Ataque de um bando à sede da Polícia Federal e por avenidas em Brasília.
Carros e ônibus incendiados, tentativas de invadir a PF. Cenas para aterrorizar.
Como desculpa para o terror, a prisão do chamado cacique Serere. Prisão essa por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Serere, um tipo que diz: “Lula não foi eleito, TSE roubou votos para Lula, Alexandre de Moraes é bandido e ladrão”.
Se os que atacaram a PF fossem estudantes, sindicalistas ou “esquerdistas”, a definição seria a habitual: terroristas.
É um equívoco reduzir os bandos arruaceiros e seu terror ao termo bolsonaristas.
Certamente eleitores de Bolsonaro estão entre os capadócios.
Gente abduzida por palavras e atos do presidente derrotado.
Mas não é, não foi isso o fundamental.
Esse ataque e outros, em breve ou bem mais adiante, têm responsabilidade bem mais acima.
Difusa, mercurial, mas responsabilidade.
Há três semanas, era possível antever o que estava a caminho:
- O que venha a acontecer de grave, fato isolado ou não, será da responsabilidade das Forças Armadas, do Exército. Que, em claras ações de inteligência militar, vem comandando uma escalada ilegal. Criminosa, quando não aceita e desrespeita o resultado da eleição presidencial.
Derrotado, Bolsonaro se escondeu.
Em seu nome, desde o final da eleição, falaram os verdadeiros donos do poder derrotado.
A casta militar que desgovernou com Bolsonaro, o cavalo-de-troia, o boneco dos ventríloquos.
Quem não está solidário aos surtos diante dos quartéis ou fazendo comentários na Jovem Klan acredita que militares permitiriam manifestantes em frente a quartéis, se protestos e palavras de ordem não fossem a favor do que querem, do que buscam?
Vocês viram alguma nota do Clube Militar sobre o ataque à sede da PF?
Leram algum tuíte de algum general ou comandante?
O que buscam? Manter o máximo das posições conquistadas desde o impeachment de Dilma.
Impeachment ao qual se associaram em reação aos resultados, ao relatório da Comissão da Verdade.
Que relatou atos, fatos, e nomes de militares envolvidos em sequestros, tortura e assassinatos durante a ditadura.
Pressionam, mesmo jogando parado, para manter o máximo Poder já conquistadas.
O que assistimos desde muito antes, mas em especial depois da derrota?
Bolsonaro lambendo suas feridas, sumido.
E os comandantes da Aeronáutica, Marinha e Exército lançando uma nota oficial.
E, de quando em quando, uma fala para atiçar. Nos quartéis em apoio às manifestações.
Inclusive enquanto os caminhoneiros trancavam 300 estradas, ruas e avenidas país afora.
No Centro-Oeste, caminhões usados nos protestos antidemocráticos e contra Lula já tiveram outros envolvimentos.
Envolvimento no tráfico de drogas, contrabando e crimes ambientais.
O que a respeito têm a dizer sobre isso os comandantes?
Na nota oficial pós-eleição, citaram liberdade de expressão, direito de manifestação, constituição etc.
Mas o que fariam com um protesto de uns 20 ou 30 vermelhos diante de um quartel?
Pergunte-se...
Quando você já viu, já leu, já ouviu sobre comandantes militares lançando nota oficial em favor de manifestações populares?
Por exemplo dos sem-terra, dos sem teto, de sindicalistas, de partidos de esquerda?
Nunca, nota alguma, não é?
“Ah, mas aí é porque são esquerdistas, são da esquerda”. Pois essa é a questão.
Apoiaram, atiçaram lunáticos por meses, desde o debate farsesco sobre urnas, fraude nas urnas. Desde as manifestações em defesa do AI-5 porque em defesa de seus interesses específicos. Suas benesses.
Fizeram, estão fazendo política fora dos quartéis, o que o Estatuto dos Militares, a lei dos militares determina ser ilegal.
Assim como não permite o uso de designação hierárquica. E estão usando até no Twitter, nas redes sociais.
