os de outros colegas. Empreendeu inúmeras viagens pela França e pela Bélgica entre 1859 a 1868, e escreveu várias brochuras e pequenos artigos para a divulgação do Espiritismo.

Kardec escreveu ainda muitos outros livros, entre eles se destacam O Livro dos Médiuns, de 1861; em 1864, O Evangelho Segundo o Espiritismo; em 1865, o maravilhoso O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo; em 1868, A Gênese. Sempre lúcido e lógico, soube como enfrentar a oposição e difamação de inimigos gratuitos com dignidade e nobreza, reconhecendo quando algum argumento oposto tinha um valor sério e sincero. Manteve-se à frente da Societé Parisiene D'Études Spirites, além de de escrever outros livros e artigos para a Revista Espírita, até seu desencarne, ocorrido em 31 de março de 1869, aos 65 anos de idade, causado por um colápso cardíaco.


Princípios básicos da Doutrina Espírita



- Deus -


1. Existe uma Inteligência Suprema, Absoluta, não cogniscível, Causa Primária de todas as coisas, que se chama Deus, Jeová, Iavé, Alá, Brahman, O Uno, Grande-Espírito, etc. Não há efeito sem causa. A causa de um universo ordenado é, pois, uma causa acima do universo. Deus, portanto.

2. Deus está acima de qualquer definição. Como nos fala Plotino, Deus está, por ser Absoluto, acima de qualquer definição, pois Ele/Ela é infinito em seus atributos e perfeições. Além, portanto, das limitações do pensamento intelectual humano. Qualquer que seja a palavra usada para se ter uma idéia de Deus, ela sempre estará expressando algo de limitado, humano. Mas, ainda assim, podemos dizer, numa etapa didática de analogia possível ao homem, que Deus é eterno, imutável, imaterial, único, soberanamente justo e bom e Infinito em todas as suas perfeições. Mesmo estas definições são coisas sem muito sentido para se definir Deus. Expressam pálidas idéias humanas, e seu sentido pode variar de uma para outra pessoa. E é por isso que assim falam os espíritos: "Creia, não queiras ir além do fato intuitivo da existência de Deus. Não vos percais num labirinto que vos confundirá e do qual não podereis sair. Isso não vos tornará melhores, mas um pouco mais orgulhosos, porque vocês acreditaram saber sobre algo que, na verdade, vos escapa e do qual nada, em realidade, sabes. Deixai, pois, de lado todos estes sistemas que apenas vos dividem; tendes bastante coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertar delas, o que vos será mais útil e mais benéfico do que pretenderes penetrar com vossas limitações no que é impenetrável" (Resposta dada pelos espíritos à pergunta nº 14 de O Livro dos Espíritos)


- O Espírito -


3. Há no homem, ou melhor, É o homem, em sua essência, um princípio inteligente, a que normalmente chamamos "Alma" ou "Espírito", independente da matéria, em íntimo contato com o corpo, que é-lhe instrumento de aperfeiçoamento, e que possui todas as faculdades morais e psíquicas inerentes ao ser humano.

4. As doutrinas materialistas são, em grande parte, responsáveis pelo estado de náusea e desesperança que aflige, em grande parte, a humanidade. Veja-se o tópico sobre Holismo para um maior aprofundamento sobre esta afirmação.

5. O Espiritismo, enquanto Ciência (aspecto tão enfatizado por Allan Kardec, mas, atualmente, um tanto negligenciado pelos espíritas brasileiros, que transformaram a doutrina em quase que unicamente uma religião), o Espiritismo prova a existência da alma por meio dos atos inteligentes do homem e pelos atos inteligentes das manifestações mediúnicas.

6. A alma humana, ou espírito, sobrevive ao corpo, embora traga em si traços deste corpo, e conserva a sua individualidade após a morte deste.

7. A alma do homem é ditosa ou infeliz depois da morte em conseqüência direta de seus atos durante a vida, que se inscrevem em sua consicência moral.

8. A existência de um Ser Supremo, Deus, a alma e a sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, bem como o estado de felicidade ou infelicidade futuras, constituem princípios básicos fundamentais de, praticamente, todas as religiões. Por isso todas as religiões são válidas. Elas representam modalidades do entidimento do transcendente de acordo com os diversos estados de consciência do ser humano.

9. Todas as criaturas vão, sucessivamente, evoluindo no plano moral e intelectual, pelas diversas etapas por que passam nas várias reencarnações, num contínuum que vai surgindo em progressão dos reinos inorgânicos até os mais incorpóreos e espirituais.

10. A Terra não é o único planeta habitado, e nem o mais aperfeiçoado. Existem uma infinidades de mundos habitados, que oferecem vários âmbitos de evolução e aprendizado para os espíritos.

11. Há uma lei de causalidade moral, conhecida como Lei do Carma, que interliga as várias vidas sucessivas do espírito, de modo a lhe dar o meio condizente com os atos praticados anteriormente, mas onde pode atuar agora, por meio de seu livre-arbítrio.


Comentários


O aspecto moral da doutrina, resutante da filosofia espírita, foi posteriormente confundido e amalgamado com um aspecto religioso. Por possibilitar, através de sua filosofia, uma religação efetiva com a dimensão espiritual do homem, o espiritismo permite usufrir ao seu estudioso um sentimento de religiosidade, no sentido latino do termo (religare, ou seja de se religar com algo superior, transcendente) que vai muito além do sentido atual da palavra religião. A Religiosidade, que é sentimento superior ao estreito rótulo da religião, é que preenche de fato a doutrina espírita.

É o próprio Kardec quem também nos fala que o espiritismo, por ser uma ciência e uma filosofia, "é, pois, a mais potente auxiliar da religião" (Kardec, O Livro dos Espíritos, página 111 da edição da FEB), sendo, pois, algo que, se não é uma religião em si, a não ser que se queira isso, respeita todas as religiões, pois elas são a expressão da ânsia humana pelo sublime e pelo transcendente, e são válidas, assim como cada teoria de personalidade, na Psicologia, é válida de acordo com o posicionamento e maturação psicológica e emocional de cada indivíduo. Infelizmente, fizeram do espiritismo o que bem quiseram, do mesmo modo como fizeram o que bem quiseram dos ensinos do Cristo, de Sócrates, e outros....

Um estudo realmente aprofundado e sistematizado do obra de Kardec escalareceria a todos sobre estes pontos, que acredito ser de fundamental importância para a maturação da tolerância entre as diferenças religiosas e uma vacina contra qualquer tipo de dogmatismo que, vez por outra, parece brotar no posicionamento religioso de alguns espíritas e dirigentes espíritas brasileiros que, por força da tradição católica em nossa cultura, têm transformado alguns centros - que deveriam ser casas sérias de estudos psíquico-espirituais- em verdadeiras igrejas - e sem a competência destas, pois algumas pessoas passam a dar palestras sem mínimo de aprofundamento na doutrina ou nas ciências psíquicas, como em psicologia e psiquiatria, além das leituras básicas da codificação kardequiana, tirando conclusões apressadas e/ou equivocadas de alguns fenômenos psicológicos que incidem sobre parte de nossa população, taxando-os de obsessão e outras coisas mais. Ora, nem todos os problemas são causados por pertubações espirituais - isso é acusar os espíritos injustamente -, ou, se existe alguma parcela disto, foi por algum desajuste primeiro do sujeito encarnado, desajuste de cunho íntimo e pessoal que precisa de tratamento mais dirigido ao aspecto psicológico, mundando seus o padrão de pensamentos e os hábios mentais imediatos que é a causa de atração do espírito desencarnado, por sintonia psíquica. Sendo assim Kardec apontou para o fato de que muitos de nossos desajustes se devem à causas pisicossomáticas e espirituais interligadas, pondo-se, portanto, bem à frente do desenvolvimento da psicologia de seu tempo, apontando para as teorias correntes agora, nos meios acadêmicos sobre o papel da medicina psicossomática na dinâmica das doenças e distúrbios mentais.

Kardec tinha plena consciência do fato de que os conhecimentos adquiridos em seus estudos eram apenas o primeiro passo de uma longa jornada, e, como nos fala o grande escritor Léon Denis em sua obra "Depois da Morte", no capítulo XX, "A doutrina de Allan Kardec, nascida - não será demasiado repetí-lo - da observação metódica, da experiência rigorosa, não se torna um sistema definido, imutável, fora e acima das conquistas futuras da ciência. Resultado combinado de conhecimentos dos dois mundos, de duas humanidades de planos paralelos penetrando-se uma na outra, ambas, porém, imperfeitas e a caminho do entendimento de verdades mais profundas, do desconhecido, a Doutrina dos Espíritos transforma-se sem cessar, pelo trabalho e pelo progresso, e (...) acha-se aberta às retificações, aos esclarecimentos do futuro". E é isto que tem de ficar bem claro para o movimento espírita brasileiro, com alguns setores cristalizados e dogmatizados. A verdade é muito ampla para estar contida apenas nas obras do primeiro período da codificação, e as ciências evoluem para uma compreensão mais holística do homem e do universo que deve estar presente também nas nossas casas de estudo espíritas. E se há ainda pessoas que se realizam apenas no aspecto religioso do movimento, muitas outras há, especialmente entre os jovens, que anseiam por ver novos horizontes onde possam se lançar à altos vôos com as duas asas, como nos fala Emmanuel, da razão e a do coração.

Neste sentido é bom relembrar mais algumas palavras do próprio Kardec:

"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com AS BASES FUNDAMENTAIS DE TODAS AS RELIGIÕES: DEUS, A ALMA E A VIDA FUTURA. MAS NÃO É UMA RELIGIÃO CONSTITUÍDA, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sarcedote ou de sumo sarcedote" (...) "O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adeptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade". (Kardec, in "Obras Póstumas" - Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, páginas 260 e 261 da 21º edição da FEB, com destaques meus).

Ora, é muito lamentável que algumas instituições que se dizem espíritas tenham em seus meios pessoas com a pseudo-sabedoria de se arvorarem donas de todo o conhecimento e evitem o contato com outros sistemas de pensamento ou com as novas descobertas científicas. Esquecem-se, em nome do dogmatismo e da vaidade, os dois mandamentos essenciais do espiritismo: "Espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo", e põem um limite quase instransponível entre a mesa, com seus dirigentes, e a assembléia, num arremedo de hierarquia, arremate de um nível de poder político comum às religiões institucionalizadas. Ainda há tempo de retomar a seara da forma como foi planejada por Kardec, basta humildade e solidariedade, nada mais, junto com um sincero desejo de estudar e de instruir-se. Felizmente nas fileiras espíritas brasileiras existem lumiares de alto valor dentro do aspecto científico e filosófico, como Hernani Guimarães Andrade, Henrique Rodrigues, Hermínio C. Miranda, Clovis Nunes, Jorge Andrea, Raul Teixeira, Divaldo P. Franco e, por meio de sua mediunidade maravilhosa, Francisco Cândido Xavier. De forma mais ou menos indireta, também temos a obra fantástica de Pietro Ubaldi que, com a sua A Grande Síntese demonstrou algumas das temáticas só agora mais ou menos popularizadas ou divulgadas como consequencia da evolução da Física Quântica ou da concepção Holística da filosofia da ciência que foram divulgadas em grande parte nas obras de Fritjof Capra. Mas isto é um outro assunto.

Acho que o precioso trabalho de Allan Kardec ainda há de ser reconhecido pelas gerações vindouras. O sucesso que sua obra logrou a ter na segunda metade do século XIX, foi, de certa forma, ofuscada pelas crises e guerras sucessivas por que passou a Europa, que acabou por entrar numa fase de descrença existencial, com a perda de seus idéias mais espirituais, bem exemplificada pelo niilismo e mecanicismo do século XX, bem como pelo surgimento de outras correntes espirituais mais esotéricas, de sabor fortemente ocultista e, por isso mesmo, mais atrantes para algumas pessoas às quais o mecanicismo de nossa época desagrada, como a Teosofia de H. P. Blavatisk, e outras. Mas só o tempo, como agora parece ocorrer, dirá o que de fato é a obra de um dos homens mais universais do século XIX.



Bibliografia Sugerida



Atenção: Alguns dos livros espíritas aqui indicados podem ser retirados (por download) pela internet
em http://www.bauhaus.com.br/secd/
ou em http://www.febrasil.org.br/lesp_br.htm

Enciclopédia Mirador-Britannica, 1992.
Kardec, Allan A Codificação da Doutrina Espírita - Coletânea das Obras básicas de Kardec, Instituto de Difusão Espírita, São Paulo, 1997.
Kardec, Allan O Livro dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Kardec, Allan O Que é o Espiritismo, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Kardec, Allan O Livro dos Médiuns, Lake, São Paulo, 1988.
Kardec, Allan O Céu e o Inferno, Lake, São Paulo, 1988.
Kardec, Allan Obras Póstumas, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Wantuil, Zeus & Thiesen, Francisco Allan Kardec, vol. I, II e III, Fed. Espírita Brasileira, 1984.
Sausse, Henri Biografia de Allan Kardec em Allan Kardec, Ed. Opus, São Paulo,1982.

Allan Kardec

"Um padre, com seus hábitos sacerdotais, tendo, em uma das mãos, a cruz e, na outra, uma tocha;

"Um tabelião encarregado de redigir o processo verbal do auto-de-fé;

"O assitente do tabelião;

"Um funcionário superior da administração das alfândegas;

"Três serventes da alfândega, com a função de alimentar o fogo;

"Um agente da alfândega, representando o proprietário das obras condenadas;

"Uma incalculável multidão se fez presente, enchendo os passeios, cobrindo a esplanada onde ardia a fogueira;

"Depois de o fogo ter consumido os trezentos volumes e brochuras espíritas, o sacerdote e seus auxiliares retiraram-se cobertos pelas vaias e maldições dos inúmeros assitentes, que bradavam: Abaixo a Inquisição!

"Depois, muitas pessoas, em protesto, aproximaram-se e apanharam as cinzas".

E, graças a esta demonstração de brutalidade da religião de Roma, o espiritismo acabou tendo uma grande repercussão em toda a Espanha, granjeando inúmeros adeptos. De certa forma, este ato alçou o Espiritismo ao mesmo patamar de outros mártires da liberdade de espírito, incluindo Jacques DeMolay, Galileu, Giordano Bruno e aquela que, com toda a infalibilidade papal, foi condenada como bruxa à fogueira para, quatro séculos depois, ser elevada à categoria de santa, Joana D'Arc (demorou bastante para a infalibilidade papal reconhecer o erro).

Eis uma observação de Kardec, na Revue Spirite de 1864, p. 199, com respeito à divulgação do Espiritismo como umra religião pelos doutores da Lei da era moderna: "Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até o presente, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar uma religião, o clero é quem o terá provocado".

Kardec passou o resto da de sua vida no mister de divulgar os resultados de seus estudos e os de outros colegas. Empreendeu inúmeras viagens pela França e pela Bélgica entre 1859 a 1868, e escreveu várias brochuras e pequenos artigos para a divulgação do Espiritismo.

Kardec escreveu ainda muitos outros livros, entre eles se destacam O Livro dos Médiuns, de 1861; em 1864, O Evangelho Segundo o Espiritismo; em 1865, o maravilhoso O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo; em 1868, A Gênese. Sempre lúcido e lógico, soube como enfrentar a oposição e difamação de inimigos gratuitos com dignidade e nobreza, reconhecendo quando algum argumento oposto tinha um valor sério e sincero. Manteve-se à frente da Societé Parisiene D'Études Spirites, além de de escrever outros livros e artigos para a Revista Espírita, até seu desencarne, ocorrido em 31 de março de 1869, aos 65 anos de idade, causado por um colápso cardíaco.


Princípios básicos da Doutrina Espírita



- Deus -


1. Existe uma Inteligência Suprema, Absoluta, não cogniscível, Causa Primária de todas as coisas, que se chama Deus, Jeová, Iavé, Alá, Brahman, O Uno, Grande-Espírito, etc. Não há efeito sem causa. A causa de um universo ordenado é, pois, uma causa acima do universo. Deus, portanto.

