quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Papa Francisco, em discurso para a ONU, falou a verdade que Bolsonaro e seus militares querem encobrir: a perigosa siatuação da Amazônia e dos indígenas pelas queimadas dos grileiros e do agronegócio com a conivência do poder de extrema-direita

 

Do Canal Mídia Ninja:

Na ONU, Papa aponta a 'perigosa situação da Amazônia'



O Papa Francisco citou nesta sexta-feira (25) a “perigosa situação da Amazônia” e afirmou que a crise ambiental é ligada à social durante o seu discurso na 75ª assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU).




Da BBC: A importância para a qualidade de vida dos manguezais, a serem destruídos pela sanha destrutiva de Ricardo Salles sob as bênçãos de Bolsonaro e Mourão

  BBC:

CLEMENTE COELHO JÚNIOR/DIVULGAÇÃO

Manguezal é considerado um ecossistema essencial para o planeta: é berçário da vida marinha e contribui para o combate do aquecimento global

Duas resoluções que protegiam áreas de preservação permanente como restingas e manguezais e restringiam o desmatamento e a ocupação nesses biomas foram derrubadas na manhã da segunda-feira (28/09) em reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), convocada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. As resoluções estavam em vigor desde 2002.

Salles, que foi gravado neste ano dizendo que era preciso aproveitar a pandemia para "passar a boiada" de aprovação de flexibilização de leis ambientais, já havia reduzido o número de entidades da sociedade que fazem parte do Conama em 2019. O conselho é o principal órgão consultivo do ministério e tinha participação de 96 entidades — hoje, tem 23 membros.

Além das resoluções 302 e 303, que protegem os manguezais, a reunião derrubou a resolução 284/2001, que estabelecia critérios de eficiência de consumo de água e energia necessários para aprovação de projetos de irrigação.

O ministério também liberou a queima de lixo tóxico em fornos usados para produção de cimento — a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa queima seja feita em ambiente controlado.

Mas especialistas em ambiente afirmam que essas resoluções eram as únicas normas que de fato protegiam esses biomas, essenciais para manutenção do equilíbrio ambiental no país e no mundo.

Restingas são áreas de vegetação encontradas em regiões arenosas de praias e em dunas.

Manguezais são ecossistemas costeiros, de transição entre a terra e o mar, que ficam em regiões tropicais e subtropicais do planeta. É ali onde ficam aquelas plantas retorcidas por cima da lama escura que, de acordo com a maré, ora ficam cobertas pela água salgada do mar, ora ficam expostas com as raízes fincadas na água que se mistura à dos rios.

Praia de Tamandaré
Legenda da foto,

Manguezais no nordeste foram atingidos por petróleo no ano passado

O Brasil tem quase 14 mil quilômetros quadrados de áreas de manguezais, segundo o Atlas dos Manguezais do Brasil, um documento produzido pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) publicado em 2018.

Além disso, o país tem a maior extensão contínua de manguezais do mundo, e fica em segundo ou terceiro lugar entre os países com maior área de manguezal — a classificação muda de acordo com a metodologia aplicada.

E por que os manguezais são tão importantes?

Eles prestam uma série de "serviços", de acordo com a professora do Instituto Oceanográfico da USP, Yara Schaeffer Novelli, e o biólogo e oceanógrafo Clemente Coelho Júnior, professor da Universidade de Pernambuco que está participando do trabalho de retirada de petróleo das praias.

Ambos são fundadores do BiomaBrasil, instituto que dá capacitações formal e informal sobre conservação da biodiversidade.

Eles citam algumas dessas funções dos manguezais:

1. Berçário natural: de 70% a 80% das espécies de importância econômica passam pelo menos uma fase da vida nos sistemas de manguezal, o que faz com que os mangues sejam conhecidos como os "berçários naturais" da vida marinha.

Ali, os filhotes ficam em seus primeiros estágios de desenvolvimento, aproveitando o ambiente mais calmo, onde as raízes das árvores dão proteção e eles. Como é um ambiente cheio de nutrientes, os filhotes também têm alimentação ali. Depois, migram para o mar aberto.

Praia de Tamandaré
Legenda da foto,

Manguezal em Pernambuco atingido por óleo no ano passado

2. Protege de processo natural de erosão: o mangue atenua o processo de erosão costeiro, protegendo todo litoral. A pressão e energia do mar que atingiriam a costa são dissipadas no mangue.

