sexta-feira, 29 de março de 2019

A blasfêmia de Jair Bolsonaro: que “Deus” acima de todos? Por Leonardo Boff


Resultado de imagem para Bolsonaro diabólico



Não queria ter escrito este artigo. Mas a aguda crise política atual e o abuso que se faz do nome de Deus provocam a função pública da teologia. Como qualquer outro saber, ela possui também a sua responsabilidade social. Há momentos em que o teólogo deve descer de sua cátedra e dizer uma palavra no campo do político. Isso implica denunciar abusos e anunciar os bons usos, por mais que esta atitude possa ser incompreendida por alguns grupos ou tida como partidista, o que não é.
Sinto-me, humildemente, na tradição daqueles bispos proféticos como Dom Helder Câmara, dos Cardeais Dom Paulo Evaristo Arns (lembremos o livro que ajudou a derrocar a ditadura “Brasil Nunca Mais”) e de Dom Aloysio Lorscheider, do bispo Dom Waldir Calheiros e de outros que, nos tempos sombrios da ditadura militar de 1964, tiveram a coragem de erguer a sua voz em defesa dos direitos humanos, contra os desaparecimentos e as torturas feitas pelos agentes do Estado.
Vivemos atualmente num país dilacerado por ódios viscerais, por acusações de uns contra os outros, com palavras de baixíssimo calão e por notícias falsas (fake news), produzidas até pela autoridade máxima do país, o atual presidente. Com isso ele mostra a falta de compostura em seu alto cargo e das consequências desastrosas de suas intervenções, além dos despropósitos que profere aqui e no exterior.
Seu lema de campanha era e continua sendo “Deus acima de todos e o Brasil acima de tudo”. Precisamos denunciar a utilização que faz do nome de Deus. O segundo mandamento divino é claro de “não usar o santo nome de Deus em vão”. Só que aqui o uso do nome de Deus não é apenas um abuso mas representa uma verdadeira blasfêmia. Por que?
Porque não há como combinar Deus com ódio, com elogio à tortura e a torturadores e com as ameaças a seus opositores como fazem Bolsonaro e seus filhos. Nos textos sagrados judaico-cristãos, Deus revela sua natureza como “amor” e como “misericórdia”. O “bolsonarismo” conduz uma política como confrontação com os opositores, sem diálogo com o Congresso, política entendida como um conflito, de viés fascista. Isso não tem nada a ver com o Deus-amor e o Deus-misericórdia. Consequentemente propaga e legitima, a partir de cima, uma verdadeira cultura da violência, permitindo que cada cidadão possa possuir até quatro armas. A arma não é um brinquedo para o jardim a infância mas um instrumento para matar ou se defender mutilando ou matando o outro.
Ele se diz religioso, mas é de uma religiosidade rancorosa; ele comparece despojado de sacralidade e com um perturbador vazio espiritual, sem qualquer sentido de compromisso com a vida da natureza e com a vida humana, especialmente daqueles que menos vida têm. Com propriedade afirma a miúdo o Papa Francisco: prefere um ateu de boa vontade e ético que um cristão hipócrita que não ama seu próximo, nem tem empatia por ele, nem cultiva valores humanos.
Cito um texto de um dos maiores teólogos do século passado, no fim da vida, feito Cardeal, o jesuíta francês Henri De Lubac:
“Se eu falto ao amor ou se falto à justiça, afasto-me infalivelmente de Vós, meu Deus, e meu culto não é mais que idolatria. Para crer em Vós devo crer no amor e na justiça. Vale mil vezes mais crer nessas coisas que pronunciar o Vosso nome. Fora delas é impossível que eu Vos encontre. Aqueles que tomam por guia – o amor e a justiça – estão sobre o caminho que os conduz a Vós”(Sur les chemins de Dieu, Aubier 1956, p.125)
Bolsonaro, seu clã e seguidores (nem todos) não se pautam pelo amor nem prezam a justiça. Por isso estão longe do “milieu divin”(T.de Chardin) e seu caminho não conduz a Deus. Por mais que pastores neo-pentecostais veem nele um enviado de Deus, não muda em nada a atitude do presidente, ao contrário agrava ainda mais a ofensa ao santo nome de Deus especialmente ao postar na internet um youtub pornográfico contra o carnaval.
Que Deus é esse que o leva a tirar direitos dos pobres, a privilegiar as classes abastadas, a humilhar os idosos, a rebaixar as mulheres e a menosprezar os camponeses, sem perspectiva de uma aposentadoria ainda em vida?
O projeto da Previdência cria profundas desigualdades sociais, ainda com a desfaçatez de dizer que está criando igualdade. Desigualdade é um conceito analítico neutro. Eticamente significa injustiça social. Teologicamente, pecado social que nega o desígnio de Deus de todos numa grande comensalidade fraternal.
O economista francês Thomas Pikitty, famoso por seu livro O Capital no século XXI (Intrínseca 2014), escreveu também um inteiro livro sobre A economia da desigualdade (Intriseca 2015). O simples fato, segundo ele, de que cerca de 1% de multibilhardários controlarem grande parte das rendas dos povos e no Brasil, segundo o especialista no ramo, Márcio Pochmann, os seis maiores bilionários terem a mesma riqueza que 100 milhões de brasileiros mais pobres (JB 25/9/2017), dão mostras de nossa injustiça social.
Nossa esperança é de que o Brasil é maior que a irracionalidade reinante e que sairemos melhores da atual crise.
Leonardo Boff é teólogo e comentou A oração de São Francisco pela Paz, Vozes 2009.