2. Deus está acima de qualquer definição. Como nos fala Plotino, Deus está, por ser Absoluto, acima de qualquer definição, pois Ele/Ela é infinito em seus atributos e perfeições. Além, portanto, das limitações do pensamento intelectual humano. Qualquer que seja a palavra usada para se ter uma idéia de Deus, ela sempre estará expressando algo de limitado, humano. Mas, ainda assim, podemos dizer, numa etapa didática de analogia possível ao homem, que Deus é eterno, imutável, imaterial, único, soberanamente justo e bom e Infinito em todas as suas perfeições. Mesmo estas definições são coisas sem muito sentido para se definir Deus. Expressam pálidas idéias humanas, e seu sentido pode variar de uma para outra pessoa. E é por isso que assim falam os espíritos: "Creia, não queiras ir além do fato intuitivo da existência de Deus. Não vos percais num labirinto que vos confundirá e do qual não podereis sair. Isso não vos tornará melhores, mas um pouco mais orgulhosos, porque vocês acreditaram saber sobre algo que, na verdade, vos escapa e do qual nada, em realidade, sabes. Deixai, pois, de lado todos estes sistemas que apenas vos dividem; tendes bastante coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertar delas, o que vos será mais útil e mais benéfico do que pretenderes penetrar com vossas limitações no que é impenetrável" (Resposta dada pelos espíritos à pergunta nº 14 de O Livro dos Espíritos)


- O Espírito -


3. Há no homem, ou melhor, É o homem, em sua essência, um princípio inteligente, a que normalmente chamamos "Alma" ou "Espírito", independente da matéria, em íntimo contato com o corpo, que é-lhe instrumento de aperfeiçoamento, e que possui todas as faculdades morais e psíquicas inerentes ao ser humano.

4. As doutrinas materialistas são, em grande parte, responsáveis pelo estado de náusea e desesperança que aflige, em grande parte, a humanidade. Veja-se o tópico sobre Holismo para um maior aprofundamento sobre esta afirmação.

5. O Espiritismo, enquanto Ciência (aspecto tão enfatizado por Allan Kardec, mas, atualmente, um tanto negligenciado pelos espíritas brasileiros, que transformaram a doutrina em quase que unicamente uma religião), o Espiritismo prova a existência da alma por meio dos atos inteligentes do homem e pelos atos inteligentes das manifestações mediúnicas.

6. A alma humana, ou espírito, sobrevive ao corpo, embora traga em si traços deste corpo, e conserva a sua individualidade após a morte deste.

7. A alma do homem é ditosa ou infeliz depois da morte em conseqüência direta de seus atos durante a vida, que se inscrevem em sua consicência moral.

8. A existência de um Ser Supremo, Deus, a alma e a sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, bem como o estado de felicidade ou infelicidade futuras, constituem princípios básicos fundamentais de, praticamente, todas as religiões. Por isso todas as religiões são válidas. Elas representam modalidades do entidimento do transcendente de acordo com os diversos estados de consciência do ser humano.

9. Todas as criaturas vão, sucessivamente, evoluindo no plano moral e intelectual, pelas diversas etapas por que passam nas várias reencarnações, num contínuum que vai surgindo em progressão dos reinos inorgânicos até os mais incorpóreos e espirituais.

10. A Terra não é o único planeta habitado, e nem o mais aperfeiçoado. Existem uma infinidades de mundos habitados, que oferecem vários âmbitos de evolução e aprendizado para os espíritos.

11. Há uma lei de causalidade moral, conhecida como Lei do Carma, que interliga as várias vidas sucessivas do espírito, de modo a lhe dar o meio condizente com os atos praticados anteriormente, mas onde pode atuar agora, por meio de seu livre-arbítrio.


Comentários


O aspecto moral da doutrina, resutante da filosofia espírita, foi posteriormente confundido e amalgamado com um aspecto religioso. Por possibilitar, através de sua filosofia, uma religação efetiva com a dimensão espiritual do homem, o espiritismo permite usufrir ao seu estudioso um sentimento de religiosidade, no sentido latino do termo (religare, ou seja de se religar com algo superior, transcendente) que vai muito além do sentido atual da palavra religião. A Religiosidade, que é sentimento superior ao estreito rótulo da religião, é que preenche de fato a doutrina espírita.

É o próprio Kardec quem também nos fala que o espiritismo, por ser uma ciência e uma filosofia, "é, pois, a mais potente auxiliar da religião" (Kardec, O Livro dos Espíritos, página 111 da edição da FEB), sendo, pois, algo que, se não é uma religião em si, a não ser que se queira isso, respeita todas as religiões, pois elas são a expressão da ânsia humana pelo sublime e pelo transcendente, e são válidas, assim como cada teoria de personalidade, na Psicologia, é válida de acordo com o posicionamento e maturação psicológica e emocional de cada indivíduo. Infelizmente, fizeram do espiritismo o que bem quiseram, do mesmo modo como fizeram o que bem quiseram dos ensinos do Cristo, de Sócrates, e outros....

Um estudo realmente aprofundado e sistematizado do obra de Kardec escalareceria a todos sobre estes pontos, que acredito ser de fundamental importância para a maturação da tolerância entre as diferenças religiosas e uma vacina contra qualquer tipo de dogmatismo que, vez por outra, parece brotar no posicionamento religioso de alguns espíritas e dirigentes espíritas brasileiros que, por força da tradição católica em nossa cultura, têm transformado alguns centros - que deveriam ser casas sérias de estudos psíquico-espirituais- em verdadeiras igrejas - e sem a competência destas, pois algumas pessoas passam a dar palestras sem mínimo de aprofundamento na doutrina ou nas ciências psíquicas, como em psicologia e psiquiatria, além das leituras básicas da codificação kardequiana, tirando conclusões apressadas e/ou equivocadas de alguns fenômenos psicológicos que incidem sobre parte de nossa população, taxando-os de obsessão e outras coisas mais. Ora, nem todos os problemas são causados por pertubações espirituais - isso é acusar os espíritos injustamente -, ou, se existe alguma parcela disto, foi por algum desajuste primeiro do sujeito encarnado, desajuste de cunho íntimo e pessoal que precisa de tratamento mais dirigido ao aspecto psicológico, mundando seus o padrão de pensamentos e os hábios mentais imediatos que é a causa de atração do espírito desencarnado, por sintonia psíquica. Sendo assim Kardec apontou para o fato de que muitos de nossos desajustes se devem à causas pisicossomáticas e espirituais interligadas, pondo-se, portanto, bem à frente do desenvolvimento da psicologia de seu tempo, apontando para as teorias correntes agora, nos meios acadêmicos sobre o papel da medicina psicossomática na dinâmica das doenças e distúrbios mentais.

Kardec tinha plena consciência do fato de que os conhecimentos adquiridos em seus estudos eram apenas o primeiro passo de uma longa jornada, e, como nos fala o grande escritor Léon Denis em sua obra "Depois da Morte", no capítulo XX, "A doutrina de Allan Kardec, nascida - não será demasiado repetí-lo - da observação metódica, da experiência rigorosa, não se torna um sistema definido, imutável, fora e acima das conquistas futuras da ciência. Resultado combinado de conhecimentos dos dois mundos, de duas humanidades de planos paralelos penetrando-se uma na outra, ambas, porém, imperfeitas e a caminho do entendimento de verdades mais profundas, do desconhecido, a Doutrina dos Espíritos transforma-se sem cessar, pelo trabalho e pelo progresso, e (...) acha-se aberta às retificações, aos esclarecimentos do futuro". E é isto que tem de ficar bem claro para o movimento espírita brasileiro, com alguns setores cristalizados e dogmatizados. A verdade é muito ampla para estar contida apenas nas obras do primeiro período da codificação, e as ciências evoluem para uma compreensão mais holística do homem e do universo que deve estar presente também nas nossas casas de estudo espíritas. E se há ainda pessoas que se realizam apenas no aspecto religioso do movimento, muitas outras há, especialmente entre os jovens, que anseiam por ver novos horizontes onde possam se lançar à altos vôos com as duas asas, como nos fala Emmanuel, da razão e a do coração.

Neste sentido é bom relembrar mais algumas palavras do próprio Kardec:

"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com AS BASES FUNDAMENTAIS DE TODAS AS RELIGIÕES: DEUS, A ALMA E A VIDA FUTURA. MAS NÃO É UMA RELIGIÃO CONSTITUÍDA, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sarcedote ou de sumo sarcedote" (...) "O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adeptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade". (Kardec, in "Obras Póstumas" - Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, páginas 260 e 261 da 21º edição da FEB, com destaques meus).

Ora, é muito lamentável que algumas instituições que se dizem espíritas tenham em seus meios pessoas com a pseudo-sabedoria de se arvorarem donas de todo o conhecimento e evitem o contato com outros sistemas de pensamento ou com as novas descobertas científicas. Esquecem-se, em nome do dogmatismo e da vaidade, os dois mandamentos essenciais do espiritismo: "Espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo", e põem um limite quase instransponível entre a mesa, com seus dirigentes, e a assembléia, num arremedo de hierarquia, arremate de um nível de poder político comum às religiões institucionalizadas. Ainda há tempo de retomar a seara da forma como foi planejada por Kardec, basta humildade e solidariedade, nada mais, junto com um sincero desejo de estudar e de instruir-se. Felizmente nas fileiras espíritas brasileiras existem lumiares de alto valor dentro do aspecto científico e filosófico, como Hernani Guimarães Andrade, Henrique Rodrigues, Hermínio C. Miranda, Clovis Nunes, Jorge Andrea, Raul Teixeira, Divaldo P. Franco e, por meio de sua mediunidade maravilhosa, Francisco Cândido Xavier. De forma mais ou menos indireta, também temos a obra fantástica de Pietro Ubaldi que, com a sua A Grande Síntese demonstrou algumas das temáticas só agora mais ou menos popularizadas ou divulgadas como consequencia da evolução da Física Quântica ou da concepção Holística da filosofia da ciência que foram divulgadas em grande parte nas obras de Fritjof Capra. Mas isto é um outro assunto.

Acho que o precioso trabalho de Allan Kardec ainda há de ser reconhecido pelas gerações vindouras. O sucesso que sua obra logrou a ter na segunda metade do século XIX, foi, de certa forma, ofuscada pelas crises e guerras sucessivas por que passou a Europa, que acabou por entrar numa fase de descrença existencial, com a perda de seus idéias mais espirituais, bem exemplificada pelo niilismo e mecanicismo do século XX, bem como pelo surgimento de outras correntes espirituais mais esotéricas, de sabor fortemente ocultista e, por isso mesmo, mais atrantes para algumas pessoas às quais o mecanicismo de nossa época desagrada, como a Teosofia de H. P. Blavatisk, e outras. Mas só o tempo, como agora parece ocorrer, dirá o que de fato é a obra de um dos homens mais universais do século XIX.



Bibliografia Sugerida



Atenção: Alguns dos livros espíritas aqui indicados podem ser retirados (por download) pela internet
em http://www.bauhaus.com.br/secd/
ou em http://www.febrasil.org.br/lesp_br.htm

Enciclopédia Mirador-Britannica, 1992.
Kardec, Allan A Codificação da Doutrina Espírita - Coletânea das Obras básicas de Kardec, Instituto de Difusão Espírita, São Paulo, 1997.
Kardec, Allan O Livro dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Kardec, Allan O Que é o Espiritismo, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Kardec, Allan O Livro dos Médiuns, Lake, São Paulo, 1988.
Kardec, Allan O Céu e o Inferno, Lake, São Paulo, 1988.
Kardec, Allan Obras Póstumas, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Wantuil, Zeus & Thiesen, Francisco Allan Kardec, vol. I, II e III, Fed. Espírita Brasileira, 1984.
Sausse, Henri Biografia de Allan Kardec em Allan Kardec, Ed. Opus, São Paulo,1982.


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João Pessoa, Paraíba, 02/01/1997

Revisto e ampliado em 10 de março de 1998






Copyright (C) 1997 by Carlos Antonio Fragoso Guimarães

sábado, 25 de julho de 2009

Padre Quevedo, exemplo de proselitismo, tendenciosidade e farsa em uma área polêmica como a da Parapsicologia





Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Texto escrito entre janeiro e maio de 2000, ampliado em junho de 2002 e agora, 2015, para esta versão. O texto originalmente foi publicado na extinta GeoCities com o título "A Igreja, a Mídia e a Parapsicologia" em resposta a um quadro no programa "Fantástico" onde o Pe. Quevedo substituia um quadro anterior, Mr. M, famoso por um mágico revelar os segredos profissionais de seus colegas).


"E, no entanto, ela (a Terra) se move!" 

Galileu-Galilei

- afirmação atribuída a Galileu Galilei após ter sido obrigado pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição, atualmente chamada de Congregação para a Defesa da Fé) - que o estava julgado, entre outras acusações, pela sua afirmação, baseada em Nicolau Copérnico e em suas próprias observações científicas, de que a Terra não é o centro do universo - a renegar suas descobertas -


  "Não compreendo como o Padre Oscar González-Quevedo pode permitir-se este julgamento [de fraude, no que se refere ao fenômenos dos desenhos espontâneos de rostos que se plasmavam na cozinha de uma casa no povoado de Belmez de la Moraleda (veja um curto vídeo clicando aqui), em Jaén, Espanha, confirmado por várias testemunhas e objeto de intensa pesquisa científica, fotos e gravações que não demonstraram quaisquer indícios de fraude], porque ele jamais esteve em Belmez. Eu nunca o encontrei em nenhum congresso de Parapsicologia, nem na Europa nem nos Estados Unidos, e assim não posso fazer nenhuma idéia da atitude do Pe. Quevedo para formular tal julgamento a priori. Os rostos de Belmez são o que se chama de teleplastia espontânea. 
  Se o padre González-Quevedo continuar com a hipótese de fraude, que demonstre isto de forma contundente. Mas isso ele não pode demonstrar. Em vista disto, parece-me correto que, de agora em diante, ele se contenha em seus julgamentos". 

Dr. Hans Bender, do Institut für Grenzgebiete der Psychologie und Psychohygiene, Friburgo, Alemannha



  "(...) Além disso, Rueda em um artigo recente no Journal of Parapsychology, faz o importante assinalamento de que Quevedo "tem usado a Parapsicologia como uma arma ideológica em uma briga para marcar sua perspectiva conceitual particular… De fato, para atingir suas metas, o Pe.Quevedo tem distorcido a Parapsicologia em seus livros, querendo, a maior parte do tempo, acomodar dogmas católicos à sua conveniência"(p.183). 
   Ainda que seja certo que a ideologia permeie toda atividade científica (Longino, 1990), no caso de Quevedo esta toma uma primazia quase absoluta, ficando marcadamente afastado em suas obras o espírito crítico, a falibilidade e a tolerância que deve caracterizar o esforço de toda pessoa que valorize a atividade científica (Karl Popper, 1962). Em vez disso, no Pe.Quevedo encontramos o tratadista escolástico, que crê que a crítica e o trabalho de cadeira são suficientes para modelar uma determinada disciplina".


Alfonso Martinez-Taboas, Parapsicólogo associado ao Parapsychology Foundation (PF), de Nova Iorque 

"Não há limitação legal para quem se denomine parapsicólogo. Reservo o termo para aqueles que têm treinamento científico ou acadêmico e têm contribuído para a literatura científica e acadêmica sobre o tema. Quase todas essas pessoas são membros da Parapsychological Association. Eu nunca ouvi falar do Pe.Oscar Gonzales Quevedo e ele não está na lista de membros da Parapsychological Association."
 Charles T. Tart

 Psicólogo, pesquisador, teórico, professor da Universidade da Califórnia e uma das mais conhecidas autoridades do mundo sobre Estados Alterados de Consciência, em carta ao parapsicólogo Wellington Zangari, membro-diretor do Portal Psi, Centro de Estudos Peirceanos do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC, São Paulo

"Quanto maior a ignorância, maior será o dogmatismo." 
William Ostler 
Dramaturgo britânico 

  Eis que, em um ambiente cenograficamente preparado, lá vem ele... Aos poucos sua silhueta vai se deixando formar por entre a penumbra e a névoa artificial, feita pela fumaça de gelo seco, em um cenário que lembra os corredores que levam ao salão de torturas de um castelo medieval... 


