sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O Papa Francisco lembra que é acusado por ricos e elitistas de ser "comunista" por dar voz aos pobres e ficar ao lado deles

Seguem dois diferentes mas complementares textos sobre o posicionamento realmente Cristão, posto que voltado para a justiça social e o apoio dos mais pobres, do Papa Francisco:

Texto I, extraído da Agência Ecclesia:



Vaticano: «Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos»



Francisco lembra quem o acusa de ser «comunista» por dar voz aos pobres

Cidade do Vaticano, 28 out 2014 (Ecclesia) - O Papa Francisco apelou hoje à defesa dos direitos dos trabalhadores e das suas famílias, durante um encontro com os participantes no primeiro encontro mundial de Movimentos Populares.

“Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”, declarou, perante trabalhadores precários e da economia informal, migrantes, indígenas, sem-terra e pessoas que perderam a sua habitação.

O encontro é promovido até quarta-feira pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz (Santa Sé), em colaboração com a Academia Pontifícia das Ciências Sociais.

“Não existe pior pobreza material do que aquela que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho. O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são inevitáveis, são o resultado de opção social prévia, de um sistema económico que coloca os lucros acima do homem”, defendeu o Papa.

A intervenção alertou para o “escândalo da fome” e as consequências da “cultura do descartável”, condenando os “eufemismos” que se utilizam para falar do “mundo das injustiças”.


“Este sistema já não se consegue aguentar. Temos de mudá-lo, temos de voltar a levar a dignidade humana para o centro: que sobre esse pilar se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos”, explicou.

Francisco criticou o “império do dinheiro” que exige a “guerra”, o comércio de armamentos, para a sobrevivência de “sistemas económicos”.

O Papa agradeceu aos participantes pela sua presença no Vaticano para “debater tantos graves problemas sociais que afetam o mundo de hoje” desde a perspetiva de quem sofre a desigualdade e a exclusão “na sua própria carne”.

“Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se falar disto, para alguns parece que o Papa é comunista”, começou por referir, antes de recordar que “o amor pelos pobres está no centro do Evangelho”.

"Terra, teto e trabalho, aquilo por que lutam, são direitos sagrados. Reclamar isso não é nada de estranho, é a Doutrina Social da Igreja", assinalou.

O Papa pediu que se mantenha viva a vontade de construir um mundo melhor, “porque o mundo se esqueceu de Deus, que é Pai, ficou órfão porque deixou Deus de lado”.

Num discurso de cerca de meia hora, Francisco referiu que a presença dos Movimentos Populares é um “grande sinal”, porque estão no Vaticano para “pôr na presença de Deus, da Igreja, uma realidade muitas vezes silenciada”.

“Os pobres não só sofrem a injustiça mas também lutam contra ela”, precisou.

Jesus, acrescentou, chamaria “hipócritas” aos que abordam o “escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção” para procurar fazer dos pobres “seres domesticados e inofensivos”.


O discurso papal abordou ainda os temas da paz e da ecologia, para além das questões centrais do emprego e da habitação.

“São respostas a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos. Um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza que está cada vez mais longe da maioria”, sublinhou Francisco.


O Papa convidou os participantes a prosseguirem com a sua luta, “que faz bem a todos”, e deu-lhes como presente uns terços fabricados por artesãos, ‘cartoneros’ e trabalhadores da economia popular na América Latina.

Texto II: Extraído do Tijolaço.com.br:


“Parece que o Papa é comunista”, diz Francisco


29 de outubro de 2014 | 11:22 Autor: Fernando Brito

Definitivamente – e apesar da Cúria Romana – o Papa Francisco entrou na disputa por corações e mentes da qual a Igreja Católica havia se afastado.

É obvio – a gente anda precisando dizer o obvio, do jeito que as coisas andam – que o papa não é comunista. E não é também de nenhuma “esquerda católica” militante.


Mas seu líder, hoje,  além de humanidade, tem a percepção de que o catolicismo se enfraqueceu.

Primeiro, na Europa, e nos últimos 20 anos, também no Terceiro Mundo.

Vai enfrentar inúmeras dificuldades e resistências, mas sabe que, sem isso, continuará o afastamento das grandes massas populares da fé católica.

Sabe, também, que o espaço conservador, em grande parte, foi ocupada pelo protestantismo e suas fortes raízes – e canais de financiamento – norte-americanos.

Seu discurso, nos dias de hoje, provocaria tremores e esgares de ódio em qualquer reunião de madames, no Brasil.

É bem provável, mesmo, que o achassem comunista. Ou argentino, ou nordestino, ou “bovino”, como diz Diogo Mainardi.

Eu, apesar das minhas desavenças com Deus, estou achando é divino.






quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Terceiro Reich Tropical: a onda fascista no Brasil em 2014




Sociedade

Opinião

O Reich tropical: a onda fascista no Brasil


O germe do ódio está às soltas no Brasil pronto para linchar física e moralmente todo aquele que não for branco, heterossexual, rico e cheio de bens de consumo

por Rosana Pinheiro-Machado — publicado 13/10/2014 13:35, última modificação 15/10/2014 17:58 Extraído da Carta Capital

A história do início do século 21 parece repetir a do século 20. De um lado, insurgências populares eclodem aqui e acolá. De outro, há o claro crescimento da extrema direita conservadora. Mas há uma diferença significativa, e profundamente preocupante, entre o passado e o presente. Desencantada de sua história e imersa em pequenos conflitos que causam grandes desgastes, a esquerda hoje está muito mais fraca do que há cem anos*.

O desequilíbrio entre uma esquerda enfraquecida e uma direita que detém o monopólio do capital financeiro e informacional, sem sombra de dúvidas, pesa para um único lado.

Se Celso Russomanno (PRB) e o Pastor Feliciano (PSC) não tivessem sido os deputados mais bem votados em São Paulo, e se o Rio de Janeiro não tivesse escolhido Jair Bolsonaro (PP) em primeiro lugar, eu poderia jurar que o deputado mais votado no Rio Grande do Sul, Luis Carlos Heinze (PP), que declarou que “quilombolas, índios, gays e lésbicas: tudo o que não presta” era um caso isolado de uma possível patologia gaúcha. Mas infelizmente não é.

Desde junho de 2013, muito tem se falado em guinada à direita ou da onda conservadora. O que poucos mencionam, no entanto, com a devida clareza necessária, é que tem emergido uma multidão raivosa e fascista. Essa hipótese se baseia nos fatos que elenco abaixo, os quais se indicam uma tendencia de violência física e moral a diferença e a diversidade.

Há uma sequência de eventos que não podem ser analisados separadamente. Primeiramente, logo após as Jornadas de Junho, veio o ódio e o racismo destilado aos integrantes do rolezinho – ódio este que senti na pele por ter sido agredida de todas as maneiras possíveis quando escrevi o Etnografia do Rolezinho. Não me surpreendeu, portanto, que 82% da população de São Paulo achassem que a força policial deveria agir para impedir o movimento dos jovens – segundo revelou uma pesquisa da época. Depois fomos brindados com o episódio da apresentadora do SBT Rachel Sheherazade, que defendeu publicamente o linchamento do adolescente negro e menor de idade que cometeu um assalto. Nessa linha, o aumento de casos de gays espancados no Brasil acontece paralelamente a torcidas de futebol que gritam “macaco, macaco”, e que trazem à tona uma população que se solidariza mais com uma criminosa branca do que com o agredido negro.

Dando apoio ideológico a esse circo de horrores, angariando milhões de leitores com o sensacionalismo vulgar disfarçado de conteúdo, colunistas das piores – mas igualmente poderosas – revistas do Brasil aplaudem muitos desses eventos e estimulam a disseminação da mentira, ao inferir que, se nada for feito, a ditadura comunista irá imperar sob o reinado de pobres e gays. Controlando os aparatos hegemônicos da mídia e disseminando mentiras, os grupos dominantes elegeram a mais conservadora bancada de sua história – ato que não poderia ter sido plenamente realizado sem a eclosão incontrolável de ofensas criminosas aos nordestinos. Finalmente, mas não menos importante, o recente caso da suspeita de ebola desvelou crimes de racismo, xenofobia e intolerância humana de uma vez só.

