segunda-feira, 18 de março de 2024

Kardec e uma espiritualidade racional e livre, por Dora Incontri

 

A espiritualidade livre pode ser solitária, até individualista; mas é aberta ao diálogo e à busca das verdades espirituais

Depositphotos

Kardec e uma espiritualidade livre

por Dora Incontri

Jornal GGN

O último censo revelou algo muito significativo sobre as tendências religiosas dos brasileiros. O tema de hoje parte da seguinte informação: enquanto 8% da população brasileira não tem religião (em 1960 era apenas 0,5%); entre jovens de 16 a 24 anos, essa porcentagem chega a 25%. E essa não é apenas uma tendência nossa, mas mundial. Se por um lado, cresce o fundamentalismo religioso de todos os matizes, a negação da religião institucionalizada também avança, sobretudo entre os jovens. Mas tanto no Brasil, como em outros países, a declaração de não ter uma religião não significa necessariamente ateísmo. A maioria mantém ou busca alguma forma de fé ou prática espiritual.

Há possíveis interpretações para esse fato, mas parece que os jovens procuram uma espiritualidade mais livre, não direcionada por sacerdócios, não sujeita a regras rígidas e, sobretudo, mais aberta à fusão de diferentes modos de crer. Querem abertura, diálogo e leveza.

É verdade que essa busca não garante que a pessoa se livre das explorações e dos abusos parecidos com os que são cometidos por alguns setores ou por certas lideranças do campo tradicional. Há uma espiritualidade livre que é cooptada por gurus improvisados, sem nenhuma consistência, que oferecem autoajuda, cursos sincréticos, livros de coach espiritual – tudo muito bem embalado numa comercialização própria do mercado da fé. Em alguns casos, incluindo abusos sexuais e formação de seitas.

Por outro lado, a libertação de uma religião específica pode impedir a possibilidade de um aspecto, que estudiosos consideram um elemento importante para a saúde mental do indivíduo: a sensação de pertencimento a um grupo, a presença de uma rede de apoio nas adversidades da vida. O grupo pode por um lado se tornar opressor em certas circunstâncias, mas se não for fanático e estruturado com excessiva rigidez, pode também salvar alguém da solidão, do adoecimento psíquico e do suicídio.

A espiritualidade livre pode ser, portanto, solitária, até individualista; mas é aberta ao diálogo e à busca das verdades espirituais que estão em toda parte.

Essas reflexões levam a evocar a figura de Allan Kardec, fundador do espiritismo na França do século 19, sobre quem estou lançando nesse mês o livro Kardec para o século 21.

Durante todo o processo de escrita de suas obras, Kardec se debateu com o conceito de religião. Não queria de jeito nenhum atribuí-lo ao espiritismo. E de fato, na filosofia por ele fundada, não há igreja, sacerdócio organizado, rituais e nem dogmas de fé. Por outro lado, ele escreveu O Evangelho segundo o espiritismo (que sintetiza a proposta de Jesus no seu aspecto ético apenas) e preconizou a oração como algo necessário e positivo. Ora, a oração é um ato religioso, embora ele racionalize e explique os benefícios dessa prática. Num de seus últimos discursos, admite que o espiritismo tem alguns aspectos que possam ser considerados religiosos.

No Brasil, entretanto, como inúmeros sociólogos e antropólogos e muitos espíritas críticos analisam, o espiritismo se tornou sim uma religião, no sentido tradicional do termo. Isso é interpretado por muitos como um afastamento da proposta de Kardec.

O fato é que o fundador do espiritismo dessacralizou a religião, democratizou o acesso ao mundo espiritual – já que qualquer pessoa pode ser médium e ter contato com esse mundo – racionalizou esse contato e aboliu o conceito de sobrenatural. Ao mesmo tempo, criticou os abusos das religiões, as intolerâncias, as opressões e as violências por elas praticadas nos séculos afora. E admitiu que a verdade está em toda parte e não é exclusividade de uma tradição espiritual específica, nem mesmo a que ele próprio fundou.

Como se vê, podemos definir essa forma de fé como Kardec fez, sendo uma fé raciocinada, como uma espiritualidade livre, crítica e universalista. E isso dialoga de maneira muito instigante com essa tendência atual de busca dos jovens de se desligarem das amarras de uma religiosidade rígida.

O problema que se apresenta para que essa mensagem libertadora de Kardec chegue às novas gerações, é que o espiritismo no Brasil (o país mais espírita do mundo), foi modelado por um religiosismo conservador, sob a liderança da Federação Espírita Brasileira. Mais recentemente, como ocorreu em outros campos, o bolsonarismo tomou conta de lideranças e de centros espíritas e expulsou muitos adeptos progressistas.

Por isso, a necessidade de se recolocar a proposta de Kardec numa reflexão mais profunda e adequada para nossos tempos. E é a isso, que o livro que está sendo lançado, se propõe. Porém, como adverte Alysson Mascaro no prefácio que escreveu, trata-se “de uma obra de forja intelectual, não moral, nem pastoral”. Ou seja, nada de proselitismo e catequese, mas de análise e reflexão para espíritas e não espíritas, para melhor entendimento da contribuição de Kardec, com seus limites históricos e sua atualização possível.

P.S. Convido o leitor que estiver em São Paulo e se interessar pelo assunto para o lançamento de Kardec para o século 21, Editora Comenius, no dia 19 de março, próximo, às 19 horas, na Livraria da Vila, R. Fradique Coutinho, onde autografarei o livro e farei breve fala, ao lado de Alysson Leandro Mascaro, autor do prefácio!

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

Lava Jato, o mais degradante (e criminoso) episódio da história da mídia nacional, por Luís Nassif

 

Os diálogos dos procuradores ironizando a morte de Dona Marisa e do neto de Lula, são a exposição nua da banalidade do mal

Do Jornal GGN:



No dia 20 de dezembro de 2019, uma reportagem, de Ricardo Balthazar, na Folha, deu o melhor raio-x da mais abjeta cobertura da história do jornalismo brasileiro, um episódio que manchou indelevelmente a imagem de veículos, jornalistas, Ministros do Supremo, procuradores, delegados da Polícia Federal mas, especialmente, da mídia.

Segundo a reportagem, em março de 2015 um editor escreveu a Deltan para dizer que o filho de um ministro do Supremo Tribunal Federal estava vendendo facilidades no mercado. O jornalista afirmou que o procurador podia contar sempre com sua colaboração, porque tinham objetivos comuns.

