segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Jurista Bandeira de Mello afima que a imprensa "monta palco"para fascistas e para coações e desmandos de uma justiça cada vez mais claramente tendenciosa

   Um dos maiores juristas do País, Bandeira de Mello, crítico da operação Lava jato, diz que a imprensa "monta palco" para o juiz Sergio Moro, que usa delação de forma equívoca, para coagir; "com o apoio da imprensa, o país está caminhando, a passos largos, para o fascismo. Se a imprensa não montasse um palco para esse juiz, isso não aconteceria. Tanto é assim que na hora que aparecer algum assunto novo, como a Olimpíada, esse assunto todo vai morrer", diz.

BANDEIRA DE MELLO (jurista): IMPRENSA CONDUZ PAÍS AO FASCISMO




Do Brasil 247 - Para o jurista Bandeira de Mello, crítico da operação Lava jato, a imprensa "monta palco" para o juiz Sergio Moro, que usa delação de forma equívoca: “É evidente que há abuso e excesso. A delação premiada não é um instituto que existe para coagir. Você prende uma pessoa e a mantém presa até que faça uma delação? Isso é coação. Delação deveria ser espontânea”, diz.

“Com o apoio da imprensa, o país está caminhando, a passos largos, para o fascismo. Se a imprensa não montasse um palco para esse juiz, isso não aconteceria. Tanto é assim que na hora que aparecer algum assunto novo, como a Olimpíada, esse assunto todo vai morrer”.

Neste domingo, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a ser vítima de uma agressão fascista, num restaurante de alto padrão, em São Paulo.

Em entrevista à ‘Folha de S. Paulo’, ele também contesta os argumentos do juiz para justificar mandatos: “Com argumentos desse tipo [como pedir prisões para impedir destruição de provas], você pode torturar e matar. Se esse argumento do interesse maior da sociedade prevalecer, pode torturar e matar”.

Bandeira de Mello ressalta que a corrupção sempre existiu, mas a novidade é a imprensa tratar disso como um verdadeiro escândalo (leia mais).

O genial Armandinho, nosso Dom Quixote mirim, percebe que quando os cães do reacionarismo ladram, é sinal de que estamos avançando




 Afinal, os latidos de fundamentalistas e fascistas nada mais são que expressão do incômodo da velha Casa Grande colonialista, unicamente preocupada em retomar o poder e seu estilo arrogante de explorar. Fundamentalismo e Fascismo são as duas faces da mesma moeda...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Reflexão de Rubem Alves sobre o fanatismo, ou a pretensa honestidade dos estúpidos





domingo, 28 de junho de 2015

As reflexões de Miguel do Rosário sobre a ascenção do fascismo no Brasil

Vou falar de novo: um apresentador foi ameaçado, publicamente, no lugar onde mora, porque entrevistou a presidenta da república de um país democrático.
Por mais que o apresentador tente fingir que não dá bola para isso, e leve na esportiva, é claro que ele deve ter ficado profundamente abalado, assim como todos os apresentadores de tv do país.
É um recado do Brasil fascista ao Brasil democrático: “não insista, nós, fascistas, temos a mídia, temos o dinheiro e queremos o poder!”



Texto de Miguel do Rosário, do blog O Cafezinho

Ontem conversei com um professor do Iesp (Instituto de Estudos Sociais e Políticos, um dos mais importantes da América Latina, vinculado à UERJ), que me contou sobre um seminário ocorrido na instituição, na semana passada, para discutir as “jornadas de junho” de 2013.

Um dos professores fez uma abordagem mais crítica, e identificou o embrião, naquelas manifestações, de um novo tipo de fascismo, o qual, desde então, só vem crescendo, com apoio de importantes forças políticas, em especial a mídia.

Espero voltar a este assunto, inclusive entrevistando o professor, mas por enquanto fiquemos apenas nesta menção.

Recentemente, a rua onde mora o apresentador Jô Soares foi pichada com uma ameaça de morte:

“JÔ SOARES, MORRA”.

A razão: Jô Soares entrevistou a presidenta da república, eleita em outubro passado com 54 milhões de votos.

Vou falar de novo: um apresentador foi ameaçado, publicamente, no lugar onde mora, porque entrevistou a presidenta da república de um país democrático.

Por mais que o apresentador tente fingir que não dá bola para isso, e leve na esportiva, é claro que ele deve ter ficado profundamente abalado, assim como todos os apresentadores de tv do país.

É um recado do Brasil fascista ao Brasil democrático: “não insista, nós, fascistas, temos a mídia, temos o dinheiro e queremos o poder!”

Jô Soares, apesar de ser um apresentador da Globo, não foi defendido pela Globo.

Não vimos nenhum editorial, nenhuma reportagem, nenhuma cobertura decidida da Globo contra os ataques fascistas a um de seus apresentadores mais tradicionais.

Ao contrário, a Globo empurrou Jô Soares para o horário mais vazio da madrugada. A própria entrevista com Dilma não foi sequer aproveitada devidamente nos telejornais da emissora.

Por que a Globo nem nenhum outro canal, nenhum jornalão, fez uma defesa enfática de Jô Soares contra os ataques fascistas que recebeu, os quais, aliás, não se limitaram à pichação na rua, mas também se materializaram em ofensas e ameaças nas redes sociais?

Porque a nossa mídia não iniciou imediatamente uma campanha contra essa escalada fascista que atinge profundamente a liberdade de expressão no país?

Afinal, que apresentador de TV terá coragem de entrevistar a presidenta Dilma, uma presidenta eleita duas vezes consecutivas pelo povo brasileiro?

Simples.

A mídia não defendeu Jô, porque ela é a matriz do novo fascismo brasileiro.

É duro dizer isso, mas é a pura verdade.

A criação da figura de um juiz-justiceiro, idolatrado pela classe média, ovacionado nos saguões dos aeroportos, e que não respeita direitos de defesa, e que prende ricos e poderosos, integra uma narrativa clássica do fascismo.

O fascismo, para se consolidar perante a opinião pública, precisa de figuras e narrativas que galvanizem a massa.

E como o fascismo esconde, no fundo, uma ideologia profundamente elitista, antissocial e antidemocrática, a única maneira de ganhar apoio das massas é sacrificando cordeiros gordos no altar do populismo penal.

Os fascistas de outrora faziam isso com judeus ricos.

As massas aplaudiam, entusiasmadas, a repressão a toda uma classe de ricos burgueses de ascendência judaica.

Os fascistas de hoje querem fazer o mesmo com empreiteiros que financiaram a ascensão do PT.

Não importa que os mesmos empreiteiros também financiaram, até em maior escala, a oposição.

É preciso promover um circo para o populacho.

Enquanto o populacho segue distraído pelo espetáculo, os representantes do capital fazem avançar sua pauta no congresso, destruindo leis trabalhistas e vendendo o patrimônio público para interesses estrangeiros. É o que fazem Eduardo Cunha e José Serra, faturando em cima do fato da esquerda estar sendo encurralada pelas agressões crescentes de movimentos fascistas.

O capital sempre usou o fascismo para promover seus interesses, como quem solta uma fera em cima de seus adversários.

De que outro nome chamar a pichação contra Jô Soares?

De que outro nome chamar essa onda ultrarreacionária e ultraviolenta que corre o Brasil, culpando menores de idade pela violência urbana, mesmo que as pesquisas apontem que estes respondem por menos de 0,3% dos crimes contra a vida?

Temos fingido não ver a ascensão do fascismo no Brasil, como quem se recusa a acreditar no horror, mas é exatamente isso que está acontecendo. Não é mais um movimento marginal, periférico, insignificante, de grupos radicais nas redes sociais.

Não, é um movimento de massa, que bota milhões de pessoas nas ruas.

As manifestações de 15 de março e 12 de abril foram positivamente fascistas. Qual a solução apontada para elas para a crise política?

Intervenção militar.

Derrubada do governo eleito.

