domingo, 26 de junho de 2016

Nas entrelinhas da "grande" imprensa (Manual do perfeito midiota - 29), por Luciano Martins Costa

O ex-ministro do Planejamento do governo Lula e das Comunicações no governo Dilma, Paulo Bernardo, foi preso nesta quinta-feira. Foto: EBC
O ex-ministro do Planejamento do governo Lula e das Comunicações no governo Dilma, Paulo Bernardo, foi preso nesta quinta-feira (23). Foto: EBC
Segue o texto de Luciano Martins Costa, no site Brasileiros

A notícia de que o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo foi para uma cela deixou os midiotas animadinhos com a possível reabertura da temporada de caça a políticos petistas. 
Quem sabe, desta vez os persistentes investigadores da Lava Jato chegam ao grande troféu, aquele que personifica o regime de economia social inaugurado em 2003.
Essa seria a melhor tática para fazer o povo esquecer a sequência de fiascos do governo provisório e as acusações que pesam sobre alguns de seus potentados.
A revelação de que os articuladores do afastamento da presidente constitucional usaram o processo de impedimento para tentar limitar o alcance das investigações quebrou um pouco o ânimo daqueles que compunham a chamada massa crítica para o golpe.
Você imaginou que havia se engajado numa luta visceral entre a Justiça e o crime, entra a honestidade e a corrupção, e saiu por aí de verde-amarelo, bateu panelas, xingou a tela da TV.
Mas, se prestar um pouco mais de atenção ao noticiário dos principais jornais e naquelas revistas semanais de informação que formam a matriz da mídia tradicional, vai perceber que o eixo das operações do sistema da Justiça no campo político segue uma pauta de claro viés ideológico.
Com um pouquinho mais de esforço, você vai identificar uma conexão entre esse viés ideológico e as ações que o governo enterino e seus aliados tentam passar no Congresso.
Trata-se de uma agenda extremamente conservadora, para não dizer absolutamente reacionária, que se opõe ao programa aprovado nas urnas em 2014.
Sim, porque, ainda que descaracterizado por muitos desvios de rota, o governo interrompido de Dilma Rousseff mantinha o DNA da política econômica com fundamento social, mesmo depois das mudanças propostas pelo então ministro da Fazenda Joaquim Levy.
É contra a continuidade das políticas sociais que tiraram da miséria milhões de brasileiros que se move esse sistema, coordenado pelos principais meios de comunicação do País. Sua estratégia é reduzir os investimentos sociais e desmantelar a estrutura dos direitos trabalhistas, para dar mais liberdade ao capital no combate às crises que ele mesmo cria periodicamente.
Mas essa rede não se limita aos três diários de circulação nacional, à TV Globo ou àqueles panfletos semanais – o sistema da desinformação alcança até modestos jornais do interior, conectados à matriz conservadora pelos movimentos sociais reacionários.
Por exemplo, um empresário da cidade paulista de Rio Claro se suicidou após ter sido obrigado a demitir 200 funcionários – e o jornal local publica comentários dizendo que ele foi “vítima de Lula e Dilma”.
A central sindical com a qual ele negociava é a UGT, União Geral dos Trabalhadores, historicamente ligada ao PSDB, DEM, PPS e PMDB paulista – mas não importa: para o jornalismo antidemocrático, o que interessa é a versão.
E a versão de que os delinquentes do PT são mais criminosos do que os delinquentes do PSDB ou do PMDB precisa prevalecer, para que o sistema da Justiça quebre as bases eleitorais que sustentam as políticas de cunho social.
Por isso você vai ver novas cenas de policiais vestidos para a guerra nas próximas edições do Jornal Nacional.
Faz parte do show.
*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”
#Luciano Martins Costa
JornaJornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade, além de autor de vários livros
Link curto: http://brasileiros.com.br/q6GSl
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