O cada vez maior silêncio do bolsominions, por Leandro Fortes



"Não estão arrependidos, o arrependimento requer uma força moral distante da personalidade da maior parte dos eleitores do Bozo. Estão apenas paralisados, diante da sucessiva quebra de expectativas relacionadas ao admirável mundo novo que se anunciava." - Leandro Fortes

Do Jornalistas pela Democracia e do Contexto Livre



Aos poucos, eles estão desaparecendo. Velhos amigos cheios de razão, parentes furiosos, vizinhos valentões, madames maquiadas de ódio, estão todos em silêncio, à beira do abismo.

Não há mais arminhas nas mãos, nem chola-mais nas redes. Até os kkkkk se escondem na timidez. Rufam, aqui e ali, uns poucos tambores de ódio pelas mãos de meia dúzia de fanáticos, mas nem os mais selvagens dos antipetistas encontram forças para defender o indefensável.

Não estão arrependidos, o arrependimento requer uma força moral distante da personalidade da maior parte dos eleitores do Bozo. Estão apenas paralisados, diante da sucessiva quebra de expectativas relacionadas ao admirável mundo novo que se anunciava.

Há superministros com superpoderes inúteis. Paulo Guedes faz mais grosserias do que contas. Sergio Moro, sabe-se agora, entrou no governo para tornar o cigarro mais barato. O primeiro, um Chicago Boy com 30 anos de atraso, o segundo, uma nulidade cuidadosamente construída para parecer um herói.

Há um ministro da Educação que cita Pablo Escobar. Outro, de Relações Exteriores, corrobora com a tese do nazismo de esquerda. A ministra da Mulher, ao pé da goiabeira, teme o que chama de "armadilhas do feminismo".

Não houve, a rigor, um único dia de governo.

Em meio a esse desalento, Bozo e os filhos continuam no Twitter, frenéticos, um esforço comovente para parecerem vivos, funcionais, sem entender que já estão mortos.

São burríssimos.

Leandro FortesJornalista e integrante da Rede de Jornalistas pela Democracia

quinta-feira, 28 de março de 2019

Grupo de evangélicos da bancada da bíblia se prepara para avançar na “pauta de costumes” (retrocessos) ,com Escola Sem Partido, Estatuto do Nascituro, PEC da Vida e projeto que acaba com o casamento homoafetivo


Resultado de imagem para bancada evangélica charge
Jornal GGN – A Frente Parlamentar Evangélica elegeu como novo líder o deputado Silas Câmara (PRB), que já informou à reportagem de O Globo que aguarda o governo Bolsonaro aprovar as reformas previstas na agenda econômica para fazer tramitar na Câmara a chamada “pauta de costumes”. “(…) a gente não pode fazer nada que desvie o foco da necessidade de reestruturar a nação”, disse.
Segundo Silas, a luta por projetos como Escola Sem Partido, Estatuto do Nascituro (que prevê bolsa estupro), PEC da Vida (que inscreve na Constituição que a vida começa desde a concepção, o que pode atingir as formas de aborto legal no Brasil, além de toda uma cadeia ligada aos direitos reprodutivos das mulheres) e o estabelecimento de que família é a união entre “homem e mulher” deve “recomeçar” quando a Previdência estiver garantida.
“Todos nós, evangélicos, também temos que ter essa visão cidadão de que o debate agora é recuperar as estruturas básicas da nação para ela prosperar, e tudo que nesse momento provoque qualquer instabilidade, cause desarranjo nesse esforço concentrado de recuperar o Brasil, deve ter um pouquinho de paciência.”
Sobre a interlocução com o atual governo, Silas disse que não tem ocorrido justamente porque o Planalto está focado nas reformas econômicas. “A única coisa que temos é a certeza de que esse governo foi eleito a partir de uma pauta de costumes, que nos interessa muito, e por conta disso, a maioria dos evangélicos votou nele. Mas existe uma diferença do candidato para o presidente em algumas matérias. Espero que, nesse quesito de costumes, não sejamos surpreendidos.”

quarta-feira, 27 de março de 2019

“Lobos devoradores”, hipocrisia e o cristofascismo no Brasil


Imagem relacionada


 "(Fascismo) É ação política ancorada na devoção a um líder cultuado, de ideais nacionalistas e militaristas. Baseia-se na unificação do povo por meio do ideal de supremacia da raça branca e do masculino. É totalitário, com a imposição do domínio do líder ou do seu partido, uma autoridade sem limites que atua no controle da vida pública e privada, buscando regular todas as suas dimensões."



