segunda-feira, 13 de maio de 2024

Bolsonaristas ATACAM Daniela Lima e Ronny REVELA O SEGREDO por trás disto

Sobre as táticas do fascismo bolsonarista e fake news pesadas contra Daniela Lima, assim como a teologia fundamentalista e roubo das ideias humanistas e socialistas em apoio ao plaono de poder de bolsonaristas.

Do Canal de Ronny Teles:




Martin Luther King e Malcom X – vidas e mortes cruzadas, por Dora Incontri

 

Para trazer Martin e Malcolm ao nosso tema frequente, ambos são exemplos da intersecção entre política e espiritualidade; entre ativismo e fé


Artigo de Dora Incontri publicado no Jornal GGN:

Não tenho nem o tempo, nem a paciência para assistir a séries de canais streaming. Mas, às vezes, alguma produção consegue furar o meu bloqueio. E falo hoje aqui de Genius (que pode ser vista na Starplus e que tem temporadas biográficas, numa produção da National Geographic). Foco mais especificamente na que trata de forma paralela e cruzada das vidas de Martin Luther King Jr. e Malcom X. Não fosse apenas pela beleza pungente dessas biografias, elas tocam no cerne do debate desta coluna.

A estrutura da narrativa, em oito episódios, tem muitos méritos de roteiro. Entre eles, o fato de que vai contracenando a infância, a juventude, as lutas pessoais e políticas e finalmente o assassinato desses dois grandes líderes da luta contra o racismo nos EUA. Os dois morreram aos 39 anos, com 3 anos de diferença, sendo Malcom, mais velho, o primeiro a ser assassinado. Um acompanhava o outro à distância, com discordâncias, convergências e respeito mútuo. Apertaram-se as mãos apenas uma vez na vida e foi um encontro fraterno e aberto.

A narrativa não é idealizada, porque heróis são seres humanos e têm seus defeitos – o que não arranca o mérito de suas ações para transformar o mundo. E uma das questões que nos desconcertam, principalmente a nós, mulheres feministas do século 21, é justamente a postura muitas vezes machista dos dois e de todo o contexto de então. Mas, o filme mostra, além de ambos, a vida das suas esposas, também desde a infância, enfatizando seu protagonismo e informando algo que pouca gente deve saber: as duas viúvas, Coretta e Betty se tornaram grandes amigas e tiveram um ativismo muito engajado, mantendo vivo o trabalho dos maridos. Ou seja, foram muitas vezes caladas durante a vida deles, mas assumiram suas respectivas missões depois de suas mortes.

Para trazer Martin e Malcolm ao nosso tema frequente, ambos são exemplos consistentes da intersecção entre política e espiritualidade; entre ativismo e fé. Malcom, que teve uma infância bem mais traumática que Martin, tendo seu pai assassinado e sua mãe internada por problemas mentais, muito jovem caiu na criminalidade e foi preso. Foi guiado para fora da tragédia por um líder muçulmano, Elijah Muhammad, chefe da organização Nação do Islã. Convertido ao islamismo e devotado a esse guru, reiniciou sua vida, aliando a luta pela igualdade racial à fé islâmica, como identidade mais enraizada na herança africana. Poucos anos mais tarde, Malcom descobriu os abusos sexuais praticados pelo líder da Nação do Islã e teve a integridade de enfrentá-lo e sair da organização. Mas não deixou o islamismo.

Já Martin nasceu filho de um pastor batista e teve uma infância protegida e estimulada pelos pais, graduou-se e doutorou-se em teologia e, seguindo a carreira do pai, tornou-se pastor.

No Alcorão, Malcolm encontrou forças para a luta e justificativa de que ela poderia recorrer à violência armada. Mas não chegou a matar uma mosca.

No Evangelho de Jesus, interpretado pela leitura de Gandhi, Martin achou inspiração para uma luta não violenta, baseada na desobediência civil e na resistência passiva. Essa proposta da não violência gandhiana foi trazida a Martin por seu conselheiro de campanhas, Bayard Rustin, ativista que foi perseguido e até pouco tempo apagado da história, por sua homossexualidade.

Ambos, porém, Martin e Malcom, extraíram de suas respectivas espiritualidades, força, inspiração, coragem e resiliência para enfrentarem a luta do dia a dia, as perseguições, o cansaço, as ameaças de morte e finalmente a morte. O último discurso de Luther King, reproduzido na série, feito algumas horas antes de ser assassinado é emocionante: ele sente que vai morrer, entrega-se a Deus, diz que não tem mais medo. É como se naquela despedida estivesse encontrando a plenitude de sua fé (que tinha às vezes hesitante, como todos os que têm fé) e agiganta-se no heroísmo e no martírio.

Essa a principal mensagem dessas duas vidas, a ideia de que temos falado aqui. O ativismo social, o ímpeto e o empenho de mudar o mundo, trazendo justiça, igualdade e fraternidade, não estão necessariamente desconectados de uma visão de mundo religiosa. Muito ao contrário, nela se enraízam com muito mais força, porque a esperança de que um dia esse Reino por que se luta virá, encontra maior garantia e serenidade na ideia de uma justiça que permeia a realidade da existência e não apenas uma justiça precária e mutável, construída socialmente.

Se há religiosos alienados e distantes da militância social e política, são eles os incoerentes e afastados das raízes profundas de toda tradição espiritual digna deste nome.  Egoísmo, indiferença com o sofrimento do mundo, cinismo social e distanciamento de movimentos e ideias que propõem mudanças na sociedade estão em oposição às mensagens essenciais das múltiplas espiritualidades e contrariam o exemplo das grandes lideranças que inspiram a humanidade a se reconhecer como humana, fraterna e, ao mesmo tempo, divina.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

Wilson Ferreira: Jornalismo metonímico (dúbio) da grande mídia empresarial e rentista dá munição às fake news de olho no impeachment de Lula

 


Vivemos mais um hype na grande mídia sobre as chamadas “fake news”. Que agora miram a calamidade ambiental no Rio Grande do Sul. Os “colonistas” do jornalismo corporativo mostram todo o seu repertório de indignação moral e amaldiçoam essa praga supostamente exclusiva das redes sociais. Mais uma vez, o hype midiático sobre fake news ocorre como estratégia diversionista para esconder algo. Dessa vez, a forma inovadora pela qual o chamado “jornalismo profissional” está fornecendo munição para algo que vai muito além das “fake news”: uma estratégia ampla de contrainformação com dois objetivos: tirar o protagonismo de Lula e espalhar cascas de bananas orçamentárias (sob a lupa do TCU) para, quem sabe, servir de álibi para um processo de impeachment. A novidade semiótica é o “jornalismo metonímico para recorte”: como passar munição para a extrema-direita por baixo da mesa. 

Texto de Wilson Ferreira no site Cinegnose:

Não obstante o fenômeno da desinformação ou notícias falsas se confundirem com a própria história do jornalismo, de repente a nova geração de jornalistas descobriu o fenômeno das “fake news”, surgindo uma nova especialidade no ramo: os checadores em agências (ou “plataformas”) de “fact-checking”.

Essas expressões, faladas na língua inglesa, certamente ganham uma aura hype (“fake news” e congêneres como “pós-verdade” foram eleitas “palavras do ano” pela Universidade de Oxford em 2016 – popularizado pela vitória de Trump) e de novidade para um fenômeno que existe desde que Gutenberg inventou a prensa em 1447.

