quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Reinaldo Azevedo: Flávio Dino, a toga, a institucionalidade e a “roupa de ministro”

 

Da BandNews FM:




terça-feira, 28 de novembro de 2023

Portal do José: BALANÇARAM! APÓS FRACASSO DE BOLSONARO E DIREITA: HORA DE DESMONTÁ-LOS! LULA: GOVERNO E PAPEL VITAL!

 


Do Portal do José:

O fracasso da direita ontem terá repercussões além do que muitos estão imaginando! Lutas importantes vão começar. Todos nós temos tarefas muito importantes! E qual o papel de Lula nesse momento? Hoje terei um papo com vocês num ambiente aberto! Sigamos!



Portal do José: RESSACA DE 2a! BOLSONARO: VEXAME E FBI APROXIMAM PAPUDA! AV. PAULISTA, MALAFALHA E A VIÚVA MÍOPE

 

Do Portal do José:

A manifestação de ontem teve uma série de fracassos. Não foi somente o número de ausentes que significa algo. A Ressaca bolsonarista está gigante ! Para piorar a vida do clã, o FBI manda mais provas dos crimes de Jair nos EUA. A viúva do “Clezão” estava na manifestação fascista/golpista inútil. Nenhum bolsonarista ajudará a sua família. Sigamos.





segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Assim operam os capitalistas extrativos (vampiros representantes dos bancos e do financismo). Por Ladislau Dowbor

 

Livro analisa como a indústria das finanças passou a dominar a sociedade, afastando o sistema do mundo real. A propriedade torna-se líquida; e a dívida, a manufatura. Reaproximar a economia das necessidades humanas é tarefa árdua, mas urgente


Imagem publicada no Infomoney


Marjorie Kelly – Wealth Supremacy – How the Extractive Economy and the Biased Rules of Capitalism Drive Today’s Crises – Berrett-Koehler Publishers, Oakland, 2023 (Supremacia da riqueza: como a economia extrativa e as regras enviesadas do capitalismo levam às crises atuais).

Marjorie Kelly vai direto ao ponto: “Um modo de vida no nosso planeta está acabando. Se conseguiremos encontrar um caminho para sair do caos para uma mudança positiva de sistema, ainda está para ser visto.” (página 189) 

Kelly se refere aos impactos da nossa perda de governança, com os dramas ambientais, da desigualdade, dos conflitos, mas coloca a financeirização no centro: “Essas batalhas separadas poderiam se tornar uma só, se compartilhássemos a compreensão do sistema profundo que as alimenta todas – o agigantado e financeirizado sistema econômico, com os seus processos insidiosos de extração de riqueza, que constituem as forças frequentemente invisíveis que geram muitas crises.” (191)

Não se trata de um defeito no sistema, e sim do próprio sistema: ”Temos de expor o fato que um terço do PIB está sendo extraído pela indústria da finança, e tornar visível o fato que ativos financeiros são cinco ou mais vezes o tamanho do PIB, e ainda determinados a crescer eternamente e sem limites. Temos de reforçar que essa riqueza com demasiada frequência é o resultado de se tirar (taking) do resto da sociedade.”(192) Essa realidade desenha a tarefa que temos pela frente, “a tarefa de transferir riqueza e poder das mãos dos poucos para o controle dos muitos, a tarefa de criar um sistema desenhado não para maximizar a riqueza financeira mas para manter uma vida florescente.”(193).

O objetivo não é complexo, trata-se de reaproximar a economia e as necessidades humanas. Uma economia democrática “é uma economia que, no seu desenho fundamental, visa responder às necessidades essenciais de todos nós, equilibrar o consumo humano com a capacidade regenerativa da terra, responder às vozes e preocupações de pessoas correntes, e compartilhar a prosperidade sem diferenças de raça, gênero, origem nacional, ou riqueza. No núcleo de uma economia democrática está o bem comum, no quadro dos objetivos fundamentais da democracia política.”(154)

É colocar o desafio alto demais? Kelly lembra com força que todas as grandes transformações, a abolição da escravidão, os direitos das mulheres, a onda de decolonização e outras transformações estruturais, como o fim dos reis de direito divino, se deram em contextos em que se dizia que eram sonhos impossíveis. Mas a mudança das mentalidades é poderosa: “Os sonhos são importantes. As visões são importantes. Para o bem ou para o mal, a mente humana coletiva é uma força capaz de modelar o mundo.”(154)

Marjorie Kelly não é nova na área. Em 2001, o seu livro The Divine Right of Capital: Dethroning the Corporate Aristocracy teve um impacto internacional profundo, ao demonstrar que entre o fluxo de dinheiro de pessoas que compram ações, e que com isso se veem como investidores, financiadores de atividades produtivas, e o fluxo de dinheiro que sai das empresas, o sinal tinha se invertido: os gestores de aplicações financeiras drenam mais do que aportam, travando o desenvolvimento. Em termos claros, uma empresa que gera um superávit pode aumentar os salários dos trabalhadores, expandir investimentos na própria empresa, ou aumentar a remuneração dos acionistas. Esta última opção se tornou radicalmente dominante. É o poder dos proprietários ausentes (absentee owners, shareholders).

