Numa parceria com o Sistema Judiciário, manchetes condenam antes.
Quando o Sistema Judiciário toma lado no processo político, a democracia já está em risco.
Um juiz, Moro, vazou para emissora de Tv telefonema da presidente da República. Feriu a lei.
Supremos sabem, até disseram isso. Mas, na prática, avalizaram a ilegalidade. Ali a democracia foi gravemente ferida.
Eduardo Cunha já era quem era. Mas só depois de liberar o impeachment o removeram. Com uma gambiarra. Que feria a democracia, já profundamente ferida pela Farsa.
Agora, dois anos depois, caminhões desgovernados ladeira abaixo. E lamentos tardios sobre a democracia ferida.
A cada semana uma medida para encurralar os tidos (pelas velhas elites) como "inimigos".
A "justiça do Paraná" proíbe e multa acampamentos em Curitiba. O que dizem Polícias e Justiça do Paraná sobre os tiros contra Caravana e contra acampamento pró Lula?
Carmen Lúcia preside o Supremo Tribunal. Ela disse que Brasil vive "grave momento político e social". E que "a democracia é o único caminho legítimo".
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A ministra tem razão. Mas cabem observações: juízes opinam em público sobre investigações. Numa parceria com o Sistema Judiciário, manchetes condenam antes.
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Quando o Sistema Judiciário toma lado no processo político, a democracia já está em risco.
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Um juiz, Moro, vazou para emissora de Tv telefonema da presidente da República. Feriu a lei.
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Supremos sabem, até disseram isso. Mas, na prática, avalizaram a ilegalidade. Ali a democracia foi gravemente ferida.
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Eduardo Cunha já era quem era. Mas só depois de liberar o impeachment o removeram. Com uma gambiarra. Que feria a democracia, já profundamente ferida pela Farsa.
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Agora, dois anos depois, caminhões desgovernados ladeira abaixo. E lamentos tardios sobre a democracia ferida.
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A cada semana uma medida para encurralar os tidos (pelas velhas elites) como "inimigos".
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A "justiça do Paraná" proíbe e multa acampamentos em Curitiba. O que dizem Polícias e Justiça do Paraná sobre os tiros contra Caravana e contra acampamento pró Lula?
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Ouçam o barulho do silêncio...
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Quase três meses depois segue a pergunta: quem matou, quem mandou matar Marielle, a "esquerdista" do PSOL?
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Ainda na ativa o general Mourão ameaçou a democracia. Passaram a mão na cabeça.
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Ainda general da ativa, em agosto Etchegoyen ameaçava:
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-(...) Precisamos de soluções extraordinárias. Vamos tratar com antibiótico, com todos os efeitos colaterais.
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Ontem, já como Chefe do Serviço de Inteligência do Brasil, Etchegoyen se viu obrigado a dizer:
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-Intervenção militar é assunto do século passado, não vejo mais sentido.
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Mas agora ignorância e idiotia já galopam. E as imagens correm mundo...
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...Dom Pedrito, Rio Grande do Sul. Diante de um quartel um cidadão bate continência e discursa:
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-Caminhoneiro Sena apresentando tropas para o Exercito.
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Em seguida, ordena: "Pelotão de caminhoneiros, sentido!" .
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Caminhoneiros e familiares obedecem. Juntam calcanhares, batem no chão as solas dos sapatos e das sandálias de borracha.
"Uma manobra sórdida toma força nas hostes golpistas para suspender a eleição presidencial de 7 de outubro e instituir o Parlamentarismo, regime pelo qual o governo será exercido diretamente pelo Parlamento, ou seja, o Congresso Nacional. O ponta-pé já foi dado pela presidente do Supremo, Carmen Lúcia. Ela desenterrou uma ação que lá dormitava há 21 anos e que indaga se o Congresso pode instituir um novo regime, já que a Constituição é clara: isto só pode ser feito por uma Assembleia Constituinte."
Trezentos acadêmicos e intelectuais acabam de lançar um manifesto intitulado "Lula da Silva é um prisioneiro político. Lula Livre!"; o documento declara que a comunidade internacional deve pedir sua imediata libertação. O manifesto é assinado por juristas, intelectuais e acadêmicos de grande peso, como Tariq Ali, Noam Chomsky, Angela Davis, Leonardo Padura, Thomas Piketty, Boaventura de Sousa Santos e Slavoj Žižek.
247 - Trezentos acadêmicos e intelectuais acabam de lançar um manifesto intitulado "Lula da Silva é um prisioneiro político. Lula Livre!", denunciando a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A petição discute em detalhe a natureza arbitrária do processo conduzido pelo juiz federal Sérgio Moro contra Lula, afirmando que ele é nada menos do que um prisioneiro político. O documento declara que a comunidade internacional deve trata-lo como tal e demanda sua imediata libertação. O manifesto é assinado por juristas, intelectuais e acadêmicos de grande peso, como Tariq Ali, Noam Chomsky, Angela Davis, Leonardo Padura, Thomas Piketty, Boaventura de Sousa Santos, Slavoj Žižek, Karl Klare e Friedrich Müller.
O manifesto é apoiado por acadêmicos e intelectuais de todo o mundo, mas principalmente dos EUA e da Europa. Ele será traduzido para outras línguas e está aberto para apoio acadêmico adicional no site https://chn.ge/2kpoxzi.
A petição declara que "os abusos do poder judiciário contra Lula da Silva configuram uma perseguição política mal disfarçada sob manto legal. Lula da Silva é um preso político. Sua detenção mancha a democracia brasileira. Os defensores da democracia e da justiça social no Oriente e no Ocidente, no Norte e no Sul do globo, devem se unir a um movimento mundial para exigir a libertação de Lula da Silva."
O manifesto é endossado por juristas mundialmente famosos, tais como Karl Klare, Friedrich Müller, António José Avelãs Nunes e Jonathan Simon. Eminentes pesquisadores do poder e da perseguição judicial (Lawfare), como John Comaroff, Eve Darian-Smith, Tamar Herzog e Elizabeth Mertz, também são apoiadores.
Adicionalmente, a petição é subscrita por intelectuais de renome global como Tariq Ali, Robert Brenner, Wendy Brown, Noam Chomsky, Angela Davis, Axel Honneth, Fredric R. Jameson, Leonardo Padura, Carole Pateman, Thomas Piketty, Boaventura de Sousa Santos e Slavoj Žižek.
Sociólogos proeminentes como Fred Block, Mark Blyth, Michael Burawoy, Peter Evans, Neil Fligstein, Marion Fourcade, Frances Fox Piven, Michael Heinrich, Michael Löwy, Laura Nader, Erik Olin Wright, Dylan Riley, Ananya Roy, Wolfgang Streeck, Göran Therborn, Michael J. Watts e Suzi Weissman também assinaram o manifesto.
O documento é apoiado por especialistas reconhecidos e diretores de centros de pesquisa em Estudos Latino-Americanos como Alex Borucki, Aviva Chomsky, Brodwyn Fischer, Barbara Fritz, James N. Green, Victoria Langland, Mara Loveman, Carlos Marichal, Teresa A. Meade, Tianna Paschel, Erika Robb Larkins, Aaron Schneider, Stanley J. Stein e Barbara Weinstein.