"O manguezal protege as costas das ações de ressacas, de tsunamis. Isso foi bem provado no tsunami de 2004, no dia 26 de dezembro em Sumatra [Indonésia]. Onde ainda havia manguezal, as comunidades que estavam por trás dessa barreira natural foram menos prejudicadas que aquelas comunidades que já haviam substituído os manguezais por resorts, plantações de arroz e outros", lembra Schaeffer Novelli.

3. Filtro biológico: a floresta tem capacidade de "digerir" matéria orgânica e absorver muitos nutrientes. Se esgoto é lançado no rio, por exemplo, os mangues filtram isso, retendo as substâncias, absorvendo nutrientes e acumulando em sua biomassa.

4. Retenção de sedimentos: os rios correm arrastando solo e sedimentos, e quando chegam no estuário as partículas se acumulam nas raízes do mangue. Isso significa que o mangue cuida do leito do rio, assoreando, retendo os sedimentos antes de chegarem ao mar, garantindo uma água mais limpa na zona costeira.

5. Combate ao aquecimento global: dentro dos ecossistemas, as florestas de mangue são as que mais sequestram carbono da atmosfera. Isso significa que o mangue ajuda a combater o aquecimento global. "O manguezal tem importância nesse contexto moderno das mudanças climáticas por ser muito eficiente fixador e acumulador de carbono", diz Schaeffer Novelli.

6. Importância cultural e cênica: em muitas regiões as áreas de manguezal são tidas como sagradas. Além disso, sua beleza cênica é importante para o turismo.

Em memória à genialidade de Quino e sua inesquecível personagem progressista e anti-ditaduras militares na América Latina, Mafalda

 


Quino, o criador da Mafalda, morre aos 88 anos

Com Mafalda, Quino ganhou mundo e o mundo ganhou ideias progressistas. Ela e seus amigos tornaram-se um símbolo dos anos 60 não só na Argentina, mas geral.


El País

Jornal GGN Joaquin Salvador Lavado, artista gráfico conhecimento mundialmente como Quino, morreu hoje aos 88, na Argentina. Seus traços ganharam o mundo com sua personagem mais conhecida, Mafalda.

Quino nasceu em Mendoza, em 17 de julho e muito cedo iniciou sua caminhada como cartunista e humorista. Em 1954 publicou sua primeira tira no semanário “This is”.

Mundo Quino, seu primeiro livro de humor, foi lançado em 1963 e, em 1964, surge Mafalda, na revista Primera Plana. Com Mafalda, Quino ganhou mundo e o mundo ganhou ideias progressistas. Ela e seus amigos tornaram-se um símbolo dos anos 60 não só na Argentina, mas geral.

Vai-se Quino. Fica conosco sua obra e sua Mafalda.


sábado, 26 de setembro de 2020

Vaticano: “Evitem apoiar empresas que prejudiquem a ecologia humana ou social e a ecologia ambiental”


do +350.org:

Num movimento sem precedentes, o Vaticano publicou hoje o seu primeiro conjunto de orientações ambientais globais de história. O documento é fruto de uma colaboração entre todos os departamentos do Vaticano e sugere formas concretas para a Igreja implementar a encíclica do Papa Francisco “Laudato Si”, incluindo um apelo a todas as instituições católicas para que “evitem apoiar empresas que prejudiquem a ecologia humana ou social e a ecologia ambiental (por exemplo, os combustíveis fósseis)”.

Em resposta ao anúncio, Bill McKibben, escritor e fundador da 350.org, afirmou:

“O apelo do Vaticano ao desinvestimento é um sopro de esperança em tempos em que a fé é mais necessária do que nunca”. É também um dos grandes momentos desta campanha de uma década”. É uma afirmação poderosa que tentar lucrar com a destruição do planeta é pura e simplesmente imoral e pouco ético”

Este é o primeiro apoio da história ao movimento de desinvestimento proveniente do Vaticano, e vem na sequência do maior anúncio de desinvestimento feito pelas instituições religiosas. Em Maio, 42 instituições em 14 países anunciaram o seu compromisso de abandonar os combustíveis fósseis.