O fascismo brasileiro é mais complexo do que o italiano ou o nazismo alemão. Ele é mais difícil de identificar, possui um ódio mais pulverizado direcionado uma massa ampla e difusa. É animado por uma mídia suja, uma polícia violenta, um movimento religioso fanático e uma elite sui generis que, na teoria, defende o liberalismo, mas na prática age para defender privilégios.

Ao passo que os italianos e alemães viam seu povo como superior, o fascismo idiossincrático à brasileira não idolatra a si próprio, mas sim aqueles países que lhes barra na imigração.

A semente do fascismo tropical está presente em todas as classes, em todas as regiões. Há quem diga que ele piorou após Junho de 2013. Há quem acredite que sempre foi assim e que ele apenas mostrou sua cara como tendência da polarização. Há quem diga que se trata apenas de um resultado das leves mudanças das estruturas da profunda desigualdade brasileira ou mesmo do limbo entre Junho de 2013 e as eleições de 2014. Em qualquer uma das hipóteses, o germe do ódio está às soltas no Brasil pronto para linchar física e moralmente todo aquele que não se enquadra establishment masculino, branco, heterossexual, rico, bem-sucedido e cheio de bens de consumo.

A ameaça comunista é uma mentira. A ameaça fascista é uma realidade.

Eu gostaria de encerrar minha coluna olhando para frente, elencando algumas atitudes que me parecem urgentes para a esquerda, ou para todos aqueles que entendem que a universalidade da humanidade está em sua capacidade de produzir a diferença.

Primeiro, me parece fundamental não eleger Aécio Neves (PSDB), que se alia às piores figuras dessa nova bancada. Isso não significa que as alianças de Dilma Rousseff (PT) sejam menos sórdidas. A diferença é que o PT ainda tem uma base forte calcada nos movimentos sociais. Para os petistas à esquerda, o dever de casa é, depois do susto, lutar para reconstruir suas antigas bandeiras. Para a esquerda não petista, partidária ou anarquista, é preciso ampliar sua base popular. Em ambos os casos, como eu disse há poucos dias nas minhas redes sociais, ficar xingando a tudo e a todos de coxinha me parece uma estratégia burra para quem é minoria neste País.

Contra a onda fascista, a esquerda precisa se fortalecer, se entender, reconhecer suas fragilidades, ocupar os meios de comunicação de massa, ampliar a base de diálogo, ouvir a população e falar para ela, reconstruir seus heróis e lembrar que nenhum aparato dominante é mais forte do que o genuíno sonho por justiça social.

*Agradeço a Bolívar Marcon Pinheiro Machado por este insight e a todos/as que comentaram este tema recentemente em minhas redes sociais.

Os reais motivos para o incentivo desesperado da Globo (e da Veja) ao golpe, insulflando coxinhas e reacionários

Segue esclarecedor texto de Eduardo Guimarães extraído do Blog da Cidadania:


Por volta das 19 horas de domingo, faltando uma hora para o TSE divulgar o resultado da eleição presidencial devido ao fuso horário que fez o Norte do país continuar votando enquanto as outras regiões já tinham encerrado a votação, sintonizei a Globo News. O semblante dos comentaristas já indicava que Dilma Rousseff fora reeleita.



Comentei com a esposa que o semblante sobretudo de Merval Pereira era escandaloso. Mais escandaloso do que os dos colegas de bancada. Renata Lo Prete, Cristiana Lobo e Gerson Camarotti  ainda tentavam disfarçar o abatimento, pois, tal qual este que escreve, já sabiam que Dilma derrotara Aécio Neves. Merval, não. Exibia, despudoramente, sua tristeza.

Este blogueiro, àquela altura, também já sabia que Dilma estava reeleita. E bem antes das 19 horas. Às 18 horas em ponto, postei no Twitter a mensagem abaixo.

Faltando 2 minutos para as 19 horas, pouco antes de sintonizar a Globo News, postei na mesma rede social a confirmação que recebi de uma fonte palaciana de que Dilma Rousseff já era a presidente reeleita do Brasil.


Sintonizei a tevê na Globo News devido a um lado obscuro da alma que me fez querer ver justamente o que encontrei: os semblantes combalidos dos comentaristas tucanos daquela concessão pública, que não apenas não disfarçavam a dor pela vitória de Dilma, mas tratavam de criticar a presidente e exaltar o que pareceram querer insinuar que fora uma espécie de “vitória moral” de Aécio.

Quem tiver estômago, confira aqui a lenga-lenga partidarizada daqueles que deveriam oferecer análises ao espectador, não a doutrinação política que praticam naquela emissora dia após dia. Inclusive de forma ilegal, pois a faixa do espectro radioelétrico que ocupa a Globo News é concedida à família Marinho, mas não pertence a ela.

Mais tarde, ainda na mesma Globo News, minha sala-de-estar é invadida por um crime de discriminação. Diogo Mainardi, ex-colunista da Veja, insultador profissional da família Marinho insulta impunemente o povo nordestino tanto quanto qualquer um dos energúmenos que, em todas as quatro eleições presidenciais que o PSDB perdeu para o PT desde 2002, vão às redes sociais dizer a mesma coisa que o comentarista do programa Manhattan Connection.

Palavras de Mainardi:

“O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno, em relação ao poder”

Assista, abaixo, ao crime de discriminação que Diogo Mainardi cometeu no último domingo, direto de Nova Iorque. Ao vivo.





O canal Globo News foi transformado, pois, em um mero diretório do PSDB. Ilegalmente. É como se eu ou você chegássemos a uma grande avenida, interrompêssemos o trânsito e lá instalássemos uma mesa de bilhar para nos divertirmos com meia dúzia de amigos, apesar de não sermos donos da rua – ou, no caso, da avenida.

Pior do que tudo isso é que tanto na bancada de comentaristas da Globo News supracitada quanto no programa que a sucedeu, inúmeras vezes os funcionários da família Marinho pregaram o golpe. Ou, no dizer deles, o “impeachment” da presidente da República.

Ou seja: independentemente de ser verdade ou não a matéria criminosa da Veja que levou o TSE a punir a revista com direito de resposta e multa de 500 mil reais por cada hora que o site dessa mesma revista descumpriu a decisão da corte e não deu o devido destaque àquele direito de resposta, os funcionários da Globo News já haviam condenado Dilma.


Por que tudo isso? Tenha um pouco mais de paciência, leitor, que você já vai entender.

Em outras eleições que o PT surrou o PSDB, a postura escandalosa desses “jornalistas” não foi igual. A tropa da família Marinho manteve um mínimo de compostura e fingiu (mal) não estar tão abalada pela derrota.

Para melhor entendimento da tese desta página, avancemos cerca de 24 horas no tempo.

Dilma escolheu a TV Record para dar sua primeira entrevista como presidente reeleita. A entrevista, porém, foi um tanto quanto tumultuada. A repórter Adriana Araújo quis saber de Dilma quem seria o novo ministro da Fazenda e a presidente, por óbvio, irritou-se. Afinal, uma decisão dessa magnitude envolve muita coisa e por certo não poderia ser anunciada daquela forma.

Alguns minutos depois, ao contrário da Record, que enviou uma repórter ao Palácio da Alvorada para entrevistar Dilma, a Globo preferiu um “link” do Palácio para o Jornal Nacional. Com ar de deboche estampado nos rostos, William Bonner e Patrícia Poeta começaram a inquirir Dilma quando ela provocou em seus rostos a expressão que você pode conferir no alto da página.

Palavras de Dilma a Bonner:

“Você pode ter certeza: eu não falei contra a corrupção e impunidade só durante a eleição. Eu não só falei durante a eleição, como você pode ter certeza que eu farei o possível e o impossível para colocar às claras o que aconteceu. Neste caso da Petrobrás e em qualquer outro que apareça. Não vou deixar pedra sobre pedra. Não vou investigar divulgando, apenas, seletivamente informações. Eu vou fazer questão que a sociedade brasileira saiba de tudo”

Muitos podem imaginar que Dilma tenha feito apenas um exercício de retórica para convencer o público de que vai investigar TUDO. Bem, tanto quanto William Bonner, Patrícia Poeta, os zumbis da Globo News e o mercado financeiro – que, quando Dilma subia nas pesquisas, caía – este blogueiro sabe que a presidente reeleita falou MUITO sério.