Essas bandeiras não eram “minoritárias”. A maioria das pessoas nessas manifestações apoiaria uma intervenção militar.

O repórter do Telesur que entrevistou pessoas numa dessas marchas, em Copacabana, me contou que 9 entre 10 pessoas com que falou defendiam a intervenção militar.

Viam-se faixas pedindo intervenção militar do início ao fim das manifestações. Os grupos que defendiam intervenção militar tinham carros de som que ocupavam as partes centrais dos protestos.

Outra característica das manifestações fascistas é a mitificação da figura do juiz-justiceiro, modelo máximo da falsa meritocracia fascista. O líder não-eleito, o representante histórico da classe dominante.

E sempre se nota, em toda parte, uma carga de preconceito muito pesada contra o voto popular.

Tenta-se fazer o povo se envergonhar de seu próprio voto.

Olha só o comentário de um internauta num post recente aqui do Cafezinho:

“NÃO É CERTO ESCREVER O TEXTO E NÃO ASSINAR. O COMUNISTA ASQUEROSO Q ESCREVEU O TEXTO DO BLOG TEM Q ASSINAR PARA SABERMOS SEU NOME. ASSIM ELE TBM PODERÁ SER PERSEGUIDO E PRESO QUANDO OS MILITARES TOMAREM O PODER.”

O meu texto tinha assinatura, sim, o fascistinha é que, de tão nervoso, não viu. Esse tipo de manifestação tem crescido de maneira avassaladora, e agora ocupa as ruas.

Com apoio da mídia.

A imprensa democrática teria a obrigação moral e política de iniciar uma grande campanha contra o avanço do fascismo político na sociedade.

Mas não o faz, porque ela, a imprensa, não é democrática. A imprensa comercial brasileira tem o DNA da ditadura e do fascismo. Os atuais jornalões consolidaram seu poder durante a ditadura.

Beneficiaram-se da ditadura.

A ditadura matou seus concorrentes. Matou economicamente, politicamente e até mesmo fisicamente.

O Brasil que emerge no pós-ditadura era um sombrio deserto jornalístico, onde meia dúzia de oligarcas nacionais, coligados a algumas dezenas de oligarcas regionais, estabelecem um domínio absoluto sobre o mercado de opinião pública.

A democracia brasileira está órfã na imprensa comercial, que rasgou a pose pró-democrática que adotou durante o final da ditadura e os anos iniciais da redemocratização.

Hoje ela voltou a ser o que é: uma imprensa fascista, golpista, a serviço da preservação dos velhos privilégios de sempre, além de submissa aos interesses do imperialismo americano.

Com Lula e Dilma, a esquerda conseguiu vencer a batalha do estômago. A fome foi vencida no país. Agora vem a batalha mais difícil: a dos corações e mentes, que é onde a direita tem mais poder, por seu domínio sobre os meios de comunicação.

Mais uma vez, é uma batalha de David contra Golias.

Os setores sociais que escaparam da lobotomização midiática, que engoliram a pílula vermelha e decidiram ver a realidade como ela é: uma paisagem sombria e devastada, repleta de conspirações diárias, na qual praticamente todos, absolutamente todos, os fatos jornalísticos são distorcidos com finalidades golpistas, estes setores são minoritários.

Somos poucos diante da manipulação midiática.

Mas estamos aumentando. Enquanto a grande mídia perde audiência rapidamente – e talvez exatamente por isso ela se arrisca mais pela via fascista – a audiência dos blogs e das redes sociais críticas à mídia, cresce.

O crescimento da audiência da blogosfera e das redes sociais críticas à mídia cresce na mesma proporção em que declina a audiência da grande mídia.

Por isso o desespero.

Por isso querem dar um golpe rápido!

Em 2005, éramos alguns gatos pingados. Hoje somos um grupo bem maior.

Quantos somos?

200 mil? 500 mil? 1 milhão? 10 milhões?

A luta política não se dá entre todos os 140 milhões de eleitores. Ela se dá antes num universo bem menor, quiçá um terço disso, ou ainda menos, algo entre 10 a 50 milhões de cidadãos que acompanham a política um pouco mais de perto.

Por isso a grande mídia tem tanto medo dos blogs, e por isso ela faz de tudo para criminalizá-los ou asfixiá-los financeiramente.

As campanhas para que nenhuma estatal, órgão público ou empresa privada anuncie nos blogs é outra vertente do fascismo midiático.

É como se a mídia repetisse o gesto dos pichadores da rua de Jô Soares: BLOGS, MORRAM!

Aliás, não é isso que repetem, em coro, todos os coxinhas, quando comentam nos blogs? .

Sempre que festejam suas vitórias políticas, em geral na esteira do avanço das conspirações midiáticos-judiciais, eles comentam nos blogs: “agora vocês ficarão desempregados, perderão seus patrocínios”.

É como se eles não ficassem felizes com suas vitórias sujas, baseadas em delações forjadas e teorias manipuladas da mídia.

Eles apenas ficam felizes com a perspectiva da eliminação do adversário, de preferência numa câmara de gás.

Entretanto, nunca vencerão completamente. Poderão esmagar nossa economia, fazer sofrer o povo, submeter o país novamente aos ditames de nações estrangeiras.

Mas enquanto restar um fio de consciência, dignidade e independência intelectual no Brasil, haverá sempre resistência.

E dessa resistência resultará nossa vitória.

Porque o fascismo é uma força enorme, terrível, uma doença política que incha rapidamente. Em algum momento, contudo, ele sempre será derrotado.

A história, neste sentido, se repete.

A mídia fascista, portanto, que aproveite bem os seus últimos dias em Paris.

Enquanto vocês festejam os bombardeios diários sobre nossas cidades, a resistência cresce nos subterrâneos.

O nosso dia D ainda vai chegar.

sábado, 27 de junho de 2015

Momento de Humor: Pastor fundamentalista e coxinhas ao checarem o facebook em 26 de junho de 2015




A onda colorida que tomou conta na internet do Brasil é um aviso e um cala boca ao conservadorismo nacional, fomentado, em consideável parte, pela grande mídia

Papa Franscico: "Jamais excluir!"





"Jesus jamais marginaliza alguém, jamais. Marginaliza si mesmo, para incluir os marginalizados"


Papa Francisco



   É por essas e outras que o Brasil necessita aprender com os diversos Franciscos: de Assis, Xavier, Bergoglio... E evitar os miasmas boscurantistas de pretensos pastores e outros oportunistas comerciantes e manipuladores da fé...

   O fato é que Jesus, a que estes Franciscos de fato seguem, morreu por ser um incômodo, um fator de risco para os reacionários do Sinédrio e da Fortaleza Antônia (lebremos os dizeres de Cristo: o Reino é dos pobres, dos perseguidos, dos excluidos, etc.). Viveu entre os párias e os perseguidos, foi condenado por isso: um perigo ao Satatus Quo. Mas veio Paulo, que criou um cristianismo pós-pascal (ele praticamente desconsidera o Jesus de antes do martírio) e adaptou seu movimento à Roma. O resultado é que Roma e depois os reformistas, adaptaram Jesus à seus interesses. Ainda assim, se pode ver o núcleo humanista e revolucionário de sua mensagem original... Isso se os neopentecostais não nos fizerem ter medo do que eles chamam de "Sr. Jesus ", um juiz desumano por eles construído, a condenar imperfeições e falta de adulações para si.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

 O texto a seguir foi retirado do site Aleteia.org:


Os cristãos devem se aproximar e estender a mão àqueles que a sociedade tende a excluir, como fez Jesus com os marginalizados do seu tempo. Foi o que disse o Papa na homilia de hoje em Santa Marta.

Aproximando-se dos excluídos do seu tempo, Jesus “sujou” as mãos tocando os leprosos. E, assim, ensinou à Igreja “que não se pode fazer comunidade sem proximidade”. Francisco centralizou sua homilia no protagonista do Evangelho do dia, em que um leproso toma coragem, prostra-se diante de Jesus e lhe diz: “Senhor, se queres, tens poder para purificar-me”. Jesus o toca e o cura.