“É de extrema importância esse posicionamento da Igreja Católica em um momento tão grave do planeta. O investimento em fósseis é o principal causador das mudanças climáticas que só tendem a agravar situações de pandemia como a que estamos vivendo. Que todos tenham a mesma consciência e cuidado com a nossa casa comum.”, afirmou Renan Andrade, campaigner da 350.org Brasil.

Veja também:

10 frases de Papa Francisco contra o aquecimento global

Papa Francisco pede mais poder popular em Conferência no Vaticano

Huffpost: Abaixo-assinados em defesa do padre Júlio Lancellotti reúnem mais de 120 mil apoiadores

 



Do Huffpost Brasil:

Depois de ser vítima de ofensas na internet e enquanto atendia moradores de rua, clérigo passou a receber inúmeras demonstrações de apoio e acolhimento.


NACHO DOCE / REUTERS
Padre Júlio Lancellotti lava pés de moradora de rua em cerimônia de Páscoa em 2015. 


Mais de 120 mil pessoas se uniram em 2 abaixo-assinados para prestar solidariedade ao padre Júlio Lancellotti e pressionar autoridades e organizações a garantirem proteção ao pároco. Lancellotti tem sido vítima de ataques por conta de sua atuação humanitária junto à população em situação de rua em São Paulo. No último dia 15, foi xingado por um desconhecido enquanto prestava atendimento em uma praça na região central.

“Estou cada vez mais em risco”, declarou o padre em um vídeo postado em suas redes sociais após o ataque. Além do xingamento que veio de um motociclista que passava pelo local, outras declarações contra o padre têm partido do deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP), o Mamãe Falei, que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. Em uma das ofensas, o deputado acusou o padre de ser “cafetão da miséria”.

Após os episódios, o prefeito paulistano Bruno Covas chegou a dizer, em entrevista ao jornal El País, que o trabalho do pároco por vezes é um “incômodo necessário”. De anônimos a famosos, milhares saíram em defesa de Lancellotti. Os abaixo-assinados, hospedados na plataforma Change.org, simbolizam parte desses gestos de apoio. O maior deles é de autoria do movimento Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) e engaja, sozinho, 70 mil pessoas. 

A socióloga Tabata Pastore Tesser, que integra o movimento, explica que o objetivo da petição é cobrar não só a Arquidiocese de São Paulo a fazer um pronunciamento público e pensar um esquema de proteção em favor do padre, como também cobrar outras organizações, como o Conselho de Direitos Humanos, e a Justiça a atuarem para protegê-lo.

Na visão de Tabata, as agressões contra o padre estão relacionadas ao atual momento da sociedade que, na visão dela, é muito movido pelo sentimento de ódio. “É importante que a gente denuncie que esse setor que patrocina o ódio tem a ver com uma política no Brasil que colabora e que normaliza que as pessoas ataquem e façam atos odiosos contra pessoas que estão defendendo os direitos humanos”, afirma a socióloga. 

Depois da ofensa que sofreu na rua, o padre registrou um boletim de ocorrência por injúria e ameaça. O abaixo-assinado também pede que a denúncia seja levada adiante pela Polícia Civil de SP para que o sacerdote seja protegido de qualquer ataque à sua integridade física e moral.

Coordenador da Pastoral Povo da Rua, Lancellotti é padre há mais de 30 anos e pároco da igreja São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, zona leste da cidade de São Paulo. Em sua longa trajetória de acolhida a pessoas em situação de vulnerabilidade, não é a primeira vez que é alvo de ameaças, mas agora ele acredita que o risco está cada vez maior. “Depois de uns ataques de alguns candidatos à prefeitura contra mim, eu estou cada vez mais em risco. Então, quero deixar claro: se me acontecer alguma coisa, se alguém me atingir, se eu for atingido por alguém, vocês sabem de quem é a culpa, de quem cobrar”, declarou o padre no vídeo que já teve quase 150 mil visualizações em seu Instagram. 

Alvo de ataques 

RODRIGO PAIVA VIA GETTY IMAGES
Padre Júlio Lancellotti utiliza máscara em ação em paróquia de São Paulo.