 Quem será este que vem de negro, ao som de uma música misteriosa, fazendo aguçar atenção dos telespectadores de forma tão explicitamente calculada, para criar um clima artificial de mistério, como se diante de nós estivesse a se materializar um antigo monge medieval atualizado, porém, por um moderno (?) blusão de couro igualmente negro, e tendo, nos dizeres de Cid Moreira e no rosto do protagonista o riso de quem se julga detentor dos segredos de "conhecimentos ocultos"?

 Segundo a emissora de TV que o contratou para tomar o lugar de um famoso mágico mascarado - aliás, melhor seria dizer que a dita emissora tornou famoso - trate-se de um padre que é (ou melhor, se diz) "autoridade" em parapsicologia, prolífico escritor e inequivocamente detentor de extraordinários dotes intelectuais . Mas faltou à compentente emissora expor que o mesmo padre, porém, não é reconhecido como tal estrela de primeira grandeza por vários outros parapsicólogos e instituições sérias ligadas a área no Brasil e no exterior.

  Implicitamente, o mais novo polemista das noites de domingo é apresentado como "o maior parapsicólogo do Brasil", mas, além do que diz ele de si mesmo o "Caçador de Enígmas" e seus discípulos, não sabemos quais foram os referenciais e critérios de comparação, já que não vemos nehum debate realmente aprofundado entre o dito contratado e outros parapsicólogos nacionais ou estrangeiros. Entre estes, como vimos na epígrafe a este texto, mais acima, temos opiniões contrárias de Hans Bander, da Alemanha, Charles Tart, dos EUA, e do Sr. Matinez-Taboas, de Porto Rico, que cita igualmente outros autores-pesquisadores estrangeiros (ver o artigo Uma Revisão Crítica dos Livros do Padre Quevedo, do citado autor, encontrado Portal Psi da PUC, São Paulo). Na verdade, a lista de nobres acadêmicos que criticam o prentenso auto-intitulado parapsicólogo seria ainda maior, como iremos ver. Mas vamos por partes.

  A nível de pesquisadores nacionais, o breve confronto que houve entre o tão enfaticamente auto-intitulado parapsicólogo jesuíta e o Professor e pequisador Clóvis Nunes sobre a Transcomunicação Instrumental, pi fenômeno de gavração de imagens e vozes atribuidas a pessoas mortas (também conhecido como E.V.P - Electronic Voice Phenomena, E.V.P ou F. V. E., Fenômeno das Vozes Eletrônicas de ruído branco) apesar da edição tendente ao lado do Sr. "Caçador de Enigmas", deixou a impressão de ser inconcludente.

 Este "debate", apresentado no dia 23 de janeiro de 2000, foi truncado na montagem da edição levada ao ar, e, apesar das interessantes imagens apresentadas, inclusive expondo pesquisadores e técnicos internacionais, entre os quais se encontram outros sacerdotes católicos, como o Padre Fraçois Brune, o processo de edição miniaturização das matérias deixou no ar um monte de dúvidas, em especial no que tange à resposta, à guisa de explicação, dado pelo "Caçador de Enígmas" - e vimos que a parte do Sr. Padre Quevedo foi gravada por fora do local onde o encontro com Clóvis Nunes foi realizado... por quê?

  A hipótese de ação do inconsciente enquanto agente da ação do fenômeno não foi apresentada como tal, ou seja, como uma hipótese, um modelo explicativo sujeito à confirmação ou não, portanto se prestando ao debate e ao confronto construtivo com outras hipóteses verossímeis, que é o teste de falibilidade necessário à lógica da pesquisa científica, como bem defendeu Karl Popper. Ao menos faltou ao ilustre e inteligente interlocutor católico apresentar evidências e pesquisas que apontassem indícios firmes para a questão, para ele indiscutível, de que as imagens gravadas por meios eletrônicos obtidas por técnicos e cientistas em rigorosas experimentações eram frutos de uma "ideoplastia" ou "escotografia" da ação do inconsciente.

  Mas Quevedo é atualmente, nos meios psi, mais conhecido - como vimos pelas citações dos Srs Drs. Martinez-Tabos e Charles Tart - por jamais produzir qualquer pesquisa experimental séria, mas em se apropriar e manipular a de outros (veja maiores detalhes mais adiante). Mas, ao contrário disto, a - para ele Lei da - "escotografia" inconsciente (faltou dizer como isso se dá, e porque é preciso que a fita magnética de vídeo tenha de correr em equipamentos eletrônicos de gravação para que a imagem seja registrada, quando a "escotografia", ou seja, a hipótese da impressão mental em meios físicos de registro, poderia simplesmente agir sobre a própria fita) foi apresentada como uma certeza do tipo "Dogma", sobre o qual que não há possibilidade de contestação (o que, na verdade, é o que mais há, como veremos mais adiante). E dogma é algo que a ciência não pode admitir, pois impossibilita qualquer confronto sério de argumentos, sendo, portanto, imposto como uma verdade estabelecida.

  Por conta de Dogmas rígidos, impostos, em especial de cunho religioso (mas também os há em outras áreas, impostos algo ditatorialmente), a história científica registra uma corrente de assassinatos institucionalizados, até mesmo racionalizados, de pessoas inocentes que apenas "ousaram" pensar de modo diferente do establishment Igreja/Estado (ex. Giordano Bruno, Galileu-Galilei, a paraibana Branca Dias e, bem mais recentemente, no século XX, assassinando "apenas" moralmente, o antropólogo jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin e o teólogo brasileiro Leonardo Boff). De qualquer modo, nas imagens do "debate" que foram ao ar, sem que tenham sido feitas edições pró-contratado, ficou bem visível o semblante de deboche do ilustre sacerdote parapsicólogo por todo o tempo em que seu interlocutor explicava a técnica de registro de sons e imagens paranormais. O padre, enfim, parece, em seu programa, que "possui a chave" que desvenda os enígmas do "desconhecido" - ou ao menos é nisso que ele crê (a íntegra do debate entre "O Caçador de Enigmas" e Nunes, porém, foi gravada pela Globo e pode ser obtida com o professor Nunes, cujo e-mail é: paz@gd.com.br. Neste vídeo vemos que o Sr. Sacerdote "Parapsicólogo" fica a tal ponto em dificuldades para manter seus argumentos, que tenta acabar o debate várias vezes, inclusive com seu habitual ponto final quando se sente pressionado: "Não discuto com fanático!").

  Isso é fazer arrogante pouco caso de pesquisas sérias levadas à cabo com sábios das mais diversas áreas que confirmaram a existência autêntica de fenômenos metapsíquicas e paranormais sem afirmar, contudo, que estejamos sequer perto de entende-los dentro da visão de mundo que a ciência de hoje nos dá, quanto mais de imputá-los à pecha de fraudulentos em sua totalidade, ou frutos do inconsciente (palavra mágica que aparenta explicar não explicando, de fato, nada). Citemos o Prêmio Nobel Charles Richet, os Físicos Sir William Crookes e Oliver Lodge, o astrônomo Luigi Schiapareli e, mais atualmente, o parapsicólogo Karlis Osis, o Professor Ian Stevenson, o Dr. Stanley Krippner, o Dr. Pierre Weil, Alan Gauld, dentre inúmeros outros.


Para dar um exemplo, na década de 70 do século XIX, um extraordinário cientista britânico, chamado William Crookes, mas tarde agraciado com o título de Sir e de Cavaleiro do Império Britânico, por suas muitas contribuições à ciência (dentre as quais a descoberta do elemento químico tálio e do quarto estado da matério, estado radiante ou guza, dentre inúmeras outras descobertas e contribuições)fez uma série de experiências com grandes médiuns, mas suas mais famosas pesquisas foram com o fenômeno de materializações de espíritos, em especial a do Espírito de Katie King, pela médium Florence Cook, que foi fotografado mais de quarenta vezes e examinado por Crookes na presença de vários cientistas, em seu próprio laboratório de físico-química. 
À esquerda, uma das fotos de William Crookes (e outros) do provável espírito materializado Katie King, ao lado do médico Dr. James Gully. A foto foi tirada em presença do então presidente da Royal Society of SciencesSir William Huggins. Mas o Sr. Padre Quevedo insiste que Crookes foi enganado pela médium (ele e todos os demais  que estudaram este fenômeno! E olhe que o Sr. Padre Quevedo o que mais faz é tomar emprestado a pesquisa de outros para manipulá-las, como já mostramos nas epígrafes inciais deste artigo e vamos demonstrar ainda mais adiante). Tudo não passando de fraude, mistificação.

  Contudo, fotos "acidentais" de fantasma, tiradas sem que o fotógrafo ou seus auxiliares e acompanhantes sequer tivessem imagino em obter uma, são relativamente frequentes (talvez, como sugerem alguns, muito mais frequentes do que se imagina. Não são todas as pessoas que obtêm uma fotografia fantasmagórica que estariam dispostas a divulgá-las correndo o risco de serem tachadas dos mais diferentes rótulos). Veja-se a foto ao lado, tirada em 2000 por uma fotógrafa espanhola profissional que apenas estava a executar seu trabalho tirando algumas fotos da casa do compositor italiano Giuseppe Verdi por ocasião dos preparativos para a comemoração dos 100 anos de sua morte (ocorrida em 1901). Em uma (e só em uma) das fotos por ela batidas, enfocada no piano do compositor, tendo acima seu busto, aparece ao lado uma sombra sorridente (que não tem nada dos traços de Verdi) com o braço estendido em direção ao teclado do piano e onde seus dedos podem ser vistos bem mais claramente que o restante do vulto (para maiores detalhes da foto, clique aqui). 


  No volume 2 de seu pseudo-tratado "As Forças Físicas da Mente" - que, por sinal, diz ser na contracapa considerado pela Fundação Internacional de Parapsicologia de Nova York como dos melhores livros de Parapsicologia do mundo, afirmação desmentida categoricamente pela mesma fundação, como se pode ver no artigo do Prf. Wellington Zangari Pe. Quevedo: Os Melhores Livros de Parapsicologia do Mundo? (e Quevedo não faz parte dos pesquisadores desta associação! )- , que vários autores, inclusive o Sr.Alfonso Martinez-Taboas, membro real da International Parapsychological Foudation, e outros, citados em seu excelente artigo "Uma Revisão Crítica dos Livros do Pe. Quevedo", demonstra como esta obra é plena de manipulações, sofismas e erros. Quevedo tenta distinguir materializações (que para ele, não existem) de fantasmogênese, ou seja, uma projeção mental (puxa! como é poderosa a mente quevediana!). Tenta incutir na cabeça da gente (e ele fez algum experimento de laboratório como Crookes, Richet, Schrenk-Notzing e Geley fizeram?) pra dizer que as ditas materializações eram fantasmogêneses do inconsciente ou pura fraude. Aliás, só fraude no caso de Crookes com uma possível tranfiguração da médium que se passava pelo espírito Katie King.

Pois bem, Charles Richet, o grande Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia e pai da Metapsíquica e que trabalhou bastante para demonstrar a autenticidade dos fenômenos paranormais extraordinários, como o das materializações, embora tivesse cautela em aceitar a hipótese espirítica ou a do "inconsciente maravilha", tendo justamente a maior parte do tempo apenas se esforçado a demonstrar a realidade objetiva dos fatos e nossa grande ignorância sobre a profunda realidade que nos cerca, diz textualmente em seu livro "A Grande Esperança", algo que nos parece dirigido ao sabichões pseudo-sábios como o Sr. Oscar Quevedo (padre licenciado em Humanidades e Psicologia - portanto, não podendo clinicar nem psicopatoligizar ninguém, pois para tanto ele deveria ter FORMAÇÃO em Psicologia, e não licenciatura - que é para o ensino):
"Para assegurar que há fatos anormais, maravilhosos sob o ponto de vista da ciência atual, invocarei em primeiro lugar o argumento de autoridade. Em favor da nova ciência (a Metapsíquica), há de um lado certos sábios e de outro certo público.
"Em primeiro lugar falarei dos sábios.
"É facílimo dizer que se enganaram ou foram enganados. É uma objeção que está a altura do primeiro sabichão que aparece. Quando o grande William Crookes relata ter visto, em seu laboratório, Katie King, fantasma capaz de se mover, de respirar ao lado de sua médium, Florence Cook, o dito sabichão pode erguer os ombros e dizer: "É impossível. O bom senso faz-me afirmar que Crookes foi vítima de uma ilusão, Crookes é um imbecil". Mas este pobre sabichão não descobriu nem a matéria radiante, o tálio, nem as ampolas que transmitem as luz elétrica. E assim, minha escolha está feita. Se o sabichão disser que Crookes é um farsante ou um louco, serei eu quem sacudirá os ombros. E pouco importa que rebocados pelo sabichão, uma multidão de jornalistas - que nada viram, nem nada aprofundaram, nem nada estudaram - diga que a opinião de Crookes de nada vale. Não me admirarei.
"Se Crookes ainda estivesse só! Mas não! Há uma nobre plêiade de sábios (e grandes sábios) que presenciaram esses fenômenos extraordinários. Em lugar de fazer essa simples suposição que eles presenciaram o inabitual, poderei considerá-los cretinos e mentirosos?" (RICHET, 1999, p. 77).
Mais adiante o grande Richet continua:
"Um primeiro fato é evidente: é que todas as vezes que um sábio (um sábio de fato) assentiu em estudar de maneira aprofundada esses fenômenos, chamado outrora de ocultos, adquiriu a convicção da existência desses fenômenos. Na história da Metapsíquica, não conheço somente um caso, não somente um, de um observador consciencioso que, após dois anos de estudos, tenha concluído por uma negativa" (RICHET, op. cit, p. 79)

O Próprio Richet não só controlou experimentos rigorosos de materialização, como fotografou vários espíritos, como o de Bien Boa, visto ao lado, por intermédio das forças psíquicas da médium Eva Carrière (Marthe Béraud).

Mas o Sr. "Caçador de Engimas", com a humildade que lhe é peculiar, não só diz que Crookes foi enganado ou, no mínimo, interpretou mal o caso, como todas as pessoas que tenham capacidades paranormais são doentes que precisam ser curados! Retoma uma concepção de Pierre Janet que já caiu por terra, derrubado pelo próprio fisiologista Richet, por Osty, Geley e outros reais estudiosos dos fenômenos paranormais qualitativos. Mas, se é doença quem o afirma a gora? E devem ser "curados" logo por quem? Pelo licenciado, portanto, proibido de exercer a psicoterapia Padre Quevedo?
Vejamos o que a este respeito nos fala o neuropsiquiatra Dr. James Cerviño:
Os que realmente estudaram os fenômenos mediúnicos não se iludiram com as ousadas extrapolações de Janet. “Falou-se muito em histeria”, diz Charles Richet, “mas convém notar que a histeria não é uma condição favorável” (referia-se à produção de fenômenos metapsíquicos), “a não ser para dar uma desmedida extensão a esta forma mórbida”. E sobre os médiuns: “Em todo caso nego-me, em absoluto, a considera-los doentes, como está bastante disposto a fazer Pierre Janet” (Traité de Métapsychique). Maxwell, Osty, Myers e outros metapsiquistas eminentes pronunciam-se no mesmo sentido. Foram, inclusive, apontados os elementos para o diagnóstico diferencial entre o transe mediúnico e os estados doentios que se lhe assemelham (CERVIÑO, 1996, pp. 42-43, destaques meus).
  Aliás, já vimos que o Dr. Charles Tart - real pesquisador - desmente Quevedo exatamente neste ponto. Igualmente o faz o Dr. Alberto Lyra (LYRA, 1990).
Neste sentido, é útil a observação dos parapsicólogos franceses Hubert Larcher e Patrick Ravignat que destacam o fato de que alguns auto-intitulados "parapsicólogos" nada mais são que proselitistas travestidos de pesquisadores que na verdade acabam mesmo por prejudicar a ainda incipiente e, academicamente, pouco aceita parapsicologia. De fato, o termos "parapsicologia" e "paranormal" estão tão desgastados pelo imenso uso de aproveitadores, que os pesquisadores sérios preferem os termos "estudo psi" e "fenômenos psi".