O termo “fascismo” está em alta no Brasil. Mais do que um xingamento, ele não se resume a sinônimo de extrema-direita ou ultraconservadorismo. Vem de fasces, feixes, “força pela união”, símbolo adotado por Benito Mussolini para o seu partido italiano a partir dos anos 1920. O nazismo, sob o comando de Adolf Hitler, pela mesma época, é outro destacado exemplo.
É ação política ancorada na devoção a um líder cultuado, de ideais nacionalistas e militaristas. Baseia-se na unificação do povo por meio do ideal de supremacia da raça branca e do masculino. É totalitário, com a imposição do domínio do líder ou do seu partido, uma autoridade sem limites que atua no controle da vida pública e privada, buscando regular todas as suas dimensões.
É ainda nacionalista, na idolatria da pátria e na expansão do seu poder, com hostilidade ao marxismo e suas vertentes – anticomunismo e anti-socialismo. As mídias são recursos importantes para disseminação destes ideais.
O sucesso do fascismo tem relação com a imposição do medo e da violência física como antídoto. Daí a incitação às agressões contra os declarados inimigos do Estado e de sua supremacia como corruptos, comunistas, minorias étnicas e sexuais.
Abusos físicos nas ruas e assassinatos são correntes e ações paramilitares são apoiadas pelo Estado. Nesse sentido, um governo fascista representa muito mais do que uma ditadura.
O que isto tem a ver com religião? Foi em 1970 que a teóloga alemã Dorothee Sölle cunhou o termo “cristofascismo”, a postura que combina cristianismo e fascismo. Sölle baseia-se no fato de as relações do partido nazista com as igrejas cristãs terem contribuído para o desenvolvimento do Terceiro Reich.
A história registra como evangélicos alemães (de maioria luterana) colaboraram com o desenvolvimento do nazismo. A propaganda do fim da República (vista pelos luteranos como poder irreligioso) e de um “cristianismo positivo”, voltado apenas contra os judeus, agradou este grupo. O apoio durou pouco com o avanço do totalitarismo e do controle que Hitler impôs sobre igrejas. Já os católicos se colocaram contra o regime no início e depois se omitiram ou se ajustaram por autopreservação.
Na Itália, o Papa Pio XI fez aliança com Mussolini para restaurar privilégios que a Igreja Católica havia perdido com a unificação italiana.
Para Dorothee Sölle, no tempo presente há posturas semelhantes da parte de igrejas e suas lideranças. O mesmo apoio a supremacias, totalitarismos, a políticas de intolerância e de ódio contra minorias por igrejas no passado estaria vivo entre cristãos no presente.
Isto por conta da fé em um Jesus individualizado e sentimentalizado, que despreza o profetismo que o caracteriza nos Evangelhos, além de silenciar e até zombar da atuação dele entre os pobres e marginalizados.
“Este tipo de religião”, diz a teóloga, “conhece a cruz apenas como um símbolo mágico do que [Jesus] fez por nós, não como um sinal do homem pobre que foi torturado até a morte como um criminoso político (…). Este é um Deus sem justiça, um Jesus sem uma cruz, uma Páscoa sem uma cruz – (…) uma traição aos desprezados, uma arma milagrosa a serviço dos poderosos”.
A pesquisadora refere-se às práticas de religiosos cristãos no espaço público em nome da supremacia branca e máscula: grupos racistas, cristãos e armados, movimentos cristãos “pró-vida” que agridem verbal e fisicamente mulheres que desejam ter o controle dos seus próprios corpos e chamam de “abortistas”, milícias que violentam fiéis não cristãos e cidadãos que vivem publicamente sua orientação sexual. 
Há cristãos e lideranças que não praticam essas ações violentas, mas seu silêncio e omissão, como na Alemanha nazista, tornam-se apoio e promoção destas posturas corruptoras do Evangelho.
O cristofascismo também conquista fiéis pela propagação do medo. Espalha-se terror sobre conspirações de bandidos, de terroristas, de comunistas que justifica reações violentas “em legítima defesa” (“olho por olho, dente por dente”), o que contraria o Evangelho.
O que isto tem a ver com Brasil? Deixo para os leitores compararem o que foi descrito acima com os discursos e práticas em torno da campanha intitulada “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Um pastor escreveu em sua página do Twitter: “Estou absolutamente certo de que a igreja está escrevendo a página mais triste da sua história no Brasil. A história não poupará os evangélicos”. Para ele, “milhões de brasileiros estão escandalizados, membros das mais diferentes igrejas, aturdidos”.
Segundo pesquisas, 66% de evangélicos e 48% de católicos apoiam a campanha eleitoral baseada em armamentismo, valorização da tortura, combate a um comunismo ilusório, segregação de negros e indígenas, controle pelo Estado de questões privadas como sexualidade, retirada das crianças da convivência da escola, entre outros projetos que se opõem aos valores maiores do Evangelho.
É Deus usado de forma promíscua e sacripanta (aprendi esta palavra nestes dias com um bispo evangélico, que assim se referiu aos líderes religiosos cristofascistas). Jesus ensinou que não devemos julgar para não sermos julgados mas indicou que saberemos quem é quem pelos frutos.
Os sacripantas, Jesus classificou como gente vestida de peles de ovelhas, mas que por dentro são lobos devoradores (Mateus 7.15-20).