Se sabemos que as notícias falsas e campanhas de desinformação sempre acompanharam a grande mídia (do caso da Escola Base dos anos 1990 à ficha falsa de Dilma Rousseff do DOPS publicada na primeira página da Folha de São Paulo), por que o jornalismo corporativo, além de pesquisadores e acadêmicos da área, apressou-se a definir “fake news” como uma grande novidade?

Ao longo de diversas postagens (veja links ao final), esse Cinegnose descreveu como o hype das fake news foi CONVEEEEENIENT para o chamado “jornalismo profissional”:

(a) Motivo de marketing: assim como como o “orgânico” e o “saudável” criou o selo diferencial “premium” no mercado industrializado de alimentos, da mesma forma no mercado de notícias o “fact-checking” criou a notícia supostamente livre de toxinas, isto é, mentiras – mas não livre da “manipulação”.

(b) Motivo mercadológico: o avanço das mídias de convergência tecnológica na virada de século confrontou a hegemonia das mídias de massas. O debate em torno das “fake news” surgiu como uma engenharia de opinião para criminalizar a Internet e redes sociais: elas seriam intrinsicamente criminógenas – um ecossistema de informação que viabiliza golpes cibernéticos, pedofilia, bullying, mentiras, vício etc.

(c) Motivo epistemológico: somente o jornalismo profissional e corporativo, com o complexo de gatekeepers, editores e hierarquia na produção das notícias garantiriam à informação qualidade. Sob a grife do “jornalismo investigativo” – que confunde “investigação” com “apuração” e “checagem”. “Checagem” ou “apuração” é tautológico (checar se o conteúdo de um release corresponde à fonte emissora), enquanto “investigação” tem a ver com busca de informações que criem cenários, contextos e relações de causa e efeito.



Jornalismo de Guerra 2.0

Neste momento de Jornalismo de Guerra 2.0 (a volta do modo alarme do jornalismo corporativo para desestabilizar o governo Lula e garantir as conquistas neoliberais dos governos Temer e Bolsonaro) a retórica das fake news ganha uma nova utilidade, o item (d)

(d) Ocultar a forma como o jornalismo corporativo está abastecendo as redes de extrema-direita com munição para a criação de fake news – na verdade, uma grande campanha de desinformação. Principalmente nesse momento da catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul. Tudo porque para a grande mídia, o protagonismo de Lula deve ser, no mínimo, relativizado. Enquanto o ativo político midiático, o governador Eduardo Leite, deve ser protegido e empoderado com manchetes em construções frasais assertivas.   

Até aqui, a grande mídia vem dando pernas à agenda bolsonarista e de extrema-direita (p. ex., a polêmica das “saidinhas”), tornando temas diversionistas em debates relevantes para a opinião pública. Porque debatido pelos seus “colonistas” em canais fechados de notíciais.

Porém, com a involuntária volta por cima de Lula, após o fracasso das comemorações do Primeiro de Maio, no protagonismo pelo socorro à calamidade no RS, o jornalismocorporativo mais uma vez está tapando o seu nariz para mexer na lama psíquica da extrema-direita. Se bem que “remotamente”, como em uma guerra por procuração: apenas fornece a matéria-prima, a munição para as redes bolsonaristas processarem com o expertise alt-right de comunicação.

Como? Através da grande novidade semiótica: o jornalismo metonímico de recorte.



Jornalismo metonímico

O jornalismo metonímico não é uma novidade. Principalmente na forma de “contaminação semiótica”: relativo ao conceito de metonímia, figura de retórica que retira a palavra do seu contexto semântico normal por ter uma relação de significação de contiguidade, material ou conceitual. 

No caso do jornalismo, caracteriza-se pela “contaminação metonímica” entre signos de natureza diversa (texto, imagem etc.) segundo a seguinte fórmula: 1 + 1 = 3, isto é, uma notícia que contamina outra notícia totalmente diversa pode produzir uma terceira notícia totalmente diversa e ideologicamente intencional.

Uma contaminação produzida por relações de contiguidade textuais ou espaciais (diagração, proximidade texto e foto etc.), como no exemplo acima em que a proximidade do numeral “1 milhão” (relativo à notícia do censo escolar) contamina foto de manifestação bolsonarista em São Paulo. 1 + 1= 3: tinha 1 milhão na Avenida Paulista?

Claro, uma contaminação subliminar, fenomenológica.

Jornalismo metonímico de recorte e impeachment

Porém, a grande novidade é o jornalismo metonímico de recorte: uma parte é tomada pelo todo: a construção frasal da manchete sugere um significado contraditório em relação ao lead da matéria; ou, no caso do jornalismo eletrônico, o GC no rodapé da tela contraria aquilo que o entrevistado está dizendo.

O objetivo é oferecer material para recortes para serem ressignificadas nas postagens dos perfis de extrema-direita. Vejamos os exemplos abaixo:




No programa Estúdio I, do canal fechado Globo News, o ministro da Agricultura e Pecuária Carlos Fávaro explicava o motivo da negociação do Governo em importar arroz, diante do caos climático de RS. O ardil das perguntas dos “colonistas” de plantão (Andreia Sadi et caterva) era bombar a ameaça de desabastecimento com a destruição das plantações de arroz no Estado.

Pacientemente explicava que o abastecimento estava garantido porque a maior parte da safra já estava colhida. O arroz importado seria uma forma para reconstruir os estoques reguladores do Governo (desmantelado por Bolsonaro) para evitar movimentos especulativos de preços. Principalmente nesse momento de movimentos deliberados de contrainformação.

Não obstante, o GC no rodapé da tela permanecia “negociação de arrozpara evitar desabastecimento”. O contrário do que o ministro dizia.

A imagem da tela é um ótimo material para contrainformação (muito mais sério do que a acusação moral das “fake news”) – recorte o vídeo ou, quem sabem, coloque uma voz em Inteligência Artificial na boca do ministro.

O segundo caso da CNN é a munição perfeita para a atual onda de contrainformação de que Lula não quer ajudar um Estado que não votou nele. 

Enquanto a manchete sugeria que foi o Governo Federal repassou menos verbas do que deveria (deliberadamente ou por incompetência – afinal... é o Estado), o lead da matéria estampava o contrário: o atraso está relacionado à falta de projetos que precisam ser apresentados pelas prefeituras.


Uma armadilha para o impeachment


O que ficou claro na tentativa de “lacração” nas redes do prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin. Histérico, o prefeito grava um vídeo da conversa com o ministro da Secom, Paulo Pimenta, que o ataca de maneira hostil, afirmando que não recebeu recursos do Governo Federal.

Pimenta falou do envio de R$ 300 mil para as primeiras 72 horas e de que a prefeitura ainda não tinha enviado o plano de trabalho para a formalização do pedido e a definição do tamanho da verba, para o envio de mais recursos. Quando Pimenta propôs um debate racional, o prefeito bateu o telefone na cara do secretário.

Sabemos de que essa ausência de formalizações, enquanto os prefeitos gritam por envio de bilhões a fundo perdido, é uma armadilha para Lula – sob a lupa do TCU, o presidente facilmente poderia, em três ou quatro meses, ser alvo de processo de impeachment. Enquanto o Congresso bombaria uma “CPI das Enchentes no RS”.

No caso do jornalismo metonímico de recorte da CNN o propósito é bem claro: recortar a manchete e soltar nas redes como prova da beligerância política de Lula, sob a “credibilidade” do jornalismo corporativo.

Por isso, toda a escandalização da grande mídia com as “fake news” sobre a calamidade em RS é hipócrita. Por baixo da mesa, trafica munição para a estratégia de contrainformação da extrema-direita.

Pelo menos, o presidente dos EUA, John Biden, é mais transparente: diz com todas as letras que continuará enviando armas, tanto para a Ucrânia quanto para Israel.