“Na mesma época, três repórteres procuraram o chefe da força-tarefa para contar que assessorias de comunicação que trabalhavam para empreiteiras investigadas pela Lava Jato estavam alimentando as Redações com informações sobre disputas internas na Polícia Federal”, continua a reportagem.

“Outro jornalista relatou a Deltan nessa época conversa que tivera com advogados de uma empresa e o que descobrira sobre a estratégia que eles desenvolveram para enfrentar a operação. O repórter contou que tinha gravado o encontro e disse que poderia mandar uma transcrição”, num exercício abjeto de jornalismo.

Repórteres submetiam a Deltan textos de reportagens, antes da publicação. Outros publicavam entrevistas nas quais o próprio Dallagnol incluía as perguntas – algo que eu não via na imprensa desde os tempos terríveis de José Serra.

Segundo a reportagem, Deltan declarou (e foi registrado na Vazajato): “O repórter deu liberdade para fazer novas perguntas, desconsiderar o que entendesse impertinente, criar”, disse o procurador aos assessores certa vez. “Temos na nossa mão o que queremos para dar o foco em que quisermos… as perguntas que criarmos aparecerão como dele, mas temos que manter é claro sigilo sobre isso rs”.

A Lava Jato não caiu apenas devido à Vazajto, mas ao ato do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, atingindo o então presidente Michel Temer – interrompendo todos os negócios que estavam sendo entregues por Temer ao mercado.

Enquanto viver, minhas retinas cansadas jamais de esquecerão das três cenas que mais me chocaram e me envergonharam, como brasileiro.

Um deles, a condução coercitiva de Lula para o Aeroporto de Congonhas, de uma violência simbólica indescritível. Depois, o desespero da militância, correndo até o aeroporto e impedindo o seu sequestro,

O delegado que interrogou Lula foi Luciano Flores, cujo irmão é desembargador da 8a Turma do TRF-4 empenhado em atrapalhar as investigações sobre a Lava Jato.


Outro episódio foi a divulgação da conversa entre Lula e Dilma. Assisti no televisor do aeroporto de Congonhas, onde vi também o atentado das Torres Gêmeas. O impacto foi o mesmo. É como se a cidadania tivesse sido derrubada por bombas incendiárias lançadas por terroristas tresloucados.

O terceiro episódio foi Lula impedido de ir ao velório do irmão Vavá

As indignidades não pararam por aí. A reprodução de diálogos da Vazajato, com procuradores ironizando a morte de dona Marisa e do próprio neto de Lula é a exposição nua da banalidade do mal.

É terrível o processo de desumanização do “inimigo”. Não respeitam morte de parentes, atribui-se qualquer demonstração de humanidade (a dor pela perda) a jogos de cena.

É possível que em outros ambientes houvesse demonstrações tão horripilantes de desumanidade e que não foram registradas para a história. Mas a Vazajato fará com que cada personagem dos diálogos abaixo leve para o túmulo a vergonha de um dia terem se comportado dessa maneira. Serão malditos para sempre, a vergonha recobrirá todos seus descendentes, filhos e netos e jamais seus atos serão escondidos pela história.

Luis Nassif

TV GGN: Frutos diretos da Lava Jato de Moro e Dallagnol, os crimes deJair Bolsonaro estão maduros para denúncia na Justiça, afirma os juristas Lênio Streck e Antonio Carlos de Almeida

 

Do GGN:

Juristas dizem à TVGGN que é urgente apresentar a denúncia contra ex-presidente, a fim de evitar sua turnê (de incentivo fascistóide) pelo país


Crédito: Reprodução/ YouTube TV GGN

A TVGGN apresenta, neste domingo (17), uma super live para marcar os 10 anos do início da Operação Lava Jato, quando o então juiz Sergio Moro e os procuradores então liderados por Deltan Dallagnol conseguiram um feito por muitos considerado histórico: levar empresários e políticos poderosos à prisão. 

Os primeiros convidados do debate foram os juristas Lênio Streck e Antonio Carlos de Almeida, o Kakay, que analisaram o impacto da operação que tinha entre os principais alvos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Para Kakay, infelizmente o Brasil não aprendeu com a Lava Jato e com os resquícios dela, tendo em vista que além de influências externas, a operação acabou com a credibilidade do poder judiciário até hoje, quando bolsonaristas ainda reclamam da “ditadura do STF”.  

“Mesmo depois de o Supremo Tribunal condenou esses indigentes intelectuais da República da Lava Jato por corromper o sistema de Justiça, ainda não teve realmente algo efetivo. Houve a cassação da Selma [Arruda, senadora do Podemos pelo Mato Grosso], houve a cassação do Deltan [Dallagnol, ex-deputado federal e ex-procurador da República], vai haver a cassação do Moro, mas é muito pouco frente ao que fizeram, é muito pouco frente ao estrago econômico, estrago estrutural e digo até institucional. As pessoas passaram a ter muitas dúvidas quanto ao Poder Judiciário. Acho que estamos em meio a uma turbulencia”, observa o jurista.

Graças à Lava Jato e seu projeto vencedor de poder, criou-se o bolsonarismo. “Ao prender o Lula, o único capaz na época da ganhar do Bolsonaro [nas eleições de 2018], ali tem um caso de corrupção clássico, que qualquer menino de primeiro ano de Direito vê, que é o juiz do lado de ofício prender o principal opositor, eleger o Bolsonaro e aceita ser ministro da Justiça”, lembra Kakay. 

Judiciário

Lênio Streck registrou a importância da presunção da inocência na soltura do Lula para que “não se criem lendas urbanas sobre a questão” e lembrou que o produto final da Lava Jato foi o 8 de janeiro, uma vez que a ascensão do bolsonarismo permitiu a eleição de ‘outsiders’ que, em outros cenários, “não se elegeriam para fiscal de quarteirão”. 

“Todas essas pessoas entraram na política, terminaram com a política, porque o que está aí, o que venceu foi a antipolítica com o bolsonarismo e virou uma tentativa de golpe de Estado. O resultado da antipolítica é a ditadura, só podia dar nisso”, acrescenta.

Ainda assim, o Poder Judiciário não teria aprendido, na visão dos juristas, lições com a operação do ex-juiz Sergio Moro, tendo em vista o afastamento sumário do juiz Eduardo Appio, que prometeu investigar as irregularidades da Lava Jato ao assumir a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba. 