Com o gigantismo e poder das empresas gestoras de ativos (asset management), as empresas produtivas passaram a canalizar cada vez mais recursos sob forma de dividendos para acionistas, mesmo travando a remuneração dos trabalhadores e o reinvestimento nas empresas. Por sua vez, a remuneração dos executivos nas empresas passou a acompanhar o enriquecimento dos acionistas, gerando interesses comuns entre os dois grupos. Gerou-se uma classe de capitalistas extrativos. Thomas Piketty detalhou os mecanismos no Capitalismo no Século XXI, de 2013, demonstrando claramente que o capitalismo se deslocou: rende mais fazer aplicações financeiras do que criar uma empresa. Hoje temos um manancial de pesquisas detalhadas sobre este capitalismo, com pesquisas que entre outros sistematizei no livro A Era do Capital Improdutivo (2018), e em particular nos trabalhos de Brett Christophers, como o Rentier Capitalism. A análise econômica se deslocou.

Marjorie Kelly continua nesse eixo de pesquisa: “O mundo hoje está inundado pelo capital financeiro, a versão líquida contemporânea da propriedade. Nesse regime de propriedade, isso significa que o centro de gravidade do sistema se deslocou (shifted away) da economia real de habitações, pequenas empresas e empregos, e se moveu para a esfera da finança. O poder deste mundo, o mundo da riqueza e dos ricos, aumentou. A extração relativamente ao resto cresceu dramaticamente.” (82) Demasiada finança (Too Much Finance) é o título inclusive de uma análise do FMI. (Ver nota 4, p. 210).

Kelly detalha o mecanismo: “A financeirização consiste no desvio dos fluxos financeiros da produção e do consumo para os mercados de ativos (asset markets). Isso significa que o sistema agora consiste menos em manufaturas e mais em manufaturar dívidas. As finanças já estiveram a serviço das comunidades, com empregos, casas, empresas familiares – fazendo empréstimos para pequenas empresas, ajudando as pessoas a comprar casas, e assim por diante. Agora estão a serviço da finança. Em vez de termos uma economia desenhada para produzir mais valor no mundo real, para pessoas comuns, a máquina econômica foi reajustada para produzir valorizações financeiras mais elevadas.”(83)

O resultado é que as finanças passaram a dominar a sociedade: “As finanças desviam a função do sistema da sua utilidade no mundo real – da inovação, do aumento de produtividade e da renda compartilhada. Em vez disso, como Bezemer e seus colegas o colocam, os ativos financeiros tornam-se a base do sistema econômico. Os rendiments que resultam beneficiam os poucos. Essa minoria – os ricos e a indústria financeira que os serve – passou a dominar a sociedade. Nesse estado das coisas, a extração se expande. As relações no sistema se desequilibram, a maioria de nós ficam endividada, enquanto uns poucos se apropriam do resultado. Muito da riqueza do 1 por cento constitui dívida as famílias e os governos devem.”(83)

Kelly converge com as pesquisas de Thomas Piketty: “Se o crescimento econômico é, digamos, de 2 ou 3 por centos, enquanto o capital busca crescer no ritmo de 5 ou 7 por centos, os ricos aumentam a sua renda ao extrair dos outros, com métodos como redução da renda dos trabalhadores. Se a minha fatia do bolo está crescendo muito mais rápido do que o crescimento do bolo inteiro, então a sua fatia está ficando menor. Piketty mostrou isso ser verdadeiro no capitalismo num período de duzentos anos… As 10 pessoas mais ricas hoje possuem mais riqueza que os 40 por centos de toda a humanidade.”(84)

A autora traz com força a importância de entendermos esse mecanismo, mais obscuro para as pessoas. A exploração com baixos salários numa empresa é clara, os trabalhadores podem se organizar e buscar equilíbrios. Os novos mecanismos de apropriação do produto social, através de mecanismos financeiros cada vez mais obscuros, são pouco compreendidos. “As práticas do capitalismo financeirizado operam numa aparente narrativa de matemática tecnocrática, que confere à ganância autoridade e persistência. Tornando a sua brutalidade casual invisível.”(50)

Particularmente enganadora é a narrativa dos mecanismos de livre mercado: “Na essência, o conceito de livre mercado é uma folha de figa. É uma cobertura ideológica, destinada a proteger a ação real, que é mais profunda, no poder da riqueza, livre e segura no seu império invisível, onde continua infinitamente com sede de mais. O neoliberalismo é o engodo da máquina de extração. A extração de riqueza é o verdadeiro jogo.”(118)

O processo decisório das empresas é essencial. Decisões sobre o uso dos recursos das corporações, e em particular a nomeação dos executivos, dependem do voto dos acionistas. Os acionistas não estão na empresa, são grandes grupos de gestão de dinheiro, com os seus algoritmos. O resultado é que proprietários ausentes (absentee owners) tomam as decisões estratégicas, enquanto os trabalhadores que estão na empresa, que realizam as atividades, não têm nenhum voto, a não ser em situações excepcionais como na Alemanha, onde são representados no conselho de administração. Ou seja, rompe-se a convergência entre os interesses dos trabalhadores, e as políticas empresariais. Uma Samarco não investiu nem nas infraestruturas para proteger as barragens, nem nos trabalhadores, privilegiou o rendimento dos acionistas, gerando o desastre de Mariana.

A compreensão desta mudança no sistema é fundamental. Não se trata mais do capitalista que tem uma empresa no bairro, numa cidade concreta, conhecido dos vizinhos, respondendo a mudanças culturais, preocupado com a imagem. Trata-se de uma máquina supraterritorial, distante, que dita os termos, enquanto recomenda aos seus departamentos de relações públicas e de relações governamentais (política institucionalizada) que proclamem a sua fidelidade ao ESG (Environment, Sustainability, Governance).