Rio Grande do Sul: a catástrofe provocada e a Chance para superar as suas causas, por Jessé Souza

 

É a chance de mostrar na cara dos negacionistas que a culpa não é da natureza, mas sim deles próprios


Do site ICL Notícias:

Todos nós ficamos chocados com as cenas de uma Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, arrasada, e um estado que enfrenta a destruição social e econômica.

Nessa hora trágica, a desigualdade onipresente brasileira se manifesta, mais uma vez, já que os ricos podem se movimentar e se resguardar, mas os pobres, com casas e sonhos destruídos, não têm a mesma mobilidade.

Apesar de toda a destruição e da compaixão com as vítimas — o estado vai ter que ser reconstruído — existe um aspecto de oportunidade e de chance nesta tragédia.

É a chance de mostrar na cara dos negacionistas que a culpa não é da natureza, mas sim deles próprios. É uma oportunidade também para expor as contradições do agro (suposto pop) selvagem nacional e do seu potencial destrutivo.

Refazer a cadeia de causa e efeito é fundamental agora. E ela nos leva à crítica de todo um modelo de capitalismo selvagem baseado na destruição da natureza e no saque da riqueza de todos. É preciso aproveitar as janelas de oportunidade que se abrem.

O Rio Grande do Sul e o calor intenso em muitas capitais no outono mostram, sobejamente, que não temos tempo a perder. E quem atrasa qualquer projeto nacional para uma transição de matriz energética é o agronegócio e seus aliados no sistema financeiro.

É preciso apontar o dedo e mostrar o verdadeiro culpado. O negacionismo bolsonarista também pode ser contraposto de outra maneira a partir de agora.

O fundamental é que essa janela de oportunidade seja percebida pelos que podem alavancar e elevar a racionalidade mínima de uma sociedade entregue à propaganda e a manipulação do pior tipo. A humanidade e seu aprendizado, infelizmente, vivem das catástrofes.

A Segunda Guerra Mundial pariu um mundo, para citar apenas um exemplo dentre muitos, que elevou a humanidade a outro patamar civilizatório. A democracia, o respeito a autonomia dos povos, o acordo social-democrata, todos são decorrentes do aprendizado do pós-guerra.

As situações limite impõem a reflexão sobre o que é essencial e o que é secundário, e este é um grande processo de aprendizado civilizatório.

A tragédia do Rio Grande do Sul é a nossa maior catástrofe até aqui. Precisamos usar este fato, além de ajudar as vítimas, obviamente, para nos contrapor aos negacionismos, que servem ao capital predador, e conseguir também um outro patamar civilizatório para o país.

A luta contra a desigualdade e o cuidado da natureza precisam andar juntos e serem postos acima de qualquer outra coisa. E a inundação do estado gaúcho nos fornece a melhor janela de oportunidade que poderíamos ter.

Mas é preciso primeiro inteligência, para compreender a importância da chance, e, depois, coragem para agir. A urgência deste assunto é para ontem.


Rio Grande do Sul e o grande desafio da reconstrução da democracia, por Luís Nassif

 

É preciso devolver ao país o sonho do pacto nacional de reconstrução, sabendo que uma falha será explorada vilmente pela turba bolsonarista.


Do Jornal GGN:

Repito o que escrevi no “Xadrez do segundo tempo de 8 de janeiro e o New Deal de Lula“. O movimento de fakenews atual, em torno da tragédia do Rio Grande do Sul, emula em tudo a conspirata de 8 de janeiro.

  1. Bolsonaro esconde-se em um bunker. Em 2022, em Miami; agora, no hospital.
  2. Há um movimento articulado de redes, tentando desqualificar a ação do governo na tragédia, da mesma maneira com que tentaram fazer em relação às urnas eletrônicas.
  3. Junto, o discurso de ódio articulado por influenciadores, dos quais o mais ostensivo é um tal de Pablo Marçal, que parte para a agressão ostensiva contra os poderes, nitidamente esperando um confronto.

Todo esse alvoroço do bolsonarismo tem uma razão de ser: uma tragédia, da proporção da gaúcha, permitirá a consolidação de um pacto de solidariedade nacional, dependendo da maneira como o governo se conduzir nesse episódio.

O exemplo óbvio é o New Deal, de Franklin Delano Roosevelt, que salvou os Estados Unidos – e a própria democracia – após a crise de 1929.

No artigo detalhamos aspectos centrais do plano. Os pontos centrais foram a constituição de vários comitês para organizar o plano de ação e de gastos do governo; o foco central na questão social e na construção da solidariedade.

É curiosa a comparação da tragédia gaúcha com aquela produzida pelo furacão Katrina nos Estados Unidos.

O furacão Katrina inundou uma área superior a 225.000 km², afetando severamente os estados da Luisiana, Mississipi e Alabama. As cidades de Nova Orleans e Gulfport sofreram os danos mais extensos, com grande parte de suas áreas submersas sob as águas da inundação.

Calcula-se que houve o deslocamento de mais de 1 milhão de pessoas, saindo de suas casas e abrigando-se em outras regiões. O custo total ficou entre US$ 100 e US$ 200 bilhões, representado pela reconstrução de casas, empresas, estradas e pontes, além dos esforços humanitários.

A reconstrução da infraestrutura básica, energia e água potável, foi completada nos primeiros meses. Mas a reconstrução de casas, empresas e comunidades foi um processo mais lento, exigindo um esforço conjunto de governos, organizações sem fins lucrativos e moradores locais.

Assim como em Porto Alegre, a principal causa do desastre foram as falhas nos sistemas de diques de contenção de Nova Orleans. Os maiores afetados foram as comunidades de baixa renda.

Ainda não há um cálculo da extensão da área alagada no Rio Grande do Sul. Mas o número oficial de famílias desabrigadas é de 537.380. Mais de 81.285 pessoas estão em abrigos temporários espalhados pelo estado.

Há um mar de possibilidades à frente, se houver planejamento, determinação política e foco na responsabilidade social e ambiental.

No plano fiscal, há uma série de medidas possíveis, já adotadas em outras épocas, como empréstimo compoulsório, CPMF para financiar a transição ambiental do país, além das aguardadas tributações sobre renda e patrimônio. Há ainda os recursos orçamentários disponíveis.

Mas o grande desafio será o do planejamento da reconstrução do estado. Será demorado, custoso, polêmico e com o gabinete do ódio explorando maciçamente as dificuldades de atuação oficial na região.

Administrar esse desastre será uma questão de vida ou morte para a democracia brasileira. Um fracasso do governo abrirá espaço para a volta do bolsonarismo. Daí a responsabilidade de Lula, de espelhar-se no planejamento do New Deal, cercar-se de gestores competentes e valer-se da criatividade e da ousadia para o redesenho do Rio Grande do Sul.

Tem que explorar com eficiência o sentimento de solidariedade que brotou em todo país; articular adequadamente as parcerias com o estado e os municípios; envolver o setor privado, especialmente o setor bancário – puxado pelo Banco do Brasil e BNDES. E, principalmente, devolver ao país o sonho do grande pacto nacional de reconstrução, sabendo que qualquer falha será explorada vilmente pela turba bolsonarista.

Reinaldo Azevedo: Solidariedade não pode servir para esconder os criminosos ambientais

 

Da Rádio BandNews FM:




A conta da degradação ambiental chegou: a tragédia climática no Rio Grande do Sul, por Leonardo Boff

 

Nós temos a ver com a nova fase em que entrou o planeta Terra: a instalação de um novo estágio, caracterizado pelo aumento do aquecimento global. Tudo isso de origem antropogênica, quer dizer, produzida pelos seres humanos, mas mais especificamente pelo capitalismo anglo-saxão, devastador dos equilíbrios naturais.