“Nada disso teria acontecido sem o apoio da grande mídia e das viúvas da Lava Jato, que estão em cargos que de muito poder, dentro do Judiciário, dentro da grande midia”, observou Streck.

Salvadores da Pátria

Mesmo com os erros do Judiciário, o país deve a ele a manutenção da democracia diante da tentativa de golpe de Estado, pois em um momento em que o Congresso se viu acuado ou cooptado pelo bolsonarismo, coube à Justiça, especialmente o sTF e o TRE, a sustentação da institucionalidade.

“Durante ano, a coisa que eu mais gostava era criticar o Judiciário, um poder patrimonialista, racista, misógino, tudo o que você pode imaginar. E, de repente, somos obrigados a fazer uma defesa ardorosa pois foi quem manteve a institucionalidade do país”, aponta Kakay. 

Para o jurista, a Polícia Federal está fazendo um belíssimo trabalho de investigação que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados. Mas cabe à Justiça a estratégia de apresentar, urgentemente, a denúncia para evitar que o líder do bolsonarismo percorra o país para fortalecer a própria imagem. 

“Esse inquérito está maduro, está na hora de relatar e apresentar a denúncia. No máximo mais uma operação contra os políticos, porque vem sendo feito de forma sistemática. Chegou nos financiadores, chegou nos policiais. Quem poderia imaginar que teríamos uma operação contra quatro coronéis da ativa com prisões, contra quatro generais fortíssimos? Quem poderia imaginar que, em função dessa operação, o comandante à época teria dito para o Bolsonaro que ‘se você não tirar, sou obrigado a te prender?’ Está tudo posto. não podemos mais continuar indefinidamente esse inquérito”, concluiu.

Assista a superlive na íntegra:

Camila Bezerra

Jornalista

sábado, 16 de março de 2024

Da BBC Brasil: Cristãos relatam perseguição em igrejas a quem não apoia Bolsonaro

 

Da BBC Brasil:


Uma pesquisa do Datafolha sugere que seis em cada dez evangélicos brasileiros pretendem votar em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. Mas apesar de representarem parte expressiva da comunidade evangélica — quatro em cada dez, segundo o levantamento mais recente do instituto —, aqueles que discordam do presidente raramente têm chance de expressar sua opinião. Principalmente dentro das igrejas, eles contam. Neste vídeo, algumas dessas pessoas contam a nosso repórter Ricardo Senra que, enquanto muitos de seus irmãos de fé apoiam Bolsonaro por medo de enfrentarem episódios futuros de intolerância religiosa no Brasil, a perseguição contra cristãos já existiria no país. Nas palavras dos entrevistados, ela acontece dentro dos próprios templos, puxada principalmente por líderes religiosos que ameaçam com castigo divino ou punição dentro da própria igreja aqueles que discordam da fusão entre política e religião que tem marcado estas eleições. A BBC News Brasil recebeu mais de 100 relatos de cristãos, principalmente evangélicos, que narram episódios de pressão ou intimidação dentro dos templos na reta final da eleição. Muitos pediram anonimato, com medo de consequências para si próprios ou suas famílias dentro das igrejas. Outros já sofreram consequências. Assista e confira seus relatos. A BBC News Brasil pediu esclarecimentos a todas as igrejas citadas nesta reportagem: Igreja Quadrangular, Igreja Batista, Assembleia de Deus e Santuário católico de São Miguel Arcanjo. Nenhuma respondeu às solicitações de comentários. Reportagem em texto: https://www.bbc.com/portuguese/brasil... Curtiu? Inscreva-se no canal da BBC News Brasil! E se quiser ler mais notícias, clique aqui: https://www.bbcbrasil.com

BBC: as revelações de depoimentos de ex-chefes das Forças Armadas General Freire Gomes, do Exército, e Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica

 

 Da BBC Brasil:

Os ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, e general Freire Gomes, disseram à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consultou os comandantes militares sobre medidas para se manter no poder mesmo após ter perdido as eleições. As afirmações foram feitas em depoimentos na operação Tempus Veritatis, que investiga tentativa de golpe após as eleições de 2022. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes levantou o sigilo sobre os testemunhos nesta sexta (15/3). A repórter Mariana Schreiber explica os principais pontos dos depoimentos.

Reportagem em texto: https://www.bbc.com/portuguese/articl...

Portal do José: CONSPIRADORES AMARRADOS! BOLSONARO E GOLPISTAS PERDEM ARGUMENTOS! CADEIA INEVITÁVEL! RATOLÂNDIA DA DIREITA: COVARDES SOMEM!

 

Do Portal do José:

16/03/24 - BOLSONARISMO EM PANE! COVARDIA É O COMPORTAMENTO COMUM DESSAS CRIATURAS. Mas isso não os livrará da cadeia! NENHUM veio a público dizer algo em sua defesa. NÃO HÁ DEFESA! RATOLÂNDIA TEM SEUS INVENTORES. Mas não há como transformar esterco em queijo, exceto no mundo imaginário da terra plana. Sigamos.



sexta-feira, 15 de março de 2024

Portal do José: PESADELO! BOLSONARO ENCURRALADO DE VEZ! "FIEIS" OU ROEDORES? EXTREMISTAS PERDEM RUMO! QUEIJO ACABOU!

 

Do Portal do José:

15/03/24 - DIA HISTÓRICO NO BRASIL. O CERCO AO CRIMINOSO MOR DA NAÇÃO ESTÁ ABSOLUTAMENTE DESENHADO. FIEIS ROEDORES SOMEM! SIGAMOS.



Golpe militar de 64, ignorar ou condenar? Artigo de Valter Pomar

 

"De nossa parte, nada de ignorar. E nada de remoer. Devemos condenar, claro. Mas não basta condenar. É preciso agir", indica Valter Pomar

Golpe de 64
Golpe de 64 (Foto: Divulgação)

Publico abaixo o roteiro de minha contribuição à live do Manifesto Petista, realizada no dia 13 de março de 2024.

Boa noite.

Meu papel aqui é abrir o debate.

Começo lembrando que há 60 anos, no dia 13 de março de 1964, ocorreu um grande comício, na cidade do RJ, em frente à estação da Central do Brasil.

A grande figura do comício foi o Presidente da República, João Goulart.