Por isso o mercado caía e, por isso, os teleguiados da Globo, da Veja etc. a atacam com tanta fúria. Quando digo que é “por isso”, refiro-me ao que você poderá deduzir, estimado leitor, nas matérias da Folha de São Paulo reproduzidas abaixo. A primeira é do dia 2 de outubro e a segunda, do dia 17.





Quero afiançar ao leitor, pois, o que William Bonner, Patrícia Poeta, a tchurma da Globo News, a família Marinho, a Veja e seus pitbulls, entre outros, já sabem: Dilma vai para cima de TODOS. Inclusive dos corruptores – como a Odebrecht, por exemplo. E não vai deixar que a banda tucana da PF, do MP, do Judiciário e da mídia acobertem os tucanos.

Por isso, essa turma chegou ao absurdo de inventar aquela matéria criminosa da Veja e a divulgar no Jornal Nacional a poucas horas do início da eleição presidencial em segundo turno. Por isso, gente com os mesmos interesses chegou ao ponto de falsificar a notícia da “morte” do doleiro Alberto Yousseff.



O segundo mandato de Dilma (se deixarem e tudo der certo) dará o maior golpe na corrupção que já foi visto no Brasil. Aqueles que sempre ficaram confortavelmente vendo políticos que compraram sendo presos, vão para o centro do palco. Por isso querem implicar Dilma e derrubá-la – antes que ela os pegue. Por conta disso, seria bom que ela reforçasse sua segurança.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A falsa "Elite" e o ódio à Democracia

"Em um país como o Brasil, onde privilégio ao nascer e hegemonia política e econômica foram sinônimos ao longo da história, a ascensão de determinados grupos antes subjugados têm produzido todo tipo de ofensa ao chamado “individualismo democrático”. Sobram patadas sobre pobres, gays, lésbicas, negros, "comunistas", mulheres. Um exemplo foram as manifestações de ódio contra a população nordestina, onde o PT conquistou muitos votos. A repulsa chega com todos os disfarces, mas pode ser identificada, por exemplo, quando um ex-presidente da República atribui um resultado adverso (para ele e os seus) à cegueira coletiva dos “menos instruídos”."




Política

Crônica / Matheus Pichonelli

O ódio à democracia

O antidemocratismo manifestado em ano eleitoral não é resultado de um sistema ainda imaturo, mas de um processo que se consolida e começa a incomodar
por Matheus Pichonelli — publicado 27/10/2014 11:40

Texto Extraído da Carta Capital

"Nordestino não sabe votar". "Pobres merecem o que têm". "Abaixo o Bolsa Esmola". "Vão pra Cuba". "Muda para Miami". "Os empregados deveriam ser proibidos de participar". "Paulista é uma raça egoísta". "Deveríamos nos separar do resto do país". Não, não é por acaso que as manifestações de ojeriza à política, ao contraditório e ao voto das populações mais pobres tenham se intensificado ao longo desta eleição, a sétima desde a reabertura democrática. A democracia brasileira é jovem, mas não é uma criança. Parte do ódio que ela provoca é antes o resultado de sua maturidade do que de seu ineditismo: quem vocifera não são os que desconhecem seu funcionamento, mas os que o conhecem muito bem – a ponto de, em pleno 2014, falarem em golpe, impeachment ou cegueira coletiva para deslegitimar um resultado adverso.

A polarização, cada vez mais acentuada entre os dois principais partidos do País, levou candidatos, eleitores-internautas, internautas-eleitores e parte da mídia a se comportar como torcedores de arquibancada nas últimas semanas, em especial no último domingo, 26 de outubro, quando a presidenta Dilma Rousseff foi reeleita. A tônica variava, mas tinha uma mesma base: não bastava expressar o voto, era preciso eliminar o concorrente e quem vota no concorrente – principalmente se ele não tem o mesmo repertório, a mesma escolaridade, a mesma (e suposta) independência material. Daí as agressividades identificadas tanto no submundo da internet quanto nas vozes de autoridades, personalidades e celebridades – que se engajaram na campanha atual, com apoio de um lado a outro, como nunca antes na história.

A essa altura, atribuir a um ou a outro a primazia do primeiro tacape será inútil. É preciso entender por que a agressividade se avoluma à medida que o sistema democrático se constrói – pois sua construção é um exercício permanente. Não é um fenômeno local: na Europa, onde o sistema é vigente há mais tempo, os intelectuais se batem há tempos sobre as contradições do chamado “reino do excesso” e das demandas pulverizadas (“mesquinhas”, segundo muitos) de um conjunto de indivíduos, muitos representantes de minorias – e não, para desespero das velhas oligarquias, de uma multidão uniforme.

Em um país como o Brasil, onde privilégio ao nascer e hegemonia política e econômica foram sinônimos ao longo da história, a ascensão de determinados grupos antes subjugados têm produzido todo tipo de ofensa ao chamado “individualismo democrático”. Sobram patadas sobre pobres, gays, lésbicas, negros, "comunistas", mulheres. Um exemplo foram as manifestações de ódio contra a população nordestina, onde o PT conquistou muitos votos. A repulsa chega com todos os disfarces, mas pode ser identificada, por exemplo, quando um ex-presidente da República atribui um resultado adverso (para ele e os seus) à cegueira coletiva dos “menos instruídos”.

No livro Ódio à Democracia, recém-publicado no Brasil pela Boitempo Editorial, o filósofo franco-argelino Jacques Rancière deixa pistas para entender este fenômeno. Um fenômeno que, a se fiar pela experiência europeia e pelos últimos embates, será cada vez mais comum por esses lados. A obra é uma crítica contundente à denúncia do “individualismo democrático” – que, segundo ele, cobre, com pouco esforço, duas teses: a clássica dos favorecidos (os pobres querem sempre mais) e das elites refinadas (há indivíduos demais, gente demais reivindicando o privilégio da individualidade). “O discurso intelectual dominante une-se ao pensamento das elites censitárias e cultas do século XIX: a individualidade é uma coisa boa para as elites; torna-se um desastre para a civilização se a ela todos têm acesso”, escreve. Para o autor, não é o individualismo que esse discurso rejeita, mas a possibilidade de qualquer um partilhar de suas prerrogativas. “A crítica ao ‘individualismo democrático’ é simplesmente o ódio à igualdade pelo qual uma intelligentsia dominante confirma que é a elite qualificada para dirigir o cedo rebanho”.

Qualquer semelhança com os últimos capítulos da eleição não é mera coincidência. No prefácio da mesma obra, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor de ética da USP, lembra que um número expressivo de membros da classe média ainda desqualifica os programas sociais consolidados nos últimos anos. “Para eles, o Brasil era bom quando pertencia a poucos. Assim, quando a multidão ocupa espaços antes reservados às pessoas 'de boa aparência', uma gritaria se alastra em sinal de protesto. O que é isso, senão o enorme mal-estar dos privilegiados?”, questiona. “A expansão da democracia incomoda. Daí um ódio que domina nossa política, tal como não se via desde as vésperas de um golpe de 1964, condenando as medidas que favoreciam os mais pobres como populistas e demagógicas”.

Em coro com Rancière, Janine Ribeiro lembra que a democracia não é um Estado acabado nem um estado acabado das coisas; ela vive constante e conflitiva expansão. “Porque a ideia de separação social continua presente e forte”.

Ao menos nas últimas semanas, esta ideia parece ter tomado proporções graves nas manifestações de ódio pelas ruas e redes sociais. Como se o mesmo país fosse pequeno demais para dois (para não dizer muitos) tipos de eleitores: um deve ser enviado a Cuba, o outro, a Miami; um deve ter o direito de voto cassado, o outro tem o direito apenas de calar. O não-diálogo é escancarado, sobretudo por quem costumava observar o espaço público como sua propriedade e hoje se rebela contra o "Estado protetor" e o voto "mesquinho" dos indivíduos. Mas a democracia, prossegue Rancière, longe de ser a forma de vida dos indivíduos empenhados em sua felicidade privada, é o processo de luta contra essa privatização, o processo de ampliação dessa esfera. "Ampliar a esfera pública não significa, como afirma o chamado discurso liberal, exigir a intervenção crescente do Estado na sociedade. Significa lutar contra a divisão do público e do privado que garante a dupla dominação da oligarquia no Estado e na sociedade”.