O milagre, disse o Papa, aconteceu sob os olhos dos doutores da lei, para os quais, ao invés, o leproso era um “impuro”. “A lepra – observou – era uma condenação perpétua” e “curar um leproso era tão difícil como ressuscitar um morto”. E, por isso, eram marginalizados. Jesus, ao invés, estende a mão ao excluído e demonstra o valor fundamental de uma palavra, “proximidade”.

“Não se pode fazer comunidade sem proximidade. Não se pode fazer a paz sem proximidade. Não se pode fazer o bem sem aproximar-se. Jesus poderia muito bem ter dito: ‘Sê purificado!’. Mas não: se aproximou e o tocou. E mais! No momento em que Jesus tocou o impuro, se tornou também ele impuro. E este é o mistério de Cristo: toma para si as nossas sujeiras, as nossas impuridades. Paulo de fato afirma: ‘Tendo a condição divina, não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente, mas se esvaziou a si mesmo. Depois, Paulo foi além: ‘Fez-se pecado. Jesus se faz pecado. Excluiu-se, tomou para si a nossa impuridade para aproximar-se de nós”.

O trecho do Evangelho registra também o convite que Jesus fez ao leproso curado: “Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta prescrita por Moisés, para que lhes sirva de prova”. Isso porque, destacou Francisco, além da proximidade, para Jesus é fundamental também a inclusão.

“Tantas vezes penso que seja, não digo impossível, mas muito difícil fazer o bem sem sujar as mãos. E Jesus se sujou. Proximidade. E depois vai além. Disse-lhe: ‘Mostra-te aos sacerdotes e faz o que se deve fazer quando um leproso é curado. Quem estava excluído da vida social, Jesus inclui: inclui na Igreja, inclui na sociedade … ‘Vai, para que todas as coisas sejam como devem ser’. Jesus jamais marginaliza alguém, jamais. Marginaliza si mesmo, para incluir os marginalizados, para nos incluir, pecadores, marginalizados, com a sua vida”.

O Papa ressaltou o estupor que Jesus suscita com as suas afirmações e os seus gestos. “Quantas pessoas – comentou – seguiram Jesus naquele momento” e “seguem Jesus na história porque ficam impressionadas pelo modo como fala”.

“Quantas pessoas olham de longe e não entendem, não lhes interessa… Quantas pessoas olham de longe, mas com o coração mau, para testar Jesus, para criticá-lo, para condená-lo…  E quantas pessoas olham de longe porque não têm a coragem que ele teve de se aproximar, mas têm tanta vontade de fazê-lo! E naquele caso, Jesus estendeu a mão, antes. No seu ser estendeu a mão a todos, fazendo-se um de nós, como nós: pecador como nós, mas sem pecado, mas sujo dos nossos pecados. E esta é a proximidade cristã”.

É uma “bela palavra, a proximidade”, concluiu Francisco. Que convida a um exame de consciência: “Eu sei aproximar-me?”. Tenho “ânimo, força, coragem de tocar os marginalizados?”. Uma pergunta que diz respeito também “à Igreja, às paróquias, às comunidades, aos consagrados, aos bispos, aos padres, a todos”.
sources: RÁDIO VATICANO

Nova e mais equilibrada comitiva chega a Caracas e Roberto Requião desconcerta repórter da Rede Globo que queria compará-los à patética comitiva oportunista anterior, de Aécio

   Nova comissão, que foi apelidada de “comissão amiga” , já desembarcou na Venezuela na madrugada do dia 25 e foi bem recebida pelo embaixador embaixador do Brasil, Rui Pereira. Em Caracas, o senador Roberto Requião deu uma entrevista para uma equipe de “reporcagem” da Rede Globo.


NOVA COMITIVA DESEMBARCA EM CARACAS E REQUIÃO “DESCONCERTA” REPÓRTER DA GLOBO




 Extraído do BR29





(redação BR29)

Quando o senador Aécio Neves e seus comparsas tucanos viajaram à Venezuela no último dia 17, a Globo fez um estardalhaço para divulgar o resultado catastrófico da missão diplomática.

Com os gritos de “Chávez não morreu” e “Fora, fora”, os manifestantes aproveitaram o trânsito engarrafado para cercar a van da comitiva e colocaram “literalmente” a tucanada pra correr.

Passado o fiasco político, o Senado Federal aprovou um requerimento para a criação de uma nova comissão externa com a finalidade de verificar a situação “política, social e econômica” da Venezuela.

Essa nova comissão, que foi apelidada de “comissão amiga” , já desembarcou na Venezuela na madrugada de ontem (25) e foi recebida pelo embaixador embaixador do Brasil, Rui Pereira.

Fazem parte da comitiva os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Roberto Requião (PMDB-PR), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Telmário Mota (PDT-RR) foi recebida pelo embaixador brasileiro Ruy Pereira.

Em Caracas, o senador Roberto Requião deu uma entrevista para uma equipe de “reporcagem” da Rede Globo.

assista o vídeo (logo abaixo):

Aos 55 segundos do vídeo, a repórter da Globo pergunta a Requião:

” Qual a diferença (oficialmente falando) entre a comissão que veio na semana passada e essa que está aqui agora ? “

O senador foi breve na resposta:

” Nós não somos black-blocs para influir no processo eleitoral venezuelano.Viemos aqui buscar informações."



sexta-feira, 26 de junho de 2015

Luis Fernando Veríssimo sobre o Ódio de coxinhas, fascistas e das elites que os financiam contra todo pensamento progressista ou partido de esquerda, especialmente ao PT, o primeiro de esquerda a chegar democraticamente ao poder, no Brasil



I - Introdução por

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  Jô Soares, em seu último programa com as "Meninas do Jô", comentou e discutiu as pichações de coxinhas-golpistas antidemocráticos de direita, com os dizeres "Jô Soares, Morra", em frente ao seu prédio, o que assustou inúmeras pessoas, inclusive crianças que frequentam duas escolas próximas.


Tal ato de Terrorismo, manifestação de ódio e covardia são bem dignas dos seguidores de Olavo de Carvalho, Arnaldo Jabor, Kim Kataguri, Marcello Reis, Diogo Mainardi, Rodrigo Constantino e Reinaldo Azevedo, retoma uma prática comum de covardes nazistas dos tempos da ditadura, e tudo isso porque o apresentador corajosamente vem defendendo a democracia e a presidenta Dilma da onda fascistóide, fundamentalista e golpista, fomentada pela Casa Grande e sua mídia amestrada, contra o resultado legítimo das Urnas, enfrentando  os interesses golpistas da própria emissora que o contratou, a poderosa e Golpista Rede Globo, como demonstrou a entrevista feita com a presidente e que levou a emissora a suspender seu programa semana passada, pondo no lugar os jogos da copa Sub-20 (que ela nunca transmitiu antes), e já buscando uma alternativa ao programa do Jô para breve.

 Leia o artigo-crônica de Luis Fernando Veríssimo, publicado no Estado de São Paulo, sobre o ódio vingativo, fascista e truculento da direita golpista. Logo após, veja o vídeo, (extraido do Contexto Livre), onde o apresentador e humorista Jô Soares comenta o fato fascista de que foi vítima e suas implicações:


II - Segue o texto do cronista Luis Fernando Veríssimo

Ódio


Texto de Luis Fernando Veríssimo, publicado no Estado de São Paulo (também publicado em  O Globo), em 25 Junho 2015 | 02h 00




Não vi a entrevista do Jô com a Dilma, mas, conhecendo o Jô, sei que ele não foi diferente do que é no seu programa: um homem civilizado, sintonizado com seu tempo, que tem suas convicções - muitas vezes críticas ao governo -, mas respeita a diversidade de opiniões e o direito dos outros de expressá-las. Que Jô fez uma matéria jornalística importante e correta não é surpresa. Como não é surpresa, com todo esse vitríolo no ar, a reação furiosa que causou pelo simples fato de ter sido feita.