 Observam Larcher e Ravignat:
 "Os detratores são de duas espécies: há os que, negando ferozmente a realidade dos fenômenos que ela (a Parapsicologia) se propõe estudar, reduzem a parapsicologia à psicologia pura e simples: mentira, burla, farsa. Pondo deliberadamente de parte inúmeras experiências positivas para se cingir aos casos de fraude flagrante, esses capeões do racionalismo têm na ocorrência uma atitude muito pouco racional e teimam em só ver truques, ou quando muito, coincidências, nas resultados mais significativos.
  "A segunda categoria de adversários é mais sutil. Na ótica destes, a parapsicologia na passaria de uma secção, de um arrebalde da psicopatologia. Só admitem a existência de determinados fatos na medida em que figurem entre os efeitos e sintomas de crises, de perturbações nervosas e mentais: o paranormal não seria separável do anormal. Em suma, suprimem os laboratórios de parapsicologia aumentando ligeiramente o gabinete dos neuropsiquiatras.
  "A verdade é que, embora se trate de disciplinas conexas, embora o estado de crise possa por vezes servir de suporte, de catalisador ao desencadear de um processo do foro do parapsicólogo, os dois domínios nunca se confundem; o doente sob vigilância médica oferece sem dúvida com mais freqüência a oportunidade de se observar premonições ou transmissões de pensamento que o bom pai de família no pleno goso do seu esquilíbrio, porque este último, com receio de provocar a chacota ou de se ver TRATADO DE 'MALUCO', tem normalmente tendência para dissimular os fenômenos que nos interessam"(LARCHER & RAVIGNAT,"Os Domínios da Parapsicologia", Lisboa, Edições 70, pp. 70-71).
  Provavelmente os parapsicólogos franceses citados não conhecem o Pe. "Caçador de Enigmas", mas suas palavras bem parecem ser dirigidas a ele, que usa exatamente destes expedientes citados. Mas tal aparente paradoxo não é atributo exclusivo da pesquisa em parapsicologia. Se constatarmos que existem doutores em Economia que adotam teorias favoráveis ao cruel sistema capitalista e vários outros de renome que simpatizam com o Socialismo, o mesmo se dando em História e Sociologia, e ainda lembrarmos que muitos Físicos ainda acreditam que podem encontrar erros na teoria de Einstein e que ainda torcem o nariz às conseqüências filosóficas e epistemológicas do Princícpio da Incerteza, de Heisenberg, e do Paradoxo de Schröndinger e do Princípio da Dualidade, de Niels Bohr, vemos que o que se tem é o apego a sistemas metafísicos teóricos dados mais por simpatia pessoal que por aceitação implícita e lógica.

 Devemos lembrar que exibir conhecimentos enciclopédicos não impede o mal uso, parcialidade e distorções destes. Joseph Mengele era médico e Phd em Filosofia, pianista, educado e bem apessoado, mas isso não o impediu de ser um carrasco Nazista. Tomás de Torquemada (1420-1498) era sacerdote católico, portanto, oficalmente um seguidor de Cristo. Mas apesar do Cristo muito ter ensinado que é por muito se amarem que seriam reconhecidos seus discípulos, foi responsável direto pela morte de milhares de vidas, como líder da Santa Inquisição Espanhola.

 Não custa nada recordar um fato ocorrido no Anhembi, em São Paulo, em agosto de 1992, quando, no 1º Encontro Brasileiro de Parapsicologia e Religião, Henrique Rodrigues, Clóvis Nunes e o psicoterpeuta Ney Prieto Peres puderam, à convite da própria Igreja, participar de debates com o ilustre parapsicólogo jesuíta que, esperava-se, iria calar de forma irrefutável estes ilustres conferencistas e pesquisadores, que postulam a comunicação entre vivos e "mortos" como uma possibilidade real. Esta é uma teoria. Como tal, merece respeito e poderia mesmo ser complementar à teoria do "inconsciente" como agente paranormal, como os conceitos de onda e partícula são complementares na Física Quântica.

  Nunes discorreu sobre as pesquisas em Transcomunicação Instrumental e os progressos nas pesquisas em psicotrônica; o psicoterapeuta Prieto Peres discorreu sobre as pesquisas e efeitos terapeuticos do processo de regressão de memória, objeto de pesquisas intensas em universidades dos EUA e Europa, onde nomes com Ian Stevenson, Hans Ten Dam, Morris Netherton, James Fadiman e outros se destacam. Finalmente o professor Henrique (sobre o qual falaremos mais adiante) apresentou vários slides sobre um museu muito especial criado e mantido pela Igreja Católica Romana, instalado na própria Roma, na rua Lungo Travere Pratti, nº 12,nas dependências da Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio. Trata-se do Museu das Almas do Purgatório, em que estão catalogados mais de 280 "provas", nos dizeres da própria Igreja, das manifestações das "almas" de mortos em igrejas, mosteiros, conventos, do qual foram testemunhas padres, freitas, bispos e cardeais. Convém lembrar que o nome original do museu, tal como concebido pelo seu idealizador, Padre Jouet, era "Museu Cristão do Além-túmulo".
Abaixo, foto de uma das peças do Museu das Almas do Purgatório, uma marca queimada de mão deixada sobre um pedaço de tecido. Notar os pontos de sangue ao lado da silhueta.


 O ilustre padre "parapsicólogo", que se manifestou, logicamente, como de se esperar, contrário às colocações dos dois primeiros pesquisadores supra citados, viu e ouviu detalhes das imagens, nomes, locais, datas, impressões e narrativas dos que presenciaram os fenômenos apresentados pelo professor Henrique e... silenciou! Ao menos, não teve o que falar na ocasião (mais tarde, depois de um tempo, escreveria sobre, defendendo seu posicionamento). Pois, como nos fala o professor Henrique Rodrigues, das duas uma: ou ele confirma o fenômeno mediúnico [de contato entre vivos e "mortos"] dentro da própria Igreja, ou teria de classificar os envolvidos, como ele costuma fazer com os não-católicos que experienciaram fenômenos análogos, de tolos, charlatães, fraudulentos ou vítimas do próprio inconsciente. Mais ainda, o respeitável parapsicólogo jesuíta católico ainda teve de engolir em seco a declaração apresentada pelo professor Henrique de um outro padre jesuíta, responsável pelo controle do museu, que diz textualmente o seguinte: "A Igreja condena a possibilidade de evocar os espíritos dos defuntos mediante a prática dos médiuns. Aqui se trata de outra coisa. São espíritos que espontaneamente se manifestaram para pedir sufrágios e deixaram marcas de sua passagem", o que derruba o mais divulgado dos dogmas do Sr. "Caçador de Enigmas", qual seja, o da impossibilidade de manifestação dos mortos em meio aos vivos.




 ( * *Atenção: Este texto foi escrito em entre janeiro e março de 2000. No segundo semestre de 2001, porém, mais precisamente no dia 28 de outubro, o programa Fantástico da Rede Globo apresentou, como "Reportagem de Capa", uma matéria de 16 minutos sobre o "Museu das Almas do Purgatório", acima citado. Para ver esta reportagem, basta clicar neste endereço: 1-Reportagem do Fantástico: Museu das Almas. É necessário o programa Real Player, que na sua versão básica pode ser obtido grautitamente na internet. Neste caso, para fazer o download do programa, clique aqui. Para ver a transcrição em texto do mesmo programa, pela Rede Globo, clique aqui. Prestar especial atenção, nesta reportagem, às afirmações do teólogo franciscano italiano Gino Concetti à reporter Ilze Sacamparine, afirmando textualmente que “O espiritismo existe, há sinais na Bíblia, na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. Mas não é do modo fácil como as pessoas acreditam. Nós não podemos chamar o espírito de Michelangelo, ou de Rafael. Mas como existem provas na Sagrada Escritura, não se pode negar que exista essa possibilidade de comunicação”, e do especialista em Vaticano, Sandro Magister: 



“A Igreja acredita que seja possível uma comunicação entre este mundo e o outro mundo. A Igreja tem convicção de que esta comunicação existe. A Igreja se sente peregrina, porque vive na terra e possui uma pátria no céu”).


Então, as idéias do Padre Quevedo são representativas, de fato, das ideais da Igreja?

Fosse realmente a emissora que o contratou mais interessada na exposição clara e profunda de fatos, e não no mero sensacionalismo para promover um novo contratado e faturar alto com o aumento da audiência - que seria elevado com qualquer que fosse o expositor de um tema sedutor como a parapsicologia -, e poderíamos, quem sabe, repetir o debate entre o Professor Henrique e o Padre Quevedo. Ao menos, se espera que ele aceite este desafio e não use da mesma desculpa que usou na Argentina, quando a televisão de Córdoba o chamou para um debate com o mesmo Henrique Rodrigues ao qual não aceitou com o pretexto do interlocutor ser um mero "espírita fanático"...

As gritantes distorções e usos que o superstar midiático da "parapsicologia" por ele defendida no Brasil faz de textos, ou mesmo a cômoda "invenção" de frases de autores consagrados dos estudos da Psicologia e Parapsicologia é patética. Este estilo anti-ético e infantilmente agressivo também faz parte de seus discípulos, entre os quais o mais histriônico e fanático parece ser o Sr. Luiz Roberto Turatti (veja o texto Padre Quevedo, Luiz Roberto Turatti, Pretensos Sábios, Ridículos Polemistas para se ter uma idéia disto, com observações dos Srs. Eduardo Araia, da Revista Planeta, e do Psicólogo Wellington Zangari, da PUC-SP). Para exemplificar, reproduzo, na íntegra, um documento, que pode ser consultado no site da Revista Eletrônica de Parapsicologia do Prof. Wellington Zangari, da PUC SP, que pode ser acessada em http://www.pucsp.br/~cos-puc/cepe/intercon/revista/polemica/tart.htm:







Em uma de suas respostas, o Pe. Quevedo, para oferecer argumentos a favor da teoria psicopatológica de psi, mencionou pesquisas realizadas pelo conhecido psicólogo e pesquisador de psi americano, Dr. Charles T. Tart (http://www.paradigm-sys.com//cttart/). Após tomarmos conhecimento do teor dessa entrevista, entramos em contato com o Dr. Tart para esclarecer o assunto, uma vez que não conhecíamos tais estudos pela literatura especializada publicada. Abaixo, reproduzimos o trecho da entrevista em que Quevedo responde à pergunta feita sobre psi e psicopatologia pelo jornalista e editor da revista, Gilberto Schoereder. Reproduzimos, ainda, a mensagem que nos foi enviada pelo Dr. Tart (original em inglês e tradução) em resposta à nossa solicitação de esclarecimento.
Gilberto Schoereder (Revista Sexto Sentido) [pergunta 29 no site oficial de Quevedo]: O senhor costuma dizer que as manifestações parapsicológicas não devem ser fomentadas ou desenvolvidas, mas curadas. Esse posicionamento não encontra respaldo em todas as teorias parapsicológicas já desenvolvidas. Existem linhas de estudo, que inclusive pensam o contrário: que as faculdades são uma evolução natural do ser humano e devem ser estimuladas. O senhor não acha perigoso tentar conter uma capacidade mental que pode ser inerente ao ser humano?
Resposta do Pe. Quevedo: O Congresso Internacional de Parapsicologia, realizado na Europa em 1953, proibiu fomentar esses fenômenos. O Dr. Tart comprovou que as brincadeiras com o baralho Zener, que se faziam na Duke University, podem causar lesões cerebrais que não se curam nunca. Cada vez que se fala de uma casa mal-assombrada, de pirogênese, logo surge uma epidemia de casos. Faríamos um mundo de loucos, de hipernervosos, porque ninguém manifesta um fenômeno parapsicológico em estado normal, só em estado alterado de consciência. Telepatia, por exemplo, todo mundo tem alguma vez. Mas uma casa mal-assombrada, uma levitação, uma transfiguração, uma pirogênese, uma autocombustão, são desequilíbrios. Plenamente normal, equilibrado, ninguém manifesta sequer uma telepatia, que é o fenômeno mais vulgar. O estado alterado poderá ser uma emoção, um sonho, o barulho dos atabaques, que causa uma desritmia cerebral, ácido lisérgico, peyote mexicano, cânhamo índico, mescalina, contágio psíquico, morte aparente, uma febre alta. Por outro lado, isso surge do inconsciente e o consciente não reconhece como próprio. Assim, há a necessidade de atribuir algo a alguém, e a pessoa pensa que tem poderes divinos, de espíritos, exus, orixás, fadas, ondinas, salamandras, larvas astrais, gênios, mahatmas; interpretações delirantes que levam à dupla personalidade. Um instituto que promete fomentar os fenômenos parapsicológicos vai atrair muito, vai estar cheio de seguidores, mas não é científico. Os fenômenos devem ser curados.


Mensagem original do Dr. Charles T. Tart, em inglês:
Enviada em: Terça-feira, 8 de Agosto de 2000 01:08 
Assunto: Re: Psi and Mental Problems! 

Dear Wellington Zangari, 

It is sometimes amazing to hear about things I am supposed to have said.... 

(Wellington: >supposedly, a parapsychologist, Pe.Oscar Gonzales Quevedo...)

There is no legal limitation on who may call themselves a parapsychologist. I reserve the term for those who have scientific and/or scholarly training and have contributed to the scientific and scholarly literature on the subject. Almost all such people are members of the Parapsychological Association. I have never heard of Pe.Oscar Gonzales Quevedo and he is not listed in the membership directory of the Parapsychological Association. 

(Wellington: >Quevedo said that experiments are very dangerous to the subjects and that you, Dr. Tart, have proved that this subjects could be serious damages in brain and in their mental process to participating in experiments with ESP cards!)


I've never said anything remotely like this and no of no evidence at all to even suggest such damage, much less prove it. The greatest danger to subject participating in card guessing experiments is boredom... 

I hope you can clear this up in your local media and get more accurate reporting. 

Sincerely, 
Charley Tart


Tradução da mensagem do Dr. Tart:

Enviada em: Terça-feira, 8 de Agosto de 2000 01:08 
Assunto: Re: Psi e Problemas Mentais! 

Caro Wellington Zangari, 

Às vezes é inacreditável saber das coisas que supostamente eu teria dito...


(Wellington: >Pe. Oscar Gonzales Quevedo, supostamente um parapsicólogo...supposedly, a parapsychologist...)

Não há limitação legal para quem se denomine parapsicólogo. Reservo o termo para aqueles que têm treinamento científico ou acadêmico e têm contribuído para a literatura científica e acadêmica sobre o tema. Quase todas essas pessoas são membros da Parapsychological Association. Eu nunca ouvi falar do Pe.Oscar Gonzales Quevedo e ele não está na lista de membros da Parapsychological Association. 

(Wellington: >Quevedo disse que os experimentos são muito perigosos para os sujeitos e que você, Dr. Tart, provou que esses sujeitos poderiam ter sérios problemas cerebrais e em seus processos mentais por participarem em experimentos com as cartas ESP!)

Eu nunca disse algo nem remotamente parecido com isso e não há qualquer evidência que sequer sugira tais problemas, muito menos que os tivesse provado. O maior perigo para o sujeito que participa nos experimentos com a escolha de cartas é a chateação...
Eu desejo que você possa esclarecer os meios de comunicação locais oferecendo informações mais precisas.

Sinceramente, 
Charley Tart


Não publicaríamos os documentos acima caso não tivéssemos alguma confirmação de que Quevedo, de fato, teria dito o que foi publicado na revista Sexto Sentido. Entretando, o site oficial do padre reproduz a entrevista, o que, de certa forma, significa que Quevedo confirma ter dito o que foi publicado. Participamos de um debate na televisão cerca de um mês após a publicação do referido número da revista Sexto Sentido, com um dos membros do centro que Quevedo dirige, o psiquiatra Dr. Vitor Arfinengo, que defendia na entrevista os "perigos" da pesquisa experimental de psi. Durante a entrevista apresentamos a posição do Dr. Tart e entregamos a mensagem dele ao Dr. Vitor. Recomendamos que uma cópia desta fosse entregue ao Pe. Quevedo. Em conversa telefônica posterior, o Dr. Vitor disse ter entregue a mensagem a Quevedo. Ainda assim o site oficial do Pe. Quevedo permanece com a entrevista no ar.
O Portal Psi, está aberto à publicação de qualquer manifestação do Pe. Quevedo a respeito do caso.
Há muitos outros aspectos da mesma entrevista (e de outras) de Quevedo que mereceriam comentários e documentações complementares. Isso será objeto de novos textos que serão publicados nas próximas atualizações do Portal Psi.