Matheus Pinchonelli é jornalista e cientista social.


Leonardo Boff esclarece os motivos da vitória de Dilma apesar toda a ação midiática, reacionária e empresarial contra

Para entender a vitória de Dilma Rousseff


Leonardo Boff

   
     Nestas eleições presidenciais, os brasileiros e brasileiras se confrontaram com uma cena bíblica, testemunhada no salmo número um: tinha que escolher entre dois caminhos: um que representa o acerto e a felicidade possível e outro, o desacerto e infelicidade evitável.

   Criaram-se todas as condições para uma tempestade perfeita com distorções e difamações, difundidas na grande imprensa e nas redes sociais, especialmente uma revista que ofendeu gravemente a ética jornalística, social e pesssoal publicando falsidades para prejudicar a candidata Dilma Rousseff. Atrás dela se albergam as elites mais atrasadas que se empenham antes em defender seus privilégios que universalizar os direitos pessoais e sociais.

   Face a estas adversidades, a Presidenta Dilma ao ter passado pelas torturas nos porões dos órgãos de repressão da ditadura militar, fortaleceu sua identidade, cresceu em determinação e acumulou energias para enfrentar qualquer embate. Mostrou-se como é: uma mulher corajosa e valente. Ela transmite confiança, virtude fundamental para um político. Mostra inteireza e não tolera malfeitos. Isso gera no eleitor ou eleitora o sentimento de “sentir firmeza”.

  Sua vitória se deve em grande parte à militância que saiu às ruas e organizou grandes manifestações. O povo mostrou que amadureceu na sua consciência política e soube, biblicamente, escolher o caminho que lhe parecia mais acertado votando em Dilma. Ela saiu vitoriosa com mais de 51% dos votos.

   Ele já conhecia os dois caminhos. Um, ensaiado por oito anos (pelo mesmo partido do candidato rival), fez crescer economicamente o Brasil mas transferiu a maior parte dos benefícios aos já beneficiados à custa do arrocho salarial, do desemprego e da pobreza das grandes maiorias. Fazia políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. O Brasil fez-se um sócio menor e subalterno ao grande projeto global, hegemonizado pelos países opulentos e militaristas. Esse não era o projeto de um país soberano, ciente de suas riquezas humanas, culturais, ecológicas e digno de um povo que se orgulha de sua mestiçagem e que se enriquece com todas as diferenças.

  O povo percorreu também o outro caminho, o do acerto e da felicidade posssível. Neste ele teve centralidade. Um de seus filhos, sobrevivente da grande tribulação, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu com políticas públicas, voltadas aos humilhados e ofendidos de nossa história, que uma Argentina inteira fosse incluída na sociedade moderna. Dilma Rousseff levou avante, aprofundou e expandiu estas políticas com medidas democratizantes como o Pronatec, o Pro-Uni, as cotas nas universidades para os estudantes vindos da escola pública e não dos colégios particulares; as cotas para aqueles cujos avós vieram dos porões da escravidão assim como todos os programas sociais do Bolsa Família, o Luz para Todos, a Minha Casa, minha Vida, o Mais Médicos entre outros.

  A questão de fundo de nosso país está sendo equacionada (e é nisto que as elites se revoltam): garantir a todos mas principalmente aos pobres o acesso aos bens da vida, superar a espantosa desigualdade e criar mediante a educação oportunidades aos pequenos para que possam crescer, se desenvolver e se humanizar como cidadãos ativos.

   Esse projeto despertou o senso de soberania do Brasil, projetou-o no cenário mundial como uma posição independente, cobrando uma nova ordem mundial, na qual a humanidade se descobrisse como humanidade, habitando a mesma Casa Comum.

   O desafio para a Presidenta Dilma não é só consolidar o que já deu certo e corrigir defeitos mas inaugurar um novo ciclo de exercício do poder que signifique um salto de qualidade em todas as esferas da vida social. Pouco se conseguirá se não houver uma reforma política que elimine de vez as bases da corrupção e que permita um avanço da democracia representativa com a incorporação da democracia participativa, com conselhos, audiências públicas, com a consulta aos movimentos sociais e outras instituições da sociedade civil. É urgente uma reforma tributária para que tenha mais equidade e ajude a suplantar a abissal desigualdade social. Fundamentalmente a educação e a saúde estarão no centro das preocupações desse novo ciclo. Um povo ignorante e doente não pode dar nunca um salto rumo a um patamar mais alto de vida. A questão do saneamente básico, da mobilidade urbana (85% de população vive nas cidades) com transporte minimamente digno, a segurança e o combate à criminalidade são imperativos impostos pela sociedade e que a Presidenta se obrigará a atender.

   Ela nos debates apresentou um leque signficativo de transformações a que se propôs. Pela seridade e sentido de eficácia que sempre mostrou, podemos confiar que acontecerão.

  Há questões que mal foram acenadas nos debates: a importância da reforma agrária moderna que fixa o camponês no campo com todas as vantagens que a ciência propiciou. Importa ainda demarcar e homologar as terras indígenas, muitas ameaçadas pelo avanço do agro-negócio.

  Por último e talvez o maior dos desafios nos vem do campo da ecologia. Severas ameaças pairam sobre o futuro da vida e de nossa civilização, seja pela máquina de morte já criada que pode eliminar por várias vezes toda a vida e as consequências desastrosas do aquecimento global. Se chegar o aquecimento abrupto, como inteiras sociedades científicas alertam, a vida que conhecemos talvez não possa subsistir e grande parte da humanidade será letalmente afetada. O Brasil por sua riqueza ecológica é fundamental para o equiíbrio do planeta crucificado. Um novo governo Dilma não poderá obviar esta questão que é de vida ou morte para a nossa espécie humana.

  Que o Espírito de sabedoria e de cuidado oriente as decisões difíceis que a Presidenta Dilma Rousseff deverá tomar.

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2014/10/27/para-entender-a-vitoria-de-dilma-rousseff/

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sul e Sudeste deram mais votos a Dilma que o Norte e o Nordeste juntos. Por isso, cuidado com o ódio dos fascistas, coxinhas e reacionários



Atenção ignorantes, reacionários, socialites, elitistas, mauricinhos, fascistas e coxinhas separatistas revoltados!

Olhem os números que Dilma obteve em cada estado:

SP — 36% para Dilma (8,5 milhões de votos)

MG — 52% para Dilma (6,0 milhões de votos)

RJ — 55% para Dilma (4,5 milhões de votos)

ES — 46% para Dilma (0,9 milhões de votos)

PR — 39% para Dilma (2,4 milhões de votos)

SC — 35% para Dilma (1,4 milhões de votos)

RS — 47% para Dilma (3,0 milhões de votos)

Explicando para os reacionários: as regiões Norte e Nordeste do país deram menos votos a Dilma/PT (24,8 milhões no total) que o Sul e Sudeste (26,7 milhões no total).

Em outras palavras: antes de você soltar demonstrar sua frustração e a sua raiva e dirigir sua ignorância por meio de preconceitos e impropérios a quem quer que seja, faça um pouco de esforço racional e pense mais um pouquinho a respeito.

Fazer a lição de casa antes também ajuda a evitar imbecilidades em praça pública.

(Adaptado do Contexto Livre)

Segue,agora, texto extraído do Luis Nassif Online:

O Mapa das Eleições, por Thomas Conti


Jornal GGN – As eleições terminaram e as críticas e o preconceito contra o eleitorado do nordeste inundaram as redes sociais. Já surgiram, inclusive, mapas separatistas, de um Brasil sem nordeste, conduzido por um vitorioso presidente tucano. As impressões, no entanto, são equivocadas. Dilma venceu em todos os estados do nordeste, mas venceu também no Rio de Janeiro e Minas Gerais, e conseguiu se manter próxima o bastante nos estados em que foi derrotada para sair vitoriosa do pleito com estreita margem. O Blog do Thomas Conti preparou um mapa mais realista para retratar o resultado das urnas.


Contra o preconceito! O Resultado Ponderado das Eleições por Estado


Por Thomas Conti

Do Blog do Thomas Conti

Contra o Preconceito! Pessoal, não resisti e acabei fazendo esse gráfico! Quem quiser/puder ajudar a compartilhar, agradeço muito! Para quem tiver interesse, no fim do texto explico como construí esse gráfico.