Do site Icl Notícias:


A conta chegou: a tragédia climática no Rio Grande do Sul

A Mãe Terra daqui por diante conhecerá transformações nunca dantes havidas devido ao aquecimento global provocado pelos homens


Interrompo minha reflexão sobre os vetores da crise sistêmica atual e as eventuais saídas da crise, em razão da tragédia ambiental ocorrida no Rio Grande do Sul.

As intensas chuvas e as catastróficas enchentes, com as águas invadindo cidades inteiras, destruindo-as em parte, deslocando centenas de famílias, causando milhares de refugiados ou de desaparecidos e mortos, nos fazem pensar.

Antes de mais nada nossa profunda solidariedade às populações atingidas por esta calamidade de proporções bíblicas. Expressamos nossa compaixão, pois como ensinava Santo Tomás na Suma Teológica “a compaixão em si é a virtude maior. Pois faz parte da compaixão derramar-se sobre os outros — e o que é mais ainda — ajudar a fraqueza e a dor dos outros”.

Todo o país se mobilizou. O povo brasileiro mostrou o melhor de si, sua capacidade de solidariedade e disposição de ajuda, a despeito dos perversos que exploram a desgraça para fins particulares e por mentiras e calúnias.

Seria errôneo pensar que se trata apenas de uma catástrofe natural, pois de tempos em tempos ocorrem fenômenos semelhantes. Desta vez a natureza da tragédia possui outra origem.

Nós temos a ver com a nova fase em que entrou o planeta Terra: a instalação de um novo estágio, caracterizado pelo aumento do aquecimento global. Tudo isso de origem antropogênica, quer dizer, produzida pelos seres humanos, mas mais especificamente pelo capitalismo anglo-saxão, devastador dos equilíbrios naturais.

Há negacionistas em todos as esferas, especialmente entre os CEOS das grandes empresas e naqueles que se sentem bem na situação de privilégio, assentados sobre uma situação de conforto.

Porém, a avalanche de transtornos nos climas, a irrupção de eventos extremos, as ondas de calor intenso e de secas severas, os grandes incêndios, os tornados e as enchentes apavorantes, constituem fenômenos inegáveis. Está tocando a pele dos mais resistentes. Começaram também eles a pensar.

Considerando a história do planeta que já existe há mais de 4 bilhões de anos, constatamos que o aquecimento global participa da evolução e do dinamismo do universo; este está sempre em movimento e se adaptando às circunvoluções energéticas que ocorrem no decorrer do processo cosmogênico.

Assim, o planeta Terra conheceu muitas fases, algumas de extremo frio, outras de extremo calor como há 14 milhões de anos. Nesta época de calor extremo, não existia ainda o ser humano que somente irrompeu na África há 7-8 milhões de anos e o homo sapiens atual há apenas 200 mil anos.

O próprio ser humano percorreu várias etapas em seu diálogo com a natureza: inicialmente predominava uma interação pacífica com ela; depois passou a uma intervenção ativa nos seus ritmos, desviando cursos de rios para a irrigação, cortando territórios para estradas; passou para uma verdadeira agressão da natureza, precisamente a partir do processo industrialista que se aproveitou dos recursos naturais para a riqueza de alguns à custa da pobreza das grandes maiorias; esta agressão foi levada por tecnologias eficientes a uma verdadeira destruição da natureza, ao devastar inteiros ecossistemas, pelo desflorestamento em função da produção de commodities, pelo mau uso do solo impregnando-o de agrotóxicos, contaminando as águas e os ares.

Estamos em plena fase de destruição das bases naturais que sustentam nossa vida. Digamos o nome: é o modo de produção/devastação do sistema capitalista anglo-saxão hoje globalizado, com seus mantras: maximização do lucro através da superexploração dos bens e serviços naturais, no quadro de severa competição sem qualquer laivo de colaboração.

Este processo teve um pesado custo, sequer tomado em conta pelos operadores deste sistema. Os danos naturais e sociais eram considerados como efeitos colaterais que não entravam na contabilidade das empresas. Ao Estado e não a eles cabia enfrentar tais taxas de iniquidade.

A Terra viva começou a reagir enviando vírus, bactérias, todo tipo de doenças, tufões, tempestades rigorosas e por fim um aumento de sua temperatura natural. Ela entrou em ebulição. Iniciamos um caminho sem volta. São os gazes de efeito estufa: o CO2, o metano (28 vezes mais danoso que o CO2), o óxido nitroso e o enxofre entre outros. Só em 2023 foram lançados na atmosfera 40,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono, como consta no relatório da COP 28, realizada no Cairo.

Vejamos os níveis de crescimento desse gás: em 1950 as emissões eram de 6 bilhões de toneladas; em 2000 já eram 25 bilhões; em 2015 subiu para 35,6 bilhões; em 2022 foram 37,5 bilhões e finalmente em 2023, como referimos, foram 40,9 bilhões de toneladas anuais. Esse volume de gazes funciona como uma estufa, impedindo que os raios do sol retornem para o universo, criando uma capa quente, ocasionando o aquecimento do planeta inteiro. Acresce dizer que o dióxido de carbono, CO2, permanece na atmosfera por cerca de 100 a 110 anos.

Como a Terra pode digerir semelhante poluição? O acordo de Paris na COP de 2015 estabelecia cotas de redução desses gazes com a criação de energias alternativas (eólica, solar, das marés). Nada de substancial foi feito. Agora chegou a conta a ser paga por toda a humanidade: um aquecimento irreversível que tornará algumas regiões do planeta na África, na Ásia e também entre nós, inabitáveis.

O que estamos assistindo no Rio Grande do Sul é apenas o começo de um processo que, mantido o tipo atual de civilização dilapidadora da natureza, tende a piorar. Os próprios climatólogos alertam: a ciência e a técnica despertaram tarde demais para essa mudança climática. Agora não poderão evitá-la, apenas advertir da chegada de eventos extremos e de mitigar seus efeitos danosos.

Terra e Humanidade deverão adaptar-se a essa mudança climática. Idosos e crianças e muitos organismos vivos terão dificuldade de adaptação e irão sofrer muito e até morrer. A Mãe Terra daqui por diante conhecerá transformações nunca dantes havidas. Algumas podem dizimar as vidas de milhares de pessoas. Se não cuidarmos, o planeta inteiro poderá ser hostil à vida da natureza e à nossa vida. No seu termo, poderemos até desaparecer. Seria o preço de nossa irresponsabilidade, desumanidade e descuido da natureza que tudo nos dá para viver. Não conseguimos pagar a conta.

domingo, 12 de maio de 2024

Portal do José - DOMINGO: BOLSONARISTAS BOIAM E SE DESMORALIZAM! LULA: ENFRENTAR? MÍDIA: EM BREVE, "O ESQUECIMENTO"!

 

Do Portal do José:

12/05/24 - A TRAGÉDIA QUE SE ABATEU SOBRE O RS ESTÁ REVELANDO MUITAS COISAS. A HORA É DE APROVEITARMOS PARA ações concretas após as águas baixarem. Pautas morais não resolvem o problema concreto dos gaúchos. A enganação em que muitos foram levados a crer está despertando algumas reflexões. O que fez Bolsonaro e seus cães de aluguel a favor de alguma pauta sobre meio ambiente? Lula tem uma grande oportunidade de chamar a atenção para os nossos problemas provenientes de falta de investimentos públicos. Temos dinheiro no Brasil. Mas para onde ele está indo? Sigamos.



sábado, 11 de maio de 2024

Como age a extrema-direita golpista: Bolsonaristas espalham mentiras criminosas!💢Tragédia une país e Lula envia bilhões💢Resumo Da Semana pelo canal Mídia Ninja

 

Do Canal Mìdia Ninja:




Portal do José: SABADÃO INACREDITÁVEL! BOLSONARO: ENCHENTE? "O PROBLEMA SÃO OS GAYS"! GLOBO HOSTILIZADA: E AGORA?