Porta voz do abaixo-assinado que defende o padre, Tabata destaca a importância do papel de Lancellotti para a articulação de políticas públicas de saúde e de moradia, especialmente neste momento de pandemia, em que houve aumento da quantidade de pessoas em situação de rua em São Paulo. Para a socióloga, a cidade trata o morador de rua como um problema de segurança pública e não como questão de saúde ou moradia. 

“A gente acha que ‘incômodo necessário’ é justamente o aumento das pessoas em situação de rua no momento de pandemia; incômodo é ter tanta casa vazia e muita gente nas ruas sem casa, incômodo é saber que essas pessoas estão sendo servidas com comidas azedas dentro dos serviços de atendimento”, comenta Tabara em referência à fala de Covas. “O que incomoda para nós é a desigualdade e não quem combate essas desigualdades.” 

Ainda em março, padre Júlio Lancellotti já se preocupava com o número crescente de pessoas vivendo nas ruas e como elas estariam ainda mais vulneráveis durante a pandemia do coronavírus. Na ocasião, também recorreu a um abaixo-assinado para pedir que a Prefeitura de São Paulo fornecesse álcool gel e acolhesse a população em situação de rua. 

Pressão por providências 

A integrante do movimento Católicas pelo Direito de Decidir entende que, por ser um órgão religioso, não é tarefa da Igreja Católica oferecer um serviço de proteção ao padre. Porém, ela espera que a instituição se pronuncie publicamente sobre o assunto e que apoie trabalhos locais como o de Lancellotti, bem como faça mobilizações dentro de suas comunidades para conscientizar os fiéis sobre o problema da desigualdade social no Brasil.  

“É preciso que a Justiça coloque um serviço de proteção, mas não um serviço policialesco”, pontua Tabata, detalhando que essa ação deve resultar de uma organização entre o Judiciário, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e o PopRua (Políticas para a População em Situação de Rua) da prefeitura. 

“Mas também que [a Justiça] cobre os grupos políticos e que faça justiça e saiba de onde vêm essas ameaças. Descobrir quem é esse gabinete do ódio em São Paulo, que acha e se sente autorizado a cometer essas violências, é parte desse processo de justiça que a gente quer cobrar dentro dessa petição”, finaliza a socióloga sobre medidas preventivas.

A Change.org entrou em contato com o arcebispo de São Paulo, o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, para saber se a Arquidiocese se pronunciaria sobre o assunto. O cardeal comentou apenas que já havia se manifestado. Ao final de uma missa na última quinta-feira (17), Dom Odilo expressou solidariedade e apoio a Lancellotti e ressaltou que conversa constantemente com o pároco sobre as situações que vem enfrentando.

“É preciso ajudar os pobres, colocar-se ao lado deles em vez de xingar, insultar ou ameaçar quem cuida dos pobres. Quem faz isso, ponha a mão na consciência! Se, eventualmente, alguém está querendo tirar alguma vantagem política de atitudes tão detestáveis, tenha a certeza de que será castigado por Deus”, diz trecho do discurso do arcebispo publicado no portal do Semanário da Arquidiocese de São Paulo. 

Ambos abaixo-assinados seguem abertos na plataforma. Procurado, Lancellotti enviou uma mensagem às milhares de pessoas que o estão apoiando: “Gratidão e compromisso na defesa da vida dos descartados e que sobrevivem pelas ruas das cidades”.  

A Change.org também entrou em contato com a assessoria de imprensa do pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Arthur do Val. Em nota, ele disse que reitera as críticas sobre o padre, que segundo ele “não permite que haja qualquer discussão racional, por exemplo, sobre a recuperação do Centro da cidade de São Paulo, da região da Cracolândia”.

Mamãe Falei tachou Lancellotti de esquerdista e o acusou de politizar a religião, assim como o movimento CDD. “O que eu vou dizer sobre esse possível apoio ao padre é que é algo natural, afinal, são todos de esquerda. É  um apoio ideológico. Apoiam o padre, assim como o padre apoia o ex-presidente Lula e o PT”, conclui a nota.

Este artigo é de autoria de articulista do HuffPost e não representa ideias ou opiniões do veículo. Assine nossa newsletter e acompanhe por e-mail os melhores conteúdos de nosso site. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Poema de um setembro triste, por Dora Incontri

 

Mas a pátria também é / O corpo que cai na favela / E a mancha do sangue negro / E a história de marcha ré!