RESULTADO DAS ELEIÇÕES – MENOS ÓDIO POR FAVOR

Devido ao enxame de declarações preconceituosas vergonhosas que invadiu o Facebook depois de apurados os votos, acho bom as pessoas terem em mente que não apenas estão propagando um discurso de ódio tacanho e lastimável, como ainda estão com uma visão completamente equivocada da realidade deste país!

Os gráficos que foram veiculados distorcem o cenário eleitoral: dezenas de milhões de nordestinos não votaram na Dilma, dezenas de milhões do sudeste não votaram no Aécio! Não adianta ficar propagando ódio contra esse ou aquele grupo, venceu quem teve o maior número de votos ENTRE 144 MILHÕES DE ELEITORES.

Qualquer generalização de gênero, cor e classe social não vai conseguir dar conta de tudo isso, então façam o favor de parar de instilar veneno e preconceito!!!! Ninguém é obrigado a continuar ouvindo isso!

Como foram obtidas essas escalas de cor?

Usando o Excel 2013, computei o percentual de votos válidos de cada candidato em uma tabela. Nas versões mais novas, o Excel tem um recurso chamado Formatação Condicional que permite ao programa colorir automaticamente tabelas a partir de uma instrução. Usando esse recurso, selecionei o vermelho básico para 100% de votos em Dilma, e o azul básico para 0% de votos em Dilma. Depois fiz o contrário para a coluna do Aécio: 100% de votos nele é o azul básico, e 0% de votos nele é o vermelho básico. Feito isso, todos os valores intermediários são coloridos automaticamente pelo excel, formando uma cor que reflete precisamente o grau de distância entre 0% e 100% nessas escalas. O fato de as duas colunas terem precisamente a mesma coloração atesta a precisão do programa.

Por que os Estados do Sudeste parecem menos azuis?

Isso se deve à proporção que cada candidato teve de votos por Estado. Nos Estados em que Dilma teve o pior desempenho – Acre e São Paulo – obteve ainda assim 36% dos votos válidos, 15 pontos percentuais a mais do que o pior desempenho de Aécio, que foi de 21%. Ou seja, mesmo nos Estados do Sul o peso de no mínimo 36% para a cor vermelha acaba atenuando um pouco a força da cor azul.

Em breve farei um gráfico com 3 escalas de cor para representar visualmente também os votos brancos, nulos e abstenções, seguindo a sugestão do meu colega Henrique Braga. 

domingo, 26 de outubro de 2014

A ESPERANÇA VENCEU O ÓDIO E O GOLPISMO MIDIÁTICO! DILMA REELEITA!



UFA!, Foi por pouco, mas a Presidente conseguiu votos aos milhões em TODAS as regiões do Brasil (na verdade, mais votos totais a seu favor no Sul e Sudeste que no Norte e Nordeste, apesar dos gritos de socialites, mauricinhos e patricinhas coxinhas) e VENCEU em meio a uma campanha desigual, sórdida, onde foi objeto de ataques constantes - e muito antes de 2014 -, já que a campanha contra contou com a ligação de setores reacionários, mas ricos, com a Mídia, empresários, Mercado Financeiro e Fundamentalistas. Ainda assim, em meio à pressão insana contra a vontade popular, ela, Coração Valente, venceu!

VENCEU, por hora, O SOCIAL E PERDEU O CAPITAL! AGORA, É LUTAR CONTRA O GOLPISMO ELITISTA-EMPRESARIAL-MIDIÁTICO QUE AINDA AGE E QUE AINDA VAI FAZER DE TUDO PARA DERRUBÁ-LA! Afinal, ainda existem Mainardis, Constantinos, Azevedos, Vejas, Globos, Àlvaros, "Lobões" a infestarem com seu ódio o nosso país....

Não deixem de ler o artigo de Eduardo Guimarães postado mais abaixo e, logo depois, a mensagem de Luciana Genro.

Abraços a todos os que acreditam no progresso e na justiça social!

Carlos Antonio Fragoso Guimarães





A Verdade Venceu a Mentira


Eduardo Guimarães

Blog da Cidadania


De que adiantaram as SUV’s desfilando com adesivos de Aécio enquanto os eleitores deste depredavam carros com adesivos de Dilma?

De que adiantou os eleitores de Aécio agredirem um cadeirante ou insultarem cidadãos que ousavam mostrar opinião diferente?

De que adiantou a Veja inventar e espalhar uma calúnia e debochar da Justiça quando esta puniu seu crime eleitoral?

De que adiantou “o mercado” derrubar suas cotações para chantagear o povo, julgando-o besta?

De que adiantaram anos de terrorismo econômico da mídia, alardeando desgraças como desemprego ou racionamento de energia?

De que adiantaram as demonstrações de arrogância dessa elite decadente que se horroriza ao ver gente humilde comprando na mesma loja ou voando no mesmo avião?

De que adianta tentar enganar um povo que, após 12 anos de inclusão social, tornou-se muito mais esperto e não se deixa mais enganar?

Na democracia, o princípio mais elementar é o de que o voto do banqueiro vale o mesmo que o do faxineiro do banco.

Essa gente perdeu as quatro últimas eleições presidenciais por uma única razão: não entende o princípio democrático basilar: um homem, um voto.

Hoje, o povo brasileiro demonstrou maturidade. Não se deixou abalar. A maioria permaneceu silenciosa, só vendo a direita exibir sua bocarra arreganhada, suas garras fétidas.

O Brasil venceu. E os eleitores de Aécio Neves, também. Foram salvos de muito sofrimento, anda que não saibam.

Por isso, entoem comigo:

Viva o PT!

Viva Lula!

Viva Dilma!

Viva a Democracia!

Viva o povo Brasileiro!

Mensagem de Luciana Genro + Luciana Genro:

  Nesta vitória da Dilma o que mais me alegra é ver os comentaristas da Globo se lamentando e saber que os reacionários viram os seus planos de ganhar mais força frustrados. Venceu o PT contra o retrocesso. Menos mal. Mas é a esquerda que abandonou suas bandeiras que abriu espaço para o PSDB crescer tanto. Por isso não abrimos mão de ser oposição e construir uma esquerda coerente. Nossas lutas não são decididas nas urnas mas sim nas ruas. É lá que estaremos sempre!

sábado, 25 de outubro de 2014

Leonardo Boff: "Consolidar a revolução democrática e pacífica votando Dilma"





Consolidar a revolução democrática e pacífica votando Dilma


Leonardo Boff


A presente campanha presidencial em segundo turno coloca em jogo algo fundamental na história brasileira: a nossa primeira revolução popular, democrática e pacífica conquistada no voto, com a chegada de Lula à Presidência. Não ocorreu apenas a alternância do poder mas uma alternância de classe social. Um representante dos “lascados” e sempre colocados à mergem chegou ao mais alto cargo da nação como fruto do PT, de aliados e de grande articulação de movimentos sociais e sindicais e continuado por Dilma Rousseff.

Como afirmava o notável historiador José Honório Rodrigues em seu Conciliação e Reforma no Brasil (1965):”os interesses do povo foram descuidados pela liderança; daí as lutas, as rebeldias, a história cruenta, o compromisso e a conciliação; revolução no sentido de transformação da estrutura econômica, do regime de terras, da mudança de relações sociais, nunca tivemos; o grande sucesso da história do Brasil é o seu povo e a grande decepção é a sua liderança”. Continua José Honório:”as vitórias do povo são objetivas e incontestáveis;…o Brasil deve ao povo a unidade política, a integração territorial, a mestiçagem, a tolerância racial, a homogeneidade religiosa, a integração psico-social, a sensibilidade nacional muito viva que exige um abrasileiramento das próprias contribuições estrangeiras” (p.121-122).

Com Lula e Dilma se inaugurou esta revolução que é ainda inacabada mas que deve ser consolidada e aprofundada. Oxalá nessa eleição ela não seja malbaratada pela vitória de quem representa a velha política oligárquica mais interessada no crescimento econômico, no mercado e articulada com a macroeconomia globalizada do que no destino daqueles milhões que foram tirados da pobreza pelas políticas republicanas e foram feitos sujeitos sociais participativos na sociedade.