 

Do Portal do José:

11/05/24 - EM MEIO A MAIOR TRAGÉGIA CLIMÁTICA QUE ATINGIU O POVO GAÚCHO, Bolsonaro exerce sua liderança perante a extrema direita no Brasil para pedir apoio aos gaúchos? Não. Ele anda mais preocupado em atacar gays. Essa situação acende novos alertas sobre o que estamos combatendo no Brasil. Profissionais da Globo estão sendo hostilizados durante cobertura jornalística. Estão preocupados? Não. Tudo está devidamente dentro de suas previsões. Sigamos.



Reinaldo Azevedo: Os crimes da extrema-direita contra o povo gaúcho continuam

 

Da Rádio BandNews FM:




Portal do José: CRIMIN0S0S BOLSONARISTAS EXP0ST0S! BOLSONARO: O DESGOVERNO AMBIENTAL ATINGIU GAÚCHOS! HORA DE QUESTIONAR E DENUNCIAR

 

Do Portal do José:

10/05/24 - NADA ACONTECE POR ACASO QUANDO SE TEM AÇÕES HUMANAS NO COMANDO. POR AÇÃO OU OMISSÃO MUITAS COISAS PODEM ACONTECER. Bolsonaro foi um genocida concretamente pelo que fez e deixou de fazer durante o período mais dramático na saúde pública no Brasil. Mas também no meio ambiente, como negacionista clássico, deixou de tomar providências para minimizar problemas relacionados às alterações do clima. Será que o povo gaúcho que já foi afetado pelo negacionismo na saúde irá suportar mais esse desdobramento de uma tragédia que tem elementos de negacionismo envolvidos? Sigamos.



quinta-feira, 9 de maio de 2024

Leonardo Sakamoto, no UOL: Fake news sobre o Rio Grande do Sul tentam evitar que reação de Lula seja bem avaliada

 Do UOL:

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto fala das fake news sobre a atuação do Estado no Rio Grande do Sul.




Rio Grande do Sul debaixo d’água: O problema não está nas nuvens, mas na ação humana e sua ânsia por lucro imediato. Artigo de Felipe Costa

 

Não é de hoje que os empresários e os governantes gaúchos cometem barbeiragens grosseiras e desrespeitam a legislação ambiental.



RS debaixo d’água: O problema não está nas nuvens, está na anarquia dos mercados e na omissão dos governantes.

Por Felipe A. P. L. Costa [*] (publicado no Jornal GGN)

APRESENTAÇÃO. – Nos últimos dias, a começar em 27/4, várias regiões do estado do Rio Grande do Sul foram assoladas por chuvas torrenciais. Em alguns municípios, a precipitação foi tão acima da média que o volume que caiu em 3-7 dias foi o equivalente ao esperado para um trimestre ou mesmo para um semestre inteiro. 

O quadro é desolador. Muita gente perdeu tudo. Boa parte dessa gente vai tentar reconstruir o que perdeu, mas muito o farão em outro bairro ou em outra cidade. O ritmo de crescimento da população gaúcha, entre os mais baixos do país, deverá cair ainda mais. O estado corre o risco de produzir a maior onda interna de refugiados do clima desde o início do século. 

A desorientação e as sucessivas trapalhadas do governo estadual são em boa medida fruto do desmanche dos serviços públicos. Em escala menor, o problema se reproduz em um sem número de municípios gaúchos. Meses atrás, o próprio prefeito de Porto Alegre estava a defender a derrubada do muro de contenção que hoje protege uma parte da cidade contra o avanço das águas do lago Guaíba (dito também rio). A ideia partiu de grupos empresariais que querem ocupar o terreno a troco de ‘modernizar’ o precário sistema de proteção que existe hoje (ver, e.g., aqui e aqui). 

A rigor, o RS é um dos estados mais atrasados na área ambiental. O problema vem de longe e envolve vários setores – e.g., caça de animais nativos, uso extensivo de agrotóxicos, destruição das áreas de preservação permanente, escassez de unidades de conservação e falta de proteção para hábitats-chave, a começar pelo campo limpo. A situação se agravou muito nos últimos anos. O atual governador, por exemplo, tudo fez para acabar com os últimos freios impostos pela legislação ambiental (e.g., aqui). 

A situação se tornou tão precária que hoje os próprios empreendedores estão autorizados a agir como licenciadores – algo do tipo eu mesmo me autorizo a provocar um incêndio ou a erguer uma edificação às margens de um rio. Uma gambiarra como essa não pode dar certo em lugar nenhum do planeta. 

A situação calamitosa enfrentada pelos gaúchos tem as 20 impressões digitais do governador. Diante de tudo isso, o sujeito agora se posta diante das câmaras para pedir doações financeiras aos brasileiros (aqui). Está a mimetizar o comportamento parasitário e oportunista de gente que vive a explorar a boa-fé alheia em redes sociais. Se não sabe o que fazer, a não ser despejar perdigotos em microfones e desfilar travestido de trabalhador salva-vidas, ele deveria renunciar ao cargo. O governador tem a voz empostada e, como é um dos queridinhos da impressa limpinha, ele agora bem que poderia sobreviver como galã de novelas. Ia tirar o emprego de alguns canastrões por aí, mas faria menos mal aos gaúchos.

*

1.

A Terra é um objeto astronômico suficientemente grande a ponto de ter a sua forma esculpida pela gravidade [1]. Além de esférico, o globo terrestre é massivo o suficiente a ponto de reter em torno de si um oceano gasoso. A esse oceano – uma estrutura bastante heterogênea e dinâmica – damos o nome de atmosfera. A Lua, por exemplo, é esférica, mas não é suficientemente massiva a ponto de reter em torno de si uma atmosfera [2].

2.

A idade do Universo, a julgar pelo modelo adotado pela maioria dos astrônomos [3], é estimada hoje em 1,375 (± 0,13) × 1010 anos. Em números redondos: 13,8 bilhões de anos ou 13,8 Ga (1 Ga – lê-se um giga-ano – equivale a 1 bilhão ou 1 × 109 anos). O nosso sistema planetário (dito Sistema Solar) surgiu bem depois [4]. A idade da Terra, especificamente, é estimada hoje em 4,55 (± 0,07) × 109 anos. Em números redondos: 4,6 Ga.

3.

Ao longo desses 4,6 Ga, a composição da atmosfera terrestre mudou radicalmente, e em mais de uma ocasião. Com base no estudo dessas mudanças, geólogos e climatologistas argumentam que o planeta tem hoje uma atmosfera (dita de terceira geração) cuja composição se firmou há uns 400 milhões de anos (Ma).

4.

99% das moléculas presentes em amostras de ar seco são moléculas de nitrogênio (78%) ou oxigênio (21%). O 1% restante inclui moléculas de argônio (0,9%) e dióxido de carbono (CO2) (0,04%), além de outros gases, como metano e ozônio, presentes em percentuais ainda mais baixos. (Estamos a falar de amostras obtidas em baixas altitudes.)

5.