  A deterioração do debate político no Brasil é consequência direta de um antipetismo justificável, dado aos desmandos do próprio PT no governo, e de um ódio ao PT que ultrapassa a razão. O antipetismo decorre em partes iguais da frustração sincera com as promessas irrealizadas do PT e do oportunismo político de quem ataca o adversário enfraquecido. Já o ódio ao PT existiria mesmo que o PT tivesse sido um grande sucesso e o Brasil fosse hoje, depois de 12 anos de pseudossocialismo no poder, uma Suécia tropical. O antipetismo é consequência, o ódio ao PT é inato. O antipetismo começou com o PT, o ódio ao PT nasceu antes do PT. Está no DNA da classe dominante brasileira, que historicamente derruba, pelas armas se for preciso, toda ameaça ao seu domínio, seja qual for sua sigla. 

  É inútil tentar debater com o ódio exemplificado pela reação à entrevista do Jô e argumentar que, em alguns aspectos, o PT justificou-se no poder. Distribuiu renda, tirou gente da miséria e diminuiu um pouco a desigualdade social - feito que, pelo menos pra mim, entra como crédito na contabilidade moral de qualquer governo. O argumento seria inútil porque são justamente estas conquistas que revoltam o conservadorismo raivoso, para o qual “justiça social” virou uma senha do inimigo.

  Tudo isto é lamentável, mas irrelevante, já que o próprio Lula parece ter desesperado do PT. Se é verdade que o PT morreu, uma tarefa para investigadores do futuro será descobrir se foi suicídio ou assassinato. Ele se embrenhou nas suas próprias contradições e nunca mais foi visto ou pensou que poderia ser a primeira alternativa bem-sucedida ao domínio dos donos do poder e acordou um dia com um tiro na testa?

  De qualquer maneira, será uma história triste.

III - Segue o vídeo onde Jô Soares comenta as ações fascistas, em especial a pichação de que foi vitima



quinta-feira, 25 de junho de 2015

Edgar Morin sobre a encílica, voltada para a conscientização ecológica, do Papa Francisco: "A 'Laudato Si' é, talvez, o ato número 1 de um apelo para uma nova civilização”




 “O verdadeiro humanismo é aquele que vai dizer que eu reconheço em todo ser vivo ao mesmo tempo um ser semelhante e diferente de mim”, afirma Edgar Morin

 A entrevista a seguir, feita por Antoine Peillon e Isabelle de Gaulmyn e publicada por La Croix, em 21-06-2015, na França, foi traduzida por André Langer e publicada no Instituto Humanitas Unisinos.

  Você não hesitou, após sua leitura, em qualificar a Encíclica Laudato Si’ de providencial. O que quer dizer?

  Providencial, não no sentido da divina providência! Mas nós vivemos uma época de deserto do pensamento, um pensamento fragmentado em que os partidos que se dizem ecologistas não tem nenhuma real visão da magnitude e da complexidade do problema, em que perdem de vista o interesse daquilo que o Papa Francisco, numa maravilhosa fórmula retomada de Gorbatchev, chama de “casa comum”. No entanto, esta preocupação com uma visão complexa, global, no sentido de que é preciso tratar as relações entre cada parte, sempre me animou (2).

  Neste “deserto” atual, pois, eis que surgiu esse texto que vejo bem estruturado, e que responde a esta complexidade! Francisco definiu a “ecologia integral”, que não é, sobretudo, esta ecologia profunda que pretende converter ao culto da Terra e subordinar tudo a ela. Ele mostra que a ecologia toca profundamente as nossas vidas, a nossa civilização, os nossos modos de agir, nossos pensamentos.

  Mais profundamente, ele critica um paradigma “tecnoeconômico”, esta maneira de pensar que ordena todos os nossos discursos e que os torna obrigatoriamente fiéis aos postulados técnicos e econômicos para tudo solucionar. Com esse texto, há ao mesmo tempo um apelo par a tomada de consciência, uma incitação a repensar a nossa sociedade e a agir. Esse é o sentido de providencial: um texto inesperado e que mostra o caminho.

  Você encontra no texto uma perspectiva humanista da ecologia?

   Sim, porque através desta noção de ecologia integral, a encíclica convida a ter em conta todas as lições desta crise ecológica. Mas também com a condição de precisar a noção de humanismo, que tem um duplo sentido. Na verdade, é o que Francisco disse em seu discurso. Ele critica uma forma de antropocentrismo.

   Existe, com efeito, um humanismo antropocêntrico, que coloca o homem no centro do universo, que faz do homem o único sujeito do universo; em suma, onde o homem se situa no lugar de Deus. Eu não sou crente, mas penso que esse papel divino que se atribui, às vezes, ao homem é absolutamente insensato.

  E, uma vez que nos encontramos nesse princípio antropocêntrico, a missão do homem, muito claramente formulada por Descartes, é conquistar a natureza e dominá-la. O mundo da natureza tornou-se um mundo de objetos. O verdadeiro humanismo é, ao contrário, aquele que vai dizer que eu reconheço em todo ser vivo ao mesmo tempo um ser semelhante e diferente de mim.

  Você fez sua esta invocação de Francisco de Assis, retomada pelo papa, que fala do irmão Sol, que implica uma forma de fraternidade com o que os cristãos chamam de Criação?

  O papa teve a sorte de encontrar no cristianismo São Francisco de Assis! Porque se não tivesse sido isso, teríamos poucas referências...

  Hoje, nós sabemos que temos em nós células que se multiplicaram desde as origens da vida, que elas nos constituem como qualquer ser vivo... Se remontarmos à história do universo, nós nos daremos conta de que carregamos em nós todo o cosmos, e isso de uma maneira singular.

 Há uma profunda solidariedade com a natureza, embora sejamos diferentes, pela consciência, pela cultura... Mas, apesar de sermos diferentes, somos todos filhos do Sol. O verdadeiro problema não é nos reduzirmos ao estado da natureza, mas não nos separarmos do estado de natureza.

  O Santo Padre é levado a encontrar na Bíblia um certo número de elementos que justificam sua abordagem. Mas eu penso, ao contrário, que a Bíblia narra uma criação do homem totalmente separada dos animais, e que ela começou a gerar este pensamento antropocêntrico, que a mensagem de Paulo continuou, separando o destino pós-morte dos humanos dos outros seres vivos. Esta concepção separa, na minha opinião, a civilização judaico-cristã das outras grandes civilizações.

  Mas justamente na Encíclica Laudato Si’ o Papa dá uma interpretação oposta do Gênesis...

   É verdade, podemos muito bem fazer interpretações cosmogênicas do Gênesis, especialmente porque “Elohim”, que é o Deus do Gênesis, é um plural singular: ele é uno e múltiplo. Também podemos encontrar nele uma espécie de turbilhão criador. É verdade também que, no Gênesis, está escrito que no princípio Elohim separa o céu da Terra.

  Essa também é uma ideia interessante, porque para que haja um universo é preciso uma separação entre os tempos (passado, presente e futuro) e o espaço (aqui e lá). Mas, minha concepção, que se situa na esteira de Spinoza, repousa sobre a capacidade criadora da natureza. Eu creio que a criatividade não parte de um criador inicial, mas de um evento inicial.

  Você conhece bem a América Latina. Você tem o sentimento de que a reflexão de Francisco é tributária da cultura argentina?

  Sim, com certeza. O que sempre me impressionou é sentir na América Latina, de modo geral, uma vitalidade, uma capacidade de iniciativa que não encontramos aqui [na Europa]. Na encíclica, por exemplo, eu encontro esse sentido da pobreza, tão forte nesse continente.

   Na Europa, nós esquecemos completamente os pobres, nós os marginalizamos. Mas também na encíclica o conceito de pobreza está vivo, como as manifestações do Movimento dos Sem Terra ou do povo, no Brasil.