Poema de um setembro triste, por Dora Incontri

Fiz esse poema no ano passado, no dia 7 de setembro. De lá para cá, só tivemos pioras em nosso cenário. Portanto, ele é ainda lamentavelmente atual.

A pátria é meu Caymmi
Que deu meu nome de Dora.
A pátria é minha poesia
De Castro Alves, Drumond.
A pátria é meu desenredo
De Guimarães do sertão.
A pátria é meu coração
Onda moram meus amores, de agora
De antes, depois.
A pátria é discreta alegria
De um bem-te-vi na janela.
A pátria é amarela de ipê.

Mas a pátria também é
O corpo que cai na favela
E a mancha do sangue negro
E a história de marcha ré!

Pátria amada, cultuada
Em minha alma de criança
Estás nua, desdentada,
Ensangüentada, queimada,
Rasgando nossa esperança.

Piedade, Musa da pátria
Volta ao que nunca foste
Justa, pura e sem igual.
Dissolve no céu azul
A gritaria atonal,
E faz de nós que sabemos
Nossa estrada desigual,
Construtores dessa hora,
Viajores do presente
Em que de novo se assente
Uma esperança potente!

Pátria amada, desidratada,
Por nosso pranto varonil
Devolve-nos mais que depressa
A seiva do nosso Brasil!

Dora Incontri

Do El País: ‘Julia’, de Bermardo Kucinscki, uma obra que traz memórias reais sobre o sequestro de crianças pela ditadura militar no Brasil


 Do El País:

DITADURA MILITAR BRASILEIRA>

 Obra de Bernardo Kucinski chega às livrarias este mês e conta a história de uma mulher que depois de adulta descobriu ter sido roubada da mãe verdadeira, uma militante de esquerda (contra a ditadura)



Manifestantes mostram placas com fotos de vítimas da ditadura durante protesto em julho de 2019.AMANDA PEROBELLI / REUTERS

EDUARDO REINA

O nome dela é Julia. Mas podia ser Rosângela, Iracema, Ieda, Lia Cecília, Juracy, Giovani, Miracy, José, Antônio, tantos outros. Todos esses nomes pertencem a vítimas de um dos crimes mais cruéis cometidos pelas forças de repressão durante a ditadura civil-militar entre 1964 a 1985: foram sequestrados ainda bebês e crianças, e entregues a famílias de militares ou ligadas a eles. Um crime que permaneceu escondido do povo brasileiro, dos livros de história, das universidades e da mídia em geral por quase 40 anos, e que só agora vem sendo denunciado.

Julia é a personagem criada por Bernardo Kucinski no romance Julia: nos campos conflagrados do Senhor(Alameda, 2020). Ele narra a história ficcional de uma mulher que depois de adulta descobriu ser vítima do crime de Estado cometido pelas forças militares na ditadura. Forças da repressão tiravam bebês e crianças de suas famílias biológicas, por acreditar que poderiam criar um Brasil “livre do comunismo”, com a anuência de parte do empresariado, intelectuais e Igreja. Foi criado um esquema de operação envolvendo cartórios, hospitais, Justiça, funcionários públicos e os próprios militares.

O livro de Kucinski, que chega às livrarias este mês, contribui, em demasia, para quebrar essa narrativa de paz e prosperidade criada pelos militares desde o golpe de 1964 no Brasil. Quebra a patente de que as histórias militares são as verdadeiras e a oposição inimiga era totalmente criminosa e desqualificada. Ajuda a revelar a existência de brasileiros que hoje não têm nome, não têm RG, desconhecem seus pais biológicos, não sabem quantos anos têm, ou qual a data de seus aniversários. São apenas fantasmas à procura de sua verdadeira identidade, de sua família real. Mortos socialmente.

Imagine chegar aos 40 anos de idade e descobrir que você não é você. Que a família onde vem vivendo há décadas não é a sua. Que as pessoas ao seu lado não são e nunca foram seus pais. E que tudo o que você sente e sentiu não vale mais nada. É essa situação que Kucinski imaginou e escreveu sobre Julia, uma bióloga. Após a morte de seus pais, Julia passa por atritos com os irmãos. O centro da discussão é um apartamento da família. Em meio a reformas do imóvel, ela descobre documentos que revelam seu passado “invisibilizado” e um passado obscuro da história brasileira, envolvendo o regime militar, os militares, uma ala da igreja e uma série de outras pessoas. Descobre que sua mãe biológica era militante de esquerda, no interior de São Paulo. Seu pai, arguto professor, escondeu a verdadeira história por anos a fio.