Ademais, é endossado por economistas globalmente reconhecidos como Dean Baker, Ha-Joon Chang, Giovanni Dosi, Gérard Duménil, Gary Dymski, Geoffrey Hodgson, Costas Lapavitsas, Marc Lavoie, Thomas Palley, Robert Pollin, Pierre Salama, Guy Standing, Robert H. Wade e Mark Weisbrot.
Empresários já começam a planejar o pós-Temer IMPONDO o parlmentarismo, por ser mais fácil de manipular o Congresso e o 1º Ministro (no caso, Rodrigo Maia). Veja também, sobre este novo golpe, com apoio do STF e TSE, o texto do 247 abaixo:
O Supremo Tribunal Federal (STF), corte máxima do país, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável pela condução dos processos eleitorais no Brasil, estão colocando em andamento duas operações contra a realização das eleições em 2018: a presidente do STF, Cármen Lúcia, trama a volta do parlamentarismo; nesta terça (29) à tarde o TSE vira de ponta cabeça toda a jurisprudência sobre candidaturas para tirar Lula da disputa eleitoral, numa decisão que pode alijar também Jair Bolsonaro do pleito. Enquanto isso, o presidente do TSE está colocando em questão a própria realização das eleições em de outubro: “[a greve] acendeu um sinal quanto à própria realização das eleições”, afirmou Luiz Fux ontem. Para que se tenha uma ideia do estado de espírito nos tribunais superiores, Fux chegou a afirma que a greve dos caminhoneiros não deve ser resolvida nos tribunais e sim por um “ato de força”.
Até agora, qualquer pessoa poderia ser lançada candidata por um partido político e sua candidatura era analisada pelo tribunal caso houvesse pedidos de impugnação. Agora tudo pode mudar, para tirar Lula da disputa. Na semana passada, o ministro Napoleão Maia Filho, aliado de Temer, reviu um voto seu e decidiu admitir a discussão na corte sobre a possibilidade teórica de um réu condenado ser candidato a presidente da República. Anteriormente ele havia negado o debate afirmando que era evidente que uma consulta sobre o assunto, apresentada por um deputado do DEM, dizia respeito a Lula. Mas outros magistrados apelaram, e ele mudou o entendimento. O assunto entra na pauta na sessão de hoje à tarde e espera-se que o veto a Lula seja aprovado.
Com a decisão, os condenados em segunda instância não poderiam mais registrar suas candidaturas. A decisão pode também atingir Jair Bolsonaro, que é alvo de duas ações penas no STF. Se a manobra for bem sucedida ficarão fora do pleito os dois candidatos que têm, somados, a intenção de voto de mais da metade dos eleitores. Com isso, as elites desenham aos poucos, um tipo de "democracia" na qual só candidatos "tolerados" serão admitidos aos processos eleitorais.
Enquanto isso, Cármen Lucia prepara-se para colocar em pauta no Supremo a discussão sobre a implantação do parlamentarismo por meio de uma emenda à Constituição. O desejo das elites brasileiras de liquidar com as eleições diretas para presidente e manter o controle do país com maiorias conservadoras no Parlamento é antiga. Foi o que aconteceu em 1961, quando as elites, para evitar a posse de João Goulart na Presidência, depois da renúncia de Jânio Quadros, tiraram da cartola o parlamentarismo para evitar um presidente progressista. O sistema durou 17 meses, sendo derrotado num plebiscito em 1963 e acabou sendo um ensaio para o golpe militar de 1964.
"Os Caminhoneiros": num país de joelhos, mais um ato da Farsa, Comédia... e Tragédia
Até uma semana antes, diante de um país ajoelhado e crente, pregavam-se os poderes divinos do "Deus Mercado".
"Mercado" é imemorial engrenagem da vida econômica-social. Mas, nestes tempos, vendido e comprado como ente onipresente, Supremo.
Esse "Mercado" tornado divino foi atropelado. Junto, atropelado o país crente e ajoelhado.
Atropelado por outra entidade apresentada como sobrenatural: "Os Caminhoneiros". Na vida terrena ele seriam 1,5 milhão entre autônomos e sindicalizados.
Obviamente de todos os credos. Mas é fato que Bolsonaro os atiçou publicamente. Antes e depois, prometendo perdoar multas aplicadas nos dias de greve.
É fato que muitos "Caminhoneiros" juraram amor a Bolsonaro... Assim como é fato que trancaram estradas para derrubar Dilma.
É fato que agora, sem perceber o (perigo) que avançava no rastro do caos, também esquerdas a princípio embarcaram nessa.
Só depois se perceberia: "Caminhoneiros" são peões. E seus patrões exploraram suas pautas e misérias. Tramaram e pilotaram essa "greve"; o "locaute", ilegal.
Razões são infindáveis: a geopolítica dos produtores mundiais de petróleo. Tensões múltiplas no Oriente Médio. Trump ameaçando o Irã...
...Valorização do dólar de apostadores externos diante do real...
...Política de preços da Petrobras; para corrigir retenção via subsídios do governo Dilma, a diarréia mercadísta de agora: em 30 dias, 16 aumentos da gasolina e diesel...
... País refém de caminhões em rodovias, sem sistema ferroviário, hidroviário etc.
...Mas não faltaram avisos, por escrito. Dos patrões e peões. Para governo que inexiste. Por ser ilegítimo, produto de uma Farsa.
Farsa porque depôs um governo acusando-o de corrupção sabendo que empossaria quadrilhas.
Farsa porque berros anticorrupção silenciariam. Porque seletivos, mesmo diante da mais escancarada corrupção.
Farsa porque tantos que comandaram espaços, vozes, helicópetros e atos não resistem às próprias histórias. E a de seus negócios.
Farsa por venderem que "o Estado" é "O Mal" e só "O Mal". E que "O Mercado" é "Divino".
Agora, note-se a conta do locaute: R$ 10 bilhões em subsídios... Do Estado...ou seja, dos contribuintes. E prejuízos, até aqui, estimados em mais de 10 Bilhões.
Farsa com entreatos de comédia; como pizzas sendo entregues a cavalo pela cidade de São Paulo.
Farsa que, com ou sem "Caminhoneiros", não acabará... Farsas podem se transformar em tragédia.
“Mesmo que seja um golpe militar que não se sustente… mas, gente, uma coisa que dure dois, três meses, pode ser desastrosa para o país, em termos de violência, em termos de vidas humanas. Eu mesmo digo: não creio que golpe militar no sentido clássico vá ocorrer, mas não posso descansar sobre isso. Primeiro porque o risco existe. E, se a gente não fizer nada, ele pode ocorrer.” Publicado originalmente no Tutaméia e no DCM:
POR ELEONORA DE LUCENA E RODOLFO LUCENA
“Estamos às vésperas de uma situação muito difícil, e nós temos de pensar em salvaguardar a democracia. Acho que, neste momento, com essa situação crítica, até setores da direita, que tenham interesse e intenção de manter a democracia, devem ser ouvidos”.
É o que afirma o ministro Celso Amorim em entrevista ao TUTAMÉIA. Ele segue: “Se for necessário ter uma conversa com o Alckmin, tem de ter. Como em 1967 ou 1968 se tentou ter a Frente Ampla, que ia do Jango ao Lacerda, era quem defendia a democracia. Com quem defender a democracia, ainda que com concepções um pouquinho diferentes do que significa democracia, é importante manter canais abertos”.