  Enfim, é verdade que a Argentina, que conheceu tantas provações, que foi obrigada a pagar sua dívida porque estava falida, é um país em que há uma vitalidade democrática extraordinária. Eu não diria que é um milagre, mas foi necessário que um papa viesse de lá, com esta experiência humana.

  É um papa impregnado por esta cultura andina que opõe ao “bem estar”, exclusivamente materialista europeu, o “bem viver”, que é desenvolvimento pessoal e comunitário autêntico. A mensagem pontifical apela para uma mudança, para uma nova civilização, e sou bem sensível a isso. Essa mensagem é, talvez, o ato número 1 para uma nova civilização.

 Para além desta encíclica, como você vê a contribuição das religiões na nossa sociedade?

Todos os esforços para acabar com as religiões fracassaram completamente. As religiões são realidades antropológicas. O cristianismo conheceu uma contradição entre alguns de seus desenvolvimentos históricos e sua mensagem inicial, evangélica, que é o amor dos humildes. Mas, depois que a Igreja perdeu seu monopólio político, uma parte dela encontrou novamente a sua fonte evangélica.

A última encíclica é uma completa refontalização evangélica. Os cristãos, quando animados pela fonte da sua fé, são tipicamente pessoas de boa vontade, que pensam no bem comum. A fé pode ser uma salvaguarda contra a corrupção de políticos ou de administradores. A fé pode dar coragem.

Se, hoje, numa época de virulência, as religiões voltassem à sua mensagem inicial – em particular o islã, onde Alá é o Clemente e o Misericordioso –, elas seriam capazes de se compreender. Hoje, para salvar o planeta, que está verdadeiramente ameaçado, a contribuição das religiões é bem vinda. Esta encíclica é uma brilhante manifestação disso.

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Um renomado Pensador e sociólogo

Nascido em 1921, Edgar Morin é um renomado sociólogo e filósofo, mundialmente conhecido, diretor de pesquisa emérito do CNRS, Doutor Honoris Causa de 27 universidades de todo o mundo. Membro da resistência durante a guerra e comunista, ele, no entanto, se afasta do partido em 1948. Entre 1969 e 1970 morou na Califórnia, nos Estados Unidos, onde ele acorda para a questão ecológica.

Em O paradigma perdido: a natureza humana, publicado em 1973, ele explica que o homem não é o senhor da natureza, mas seu parceiro e que é tanto a natureza que se impõe ao homem como o contrário. Sua obra fundamental, O Método, faz da noção até então vaga de “complexidade” uma importante realidade.

Ele é o autor de uma obra traduzida para mais de 30 línguas e publicada em 42 países, que compreende quase 80 livros e uma dúzia de filmes.

Notas:


(1) Último livro publicado: L’Aventure de “La Méthode” (A Aventura de “O Método”). Seuil, 176 p., 18 euros.

(2) Ver especialmente de Edgar Morin, com Anne-Brigitte Kern, Terra-Pátria. Porto Alegre: Sulina, 2011.

Veja também:

Ecologia integral. A grande novidade da Laudato Si'. "Nem a ONU produziu um texto desta natureza''. Entrevista especial com Leonardo Boff

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Chico Xavier sobre a sinceridade emocional de nossos irmãos menores, os animais



O que mais me atrais nos animais é que eles não usam palaras... Eles usam sentimentos.

Chico Xavier

Fieis pedem a Deus por fim da homofobia histérica no Congresso Nacional



Texto de Leonardo Sakamoto, extraído de seu blog no UOL notícias.

A Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na zona leste de São Paulo, distribuiu um folheto em sua missa de domingo com uma Oração dos Fieis que gerou comoção. Por que? Porque pedia tolerância.

“Para que a ofensiva homofóbica, fundamentalista e histérica presente no Congresso Nacional seja enfrentada com ousadia e serenidade; pelo ascenso das causas libertárias, suplicamos'', diz um dos trechos.


Não sei se Deus existe.

Mas, se ela existir, certamente estava na manhã de domingo, sorridente, ao lado do padre Paulo e da comunidade de Nossa Senhora do Carmo.

E longe, bem longe, muito longe dos que tentam privatizá-la.

Fico imaginando que certas pessoas que choram sangue em nome do Divino não leram o Novo Testamento, ficando apenas com o resumo executivo.

Estudei muito tempo em escola religiosa protestante, noves fora comunhão, crisma e bico de coroinha em igreja católica, e posso dizer que conheço um pouco das escrituras e dos processos.

Por isso, religiosos, ao tentarem censurar o padre Paulo, conforme relataram ao blog membros da própria comunidade, continuam não captando nada da ideia que está na origem de sua própria religião.

Sugiro, humildemente, que procurem a turma da Teologia da Libertação para entender que o espírito não estará livre se o corpo também não estiver.

Na prática, essa turma realiza uma fé que muitos temem ver concretizada. Uma turma que tem nomes como Pedro Casaldáliga, Henri des Roziers ou Xavier Plassat, que estão junto ao povo, no Brasil profundo, defendendo o direito à terra e à liberdade, combatendo o trabalho escravo e acolhendo camponeses, quilombolas, indígenas e demais excluídos da sociedade.

Como aqui já disse, imaginem se Casaldáliga fosse papa e, como primeiro discurso na Praça São Pedro, retomasse palavras que proferiu há tempos: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos''.

Não acho que isso vá acontecer. Mas se acontecesse, eu que não creio, passaria a acreditar.


terça-feira, 23 de junho de 2015

Tom "bélico" de líderes evangélicos cria clima de intolerância, diz pastor Ed René Kivitz


    Para o teólogo formado em Ciências das Religiões e Pastor Ed René Kivitz, o tom bélico assumido por alguns políticos de origem evangélica e alguns pastores que se utilizam dos meios de comunicação de massa --do "nós contra eles"-- cria um "clima propício para que gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida dê vazão ao seus impulsos de violência e de rejeição ao próximo".


Segue texto de  Jefferson Puff, extraido da BBC Brasil



Na opinião de Ed René Kivitz, o momento é de "muita preocupação"

Na semana passada, uma série de denúncias de ataques contra membros e templos de religiões de matriz africana e espíritas tomou a mídia. Em um dos casos mais graves, uma menina candomblecista de 11 anos foi agredida a pedradas na saída de um culto no Rio de Janeiro, o que fez com que o tema da intolerância religiosa voltasse a preocupar lideranças de diferentes matizes.

Sexta-feira, também no Rio de Janeiro, um médium foi encontrado morto com sinais de espancamento, em um caso que ainda não foi esclarecido. Na opinião de Ed René Kivitz, 51, que há 26 atua como pastor da Igreja Batista, o momento é de "muita preocupação".

Formado em Teologia e mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, Kivitz, que integra o movimento Missão Integral --que congrega diferentes lideranças evangélicas-- questiona os argumentos do que considera como algumas "lideranças extremistas".

Para ele, o tom bélico assumido por alguns políticos de origem evangélica e alguns pastores que se utilizam dos meios de comunicação de massa --do "nós contra eles"-- cria um "clima propício para que gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida dê vazão ao seus impulsos de violência e de rejeição ao próximo".

Em entrevista à BBC Brasil, Kivitz se disse a favor dos direitos LGBTs, por entender "que são cidadãos, independentemente da minha concordância com a orientação sexual ou a identidade de gênero que eles têm" e contra a redução da maioridade penal. Sobre o aborto, manifestou-se contrário, mas "a favor de uma melhor compreensão da legislação em termos de saúde pública e da preservação da mulher".

O pastor, que vem se articulando com colegas de diferentes Estados, diz que "a face evangélica que está exposta para o imaginário coletivo do brasileiro é a face mais grotesca, mais triste, e que não representa a índole da Igreja Evangélica brasileira".

Com seu trabalho, ele diz buscar espaço para mostrar um lado mais "ponderado, inclusivo e progressista" dos evangélicos.