Lava Jato: a guerra ideológica, o homem comum e o que “realmente importa”, por Sylvia Debossan Moretzsohn




Passes de mágica sempre realizam um duplo movimento: atraem a atenção do público e a desviam dos mecanismos que permitiram o truque. Ao desenhar o juiz Marcelo Bretas tirando da cartola o ex-presidente Temer em pele de coelho diante da terra arrasada que Picasso consagrou mundialmente com seu painel sobre o bombardeio de Guernica, Renato Aroeira representou com precisão o mais recente golpe da Lava Jato. No estado atual de degradação da política, esse golpe pode se tornar o ponto de partida para o recrudescimento das manifestações populares que interromperam o mais longo período de democracia no Brasil e, agora, consolidariam o caminho fascistizante iniciado desde então.

Esse risco, porém, é negligenciado por quem se limita a ver nos passes de mágica apenas o movimento ilusionista. Como na sucessão de bolsonarices, damarices, olavices e outras sandices protagonizadas por membros do atual governo, também desta vez, com o estardalhaço habitual que as operações da Lava Jato provocam, retomou-se nas mídias e redes sociais a onda de alertas para o “desvio de atenção” daquilo que “realmente importa” – no caso, acima de tudo e imediatamente, a reforma da Previdência.

O ex-senador Roberto Requião, por exemplo, tuitou assim:


De fato, a súbita decisão de mandar prender Temer – identificado como chefe de uma quadrilha atuante há 40 anos, mas apenas agora descoberto – e o ex-ministro e ex-governador do Rio Moreira Franco, entre outros, no dia 21 de março, ocupou o noticiário e as redes e retirou o foco das críticas a Bolsonaro em sua desastrada visita aos Estados Unidos, e de quebra contribuiu para reduzir, nas mídias sociais, a repercussão das manifestações contra a reforma da Previdência, que a grande imprensa não mencionou, embora esse ocultamento, no caso, provavelmente fosse ocorrer de qualquer modo, dado o comprometimento dessa imprensa com o projeto da reforma.

Porém, há três equívocos nessa interpretação. O primeiro é ignorar o duplo sentido do diversionismo, que ao mesmo tempo desvia a atenção mas reitera a pauta ideológica. Quando, por exemplo, a ministra Damares Alves apareceu num vídeo afirmando que menino veste azul e menina veste rosa, ela não estava apenas produzindo uma cortina de fumaça, mas investindo na rejeição das reivindicações do movimento LGBT e de todos quantos lutam pela aceitação da diversidade de gênero. Quando o ministro Ernesto Araújo fala sobre o combate ao “marxismo cultural” e o associa à tentativa de exterminar a humanidade, ele carrega as baterias contra todos os movimentos que ao longo de pelo menos o último século e meio se empenharam na luta pela igualdade de direitos.

Discursos delirantes têm, portanto, consequências muito concretas, e isso não poderia ser desprezado. E este é o segundo e principal equívoco: ignorar a importância decisiva da luta ideológica, que as forças vitoriosas desde a gestação do golpe travaram com enorme competência. Não por acaso Bolsonaro insiste tanto no afastamento do “viés ideológico” que marcaria os governos anteriores, como se o dele não tivesse um viés muito mais marcante.

O terceiro equívoco é considerar que, de fato, a (suposta) cortina de fumaça seja eficaz  – e que, portanto, sejamos todos mesmo muito tolos – e que, uma vez dissipada, teríamos força para barrar os projetos ou reverter as decisões que destroem direitos e entregam o patrimônio nacional. Ora, o que “realmente importa” foi justamente a campanha ideológica baseada em fake news – entre elas o kit gay e a mamadeira de piroca – que convenceram uma significativa parcela da população a votar contra si própria.

Bateu, levou

No caso da mais recente ação da Lava Jato, mesmo os mais célebres jornalistas de direita, como Reinaldo Azevedo, criticaram a decisão do juiz Marcelo Bretas, da mesma forma que juristas, que assinalaram a  “motivação política e midiática” da medida, diante da fragilidade das justificativas apresentadas. Foi, obviamente, uma forma de reagir à decisão do STF, que, embora por apenas um voto, frustrou a ambição dos procuradores da Lava Jato de criar uma fundação de direito privado no Paraná para gerir R$ 2,5 bilhões oriundos de um acordo com a Petrobras, resultantes do pagamento de multas da empresa nos EUA e depositadas no Brasil em reais, que consolidaria o poder paralelo da “República de Curitiba”. Foi, também, uma resposta à reação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, à pressão de Sérgio Moro, ex-juiz condutor da Lava Jato e atual ministro da Justiça, para a aprovação de seu “projeto anticrime”.