A riqueza do aporte de Marjorie Kelly, neste livro de 2023, Wealth Supremacy, consiste numa sistematização magistral de como o sistema hoje funciona. Ela domina suficientemente a área, para não precisar entrar em complexidades: um livro pequeno, de leitura simples e sobretudo agradável, com linguagem direta, torna os mecanismos transparentes, não para economistas em particular, mas para toda pessoa de bom senso. Isso é indispensável, pois o capitalismo atual ainda navega na legitimidade da sua fase industrial e produtiva, hoje travada pela financeirização. Estamos falando de um terço da capacidade produtiva apropriada por intermediários financeiros improdutivos. Não à toa o mundo está discutindo um novo pacto global sustentável, um novo Bretton Woods, uma nova arquitetura financeira mundial.

Para entender (e enfrentar) o novo fascismo (tipo bolsonarismo e mileinismo)

 

Ele tornou-se ameaça persistente, indica vitória de Milei. Odeia o Estado, surfa na crise da democracia e se aproveita do frenesi sem memória das redes sociais – para apelar às ilusões mais passadistas… É preciso examiná-lo em profundidade



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A vitória de Javier Milei na Argentina traz algumas pistas sobre como a extrema direita consegue se organizar, política e eleitoralmente, em países, contextos e situações distintas.

Primeiro, é necessário ver que a própria gramática da política mudou com a ascensão dos extremistas, assim como os instrumentos de análise. Se há poucos anos candidatos se esforçavam para dar entrevistas a jornalistas renomados e publicar artigos em jornais impressos mais relevantes, por exemplo, hoje eles dispensam intermediários e dão preferência às redes sociais. Sai a linguagem escrita, e muitas vezes a falada, e ganham relevância a imagem e o meme.

Também era comum que políticos tivessem sua oratória elogiada. Ainda hoje, a memória política de pessoas mais velhas está recheada de discursos antológicos feitos em comícios. Hoje, o palco dá voz a candidatos que são performers, personagens de si. Também por conta disso, o desastroso desempenho de Milei no debate realizado uma semana antes do segundo turno não afetou sua campanha.

Em um artigo publicado em 2022, o filósofo e professor da USP Vladimir Safatle apontava que “em um momento histórico, no qual informação e entretenimento se tornam indistinguíveis, no qual os padrões de comunicação da indústria cultural se tornam ‘naturais’, não há surpresa alguma em encontrar políticos que falam como esse ‘povo’ construído pela cultura de massa, com suas dicotomias, com sua concepção de história saída diretamente de seriados de televisão, com seus heroísmos de filme de ação”.

Nesse aspecto, descrever aspectos caricaturais ou mesmo a ignorância de figuras como Milei, Trump ou Bolsonaro apenas reforça a imagem que querem passar às pessoas. “Ou seja, em uma época na qual a indústria cultural forneceu em definitivo a gramática da política, fica mais fácil a extrema direita passar por aquela que fala a linguagem do povo”, disse ainda Safatle.

O conceito vazio de liberdade

As mensagens enviadas por estes candidatos são múltiplas. O individualismo exacerbado tem o seu limite na noção restritiva de “família” e, dentre os muitos inimigos de ocasião fabricados na retórica extremista, o Estado é o principal, como radicalizou em sua proposta Javier Milei. Ele é vendido como aquele que atrapalha a “liberdade” das pessoas. No cenário onde o empreendedorismo é louvado, o caminho deve estar “livre” para a pessoa ser bem sucedida.

Em um país no qual a política está desacreditada, como a Argentina, com a economia em situação caótica, um discurso assim pode soar como música. Mas mesmo em países onde o estado de bem-estar social é mais avançado e consolidado, qualquer ameaça de disrupção pode ser um gatilho. Não é à toa que a extrema direita cresce também em boa parte da Europa, inclusive em locais com elevado IDH. O extremismo vive e se alimenta de crises e qualquer uma delas abre uma janela de oportunidades em um mundo onde as transições se dão velozmente.

Em uma entrevista concedida em 2020, a antropóloga Letícia Cesarino apontava como este discurso conseguia ser exitoso no país no período da pandemia. “O Brasil tem todo um histórico de abandono de parte da população pelo Estado. É muito impressionante do meu ponto de vista e das pesquisas que tenho feito como de fato muitos brasileiros não esperam nada do Estado. Eles nem cogitam que o Estado deveria apoiar de forma mais decisiva e constante para fazerem o isolamento social e ficar em casa. Então são dois lados, o individualismo, esse desejo de liberdade individual, e junto uma desconfiança em relação ao Estado enquanto entidade coletiva que organiza a nossa sociedade.”

Essa noção distorcida de liberdade, tendo como parâmetro único o indivíduo, acaba afetando as mais diversas percepções. A questão da vacinação no Brasil foi um exemplo concreto. “O próprio fato de as pessoas acharem que a vacina é uma opção individual demonstra um desconhecimento completo de como a própria lógica científica da vacina funciona. Não adianta algumas pessoas tomarem e outras não. A imunidade da vacina só pode ser coletiva, isso para qualquer vacina, não só a da covid-19. Mas é impressionante como esse nível social de causalidade não faz mais sentido para as pessoas, infelizmente”, lamentava Letícia à época.