Veja os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil - Como membro da Igreja Batista, como o senhor vê os casos recentes de intolerância religiosa ocorridos no Rio de Janeiro? É algo que preocupa? Na sua visão, como os líderes evangélicos deveriam se posicionar?

Ed René Kivitz - Me preocupo muito com a questão da intolerância religiosa sim, embora eu ache que no Brasil isso seja muito localizado, e faça parte de um momento, de um recorte de tempo muito específico que estamos vivendo. Não faz parte da índole do povo brasileiro, e nem da índole cristã, quer seja católica ou evangélica, e evidentemente não faz parte da índole do Evangelho.

Eu acho que é algo isolado, mas preocupante também para a imagem da Igreja Evangélica, que está sofrendo muito por conta dessas lideranças radicais que estão construindo no imaginário da sociedade brasileira uma ideia do ser evangélico que não corresponde à grande parcela da nossa população que se identifica como evangélica.

"As pessoas não entendem que quando um deputado evangélico chega à Câmara em Brasília ele deveria deixar de ser evangélico e se tornar um defensor da cidadania"

Críticos argumentam que estas lideranças evangélicas que defendem de forma mais acirrada sua agenda moral estariam alimentando um "discurso de ódio" no país. Embora não se possa afirmar isto, o senhor acredita que pessoas com maior tendência à intolerância religiosa possam estar encontrando amparo nestas posições, ao verem figuras influentes no cenário nacional mantendo uma ideologia de confronto e não de conciliação com relação a grupos com visões diferentes, sejam estes grupos de outras religiões, LGBTs, defensores do aborto, minorias, etc?

É preocupante ter uma liderança expressiva desenvolvendo um discurso de "nós contra eles", um verdadeiro contrassenso para uma liderança religiosa, já que não se tolera isso nem de uma torcida organizada de futebol, que dirá de uma figura tida como um orientador, um guia espiritual.

Quando você encontra uma liderança com este discurso, você cria um ambiente propício para que gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida dê vazão ao seus impulsos de violência, de rejeição ao próximo, aos seus ímpetos de prepotência, à sua ambição e sede de poder, à sua personalidade opressiva.

Enfim, não é difícil, quando você cria este ambiente bélico, que pessoas extremadas se sintam legitimadas para os seus atos inadmissíveis. Eu acho que é isso que está acontecendo no nosso país, e acho que infelizmente deve-se fazer este registro que não são os líderes religiosos que incitam ao ódio. Essa expressão é abominável, ela precisa ser riscada do nossos textos. Não é possível que um líder religioso, em sã consciência, esteja incitando o ódio, isso é um tiro no pé.

Mas sim, um discurso bélico, um discurso de confronto, no lugar de um discurso de reconciliação, cria, de fato, um ambiente onde as manifestações violentas tendem a ser legitimadas, ainda que isso seja inconcebível.

Sobre os casos ocorridos no Rio de Janeiro, o senhor tem algum posicionamento específico? A menina atacada com pedradas deveria ter sido recebida por mais líderes evangélicos, por exemplo, e não só pelo arcebispo da Igreja Católica e pelo prefeito Eduardo Paes?

Eu recebi a informação de que o pastor da Igreja Batista da Vila da Penha, na Zona Norte do Rio, cancelou as atividades no domingo e encorajou os fiéis a participarem de uma marcha a favor da tolerância religiosa.

O que eu acho é que nós deveríamos dar mais destaque, na mídia, para essas iniciativas de paz e de aproximação. Eu não estou dizendo que deveríamos ocultar os fatos, mas sim que a imprensa deveria dar menos linhas para os fatos ruins e mais linhas para os atos que buscam construir uma sociedade melhor. Outro grupo evangélico do Rio se uniu recentemente para ajudar na reconstrução de um centro de religiões africanas que havia sido queimado por grupos intolerantes, algo pouco noticiado, por exemplo.

Caso este momento de tensão continue se expandindo no Brasil, com a atuação da bancada evangélica no Congresso, embates de líderes religiosos com figuras da mídia e grupos LGBT, e discussões polêmicas como a criminalização da homofobia, liberação do aborto e redução da maioridade penal, como o senhor avalia as chances de um maior diálogo a curto e longo prazos?

Para termos um país que possa se considerar legitimamente democrático e republicano, temos que fortalecer tanto as nossas instituições políticas como a participação popular. Temos que valorizar os movimentos sociais, aplicar a lei com vigor a todo ato criminoso, de qualquer natureza e praticado por quem quer que seja. Acho crucial que exista também um estado de alerta na sociedade brasileira, que se levante contra todo e qualquer grupo que pretenda um controle hegemônico.

Quando eu digo um controle hegemônico, quero dizer que uma sociedade se constrói dando vez e voz a todas as formas de expressão de crenças, de culturas, de interesses de grupo. Você não pode permitir que a bancada evangélica seja hegemônica no Congresso, da mesma forma que você não pode permitir que a bancada do PT seja hegemônica. Nós não queremos um país governado por um grupo, por uma cultura ou por uma crença. Nós não queremos um país controlado por uma maioria muçulmana, mas também não queremos um país governado por uma maioria evangélica.

É nisso que eu acho que no Brasil ainda não amadureceu. As pessoas não entendem que quando um deputado evangélico chega à Câmara em Brasília, ele deveria deixar de ser evangélico e se tornar um defensor da cidadania. Claro que ele tem todos os seus valores, convicções religiosas e opções ideológicas, mas ele não está lá para defender a cabeça dele, nem o segmento da sociedade que o colocou lá.

Quando você tem uma sociedade em que um grupo pretende tomar de assalto a voz de todos e impor a sua agenda sobre todos, isso não é uma sociedade democrática, mas sim uma ditadura conquistada no voto. Então a gente tem que bater forte em todo grupo que se pretenda hegemônico, seja ele político, religioso, ou qual for. Inclusive a militância LGBT, que tem que compreender que tem seus direitos, e quem não concorda com ela também tem seus direitos, isso é democracia.

Diante dos seus argumentos é inevitável questioná-lo sobre os posicionamentos do atual presidente da Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vem protagonizando debates e encampando abertamente a defesa de temas, ao afirmar que a discussão sobre o aborto só ocorreria "sobre seu cadáver" e colocando-se contrário ao casamento gay e a favor da redução da maioridade penal, além de divulgar abertamente sua "agenda da família", conjunto de valores morais base de sua campanha. Como o senhor avalia a influência de um presidente de um Parlamento democrático com estes posicionamentos num país tão polarizado como o Brasil neste momento?

Em vista de tudo que falei anteriormente, este tipo de posicionamento jamais deveria ocorrer, e não coopera em nada com o amadurecimento de uma sociedade democrática.

O voto não é o caminho para que a vontade da maioria se sobreponha à da minoria. O voto deveria ser o exercício do cidadão em discernir o que é melhor para o todo da sociedade, e não para fazer valer o seu ponto de vista sobre esta sociedade.

É este amadurecimento democrático que nós no Brasil ainda não temos e que os nossos líderes políticos não cooperam em nada para desenvolver. Ou seja, eu não posso votar num candidato apenas levando em conta se sou contra ou a favor do aborto, mas sim pensando no que seria um posicionamento justo para a sociedade brasileira com relação à legislação que trata do aborto.

Ao insistir em defender o ponto de vista do seu grupo, você fica num cabo de guerra constante, um puxando para um lado, e o outro puxando para o outro, e não se chega a lugar nenhum, perpetuando-se a relação "nós contra eles".

Quando você tem um presidente do Parlamento tentando impor sobre a sociedade o seu ponto de vista e o ponto de vista do seu grupo, ele não tem índole democrática. Ele não está pensando no bem da sociedade, mas sim apenas na vitória da sua ideologia ou da sua convicção religiosa. Isso contraria inclusive a origem e a história do Protestantismo, que nasce com a defesa da liberdade de consciência, da separação entre Igreja e Estado, a valorização dos direitos individuais, e a luta pela liberdade de expressão. É muito triste ver um líder religioso completamente dissociado do movimento que lhe dá respaldo.