Como escreveu o insuspeito Merval Pereira em seu blog no jornal O Globo, a ação foi “uma demonstração de força da Lava-Jato, depois da derrota que sofreu no STF. É o modus operandi deles, dar o troco para deixar a sensação de que não são passíveis de controle. Cada vez que sofrem uma derrota, dão o troco alto”. Mais ou menos como ameaçava e praticava o famoso assessor de Collor, Cláudio Humberto: “bateu, levou”.

Mas vejam só: um órgão público de investigação destinado a averiguar atos de corrupção não precisa atuar de acordo com o estrito cumprimento da lei. É a coisa mais natural do mundo que aja politicamente – não no sentido de que todas as instituições são mesmo políticas, mas no sentido da pequena política das barganhas e ameaças – e esteja autorizado a “dar o troco” diante de qualquer ameaça à realização da vontade de seus integrantes.

Ao ver derrotado o projeto da “República de Curitiba”, Deltan Dallagnol, o líder dos procuradores, aquele que se considera investido de uma missão divina para sanear o país, começou a disparar tuítes tentando justificar seu projeto e ao mesmo tempo atacando a decisão do STF como uma derrota dos que lutam contra a corrupção, o que, indiretamente, compromete o outro lado com a própria prática a ser combatida. Da mesma forma, ao responder à contestação depreciativa de Maia, Moro declarou: “Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”. E arrematou, na nota divulgada à imprensa a respeito desse episódio, com um apelo: “Que Deus abençoe essa grande nação”.


Lembrou, para quem tem memória, a declaração de voto do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha – na época aliado da Lava Jato, e hoje preso –, pelo impeachment da presidente Dilma: “Que Deus tenha misericórdia dessa nação”.

O troco do “homem comum” e o limiar do fascismo

No episódio da prisão de Moreira Franco, Folha de S.Paulo deu em seu site chamada para uma matéria que, no jargão jornalístico, seria considerada “lateral”: alguma coisa curiosa, complementar à notícia principal. Mas muito significativa: tratava de dois personagens que, cada qual a seu modo – um por iniciativa própria, outro por acidente –, participaram da prisão de Moreira Franco. O personagem acidental foi o taxista surpreendido por policiais federais que lhe repetiram o clichê clássico dos filmes B de ação de outrora – “siga aquele carro!” – e ficou tão nervoso que se esqueceu de ligar o taxímetro (a matéria não informa se ele, afinal, ficou no prejuízo, ou se o eventual prejuízo foi compensado pela consciência apaziguadora da missão cumprida). O outro foi o advogado que estava ao lado de Moreira no voo que o trazia ao Rio e, “com a aeronave já no solo, tirou o celular do modo avião” – claro, porque do contrário teria cometido um delito – e leu a notícia dos mandados de prisão contra o seu vizinho de poltrona. Convencido de que o ex-ministro planejava fugir, fez o possível para lhe dificultar o caminho, a ponto de postar-se na frente do carro que o aguardava.

O tom da matéria não é nada crítico, pelo contrário: anuncia “a história de como um advogado e um taxista ajudaram a prender um dos outrora gigantes da política brasileira”. Por isso mesmo, entretanto, é tão importante: porque valoriza o homem comum imbuído de sua missão redentora e o “troco” que ele dá a um corrupto poderoso.

Logo após a decisão que frustrou os objetivos da “República de Curitiba”, estimulou-se, via redes sociais, uma manifestação contra o STF. Foi um fracasso. No entanto, em redes privadas, passou a circular um vídeo – que não será reproduzido aqui por motivos óbvios – convocando um protesto maciço para pouco antes de 10 de abril, quando o STF julgará a questão da prisão em segunda instância, que, como se sabe, afeta diretamente o ex-presidente Lula. O vídeo defende essa causa, mas principalmente conclama ao “impeachment do STF”, em defesa da Lava Jato. Com uma trilha sonora triunfalista, alterna closes de pessoas com o rosto pintado de verde e amarelo e imagens das multidões que se manifestaram pelo impeachment. E apela: “erga sua bandeira, lute por um país justo, lugar de corruptos é na cadeia, todos unidos nas ruas pelo Brasil”. Num quadro, destaca o rosto de uma jovem pintada com as cores da bandeira brasileira e estimula: “faça parte dessa história”.