Imediatismo

Além da linguagem e da gramática, é preciso atentar também para algo que já foi dito aqui, o predomínio que existe hoje em boa parte do mundo dos valores da doutrina neoliberal. Ainda que acumule fracassos do ponto de vista econômico, o receituário que prega o individualismo e demoniza o Estado tem se tornado dominante do ponto de vista cultural. Isso implica também em imediatismo e impaciência, campo fértil para as soluções aparentemente simples vendidas pelos extremistas.

“Assim como quando vencem os progressistas, hoje que venceu a extrema direita na Argentina digo a mesma coisa: as pessoas não votam segundo linhas ideológicas. Você está votando contra o que existe com base no que você percebe em seu contexto imediato. E os ciclos políticos estão ficando mais curtos”, resume, em seu perfil no Twitter, o cientista político Elvin Calcaño Ortiz.

Talvez o problema de parte políticos tradicionais seja este: o timing. Acostumados a um tempo das ações diferente, não conseguem se adaptar a tais ciclos curtos, às vezes curtíssimos, em que a vontade do eleitor pode mudar sem aparentemente qualquer evento externo que justifique a mudança.

O professor de ciência política e relações internacionais na Universidade do Sul da Califórnia Gerardo Munck chamou a atenção para o fato de que, em 18 eleições realizadas na América Latina desde 2019, apenas no Paraguai o governo de turno saiu vitorioso, com a oposição vencendo nos demais. Ainda que opositores de esquerda e direita tenham triunfado, este estado de coisas é desfavorável aos esquerdistas, já que, uma vez no poder, costumam enfrentar a insatisfação das elites econômicas e da mídia tradicional.

Retorno a um passado glorioso

Se Donald Trump incorporou o retorno a um passado idílico com seu principal slogan de campanha, Make America Great Again (Torne a América Grande Novamente), Javier Milei também invocou o passado como farol para o futuro da Argentina.

Recorrente em sua campanha, no comício de encerramento do primeiro turno lá estava a sua promessa. “Temos que voltar a abraçar as ideias da Constituição de (Juan Bautista) Alberdi. Temos que voltar a 1860, quando de um país de bárbaros, em 35 anos, nos convertemos na primeira potência mundial”, disse. Com base neste período tido como áureo, prometeu um padrão de vida semelhante ao da Itália ou França, em um período até 15 anos, e o da Alemanha, em 20. “Se me derem 35, Estados Unidos”, enfatizou.

A construção e resgate de um passado que não considera nem índices de desigualdade e nem opressão e submissão de segmentos inteiros da sociedade se coaduna com a defesa dos ditos valores da família tradicional, uma cidadela contra as mudanças que incomodam parte dos segmentos ressentidos da sociedade. Mas muitas vezes também comunicam aos jovens que “si, si puede”, já que o país teria sido melhor em outros tempos e deixou de sê-lo por conta dos inimigos tradicionais: a esquerda, os corruptos, a casta que teria se apossado do Estado.

Isso permite ainda que o passado histórico recente seja ressignificado, como fez e ainda faz Bolsonaro no Brasil, ao adotar uma versão revisionista da ditadura militar, algo que Milei também reproduziu na Argentina.

A naturalização da extrema direita

“La Nación e La Nación+ funcionam na prática como assessoria de imprensa de Macri, agora a serviço da campanha de Milei”, relatava o jornalista, escritor e ativista LGBTQIA+ argentino Bruno Bimbi na semana que precedeu a eleição. De fato, não foram poucos os veículos da mídia tradicional argentina que optaram por estar ao lado do hoje presidente eleito no segundo turno.

E não só de adesão explícita se faz um candidato extremista, mas também de uma omissão cúmplice. Assim como no Brasil e em outros países, personagens com propostas esdrúxulas, que espalham preconceito e desinformação, não são devidamente confrontados. Em geral, ficam sem ser incomodados por um cômodo jornalismo declaratório (que, de fato, não é jornalismo), mero repetidor de falas sem contestação.

Este é um dos efeitos de uma mídia concentrada economicamente, com poucas pessoas dando as cartas em oligopólios e monopólios da informação historicamente construídos no mundo e, em especial, na América Latina, onde estão os quadros mais severos.

“Naturalizados”, tais personagens não são apresentados na mídia tradicional como ameaças à democracia, nem mesmo quando profissionais desta mesma imprensa são agredidos verbal e mesmo fisicamente, como chegou a acontecer no Brasil e na Argentina. A postura beligerante de Milei fez com que a Human Rights Watch e a Repórteres Sem Fronteira emitissem nota expressando preocupação com sua eleição.

E a “direita democrática”?

O triunfo de Milei foi viabilizado graças à transferência massiva de votos da terceira colocada, Patricia Bullrich, do Junto por el Cambio, coligação liderada pelo macrismo. E, para governar, o futuro presidente também terá que contar com o apoio deste segmento, incluído por ele mesmo no que definia pejorativamente como “casta política”.

A atração pelo poder faz com que a direita ou centro-direita logo amenize ou mesmo chegue a imitar os discursos e prática da extrema direita. Figuras como Simone Tebet ou Geraldo Alckmin, que no Brasil fizeram o movimento contrário, são exceções dentro da regra e da régua dos políticos deste campo.

O problema é que a aliança oportunista oferece poucas opções para o retorno. Ou se dá uma completa absorção deste segmento pelo campo extremista, gerando transformações em que o aliado se torna mais “autêntico” do que os originais (vide Roberto Jefferson) ou logo ele vai para as margens da política, se tornando coadjuvante. O ocaso do PSDB mostra isso no Brasil, mas não é o único exemplo.