Abaixo o discurso feito por João Goulart, disponível no endereço:

https://memoria.ebc.com.br/cidadania/2014/03/discurso-de-jango-na-central-do-brasil-em-1964

Devo agradecer em primeiro lugar às organizações promotoras deste comício, ao povo em geral e ao bravo povo carioca em particular, a realização, em praça pública, de tão entusiasta e calorosa manifestação. Agradeço aos sindicatos que mobilizaram os seus associados, dirigindo minha saudação a todos os brasileiros que, neste instante, mobilizados nos mais longínquos recantos deste país, me ouvem pela televisão e pelo rádio.

Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos milhões de irmãos nossos que dão ao brasil mais do que recebem, que pagam em sofrimento, em miséria, em privações, o direito de ser brasileiro e de trabalhar sol a sol para a grandeza deste país.


Presidente de 80 milhões de brasileiros, quero que minhas palavras sejam bem entendidas por todos os nossos patrícios.

Vou falar em linguagem que pode ser rude, mas é sincera sem subterfúgios, mas é também uma linguagem de esperança de quem quer inspirar confiança no futuro e tem a coragem de enfrentar sem fraquezas a dura realidade do presente.

Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais significativas organizações operárias e lideranças populares deste país.

Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.

Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.

A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam.

A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.

Ainda ontem, eu afirmava, envolvido pelo calor do entusiasmo de milhares de trabalhadores no Arsenal da Marinha, que o que está ameaçando o regime democrático neste País não é o povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas nacionais. Democracia é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.

Democracia é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social.

Não há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do povo; não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais sentidas reinvindicações.

Estaríamos, sim, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, que de norte a sul, de leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior, em revoltantes condições de miséria.

Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tentar levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras do episcopado brasileiro.

O inolvidável Papa João XXIII é quem nos ensina que a dignidade da pessoa humana exige normalmente como fundamento natural para a vida, o direito ao uso dos bens da terra, ao qual corresponde a obrigação fundamental de conceder uma propriedade privada a todos.

É dentro desta autêntica doutrina cristã que o governo brasileiro vem procurando situar a sua política social, particurlamente a que diz respeito à nossa realidade agrária.

O cristianismo nunca foi o escudo para os privilégios condenados pelos Santos Padres. Nem os rosários podem ser erguidos como armas contra os que reclamam a disseminação da propriedade privada da terra, ainda em mãos de uns poucos afortunados.

Àqueles que reclamam do Presidente de República uma palavra tranqüilizadora para a Nação, o que posso dizer-lhes é que só conquistaremos a paz social pela justiça social.

Perdem seu tempo os que temem que o governo passe a empreender uma ação subversiva na defesa de interesses políticos ou pessoais; como perdem igualmente o seu tempo os que esperam deste governo uma ação repressiva dirigida contra os interesses do povo. Ação repressiva, povo carioca, é a que o governo está praticando e vai amplia-la cada vez mais e mais implacavelmente, assim na Guanabara como em outros estados contra aqueles que especulam com as dificuldades do povo, contra os que exploram o povo e que sonegam gêneros alimentícios e jogam com seus preços.

Ainda ontem, trabalhadores e povo carioca, dentro da associações de cúpula de classes conservadoras, levanta-se a voz contra o Presidente pelo crime de defender o povo contra aqueles que o exploram nas ruas, em seus lares, movidos pela ganância.

Não tiram o sono as manifestações de protesto dos gananciosos, mascarados de frases patrióticas, mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer a impunidade para suas atividades anti-sociais.

Não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar, e tenho proclamado e continuarei a proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da Constituição, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação.

Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada, injusta e desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas.

Todos têm o direito à liberdade de opinião e de manifestar também sem temor o seu pensamento. É um princípio fundamental dos direitos do homem, contido na Carta das Nações Unidas, e que temos o dever de assegurar a todos os brasileiros.

Está nisso o sentido profundo desta grande e incalculável multidão que presta, neste instante, manifestação ao Presidente que, por sua vez, também presta conta ao povo dos seus problemas, de suas atitudes e das providências que vem adotando na luta contra forças poderosas, mas que confia sempre na unidade do povo, das classes trabalhadoras, para encurtar o caminho da nossa emancipação.

É apenas de lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados à realidade nacional.

São certamente, trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque poderão, com tanta surdez e tanta cegueira, ser os responsáveis perante a História pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil e à felicidade de seu povo brasileiro.

De minha parte, à frente do Poder Executivo, tudo continuarei fazendo para que o processo democrático siga um caminho pacífico, para que sejam derrubadas as barreiras que impedem a conquista de novas etapas do progresso.

E podeis estar certos, trabalhadores, de que juntos o governo e o povo – operários , camponeses, militares, estudantes, intelectuais e patrões brasileiros, que colocam os interesses da Pátria acima de seus interesses, haveremos de prosseguir de cabeça erguida, a caminhada da emancipação econômica e social deste país.

O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade”.

A maioria dos brasileiros já não se conforma com uma ordem social imperfeita, injusta e desumana. Os milhões que nada têm impacientam-se com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso tão duramente construído, mas construído também pelos mais humildes.

Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos deste desenvolvimento.

Não, trabalhadores; sabemos muito bem que de nada vale ordenar a miséria, dar-lhe aquela aparência bem comportada com que alguns pretendem enganar o povo. Brasileiros, a hora é das reformas de estrutura, de métodos, de estilo de trabalho e de objetivo. Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar; que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros que da portentosa civilização industrial conhecem apenas a vida cara, os sofrimentos e as ilusões passadas.

O caminho das reformas é o caminho do progresso pela paz social. Reformar é solucionar pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do tempo em que vivemos.

Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da SUPRA com o pensamento voltado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa Pátria. Ainda não é aquela reforma agrária pela qual lutamos.

Ainda não é a reformulação de nosso panorama rural empobrecido.

Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado.

Mas é o primeiro passo: uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.

O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e intolerável.

Não é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos especuladores de terra, quese apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades, mas sim o povo.

Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo.

Reforma agrária com pagamento prévio do latifundio impNão é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos especuladores de terra, quese apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades, mas sim o povo.

Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo.rodutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro. Por isso o decreto da SUPRA não é a reforma agrária.

Sem reforma constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a Constituição, que tem acima de dela o povo e os interesses da Nação, que a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas nenhuma delas capaz de modificações estruturais profundas.