Wellington Zangari

Coordenador / Inter Psi, CEPE, COS, PUC-SP

Editor / Portal Psi




Para ver o desafio que o Dr. Wellington Zangari, da PUC SP, fez a Luiz Roberto Turatti e ao seu mentor, o Padre Quevedo (e ainda não respondido), clique aqui emhttp://www.forumnow.com.br/vip/mensagens.asp?forum=15836&topico=2491903

O Sr. "Caçador de Enígmas" parece não levar muito à sério outros centros de pesquisas, não parece muito simpático ao trabalho de outros e faz vista grossa aos estudos da Universidade Federal de Minas sobre estados de consciência, inciados com Pierre Weil, atual reitor da Universidade Holística Internacional de Brasília - UNIPAZ, e assessor da UNESCO em um trabalho sobre Educação para a Paz (veja aqui um texto do Prof. Pierre Weil em que ele fala da Parapsicologia e de suas próprias pesquisas em Transcomunicação Instrumental e com materializações tendo por colaborador nada mais nada menos que o famoso neuropesquisador Dr. Stanley Krippner), ou estudos de vários outros centros de pesquisas internacionais cujas conclusões NÃO são idênticas às suas, como, por exemplo, a pesquisa da Associação Luso-Brasileira de Psicologia Transpessoal sobre as comunicações mediúnicas, que demonstram as ocorrências de transformações fisiológicas nos médiuns durante o transe, fora estudos similares sobre estados alterados de pessoas místicas, como os dos meninos de Medjugore, feitos por vários pesquisadores do mundo. 

  Desta forma, nomes como o do Dr. Ian Stevenson, da Universidade de de Virgínia, EUA, com sua pesquisa sobre casos sugestivos de Reencarnação, e o do Dr. Karlis Osis, sobre Near Death Experiences (falaremos sobre elas mais adiante) sequer são discutidas. Isso sem falar das várias pesquisas em Psicologia Transpessoal levadas a cabo por vários centros de pesquisa pelo mundo, e os estudos em Psicobiofísica da USP em convênio com o IBPP que formou a primeira turma em Psicobiofísica em 1997, para ficarmos, por hora, em apenas em alguns exemplos.

  Quevedo fala de "provas científicas" de alguns dos fenômenos extraordinários ocorridos na Igreja, mas não diz em que periódicos científicos e não-católicos estão tais provas e deixa de fora qualquer possibilidade de que outros eventos não ordinários que possam ter ocorrido fora dos meios católicos ou, se ocorrem, são provavelmente, na melhor das hipóteses, quando não produtos do já surrado "inconsciente maravilha", ocorrências muito suspeitas, para não dizer fraudes. Esta parcialidade, infelizmente, é uma constante em boa parte dos que se dedicam ao estudo da parapsicologia. Porém, a questão da "prova" é um ponto extremamente controvertido nesta área, e existe cristalização de posturas, do extremo cepticismo à extrema credulidade. Ademais, partindo da existência positiva dos fenômenos, o problema vem se dando nas hipóteses relativas à causação dos mesmos, e estas sempre estão atreladas à visão de mundo que cada teórico assume.

  A epistemologia científica moderna pós-Einstein e pós-Thomas Kuhn confirma, ao menos no nível da Física Contemporânea, inteiramente esta afirmação. Einstein mesmo chegou a dizer que "nunca podemos 'provar' uma teoria. O que podemos fazer é demonstrar que ela faz sentido" e Heisernberg chegou a afirmar que "todas as concepções teóricas da Física nada mais são que modelos que, mais que descreverem a matéria, descrevem a lógica da mente que os criou". Se isso ao nível da Física, o modelo maior de ciência, é assim, que dizer de uma "ciência" tão controvertida quanto a Parapsicologia? Além do mais, nem tudo o que "existe" pode ser provado nos referenciais mecanicistas. Quem pode provar o que sonhou na noite anterior? Quem mediu o consciente e o inconsciente?

  Vejamos o que a este respeito nos fala o Prof. Hernani Guimarães Andrade, em seu livro Parapsicologia - Uma visão panorâmica:
Muitas pessoas ao tomarem contato com os relatos [o autor se refere aos estudos de casos coletos pelo Dr. Ian Stevenson (3.000 casos coletados em cerca de 40 anos de pesquisas), pelo Prof. Hemendra Banerjee e do próprio Prof. Hernani Guimarães Andrade (em torno de 80 casos coletados no Brasil), entre outros, sobre relatos espontâneos de crianças que sugerem reencarnação], estranham a expressão "sugerem", usada para categorizar tais fatos. Não são eles uma "prova" irrecusável da reencarnação? De fato, para aqueles que presenciam e investigam diretamente o comportamento dessas crianças, tais eventos mais do que sugerem, trata-se de legítimas ocorrências de reencarnação. Eles têm a força de uma prova do renascimento.
Entretanto, quando se trata de fornecer a "prova" científica de uma hipótese, esbarra-se com um número apreciável de outras hipóteses que também poderiam explicar o fato investigado. É preciso, então, fazer uma espécie de depuração das circunstâncias que rodearam o caso, a fim de ter-se base para o julgamento da hipótese mais provável, capaz de explicar o fenômeno. Por esta razão, raramente usa-se afirmar, quando em nível científico, que se tem a "prova" para uma dada hipótese explicativa para um determinado fato veridicado [a não ser em alguns comportamentos dogmáticos]. Diz-se, normalmente, que se têm "evidências" de apoio para uma referida hipótese. Em outros termos, declara-se que o caso sugere esta ou aquela explicação. Reconhecemos que tal procedimento pode, até certo ponto, assemelhar-se a uma espécie de eufemismo. Mas, se quisermos ter audiência no meio científico, não há outra forma de apresentar nossas teses, a menos que tenhamos evidências tão gritantes, que eqüivalam a autênticas provas. Mas nem sempre aquilo que soa como prova para uns, tem a mesma tonalidade para outros.


Quando a questão revela implicações com a tese da existência e da sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico, as coisas se complicam.

Defronta-se com uma muralha de cepticismo generalizado e até tradicional, pois há muito, a grande maioria dos cultores da Ciência vêm procurando demonstrar que o homem é um ser exclusivamente material; o resultado feliz (ou infeliz) da evolução cega da matéria apenas. Torna-se até elegante e aparentemente característica de elevado nível cultural, ser rigidamente céptico em relação à tese espiritualista (...) Alguns indivíduos, néscios ou doutos, chegam mesmo a exirmir-se da tarefa de examinar estudos sérios que eventualmente tratem dessas questões, para eles "proibidas" por uma ou outra razão. Repetem o comportamento dos conspíscuos professores da Universidade de Pizza, diante de Galileu, que os convidava a observar, por eles próprios, os satélites de Júpiter, olhando-os através da luneta. Negaram-se a aceitar o convite, baseados, além da Bíblia, na autoridade de Aristóteles, pois este sábio "nunca mencionara, em seus ensinamentos, a existência de tais satélites..."

Passados cerca de três séculos, os satélites de Júpiter foram fotografados de perto pelas sondas interplanetárias... E os sábios doutores de Pisa já não mais estavam vivos para constatar tais evidências que se transformaram em provas objetivas reais.

Por isso, não deve ter-se pressa ou ansiedade em convencer os cépticos, uma vez que o seu cepticismo não altera a realidade dos fatos (Andrade, 2002, pp.310-312).
 É interessante mesmo observar que nosso "parapsicólogo sacerdote" não é sempre tão bem aceito mesmo entre muitos de seus confrades religiosos, e ele mesmo já teve de amargar algumas observações duras de seus superiores há algum tempo atrás. Foi assim que, em 1982, ele causou uma polêmica dentro dos próprios corredores da Igreja ao publicar seu livro Antes que os demônios voltem, tendo sido proibido por seu superior hierárquico, Pe. João Augusto MacDowell, de exercer temporariamente a atividade de parapsicólgo, o mesmo fato se repetido em agosto de 1984, quando o CLAP (Centro Latino Americado de Parapsicologia), órgão pretensamente científico e que tem uma santa, a Virgem de Guadalupe, como padroeira, instituição que foi fundada e é dirigida por nosso parapsicólogo, teve suas atividades suspensas. 
  Aliás, é de se destacar que ele, diante da posição assumida, ao menos aparenta coerência ao ter sérias dúvidas ou mesmo não aceitar como reais (como falou em um recente curso de parapsicologia realizado em João Pessoa) algumas das aparições atribuídas à Virgem ou a quem quer que seja (veja mais adiante suas próprias palavras a este respeito), como as que ocorreram em 1917 em Fátima, Portugal, e que são objeto de devoção de inúmeros católicos. Na verdade, o parapsicólogo teórico jesuíta não deve se sentir tão à vontade ante o relato dos vários fenômenos de aparições de que está cheio a história da Igreja, pois, sendo autênticas, e nem sempre sendo atribuídas à Virgem, ele tem de concordar que algo como um espírito, nos termos como o entendem os espiritualistas, existe - ou seja, algo que representa a existência de vida após a morte e que pode se comunicar com os "vivos" (possibilidade que ele negou veementemente no programa "Jô Soares 11 e Meia", quando ainda no SBT, para, paradoxalmente, aceitar a existência, no homem do "espírito" no programa do Fantástico, ao menos no que foi ao ar dia 12 de março de 2000. Meio contraditório o posicionamento do "Caçador de Enígmas).   
  O fenômeno das chamadas "aparições" (de fantasmas, santos, "anjos", etc.), contudo, é universal, conforme um estudo sério de antropologia e etnografia comprova na coleta de registros, relatos, tradições e lendas, pois se encontra em praticamente todas as culturas. A interpretação de quem os vivencia sempre se apresenta com os traços e roupagens culturais onde se manifestam (veja mais adiante o exemplo amplamente registrado pela imprensa internacional do fenômeno de Zeitun, no Egito, em 1968, desde, é claro, que se aceite como documento válido amplas reportagens da imprensa sobre fenômenos "estranhos"). Assim, uma aparição pode ser atribuída à Virgem, a uma Deusa hindu, a um espírito protetor, um anjo, etc., simplesmente porque esta se dá a um nível de percepção que é difícil de descrever na linguagem ordinária, daí a ocorrência de explicações religiosas para definir a quase indefinível experiência mística, como o sabem os psicólogos transpessoais. 
  Aliás, quanto à questão de Fátima, de Lourdes, de Medjuguore e outras, é bom que o "O Padre que não tem medo de assombração" seja mais claro e aberto frente às câmeras, pois se é submetido à hierarquia da Igreja, ele mesmo parece questionar o que a própria Igreja admite ser verdade, como neste trecho de entrevista que ele concedeu e se encontra no site "O Inexplicável HP", com o link Padre Quevedo 2:
"1- O Milagre de Fátima. - No início do século passado, três crianças viram no céu a imagem de Nossa Senhora, que teria revelado a eles três segredos. O terceiro, nunca revelado pelo Papa seria sobre o fim do mundo. 
Pe. Quevedo: "Não há aparições! Se Fátima fosse uma aparição, todo mundo a veria. Francisco, uma das três crianças, não ouviu nada e não era surdo. Isso é um ERRO de interpretação, não são aparições, mas visões ao gosto do consumidor. Há um fenômeno parapsicológico chamado 'ideoplasmia', que é a idéia plasmada. Você emite uma energia e a imagem aparece como uma foto, é uma espécie de fotografia do pensamento"
  E ai? Quem está certo? O Dizer oficial da Igreja que reconhece a aparição e seus milhões de crentes ou o Pe. Quevedo? Como uma instituição que se diz, na voz de sua ala mais radical - como a do Cardel Joseph Ratzinger, prefeito da antiga Inquisição, hoje chamada de Congregação pada a Doutrina (ou Defesa) da Fé -, a "única" realmente detentora da verdade pode ser assim tão dividida? Se Fátima foi um erro e a Igreja sabe disso, então ela manipula a fé das pessoas? E já que o famoso padre se diz tão devoto da Virgem de Guadalupe, como explicar que a referida imagem impressa em um poncho (avental ou capa) tenha se dado, segundo a lenda, depois de algumas "aparições" de Maria ao índio Juan Diego em 1531, se "aparições" não existem?
 A questão do uso do conceito do inconsciente, próprio da Psicanálise a partir de Freud, por Quevedo tem sido tema de discussões nas salas e corredores das faculdades de Psicologia, já que este parece ser tudo, menos o inconsciente psicanalítico de Freud ou Jung. 
  Na verdade, como bem falam os psicanalistas, o uso do termo inconsciente por algumas pessoas lembram mais o uso de um conceito vago para explicar coisas de que não se sabe nada. Ademais, é problemático se substantivar o "inconsciente", bem como o "consciente". Não existe um objeto espacial, físico, chamado "inconsciente", nem um que seja "consciente". Sabemos que áreas no cérebro que são ligadas à funções fisiológicas precisas, mas uma área específica da memória e do pensamento parece ser difícil de ser encontrada. O que existem são processos de memória, processos de pensamentos, processos conscientes e processos inconscientes, assim como uma música é um processo que está acima das notas musicais tomadas por si. 
 Mas "o" inconsciente (com sua estranha possibilidade de Super-PSI) tem sido algo estranho na teorias de alguns "experts". E prova de que isto pode se aplicar ao "parapsicólogo" jesuíta vem destas palavras que ele costumava usar na abertura de suas palestras: - Eu chamo de inconsciente a tudo aquilo que a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise chamam de inconsciente inconsciente, o que é o mesmo de dizer, como alguma ornamentação retórica, que existe um preto escuro ou que o branco é claro. E aos que têm algum conhecimento da área, fica a impressão de que o padre não tenha de fato falado nada (pois que se o inconsciente é justamente inconsciente por não termos consciência dele, como é que pode ser ainda mais inconsciente do que já é?) E apesar do silêncio que geralmente reina após estas primeiras palavras, percebemos que realmente ninguém entendeu nada, ou, então, aparenta-se ter entendido o nada que foi expresso. Restaria aos psicólogos, psiquiátras ou estudantes de psicologia, então, se manifestarem e perguntar a qual escola de psicologia, de psiquiatria ou de psicanálise o conferencista está se referindo, mas quase sempre ninguém pergunta (e nas poucas vezes em que isso ocorre geralmente o expositor se sente muito incomodado e ofendido, como nos fala o médico Guaracy Lourenço da Costa em seu artigo sobre um curso ministrado pelo Pe. Quevedo), todos se conformam, aguardando pelo resto da exposição "científica". Aliás, convém lembrar que Freud era crítico severo da Igreja. Esta, aliás, foi extremamente rude com as teorias de Freud, como podemos ver por esta passagem de Allers, citada pelo psiquiatra Dr. Alberto Lyra em seu excelente e não-Quevediano livro "Parapsicologia, Psiquiatria e Religião":

"Não pode aceitar o freudismo nem como psicologia, tão impregnado está de filosofia materialista e hedonista, sendo portanto muito perigoso para o cristão qualquer contato teórico ou prático com ele" (LYRA, 1990, p. 183).
Alguns sacerdotes mais lúcidos, porém, começaram a ver que a importância da Psicanálise não poderia ser avaliada por preconceitos religiosos. No mesmo livro o Dr. Lyra cita Joseph Nuttin:

"O fato de se terem realizado progressos nesta ciência (a Psicologia) sem nós e muitas vezes contra nós, foi culpa nossa (dos sacerdotes), isto é, 'por nossa falta de interesse' (pois reconhecemos demasiado tarde a sua importância) e 'por nossa atitude passiva' (pretendendo simplesmente tirar proveito do que fizessemos a outros), pelo que iríamos pagar bem caro, inclusive porque não nos basta no momento fazer aplicação da Psicologia aos nossos problemas (...) e até que se possa reformular a nossa Filosofia à luz das conquistas psicológicas" (LYRA, 1990, p. 182).
 Imagine se Freud estivesse vivo para ver o que estão alguns os ditos "parapsicólogos" fazendo de seu conceito de inconsciente, por vezes atribuindo-lhe capacidades extraordinárias - e de cujas evidências experimentais se pode dizer que são pífias, entre as quais a chamada Super-PSI ou Super-PES...
      Para o pesquisador contemporâneo, membro ativo da Society for Psychical Research de Londres, Alan Gauld,