Uma situação com enorme verossimilhança vivida pelos personagens reais, de carne e osso, cujas histórias estão retratadas no livro reportagem “Cativeiro sem fim”, ouvindo histórias reais que o Brasil viveu durante o governo militar. Uma dessas personagens, Rosângela Serra Paraná, aos supostos 46 anos de idade, após uma discussão em família, se vê diante da realidade desconhecida e da violência de Estado. Descobre que sua mãe biológica (desconhecida) era uma “agitadora política”, segundo esses familiares. Rosângela foi apropriada possivelmente no fim da década de 1960 por uma família de militares, depois de ter sido retirada da mãe biológica. O pai apropriador, Odyr de Piava Paraná, um soldado do Exército, com família com integrantes de vários escalões militares, era motorista do então general e presidente da República Ernesto Geisel.

Kucinski, que é professor da Universidade de São Paulo, viveu na pele o que a ditadura no Brasil foi capaz de fazer. Perdeu uma irmã Ana Kucinski, professora universitária e militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), sequestrada e desaparecida junto com o marido Wilson Silva, em 1974. A história de Ana se transformou em livro, K – Relato de uma busca (Expressão Popular, 2011), que recebeu versão em 13 idiomas e revela a sordidez da ditadura brasileira. Nesta obra, Kucinski mistura fragmentos da história real da irmã e do cunhado com memórias pessoais e da família e muita imaginação.

Em Julia, Kucinski mostra que a cadeia de pessoas envolvidas em roubo de crianças envolve escrivão, delegado, despachante, religiosos, militares, servidores públicos. Expõe ainda a existência de outros crimes correlatados a essa situação, que carecem de investigação e apuração jornalística: o envio dos filhos sequestrados de oposicionistas para outros países. No livro de Kucinski, eles vão para a Itália, por 10.000 dólares cada. Mas na ditadura chilena, por exemplo, esses bebês eram vendidos a 2.000 dólares cada um. Será que isso não ocorreu também por aqui no Brasil, de verdade?

O enredo criado por Kucinski prende o leitor até o ponto final do texto, num paralelo com a realidade escondida da ditadura civil-militar e com o Brasil atual do negacionismo, das fake news e das narrativas distópicas. Nem os próprios militares poderiam ter imaginado uma situação dessas. Cidadãos se descobrindo vítimas do crime cometido pelos militares.

Embaixo do tapete

A ditadura militar foi vista e difundida por parte da literatura e da mídia como um período histórico que trouxe benesses aos brasileiros e ao país. Mas que varreu para debaixo do tapete muita sujeira e corrupção e tornou invisíveis as histórias desses brasileiros sequestrados pelos militares logo ao nascer ou durante a infância.

Um crime que foi registrado em vários países na América do Sul. Na Argentina, foram 500 as vítimas. Também houve situação semelhante no Chile, no Uruguai, no Paraguai, na Bolívia. Governos de alguns desses países apuraram responsabilidades dos envolvidos, sendo que na Argentina ex-presidente da República, Jorge Rafael Videla, e toda cadeia de comando militar, foram presos e responsabilizados por este crime.

Além da privação de identidade de cidadãos brasileiros, o sequestro e apropriação dessas pessoas tinham muitos objetivos. O primeiro era colocar em prática os ensinamentos da guerra antirrevolucionária, aprendida nas escolas da França, Inglaterra e Estados Unidos. Pregavam a necessidade de exterminar os inimigos.

Nas décadas de 1960 e 1970, as forças militares que deram o golpe em abril de 1964 acreditavam – a semelhança com o país hoje – que o comunismo iria tomar o poder, tomar Brasília e transformar o território nacional numa Cuba, num Vietnã. Para “evitar” que isso ocorresse, declararam inimigos todos aquelas pessoas e instituições contrárias ao pensamento defendido pelos militares (note outra coincidência atual).