Em outras palavras, essas lideranças evangélicas que estão presentes na mídia e no cenário político brasileiros merecem a hashtag #nãomerepresentam.

Neste processo, é possível competir com lideranças evangélicas que compram espaços de emissoras de televisão, o meio de comunicação que ainda exerce maior influência de massa sobre a população brasileira?

A TV no Brasil, de forma geral, ainda se preocupa muito mais com o circo, o sensacional, os embates e os extremos, do que com o diálogo e a discussão construtiva. A mídia tem um papel muito forte nisso. Os movimentos LGBT, por exemplo, são pintados sempre como mocinhos, e os evangélicos todos demonizados como homofóbicos, o que é uma inverdade. Há evangélicos a favor desses direitos, e há extremistas dos dois lados do debate. Mas para o circo da mídia não interessa colocar gente moderada dos dois lados conversando. A face evangélica que está exposta para o imaginário coletivo do brasileiro é a face mais grotesca, mais triste, e que não representa a índole da igreja evangélica brasileira, com a mais absoluta certeza.

Quanto ao espaço comprado por lideranças extremistas, é uma arma poderosa e uma luta desigual, porque estes espaços custam milhões e sabe-se que para conseguir estes milhões, essas lideranças com flexibilidade ética e moral conseguem mais fácil do que aqueles que têm uma consciência moral e respeitosa não só aos seus princípios religiosos e espirituais, como também à massa e à população brasileira.

O que podemos esperar a médio e longo prazos deste cenário atual no país? Que papel outras lideranças evangélicas podem assumir neste debate?

Eu gostaria de sublinhar que a liderança evangélica que me representa é uma minoria também. Quando eu ouço as minorias lutando pelos seus direitos e mais respeito às suas vozes, eu me identifico. Sejam os movimentos dos negros, dos LGBTs, das mulheres, dos trabalhadores sem-terra.

Eu também sou uma liderança evangélica que precisa lutar por reconhecimento e espaço, e que muitas vezes sequer é ouvida pela sociedade, como se a Igreja Evangélica fosse uma coisa só, esta coisa apresentada pelos extremistas.

E aí nós fazemos um barulho que, perto dessa estratégica de massa dos radicais, é pequeno, mas ele existe. Por exemplo, nós estamos nos mobilizando contra a redução da maioridade penal, contra o trabalho escravo, pela valorização da criança. Existe uma Igreja Evangélica diferente aí, trabalhando pela sociedade. E há igrejas evangélicas que são uma poderosa ferramenta de transformação social nas periferias de todo o Brasil, isto também precisa ser lembrado.

Vem ai mais um golpe corporativista dos evangélicos de extrema-direita, capitaneados por Eduardo Cunha



Lendo o texto do Projeto de Lei com atenção, é possível perceber que o discurso legal, que expressa a defesa da liberdade religiosa, de fato, esconde interesses de grupos religiosos que se baseiam na intolerância e no fundamentalismo, como o sufocamento da lei contra a homofobia (PL 122) e permissão para proselitismo com grupos indígenas, entre outras situações. A começar do fato de ter sido criado para garantir que os conflitos existam. Um estudo mais apurado permitirá análises mais densas, necessárias em tempo de conservadorismo a passos largos no Congresso Nacional. É provável que muitos dos presentes nesse encontro desconheçam o teor do PL ou nunca tenham analisado a densidade e as implicações das entrelinhas do texto. O título é atraente mas o conteúdo, uma armadilha.

Vem aí mais um projeto religioso conservador na Câmara: o Estatuto da "Liberdade" Religiosa


Foto: Facebook

Uma delegação de representantes religiosos reuniu-se com o presidente da Câmara, deputado evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o vice-presidente da República Michel Temer, em 17 de junho. O grupo apresentou aos políticos cópia do Projeto de Lei 1219/2015, o Estatuto Jurídico da Liberdade Religiosa, de autoria do deputado evangélico Leonardo Quintão (PMDB/MG), com assessoria da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE). O encontro com Cunha e Temer foi liderado pelo presidente da ANAJURE Dr. Uziel Santana. Na delegação, presença majoritária de igrejas e associações evangélicas, com presença de algumas organizações de identidade católica, judaica, islâmica.
O objetivo desses encontros foi pressionar o presidente da Câmara e o articulador político do governo para a aceleração da tramitação do PL. Os participantes ouviram de Eduardo Cunha a promessa de que a demanda será atendida por meio de uma Comissão Especial (o que tem sido feito pelo presidente da Câmara com toda a pauta conservadora da casa).

Leia o conteúdo do PL 1219/2015.

FonteFacebook/Augustus Nicodemos; informações verbais

Comentário do BLOG: Lendo o texto do PL com atenção, é possível perceber que o discurso legal, que expressa a defesa da liberdade religiosa, de fato, esconde interesses de grupos religiosos que se baseiam na intolerância e no fundamentalismo, como o sufocamento da lei contra a homofobia (PL 122) e permissão para proselitismo com grupos indígenas, entre outras situações. A começar do fato de ter sido criado para garantir que os conflitos existam. Um estudo mais apurado permitirá análises mais densas, necessárias em tempo de conservadorismo a passos largos no Congresso Nacional. É provável que muitos dos presentes nesse encontro desconheçam o teor do PL ou nunca tenham analisado a densidade e as implicações das entrelinhas do texto. O título é atraente mas o conteúdo, uma armadilha. Vale registrar que o deputado autor do projeto é ligado ao lobby das mineradoras (foto). 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Papa Francisco pede ação real e rápida para salvar o planeta e critica o consumismo

    O papa Francisco apresentou nesta quinta-feira 18 a primeira encíclica dedicada ao meio ambiente, na qual exige dos líderes globais uma ação rápida para salvar o planeta da destruição e defende uma mudança no que chamou de "cultura do consumo descartável" dos países desenvolvidos.




Sustentabilidade

Igreja Católica

Papa pede ação rápida para salvar planeta e critica consumismo

por Deutsche Welle, Alemanha — publicado na Carta Capital 18/06/2015 15h48
 Na primeira encíclica papal dedicada ao meio ambiente, Francisco defende fim da "cultura do consumo descartável" e chama aquecimento global de um dos principais desafios da humanidade