   "A Super-PES é uma teoria peculiarmente indefinível (...). O problema é que ela não é uma teoria, mas uma atitude mental - atitude que simplesmente se recusa a admitir que há ou que poderia haver qualquer evidência da imortalidade (espiritual) que não possa ser explicada em termos das faculdades psi, especialmente PES (Percepção Extra-Sensorial), entre receptores vivos e médiuns." (Gauld, Alan. Mediunidade e Sobrevivência - Um século de Investigações.1986, Editora Pensamento, São Paulo, p. 131).
  Mas vejamos uma outra pérola descritiva sobre as capacidades "divinas" do "inconsciente" quevediano, talo como o autor descreve (mas não apresenta as pesquisas feitas ou as provas/evidências/indícios de onde, ao menos, tirou isso): 
  "Extra-sensorialmente, o inconsciente sabe tudo o que acontece no passado, presente e futuro, dentro do nosso globo, numa margem de dois séculos" (QUEVEDO, 1976, livro "CURANDEIRISMO: UM MAL OU UM BEM?", Ed. Loyola, São Paulo, p. 156). Bom, isso parece meio que uma usurpação da onisciência divina, não? As única limitações triviais são que a onisciência incosnciente parece ser restringida espacialmente apenas "dentro do nosso globo", e temporalmente a um intervalo de duzentos anos, para o futuro ou para o passado. Pois bem, em que pesquisas se baseia o ilustre autor para chegar a afirmar isso? Qual psicanalista de renome concordaria com isso? O que a Metapsíquica e, posteriormente, a Parapsicologia demonstraram - o que é algo bem diferente - é que é possível à capacidade psíquica profunda, que é inconsciente, captar informações por outros meios que não os sensoriais convencionais, o que só em casos muito especiais se manifesta, e mesmo assim, quase sempre de modo simbólico, e em laboratório tais eventos se dão em proporções esttisticamente bem discretas, o que não liquida a possibilidade -até bem lógica - de que a informação, em certas condições bem específicas, possa ser transmitada por qualquer outro ente em uma outra dimensão da realidade. 
  Convém aqui lembrar as palavras do grande Psicanalista Carl Gustav Jung sobre o abuso que se vem fazendo com o conceito de inconsciente:


Quando dizemos "inconsciente" o que queremos sugerir é uma idéia a respeito de alguma coisa, mas o que conseguimos é apenas exprimir nossa ignorância a respeito de sua natureza.
 O que o Padre "Parapsicólogo" usa constantemente como fundamento de sua teoria do "onipotente" inconsciente paranormal é o conjunto das sugestões postulados por vários metapsiquistas que se sentiam muito mal com a noção de "espírito" e buscavam, então, uma alternativa a este conceito por demais encharcado de conotações religiosas. Tal foi o caminho aberto, em princípio, por Jean-Martin Charcot e por Pierre Janet, posteriormente seguido por René Sudre e, em parte, por Charles Richet, na área conhecida como Metapsíquica, que foi a disciplina anterior à moderna Parapsicologia. A resultante disso foi a postulação, nos anos 50 do século XX, por Thouless e Wiesner de chamar de "função psi" a faculdade de provocar objetivamente os fenômenos paranormais. Esta se originaria de uma entidade psíquica humana primitiva e inconsciente que operaria não só nos fenômenos paranormais, mas em todos os demais fenômenos psíquicos que são objeto de estudo da Psicologia. 
  Os mesmos autores chamariam a esta intância profunda, ou "entidade" psíquica, de "shin", embora este termo seja muito pouco utilizado. Mas o que é isso a não ser uma forma rebuscada de apenas trocar a palavra espírito por outras, consideradas mais técnicas? De qualquer forma, foi um alívio para os materialistas que a "função psi" pudesse ser - ainda que mal - acomodada com certo esforço ao conceito psicanalítico de inconsciente, já que este conceito de Freud atrelava-se à sua postura positivista, pois ele sempre se dizia atrelado ao mecanicismo clássico da ciência do século XIX. 
  Para os crentes do onipotente inconsciente, em especial os filhotes do CLAP, este explica tudo o que não for obra de fraude. Na verdade, até mesmo quando explica um fenômeno legítimo pelo inconsciente, o ilustre "parapsicólogo" jesuíta algumas vezes apenas diz que a fraude de um tipo - consciente e de má fé - é meramente subsituída por um outro tipo de fraude, inconsciente, pois o próprio diz que "Não há dúvida de que o inconsciente é capaz de FRAUDES superiores, muito superiores, às fraudes realizadas pelo consciente" (QUEVEDO, livro "AS FORÇAS FÍSICAS DA MENTE", tomo I, p. 142). Neste caso, os fenômenos mediúnicos são todos fenômenos de fraude, mesmo com fatos paranormais autênticos que se explicariam pelo tão poderoso inconsciente. Mas vejamos que no mesmo livro As Forças Físicas da Mente, página 75, o ilustre "parapsicólogo" fala textualmente:

"Notemos que Home" (Daniel Dunglas Home, o mais famoso médium de efeitos físicos do século XIX) "nunca foi pego em fraude, e que as condições de controle, nas sessões que realizava, foram frequentemente satisfatórias, como veremos".... 

 E ai? Então, pelo que o "sábio" jesuíta escreveu, parece está afirmado que existem fenômenos mediúnicos legítimos...
  Mas será mesmo que é sempre o inconsciente (mera palavra que nada explica em termos paranormais, pois não se sabe o que é este inconsciente quase divino do Sr. "Caçador de Enigmas". Poderia bem ser "guaraná", "transubstancianção" ou qualquer uma outra) do paranormal que é responsável pelos efeitos conseguidos? Isso é uma hipótese? Uma teoria científica? Mas como, se não pode ser testada, e ainda sese diga que é única, fora a fraude? Falando assim, ou melhor, gritando assim, a turma do Sr. Quevedo nada explicando propõe uma "explicação" irrefutável, exatamente por não poder ser testada e, ainda mais, por ser indemonstrável. Todos os resultados de laboratório com respeito a telecinesia foram extremamente modestos, e o agente QUERIA obter determinado resultado, e fora, sem que se queira, nos fenômenos mais assombrosos, o inconsciente ganha força? Isso não parece ser uma explicação reducionista e um tanto forçada para eliminar o incômodo da hipótese espiritualista? Parece a velha tática dos ospositores fanáticos de se valrem por teorias indemostrávei... Que o digam Galileu, Espinoza e Leonardo Boff diante das "certezas" dos Dogmas católicos.... 
 Ao lado da hipótese do inconsciente (no caso de Quevedo, equivalendo à Super-Psi ou Super-PES), e complementar a esta, não existiram outras hipóteses tão ou mais prováveis? Ora, geralmente médiuns e paranormais provocam fenômenos ou dão informações que estão bem além dos conhecimentos deles e da assistência. Sem problema, os adeptos reducionistas apontam para a criptestesia (conhecimento adquirido pela percepção extra-sensorial) onde o inconsciente do informante capta a informação existente em algum outro lugar. 
  Bem, quando o fotógrafo Gordon Carrol procurava fotografar detalhes da Igreja de Santa Maria, em Woodford, Inglaterra, seu interesse "consciente" era apenas o de registrar a plástica arquitetônica do lugar, não havendo mais ninguém com ele. Após ter revelado os filmes de seu trabalho, ele tomou um susto a ver uma figura toda de branco ajoelhada diante do altar. 
Para os adeptos da Super-PSI, Carrol teria "inconscientemente" provocado o fenômeno. O mesmo teria se dado com o vigário K. F. Lord da Igreja de Newby, perto de Yorkshire, que em 1963 apenas querendo registrar a foto do altar da Igreja, acabou depois por ver na chapa revelada um fantasmagórico, realmente assustador, espectro, em uma foto hoje famosa (foto acima), no qual aparece uma figura semelhante a um monge, em processo de semi-materialização. Mas ai fica a pergunta: como ter certeza de que o inconsciente do fotógrafo estava realmente preocupado, planejando e materializando a foto do fantasma, e por quê? Como se mede o "pensamento" intencional do inconsciente? Como ele atua? Sai da "cabeça" da pessoa (ou alguma outra parte) para dar às caras às câmeras? Como podem eles ter a certeza de que, neste e em outros casos, isso foi fruto da ação do "inconsciente"? Por que ambos os fotógrafos não mais conseguiram repetir fotos semelhantes tendo um inconsciente tão talentoso?

Uma outro foto célebre de um "fantasma" foi a obtida em 1936: A chamada "Dama Marrom de Rayham Hall", Inglaterra, que foi vista pela primeira vez em 1835. A foto foi tirada pelo Capitão Provand e por Indre Shire, quando faziam uma matéria para a revista Country Life. Shire viu um vulto se acercando do topo da escada e avisou ao Capitão Provand, que, nada vendo na hora, assim mesmo bateu uma fotografia da escada e conseguiu captar o vulto descendo. Neste caso, pode se aplicar, como hipótese, a teoria da ideoplastia ou escotografia inconsciente, pois os fotógrafos tinham a expectativa de fotografar o fenômeno. Porém, esta é meramente uma das hipóteses, a outra seria a de que um "espírito" de uma pessoa (que ninguém sabe quem seria) foi de fato fotografado, confirmando os relatos das pessoas que o viram desde 1835. Não há como provar, especialmente tanto tempo após o ocorrido, uma ou outra destas duas hipóteses. 
  O mesmo fenômeno serve de evidência a ambos os modelos teóricos. Ambas as explicações, portanto, são válidas, ainda que os fotógrafos tenham tido a certeza de que, de fato, fotografaram um fantasma objetivo.

    Quevedo usa e abusa do fato de que um americano médio, chamado Ted Serios, demonstrou suas faculdades de escotografia em vários experimentos. 
Mas o que Quevedo não diz é que para conseguir as Escotografias (e muita gente acha que nem sempre todas as fotos estáticas ou em via de formação para uma figura estática eram autênticas, embora um bom conjunto delas dificilmente sejam explicadas por fraude) por Serios este se punha em um estado de grande tensão consciente para obter as fotos e, conforme GARCIA FONT, "com as veias prestes a rebentar, a suar e a beber whisky" (ENCICLOPEDIA de CIÊNCIAS OCULTAS E PARAPSICOLOGIA, vol. 1, p. 264), e freqüentemente punha uma ou as duas mãos em contato com a objetiva da câmera. Ao lado, foto de Ted Serios em ação e, abaixo, uma de suas escotografias.

O que fica deixando essa teoria um tanto mole é que na maior parte das fotos de fantasmas acidentais, as pessoas não pensavam e nem queriam tirar foto de fantasmas, muito menos entravam em um nervoso estado de tensão conscientemente provocado. Aliás, existem fotos obtidas por circuitos internos sem que pessoa alguma estivesse presente, o que já deixa a teoria quevediana igualmente em cheque, pois ele diz que sem um sensitivo, paranormal ou qualquer que seja o nome que cada "tribo" queira dar, não existem fotos paranormais sem que a pessoa causante esteja presente até pouco mais de 50 metros de distância.
Que dizer então da seguinte foto (trecho de um vídeo), em um estacionamento vazio pelo circuito interno eletrônico de tv nos Estados Unidos?

  Para não dizer que estes "fantasmas" são apenas acidentalmente captados por fotos e vistados por pouquíssimas pessoas "ao vivo", devemos lembrar que em 1968, enquanto o Ocidente vivia sua fase de febre contestatória na Europa (Maio de 68, em Paris; Primavera de Praga, na Tchecoslováquia), nos EUA (contra a sórdida Guerra do Vietnã e a luta pelos Direitos Civis), e no Brasil, os estudantes iam às ruas contra a Ditadura Militar, a televisão do Egito mostrava um estranho fenômeno presenciado por milhares de pessoas, na maioria mulçumanos, inclusive pelo Presidente Nasser, por sobre as torres de uma Igreja Ortodoxa Copta (portanto, não Católica-Romana) em Zeitun, Egito, segundo os jornais da região e outros do exterior. 
A figura, ou melhor, sua silhueta, lembrava as representações clássicas ocidentais da Virgem Maria e foi como uma "aparição" de Maria que foi interpretada (correta ou incorretamente) pela maioria dos que viram o fenômeno(lembremos que Maria, junto com Jesus, são duas figuras respeitadas pelos mulçumanos e são citadas no Corão e, portanto, são parte da herança religiosa do Oriente Médio islâmico. A pergunta é: sendo uma "ideoplasmia", por que não foi vista em uma Mesquita? Quem garante que foi a figura histórica de Maria?). 

  O fenômeno, segundo as fontes, repetiu-se por várias vezes seguidas, e foi bem fotografado. Veja como a figura tem certa semelhança com a da foto da "Dama Marron" acima citada. Um vídeo-documentário sobre o fenômeno pode ser visto na internet, em http://www.zeitun-eg.org/zeitun_en.rm

  Aqui, mais uma vez se pode usar com lógica a hipótese da "ideoplastia" ou "teleplastia", neste caso, tendo, sempre em suposição, talvez vários epicentros, ou seja, tendo por causação várias pessoas, e não uma ou algumas poucas. O único porém é que este é, talvez, o único caso registrado de ilusão ou "ideoplastia" coletiva registrado em fotografia! Ademais, a energia necessária para plasmar uma figura luminosa como a que aparecem nas fotos da época levaria à exaustão os epicêntros "inconscientes" responsáveis pelo fenômeno. Não foram achadas qualquer prova consistente ou convicente de fraude. Neste caso, essa teria sido uma espécie de hiper-ilusão inconsciente coletiva, talvez percebida por "contágio" psíquico, potencialmente materializada ao ponto de ser registrada em fotos? Mas este tipo de explicação, embora com sua lógica e aparência de verossimelhança, soa um tanto quanto forçada para se adequar ao modelo positivista (?) mecanicista ainda dominante. Não é convincente, em especial para quem presenciou os fenômenos (no vídeo indicado existe vários depoimentos de testemunhas oculares). 