Um marco na história da climatologia foi o reconhecimento (mais ou menos generalizado entre os estudiosos) de que o CO2 tem um papel decisivo na dinâmica atmosférica, apesar da relativa escassez, notadamente no que diz respeito ao equilíbrio térmico do planeta [5]. Essa mudança conceitual se firmou em meados do século 20 [6].

6.

Ora, se o CO2 é assim tão decisivo, mesmo estando presente em uma concentração tão baixa, podemos presumir que qualquer alteração nos valores, por menor que seja (para mais ou para menos), poderá vir a ter consequências expressivas no comportamento da atmosfera. A pergunta que aqui se impõe é: há evidências de que a concentração de CO2 está passando por mudanças? A resposta é duplamente preocupante. Primeiro, porque é uma resposta conhecida há muitos anos; segundo, porque é uma resposta afirmativa – sim, há sólidas evidências de que a concentração está a mudar.

7.

A presença de CO2 na atmosfera é monitorada de perto desde 1957. As medições são diárias – sete dias por semana, 12 meses por ano, ano após ano. Os resultados não poderiam ser mais óbvios: a concentração está a aumentar de modo previsível e ininterrupto – dia após dia, mês após mês, ano após ano –, desde o primeiro ano.

8.

Em março de 1957, no início da série histórica, a concentração CO2 era de 315,7 ppm (lê-se: partes por milhão) [7]. Em março de 2015, o valor ultrapassou a marca de 400 ppm (401,51); tendo chegado agora, em março de 2024, a incríveis 425,38 ppm. Veja: a diferença entre 1957 e 2024 equivale a um aumento de 35%. O mais preocupante, no entanto, é o fato de que esse aumento demorou apenas 67 anos (1957-2024), um piscar de olhos diante do intervalo transcorrido desde a formação da atmosfera atual.

9.

De onde vem toda essa fumaça? A rigor, a maior parte da sujeira que é injetada diariamente na atmosfera tem a ver com o uso de máquinas e motores de combustão interna, uma inovação tecnológica cujos primórdios recuam ao século 18 (ou antes) [8]. O surgimento dessas máquinas deu origem a um grande e vigoroso mercado. Um mercado cujas demandas ao longo dos últimos 250 anos elevaram a queima de combustíveis fósseis (e.g., carvão mineral, gás e petróleo) a níveis estratosféricos. E esta é a raiz da crise que enfrentamos hoje: a queima de combustíveis fósseis implica na liberação de grandes quantidades de CO2.

10.

Até o início do século 20, atividades relacionadas ao uso da terra (e.g., desflorestamento e a criação de grandes rebanhos) eram os principais responsáveis pela emissão de carbono de origem antropogênica (CAntro). A balança só começou a pender para o lado dos combustíveis fósseis a partir da década de 1920. (O que de modo algum significou que as emissões oriundas do uso da terra se tornaram desprezíveis.)

11.

Entre 2012 e 2021, as emissões de CAntro em escala planetária chegaram a um valor anual médio de 10,8 Gt (1 Gt – lê-se gigatonelada – equivale a 1 bilhão ou 1 × 109 toneladas). Desse total, 1,2 Gt veio do uso da terra e 9,6 Gt vieram da queima de combustíveis fósseis [9]. (Em números redondos: 11 Gt, o equivalente a ~40,33 Gt de CO2.)

12.

No quesito queima de combustíveis fósseis, a lista dos maiores emissores é encabeçada pela China. A média anual dos chineses correspondente hoje a quase três vezes a média do segundo colocado (Estados Unidos). Em seguida aparecem a União Europeia, a Índia e o resto do mundo. No quesito uso da terra, o Brasil assumiu a liderança mundial. (Em seguida aparecem a Indonésia e o Congo [RD].) É uma notícia vergonhosa. Mas que tem muito a ver com a anarquia econômica e a corrupção política que assumiram o comando do país após a derrubada do governo Dilma. (É bom não esquecer que toda aquela encenação que levou ao golpe foi catalisada pelos limpinhos do PSDB, sob o patrocínio entusiasmado de sonegadores, latifundiários e rentistas, além, claro, de contar com o ‘apoio crítico’ da nossa imprensa limpinha, aquela turma que se julga acima da lei e dos fatos, tipo Folha e Globo.)

13.

O que acontece com as 11 Gt de CAntro que são injetadas na atmosfera todos os anos? Em poucas palavras, nós podemos dizer que elas se somam a um fundo ainda maior de moléculas que estão a fluir constantemente entre os oceanos, o solo e a biosfera. A biota de terra firme, por exemplo, fixa 109 Gt de carbono a cada ano (~400 Gt de CO2), ao mesmo tempo em que libera (via respiração) 107 Gt (~392 Gt de CO2). No caso específico das terras cultivadas, os valores são 14 Gt e 12 Gt, respectivamente. Trocas semelhantes ocorrem entre a atmosfera e os oceanos, com um pequeno saldo líquido em favor destes últimos.

14.

Se levássemos em conta apenas os fluxos naturais, a contabilidade global estaria mais ou menos equilibrada, visto que a absorção líquida em favor da biosfera e dos oceanos é compensada pela entrada de novas moléculas vindas do interior do planeta (e.g., via erupções vulcânicas). Ocorre que o volume das emissões de CAntro é gigantesco, a ponto de afastar os estoques e os fluxos naturais de uma condição, digamos, de equilíbrio. O saldo líquido dessa situação é duplamente preocupante: a concentração de CO2 está a aumentar, não só na atmosfera, mas também nos oceanos. (No que segue, vamos continuar tratando apenas do que se passa na atmosfera.)

15.

Afinal, por que o aumento na concentração de CO2 na atmosfera seria um problema tão grave e preocupante? Em termos bastante objetivos, eu diria o seguinte: porque esse aumento é mais do que suficiente para mudar o comportamento da atmosfera, especificamente o tempo de retenção da radiação calorífica trazida pela luz solar. Estou a me referir aqui a uma dinâmica que poderia ser grosseiramente esboçada da seguinte maneira: de toda a radiação luminosa que atinge o planeta, cerca de 30% são imediatamente refletidos de volta para o espaço, outros 20% são absorvidos por elementos da atmosfera (sobretudo moléculas de H2O) e os 50% restantes alcançam a superfície (1/4 atinge a terra firme e 3/4, os oceanos). Dos 50% que atingem a superfície, uma parte é absorvida e outra é refletida de volta para a atmosfera. A maior parte da radiação refletida pela superfície é absorvida pela atmosfera ou é refletida de volta para a superfície; nessas idas e vindas, pequenas frações de radiação vão aos poucos sendo perdidas para o espaço. O efeito líquido desse ziguezague é o aquecimento do planeta.

16.

A temperatura do ar em um dado local, em um dado instante, expressa a quantidade de radiação que está retida momentaneamente. Quanto maior o tempo de retenção, mais elevada será a temperatura. O contrário também é verdadeiro – quanto menor o tempo de retenção, mais baixa será a temperatura. A quantidade de radiação retida depende de dois fatores: (i) a quantidade que chega com os raios solares (insolação); e (ii) o tempo de retenção local. No primeiro caso, a quantidade de radiação que atinge a superfície varia de modo cíclico e previsível, a depender de três variáveis: (i) latitude – a insolação é mínima nos polos, atingindo o máximo nas proximidades do equador terrestre; (ii) estação do ano – a insolação é mínima no inverno, atingindo o máximo no verão; e (iii) hora do dia – a insolação atinge o máximo por volta de meio-dia ou um pouco depois (12h00-13h00), mas é nula durante a noite. O tempo de retenção depende da quantidade de colisões que ocorrem localmente. O número de colisões, por sua vez, depende da concentração de partículas no ar. Assim, quanto mais partículas, mais colisões ocorrerão e mais tempo o calor ficará retido antes de escapar para o espaço. Mais uma vez, o saldo líquido desse ziguezague será a elevação da temperatura local [10].