O discurso contra as instituições é de grande apelo popular, porque as instituições de fato estão corroídas por dentro, como madeiras atacadas por cupins, das quais sobra apenas a casca, que se desintegra diante da menor pressão. Incutir no homem comum a sua missão de regenerar o país é algo muito fácil num contexto de tamanha degradação da política.

Teremos assim um fiscal em cada esquina, vigilante, pronto a agir, em nome da pátria, da família, talvez de Deus. Será isso que nos aguarda?

Sylvia Debossan MoretzsohnProfessora aposentada da UFF, pós-doutoranda na Universidade do Minho/Pesquisadora do ObjETHOS

segunda-feira, 25 de março de 2019

A boneca Momo como metáfora do Neoliberalismo: faça o que eu mando ou irei te assombrar



Do Canal do filósofo e analista político Paulo Ghiraldelli:




O 24 de março como Dia Internacional do Direito à Verdade



Esse dia, 24 de março, “é dedicado à reflexão coletiva a respeito da importância do conhecimento circunstanciado das situações em que tiverem ocorrido graves violações aos direitos humanos, seja para a reafirmação da dignidade humana das vítimas, seja para a superação dos estigmas sociais criados por tais violações”.

Do GGN:

do Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

No dia de hoje… 

No dia 24 de março de 1980, o Arcebispo Oscar Arnulfo Romero foi assassinado em plena celebração de uma missa, em El Salvador.
O religioso católico era reconhecido desde muito jovem como um ícone na luta pelos direitos humanos e por justiça social. Quando estava no altar nesse dia 24 de março, recebeu uma rajada de tiros, desferida por um atirador de elite do Exército salvadorenho.
Em homenagem a Dom Romero e sua luta, a Assembleia Geral das Nações Unidas instituiu o dia 24 de março como o Dia Internacional do Direito à Verdade sobre graves violações aos direitos humanos e à dignidade das vítimas.
A ênfase ao direito à verdade deve se ao fato de que a nota mais característica de governos autoritários, como foram as ditaduras militares nos países latino-americanos, além da violência em si, é a negação dos crimes cometidos, a destruição de documentos, o sigilo sobre locais, autoria e circunstâncias dos assassinatos que seus agentes cometeram, inclusive a destruição e a ocultação de corpos. Isto faz dos sobreviventes e familiares, vítimas de uma tortura moral constante, sendo obrigados a conviver com a impunidade, a dor da falta de respostas, o assassinato de suas reputações e de seus entes queridos, e assistirem, atônitos, o retrocesso das democracias. Um retrocesso que recebe o apoio de grande parte da população por pura ignorância a respeito dos fatos reais e preconceito em relação às vítimas das violações.
A garantia do direito à verdade, com a instauração de comissões da verdade; a reconstituição de autos destruídos ou extraviados; o reconhecimento dos fatos pelos agentes do Estado; a revelação do destino dos corpos; no entanto, ainda é uma batalha não concluída no Brasil. Isso tem gerado grande prejuízo ao amadurecimento democrático, estando ainda pendentes a reparação da dignidade das vítimas e familiares, bem como uma sinalização oficial para a sociedade de que tais violações precisam cessar e não mais se repetirem.
No Brasil, o dia 24 de março foi incluído pela Lei 13.605/2018 no calendário oficial de datas comemorativas, como o Dia Internacional do Direito à Verdade. De acordo com o seu art. 2º, esse dia “é dedicado à reflexão coletiva a respeito da importância do conhecimento circunstanciado das situações em que tiverem ocorrido graves violações aos direitos humanos, seja para a reafirmação da dignidade humana das vítimas, seja para a superação dos estigmas sociais criados por tais violações”.
“Para que não se esqueça, para que não se repita”.
P.S. – Em nome das atrocidades que temos publicado diariamente, será realizada em São Paulo, no Ibirapuera, no dia 31.03.2019 (domingo), a I Caminhada do Silêncio pelas vítimas de violência do Estado. Concentração na Praça da Paz (Portão 7), às 16:00 horas.


sábado, 23 de março de 2019

Allan Kardec chega aos cinemas, por Carlos Antonio Fragoso Guimarães


Kardec chega aos Cinemas

Por Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  Depois de mais de cinco nos de espera, desde o lançamento da biografia de Hipollyte Leon Denizard Rivail (1804-1869), mais conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec, escrito por Marcel Souto Maior, em 2013, concretiza-se a  adaptação da obra "Kardec "para as telas.

Allan Kardec foi, dentro outros do mesmo período, o mais bem sucedido teórico dos chamados fenômenos psíquicos e em que estes, em certos casos, deixam entrever a influência de mentes outras que não a das pessoas que vivenciam tais experienciais,  ou seja, por espíritos. Por isso, Kardec é considerado o formulador mais coerente do espiritismo, ou, como dizem os espíritas, o seu codificador.