Em seguida à nota dos três comandantes militares, o que tivemos?
O quarto tuíte do general Villas Boas em 4 anos.
Villas Boas, ex-comandante do Exército.
O último tuíte, em apoio às manifestações da extrema direita e com críticas à imprensa.
Que não reportou, como gostaria o general, “milhões de pessoas” protestando contra Lula.
Milhões onde? Em que ruas? Em que avenidas? Se tanto, no auge, milhares, e somando-se todos no país.
Na sequência, em apoio a Villas Boas, outro tuíte de outro militar.
Tuíte do general Braga Netto.
Ex-Ministro da Defesa, ex-Chefe da Casa Civil, o candidato a vice do Jair.
Braga Netto, depois do tuíte, daria declaração ambígua diante do Palácio da Alvorada.
Disse a manifestantes:
- Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora.
Digo “ambígua”, mas ambígua pra quem é idiota. Na real, parte do jogo de ameaças para manter posições.
A Casta Militar ora no poder gostou da nomeação de José Múcio como ministro da Defesa.
Gostou também da escolha dos futuros comandantes.
Mas segue o jogo do militar bonzinho, militar pistola.
Consequências? Nas ruas de Brasília, no dia da diplomação de Lula e Alckmin.
À CNN, Levi Andrade, advogado, informou que seu cliente, certo Oswaldo Eustáquio, se refugiou no Palácio da Alvorada, temendo ser preso. Preso de novo.
Dito blogueiro, Oswaldo é investigado por financiar atos antidemocráticos.
É antigo parça de Robertão Jefferson e de Bolsonaro.
Vejam e ouçam essa live transmitida por Bolsonaro do Palácio da Alvorada para, ao menos naquela noite, 3 milhões de pessoas.
- Nós temos que tirar a ferrugem do cano dos nossos revólveres e lutar pelo Estado, e lutar pela democracia. Nós estamos vivendo, há anos e anos no Brasil, numa tentativa de nos comunizar.
Dizer mais o quê?
Como o desgoverno Bolsonaro acabou, a PM do DF ajudou a PF a conter os bandos incendiários.
E ouvido a respeito foi o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino.
Que assegurou: os envolvidos serão responsabilizados, não haverá passo atrás.
Notável, a cobertura dos eventos pela TV Jovem Pan, na noite desta segunda.
A propósito de fazer jornalismo, proselitismo cínico, hipócrita. E perigoso.
Sempre com “poréns”, “contudos”. Mas sem disfarçar desculpas, mesmo diante do terror em Brasília.
Buscando “infiltrados”, black blocks. Que, claro, seriam da esquerda.
É… deve ter sido a esquerda protestando contra a diplomação de Lula.
Entre os comentaristas, certo “coronel Gerson Gomes”. Assim ele se apresenta também no Twitter.
Sendo que o uso irregular da designação fere o Estatuto dos Militares.
Mas se comandantes podem ferir… la nave va.
O Coronel, ao que parece em Boca Raton, acusa a imprensa de manobra midiática ao relatar o ataque, o terror.
Bibo Nunes, figura asquerosa, expelindo ódio.
Deputado, um boçal, numa emissora de televisão, usando as expressões “descondenado, ladrão”.
Alguns dos demais falando em “Juristocracia… omissos, candidatura (Lula) que não seria possível”.
O problema, já há anos, não tem sido, não foram, não são as opiniões à direita.
São opiniões fascistoides, vendidas como se o que fazem fosse informação, jornalismo. Não é.
Ao final, para se esquivarem, um lembrete na tela:
- A opinião dos nossos comentaristas não reflete obrigatoriamente a opinião da Jovem Pan.
Farsantes.
Sabendo ou não, querendo ou não, são discursos que serviram, servem a um projeto de poder fascista.
Lula foi diplomado presidente pelo TSE na tarde desta mesma segunda-feira.
Como em 2002, com lágrimas.
Mas agora com uma advertência dirigida aos inimigos da democracia.
Como estes que, a serviço, atacaram a sede da PF.
E cometeram atos de terror como queimar carros, ônibus.