Graças à colaboração patriótica e técnica das nossas gloriosas Forças Armadas, em convênios realizados com a SUPRA, graças a essa colaboração, meus patrícios espero que dentro de menos de 60 dias já comecem a ser divididos os latifúndios das beiras das estradas, os latifúndios aos lados das ferrovias e dos açudes construídos com o dinheiro do povo, ao lado das obras de saneamento realizadas com o sacrifício da ação.

E, feito isto, os trabalhadores do campo já poderão, então, ver concretizada, embora em parte, a sua mais sentida e justa reinvindicação, aquela que lhe dará um pedaço de terra para trabalhar, um pedaço de terra para cultivar. Aí, então, o trabalhador e sua família irão trabalhar para si próprios, porque até aqui eles trabalham para o dono da terra, a quem entregam, como aluguel, metade de sua produção. E não se diga, trabalhadores, que há meio de se fazer reforma sem mexer a fundo na Constituição. Em todos os países civilizados do mundo já foi suprimido do texto constitucional parte que obriga a desapropriação por interesse social, a pagamento prévio, a pagamento em dinheiro.

No Japão de pós-guerra, há quase 20 anos, ainda ocupado pelas forças aliadas vitoriosas, sob o patrocínio do comando vencedor, foram distribuídos dois milhões e meio de hectares das melhores terras do país, com indenizações pagas em bônus com 24 anos de prazo, juros de 3,65% ao ano. E quem é que se lembrou de chamar o General MacArthur de subversivo ou extremista?

Na Itália, ocidental e democrática, foram distribuídos um milhão de hectares, em números redondos, na primeira fase de uma reforma agrária cristã e pacífica iniciada há quinze anos, 150 mil famílias foram beneficiadas.

No México, durante os anos de 1932 a 1945, foram distribuídos trinta milhões de hectares, com pagamento das indenizações em títulos da dívida pública, 20 anos de prazo, juros de 5% ao ano, e desapropriação dos latifúndios com base no valor fiscal.

Na Índia foram promulgadas leis que determinam a abolição da grande propriedade mal aproveitada, transferindo as terras para os camponeses.

Essas leis abrangem cerca de 68 milhões de hectares, ou seja, a metade da área cultivada da Índia. Todas as nações do mundo, independentemente de seus regimes políticos, lutam contra a praga do latifúndio improdutivo.

Nações capitalistas, nações socialistas, nações do Ocidente, ou do Oriente, chegaram à conclusão de que não é possível progredir e conviver com o latifúndio.

A reforma agrária não é capricho de um governo ou programa de um partido. É produto da inadiável necessidade de todos os povos do mundo. Aqui no Brasil, constitui a legenda mais viva da reinvindicação do nosso povo, sobretudo daqueles que lutaram no campo.

A reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver.

Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e andam descalças, porque não tem dinheiro para comprar.

Assim, a reforma agrária é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho às industrias e melhor remuneração ao trabalhador urbano.

Interessa, por isso, também a todos os industriais e aos comerciantes. A reforma agrária é necessária, enfim, à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo.

Como garantir o direito de propriedade autêntico, quando dos quinze milhões de brasileiros que trabalham a terra, no Brasil, apenas dois milhões e meio são proprietários?

O que estamos pretendendo fazer no Brasil, pelo caminho da reforma agrária, não é diferente, pois, do que se fez em todos os países desenvolvidos do mundo. É uma etapa de progresso que precisamos conquistar e que haveremos de conquistar.

Esta manifestação deslumbrante que presenciamos é um testemunho vivo de que a reforma agrária será conquistada para o povo brasileiro. O próprio custo da produção, trabalhadores, o próprio custo dos gêneros alimentícios está diretamente subordinado às relações entre o homem e a terra. Num país em que se paga aluguéis da terra que sobem a mais de 50 por cento da produção obtida daquela terra, não pode haver gêneros baratos, não pode haver tranquilidade social.

No meu Estado, por exemplo, o Estado do deputado Leonel Brizola, 65% da produção de arroz é obtida em terras alugadas e o arrendamento ascende a mais de 55% do valor da produção. O que ocorre no Rio Grande é que um arrendatário de terras para plantio de arroz paga, em cada ano, o valor total da terra que ele trabahou para o proprietário. Esse inquilinato rural desumano é medieval é o grande responsável pela produção insuficiente e cara que torna insuportável o custo de vida para as classes populares em nosso país.

A reforma agrária só prejudica a uma minoria de insensíveis, que deseja manter o povo escravo e a Nação submetida a um miseravel padrão de vida.

E é claro, trabalhadores, que só se pode iniciar uma reforma agrária em terras economicamente aproveitáveis. E é claro que não poderíamos começar a reforma agrária, para atender aos anseios do povo, nos Estados do Amazonas ou do Pará. A reforma agEsta manifestação deslumbrante que presenciamos é um testemunho vivo de que a reforma agrária será conquistada para o povo brasileiro. O próprio custo da produção, trabalhadores, o próprio custo dos gêneros alimentícios está diretamente subordinado às relações entre o homem e a terra. Num país em que se paga aluguéis da terra que sobem a mais de 50 por cento da produção obtida daquela terra, não pode haver gêneros baratos, não pode haver tranquilidade social.

No meu Estado, por exemplo, o Estado do deputado Leonel Brizola, 65% da produção de arroz é obtida em terras alugadasrária deve ser iniciada nas terras mais valorizadas e ao lado dos grandes centros de consumo, com transporte fácil para o seu escoamento.

Governo nenhum, trabalhadores, povo nenhum, por maior que seja seu esforço, e até mesmo o seu sacrifício, poderá enfrentar o monstro inflacionário que devora os salários, que inquieta o povo assalariado, se não forem efetuadas as reformas de estrutura de base exigidas pelo povo e reclamadas pela Nação.

Tenho autoridade para lutar pela reforma da atual Constituição, porque esta reforma é indispensável e porque seu objetivo único e exclusivo é abrir o caminho para a solução harmônica dos problemas que afligem o nosso povo.

Não me animam, trabalhadores – e é bom que a nação me ouça – quaisquer propósitos de ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de todos, o povo brasileiro e os governos que me sucederem. A eles, trabalhadores, desejo entregar uma Nação engrandecida, emancipada e cada vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez, pacificamente, os graves problemas que a História nos legou. Dentro de 48 horas, vou entregar à consideração do Congresso Nacional a mensagem presidencial deste ano.