Nos Estados Unidos, o Partido Republicano se tornou a feição mais acabada de Donald Trump. Nas primárias para 2024, seus eventuais adversários entoam a mesma canção do ex-presidente, fundada em preconceito, xenofobia, defesa de supostos valores familiares e proposição de medidas ultraliberais.

Se parte da mídia tradicional serve de escada para a ascensão destas figuras ao ser cúmplice, omissa e às vezes parceira ativa, é a direita/centro-direita que pavimenta o caminho para o exercício do poder. A defesa da democracia não serve nem como retórica.

A extrema direita pós-Milei

Fora da Argentina, apoiadores da extrema direita se animaram com o triunfo de Javier Milei. Bolsonaro foi convidado para a posse e seu séquito de seguidores vibrou, projetando um retorno ao poder em 2026 (não se sabe ainda com quem, já que o ex-presidente é inelegível).

Também houve celebração no México e até mesmo entre conservadores dos Estados Unidos. “Se alguns aparentemente não se preocupam com o que se passa na Argentina, devo alertar que a Argentina não é o Brasil de ontem. A Argentina pode se tornar o Brasil de amanhã, pois poderia engajar uma nova onda em tendências do bolsonarismo, inclusive nessas outras radicalidades”, postou o historiador e coordenador do Observatório da Extrema Direita Odilon Caldeira Neto.

Estes extremistas vão olhar para a Argentina inclusive para saber se Milei concretizará suas propostas mais radicais ou se será moderado pelos macristas, entregando o comando da economia e se baseando em manobras diversionistas para mobilizar o apoio a seu governo.

Já à esquerda, tanto lá quanto no Brasil e em outros países, cabe também observar e mesmo adaptar para si uma das características principais deste segmento. Sua estratégia de fazer política vai muito além da eleição. São mobilizações permanentes nas redes sociais onde travam o que eles mesmos chama de “guerra cultural”, terreno no qual têm sido bem sucedidos ao propagar valores discriminatórios fundamentados numa falsa “liberdade de expressão”, contando ainda com influencers e veículos que os repercutem.

Resultados como os da Polônia, no qual mulheres e jovens, em especial, foram fundamentais para tirar um regime extremista do poder, mostram que não é uma batalha perdida, ainda que desigual, já que parte significativa do poder econômico encampa o extremismo, contanto que seus lucros fiquem intactos ou aumentem.

Também nos Estados Unidos, mesmo com o avanço do campo trumpista, o direito ao aborto foi reafirmado em todos os estados que fizeram referendo após aSuprema Corte ter revertido o precedente Roe v. Wade, que assegurava a interrupção da gravidez como um direito constitucional. Agora, os republicanos temem que a questão surja na eleição presidencial de 2024 por entenderem que ela beneficiaria os democratas, favoráveis ao direito. Lembrando ainda que hoje a maioria do país vive em áreas em que o uso recreativo da maconha, outro “espantalho” da extrema direita, é legalizado.

São alguns exemplos de que não há derrotas irreversíveis nestes ciclos curtos da política. Mas é preciso lidar com essa nova gramática e entender o jogo praticado pelos extremistas.

STF é a última trincheira da democracia contra o fascismo da extrema direita e da direita. Por Eduardo Guimarães

 

É óbvio que Bolsonaro está por trás da tentativa de anular o STF, escreve Eduardo Guimarães

(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Os observadores mais atentos da tragicomédia nacional jamais nutriram ilusões sobre a possibilidade (remota) de este país relaxar e caminhar rumo ao desenvolvimento após derrotar a maior ameaça à democracia desde os idos de 1964.

Derrotar Jair Bolsonaro na eleição do ano passado e a sua intentona golpista de 8 de janeiro deste ano não bastou e não evitará a luta encarniçada que a Nação terá que travar contra o nazibolsonarismo, essa variante do espírito autoritário que nos impôs 21 anos de ditadura.

A extrema-direita segue vigorosa, popular e pronta a dar o bote ante o menor cochilo das forças democráticas. "O Preço da Liberdade é a Eterna Vigilância", já dizia Thomas Jefferson, terceiro presidente norte-americano em 1776.

Na noite da última quarta-feira, 24 de novembro de 2023, no Plenário do Senado Federal, o alheamento da realidade do senador pelo PT da Bahia, Jaques Wagner, líder do governo na Câmara Alta, não foi decisivo, mas contribuiu para aprovar um ataque e uma ameaça inaceitáveis ao Supremo Tribunal Federal.

O bolsonarismo sabe bem o que fez. Iniciou um processo para tentar anular a instituição que barrou os arroubos golpistas e genocidas de Jair Bolsonaro e que entregou aos brasileiros a possibilidade de pôr Lula na Presidência para consertar o que Michel Temer e seu sucessor direto fizeram...

E é óbvio que Bolsonaro está por trás de tudo disso.

O ex-presidente genocida e seus asseclas, muitos dos quais portadores de mandatos legislativos nas duas Casas do Congresso, e que também estão sendo investigados e/ou processados pelo Supremo, sabem que acabarão vendo o sol nascer quadrado a menos que derrubem Lula e mandem "um cabo e um soldado fecharem" o Tribunal.

Em cerca de 90 dias, a Procuradoria-Geral da República denunciará Bolsonaro e seus generais parlamentares ao Supremo pela tentativa de golpe de 8 de janeiro e, como os bagrinhos que estão sendo condenados a rodo, os mandantes também o serão...