Que tentaram jogar um ônibus de cima de um viaduto, quando embaixo passavam pessoas.
Onde estava a polícia?
Por que nenhum preso além do tal Cacique Serere, preso antes?
Extremistas de direita. Articulados no Brasil e no exterior.
Como na tarde desta segunda-feira já haviam advertido Lula e o ministro Alexandre Moraes.
Na cerimônia de diplomação, aplaudido de pé o ministro do STF e presidente do TSE.
Sinal dos tempos.
Democracia, a expressão que mais ecoou nos discursos de ambos.
Nas falas de Lula e Moraes, recados.
Um recado: o vale-tudo em plataformas e redes sociais ameaça a democracia e está no alvo.
Num combate articulado, que deve envolver não apenas o Brasil. Essa é uma questão do mundo.
Outro recado foi para os que contam com suposta “anistia”. Alexandre de Moraes, assim como Flávio Dino, futuro ministro da Justiça, prometeu...
Os que atentaram contra instituições e o sistema democrático “serão responsabilizados”.
Veremos até onde conseguirão responsabilizar.
Há fardas nisso tudo. As expostas e as ocultas.
Neste domingo os 33 grupos de Transição de governo entregaram seus relatórios finais.
O resultado da exumação do desgoverno Bolsonaro & militares é tenebroso.
Um país em frangalhos com bilionários esqueletos nos armários.
Já saiu o primeiro lote de ministros. Seria esse o tema de hoje.
Até que surgiram nas avenidas da capital do país os sinais de alerta.
Consequências óbvias da irresponsabilidade da casta militar que tomou o poder com Bolsonaro.
Num país com territórios onde o Estado não entra, salvo em carnificinas, é irresponsável, é crime atiçar lunáticos, surtados da extrema direita.
Nunca há como controlar todas as variáveis. Como assistimos à porta da PF, basta riscar um fósforo.
Na reta final do desgoverno, o Exército tenta comprar R$5 bilhões em blindados.
A justiça, por ora, barrou.
Mas não sobre isso o Chefe do GSI, general Heleno, foi depor na Câmara dos deputados.
General que, outro dia, chamava Lula de “cachaceiro” que “infelizmente não estava doente”.
Na Câmara, Heleno, o Pequeno, foi interpelado acerca dos surtos diante dos quartéis.
E sobre a óbvia atuação da casta militar ao atiçar caricatos, mas perigosos, delírios golpistas.
Uma das interpelações foi feita pelo deputado Jorge Solla, do PT da Bahia.
Heleno, o Pequeno, ouviu, e não respondeu, o que não gostaria de ter ouvido.
Com direito a sugestão desse belo filme: Argentina, 1985.
Sobre os ditadores da Argentina julgados por seus crimes e sendo mandados para a cadeia.
No Brasil, um notável jurista foi chamado de “O Senhor Justiça”.
Grande defensor dos direitos humanos, enfrentou as ditaduras do Estado Novo e a militar iniciada em 1964.
Morto em 1991, aos 98 anos de idade, Sobral Pinto deixou grandes lições.
Lições que tornam ainda menores e mais toscos tipos como Heleno, o Pequeno.
A 10 de abril de 1984, aos 90 anos, no comício das “Diretas Já” na Candelária, Rio de Janeiro, ainda na ditadura.
E numa aula que deveria ser exibida também nas academias militares e nos quartéis.
Vejamos, ouçamos...
- Eu considero o desastre do Brasil a proclamação da República pelos militares. Os militares tendo proclamado a República julgaram-se donos da República e nunca aceitaram não serem os donos da República. Enquanto a presidência da República e os cargos eminentes do país não voltarem para os civis, continuarem nas mãos dos militares, nós estaremos nesta situação terrível em que nos encontramos, de falência e de corrupção.
CRÉDITOS
Direção Geral: Bob Fernandes
Direção Executiva: Antonio Prada
Produção: Eliano Jorge
Edição: Mikhael Theodoro
Arte e Vinhetas: Lorota
Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé
Este é o canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.