Nela, estão claramente expressas as intenções e os objetivos deste governo. Espero que os senhres congressistas, em seu patriotismo, compreendam o sentido social da ação governamental, que tem por finalidade acelerar o progresso deste país e assegurar aos brasileiros melhores condições de vida e trabalho, pelNão me animam, trabalhadores – e é bom que a nação me ouça – quaisquer propósitos de ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de todos, o povo brasileiro e os governos que me sucederem. A eles, trabalhadores, desejo entregar uma Nação engrandecida, emancipada e cada vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez, pacificamente, os graves problemas que a História nos legou. o caminho da paz e do entendimento, isto é, pelo caminho reformista.

Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão, caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente para melhores dias. Mas também, trabalhadores, quero referir-me a um outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos nacionalistas destes país. Acabei de assinar, antes de dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares.

A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao patrimônio nacional.

Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da Lei n. 2.004, lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.

Ao anunciar, à frente do povo reunido em praça pública, o decreto de encampação de todas as refinarias de petróleo particulares, desejo prestar homenagem de respeito àquele que sempre esteve presente nos sentimentos do nosso povo, o grande e imortal Presidente Getúlio Vargas.

O imortal e grande patriota Getúlio Vargas tombou, mas o povo continua a caminhada, guiado pelos seus ideais. E eu, particurlamente, vivo hoje momento de profunda emoção ao poder dizer que, com este ato, soube interpretar o sentimento do povo brasileiro.

Alegra-me ver, também, o povo reunido para prestigiar medidas como esta, da maior significação para o desenvolvimento do país e que habilita o Brasil a aproveitar melhor as suas riquezas minerais, especialmente as riquezas criadas pelo monopólio do petróleo. O povo estará sempre presente nas ruas e nas praças públicas, para prestigiar um governo que pratica atos como estes, e também para mostrar às forças reacionárias que há de continuar a sua caminhada, no rumo da emancipação nacional.

Na mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional, estão igualmente consignadas duas outras reformas que o povo brasileiro reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros maiores de 18 anos ajudar a decidir dos seus destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, pugnamos pelo princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.

Também está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros. Pelos universitários, classe que sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares nacionalistas.

Ao lado dessas medidas e desses decretos, o governo continua examinando outras providências de fundamental importância para a defesa do povo, especialmente das classes populares.

Dentro de poucas horas, outro decreto será dado ao conhecimento da Nação. É o que vai regulamentar o preço extorsivo dos apartamentos e residências desocupados, preços que chegam a afrontar o povo e o Brasil, oferecidos até mediante o pagamento em dólares. Apartamento no Brasil só pode e só deve ser alugado em cruzeiros, que é dinheiro do povo e a moeda deste país. Estejam tranqüilos que dentro em breve esse decreto será uma realidade.

E realidade há de ser também a rigorosa e implacável fiscalização para seja cumprido. O governo, apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a exploração do povo. E faço um apelo ao povo para que ajude o governo na fiscalização dos exploradores do povo, que são também exploradores do Brasil. Aqueles que desrespeitarem a lei, explorando o povo – não interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja ele em Olaria ou na Rua do Acre – hão de responder, perante a lei, pelo seu crime.

Aos servidores públicos da Nação, aos médicos, aos engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que suas reinvindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que em breve serão atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever com aqueles que permanentemente cumprem o seu para com o país.

Ao encerrar, trabalhadores, quero dizer que me sinto reconfortado e retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto mais perto estivermos do cumprimento de nosso dever. À medida que esta luta apertar, sei que o povo também apertará sua vontade contra aqueles quenão reconhecem os direitos populares, contra aqueles que exploram o povo e a Nação.

Sei das reações que nos esperam, mas estou tranqüilo, acima de tudo porque sei que o povo brasileiro já está amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não faltará com seu apoio às  medidas de sentido popular e nacionalista.

Quero agradecer, mais uma vez, esta extraordinária manifestação, em que os nossos mais significativos líderes populares vieram dialogar com o povo brasileiro, especialmente com o bravo povo carioca, a respeito dos problemas que preocupam a Nação e afligem todos os nossos patrícios. Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo brasileiro. E, para isto, podemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das bravas e gloriosas Forças Armadas da Nação.

Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil.

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Outra grande figura no comício foi o ex-governador do RS, Leonel Brizola, então deputado federal.

Abaixo o discurso feito por Brizola, disponível no endereço:

https://upassos.wordpress.com/2011/04/18/o-discurso-de-brizola-no-comcio-da-central-do-brasil-13-de-maro-de-1964/

“Este é um encontro do povo com o governo. Encontro com esta multidão e com os milhões que, através dos seus rádios, do recesso de seus lares, estão presentes não apenas para aplaudir, mas para dialogar com o governo.  Se fosse apenas para aplaudir, não seríamos um povo independente, mas um rebanho de ovelhas. O povo está aqui para clamar, para reivindicar, para exigir e para declarar sua inconformidade com a situação que estamos vivendo.

Saudamos o governo pelo seu gesto democrático. Porque é realmente democrático um governante descer para o diálogo com o povo.  E estamos certos de que o presidente não veio, nesta noite, apenas para falar, mas para ouvir e para ceder ao povo brasileiro. Para ceder a esta pressão – é a voz que vem da fonte de todo o poder, é a pressão popular, a que com honra, um governante deve se submeter.

Quero citar e aplaudir estes dois atos que devem deflagrar um processo de transformação em nosso país: o decreta a Supra e o decreto de expropriação das refinarias de petróleo.

Povo e governo, num país como o nosso, devem formar uma unidade.  Unidade esta que já existiu em agosto de 1961, quando o povo praticamente de fuzil na mão, repeliu o golpismo que nos ameaçava e garantiu os nossos direitos. Unidade, esta, que já existiu no plebiscito de janeiro de 1963, quando mais de dez milhões de brasileiros exigiram o fim da conciliação do parlamentarismo e a realização imediata das reformas.

Quando uma multidão se reúne como nesta noite, isto significa um grito do nos caminhos da sua libertação. Em verdade, se conseguirmos hoje a  restauração daquela unidade, o presidente poderá retornar, através da manifestação do povo, às origens de seu governo. E, para isso, será suficiente que ponha fim à política de conciliação e organize um governo realmente democrático, popular e nacionalista.