Daí ser importante que Dilma vença para garantir, consolidar e enriquecer com um novo ciclo de transformações essa revolução inaugural.
Nos primórdios da colonização o cronista oficial Pero Vaz de Caminha escreveu que aqui “em se plantando tudo dá”. Os cinco séculos de história ainda à luz do paradigma europeu mostraram o acerto de tal afirmação. Aqui tudo pode dar e deu para ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro. Por que não irá dar certo um projeto-Brasil novo, democrático, social, popular, ecológico, ecumênico e espiritual?

O povo brasileiro se habituou a “enfrentar a vida” e conseguir tudo “na luta”, quer dizer, com dificuldade e muito trabalho. Por que não irá “enfrentar” também esse grande e derradeiro desafio colocado em seu caminho? Como não conquistá-lo “na garra”, com a consciência solidária, com a organização, com a vontade de empoderar-se para garantir o poder de estado, já por 12 anos, a fim de dar-lhe o verdadeiro sentido de fazer as mudanças necessárias, primeiramente para os mais esquecidos e a partir deles, a todos, conferindo-lhes sustentabilidade e garntindo-lhes um futuro bom para o país.

Esse caminho já foi traçado, embora falte muito ainda para ser completado. Por duas vezes o novo chegou lá, no poder central. Escasseiam cada vez mais os instrumentos com os quais as elites dominantes querem retornar ao poder com aqule projeto neoliberal que quebrou os países centrais e que lançou cem milhões no desemprego na Europa e nos USA.

Sentimo-nos representados nos versos do cantador: “Só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra/ a marca de sangue de seus mortos/ e a certeza de luta de seus vivos”(A saga da Amazônia de Vital Faria). Essa luta, esperamos, será vitoriosa. O pais florescerá no fulgor de seu povo multicolorido como nossas paisagens que enchem nossos olhos de encantamento. Valem as palavras de líderes sindicais nos dias sombrios do submetimento:

“Podem cortar uma, duas e todas as flores. Mas não poderão impedir a chegada da primavera”. A primavera já vai avançada. Junto com o sol primaveril queremos celebrar a vitória da maioria do povo, reelegendo Dilma Rousseff.

Se não puder ocorrer agora, oxalá ocorra, fica o desafio para o futuro. O que deve ser, tem força e chegará o dia, bendito dia, em que irá triunfar.

"Obrigado, Direita!", por Rafael Castilho

"Obrigado, direita por mostrar tão nitidamente a sua face mais destrutiva e violenta.
Obrigado, direita por tornar visíveis os seus preconceitos e o desejo de restauração das velhas hierarquias.
Obrigado por deixar a olho nu o seu autoritarismo. Por mostrar o seu desprezo pelas escolhas alheias. Por desconsiderar uma visão de mundo que não seja a de vocês."





Obrigado, direita por mostrar tão nitidamente a sua face mais destrutiva e violenta.

Obrigado, direita por tornar visíveis os seus preconceitos e o desejo de restauração das velhas hierarquias.

Obrigado por deixar a olho nu o seu autoritarismo. Por mostrar o seu desprezo pelas escolhas alheias. Por desconsiderar uma visão de mundo que não seja a de vocês.

Obrigado por nos xingar de desinformados, ignorantes, acomodados, preguiçosos, corruptos. Obrigado por não nos acolher e nos deixar de fora deste camarote VIP eleitoral onde só entra quem se supõe mais esclarecido e iluminado que os outros.

Senhores reacionários, agradeço por defenderem tão explicitamente a ditadura militar e a tortura. Ficou muito mais fácil para identificar o real projeto político de vocês e encorajou muito mais as nossas escolhas.

Damos graças aos eleitores conservadores que despejam ódio nos fóruns de internet. Vocês explicitaram tudo aquilo que fica oculto numa candidatura oficial e escancararam os desejos mais inconfessáveis.


Agradecemos até mesmo as perseguições. Os ataques de fúria. As agressões físicas em praça pública aos companheiros que usavam camiseta vermelha. Foi bom que vocês fizeram isso antes da eleição. Pensando bem, até que vocês foram honestos. Normalmente as candidaturas nos afagam e depois do pleito nos enchem de porrada. Vocês não! Já nos dão mostras grátis do tamanho da opressão que iríamos sofrer. Prometem justamente o que iriam cumprir.

Obrigado direita pela Guerra Fria requentada. Por mostrar como vocês estão atrasados. Que não superaram nem o fim da escravidão, que dirá a ameaça de "golpe comunista". Obrigado por defender tão ardorosamente o neoliberalismo. Ficou mais fácil perceber qual seria o nosso futuro olhando para as grandes economias, agora decadentes, sem potencial econômico e sem vitalidade social.

Obrigado por criticarem tanto os programas sociais. Ficou fácil perceber o egoísmo e indiferença de vocês frente à fome e a miséria.

Direitona, obrigado por revelarem ao grande público estes humoristas yuppies tão ruins. Que reivindicam o direito de fazer piada sobre qualquer barbaridade, violência e exploração. Por serem emissários, através de suas "piadas", do preconceito e do servilismo de vocês. Por não deixarem oculto o desejo de reestabelecer os velhos privilégios e colocar novamente os negros, as mulheres, os gays e os pobres em seu "devido lugar".

Obrigado por resgatarem alguns antigos "astros do rock". O problema é que eles ressurgiram meio carcomidos e caquéticos. Fazendo Cover de si mesmos. Muito bobos e imaturos, mas foi legal perceber como a mídia pode colocar as pessoas no esquecimento ou dar uma canja final, desde que os palhaços estejam dispostos a servir o rei.

Obrigado, direita pelas machetes, noticias e capas escandalosas. Por não deixar nenhuma dúvida que não há nada na velha imprensa que não seja entreguismo e interesses corporativos.

Aliás, obrigado por divulgarem em capa aquela foto da Dilma presa, encaminhada para a tortura nos porões da ditadura. Eu sei que a intenção de vocês era escandalizar a sociedade e causar pânico. Mas vocês humanizaram ainda mais a figura da presidenta. Mostraram ao grande público uma Dilma jovem, corajosa e combativa, que inspira milhões de pessoas que não se conformam diante da injustiça. Agora, aquela imagem ficou eternizada e se tornou uma grande bandeira.

Por tudo isso que foi dito, agradecemos muito a direita!

Seremos eternamente gratos por não nos roubar ilusões e fazer com que a gente entenda de uma vez por todas que não se pode confiar em vocês nem um tantinho assim, nada!

Porque nunca estivemos tão unidos e tão fortes. Porque a truculência de vocês nos mobilizou e nos fez agir.

Vocês aproximaram todos aqueles que não fecham com este discurso violento, rancoroso, preconceituoso, homofóbico e cruel.

Nos unimos num fraterno abraço. Um abraço tão gostoso que promete durar décadas.

Dessa vez, o crédito pela vitória não será de nenhuma aliança espúria com vocês. Pois vocês tiveram que arrancar a máscara, sujar a mão de graxa para no final das contas engolir mais uma derrota.

*Rafael Castilho é sociólogo da FESPSP, Pós-Graduado em Política e Relações Internacionais e em Gestão Pública pela FESPSP. É Consultor e Coordenador de Projetos da FESPSP.

Liberdade de Imprensa x Criminalidade Jornalística, segundo Fábio de Oliveira Ribeiro


  "A imprensa no Brasil é livre. Mas não age com liberdade. Ela escolhe quem vai defender e quem pretende destruir. Os motivos que a levam a tomar partido, porém, ficam soterrados e raramente são discutidos. Nos últimos 12 anos o PT não casou nenhum dano econômico às empresas de comunicação. Nenhuma grande empresa do setor faliu, deixou de receber verbas federais de propaganda, de ter acesso aos créditos do BNDS, de imprimir livros do MEC, nem foi impedida de colocar em circulação o que bem entendiam. Mesmo assim, Dilma Rousseff foi tratada como se fosse uma criminosa qualquer. Qual foi o crime que ela cometeu?"
Fábio de Oliveira Ribeiro 

O excelente texto a seguir, de Fábio de Oliveira Ribeiro, foi extraído do Luis Nassif Online/Jornal GGN:



Liberdade de imprensa x Criminalidade jornalística




  Passei alguns anos da minha vida observando a imprensa brasileira e reportando seus exageros, distorções, omissões e distopias no Observatório da Imprensa:

  http://observatoriodaimprensa.com.br/authors/all_author/435/news

   Mas ainda não tinha visto algo parecido com o que ocorreu nos últimos dias. Na reta final da campanha, por desespero de causa, a imprensa brasileira massacrou o PT e sua candidata. Sobre as acusações que pesam contra o PSDB e Aécio Neves nenhuma palavra, nenhuma indignação. A imprensa age como se quisesse comandar o Brasil ou, pior, como se fosse comandada pela oposição.