Ele defende a união das forças progressistas em torno da luta pela liberdade do presidente Lula e do seu direito de ser candidato. Diz: “Sem perder essa característica, a gente tem de manter canais para assegurar a democracia, porque o risco existe. É real”.
Ministro das relações exteriores do governo Lula e da Defesa no governo Dilma, ele fala da conjuntura política, que ganhou elementos mais dramáticos com o movimento dos caminhoneiros. Prossegue Amorim:
“Mesmo que seja um golpe militar que não se sustente… mas, gente, uma coisa que dure dois, três meses, pode ser desastrosa para o país, em termos de violência, em termos de vidas humanas. Eu mesmo digo: não creio que golpe militar no sentido clássico vá ocorrer, mas não posso descansar sobre isso. Primeiro porque o risco existe. E, se a gente não fizer nada, ele pode ocorrer.”
E reforça: “Mesmo que, depois, ele não seja bem-sucedido, ele possa não ter os 21 anos que teve o outro governo militar, mas pode ser o suficiente para causar muito estrago, muita dor para o povo. Então é preciso pensar nessa abertura também, conversar”.
OPORTUNIDADE ÚNICA
Na visão de Amorim, “nem o capital financeiro internacional tem interesse nisso [golpe militar], não pega bem para eles. Não acredito que o golpe militar fique, mas, digamos assim, uma situação que possa ser um civil, sob forte proteção militar… Que é um pouco o que a intervenção no Rio de Janeiro simboliza, quando foi dito que ela poderia ser um laboratório para o Brasil”.
Segue Amorim: “Um laboratório para quê? Se houver uma confusão, como está acontecendo? Às vésperas das eleições? Aí adia as eleições, coloca lá o presidente do Supremo, adia por um ano, para ver se há uma situação nova? Porque acontece o seguinte: hoje o Lula tem 32% ou 35%, dependendo da pesquisa, da preferência. Então eles ficam assim: como é que nós vamos resolver isso com as eleições? Acho que é perigoso”.
Segundo o ministro: “Vivemos em um momento em que há uma oportunidade única para ver, de maneira clara, a influência geopolítica dos Estados Unidos ou de certos setores do governo americano e do capital financeiro norte-americano no Brasil e se pode trabalhar para curar isso, ao mesmo tempo em que se corre o risco de um governo de extrema direita ou de um governo autoritário”.
Diz Amorim: “Estamos vivendo talvez o momento mais crítico, mais crucial, mais complexo que eu vi em toda a minha vida adulta. Não quer dizer que não tenha havido piores. O golpe militar de 64 foi pior. Era uma coisa que estava imposta, a gente, as forças progressistas e democráticas foram derrotadas. Houve outras situações, o AI5”.
EFEITOS NEFASTOS DA DEPENDÊNCIA
Na avaliação do ministro, a situação atual “é muito complexa porque, por um lado, ela põe a nu essa dependência e os males da dependência. Por outro lado, as ameaças são muito grandes”. Amorim fala de vídeos de caminhoneiros pedindo intervenção militar. Não se tem ideia da dimensão desse movimento entre os manifestantes; faltam informações básicas sobre os fatos, aponta ele. E continua:
“O que estamos vendo agora com essa crise da Petrobras tem uma raiz. A raiz disso, infelizmente, vem de longe, mas ela se mostrou nesse momento. A raiz disso é o fato de as ações da Petrobras serem vendidas na Bolsa de Nova York. Se não acabar com isso, a Petrobras não será a empresa autônoma e de desenvolvimento [que precisamos]. Petróleo é para desenvolver o país.
“Eu acho tudo isso muito triste. Eu sou de uma geração que, embora tenha tomado muita cacetada, acreditava que Petrobras, Volta Redonda etc eram instrumentos para o desenvolvimento brasileiro, para a sociedade brasileira. Progressivamente, foi havendo uma distorção. [Foi sendo afirmado] que o importante eram elas como empresas. E da empresa passa para a lucratividade e daí para espalhar o capital. Agora vai acontecer com a Embraer, que vai ser absorvida pela Boeing, no setor elétrico. Essa dependência é muito difícil de acabar, mas nunca vivemos um momento que seus efeitos nefastos sejam tão óbvios”.
SOBERANIA E PREÇO DO GÁS
Perguntamos: o senhor está otimista? Resposta:
“Se vocês tivessem feito essa pergunta 15 dias atrás, eu diria pessimista no curto prazo. Hoje não sei. Porque essa greve pela primeira vez, de uma forma muito clara, pôs a nu essas questões. Você precisa ligar a soberania com o preço do gás. Isso agora ficou claro. A soberania nacional e o preço do gás são a mesma coisa. O fato de nós termos cedido um número importante de ações da Petrobras ao capital financeiro internacional limita a liberdade de ação da Petrobras ou a nossa liberdade de ação como acionista majoritário de conduzir a Petrobrás para os objetivos do desenvolvimento. Ao não permitir isso, não permite que ocorra um certo subsídio, sim, em benefício do povo brasileiro não permitindo que os problemas internacionais viessem onerar mais ainda o povo”.
E continua:
“Essa ligação entre questões que têm a ver diretamente com o bem estar o povo brasileiro — que vai do preço dos alimentos, do gás etc– com o domínio do capital financeiro internacional –não só sobre as nossas riquezas, mas sobre as nossas estruturas empresariais –isso ficou claro e isso tem um espelho político. A gente vai votar em quem: em quem defende esse processo ou em quem quer mudar isso ou pelo menos mitigar isso? Essa é a opção. Espero que mude”.
Segue: “Soberania é uma palavra chave. Democracia e justiça social. São três coisas que estão juntas. Democracia sem justiça social será uma falsa democracia, será como na Grécia antiga, só entre os aristocratas. Democracia sem soberania também não existe: se o Estado não é livre, o homem não é livre, a mulher não é livre, o cidadão não é livre”.
TEMER DEVIA DEMIIR PARENTE
Celso Amorim comenta observação feita por Samuel Pinheiro Guimarães ao TUTAMÉIA. Na semana passada, o embaixador nos disse aqui que Pedro Parente, presidente da Petrobras, é o representante dos interesses do Estado norte-americano no Brasil. Diz o ministro:
“Não sei se ele foi oficialmente nomeado como tal. Ele não é o único; deve haver outros. Se Temer quisesse mostrar que tem algum poder, a primeira coisa a fazer seria demitir o presidente da Petrobras. Quem manda no Brasil? A solução que está sendo dada terá custo direto para o povo brasileiro. Para salvar o dinheiro dos acionistas. Uma parte desse dinheiro vai ser renúncia fiscal e outra parte vai ser mesmo aporte orçamentário. Isso para evitar que os acionistas em Nova York –e tem acionista brasileiro também–, fundos de pensão tenham prejuízo. Isso é uma coisa totalmente absurda, gente! Como próprio Pedro parente disse que não mudaria a política de preços, acho que o afastamento dele seria fundamental. Nada pessoal, mas é uma questão simbólica, se o governo quiser demonstrar que tenha ainda algum controle sobre o que ocorre no Brasil”.