  Denizard Rivail foi um educador francês do século XIX que, por volta de meados dos anos 1840, passou a prestar atenção a eventos que, na ocasião, faziam furor na sociedade parisiense: as chamadas table mauvents, ou mesas girantes, que, em certas ocasiões, costumam movimentar-se estranhamente pela sala e mesmo, por meio de pancadas dadas pelos pés da mesmas, a responder perguntas dos participantes, fato que também chamou a atenção de outros intelectuais eminentes da época, como o escritor e político francês Victor Hugo, e a escritora e feminista socialista francesa Aurore Dudevant, mais conhecida como George Sand. Foi a partir destes eventos e se pergunta por suas origens que Denizard Rivai chegou ao estudo dos médiuns e de que como diferentes médiuns que não se conheciam podiam dar respostas semelhantes a determinadas perguntas filosóficas e científicas que escapavam ao grau de instrução dos médiuns mas que eram, no conteúdo, semelhantes e coerentes. Foi a partir da coleta de tais respostas que Rivail elaborou a obra fundamental do chamado "kardecismo", o Livro do Espíritos, lançado em 18 de abril de 1857 e deu início a uma série de obras e uma revista "De Estudos Psicológicos" que buscava teorizar e orientar o estudo de tais fenômenos, com conceitos que se antecipam à vários dos que mais tarde foram elaborados pela Metapsíquica de Charle Richet (1850 - 1935) e da Parapsicologia de Joseph Rhine (1895-1980).


A obra de Kardec, como era de se esperar, causou polêmica, mas durante cerca de 40 anos exerceu forte influência no movimento espírita Europeu, especialmente nos países de lingua latina como França, Bélgica, Espanha e Itália. Após a II Guerra Mundial o espiritismo kardecista na Europa entrou em declínio com o avanço do paradigma mecanicista e a visão de mundo materialista a ela associada mas desde fins do século XIX as ideias de Kardec (especialmente seu elemento que mais facilmente pode ser acomodado no contexto religoso fortemente presente no país) encontrou grande aceitação (com adaptações culturais, que praticamente desconsiderou os aspectos filosóficos e científicos da obra kardequiana) no Brasil, que hoje é o maior país espírita do mundo.

É a história do homem Hipollyte Leon Denizard Rivail e sua transformação, por meio de seus estudos e obras, em Allan Kardec que é o tema do filme dirigido por Wagner de Assis (o mesmo de Nosso Lar) e que chegará aos cinemas brasileiros no dia 16 de maior de 2019.

Filmado em locações em Paris e no Rio de Janeiro, o filme tem como protagonista o ator Leonardo Medeiros no papel de Kardec e destaca a trajetória de um cético que, aos poucos, se convence da realidade de um mundo espiritual que pode, de maneira mais ou menos difícil, entrar em contato com as pessoas que habitam o mundo físico em que vivemos. Veja, abaixo, o trailler oficial do filme. Esperamos que o mesmo faça justa personalidade forte e ainda um tanto misteriosa do educador que se tornou um dos mais universais pensadores do pensamento espiritualista mundial.

Veja o trailler oficial do filme e, logo depois, o vídeo sobre os bastidores da produção:


Veja, abaixo, parte dos bastidores do filme Kardec:



Kardec Making Of

sexta-feira, 22 de março de 2019

Entenda todos os passos do conflito entre Maia e Moro que "coincidentemente" precedeu a prisão de Temer e de Moreira Franco, sogro de Maia. Artigo de Alexandre Putti



As prisões de Michel Temer e Moreira Franco foram mesmo uma forma de Sérgio Moro atingir Rodrigo Maia?


O universo político brasileiro pegou fogo na manhã desta quinta-feira 21. O ex-presidente Michel Temer e seu ex- ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, foram presos com um mandado expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da força-tarefa da Lava Jato carioca.

A prisão dos membros do MDB aconteceu horas após uma rusga envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Na noite de quarta-feira, Moro enviou uma mensagem cobrando agilidade de Maia na votação do pacote anticrime. A resposta ao juiz, ou “funcionário de Bolsonaro”, foi dado em tom duro. Houve ainda uma réplica.

Entre vários parlamentares corre a teoria de que a prisão do ex-presidente e de seu companheiro de partido foi uma forma de Moro pressionar Maia. Franco é sogro do presidente da Câmara.

Eugênio Aragão, que chefiou a pasta ocupada hoje por Sérgio Moro durante o governo Lula, segue esse pensamento sobre as prisões decretadas nesta quinta. “Tudo que eles fazem tem timing. Justo quando o genro de um dos atingidos [pela prisão] começa a enfrentar publicamente o ex-chefe da operação, que agora está no governo? É, no mínimo, uma grande coincidência”, avalia.

Mas, afinal, o que aconteceu para os dois entrarem em guerra?

A incursão no mundo político do juiz Sergio Moro tem sido mais atribulada do que supunham seus admiradores. Apresentado como superministro, garantidor da lisura, da transparência e da ordem, o homem que combateria no governo a corrupção e o crime organizado, Moro acumula derrotas e constrangimentos em menos de três meses no cargo.