  O que se tem certeza é de que "algo" ocorreu nas torres da Igreja Copta de Zeitun entre 1968 e 1970, e que foi percebida por uma imensa multidão de pessoas. A questão "causal" sobre este fenômeno, portanto, permanece em aberto e, de fato, foi tão desconcertante que ainda hoje ele intimida e confunde pesquisadores no mundo inteiro. Como não mais se repetiu em lugar algum, a maioria prefere descartá-lo como alucinação e fraude. Convém, só para notificar, que ao lado da silueta humana principal vista, também foram percebidas figuras de aves, aparentemente pombas luminosas e outras figuras pouco claras ao redor da "aparição". Mas esta é uma "aberração" estatísica... Não se vê freqüentemente algo assim pelas ruas do mundo. 
Para ver fotos de espíritos tiradas por cientistas célebres em um rígido controle experimental, e ler excelentes artigos sobre a questão da sobrevivência, aconselho o leitor a visitar o site da "The International Survivalist Society"
Como fala o professor Henrique Rodrigues, o inconsciente, para o "Caçador de Enigmas", é uma espécie de conta bancária que tem a facilidade de pagar prontamente qualquer cheque, além de ter características tão assombrosas, bem além do que postulava Freud e Jung, que não pode ser entendido como o inconsciente da psicanálise tal como conhecido e estudado nas faculdades de Psicologia e Medicina, mas sim um inconsciente "sui generis", "paranormal" (mas sejamos justos: o bom padre não foi o primeiro a postular tal inconsciente "paranormal" semi-divino, e nem é o único a adotar ardorosamente tal modelo), e a tal ponto poderoso, que é capaz conseguir gravar imagens e sons em fitas magnéticas em laboratórios eletrônicos da mais alta tecnologia, estando os equipamentos isolados em salas hermeticamente fechadas, ou que tem a capacidade de manter diálogos com as pessoas quer por meios eletrônicos, quer por intermédio de médiuns, e que costuma mudar a caligrafia do médium no caso da psicografia e dar informações que eram desconhecidas de todos os presentes... Enfim, um "inconsciente" que é quase uma entidade espiritual... Aliás, se o inconsciente é uma instância psíquica, pertence portanto à alma humana. Ora, sendo assim, esta ainda a deve deter após a morte (o padre ora diz que temos um espírito, ou diz que espíritos não existem... Mas é dogma da igreja de que as almas continuam a existir em algum lugar, quer seja o céu, o inferno ou o purgatório... Ora, será que o inconsciente, nos moldes quevedianos, deixaria de ser menos poderoso do outro lado? Neste caso, seria mais um problema a se expor ao ilustre parapsicólogo), e o que impediria, então, de que esta instância continuasse a funcionar tão maravilhosamente quanto em vida? No fim das contas, esta teoria não parece realmente ser mais que o mais recente reduto dos reducionistas com fobia do espiritismo. De qualquer modo, parece que o mister do caro padre em distorcer fatos já de longa data foi percebibo por alguns estudiosos, como o professor Afonso Martinez Taboas, em sua Revisão Crítica dos Livros do Padre Quevedo
Cabe aqui, penso eu, a citação de um trecho do excelente artigo de Carlos S. Alvarado, publicado pela Revista Argentina de Psicologia Paranormal, e intitulado Aspectos Ideológicos de La Parapsicologia:
"Otros ejemplos existen en donde la parapsicología ha sido utilizada para defender un sistema de creencias religiosas específicas. Este es el caso del Jesuíta Oscar González Quevedo (1969/1971). Una revisión de la obra de este escritor muestra claramente que su ideología religiosa moldea las teorías y los fenómenos considerados válidos en el campo 4. González Quevedo pretende utilizar argumentos científicos para establecer que la comunicación entre las vivos y los muertos no es posible. Pero su prejuicio religioso se revela cuando afirma que: "Solo Dios puede conseguir esta comunicación. La comunicación perceptible sería milagro" (p. 113). De forma similar, este autor nos presenta aparentes análisis racionales de "milagros" y de la diferencia entre lo milagroso y el fenómeno humano. Pero en toda ocasión es claro que su intención non es válida- su sistema religioso, aceptando por fé los dogmas de su religión y defendiendo un sistema de parapsicología diseñado para combatir el espiritismo y otras interpretaciones de los fenómenos psíquicos."
  De qualquer forma, é bom sabermos que muitos outros pesquisadores estão abertos aos fenômenos da Experiências de Quase Morte (EQM), da psicografia e da transcomunicação, sem impor a estes preconceitos de antemão construídos para os desacreditar. Neste sentido é reconfortante saber que o fenômeno da Transcomunicação, ou, como também é conhecido, da Psicotrônica, tenha atingido tal importância nos meios científicos ao ponto de ser aprovado todo um programa de estudos para este campo, encabeçada pelo Institute of Noetic Sciences, da California, Estados Unidos, organização fundada pelo astronauta Ed Mitchell e que conta com inúmeros cientistas e pesquisadores ligados às mais importantes Universidades Norte-Americanas (clique aqui para obter mais detalhes sobre este programa). 
  O novo mágico, ou melhor, a nova estrela (à época) das noites de doming, irá bem usar de seu espaço nobre na mídia e mais uma vez nos contará, como o fazia seu antecessor, como são os segredos e truques - porque esta é uma área onde eles se apresentam mais claramente , o que não implica dizer que só existam truques ou pessoas de má fé - de parte do que se apresenta, aparentemente, como "fenômenos paranormais" - sim, porque ele mesmo reconhece que existem realmente fenômenos legítimos, mas apresentá-los e demonstrá-los não é, obviamente, seu principal trabalho na TV, muito menos o de respeitar ou apresentar os trabalhos e pesquisas de outros, a menos que compartilham de seu mesmo ponto de vista que, claro, julga ser o único correto. É mais fácil apresentar alguns truques de circo e generalizar a apresentação para explicar todo o universo dos fenômenos geralmente ligados a vertentes religiosas que ele não aceita e quer que não sejam levados em conta por ninguém. 
 "Oh, este ai sabe!", exclama o grande público, sem culpa por não terem tido um estudo eficaz o suficiente para desenvolver o senso crítico, permanentecendo na sua ingenuidade e fé no no dito que diz a mídia em geral, e aTV, em especial, em associação com o respeito que a aura de um Sacerdote Católico, e ainda mais estrangeiro e parapsicólogo, inspira, permanecendo, porém, as pessoas distantes da literatura especializada no assunto. A imagem, para muitos, diz tudo. Mais adiante, porém, iremos nos aprofundar no que é realmente a Parapsicologia que, atualmente, foi aprofundada na Psicobiofísica. 
O ilustre auto intitulado "parapsicólogo" teórico a que nos referimos nasceu na Espanha. Em sua infância teve parentes espíritas (ao menos é isso o que ele diz), mas sua vocação para o sacerdócio católico o fez entrar em choque com as idéias dos que simpatizam com o espiritismo. Por esta época, já se tornornava para ele intolerável que os espíritas - ou quem quer que fosse - pudessem por em cheque os ensinamentos e dogmas da Igreja, ainda que tivesse um secreto interesse por temas como materializações, aparições, etc., em especial as ocorridas dentro da Igreja Católica. 
Os fenômenos ditos "paranormais" (que não necessariamente são sinônimos de anormais ou sobrenaturais, hoje em dia sendo paulatinamente chamados de fenômenos psi e que só são ainda paranormais por escaparem ao escopo de nosso paradigma científico dominante. Se um cavalheiro de 1801 visse, pelas ruas de Paris, um automóvel andando sem que se visse cavalos puxando-o, certamente teria tomado a "visão" como sendo sobrenatural), porém, não pertecem, não são e nunca serão exclusividade do movimento espírita, do mesmo modo que as fraudes e trapaças, que, se existem, também não deixaram e não deixam de ocorrer igualmente até mesmo em ciências muito bem assentadas, mas que nem por isso chegaram a desmontar a Medicina ou a própria Igreja - e não foram poucos os falsos milagres e o comércio da fé ocorridos nas paredes dos templos católicos. E nem mesmo os luminares do intelecto e da pesquisa mais moderna escapam de montarem sistemas ou idéias de um precoceito flagrante. Tome-se o caso, por exemplo, da volta implícita do racismo na moderna teoria da Sociobiologia que, em linhas gerais, estabelece uma etnia (claro, a do homem branco) como superior às demais. 
 Os fenômenos paranormais já existiam antes do espíritismo (doutrina formulada na Europa no século XIX), são relatados em todas as culturas, continuam a ocorrer, e seus registros fazem parte de praticamente todas as partes do mundo onde se conhece a escrita ou outra forma de expressão plástica (C.f. Mircea Eliade, em seu livro "O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase" e Ernesto Bozzano em "Povos Primitivos e Manifestações Supranormais") e mais adiante veremos que estão muito bem registrados na própria Bíblia. 
Financiado pela Igreja, especialmente pela ala ultra-ortodoxa, o "Padre que não tem medo de assombração" muda-se para o Brasil onde, no Rio Grande do Sul, termina seus estudos de Teologia e, diante da imensa popularidade das idéias espíritas e espiritualistas no país, passa a se dedicar com maior ênfase ao estudo da Parapsicologia, por ser este, segundo ele, o único instrumento válido para combater principalmente os - também segundo ele - erros do espiritismo. Na verdade, se fosse esta a sua real intenção, seu trabalho seria louvável e de grande utilidade, desmascarando os reais embusteiros e charlatães que existem a torto e a direito por todos os lugares. Neste ponto, deveria, usando do fundamento da imparcialidade, igualmente, conhecer e respeitar os trabalhos de outros parapsicólogos sérios - que citaremos mais adiante e cujos trabalhos são mencionados na bibliografia ao final desta página - que constatam a existência de outras tantas pessoas "especiais", chamadas de parnormais e os fenômenos a elas correlatos dentro mesmo de quadros teóricos a que não se acha obrigado a concordar. 
Porém, patentemente não era esta sua inteção, ou apenas esta intenção, mas sim a de usar de um novo campo de pesquisas, a Parapsicologia, para se revestir de certa autoridade e dar um halo de cientificidade à muito de sua guerra pessoal contra os espíritas, passando por cima das novas áreas de estudo em ciência, como as descobertas da Física Moderna, a Psicologia Transpessoal, os estudos sobre mente e consciência levados à cabo por Karl Pribam, os trabalhos de David Bohm e outros. Ele simplesmente despreza as consequências destas pesquisas que superam o modelo mecanicista que já vem sendo superado pela ciência, em especial a Física e Biologia (C.f. a Home Page O Novo Paradigma Holístico), que relativiza a visão de mundo ocidental que o "Caçador de Enigmas", apesar de pertencer, bem ou mal, a uma instituição que se diz espiritualista (será?) e em seus livros demonstrar, intelectualmente falando, é claro, conhecimento dos avanços epistemológicos nas ciências físicas e cognitivas, inclusive adotando uma postura mais coerente com estes avanços no tocante à validade da Percepção Extra-Sensorial (PES) (obs.: existe um conjunto de evidências da PES, mas não exatamente de uma Super-PES, que é a proposta de Quevedo) ainda adota ardorosamente os velhos modelos mecanicistas quando se trata de combater as idéias e teorias outras que levam em consideração a interrelação e comunicação entre planos de existências diferentes, como o espiritual e o físico, e assim sendo, ele age mais como um dos últimos positivistas que como um cientista de vanguarda. Pelo menos é bastante newtoniana a sua acertiva de que os efeitos físicos paranormais, em especial os causados em aparelhos eletrônicos, são inversamente proporcionais à distância que deles se acham os paranormais... Bem, levando-se em conta as descoberta da física quântica, em especial a do experimento de Einstein-Rosen-Podolsky, esta assertiva, se tomada como lei, é ao menos questionável. Quevedo insiste que gravações paranormais só podem ser feitas se um agente (pessoa) está por perto, até cerca de 50 metros, para que o inconsciente (de que forma? como?) possa produzir imanges registradas em vídeo. Bem, então como se explica uma imagem "fantasma" feita pelo sistema de segurança de um estacionamneto, onde se vêem carros dispostos em mais de 150 metros, sem que nenhuma pessoa esteja presente? Este vídeo foi apresentado pela News Channel 4, da cidade de Oklahoma, Estados Unidos, e pode ser vistoaqui
Como muito bem nos fala Lawrence LeShan em seu livro "De Newton à Percepção Estra-Sensorial, A Parapsicologia e o Desafio da Ciência Moderna", fazendo eco às pesquisas em Filosofia da Ciência de Thomas Kuhn, Edgar Morin e Fritjof Capra, a partir da Revolução Científica do século XVI, a visão do homem sobre a natureza modificou-se consideravelmente.

"A nova visão era a de que tudo no mundo funcionava [basicamente] da mesma maneira, do mesmo como como as máquinas funcionavam. As coisas só se afetavam mutuamente através de um contato direto, da mesma forma que uma biela faz uma roda girar. (...) Uma vez que Newton demonstrou que esse modelo mecânico podia ser aplicado ao movimento dos planetas, este, cada vez mais, tornou-se a única espécie aceitável de explicação até que, no final do século XIX, foi aplicada a virtualmente tudo, inclusive a evolução das espécies, às realizações da sociedade e à própria consciência" (LeShan, Op. Cit, p. 21).
Só que, a partir da nova Revolução Científica iniciada em fins do século passado, na Física (C.f. meu texto A Física Moderna, Uma Nova Visão de Mundo), em especial com os trabalhos de Faraday, Maxwell e Planck, atingindo seu ponto mais dramático com Einstein e os teóricos da Física Quântica (Bohr, Schrödinger, Heisenberg e outros), ficou amplamente demonstrado que a visão de mundo mecanicista da física clássica de Newton, que serviu de modelo às demais ciências, não só não dá conta de toda a realidade física como, inclusive, é vista como sendo uma criação humana, útil, porém limitada, feita pelo homem para dar sentido aos fenômenos naturais que o cercam, e mesmo assim, só ao nível das chamadas dimensões médias, ou seja, dos objetos compostos (portanto, formado de um conglomerado de átomos) que nos cercam e com quem interagimos a velocidades muito baixas. Se saímos desta faixa de dimensões médias, indo para o nível atômico, ou para os grandes conlgomerados de galáxias, ou temos de lidar com grandes velocidades, a mecânica de Newton simplesmente deixa de funcionar à contento.
As mudanças conceituais na Física Moderna, porém, correram silenciosas e à parte dos estudos nas ciências humanas, em particular na Psicologia e, com ela, na Parapsicologia. De fato, na Física ocorria um movimento que



"se afastava da idéia de que apenas um modelo do universo era necessário para explicar toda a realidade, indo em direção ao conceito de que diferentes modelos eram necessários para lidar com diferentes aspectos (domínios) da experiência. Tudo começou com Max Planck, em 1900, segundo a qual o sistema teórico necessário para explicar o microcosmo (aquele mundo de coisas por demais pequeno para ser observado pelos sentidos, ainda que teoricamente) era diferente do sistema necessário e válido para o domínio das coisas cotidianas, acessíveis aos sentidos. De acordo com as palavras de Planck, vivemos em um 'universo de duas pistas'. Eis o que revelou o físico Erwin Schrödinger:


À medida que os olhos de nossa mente penetram em distâncias cada vez menores e em tempos cada vez mais curtos, percebemos a natureza comportando-se de maneira tão inteiramente diversa daquilo que observamos em corpos visíveis e palpáveis, em torno de nós, que nenhum modelo criado a partir de nossas experiências jamais poderá ser inteiramente 'verdadeiro'.
"Decorridos alguns anos, Einstein demonstrou que um terceiro sistema, um terceiro modelo, era necessário para o domínio da experiência que incluia coisas grandes demais ou que caminhavam rápido demais para serem acessíveis aos sentidos.
"Nenhum desses sistemas explanatórios se contradiz mutamente. Eles são compatíveis e nehum é mais válido do que os outros. São simplesmente acessíveis a um domínio específico da experiência (...).
"Aos poucos ficou evidente (...) que um comportamento significativo, não pode ser explicado simplesmente de acordo com os mesmos princípios a que precisamos recorrer para lidarmos com os domínios de experiências que interessam a um físico [coisa já demonstrada pelo filósofo existencialista Sören Kierkegaard no século XIX] (..)(LeShan, Op. Cit.pp.16-17).
A pesquisa Parapsicológica propriamente dita - como veremos mais adiante - começou por uma tentativa de avaliação científica dos fenômenos espíritas.
"A pesquisa sobre a mediunidade desenvolveu-se no final do século XIX em um momento de crescente materialismo. Diante de uma crença cada vez maior, segundo a qual apenas aquilo que se podia ver e tocar era real, que afirmava todas as coisas, vivas e não vivas, funcionavam de acordo com um princípio mecânico, que proclamava que a morte significaca o aniquilamento, iniciou-se uma pesquisa para obter provas de que existia algo mais do que aquilo que era visível, que para o homem havia alguma coisa além do corpo, algo que sobrevivia à morte."De acordo com o conceito de um dos seus fundadores, Frederic Myers, tratava-se de 'uma questão que se situa no ponto de encontro da religião, da filosofia e da ciência, cujo propósito é aprender tudo aquilo que pode ser apreendido sobre a natureza da realidade humana'. Era a busca da prova de que o homem era mais que uma máquina, mais do que aquilo de que uma filosofia materialista poderia dar conta.
"Finalmente, na década de 30, tornou-se claro que havia dois tipos de atividade paranormal. O primeiro deles eram os acontecimentos que, originalmente, excitaram nosso interesse pelo campo - as aparições no leito de morte, os casos de mediunidade, as trocas telepáticas que modificam nossas vidas. Tais tipos de eventos, [por serem os mais expressivos existencialmente], não eram facilmente quantificáceis e rapidamente tornou-se claro que jamais o poderiam ser, pois eram significativos e nos afetavam (como poderia ser possível medirmos em unidades os acontecimentos importantes de nossa vida - nosso primeiro amor, a morte de um dos pais, o nascimento do primeiro filho?). O segundo tipo eram aqueles que podiam ser quantificados: quantas cartas se pode adivinhar corretamente em um baralho escondido, independentemente do acaso? Quantas vezes, deixando de lado o acaso, pode-se fazer com que o lado de um dado que marca cinco caia para cima, unicamente mediante a força de vontade? Eram acontecimentos mínimos, essencialmente desprovidos de significado. Não exerciam o menor efeito sobre a nossa existência e raramente sabíamos quando eles haviam ocorrido. (...)
"Elas eram, porém, quantificáveis. A ciência e o pensamento de boa parte de nosso século nos diziam que, se quiséssemos ser 'científicos', se quiséssemos estudar coisas 'reais', teríamos de estudar coisas quantificáveis (...)" (LeShan, Op. Cit. pp. 33-34).
Para o mundo sensorial, o mundo que nos cerca, um entendimento geométrico e matemático funciona. Pois bem, coisas quantificáveis podem ser estudadas estatisticamente. O envólucro matemático parece dar à maioria dos cientistas da área de humanas o conforte de poderem ser reconhecidos como cientistas, de acordo com o paradigma mecanicista da ciência newtoniana do século XIX. Devido ao grande sucesso prático deste paradigma, expresso sobretudo no desenvolvimento tecnológico e na aceitação social deste modelo clássico, eles, em sua maioria, ainda desconhecem os avanços epistemológicos que adiviram das ciências físicas e da Psicologia profunda, a começar por Carl Gustav Jung. Mas os os números dizem muito pouco sobre as relações de acontecimentos, a não ser sua periodicidade. A explicação destas, porém, ficava ao critéro de cada pesquisador, já que não há uma teoria parapsicológica geral e aceita por todos os parapsicólgos. É aqui que o Padre "Caçador de Enigmas" faz a sua festa, pois ele interpreta fatos espíritas de acordo com uma concepção mecanicista de parapsicologia, ainda que em seus livros pareça ter uma postura mais contemporânea menos mecanicista para outros fenômenos clássicos, como telepatia e precognição, inclusive alencando os limites do mecanicismo, e faz deste conhecimento uma arma conceitual - ou melhor, plena de preconceitos - para descreditar em especial o espiritismo, doutrina que ele já teve mais de uma ocasião de dizer que odeia. 
  Só que as coisas que estão ligadas à consciência do homem - e que, realmente, são as mais profundamente significativas - são tudo, menos quantificáveis e muito menos facilmente "replicáveis" em laboratório. Até mesmo o sucesso de Rhine quanto à questão da comprovação da psicocinesia foi estremamente modesto. Ninguém, por não poder fazer um estudo experimental com variáveis explicitamente controlada, vai dizer que o fenômeno "apaixonar-se" não existe porque no laboratório um cientista não conseguiu que homens e mulheres desenvolve-se este sentimento de modo estatisticamente significativo em um dia. Nem tampouco podemos dizer que o pensamento é uma abstração porque não o conseguimos pesar numa balança e muito menos localizá-lo com certeza numa certa região do cérebro - o mesmo dizendo para a memória, como nos mostra os excelentes estudos de Karl Pribram. O "Caçador de Enígmas" tem o mérito de saber disto e discorrer sobre tal em suas obras, mas toma posição bem tradicional quando a questão se refere à comunicação mediúnica ou aspectos relacionados à possível interação vivos e mortos. Ora, como ninguém pode se apaixonar na hora que quiser, ou deixar de sonhar a partir da noite de hoje, dizer que certos fenômenos psíquicos são ficções ou embustes apenas porque não são replicáveis em laboratório mostra muito bem o quanto o ilustre padre tem uma mentalidade teórica muito concordante com a ciência do século XIX, mas não do século XX. É mais fácil ocorrer telepatia entre uma mãe e um filho (grau altamente significativo em termos psicológicos), que entre um suposto "telepata" e um estranho, que tenha à frente uma carta de baralho, e ao qual um pesquisador fique cronometrando o tempos e as respostas, para ver, estatisticamente, a relevância dos acertos ou erros (grau altamente concorde com a visão científica do século XIX, e altamente não significativo em termos psicológicos, ao sujeito que participa da experiência). Da mesma forma ocorre com os chamados fenômenos mediúnicos, e não é por serem estes replicados em condições controladas e como se espera que ocorram que se pode afirmar que não existam, tal como o diz o "caçador de enígmas". Mas o real interesse é mais o de atacar determinados pontos de vista do que se dar ao luxo de pesquisar ou deixar que outros, que pesquisam, tenham a chance de expor ou dispor de espaço na mídia sensacionalista para apresentar uma outra visão mais "avançada" dos fenômenos psíquicos, o que contradiz o proselitismo do super-star da pseudo-parapsicologia televisiva. 
 Basta ver o modo como o "parapsicólogo" jesuíta dirige seu discurso "parapsicológico" para bem ver a sua Parcialidade. Vejamos alguns exemplos, citado pelo parapsicólogo Alfonso Martinez-Taboa em seu artigo Uma Revisão Crítica dos livros do Pe. Quevedo:
  O dogmatismo marcado do sacerdote Padre Quevedo se reflete em todas as suas obras. Aquele com quem não combina é titulado, com frequência, de "um enganado", "espiríta" e "anti-científico". Muitas de suas conjecturas perdem essa qualidade ao virar-se umas páginas mais adiante em fatos estabelecidos. 
  Prova disso não é difícil de se oferecer. Por exemplo, no tomo I de "As Forças Física da Mente", página 287, se diz: "os fenômenos parapsicológicos não são nem podem ser do "além" (a não ser raramente, por força divina apenas). 
 Em seu livro "O que é Parapsicologia", página 113, diz que "outra das principais conclusões da Parapsicologia teórica é a confirmação de que não há comunicação natural entre os vivos e os mortos".
Nesse mesmo livro(p.116), diz que o "Milagre de Fátima" foi uma alucinação divina. "É o selo divino para confirmar que as alucinações eram verdadeiras, de origem sobrenatural." 
E na página 109 diz que as profecias da Bíblia têm sido "cientificamente" provadas. Diz este: "Trata-se de Deus, é fenômeno sobre-humano." 
Que tem a dizer sobre tudo isso um parapsicólogo que estime de alguma forma a ciência? Primeiro que tem que esclarecer que o Padre Quevedo ao dizer que "a Parapsicologia teórica" tem rechaçado o Espiritismo, só está expressando sua opinião particular. 
Como bem assinala Rogo: "Atualmente não há opiniões reconhecidas em geral na Parapsicologia sobre a sobrevivência após a morte." 
Segundo, sua insistência de que "Deus", "a Virgem" e a "Ordem Sobrenatural", têm se manifestado abertamente, e que isto está "cientificamente" demonstrado, é mais uma asserção teológica e apressada, que científica. Em nenhum de seus livros encontramos nem sequer as razões mínimas para conter ditas informações tão categóricas. No entanto, disse-nos que estão "provadas", e nada menos que pela ciência
Da mesma forma, outras muitas conjecturas, as quais costumam passar como "princípios" e "leis" sobre como deve atuar o ectoplasma, os limites da percepção extra-sensorial, etc., não nos parecem estar fundadas na razão e em firme documentação.
Este problema aponta para a presunção do "Caçador de Enigmas" de se considerar o único estudioso da parapsicologia. Mas já na época em que ele chegou ao Brasil, existiam estudiosos profundos sobre Parapsicologia, caso do Professor Hernani Guimarães Andrade, engenheiro e escritor, pesquisador incansável que, inclusive - e sendo citado por inúmeros artigos, além dos próprios, em revistas especializadas do exterior - ampliou o campo de análise dos estudos Parapsicológicos ao formular a disciplina de Psicobiofísica (atualmente aceita por centros de excelência e pesquisa, como a tradicional USP, por exemplo). Dentre vários prêmios de reconhecimento por seu trabalho (discreto, sem apelação, como cabe a todos os pesquisadores sérios), recebeu o “Diplôme de MEDAILLE D’OR”, concedido pelo Conselho Superior da “ORDRE DE L’ÉTOILE CIVIQUE” “Union des Elites Françaises”, fundada em 1929 e consagrada pela Academia Francesa, em reconhecimento pelos trabalhos científicos no campo da Parapsicologia
Ainda hoje atuante, em seus 87 anos de idade, o Professor Hernani Guimarães Andrade mantêm rico intercâmbio com os maiores centros de pesquisa das Universidades da Europa e da América, recebendo publicações e artigos sobre os quais freqüentemente é solitado a opinar. É amigo pessoal do Dr. Ian Stenvenson e de pesquisadores como Karlis Osis. Mateve contato com o criador da Parapsicologia, Joseph Banks Rhine, da Universidade de Duke, e foi um dos mais atuantes divulgadores do seu trabalho no Brasil. O Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas por ele fundado em 1963 foi tão bem aceito pela comunidade psi internacional que o famoso pesquisador e membro da "Society for Psychical Research" de Londres, Mister Guy Lyon Playfair entagiou durante três anos junto ao IBPP.
O Sr. Hernani é o autor da teoria do Modelo Organizador Biológico - MOB, que ele apresentou mais de vinte anos antes de que o biólogo britânico Rupert Sheldrake fizesse o mesmo com a sua teoria dos Campos Morfogenéticos, que guarda grande similaridade com a teoria do pesquisador brasileiro. (Obs. do autor: O Engenheiro Hernani Guimarães Andrade morreu em 2003 e o Dr. Ian Stevenson em 2007) 
Convicto da realidade da continuidade da vida após a morte, ou seja, da existência do espírito - o que nosso querido padre nega - e da possibilidade de comunicação dos chamados mortos com os vivos, Guimarães Andrade foi o primeiro a fazer pesquisas sistemáticas, dentro dos mais rigorosos critérios metodológicos, de fenômenos paranormais pelo Brasil. Seu três livros, "Morte, Renascimento, Evolução"; "Espírito, Perispírito e Alma" e "Psi Quântico", juntamente com o valioso "Parapsicologia Experimental", publicado pela primeira vez em 1967, e o bem documentado livro "Poltergeist, Algumas de suas ocorrências no Brasil", de 1989, constituem marcos do pensamento e pesquisa Parapsicológica no Brasil. 
Podemos citar, igualmente, a atuação do Professor Henrique Rodrigues, engenheiro eletrônico e Parapsicólogo. Conferencista internacional, membro ativo de diversas universidades e instituições que se atêm ao estudo da Parapsicologia, como a Universidade Kennedy, de Buenos Aires, a Sociedade Espanhola de Parapsicologia e a Sociedade Italiana de Metapsíquica, só para citar algumas delas. Foi ele - e não o nosso orgulhoso protagonista das noites de domingo, - o único parapsicólogo estrangeiro convidado oficialmente para apresentar suas teses e inventos na ex-União Soviética, no Museu Arqueológico de Moscou e no Auditório Hermilton de Leningrado. Foi laureado em 1975 no Congresso Internacional de Parapsicologia, em Gênova, Itália, com o "PRÊMIO ERNESTO BOZZANO". É autor do livro "A Ciência do Espírito" e de inúmeros artigos. 
O professor Henrique comunga das mesmas opiniões que seu colega Hernani Guimarães Andrade, como também o fazem o Dr. Alberto Lyra e o engenheiro Clóvis Nunes e os Psicólogo Pierre Weil, isso para citar apenas os estudiosos da Parapsicologia no Brasil, deixando de fora os nomes dos pesquisadores internacionais como Stanislav Grof, Elizabeth Kubler-Ross, Raymond Moody, Abraham Maslow, James Fadiman, Stanley Krippner, Kalis Osis, Charles Tart, etc., isso sem contar os nomes de pesquisadores conhecidos do início do século, como William James, Charles Richet, Ernesto Bozzano ( um dos maiores e mais extraordinários pesquisadores de fenômenos Psi do século XX, professor da universidade de Turim e autor de livros extraordináriois, como Metapsíquica Humana e A Crise da Morte entre muitos outros ) e o discreto apoio de Carl Gustav Jung. 
Atualmente, no exterior, os estudos de Experiências Próximas da Morte (Near Death Experiences) - que, aliás, a própria Rede Globo, no mesmo programa dominical, frequentemente apresentava em matérias especiais - (* *Atenção: : no dia 23 de dezembro de 2001, o programa Fantástico apresentou uma reportagem de uma série de pesquisas feitas por médicos e cientistas na Holanda sobre as experiências próximas da morte. Para ver a reportagem de capa "A Linha da Vida" clique aqui. É necessário o programa Real Player para vê-lo, e que pode ser adquirido gratuitamente, em sua versão básica, aqui), com nomes como Raymond Moody Jr e Karlis Osis (1919-1997) de estados alterados de consciência (Alterated States), com Stanislav Grof e Charles Tart e, no Brasil, com Pierre Weil, e os estudos de regressão de memória de Morris Netherton traziam novo reforço ao posicionamento dos Parapsicólogos mais espiritualistas e aos espíritas.
O fato é que as tentativas de nosso superstar - e reconhecemos sua inteligência brilhante, muito acima da média, perspicácia e notável saber - esbarrou diante de estrelas de grandeza ainda maior que a sua, e, para seu desgosto, de espíritas bastantes competentes nas áreas da Medicina, Psiquiatria e Psicologia. 
Não foram poucas as discurssões entre o "caçador de enígmas" e outros parapsicólogos (sintomaticamente não reconhecidos como tais pelo citado parapsicólogo jesuíta) e com psicólgos, muitos dos quais espíritas, em que ele se saiu muito mal, frequentemente partindo de uma atitude de deboche para a franca agressivida, mas isto, é claro, não é divulgado pela mídia comercial, especialmente agora que a mais poderosa delas o tem como contratado, e muito menos é de interesse da ala mais conservadora da Igreja, que, aliás, voltou a estar atuante nos últimos anos, gozando do "revival" da popularidade - antes ameaçada pelo avanço dos evangélicos - pelos movimentos da Renovação Carismática, Encontro de Casais e de Jovens e outros, ao par do declínio de popularidade da Igreja Progressista (mais intelectualmente madura e aberta à troca civilizada de idéias, mas que exigia uma consciência da responsabilidade pessoal que a ala atual atenuou) com nomes veneráveis como Leonardo Boff (este já desligado da Igreja em virtude das sanções impostas por ela às suas idéias, em especial à Teologia da Libertação) e Frei Betto, pessoas que não têm o costume de menosprezar o trabalho alheio e que pregam o entendimento fraterno entre os homens. Hoje, porém, se pode mostrar um sapo com a boca costurada na televisão, desde que se possa causar o efeito desejado na população, como o fez nosso "Parapsicólogo" em seu primeiro programa, misturando uma inócua superstição popular com parapsicologia... Enfim, algo que acabou sendo uma piada feita para impressionar, mas de gosto questionável. 
De fato, a presença de Quevedo na mídia, sob as bênçãos de parte da Igreja, é apenas um ponto da volta da intolerância religiosa que sempre vem à tona em épocas de crise político/econômica, onde as instituições religiosas, cada uma se dizendo a dona da verdade, na sua margem mais fundamentalistas, se propõem a solucionar parte do problema por se julgarem as intermediárias entre os homens sofredores e os céus. Pesquisas recentes, como a levada em João Pessoa, pelo Programa de Iniciação Científica do CNPq/UFPB, demonstram que os católicos participantes de certos movimentos recentes da Igreja, como o da Renovação Carismática, tendem a ser mais conservadores, resistentes à outros credos e serem mais exclusivistas que os católicos não-carismáticos (c.f. PEREIRA DO NASCIMENTO & GUERRA SOBRINHO in "Resumos do III ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPB", Editora Universitária, João Pessoa, 1995, p. 75), o que justifica o retorno de movimentos ultraconservadores e radicais católicos, como a reacinária TFP (Tradição, Família e Propriedade) e, lógico, a freqüente presença de pessoas como Pe. Quevedo, ácidos combatentes do espiritismo, em especial na mídia, onde se sentem muito bem, por sinal, enquanto personalidades como Guimarães Andrade e Henrique Rodrigues (e muitos outros mais que não são citados aqui, não por não serem reconhecidos, mas pelos limtes que este artigo impõe) preferem se dedicar às pesquisas e à sobriedade, reconhecidas nos centros universitários, mas que não são muito simpáticas à mídia comercial convencional.


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