DESTRUIÇÃO DO PAÍS
A política anti-Petrobras faz parte de um projeto de desmonte da nação, no entender de Amorim:
“Tudo que é a base do crescimento econômico brasileiro, da presença do Brasil no mundo nos últimos anos está sendo destruído [pela Lava Jato]. Independentemente dos erros que possam ter sido cometidos, que têm de ser corrigidos.
“Isso acontece. Aconteceu nos Estados Unidos, aconteceu na Alemanha com a Volkswagen, mas ninguém faz essa campanha para destruir as empresas. As empresas brasileiras, que tinham uma presença enorme na África… Foi destruída a presença do Brasil, o enfraquecimento da Petrobrás, as empresas de engenharia, o BNDES, a diminuição dos investimentos militares –o submarino nuclear.., agora a Embraer.
“O objetivo é botar o Brasil no seu lugar –entre aspas.
“É da essência da geopolítico. Não interessa aos Estados Unidos a emergência de outra potência no hemisfério. Eles sempre tratam do conceito hemisfério, é como eles veem isso. E o hemisfério tem UM patrão.”
VOLTAR A SER QUINTAL
Diz Amorim: “Nos Estados Unidos, o presidente opera dentro de limites. Há um governo oculto, invisível, que é quem manda em última instância e dita os limites. Quando eles viram um país como o Brasil… Primeiro o Pré-sal. Tem a ganância das multinacionais, mas não é só isso. É também estratégico. Nessa nova geopolítica, é saber quem vai dispor desses recursos no caso de conflito. [Devem ter dito:] Esse Brasil está ficando muito independente, criou o conselho de defesa na América do Sul, tem uma política para a África para o Atlântico Sul, [faz reuniões com] países árabes e cria os BRICS. Esse negócio de BRICS, no momento que houver uma crise maior, como se vai fazer? Tem essa riqueza enorme do Pré-sal, sem falar da água, biodiversidade etc. Nessa visão geopolítica tem os interesses econômicos das multinacionais, o interesse do capital financeiro de dominar e extrair mais lucro dos países e o interesse político militar da defesa. Acho que houve um momento em que houve uma decisão: vamos acabar com essa festa.
Para Amorim, duas coisas tocaram que mais profundamente nesse estado profundo que existe nos EUA: os BRICS e a capa da revista “Economist” com a América de cabeça para baixo e dizendo: não é mais o quintal de ninguém. “Gente! Tudo isso é para fazer voltar a ser o quintal. Tem que ser quintal”, afirma.
DESCONFORTO MILITAR
Ex-ministro da Defesa do governo Dilma, Celso Amorim afirma que os militares não devem estar confortáveis com as missões impostas à instituição por Temer. “Acho um perigo. Seguramente no caso do Rio de Janeiro eles não estarão confortáveis. Como instituição nem todos pensam a mesma coisa. Conheço militares de alta patente que estavam muito desconfortáveis com essas ações”.
Ele diz considerar estranha a própria forma como foi feita essa ação militar sobre o movimento dos caminhoneiros. Observa que, apesar da ambiguidade da legislação, um ato como esse –de “garantia da lei e da ordem”—precisa ser feito numa área pré-estabelecida e por tempo determinado.
LEGALMENTE DISCUTÍVEL
Agora, enfatiza, “a área pré-estabelecida foi o território nacional. Então é quase o equivalente ao estado de sítio”. Além disso, como constitucionalmente a segurança pública é responsabilidade dos Estados, teria que ter havido peidos de todos os governadores –o que não se tem notícia de ter havido. Então, declara Amorim, “não sei nem se legalmente ela [a ação militar no caso dos caminhoneiros] é sustentável”.
O ministro alerta pra o fato de a ação militar gerar inspirações autoritárias, com parcela da população identificando nas Forças Armadas uma solução para o impasse no país:
“É aí que mora o perigo. Há uma coisa curiosa. Se der errado [a ação dos militares agora] e houver violência, é perigoso. Por outro lado, se der certo, também é perigoso. Porque é uma inspiração de que se esteja caminhando … sobretudo na extensão em que foi feita, da maneira como foi feita. Não se decretou intervenção federal nem estado de sítio. É muito discutível”.
LULA E A CLASSE DOMINANTE
Do ponto de vista das elites, Lula não poderia ser o personagem capaz de reorganizar isso?, perguntamos a Celso Amorim. A resposta:
“Essa ideia também me passou pela cabeça. O Lula é o único realmente pacificador. É um conciliador no bom sentido, porque ele não vai deixar de lado o povo. Não é só aquela conciliação das elites. Ele é o único que tem capacidade e revelou isso no meio da crise: ele conseguiu que o Brasil vencesse aquele momento difícil de crise, quando nenhum país vencia.
“Eu falei isso com a minha mulher, ela disse: “Você é um otimista!”. E eu: “Ainda vão chamar o presidente Lula para resolver essas questões”.
“Veja bem: essa greve dos caminhoneiros não se presta a simplificações. Tem de ter uma cabeça com capacidade de ver as coisas na sua pluralidade, e acho que o Lula é talvez uma das pouquíssimas pessoas com essa capacidade no Brasil, se não a única.
“O que ele fez no Brasil foi isso, um reformismo. Ele não atacou a propriedade privada, também não reprimiu os movimentos sociais. Continuou a reforma agrária num ritmo razoável, não incomodou muito o capital financeiro, mas também não se deixou escravizar por ele.
“É possível que os setores mais lúcidos da própria burguesia, das classes médias, percebam que é necessário ter uma conciliação”.
MANDELA DO BRASIL
Celso Amorim fala da campanha internacional pela libertação de Lula:
“A prisão do Lula é uma mancha na imagem do Brasil. Ouço de diplomatas estrangeiros: “Gente, como é que vocês fazem isso? O Lula é o Mandela de vocês…”
“Eles estão entendendo totalmente que a ação pela qual o Lula está preso não é pela corrupção no Brasil”.
ELITE TACANHA
Mais: “Falam que a nossa elite é tacanha, estreita. Não é só isso. Isso é uma questão estrutural. Não ela é vira-lata porque quer se considerar pior. Ela é vira lata por opção. A sua função estrutural no sistema econômico e político mundial é a de ser mediação da dominação externa. Ela ganha com isso e tem medo de perder essa mediação. Não são todos”.
A conversa vai para as ideias de burguesia nacional, de pilares do desenvolvimento, do papel do Estado. E trata em vários pontos do golpe de 2016.
Diz Amorim:
“Lamentavelmente, graças à visão que veio de fora, à estreiteza de visão interna e à ingenuidade de alguns e, talvez, à má fé de outros, nós estamos nessa situação em que o Brasil está sofrendo como há muito tempo não sofre. Eu nunca vi uma situação que gerasse o nível de perplexidade que a atual situação geral”.
VERGONHA
Amorim conta que sentiu vergonha do país em duas ocasiões. Na primeira, durante o governo militar, quando era um jovem diplomata estudante em Londres, e leu a reportagem sobre a morte, sob tortura, de Chael Schreier (1946-1969), militante da VAR-Palmares. “Estava subindo o metrô de Londres, e a minha impressão era de todo mundo estava olhando para mim. Vergonha profunda”.