Pode ser que, neste momento, a minha palavra esteja sendo impugnada. Podem julgar que as minhas credenciais não sejam suficientes. Mas o meu lugar é ao lado do povo, interpretando suas aspirações, e por isso, aqui estou como um dos seus autênticos representantes.

Mas quero perguntar ao povo: querem que continue a política de conciliação ou preferem um governo nacionalista e popular? Aos que desejam  um governo nacionalista e popular que levantem as mãos.

Chegamos a um impasse na vida do nosso país.  O povo brasileiro já não suporta mais suas atuais condições de vida.  Hoje, até as liberdades  democráticas estão ameaçadas.  Vimos isso em Belo Horizonte, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde um governo reacionário está queimando os ranchos dos camponeses.   O que se passa no estado da Guanabara é uma prova dessa ameaça, pois a Guanabara é governada por um energúmeno.  Tanto isso é verdade que o próprio presidente da República, para falar em praça pública, precisou mobilizar as valorosas Forças Armadas.

Não podemos continuar nesta situação.  O povo está exigindo uma saída.  Mas o povo olha para um dos poderes da República, que é o Congresso Nacional, e ele diz NÃO, porque é um poder controlado por uma maioria de latifundiários, reacionários, privilegiados e de ibadianos.  É um Congresso que não dará nada mais ao povo brasileiro.  O atual Congresso não mais se identifica com as aspirações do nosso povo.  A verdade é que, como está, a situação não pode continuar.  E aqui vai a palavra de quem deseja apenas uma saída  para o trágico impasse a que chegamos.  A palavra de quem apenas quer ver o país livre da espoliação internacional como está escrito na CartaTestamento de Getúlio Vargas.

E o Executivo? Os poderes da República, até agora, com suas perplexidades, sua inoperância e seus antagonismos, não decidem.  Por que não conferir a decisão ao povo brasileiro?  O povo é a fonte de todo poder.  Portanto, a única saída pacífica é fazer com que a decisão volte ao povo através de uma Constituinte, com a eleição de  um congresso popular, de que participem os trabalhadores, os camponeses, os sargentos e oficiais nacionalistas, homens públicos autênticos, e do qual sejam eliminadas as velhas raposas da política tradicional.

Dirão que isto é ilegal.  Dirão que isto é subversivo.  Dirão que isto é inconstitucional.  Por que, então, não resolvem a dúvida através de um plebiscito?

Verão que o povo votará pela derrogação do atual Congresso.  

Dirão que isso é continuísmo. Mas já ouvi pessoalmente do presidente da República a sua palavra assegurando que, se fosse decidida nesse país a realização de eleições para uma Constituinte, sem a participação dos grupos econômicos e da imprensa alienada, mas com o voto dos analfabetos, dos soldados e cabos, e com uma imprensa democratizada, o presidente encerraria o seu mandato.

A partir destes dois atos – assinatura do decreto da SUPRA e do que encampa as refinarias particulares – desencadear-se-á, por esse país, a violência. Devemos, pois, organizar-nos para defendermos nossos direitos.  Não aceitaremos qualquer golpe, venha ele de onde vier.  O problema é de mais liberdade para o povo, pois quanto mais liberdade o povo tiver maior supremacia exercerá sobre as minorias dominantes e reacionárias que se associaram ao processo de espoliação de nosso país. O nosso caminho é pacífico, mas saberemos responder à violência com a violência.  

O nosso presidente que se decida a caminhar conosco e terá o povo ao seu lado.  Quem tem o povo ao seu lado nada tem a temer.

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A reação da direita foi acelerar o golpe.

O golpe não foi uma reação ao comício.

O golpe foi acelerado pelo comício.

Assim como o golpe do Chile, em 1973, foi acelerado pela decisão de Allende de convocar um plebiscito para o povo decidir.

Mas para o golpe ter êxito, tiveram que criar a aparência de que ele tinha apoio majoritário na população.

Hoje há vários estudos demonstrando que o golpe não tinha este apoio.

Por exemplo, ler aqui: 

https://www.camara.leg.br/noticias/429807-jango-tinha-70-de-aprovacao-as-vesperas-do-golpe-de-64-aponta-pesquisa/

Neste texto está dito entre outras coisas o seguinte: “Pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe de 31 de março de 1964 mostram que o então presidente da República, João Goulart, deposto pelos militares, tinha amplo apoio popular. Doadas à Universidade de Campinas (Unicamp) em 2003, as sondagens não foram reveladas à época”.

Para passar a impressão de que a maioria do povo respaldava o golpe, foram organizadas as famosas Marchas da Família com Deus pela Liberdade

Levaram esse nome as manifestações organizadas entre 19 de março e 8 de junho de 1964.

A imprensa da época disse que a primeira Marcha, realizada em São Paulo, teria reunido entre 300 e 500 mil pessoas.

A marcha teve entre suas convocadoras as seguintes entidades:

Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) Liga da Mulher pela Democracia (LIMDE)
União Cívica Feminina (UCF)
Movimento de Arregimentação Feminina
Fraterna Amizade Cristã Urbana e Rural
Círculos Operários Católicos
Associações Cristãs de Moços
Associação Comercial de São Paulo
Sociedade Rural Brasileira
Clube dos Diretores Lojistas
Conselho de Entidades Democráticas
Campanha para Educação Cívica
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Centro das Indústrias do Estado de São Paulo

Na marcha foi distribuído um "Manifesto ao Povo do Brasil".

Algumas das palavras de ordem citadas na Marcha foram:

“Reformas sim, Comunismo não”.
“Tá chegando a hora de Jango ir embora”.
“Vermelho bom, só batom”.
“Verde e amarelo, sem foice nem martelo”.
“Família que reza unida, permanece unida.”

Apesar de toda a preparação, o início do golpe foi meio desastrado e, se tivesse havido uma reação à altura, a história poderia ter sido um pouco diferente.

O início do golpe foi a movimentação de tropas que foram de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro, sob comando do general Olympio Mourão, que se autointitulava “vaca fardada”.

O alvo era Jango, que estava no Rio.

Mas não houve reação à altura.

O “dispositivo militar” do governo não enfrentou o golpe.

Por isso, os Estados Unidos, que organizaram a Operação Brother Sam, não precisaram intervir diretamente.

Isso facilitou aos golpistas usar sua maioria no Congresso Nacional para dar uma verniz de legalidade ao golpe.

Tudo isso aconteceu a partir do dia 1 de abril, o dia da mentira, como lembrou no exato momento o então deputado Doutel de Andrade.