Só que as penas serão BEM maiores!

Eles precisam parar o STF e reformular 80% dele. E tentarão fazê-lo pela via legislativa. Após as retiradas de poder do Tribunal, virão os processos de impeachment contra os ministros. Em seguida, o bolsonarismo, tão forte no Congresso, tentará eleger o sucessor de Arthur Lira para instalar um processo de impeachment de Lula, à exemplo do que fizeram com Dilma.

Esse é o plano.

Porém, não conseguirão. Não dará certo. E isso porque o Supremo Tribunal Federal é uma CORTE CONSTITUCIONAL. Ou seja, o STF é o guardião e o intérprete maior da Constituição Federal. Cabe a ele decidir o que é e o que não é admissível à luz do Texto Constitucional.

Já dizia Rui Barbosa que cabe ao STF "O direito de errar por último". Ou seja, existe um Poder da República que acaba se sobrepondo porque tem a prerrogativa de dar a última palavra diante de impasses. É para isso que existe o Poder Judiciário.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Portal do José: Tem mais gente querendo ir pra cadeia... Extremistas de direita tentam novo golpe via bancada bolsonarista.... O inelegível Bozo convoca mais gente para a papuda....

 

Do Portal do José:

CRISE ESCALOU? STF X SENADO DÁ MUNIÇÃO PARA CRIMINOSOS AGIREM. MANIFESTAÇÃO CONVOCADA VAI GERAR MAIS CADEIA. GAYER: O DEPUTADO MENTIROSO E PERIGOSO. SIGAMOS.



Gaza: uma pausa antes da tempestade, por Pepe Escobar

 

À medida que a defesa do “genocídio” se fortalece, as novas potências multipolares terão de confrontar as antigas hegemonias e o seu Caos Baseado em Regras de ocasião.


The Cradle

no Observatório de Geopolítica

do The Cradle

Gaza: uma pausa antes da tempestade

por Pepe Escobar

Enquanto o mundo grita “genocídio israelita”, a Casa Branca de Biden entusiasma-se com a próxima trégua em Gaza que ajudou a mediar, como se estivesse realmente “à beira” da sua “maior vitória diplomática”. 

Por trás das narrativas autocongratulatórias, a administração dos EUA não está nem remotamente “cautelosa quanto ao fim do jogo de Netanyahu”, mas apoia-o totalmente – incluindo o genocídio – conforme acordado na Casa Branca menos de três semanas antes da inundação de Al-Aqsa, numa reunião de 20 de Setembro entre o presidente israelense Benjamin Netanyahu e os manipuladores de Joe “The Mummy” Biden.

A “trégua” mediada pelos EUA/Qatar, que deverá entrar em vigor esta semana, não é um cessar-fogo. É uma medida de relações públicas para suavizar o genocídio de Israel e aumentar o seu moral, garantindo a libertação de algumas dezenas de cativos. Além disso, os registos mostram que Israel nunca respeita cessar-fogo.

Previsivelmente, o que realmente preocupa a administração dos EUA é a “consequência não intencional” da trégua, que “permitirá aos jornalistas um acesso mais amplo a Gaza e a oportunidade de iluminar ainda mais a devastação que aí existe e virar a opinião pública contra Israel”.

Os verdadeiros jornalistas têm trabalhado em Gaza 24 horas por dia, 7 dias por semana, desde 7 de Outubro – dezenas dos quais foram mortos pela máquina militar israelita, no que a Repórteres Sem Fronteiras chama de “um dos números mais mortíferos num século”. 

Estes jornalistas não pouparam esforços para ir até ao fim e “iluminar a devastação”, um eufemismo para o genocídio em curso, mostrado em todos os seus detalhes horríveis para o mundo inteiro ver.

Até mesmo a Agência de Assistência e Obras da ONU para a Palestina (UNRWA), ela própria implacavelmente atacada por Israel, revelou – de forma um tanto humilde – que este foi “o maior deslocamento desde 1948”, um “êxodo” da população palestina, com a geração mais jovem “. forçado a viver através de traumas de ancestrais ou pais.” 

Quanto à opinião pública em todo o Sul Global/Maioria Global, há muito que “se voltou” para o extremismo sionista. Mas agora a Minoria Global – populações do Ocidente coletivo – observa extasiada, horrorizada e amarga que, em apenas seis semanas, os meios de comunicação social os expuseram ao que os grandes meios de comunicação esconderam durante décadas. Não haverá como voltar atrás agora que esta ficha caiu.

Um antigo estado de Apartheid lidera o caminho

O governo sul-africano preparou o caminho, a nível global, para a reação adequada a um genocídio em curso: o parlamento votou pelo encerramento da embaixada israelita, pela expulsão do embaixador israelita e pelo corte dos laços diplomáticos com Tel Aviv. Os sul-africanos sabem alguma coisa sobre o apartheid. 

Eles, como outros críticos de Israel, devem ser extremamente cautelosos no futuro. Qualquer coisa pode ser esperada:  um surto de falsas bandeiras “terra terra terra” conduzidas por inteligência estrangeira, calamidades climáticas induzidas artificialmente, falsas acusações de “abuso dos direitos humanos”, o colapso da moeda nacional, do rand, casos de guerra legal, apoplexia atlantista variada , sabotagem da infraestrutura energética. E mais.  