A segunda vez foi agora, quando o Nobel da Paz Perez Esquivel e o teólogo Leonardo Boff não puderam visitar o presidente Lula em Curitiba. “A foto Leonardo Boff sentadinho do lado de fora. Que país é esse? Que tristeza, que coisa sádica, cruel, para além do erro político”.
GUERRA FRIA NÃO TERMINOU
Antes disso, falamos de EUA, de Europa, de geopolítica. Destacamos aqui um dos pontos: a entrada da Colômbia na OTAN –a primeira vez que um país da América do Sul se envolve nisso.
Nas palavras de Amorim: “Embora não exista a guerra fria no sentido tradicional, a guerra fria não terminou do ponto de vista geopolítico. A disputa por recursos naturais, por mercados, continua. Temos, com a entrada da Colômbia na OTAN, uma militarização dessa disputa na nossa fronteira. Acho uma coisa extremamente perigosa”.
Aliado a isso, Amorim acrescenta o cerco à Venezuela. “Trump chegou a dizer que não excluía a opção militar, uma coisa absolutamente louca. Não me lembro de um presidente ter dito isso sobre um país da América do Sul. Então, se tem um aliado militar dos EUA e uma situação delicada na Venezuela. Esse risco de uma ação militar que poderia até, no limite, esperamos que não, [tornar] a Venezuela num novo Vietnã”.
Amorim lamenta o fato de o Brasil ter hoje uma “política externa totalmente passiva e até submissa nesse aspecto”. Recorda que o ministro brasileiro declarou não poder trabalhar pela mediação na busca da paz da Venezuela porque o Brasil tem partido. “Isso faria o Rio Branco tremer no túmulo”, afirma.
"O movimento dos caminhoneiros revelou o grau de abandono do povo brasileiro e desnudou a mediocridade da política nacional - da direita, do centro e da esquerda; do governo e da oposição. Pôs à luz do sol a falência das instituições do Estado, dos partidos e das lideranças políticas. Espatifou a autoridade do Executivo, do Legislativo e do Judiciário reduzindo-os à impotência. Emudeceu os falsos moedeiros do mercado e ensinou aos movimentos populares como se para o país. Comprovou os equívocos das nossas opções estratégicas de desenvolvimento. Ninguém tinha nada a fazer e ninguém tinha nada a dizer. O povo, mesmo sacrificado pelo desabastecimento, na sua sabedoria espontânea, fez o que era certo: apoiou o movimento porque suas demandas são justas e o que é justo precisa ser apoiado."
"O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não"(Gandhi)
Nenhum acontecimento da história do Brasil teve um impacto tão avassalador sobre o conjunto da sociedade e do Estado, em todas as suas dimensões, tal como este produzido pelo movimento paredista dos caminhoneiros. Nem a Independência, nem a proclamação da República, nem a Revolução de 1930, nem a Segunda Guerra, nem o golpe militar de 1964, nem o Plano Collor, nada produziu um efeito tão universal sobre todos os aspectos da vida nacional. Com exceção de poucos lugares remotos do país, todos os demais lugares setores foram afetados. Nem mesmo uma guerra teria um efeito tão avassalador. Foi como se o Brasil fosse atacado em todo o território nacional, em todas as suas cidades, em todos os ramos de atividade, em todas as linhas de abastecimento. A singularidade que o movimento dos caminhoneiros produziu talvez não tenha similaridade em nenhum outro país.
O movimento dos caminhoneiros revelou o grau de abandono do povo brasileiro e desnudou a mediocridade da política nacional - da direita, do centro e da esquerda; do governo e da oposição. Pôs à luz do sol a falência das instituições do Estado, dos partidos e das lideranças políticas. Espatifou a autoridade do Executivo, do Legislativo e do Judiciário reduzindo-os à impotência. Emudeceu os falsos moedeiros do mercado e ensinou aos movimentos populares como se para o país. Comprovou os equívocos das nossas opções estratégicas de desenvolvimento. Ninguém tinha nada a fazer e ninguém tinha nada a dizer. O povo, mesmo sacrificado pelo desabastecimento, na sua sabedoria espontânea, fez o que era certo: apoiou o movimento porque suas demandas são justas e o que é justo precisa ser apoiado.
Temer, o chefe da quadrilha governamental, depois de ter mergulhado o país no caos e nos desgoverno, depois de ter humilhado o povo brasileiro, depois de ter destruído os parcos sentimentos de sociabilidade, depois de ter extinguido direitos e de ter conspirado contra os interesses nacionais, fez o que de mais ridículo se pode fazer: fez um acordo com as entidades representativas das empresas de transporte para depois acusá-las de locaute. Trata-se da estupidez elevada à máxima potência.
O movimento dos caminhoneiros revelou também a desorientação das oposições, das esquerdas, a sua falta de compreensão da conjuntura, sua incapacidade de se conectar com os sentimentos do povo, a escassez de líderes virtuosos e competentes e a falência das direções partidárias. No seu temor crônico, a primeira coisa que as esquerdas viram no movimento, particularmente setores petistas, foi uma conspiração para um golpe militar e para cancelar as eleições. Em consequência deste pavor, demoraram em dar apoio aos caminhoneiros e, quando o deram, foi com toda a cautela do mundo e de forma protocolar e formal, através de notas. Em tudo isto ocorreram exceções, claro, a exemplo de movimentos sociais e da Frente Povo sem Medo.
O presidente da CUT emitiu a seguinte recomendação: "O governo deve sentar à mesa e negociar com seriedade, respeitando todos os representantes dos movimentos". A nota da entidade recomendou também que o governo mude a política de preços dos combustíveis. Belos conselhos a um governo golpista, nessa plácida aceitação, como se fosse possível sair daí alguma seriedade. As oposições só tinham uma coisa digna a fazer: apoiar os caminhoneiros, exigir a renúncia de Temer e de Pedro Parente colocando-se em sintonia com o sentimento de indignação da sociedade e chamar manifestações em favor dessas consignas. A nota do PT também sequer pediu a renúncia de Temer e de Parente.
Era preciso entender que o movimento dos caminhoneiros suscitou uma enorme disputa política junto à opinião publica que voltou suas atenções de forma concentrada para os acontecimentos e desdobramentos da paralisação. O temor das esquerdas impediu que a disputa fosse feita de forma consequente e correta. Grosso modo, os caminhoneiros ficaram a mercê da direita.
Dividir para conquistar e unir para governar
Os grandes estrategistas da história, quando estavam em dificuldade ou dispunham de força insuficiente para combates decisivos, sempre agiram com a seguinte premissa da astúcia: dividir os inimigos e agregar o máximo de forças possível sob o seu comando. Os partidos de esquerda, alguns por pruridos infundados, outros por perda da noção da disputa política, preferem jogar as forças confusas ou intermediárias para o lado da direita. Grandes estrategistas como Felipe da Macedônia, Júlio César e Mao Tse Tung, entre outros, adotaram com eficiência esta estratégia. Quando, em 1937, os japoneses invadiram a China, Mao não vacilou em adotar a estratégia da frente única anti-imperialista. Foi com essa estratégia que reorganizou e fortaleceu o Exército Vermelho, tornando-o apto a triunfar.