  A imprensa no Brasil é livre. Mas não age com liberdade. Ela escolhe quem vai defender e quem pretende destruir. Os motivos que a levam a tomar partido, porém, ficam soterrados e raramente são discutidos. Nos últimos 12 anos o PT não casou nenhum dano econômico às empresas de comunicação. Nenhuma grande empresa do setor faliu, deixou de receber verbas federais de propaganda, de ter acesso aos créditos do BNDS, de imprimir livros do MEC, nem foi impedida de colocar em circulação o que bem entendiam. Mesmo assim, Dilma Rousseff foi tratada como se fosse uma criminosa qualquer. Qual foi o crime que ela cometeu? 

  Há apenas um crime que pode ser atribuído a Dilma Rousseff: mandar investigar toda e qualquer denuncia, independentemente dos envolvidos serem petistas, tucanos, doleiros, ministros, diretores de estatais, etc... Somente os jornalistas não foram investigados. 

   O que os donos de jornalistas temem? Ser investigados? A imprensa no Brasil tem um pé no crime organizado desde que os Ibrahim Abi-Ackel mandou apreender malotes da Rede Globo contendo cocaína e, na sequencia, foi massacrado pelo clã Marinho. Se a imprensa não é livre e age como ponta de lança do crime organizado (algo que ficou claro quando as relações entre o Cachoeira e seu "caneta" na Veja vieram a público), a CF/88 está sendo solapada. 

 
O princípio da liberdade de imprensa foi colocado de ponta-cabeça. Ao invez de servir aos interesses da sociedade, serve apenas aos chefes de quadrilhas. Impossível deixar de ligar o PSDB à estas quadrilhas, pois o partido raramente é atacado pela imprensa. Na reta final da campanha não vi uma só manchete desfavorável a Aécio Neves. Até mesmo a falta de água em São Paulo vai sendo discretamente creditata na conta do governo federal. 

   Do jeito que as coisas estão, não podem ficar. Reeleita, Dilma tem que meter o dedo nesta ferida purulenta. As ligações entre as empresas de comunicação e a criminalidade dos potentes deve ser minuciosamente investigada pela PF. Isto é o mínimo que o Estado deve fazer para preservar a validade e eficácia de sua própria Constituição. Caso contrário, a inversão de valores se tornará a regra e passaremos a viver não num Estado de Direito e sim no maior Narco Estado Jornalístico jamais construído na história da humanidade. 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A resposta digna da Presidente Dilma Rousseff à desacreditada e manipuladora Revista Veja e a análise brilhante de Luis Nassif sobre o factóide da Pior revista do Brasil



  A capa da edição antecipada da pior revista do Brasil dois dias antes do segundo turno, que demonstra a explícita tentativa da Veja de influir nas eleições 2014, repercutiu negativamente na maior parte dos eleitores que ainda pensam e expôs a podridão de uma mídia empresarial tendenciosa e sem-caráter. 

  Vejamos a resposta direta, lógica e firme da Presidente Dilma Rousseff à mais esta (dente tanas nos últimos 12 anos) de golpismo da Veja, da Globo e outros, na tentativa de sangrar um governo progressista e impor a volta de um governo elitista, voltado para os interesses da Casa Grande e do Capital em detrimento do social. 

  Abaixo do video, a transcrição da fala da Presidente.Llogo depois, transcrevemos também a importante e lúcida análise do golpismo da Veja, em artigo de Luis Nassif:



  Todos os eleitores sabem da campanha sistemática que esta revista move há anos contra Lula e contra mim. Mas desta vez a Veja excedeu todos os limites. Desde que começaram as investigações sobre ações criminosas do senhor Paulo Roberto Costa, tenho dado total respaldo ao trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público.
  Até a sua edição de hoje, às vésperas da eleição em que todas as pesquisas apontam minha nítida vantagem sobre meu adversário, a maledicência da revista Veja se limitava a insinuar que eu poderia ter sido omissa na apuração dos fatos. Isso já era um absurdo, isso já era uma tremenda injustiça.
  Hoje, a revista excedeu todos os limites da decência e da falta de ética, pois insinua que eu teria conhecimento prévio dos malfeitos na Petrobras, e que o presidente Lula seria um dos seus articuladores. A revista comete essa barbaridade, esta infâmia contra mim e Lula sem apresentar a mínima prova. Isso é um absurdo. Isso é um crime.
  É mais do que clara a intenção da Veja de interferir de forma desonesta e desleal nos resultados das eleições, a começar pela antecipação da sua edição semanal para hoje, sexta-feira, quando normalmente chega as bancas no domingo.
  Mas como das outras vezes, e em outras eleições, Veja vai fracassar no seu intento criminoso. A única diferença é que ela não ficará impune. A justiça livre deste país seguramente vai condená-la por este crime. Ela e seus cúmplices tampouco conseguiram sucesso no seu intento de confundir o eleitor.
 O povo brasileiro tem maturidade suficiente para discernir entre a mentira e a verdade. O povo brasileiro sabe que não compactuo nem nunca compactuei com a corrupção. A minha história é um testemunho disso, e sabe que farei o necessário, doa a quem doer, toda vez em que houver necessidade de investigar e de punir os que mexem com o patrimônio do povo. 
 Sou uma defensora intransigente da liberdade de imprensa. Mas a consciência livre da nação não pode aceitar que, mais uma vez, se divulgue falsas denúncias no meio de um processo eleitoral em que o que está em jogo é o futuro do Brasil.
  Os brasileiros darão sua resposta à Veja e seus cúmplices nas urnas. E eu darei a minha resposta a eles na Justiça.

A última tacada de Fábio Barbosa e da Editora Abril



por Luis Nassif, extraído do Luis Nassif Online/Jornal GGN






    O amigo liga em pânico: “A imprensa vai acabar com a democracia no Brasil”. Respondo: “É a democracia que vai acabar com a imprensa e implantar o jornalismo”.

  A aventura irresponsável de Veja – recorrendo a uma matéria provavelmente falsa para pedir o impeachment de um presidente da República - não se deve a receios de bolivarianos armados invadindo a Esplanada. Ela está sendo derrotada pelo mercado, pelo fato de que, pela primeira vez na história, a Internet trouxe o mercado para o setor fechado, derrubando as barreiras de entrada que permitiram a sobrevida de um jornalismo anacrônico, subdesenvolvido, a parte do país que mais se assemelha a uma republiqueta latino-americana.

  É um caso único, de uma publicação que se aliou a uma organização criminosa - de Carlinhos Cachoeira - e continuou impune, fora do alcance do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

  A capa de Veja não surpreende. Há muito a revista abandonou qualquer veleidade de jornalismo.

  Acusa a presidente da República Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula de conhecerem os esquemas Petrobras com base no seguinte trecho, de uma suposta confissão do doleiro Alberto Yousseff:


- O Planalto sabia de tudo - disse Youssef.
- Mas quem no Planalto? - perguntou o delegado.
- Lula e Dilma - respondeu o doleiro.

  Era blefe.

  Na sequência, a "reportagem" diz:


“O doleiro não apresentou - e nem lhe foram pedidas - provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o depoente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades”.

  Na primeira fase da delação premiada tem-se o criminoso falando o que quer. Enquanto não apresentar provas, a declaração não terá o menor valor. E Veja tem a fama de colocar o que quer nas declarações de fontes.


  Ligado ao PSDB do Paraná, o advogado de Yousseff desmentiu as informações. Mas não se sabe ainda qual é o seu jogo.