Várias nações já deveriam ter  invocado a Convenção do Genocídio – dado que os políticos e funcionários israelitas têm-se gabado, publicamente, de arrasar Gaza e de sitiar, deixar passar fome, matar e transferir em massa a sua população palestiniana. Nenhum ator geopolítico ousou até agora. 

A África do Sul, por seu lado, teve a coragem de ir onde poucos Estados muçulmanos e árabes se aventuraram. Tal como as coisas estão, quando se trata de grande parte do mundo árabe – particularmente dos estados clientes dos EUA – eles ainda estão em território do Pântano Retórico. 

A “trégua” mediada pelo Qatar chegou precisamente no momento certo para Washington. Roubou a atenção da delegação de ministros dos Negócios Estrangeiros islâmicos/árabes que visitava capitais selecionadas para promover o seu plano para um cessar-fogo completo em Gaza – além de negociações para um Estado palestiniano independente. 

Este Grupo de Contato de Gaza, que reúne a Arábia Saudita, o Egito, a Jordânia, a Turquia, a Indonésia, a Nigéria e a Palestina, fez a sua primeira parada em Pequim, reunindo-se com o Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e depois em Moscou, reunindo-se com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov. Este foi definitivamente um exemplo do BRICS 11 já em ação – mesmo antes de terem começado a funcionar em 1 de Janeiro de 2024, sob a presidência russa.  

A reunião com Lavrov em Moscou foi realizada simultaneamente com uma sessão extraordinária online dos BRICS sobre a Palestina, convocada pela atual presidência sul-africana. O Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, cujo país lidera o Eixo de Resistência da região e recusa qualquer relação com Israel, apoiou as iniciativas sul-africanas e apelou aos estados membros do BRICS para usarem todas as ferramentas políticas e econômicas disponíveis para pressionar Tel Aviv. 

Foi também importante ouvir do próprio presidente chinês, Xi Jinping, que “ não pode haver segurança no Oriente Médio sem uma solução justa para a questão da Palestina”. 

Xi sublinhou mais uma vez a necessidade de “uma solução de dois Estados”, a “restauração dos legítimos direitos nacionais da Palestina” e “o estabelecimento de um Estado independente da Palestina”.

Nada disto é suficiente nesta fase – nem esta trégua temporária, nem a promessa de uma negociação futura. A administração dos EUA, ela própria a debater-se com uma reação negativa global inesperada, na melhor das hipóteses, fez uma queda de braço em Tel Aviv para decretar uma curta “pausa” no genocídio. Isso significa que a carnificina continua depois de alguns dias. 

Se esta trégua tivesse sido um verdadeiro “cessar-fogo”, em que todas as hostilidades cessassem e a máquina de guerra de Israel se desligasse totalmente da Faixa de Gaza, as opções para o dia seguinte ainda seriam bastante sombrias. O praticante da Realpolitik, John Mearsheimer, já foi directo ao assunto: uma solução negociada para Israel-Palestina é impossível. 

Basta uma rápida olhada no mapa actual para demonstrar graficamente como a solução de dois Estados – defendida por todos, desde a China-Rússia até grande parte do mundo árabe – está morta. Um conjunto de bantustões isolados nunca poderá fundir-se como Estado.  

Vamos pegar todo o gás deles

Tem havido rumores estrondosos em todo o espectro de que, com o advento do petroyuan cada vez mais próximo, os americanos precisam urgentemente de energia do Mediterrâneo Oriental comprada e vendida em dólares americanos –  incluindo as vastas reservas de gás ao largo da costa de Gaza. 

É aí que entra o conselheiro de segurança energética da administração dos EUA, destacado para Israel  para “discutir potenciais planos de revitalização económica para Gaza centrados em torno de campos de gás natural offshore não desenvolvidos:” que eufemismo adorável. 

Mas embora o gás de Gaza seja de fato um  vetor crucial ,  Gaza, o território, é um incômodo. O que realmente importa para Tel Aviv é  confiscar todas as reservas de gás palestinianas e atribuí-las a futuros clientes preferenciais: a UE. 

Entra-se no Corredor Índia-Médio Oriente (IMEC) – na verdade, o Corredor UE-Israel-Arábia Saudita-Emirados-Índia – concebido por Washington como o veículo perfeito para Israel se tornar uma potência energética de encruzilhada. Imagina fantasiosamente uma parceria energética EUA-Israel negociada em dólares americanos – substituindo simultaneamente a energia russa para a UE e travando um possível aumento da exportação de energia do Irã para a Europa.  

Regressamos aqui ao principal tabuleiro de xadrez do século XXI: o Hegemon vs. BRICS.

Pequim tem mantido relações estáveis ​​com Tel Aviv até agora, com investimentos generosos nas indústrias e infra-estruturas de alta tecnologia israelitas. Mas o ataque de Israel a Gaza pode mudar esse quadro: nenhum verdadeiro Soberano pode proteger-se quando se trata de um verdadeiro genocídio.  

Paralelamente, seja o que for que o Hegemon possa apresentar nos seus vários cenários de guerra híbrida e quente contra os BRICS, a China e a sua multimilionária Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), isso não alterará a trajetória racional e estrategicamente formulada de Pequim.   

Esta análise de Eric Li é tudo o que precisamos saber sobre o que está por vir. Pequim traçou todos os caminhos tecnológicos relevantes a seguir em sucessivos planos quinquenais, até 2035. Neste quadro, a BRI deveria ser considerada uma espécie de ONU geoeconômica sem o G7. Se estivermos fora da BRI – e isso diz respeito, em grande medida, aos antigos sistemas compradores e às elites – estamos a auto-isolar-nos do Sul Global/Maioria Global. 