Em A Arte da Guerra, Maquiavel faz uma síntese clara das estratégias vencedoras para conquistar o poder: dividir para conquistar. E em O Príncipe, mostrou qual a melhor estratégia no governo: unir o povo para governar. A rigor, o PT inverteu essas estratégias. No governo, adotou a estratégia da tirania: "divide et impera". E na oposição busca o isolamento, jogando forças disputáveis para o lado do inimigo.
Era preciso perceber que nem todos os caminhoneiros são pró-Bolsonaro e favoráveis à intervenção militar. Mais do que isso: ao apoiar a paralisação e exigir a renúncia de Temer era a forma mais consequente de disputar setores da sociedade, humilhados, indignados e revoltados. O PT não consegue entender que parte do eleitorado de Lula pode votar em Bolsonaro e parte também quer a intervenção militar como solução da crise. Os dirigentes do PT não conseguem compreender os sentimentos difusos e confusos da espontaneidade popular.
Aliás, os dois líderes que compreenderam bem os sentimentos populares, terminaram mal: Getúlio Vargas foi levado ao suicídio e Lula foi posto na prisão. Esta é a tragédia do povo brasileiro. Um povo abandonado por todos. As elites só agem para assaltar o povo e, os progressistas, com a ressalva das exceções, só pensam em eleições e nas benesses dos cargos. O povo é massa de manobra, número de votos. Na paralisação dos caminhoneiros, em face da ausência de líderes e de partidos que indicassem caminhos, cada indivíduo ficou por sua própria conta, mergulhado nos transtornos do desabastecimento e na sua indignação solitária.
A incapacidade das esquerdas de lidar com os sentimentos confusos da espontaneidade popular faz com que setores desse segmento, diante do desespero social, do desemprego, da falta de direitos, busquem saídas na extrema-direita. Este fenômeno, que vinha acontecendo nos Estados Unidos e na Europa, parece estar chegando na América Latina. Como as esquerdas não são capazes de estimular o calor da solidariedade combativa, a direita desencadeia a fúria da solidão ressentida.
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
Mauro Lopes faz um balanço, junto com Leonardo Attuch, sobre o sexto dia da greve dos caminhoneiros e do Brasil em caos com a situação criada por Pedro Parente
"Até agora tudo indica que o motivador principal da paralisação patronal (das Transportadoras) foi econômico. Este setor percebeu a sua desvantagem relativa frente à oligarquia financeira internacional e apostou na oportunidade que um governo enfraquecido e desmoralizado poderia oferecer para elevar o tom de suas reivindicações." Do GGN:
Um acordo que vende o Brasil
por Maister F. Da Silva, Leandro Noronha de Freitas, Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin
Anunciada como uma trégua para pôr fim ao caos econômico, na verdade o acordo do dia 24 vai apenas aprofundar a crise que estamos vivendo. O acordo entre governo, grandes empresários do transporte e capital financeiro internacional é na verdade um esquema de saque das riquezas nacionais e de entrega da Petrobrás às grandes corporações. Os trabalhadores do transporte de cargas continuarão a sofrer o alto custo do combustível assim como toda a população brasileira, que depende da gasolina e do gás para sobreviver.
1) Os eventos do dia 24 de maio confirmam que houve, pela primeira vez durante este governo, uma fissura na classe dominante. Uma fração da burguesia interna percebeu a fragilidade do governo e apostou na possibilidade de rapina.
2) Até agora tudo indica que o motivador principal da paralisação patronal foi econômico. Este setor percebeu a sua desvantagem relativa frente à oligarquia financeira internacional e apostou na oportunidade que um governo enfraquecido e desmoralizado poderia oferecer para elevar o tom de suas reivindicações.
3) Em virtude do cenário econômico e da política energética irresponsável do governo, a burguesia interna passou a contar rapidamente com a adesão massiva dos diversos setores de transporte de cargas.
4) O governo Temer, que representa sobretudo os interesses da oligarquia financeira, viu-se em situação difícil, pressionado internamente pela possibilidade de caos econômico e perda total da autoridade, e externamente pela posição de mando inconteste da oligarquia financeira que não cederia à burguesia de segunda classe.
5) A esquerda dividiu-se entre os triunfalistas, que viam tudo isso como uma rebelião popular, e os apavorados, que viam o cenário como uma orquestração fascista para cancelar as eleições de outubro e dar um golpe dentro do golpe. Embora seja fato que há forças de extrema direita aproveitando-se da desordem econômica e da fragilização do governo, e mesmo que o processo esteja em andamento, os desdobramentos até agora permitem afirmar que estas duas posições estão profundamente equivocadas e não permitem enxergar o que é central no cenário atual: o enorme espaço político-ideológico que criou-se para fustigar o projeto neoliberal e apresentar uma alternativa para o Brasil.
6) No dia 24 de maio, ao final do dia, o que vimos foi um acordo, frágil, entre a burguesia interna e a oligarquia financeira internacional. Por um lado, permanece intocada a política energética antinacional e a estrutura de comando atual da Petrobrás, e por outro sede-se recursos públicos do Estado para satisfazer a sanha da fração burguesa rebelada. O preço do acordo é, mais uma vez, um assalto aos cofres públicos controlados pelo Estado.
7) Contudo, não nos enganemos, a oligarquia financeira cobrará a conta dos setores produtivos internos. Este padrão de atuação é o mesmo da Operação Lava Jato: desvalorização de empresas e produtos competitivos no mercado internacional em prol das grandes corporações. Nesse sentido, já anunciou-se a possibilidade de quebra de contrato das exportações de soja, carro chefe da pauta exportadora brasileira. Ou seja, a oligarquia financeira transformará, mais uma vez, qualquer desafio ao seu poder como uma oportunidade de avançar na guerra econômica de rapina contra os interesses nacionais.
8) A rede Globo, que desta vez se antecipou e desde o início deu o tom, inclusive criando o efeito manada (corrida ao postos e supermercados), aparentemente mudou o discurso na noite do 24/05. Possivelmente perceberam os riscos de perder o controle ao criar uma situação de desabastecimento e caos que certamente dificultaria muito a condução dos rumos da paralisação. Sua postura no acordo foi buscar enquadrar a fração interna rebelada. A repetição de que o acordo é muito bom para os setores paralisados e ruim para o governo e os “acionistas” confirmam sua posição em favor do capital financeiro. Pior, agora reafirma-se pela força dos fatos e pela mensagem deste acordo que a Petrobrás nada mais é do que uma filial subalterna dos grandes holdings internacionais a quem deve submeter-se custe o que custar. A que ponto chegamos!
9) A suposta solução proposta pelo governo é apenas um arremedo paliativo para tentar retomar o controle da situação. Não coloca em questão nenhum dos pilares da política energética que produziram a insatisfação atual, ou seja, não resolve o problema central, que é os preços dos combustíveis pagos pelo setor produtivo e pela população em geral: diesel, gasolina, álcool e gás de cozinha.
10) Visivelmente o acordo excluiu o setor mais precário dos transportes. Ou seja, foi um acordo no alto escalão da burguesia. Como não resolve os problemas do custo dos combustíveis, para os próximos dias é provável um cenário de continuidade das paralisações com ações repressivas por parte do governo para evitar a perda do controle novamente.