Exterminar o inimigo era, então, mais do que necessário. Iam além. Precisavam acabar com toda e qualquer pessoa/situação que estivesse agregada aos inimigos. No caso, seus filhos e até amigos. Assim que o golpe foi dado no Brasil, os militares ditadores declararam guerra contra os cidadãos envolvidos, ou que presumidamente estivessem envolvidos, nas mais variadas atividades políticas.

Também condenaram ao esquecimento a memória dessas vítimas, forçaram medidas de censura e invisibilidade. Criaram preconceito negativo e de crueldade a qualquer brasileiro que pensasse diferente aos preceitos por eles idealizados.

A vida dessas pessoas de carne e osso, e da ficcional Julia, está intimamente vinculada à violência e à dor. Suas histórias permaneceram escondidas, pois se não se fala o que dói, a violência silencia.

Julia: nos campos conflagrados do Senhor, (Alameda, 2020).

Eduardo Reina é jornalista, autor de Cativeiro sem Fim (Alameda, 2019)

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Homenagem de Bob Fernandes e do violonista Mario Ulloa aos indígenas e às florestas e natureza brasileiras, hoje sob ataque de ruralistas, grileiros, garimpeiros e fascistas incentivados por discusos, atos e descuidos um desgoverno de extrema-direita genocida

 

Do Canal de Bob Fernandes:

O céu dos genocidas "está caindo". Por indígenas, Mario Ulloa toca Villa-Lobos, Chico Buarque e Bach



Kennedy Alencar: Bolsonaro mente na ONU ao atribuir queimadas a índios e caboclos

 

"Foi um discurso de 14 minutos, e Bolsonaro mais uma vez envergonha o Brasil. O discurso dele foi constrangedor, porque não para em pé"

Do UOL (com vídeo de Kennedy Alencar do canal UOL no Youtube)



Direto dos Estados Unidos, o colunista Kennedy Alencar analisa o discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta terça-feira (22), na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Para o jornalista, Bolsonaro mentiu ao tentar atribuir queimadas a índios e caboclos. 

"Não é verdade, o governo dele [Bolsonaro] é aliado de fazendeiros e garimpeiros ilegais que desmatam a Amazônia e o Pantanal para formar pasto. O ministro Ricardo Salles [do Meio Ambiente] enfraqueceu os mecanismos de combate a crimes ambientais", avalia. No discurso, Bolsonaro pediu à comunidade internacional 

"Foi um discurso de 14 minutos, e Bolsonaro mais uma vez envergonha o Brasil. O discurso dele foi constrangedor, porque não para em pé", conclui o jornalista.


 Veja mais em https://noticias.uol.com.br/videos/2020/09/22/bolsonaro-mente-na-onu-ao-atribuir-queimadas-a-indios-e-caboclos--kennedy-alencar.htm

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Discurso de Bolsonaro na ONU foi primor de cinismo. Por Marcelo Zero, sociólogo, especialista em relações internacionais

 


Colunista Marcelo Zero aponta "cinismo" no discurso de Jair Bolsonaro na ONU. "Sobraram, é claro, outros ataques contra a Venezuela, que 'causou um desastre ambiental no Brasil', com derramamento de petróleo em nossas praias. Ou seja, o vilão ambiental e político é a Venezuela, não o Brasil", ironizou

Leia o artigo completo, extraído do Brasil 247:

O discurso de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU foi, como esperado, um primor de cinismo. 

Segundo ele, o Brasil é exemplo no combate à pandemia, na preservação ambiental e no campo dos direitos humanos. As críticas vêm da politização desses temas pela imprensa e por países que têm inveja do Brasil. 

O governo fez de tudo para combater a pandemia, com distribuição de recursos para os Estados e para a população, e foi a oposição, com sua tese do isolamento social, que causou uma recessão no país. 

As queimadas são ocasionadas pela seca e pelos caboclos e índios que botam fogo em áreas degradadas para pode sobreviver. 

No campo dos direitos humanos, o Brasil é exemplo, pois acolhe muitos refugiados que fogem da “ditadura bolivariana”. Sobraram, é claro, outros ataques contra a Venezuela, que "causou um desastre ambiental no Brasil", com derramamento de petróleo em nossas praias. Ou seja, o vilão ambiental e político é a Venezuela, não o Brasil. 

A frase final de seu pronunciamento foi: o Brasil é um país cristão e conservador e têm a família como base. Disse tudo.