Então, o que resta desta “pausa” em Gaza? Na próxima semana, os covardes apoiados pelo Ocidente reiniciarão o seu genocídio contra mulheres e crianças, e não irão parar por muito tempo. A resistência palestina e os 800 mil civis palestinos que ainda vivem no norte de Gaza – agora cercados por todos os lados por tropas e veículos blindados israelenses – estão provando que estão dispostos e são capazes de suportar o fardo da luta contra o opressor israelense, não apenas pela Palestina, mas também por todos, em todos os lugares, com consciência. 

Apesar de um preço tão terrível a pagar com sangue, acabará por haver uma recompensa: a lenta mas segura evisceração da construção imperial na Ásia Ocidental. 

Nenhuma narrativa da grande mídia, nenhum movimento de relações públicas para suavizar o genocídio, nenhuma contenção da “opinião pública que se volta contra Israel” poderá alguma vez cobrir os crimes de guerra em série perpetrados por Israel e pelos seus aliados em Gaza. Talvez seja exatamente isto que o Doutor – metafísico ou não – ordenou para a humanidade: uma tragédia global imperativa, a ser testemunhada por todos, que também transformará todos nós. 

Pepe Escobar – Analista geopolítico independente, escritor e jornalista


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Portal do José: SURTO BOLSONARISTA! O PASTOR DA EXTREMA-DIREITA AMPLIA ATAQUE A MORAES! PRISÃO? ARGENTINA AMEAÇA: FORA CHINA E BRASIL!

 

Do Portal do José:

MALAFAIA VAI PREDER ALEXANDRE DE MORAES! PELO MENOS É ISSO QUE PODEMOS CONCLUIR A PARTIR DA INCURSÃO DO PASTOR CONTRA O MINISTRO DO STF. DIREITOS HUMANOS ENTRARAM NA PAUTA BOLSONARISTA? BOLSONARISMO MATOU MAIS UMA PESSOA. NA ARGENTINA, BRAVATAS ACONTECEM. TERÃO QUANTO TEMPO DE VALIDADE? Pautas morais agiram nessa eleição? Sigamos.



Pepe Escobar explica as guerras eternas fomentadas pelo império e a conexão Ucrânia-Palestina

 

Do Canal 247:

O jornalista Leonardo Attuch entrevista o analista geopolítico Pepe Escobar.



A encruzilhada da democracia no picadeiro do capitalismo. Artigo de Cassio Sader

 

Políticos de extrema direita, com discursos disruptivos e promessas de mudanças radicais, atraem uma base eleitoral crescente

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023 (Foto: Julián Álvarez/Telam)

No cenário político argentino, as recentes eleições presidenciais marcaram uma virada com a vitória de Javier Milei, representante da extrema direita, cujas propostas audaciosas têm gerado controvérsias e inquietações. Suas ideias, embora carregadas de um discurso disruptivo e apocalíptico, conquistaram a preferência da maioria do eleitorado, especialmente os jovens. Essa adesão se fundamenta na crescente descrença nos políticos tradicionais e na busca por soluções imediatas para os problemas enfrentados pelas pessoas.

O cenário se assemelha a muitos países; foi assim nos EUA em 2016, no Brasil em 2018, na Itália em 2022, com vitórias da extrema direita, e na França, Espanha e Alemanha, com o crescimento exponencial dos extremistas de direita nas últimas eleições. A democracia liberal parece não oferecer mais respostas aos problemas correntes das sociedades capitalistas, sejam desenvolvidas, sejam periféricas.

A dinâmica atual do capitalismo revela uma brecha significativa entre seus interesses e as necessidades da sociedade. A desregulamentação progressiva, desde os anos 70 no setor financeiro até o atual panorama do mercado de trabalho, promoveu concentração de renda, aumento do trabalho informal e crescente negligência dos direitos laborais fundamentais. Esse contexto resultou numa debilitação progressiva do Estado, minando sua capacidade de salvaguardar os direitos dos cidadãos e regular dinâmicas danosas do mercado.

Propostas políticas, independentemente da orientação ideológica, têm falhado em gerar melhorias substanciais nas condições de vida da população. Os políticos de centro-esquerda, preocupados com a inclusão social, enfrentam desafios na confrontação direta com as disfunções do capitalismo desregulado. Enquanto isso, os políticos de centro-direita, que pregavam a gestão eficiente do estado mínimo, tampouco conseguem entregar resultados palpáveis à população.

Por outro lado, políticos de extrema direita, com discursos disruptivos e promessas de mudanças radicais, atraem uma base eleitoral crescente. Mais focados na obtenção de ganhos imediatos em popularidade, adotam abordagens que se assemelham à mentalidade dos CEOs que visam maximizar lucros rapidamente para os acionistas, sem considerar as implicações de longo prazo, destruindo tanto empresas tradicionais quanto inovadoras, que definham nesse curto-prazismo.

Para os setores progressistas da sociedade, a reconciliação entre a urgência das demandas populares imediatas e a implementação de soluções de médio e longo prazo para os problemas estruturais do sistema é vital. Uma reinvenção do papel do Estado, por meio de regulamentações inteligentes e investimentos estratégicos, pode representar um caminho adiante. É crucial encontrar um equilíbrio entre abordagens imediatistas e uma visão mais ampla e sustentável para enfrentar os desafios políticos e econômicos atuais.

Fonte: 247