11) O governo sem dúvidas sai ainda mais enfraquecido deste embate. Pela primeira vez ele mostra-se incapaz de aglutinar todas as frações burguesas dentro de um mesmo projeto. Além disso, fica ainda mais evidente que sua força vital vem de fora, vem da natureza entreguista de seu projeto, sustentado a ferro e fogo pela oligarquia financeira.
12) A rápida adesão à pauta em curso nos últimos dias e a mobilização de setores dos estratos médios da classe trabalhadora e mesmo daqueles mais pauperizados pode levar à perda de controle do “baixo escalão” por parte da burguesia interna. Esta massa pode migrar para a direita, que até agora tem mostrado ter mais capilaridade nestes setores, ou para a esquerda, se alguma força social de peso, como os trabalhadores petroleiros, entrarem com força na luta com clareza, domínio e autoridade sobre a pauta em disputa.
13) A solução apresentada desvela os verdadeiros interesses em jogo e cria um ambiente propício para a disputa de projeto. O acordo, ao que tudo indica, por atender aos setores já citados, pode ser rejeitado por parte dos que participam da paralisação. O que a esquerda e os setores progressistas podem fazer caso siga a atual situação? Apenas dizer que se trata de um lokcout fascista e esperar que uma explosão social de caráter reacionário saia as ruas? Ou buscar fustigar as enormes contradições em jogo: a política neoliberal que drena as riquezas e não traz benefício algum; a denúncia de que esta crise é fruto exatamente da forma privada que conduz a Petrobras; se existe subsidio para os acionistas também podem existir para o gás. Não alimentamos ilusões de que isso possa ser atendido, mas são questões colocadas. A crise desatada pela paralisação trouxe à tona as imensas tensões que estão acumuladas na população. Alguns setores ensaiam paralisações como motoboys e taxistas; em algumas refinarias tem início o que pode se tornar uma greve do setor petroleiro. Continuemos no esforço de encontrar as brechas para colocar um projeto que de fato resolva os problemas do povo brasileiro.
Maister F. Da Silva e Leandro Noronha de Freitas - Militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores
Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin - Militantes do Levante Popular da Juventude
"O que a greve dos caminhoneiros, com suas filas de caminhões nas estradas e ameaça de suspensão de viagens aéreas e de desabastecimento de gêneros essenciais, principalmente alimentícios, mostra, clara e didaticamente, é que uma Petrobras mal administrada, como está ocorrendo agora, pode fazer muito mais mal ao país do que ao bolso de seus acionistas. " Do GGN: Foto: Portal Brasil
Nada de novo na forma como o Brasil atual está tratando e vendo a greve convocada pelos caminhoneiros em protesto contra os sucessivos e absurdos aumentos dos combustíveis, que passam de 50% em alguns meses.
O senso comum imposto ininterruptamente a marretadas por uma mídia irresponsável e ideologicamente comprometida e o discurso oficial, mentiroso, hipócrita e mendaz, continuam se apoiando na tese, ou melhor, no conto do vigário, de que a Petrobras teria quebrado em algum momento de sua história devido à política de preços adotada nos governos Lula e Dilma.
Quando, na verdade, o vaivém dos preços era, pelo contrário, usado inteligentemente para impedir os aumentos, com a empresa guardando dinheiro quando a cotação do dólar e dos combustíveis lhe eram favoráveis, para subsidiar a compra de diesel e gasolina quando os preços estavam mais altos lá fora, evitando sacudir o mercado e o bolso dos consumidores com o desce e sobe (mais sobe do que desce) idiota e terrorista dos dias de hoje, em que um sujeito não pode sequer programar uma viagem de dois dias sem saber quanto vai gastar.
Uma doutrina baseada no "laissez faire" do mercado que só facilita a vida dos especuladores e dos donos de postos de gasolina, que também deveriam ter sido chamados à mesa de negociação.
Caminhoneiros e cidadãos comuns estão fartos de saber que, depois que sobem, em uma espécie de lei de contra–gravidade, que é extremamente grave e prejudicial para o país, os combustíveis, principalmente o diesel e a gasolina – que não dão safras sazonais como o álcool – jamais voltam a cair de preço na ponta dos revólveres das bombas dos postos, a não ser na ordem ridícula dos centavos, em uma espécie de gozação cruel com a cara do consumidor brasileiro.
Em janeiro de 2016, o jornal ligado a uma importante rede de televisão brasileira publicou uma matéria tentando explicar, geopoliticamente, a razão para a queda de 60% da cotação do petróleo em menos de dois anos.
O texto citava, entre outras motivações, o aumento da produção de óleo de xisto nos Estados Unidos para 9 milhões de barris por dia, e a decisão da Arábia Saudita de tentar atrapalhar a indústria de exploração desse recurso nos EUA, aumentando a oferta e vendendo o petróleo da OPEP a 25 dólares o barril, além da volta de outros fornecedores de petróleo ao mercado, como o Irã, após o fim de sanções impostas àquele país pela ONU.
Essas notícias não foram publicadas há 14 anos. Elas saíram, inacreditavelmente, e com grande destaque, há menos de 15 meses.
E é fantástico que, na cobertura da greve dos caminhoneiros, com a grave crise internacional dos preços do petróleo, que ainda continua, elas tenham sido escandalosamente apagadas, como os desafetos de Stalin, da história "oficial".
Como se nunca tivessem ocorrido, omitidas pelo Ministério da Verdade – o Miniver do livro 1984, de George Orwell – em que se transformou a grande mídia neoliberal.
Com dezenas de "analistas" sendo chamados a toda hora, alguns deles figuras carimbadas do desgoverno do senhor Fernando Henrique Cardoso, para repisar a mentira deslavada de que a suposta crise que "obriga" a Petrobras a aumentar o preço dos combustíveis a todo momento é culpa da política de estabilização de preços internos criteriosamente adotada durante anos pelos governos anteriores.
Como se o preço internacional do petróleo bruto não tivesse caído de 115 dólares em agosto de 2013, para 111 dólares em junho de 2014, 50 dólares em março de 2015, e 30 dólares em janeiro de 2016.
Como se isso não tivesse afetado em nada as contas da empresa, que produz quase três milhões de barris de petróleo por dia.
E como se obviamente a política de preços adotada pelos governos de Lula e Dilma no mercado interno não tivesse nada a ver com o que estava acontecendo com o mercado internacional.
Mesmo assim, como mostram exaustivamente dados divulgados pela AEPET, a Associação dos Engenheiros da Petrobras, a empresa nunca esteve quebrada.
Ela teve, apesar da política de estabilização dos preços internos de combustíveis e gás de cozinha adotada pelos governos Lula e Dilma, uma geração operacional de caixa de 33 bilhões de dólares em 2011, de 27 bilhões de dólares em 2012, de 26 bilhões de dólares em 2013, de 26 bilhões de dólares em 2014, de 25 bilhões de dólares em 2015, e de 26 bilhões de dólares em 2016, ano do golpe midiático–parlamentar que derrubou Dilma Roussef e desestabilizou o país levando–o à catastrófica situação jurídica, econômica e política em que se encontra agora.