A grande mentira, na ocasião, foi dada pelo senador Auro Moura Andrade, então na presidência do Congresso Nacional, que declarou que Jango “deixou a nação brasileira”, “abandonou o governo”, “assim sendo, declaro vaga a Presidência da República.”

Jango estava em Porto Alegre.

Auro e os golpistas sabiam disso.

A mentira gerou reações instantâneas. Por exemplo, o deputado Almino Afonso relata ter ouvido Tancredo Neves, líder do governo na Câmara, gritar: “Canalha! Canalha!”.

No dia 2 de abril, Ranieri Mazzilli assume interinamente o governo.

No dia 9 de abril, o Supremo Comando Revolucionário (General Costa e Silva, Vice-Almirante Augusto Rademaker, Tenente-Brigadeiro Correia de Melo) decretou o Ato Institucional número 1.

A íntegra do AI 1 pode ser lida aqui: 

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-01-64.htm

No início do referido ato, pode-se ler o seguinte: 

À NAÇÃO

É indispensável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba de abrir ao Brasil uma nova perspectiva sobre o seu futuro. O que houve e continuará a haver neste momento, não só no espírito e no comportamento das classes armadas, como na opinião pública nacional, é uma autêntica revolução.

A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se traduz, não o interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação.

A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a capacidade de constituir o novo governo. Nela se contém a força normativa, inerente ao Poder Constituinte. Ela edita normas jurídicas sem que nisto seja limitada pela normatividade anterior à sua vitória. Os Chefes da revolução vitoriosa, graças à ação das Forças Armadas e ao apoio inequívoco da Nação, representam o Povo e em seu nome exercem o Poder Constituinte, de que o Povo é o único titular. O Ato Institucional que é hoje editado pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em nome da revolução que se tornou vitoriosa com o apoio da Nação na sua quase totalidade, se destina a assegurar ao novo governo a ser instituído, os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direto e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa Pátria. A revolução vitoriosa necessita de se institucionalizar e se apressa pela sua institucionalização a limitar os plenos poderes de que efetivamente dispõe.

O presente Ato institucional só poderia ser editado pela revolução vitoriosa, representada pelos Comandos em Chefe das três Armas que respondem, no momento, pela realização dos objetivos revolucionários, cuja frustração estão decididas a impedir. Os processos constitucionais não funcionaram para destituir o governo, que deliberadamente se dispunha a bolchevizar o País. Destituído pela revolução, só a esta cabe ditar as normas e os processos de constituição do novo governo e atribuir-lhe os poderes ou os instrumentos jurídicos que lhe assegurem o exercício do Poder no exclusivo interesse do Pais. Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte relativa aos poderes do Presidente da República, a fim de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a ordem econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só na cúpula do governo como nas suas dependências administrativas. Para reduzir ainda mais os plenos poderes de que se acha investida a revolução vitoriosa, resolvemos, igualmente, manter o Congresso Nacional, com as reservas relativas aos seus poderes, constantes do presente Ato Institucional.

Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do Congresso. Este é que recebe deste Ato Institucional, resultante do exercício do Poder Constituinte, inerente a todas as revoluções, a sua legitimação.

Em nome da revolução vitoriosa, e no intuito de consolidar a sua vitória, de maneira a assegurar a realização dos seus objetivos e garantir ao País um governo capaz de atender aos anseios do povo brasileiro, o Comando Supremo da Revolução, representado pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica resolve editar o seguinte.

O Ato Institucional diz também, no seu artigo segundo, o seguinte: "A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República, cujos mandatos terminarão em trinta e um (31) de janeiro de 1966, será realizada pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, dentro de dois (2) dias, a contar deste Ato, em sessão pública e votação nominal".

Com base no AI 1, saiu uma lista de cassações, disponível aqui:

https://memorialdademocracia.com.br/card/ato-1-da-ditadura-rasga-a-constituicao

Os dez primeiros nomes da lista foram os seguintes:

1. Luiz Carlos Prestes
2. João Goulart
3. Jânio da Silva Quadros
4. Miguel Arraes
5. Darcy Ribeiro
6. Raul Ryff
7. Waldir Pires
8. General Luiz Gonzaga de Oliveira Leite
9. General Sampson da Nóbrega Sampaio
10. Leonel Brizola

O Ato Institucional número 1 determinou, também, que o Congresso Nacional indicasse em 48 horas um novo presidente.

No dia 11 de abril, o Congresso elegeu o Marechal Castelo Branco.

Castelo Branco: 361 votos
Juarez Távora: 3 votos
Eurico Gaspar Dutra: 2 votos
72 parlamentares se abstiveram
37 ausências

Detalhe: Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães votaram em Castelo Branco, talvez acreditando que assim seria possível virar a página do golpe.

Para vice presidente houve disputa entre José Maria Alkmim e Audo Moura Andrade. 

Ganhou José Maria Alkmin, deputado federal do PSD.

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Porque não ignorar estes fatos, nem tudo o que se seguiu?

1/primeiro, porque o povo brasileiro pagou um preço altíssimo por conta do golpe, que interrompeu as reformas que teriam permitido que o futuro do Brasil fosse muito diferente do que foi;

2/segundo, porque a impunidade favorece a repetição do crime, como vimos em 2016, em 2018, no governo cavernícola e na intentona de 8 de janeiro de 2023;

3/terceiro, porque as forças armadas continuam educando seus oficiais na cartilha de que o golpe foi positivo. Não se trata apenas de comemorar o 31 de março. O currículo das escolas militares continua baseado em mentiras;

4/quarto, porque forças armadas assim educadas se comportam como tropa auxiliar do Pentágono e de seus aliados, como Israel (vide recente acordo da FAB sobre manutenção de drones comprados em Israel).

Deste ponto de vista, se for verdade que Lula determinou a suspensão de eventos oficiais em memória dos 60 anos do golpe militar, estaríamos colocando no mesmo nível os criminosos e os que lutaram contra o crime.

Por tudo isso, de nossa parte, nada de ignorar.

E nada de remoer.

Devemos condenar, claro.

Mas não basta condenar.

É preciso agir.

Por exemplo cumprindo as determinações constantes do relatório final da CNV, de 2014. 

Mudando o artigo 142. 

Mudando a formação dos oficiais. 

Mudando o ministro da Defesa. 

E participando do ato de 23 de março.