O mais recente revés aconteceu nesta quinta. O “passa-moleque” do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, lembrou o magistrado de sua real posição no governo. Em entrevista coletiva, Maia enviou um recado ao ex-juiz dizendo que política não se resolve dessa maneira. “Eu acho que ele conhece pouco a política. Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro, funcionário do presidente Bolsonaro. Ele está confundindo as bolas. Ele não é o presidente da República”, afirmou Maia.

Moro ficou irritado com a decisão do presidente da Câmara em determinar a criação de um grupo de trabalho para analisar seu projeto anticrime. Na prática, Maia congelou a tramitação da proposta, pois a elaboração deste grupo tem o prazo de 90 dias para debater as matérias.

Maia lembrou que a prioridade do governo é a aprovação da Reforma da Previdência e que qualquer outro assunto deve ser postergado. Alguns outros parlamentares da base de Bolsonaro já vinham mostrando preocupação em enviar um projeto tão polêmico ao mesmo tempo que a reforma.

Moro rebateu o presidente da Câmara e disse que era possível, sim, debater os dois projetos ao mesmo tempo. “O povo brasileiro não aguenta mais. Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o senhor Presidente da Câmara, esperando eu que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs”, disse Moro.

Freixo e Paulo Teixeira na Comissão

Não bastasse o presidente da Câmara colocar o projeto de Moro para escanteio, ele também selecionou parlamentares que são críticos a sua proposta para participar da Comissão. Na quarta-feira 20, Maia indicou Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP) para integrarem o grupo de trabalho que vai analisar o pacote anticrime.

“Quero que esse grupo seja o lugar para ouvirmos a sociedade civil sobre o pacote do Moro. Tenho muita experiência na
área, e eles reconhecem isso”, diz Freixo.

Copia e cola

As críticas do presidente da Câmara não foram apenas a Moro. Maia desqualificou o projeto anticrime apresentado pelo ministro e disse que o texto é um cópia e cola de proposta sobre o mesmo tema que foi apresentada no passado pelo ex-ministro da justiça Alexandre de Moraes, hoje ministro no STF.

“Ele conversa com o presidente Bolsonaro e, se o presidente Bolsonaro quiser, ele conversa comigo. Eu fiz aquilo que eu acho correto. O projeto é importante, aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro Alexandre de Moraes. É um copia e cola. Não tem nenhuma novidade, poucas novidades no projeto dele”, disse.

Mais tarde e mais calmo, Maia deu uma entrevista à Band News e afirmou que o “copia e cola” não era uma crítica e sim uma afirmação feita pelo próprio ministro . “O próprio Moro me disse que tinha copiado muitos artigos (do projeto de Moraes) é por isso que eu disse isso”. O presidente da Câmara contou que o próprio presidente Jair Bolsonaro havia pedido para ele prioridade total na previdência e que deixasse os outros projetos para depois.

Capa de revista

Moro sempre foi protagonista nos processos da operação Lava Jato. Nesses cinco anos, o juiz ganhou fama no pais e vinha se comportando como um superstar da Justiça. Entrevistas, prêmios, coletivas e jantares faziam parte da rotina do magistrado.

Além disso, a imprensa sempre era avisada com antecedência sobre qualquer movimentação da operação. O presidente da Câmara ironizou o ministro e insinuou que Moro busca destaque na mídia ao querer aprovar a proposta apresentada. “O projeto vai andar no momento adequado, ele pode esperar para ter um Jornal Nacional, um Jornal da Band, ou da TV Record, ele pode esperar”, disse.

A ilusão do superpoderes

Sérgio Moro vinha sendo considerado o herói contra a corrupção do Brasil. Após a vitória de Bolsonaro, o presidente convidou o ex-juiz para comandar o Ministério da Justiça e lhe garantiu superpoderes e total autonomia.

Moro disse ter aceitado o convite de Bolsonaro por estar “cansado de tomar bola nas costas”. Ele assumiu o cargo dizendo que teria total autonomia e status de super ministério. Isso foi só ilusão, pois, na prática, até o momento, Moro só teve derrotas.

Como primeira medida, o presidente Jair Bolsonaro fez um decreto flexibilizando a posse de armas. Moro tentou se desvincular dessa ideia e propôs ao presidente que o decreto permitisse apenas 2 armas por pessoa. A ideia de Moro foi completamente ignorada e o decreto surgiu permitindo quatro armas por pessoa.

E quando o ministro enviou ao Congresso o projeto anticrime, o Palácio do Planalto exigiu que a proposta de criminalização do caixa dois tramitasse separadamente do restante do projeto.

O clã Bolsonaro se irritou com o ministro quando ele indicou Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. A magistrada é contrária ao afrouxamento das regras de acesso a armas e criticou a ideia de ampliação do direito à legítima defesa que está no projeto do ministro. Moro foi obrigado a exonera-la após a pressão do presidente.

Alexandre Putti