  As apostas erradas da Abril


   Golbery do Couto e Silva dizia que a mentira tem mais valor que a verdade. A verdade é monótona, tem uma só leitura. Já a mentira traz um enorme conjunto de informações a serem pesquisadas, as intenções do mentiroso, a maneira como a mentira foi montada.

  Daí a importância da capa de Veja: permitir desvendar o que está por trás da mentira.

  A primeira peça do jogo é entender a posição atual do Grupo Abril.

  Apostas de altíssimo risco só são bancadas em momentos de altíssimo desespero. A tacada da Veja torna quase irresistível a proposta de regulação da mídia e de repor as defesas do cidadão que foram suprimidas pelo ex-Ministrio Ayres Britto, ao revogar a Lei de Imprensa.

  Qual a razão de tanto desespero nessa aposta furada?
  
  A explicação começa alguns anos atrás.


  No mercado de mídia, o futuro acenava para o advento da Internet e da TV a cabo e para o fim das revistas e do papel. As apostas da Abril foram sempre na direção errada.

  Ela montou um dos primeiros portais brasileiros, o BOL, que posteriormente fundiu-se com a UOL. Graças à sua influência política, conseguiu frequências de UHF e canais de TV a cabo.

  A editora endividou-se e, para tapar buracos, Civita foi se desfazendo de todas as joias da coroa. Passou os 50% que detinha na UOL para a Folha – por um valor insignificante; vendeu a TV A para a Telefonica.  Associou-se ao grupo sul-africano Naspers, em uma operação confusa, visando burlar o limite de 30% para capital estrangeiro em grupos de mídia, previstos na lei.

  Não parou por aí.

  Adquiriu duas editoras – a Atica e a Scipionne –, que dependem fundamentalmente de compras públicas, confiando no poder de persuasão dos seus vendedores junto à rede escolar. A decisão do MEC (Ministério da Educação) de colocar todos os livros em uma publicação única, para escolha dos professores, eliminou sua vantagem comparativa.

  Aí decidiu investir em cursos apostilados para prefeituras, um território pantanoso. Finalmente, “descobriu” o caminho das pedras, passando a direcionar todas suas energias para a área de educação.


 Para tanto, criou uma nova empresa, a Abril Educação, colocou debaixo dela as editoras e os cursos e contratou um executivo ambicioso, Manoel Amorim,  que aumentou exponencialmente o endividamento do grupo, para adquirir cursos e escolas. Foi uma sucessão de compras extremamente onerosas, que deixaram o grupo em má situação financeira. A solução foi vender parte do capital para um grupo estrangeiro. Nem isso resolveu sua situação.

  No ano passado, em conversa com especialistas do setor de mídia, Gianca Civita, o primogênito, já antecipava que a editora iria ser reduzida a meia dúzia de revistas e à Veja. Colocara à venda suas concessões de UHF e esperava que algum pastor eletrônico se habilitasse.

   O cartel da jabuticaba

  A editora viu-se depauperada em duas frentes. Uma, a própria decadência do mercado de revistas; outra, a descapitalização ainda maior para financiar a aventura educacional da Abril.

 Além disso, foi vítima do maior tiro no pé da história da mídia brasileira: o “cartel da jabuticaba”.

  Um cartel tradicional consiste em um pacto comercial entre competidores visando aumentar os preços e os ganhos de todos. O “cartel da jabuticaba” brasileiro foi uma peça genial (da Globo) em que todos se uniram contra a distribuição de parte ínfima da publicidade pública para a imprensa regional e para a Internet.

  Alcançaram seu intento, mas não levaram o butim. A Internet não cresceu mas o resultado foi uma enorme concentração de verbas na TV aberta -- e, dentro dela, na TV Globo.

  Poucos meses atrás, o próprio João Roberto Marinho – um dos herdeiros da Globo – manifestava a interlocutores sua preocupação com a concentração da mídia. A Globo jogou em seu favor, óbvio; mas não contava com o despreparo das demais empresas sequer para entender onde estavam seus interesses.

  Quando o faturamento do papel minguou, todos pularam para a Internet. Mas a piscina estava vazia graças às pressões que eles próprios fizeram sobre a Secom e as agências.

  Hoje em dia, o mercado de TV a cabo passou a disputar acirradamente as verbas publicitárias. Se indagar de um executivo do setor se a disputa é com as revistas e jornais, ele dará de ombros: a imprensa escrita não tem mais a menor relevância; a disputa é com a TV aberta.

 A bala de prata de Fábio Barbosa

  É esse quadro de crise nas duas frentes que explica a bala de prata de Fábio Barbosa.

  Nos últimos meses, Fábio Barbosa contratou o INDG, de Vicente Falconi, para um trabalho de redução de custos da Abril, paralelamente à própria redução da Abril..

  Falconi constatou o que o Blog já levantara alguns anos atrás: a estrutura de Veja era superdimensionada para o conteúdo semanal.

  Na época, montei um quadro com todas as reportagens de uma edição, estimei o tempo-hora de cada repórter e editor e, no final, mostrava que seria possível entregar o mesmo conteúdo com um terço da redação.

  Com metodologia muito mais gerencial, Falconi chegou às mesmas conclusões, resultando daí a demissão de várias pessoas em cargos-chave – inclusive Otávio Cabral, repórter das missões sensíveis da revista, que acabou indo trabalhar na campanha de Aécio.

  Apenas amenizou um pouco a queda. Com as duas frentes comprometidas, a Abril entrou em uma sinuca de bico.

  Com a morte de Roberto Civita, começou a enfrentar dificuldades crescentes para renovar os financiamentos. Desde o início do ano, os herdeiros de Roberto Civita estão buscando compradores para a outra metade da Abril Educação.

  Antes disso, desde o ano passado, decidiram sair definitivamente da área editorial. Mas a legislação não permite à Naspers ampliar sua participação na editora. E, se não teve nenhum corte de verba oficial para suas publicações, por outro lado a Abril jamais encontrou espaço no governo Dilma para acertos e grandes negócios, como uma mudança na legislação sobre capital estrangeiro na mídia..

  É nesse quadro dramático, que o presidente do grupo, Fábio Barbosa, tenta a última tacada, apostando todas as fichas em Aécio.

   A última chance

   A carreira anterior de Barbosa foi no mercado bancário. Foi sucessivamente presidente do ABN Amro, depois do ABN-Real, quando o banco holandês adquiriu o Real; depois do Santander, quando o banco espanhol adquiriu os dois.

  No ABN e no Santander foi responsável por uma das maiores operações imobiliárias do mercado. No ABN participou do empréstimo de R$ 380 milhões para a WTorres adquirir o esqueleto da Eletropaulo, na marginal Pinheiros. Seis meses depois, a companhia não tinha mais recursos para quitar o financiamento. Entregou parte do capital aos credores.

  Em 2008, ainda na condição de presidente indicado para o Santander, Fábio anunciou a aquisição da torre pelo banco por R$ 1 bilhão. “A aquisição desse imóvel é um marco e demonstra a determinação do Santander em investir para que tenhamos um Banco cada vez mais forte e competitivo”, afirma ele. (http://migre.me/ms7aW).

  Atuou no início e no final da operação, assessorado por seu homem de confiança, José Berenguer Neto.

  Em pouco tempo começaram a pipocar os problemas da WTorre. Atrasou a entrega da sede do Santander, que ingressou em juízo com pedido de indenização de R$ 135 milhões. A dívida fez com que a WTorre desistisse de lançar ações na Bolsa de São Paulo.

 Em outubro de 2010 a obra continuava causando transtorno, sem ser entregue (http://migre.me/ms7Pc)

  Em agosto de 2011, Fabio saiu do Santander. O clima azedou quando a direção se deu conta dos problemas criados. O presidente mundial Emilio Botin colocou um homem de confiança como espécie de interventor, levando Fabio a se demitir. Junto com ele saiu José Berenguer Neto, que assumiu um cargo na Gávea Investimentos, para atuar na área imobiliária.

 Na época, executivos do banco ouvidos pela imprensa disseram que no ABN Fabio tinha plena liberdade; no Santander, não mais. Fabio deixou o banco sendo elogiado pelo sucessor.

  O episódio não causou tanto estardalhaço quanto a tentativa de Barbosa, no comando da Veja, de tentar um golpe de Estado armado com um 3 de paus.