sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Mauro Lopes: Mangueira apresentará o verdadeiro Jesus Cristo ao Brasil contaminado pelo farisaísmo e hipocrisia das elites


Do site Paz e Bem, de Mauro Lopes:




Há algo muito forte acontecendo na cultura popular de massas deste país. Uma das mais tradicionais escolas de samba do país, a Estação Primeira de Mangueira, fez-se professora de história do Brasil no carnaval de 2019, ao apresentar-nos os heróis do povo, expulsos pela historiografia das elites do retrato oficial do Brasil. Em 2020, a Mangueira irá apresentar ao Brasil e ao mundo o verdadeiro rosto de Jesus Cristo, sonegado ao povo pelas igrejas de diversas denominações.

Estamos aprendendo história e religiosidade e não é nas escolas, sob ataque brutal do neofascismo, nem nas igrejas, que nos têm vendido, com raras exceções, um Jesus Cristo a serviço dos ricos e da riqueza, dos poderosos e do poder.

Para fazer isso, a Estação Primeira re-liga-se profundamente com sua própria história. O Morro da Mangueira, na zona norte do Rio, começou a ser ocupado em 1850 por  escravos alforriados e seus descendentes, que levavam para a localidade as manifestações culturais e religiosas características das nações africanas, como o candomblé e a batucada. Alguns casebres serviam de templos religiosos, como o terreiro de Tia Fé (Benedita de Oliveira), onde eram realizadas cerimônias religiosas seguidas de cantoria e batucada. Em 1910 começaram a surgir os primeiros grupos carnavalescos no morro, até que em 1928 um grupo de negros e negras, integrados entre outros por Cartola fundou a escola de samba.

Mangueira fez-se professora da verdadeira história do país. Seu samba-enredo e desfile de 2019, foram a abertura do curso “Retalhos da Nossa História” em 11 de março no Paz e Bem. Com o samba-enredo “História pra Ninar Gente Grande” milhões de brasileiros tiveram seu primeiro contato ou a memória acordada para as maravilhosas histórias das lideranças e das rebeliões populares, sempre alvos de massacres pelas elites ocupantes do território.

Em seus versos finais escutamos:

“Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
*
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
*
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”

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