Situação, aliás, em que prefere–se insistir em apresentar à opinião pública a tese calhorda, apoiada pela mesma velha plêiade de "analistas" e "especialistas" de um lado só, de que a culpa do que está acontecendo com a desastrosa política de preços imposta pela atual diretoria da Petrobras é do PT.
Que, tendo economizado 380 bilhões de dólares apenas em reservas internacionais e deixado mais 800 bilhões (260 bilhões de reais em dinheiro) em ativos no BNDES, fora o pagamento da dívida de 40 bilhões de dólares com o FMI, teria sido responsável por jogar a empresa no buraco e por "quebrar" o Brasil, deixando–o na condição que ainda ocupa de quarto maior credor individual externo dos EUA.
Sem aumentar a dívida pública, que em 2002 ainda era maior do que é agora.
A importância atribuída pelo terrorismo midiático à queda no valor das acões da Petrobras também é ridícula.
As ações de qualquer empresa do mundo flutuam e as da Petrobras se mantêm estáveis no médio prazo.
Elas estavam em 20 reais em maio de 2013, caíram para 5 reais no início de 2016 – quando foram usadas pelos especuladores para fazer rios de dinheiro e ajudar a derrubar Dilma – e estão em 25 reais agora.
Tenho orgulho de ser um modestíssimo acionista da Petrobras.
Os idiotas que, para baixar ainda mais a cotação, venderam a cinco reais, às vésperas do impeachment, influenciados pelo ódio contra o governo e o desprezo pela maior empresa brasileira se deixaram influenciar por uma mídia distorcida e pelo preconceito ideológico.
Com isso, quem ganhou gigantescas fortunas foram os gringos, que apostaram dezenas de bilhões de dólares na empresa, como fez George Soros na época do impeachment, porque sabiam e continuam sabendo que a Petrobras vai continuar sendo um dos maiores negócios do mundo, e se não a destruírem totalmente, uma das mais avançadas organizações na geração de tecnologia para o setor petrolífero, como mostra o fato de ser a mais premiada companhia na OTC, a Offshore Tecnology Conference, o "oscar" global da exploração de petróleo em águas profundas.
O resto é especulação de curto prazo, em que "notícias" e boatos ajudam a fazer fortunas, literalmente da noite para o dia, como mostra a variação de mais de 10% nas ações da Petrobras nas últimas 48 horas.
O que não pode variar, como as ações, ao sabor do preconceito e da ideologia viralatista, pseudo–privatista e entreguista, é a indiscutível importância estratégica da maior empresa brasileira (condição que não se mede pelo seu valor em bolsa).
O que a greve dos caminhoneiros, com suas filas de caminhões nas estradas e ameaça de suspensão de viagens aéreas e de desabastecimento de gêneros essenciais, principalmente alimentícios, mostra, clara e didaticamente, é que uma Petrobras mal administrada, como está ocorrendo agora, pode fazer muito mais mal ao país do que ao bolso de seus acionistas.
Ela pode paralisar o Brasil, e, por isso, tem que ser vista – ao contrário do que afirmou o Sr. Pedro Parente ontem – não como uma empresa privada com objetivo de gerar mais lucro para seus acionistas, mas como uma decisiva conquista – desde a campanha "O Petróleo É Nosso". da qual temos orgulho de ter participado – de todos os brasileiros.
Como um fator de fundamental importância, como mostra a existência de empresas semelhantes, da Arábia Saudita à Noruega, em todo o mundo, do ponto de vista estratégico, para o funcionamento da nação e o desenvolvimento econômico e social do país.
Da Petrobras o povo brasileiro espera poucas coisas.
Que não se entreguem as riquezas que ela descobriu sozinha, no fundo do mar, com tecnologia própria, a preço de banana, aos gringos, é uma delas.
Principalmente quando se considera que o rasteiro discurso privatista vigente está apenas despindo o Estado brasileiro para beneficiar governos estrangeiros, abrindo o pré–sal para estatais norueguesas e chinesas, ou grupos em que o governo é o principal acionista, como a francesa Total.
A outra é que o preço dos combustíveis não mude, principalmente para cima, a cada vez que o Sr. Pedro Parente troca de camisa.
Também seria razoável que não se mentisse sobre a situação real da empresa, agora e no passado, e se provasse a afirmação de que a Petrobras sofreu – sem que sequer um membro de comissão de licitação fosse investigado – um assalto de 6 bilhões de reais, nunca inequivocamente comprovado. Esse mito foi estabelecido com a cumplicidade de uma empresa norte–americana, cuja história está eivada de escândalos e de "barrigadas", lamentavelmente chamada a fazer uma "auditoria" na empresa, por um governo teoricamente nacionalista.
Mas isso já seria demais quando vivemos em um país em que reina a jurisprudência da delação e do punitivismo mais reles e implacável. Em que se extraem as narrativas mais estapafúrdias de empresários constantemente ameaçados de prisão e de definitivo fechamento de suas empresas , se não se submeterem a "delatar" o que querem que delatem
Em que a condução irresponsável de uma guerra jurídica baseada na denúncia e na descarada criminalização da atividade política, da democracia e do presidencialismo de coalizão, levou ao sucateamento de centenas de bilhões de reais em obras e projetos judicialmente interrompidos, a centenas de milhares de demissões e à quebra de um igual número de acionistas, investidores e fornecedores.
Quanto à "negociação" do governo com os caminhoneiros – muitos dos quais devem estar arrependidos de ter bloqueado estradas contra Dilma – a suspensão da cobrança de pedágio a veículos que estejam circulando vazios, com o terceiro eixo levantado, é muito mais efetiva do que a pretendida queda ou suspensão de impostos dos combustíveis oferecida pelo governo aos transportadores e motoristas autônomos, dinheiro que vai acabar, com quase absoluta certeza, no bolso dos donos dos postos de gasolina, que, se não houver controle de preços, dificilmente repassarão essa queda para os consumidores.
Finalmente, a reoneração da folha de pagamento de mais de 20 setores da economia atinge o país em uma região do fígado que é a mais sensível para os mais pobres, depois do deletério efeito sobre o emprego do punitivismo anti–empresarial da Operação Lava–Jato e a irresponsável e inócua – em termos fiscais – esterilização, pelo governo, com sua devolução antecipada e desnecessária ao tesouro nacional, de 260 bilhões de reais que se encontravam nos cofres do BNDES quando Temer assumiu. Esses recursos poderiam ter sido investidos em novos projetos e na retomada de obras de infraestrutura com a geração de milhares de postos de trabalho.
O Sr. Pedro Parente foi claro ontem na televisão. O compromisso do atual governo, com relação à Petrobras, é – o que não está conseguindo fazer a contento – agregar valor para os seus acionistas.
O compromisso dos governos anteriores era controlar a inflação e permitir o abastecimento de combustíveis e a livre circulação de mercadorias, para cumprir o seu papel de garantir condições razoáveis de vida para a população e o funcionamento normal da nação.
Era também o de assegurar, a preços razoáveis, gás de cozinha para milhões de brasileiros – segundo o IBGE já seriam 1,2 milhão de famílias – que, hoje, em mais uma "conquista neoliberal inesquecível", reviram caçambas em todo o país catando lenha para preparar a sua refeição de cada dia.