17.

Até meados do século 20, pouca gente imaginava que as atividades humanas fossem capazes de alterar a composição da atmosfera. Um dos primeiros a levar a sério esse problema foi o químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927), laureado com um Nobel em 1903 (não por esse motivo). Tendo como ponto de partida as ideias do matemático e físico francês Jean Baptiste Fourier (1768-1830), para quem a superfície do planeta estaria a ser aquecida pela atmosfera, a exemplo do que se passa dentro de uma estufa, Arrhenius investigou o que ocorreria se a concentração de CO2 seguisse aumentando. De acordo com dele, se a concentração dobrasse em relação ao nível pré-industrial (até meados do século 18, digamos), a temperatura média global subiria em até 4,5 ºC.

18.

Até a primeira metade do século 20, a maioria dos estudiosos insistia em dizer que o papel do CO2 nessa equação não era relevante. A situação começou a mudar em 1956, quando o físico canadense Gilbert Plass (1921-2004) publicou os resultados de suas pesquisas sobre a capacidade de absorção das substâncias presentes na atmosfera. De acordo com ele, embora sejam transparentes à luz solar incidente (radiação de ondas curtas), as moléculas de CO2 têm uma elevada capacidade de reter a radiação de ondas longas que é refletida de volta pela superfície do planeta. A importância relativa do CO2 é muito maior do que poderíamos supor levando em conta apenas a sua abundância. A conclusão não poderia ser mais preocupante: quanto maior a concentração de CO2, mais intenso será o efeito estufa exercido pela atmosfera.

19.

Nada do que foi dito até aqui em termos de ciência pura ou básica envolve qualquer tipo de revelação de última hora, como o leitor talvez já tenha percebido. A rigor, nós estamos a falar de coisas que são conhecidas há décadas ou mesmo há séculos. É o caso, por exemplo, do conhecimento científico que há por trás do efeito estufa. Ou mesmo daquilo que hoje nós sabemos a respeito do aquecimento global. Há coisas que são conhecidas há milhares de anos, como é o caso da forma esférica do planeta.

20.

Considere agora o que está a ocorrer no Rio Grande do Sul, cuja população está a conviver com chuvas excepcionalmente volumosas desde o dia 27/4. Lembrando: o RS é o 9° estado em dimensões territoriais (281.707 km2, ou 3,3% do território brasileiro), o 6° em população residente (10.880.506, ou 5,4% da população brasileira) e o 3° em número de municípios (497, ou 8,9% do total de municípios brasileiros). Para contextualizar melhor a excepcionalidade da crise que estamos a viver, caberia caracterizar certos elementos do clima do estado. Tomando Porto Alegre como referência, o clima do RS poderia ser resumido da seguinte maneira: (i) O trimestre mais quente do ano é DJF (dezembro-fevereiro) e o mais frio, JJA (junho-agosto); e (ii) O trimestre mais chuvoso é JAS (julho-setembro) e o mais seco, FMA (fevereiro-abril). De acordo com padrões históricos, estaríamos agora a sair da estação seca.

21.

O desarranjo climático ora em curso – não só aqui, mas em todo o planeta – está a redefinir os padrões históricos, notadamente o comportamento da precipitação. Sobre a situação de momento no RS, reproduzo a seguir um trecho de uma nota publicada no sítio do Inmet (aqui), em 2/5 (ênfase minha): “Grande parte do Rio Grande do Sul segue sendo atingido por chuvas persistentes e volumosas desde o dia 27 de abril. Em algumas regiões, especialmente na ampla faixa central dos vales, planalto, encosta da serra e metropolitana, os volumes de chuva chegaram a passar dos 300 milímetros (mm) em menos de uma semana. No município de Bento Gonçalves, por exemplo, os volumes chegaram a 543,4 mm. Desde o dia 29 de abril, quando a chuva volumosa ficou estacionária sobre o Rio Grande do Sul, os volumes ficaram entre 200 mm e 300 mm em diversas áreas. Na capital do estado, Porto Alegre, o volume chegou a 258,6 mm em apenas três dias. Esse valor corresponde a mais de dois meses de chuva, quando comparado a Normal Climatológica dos meses de abril (114,4 mm) e de maio (112,8 mm). As estações do Inmet que mais registraram chuva de 26 de abril até as 9h desta quinta (2), foram: Soledade (488,6 mm); Santa Maria (484,8 mm) e Canela (460 mm). A estação meteorológica convencional de Santa Maria teve recorde de chuva em 24h, com acumulado de 213,6 mm, no dia 1º de maio. Essa foi a maior chuva registrada no município, em 112 anos de observação, superando o volume anterior de 182,3 mm, ocorrido em 23/6/1944. Em apenas três dias, o volume de chuva na cidade chegou a 470,7 mm, valor que corresponde três meses de chuva, conforme a média climatológica.”

22.

Não é de hoje que os empresários e os governantes gaúchos cometem barbeiragens grosseiras e desrespeitam a legislação ambiental. Uma barbeiragem antiga é o fato de que o RS é o único estado da federação onde a caça esportiva de animais selvagens tem amparo legal. Muita gente já tratou do assunto. Eu mesmo escrevi sobre isso no livro Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003; 2ª ed., 2014). Reproduzo a seguir um trecho (adaptado): 

“Sai ano, entra ano, e a temporada de caça é anunciada pela imprensa em tom de gestão ambiental exemplar. Algo do tipo: ‘os gaúchos caçam porque planejam, controlam e protegem’. Isso, no entanto, não corresponde à realidade. Basta dizer o seguinte: em termos de proteção ambiental, o Rio Grande do Sul é um dos estados mais atrasados do país. Senão, vejamos: 

(i) Com apenas 0,55% de sua área territorial protegida por reservas e parques federais e estaduais, o estado ocupa apenas a vigésima primeira posição no ranking verde do Brasil (26 estados mais o Distrito Federal), sendo o último colocado entre os estados das regiões Sul e Sudeste. 

(ii) Nos últimos 20 anos, enquanto outros estados trataram de aumentar em número e tamanho as suas reservas e parques, os governantes gaúchos pouco ou nada fizeram para criar e implantar novas unidades de conservação. E a julgar pelo tamanho de uma das últimas delas – a Reserva Biológica da Mata Paludosa, criada em outubro de 1998, com apenas 113 ha e ainda assim divididos em duas parcelas –, o assunto não parece despertar tanto interesse assim. (Os governantes gaúchos, é bom que se diga, poderiam argumentar que algumas medidas positivas foram adotadas nos últimos anos, incluindo o aparente desmantelamento da equipe de caçadores, travestidos de guardas, que agiam no Parque Estadual do Turvo e a implantação – finalmente – do Parque de Itapuã, com quase 30 anos de atraso desde a sua criação formal.) 

(iii) O Rio Grande do Sul é campeão nacional (seguido de perto por Minas Gerais e Bahia) em número de unidades de conservação fantasmas – leia-se: reservas e parques que não existem, embora apareçam em listas oficiais e, assim, de um jeito ou outro, contribuam para elevar artificialmente os índices de proteção. Os parques estaduais do Ibitiriá e do Podocarpus, por exemplo, são fantasmas, ainda que apareçam em listas publicadas pelo Ibama e pelo IBGE. (iv) O campo limpo, um dos três biomas terrestres que ocorrem em terras brasileiras e que abrange principalmente o Rio Grande do Sul [11], está virtualmente desprotegido e corre o risco de desaparecer do território gaúcho. Em certas áreas do sudoeste do estado, por exemplo, a vegetação original já desapareceu por completo e em seu lugar prosperam os campos de areia. A única unidade de conservação que existe naquela região, a Reserva Biológica de Ibirapuitã (Alegrete) é pequena (351 ha) e está malcuidada.”