  O papa Francisco apresentou nesta quinta-feira 18 a primeira encíclica dedicada ao meio ambiente, na qual exige dos líderes globais uma ação rápida para salvar o planeta da destruição e defende uma mudança no que chamou de "cultura doconsumo descartável" dos países desenvolvidos.
  Na encíclica Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum, Francisco defende "ações decisivas, aqui e agora," para interromper a degradação ambiental e o aquecimento global e apoia explicitamente os cientistas que afirmam que o planeta está se aquecendo principalmente por causa da ação humana.
  Ele afirma que se baseia "nos resultados da melhor investigação científica disponível" e chama o aquecimento global de "um dos principais desafios que a humanidade enfrenta em nossos dias", destacando que os países pobres são os mais afetados.
  "A humanidade é chamada a reconhecer a necessidade de mudanças de estilo de vida, produção e consumo, a fim de combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou agravam", afirma.
  Francisco defende que os países ricos devem sacrificar parte do seu crescimento e assim liberar recursos necessários aos países mais pobres. "Chegou a hora de aceitar crescer menos em algumas partes do mundo, disponibilizando recursos para outras partes poderem crescer de forma saudável", escreveu o papa.
  Ele apela às potências mundiais para salvarem o planeta, considerando que o consumismo ameaça destruir a Terra – transformada num "depósito de porcarias" – e denunciando o egoísmo econômico e social das nações mais ricas. "Hoje, tudo o que é frágil, como o ambiente, está indefeso em relação aos interesses do mercado divinizado, transformado em regra absoluta."
 No texto, Francisco critica um sistema econômico que aposta na mecanização para reduzir custos de produção e faz com que "o ser humano se vire contra si próprio", defendendo que o valor do trabalho tem que ser respeitado numa "ecologia integral".
  Ele rejeita o argumento mecanicisita de que a tecnologia vai resolver todos os problemas ambientais (e que) a fome e a pobreza serão eliminadas simplesmente pelo crescimento do mercado. "Uma vez mais, temos de rejeitar uma concepção mágica de mercado, que sugere que problemas possam ser resolvidos simplesmente por meio de um aumento nos lucros de empresas ou indivíduos."
  O papa estabelece uma relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta. "A convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do paradigma que deriva da tecnologia, a busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave responsabilidade da política, a cultura do descartável e a proposta de um novo estilo de vida são os eixos desta encíclica, inspirada na sensibilidade ecológica de Francisco de Assis", lê-se no 16.º parágrafo do documento papal.
  O papa também aborda diretamente alguns dos principais tópicos ambientais. Ele defende que o consumo de combustíveis fósseis seja banido o mais depressa possível em favor das energias renováveis. Essa mudança, porém, não será possível sem que os países mais ricos aceitem ajudar os mais pobres, escreve.
  Francisco alerta para o perigo de dar o controle da água às multinacionais, manifestando-se contra a privatização do que chama de direito humano básico. "Enquanto se deteriora constantemente a qualidade da água disponível, em alguns lugares avança a tendência para privatizar este recurso escasso, convertido numa mercadoria que se regula pelas leis do mercado", critica.
  O líder da Igreja Católica refere-se ainda aos "pulmões do planeta", repletos de biodiversidade, como a Amazônia, a bacia hidrográfica do Congo e outros grandes rios ou os glaciares, todos eles lugares importantes para "todo o planeta e para o futuro da humanidade".
  Francisco propõe ainda que se comece uma "discussão científica e social responsável e ampla" sobre o desenvolvimento e a utilização dos organismos geneticamente modificados para alimentação ou medicina.
  "Embora não haja provas definitivas sobre eventuais malefícios dos cereais transgênicos para os seres humanos e estes tenham provocado um crescimento econômico que ajudou a resolver problemas, há dificuldades importantes" sobre o uso destes organismos que não podem ser esquecidas, alerta.
  Segundo ele, o uso de transgênicos levou a que haja "concentração de terras produtivas nas mãos de poucos e o progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, tendo perdido as suas terras, tiveram que se retirar" da agricultura.
  O papa também critica o uso excessivo das redes sociais. "A verdadeira sabedoria, produto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso entre as pessoas, não se consegue com uma mera acumulação de dados que acabam em saturação e embaçamento, numa espécie de poluição mental", escreve.
  O pronunciamento papal mais controverso em meio século já despertou a ira de setores conservadores, incluindo vários candidatos presidenciais republicanos da direita dos Estados Unidos, que criticaram Francisco por se aprofundar em questões científicas e políticas. O apelo papal, porém, ganhou amplos elogios de cientistas, das Nações Unidas e de ativistas ambientais.

domingo, 21 de junho de 2015

Luciano Martins Costa escreve sobre a Agenda do Obscurantismo da bancada evangélica, capitaneada por Eduardo Cunha com o apoio dos setores mais retrógrados da direita


PROGRAMA Nº 2630

MAIORIDADE PENAL

A agenda do obscurantismo

Por Luciano Martins Costa em 17/06/2015 | 3 comentários
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, 17/6/2015

Ouça aqui

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Os jornais anunciam na quarta-feira (17/6) um acordo entre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e a liderança do PSDB, para aprovar uma nova versão do projeto de redução da maioridade penal. A proposta tem o apoio dos partidos Democratas, PSB, Solidariedade e siglas de menor expressão, compondo uma aliança que reúne as correntes mais conservadoras do Parlamento. O que os autores chamam de “flexibilização” é a aplicação da pena de prisão para menores entre 16 e 18 anos que cometam crimes hediondos.
Paralelamente, o Poder Executivo busca uma alternativa que impeça a quebra da Doutrina da Proteção Integral de crianças e adolescentes, cujos fundamentos estão inscritos na Constituição e em tratados internacionais firmados pelo Brasil. A aposta é na sugestão do senador José Serra, defendida também pelo governador paulista, Geraldo Alckmin – ambos do PSDB –, que prevê aumento de três para oito anos o período de internação de menores infratores em casos mais graves.
O governo estuda outras sugestões do mesmo PSDB, como o aumento da pena para adultos que induzem menores de 18 anos ao crime ou que utilizam adolescentes em ações violentas. Também está sendo analisada a proposta de condicionar a aplicação da pena de prisão para menores de 18 anos à interpretação de um juiz. Nesse caso, a decisão judicial poderia determinar se um adolescente que pratique um crime hediondo seria processado com base no Código Penal, caso em que cumpriria a pena em estabelecimento separado do sistema prisional para adultos.
Como se vê, a ampliação do debate pode criar uma fórmula que vença o clima de linchamento criado por parlamentares da chamada “bancada da bala” e amplificado pelos programas policiais da televisão e do rádio.
O ponto não negociável, por parte do Executivo e da parcela do PSDB que ainda tem algum vínculo com as origens do partido, é preservar o princípio constitucional que fundamenta a posição do Brasil sobre a questão, para efeito interno e como parte do concerto mundial de nações: um sistema de justiça que garanta tratamento diferenciado a crianças e adolescentes, mesmo em caso de infração penal.
Igreja versus Estado
Até aqui, os argumentos contra a redução pura e simples da maioridade penal, defendida pelo presidente da Câmara com apoio do chamado “baixo clero” do Parlamento, têm obtido mais repercussão da mídia do que as teses daqueles que defendem um Estado garantidor dos direitos humanos, contra a proposta de um Estado punidor.
Por trás do empenho em criminalizar a adolescência vicejam algumas causas inconfessáveis, como o interesse de parlamentares ligados a seitas religiosas, que pretendem retirar a proteção do Estado sobre a parte mais vulnerável da sociedade, para cooptar famílias que têm filhos em situação de risco.
A imprensa tem oferecido pouca contribuição para esse debate, limitando-se a reproduzir declarações de políticos e os movimentos do Congresso. Na noite de terça-feira (16/6), o noticiário da televisão destacou estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que desmente o mito da impunidade juvenil. Na quarta-feira, apenas o Estado de S. Paulo deu atenção ao trabalho em sua edição de papel.
A pesquisa do Ipea mostra que, ao contrário do que alardeiam muitos jornalistas e os defensores do retrocesso legal, “a justiça juvenil tende a ser aplicada de forma mais dura do que a Justiça penal comum”, diz o texto do jornal. Apesar de não haver estatísticas precisas sobre violência na maioria dos estados, pode-se comprovar que os menores de 18 anos são mais passíveis de internação e cumprem mais rigorosamente as penas de restrição de liberdade do que os adultos infratores.
A imprensa não costuma se empenhar em elucidar esse e outros enganos sobre a questão da maioridade penal. Um exemplo: na sexta-feira (12/6), o Estado de S. Paulo publicou na primeira página uma chamada para reportagem cujo título dizia: “Ato infracional é maior na faixa de 16 a 18 anos”. Lido rapidamente nas bancas, esse texto certamente induz muita gente a apoiar a proposta de redução da maioridade penal.
Também na abertura da seção “Metrópole”, a reportagem principal (ver aqui) anunciava: “7 em cada 10 atos infracionais em SP envolvem adolescentes de 16 a 18 anos” – o que também reforça a ideia de que menores de 18 anos são os grandes responsáveis pela violência na capital paulista.
Mas o texto que se segue esclarece que “sete em cada dez atos infracionais cometidos por adolescentes na cidade de São Paulo tiveram como autor um menor entre 16 e 18 anos” – mas os crimes hediondos, como latrocínio, cometidos por adolescentes, representam menos de 3% desses crimes.
É com base em textos obtusos como esse que se manifestam os arautos do obscurantismo.