23.

Negócios, mentiras e pilhagens andam juntos com bastante frequência. No caso dos grandes negócios, parece haver uma lei: só prosperam – principalmente em países onde a acumulação de capital é recente – os empreendimentos que estão ancorados em atividades sujas e irregulares. Um exemplo óbvio é a mineração, um pesadelo que começou a tomar conta da capitania de Minas Gerais já no início do século 18. Outro exemplo, este ainda a pleno vapor e bem mais amplo e degradante, é o chamado agronegócio – leia-se: grandes empreendimentos agrícolas voltados basicamente para a exportação. Ao contrário do MST (e.g., aqui e aqui), por exemplo, o agronegócio não coloca comida na mesa do brasileiro. De resto, ao lado da degradação ambiental que promovem (e.g., destruição de florestas ribeirinhas e consumo excessivo de água, fertilizantes e agrotóxicos), boa parte dos empresários do agronegócio vive a sonhar com trabalho escravo e sonegação fiscal. Não foi por outro motivo que eles ocuparam a linha de frente da turba que levou adiante o golpe contra o governo Dilma. O RS está tomado pela cultura da soja e a cultura da soja é quase sempre uma chaga. Cito: “Veja o caso da soja, uma leguminosa de pequeno porte, aparentemente frágil, mas cuja cultura é poderosa o suficiente para eleger prefeitos, deputados e até governadores – além de grilar terras e dizimar qualquer trecho de vegetação nativa que encontre pela frente” [12].

24.

Após todos esses anos de trabalho duro, incluindo o trabalho de monitorar a concentração de CO2, o que a ciência afinal tem a dizer sobre a crise climática? Entre as principais conclusões, ouso dizer que uma delas não poderia ser mais direta e preocupante: o aquecimento global (leia-se: a crescente intensificação do efeito estufa) é fruto de uma atmosfera cada dia mais cheia de partículas, cada dia mais suja. Resta saber se os governantes e as agências internacionais terão disposição e força política para enfrentar o problema. Não é e não será uma luta fácil. Afinal, quando o assunto é a emissão de CAntro, do outro lado do ringue estão as companhias petrolíferas (e.g., Shell, Exxon, BP e Petrobras), as companhias produtoras de eletricidade (e.g., a maior parte da eletricidade produzida no mundo vem da queima de carvão mineral) e o agronegócio (e.g., sojicultores e a indústria da carne).

25.

Mais do que uma falha da sociedade, a degradação da natureza e a perda de serviços ecológicos são imposições do mercado. A perda de serviços em larga escala – serviços que são fornecidos espontânea e gratuitamente pelos sistemas ecológicos (e.g., retenção do solo, infiltração da água, polinização de culturas e controle de pragas) – só irá acentuar o problema. Em outras palavras, crise climática promove a desigualdade social, faz aumentar o número de desabrigados, aumenta o número de gente com fome. Em resumo, crise climática é sinônimo de mais sofrimento. Ao contrário do que alguns imaginam, porém, esse quadro degradante não é exatamente fruto da maldade humana. Não é uma questão meramente individual. Outros níveis devem ser considerados em nossa análise. Além do comportamento individual, por exemplo, devemos olhar para o que se passa em níveis mais altos de organização – os grupos sociais ou, no caso da economia capitalista, as empresas e, sobretudo, as grandes corporações transnacionais (e.g., Nestlé, Coca-Cola e Ambev). São estas últimas que mais corroem o planeta. E fazem isso como se estivessem a participar de uma corrida sem fim: correm atrás de lucros e dividendos, mas também parecem correr visando apenas e tão somente continuar correndo. Pois assim é o mundo dos negócios. 

Nessa corrida maluca, medidas espontâneas e isoladas contra a crise climática têm chances reduzidas de prosperar. Por quê? Porque logo serão superadas ou suprimidas. Considere o seguinte exemplo: em um contexto competitivo, se a corporação A decide reduzir a sua voracidade, correrá o sério risco de ser atropelada pela corporação B. Cada empresa, isoladamente, é forçada a continuar escalando o seu comportamento predatório. Esse é um bom resumo do que tem sido a história da economia da anarquia (dita economia do livre mercado). Foi a anarquia econômica que nos trouxe para perto do abismo. O crescimento econômico tem de parar. A produção de quinquilharias inúteis e descartáveis tem de ser inibida. Só um modelo racional e democrático de governança mundial será capaz de frear a degradação. Sem isso, as corporações seguirão a alimentar mercados que elas próprias criam. Incluindo aí os mercados de quinquilharias que visam satisfazer os devaneios de uma parcela cada vez mais infantilizada da população mundial.

*

NOTAS.

[*] Este artigo contém material extraído e adaptado do livro A força do conhecimento & outros ensaios: Um convite à ciência (no prelo). Outros trechos da obra já foram anteriormente divulgados – e.g., Livros, lentes & afinsRevolução Agrícola, a mãe de todas as revoluçõesO que é cultural, afinal?Quem quer ser um cientista?Algumas notas sobre o método científicoAs origens da políticaPodemos aprender com os nossos erros; e Ciência, tecnologia, negócios. Sobre a campanha Pacotes Mistos Completos (por meio da qual é possível adquirir, sem despesas postais, os quatro livros anteriores do autor), ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para adquirir os quatro volumes ou algum volume específico ou para mais informações, faça contato com o autor pelo endereço felipeaplcosta@gmail.com. Para conhecer outros artigos ou obter amostras dos livros anteriores, ver aqui.

[1] Ver o artigo ‘Por que a Terra é esférica?’.

[2] Ver o artigo: ‘A Lua não é oca, não é feita de queijo nem tem um lado escuro’.

[3] Ver o artigo ‘Do Big Bang ao Fanerozoico: breve caracterização de tempos remotos’.

[4] Ver o artigo ‘Alguns planetas vizinhos e a tempestade vermelha que começou em 1879’.

[5] Ver o livro A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006, Moderna).

[6] Ver o artigo ‘Primórdios do aquecimento global’.

[7] 315,7 ppm significa dizer que, de cada grupo de 1 milhão de moléculas, 315,7 são moléculas de CO2.

[8] Ver o artigo ‘Finda a lenha, eis o carvão: Como foi mesmo que entramos nessa enrascada?’.

[9] Ver o artigo ‘Um balanço do ciclo global do carbono’.

[10] Considere um caso familiar que ilustra bem como a densidade de partículas afeta a temperatura local. Muita gente que já escalou uma montanha sente na pele que a temperatura cai à medida que nós nos deslocamos para altitudes maiores. (A nossa sensação pode ser atrapalhada por alguns fatores, como os ventos. Para evitar o problema, o melhor a fazer é levar um termômetro e fazer medições em condições padronizadas.) Isso decorre do fato de que o ar se torna rarefeito à medida que escalamos. Como a densidade do ar cai com a altitude, cai o número de ziguezagues e o tempo de retenção da radiação. Ora, se a radiação fica retida por menos tempo, a temperatura local também irá cair.

[11] Ver o livro Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2ª ed., 2014).

[12] Ver o artigo: ‘Desflorestamento: pausa para o lanche?’.