As prisões de Michel Temer e Moreira Franco foram mesmo uma forma de Sérgio Moro atingir Rodrigo Maia?
O universo político brasileiro pegou fogo na manhã desta quinta-feira 21. O ex-presidente Michel Temer e seu ex- ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, foram presos com um mandado expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da força-tarefa da Lava Jato carioca.
A prisão dos membros do MDB aconteceu horas após uma rusga envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Na noite de quarta-feira, Moro enviou uma mensagem cobrando agilidade de Maia na votação do pacote anticrime. A resposta ao juiz, ou “funcionário de Bolsonaro”, foi dado em tom duro. Houve ainda uma réplica.
Entre vários parlamentares corre a teoria de que a prisão do ex-presidente e de seu companheiro de partido foi uma forma de Moro pressionar Maia. Franco é sogro do presidente da Câmara.
Eugênio Aragão, que chefiou a pasta ocupada hoje por Sérgio Moro durante o governo Lula, segue esse pensamento sobre as prisões decretadas nesta quinta. “Tudo que eles fazem tem timing. Justo quando o genro de um dos atingidos [pela prisão] começa a enfrentar publicamente o ex-chefe da operação, que agora está no governo? É, no mínimo, uma grande coincidência”, avalia.
Mas, afinal, o que aconteceu para os dois entrarem em guerra?
A incursão no mundo político do juiz Sergio Moro tem sido mais atribulada do que supunham seus admiradores. Apresentado como superministro, garantidor da lisura, da transparência e da ordem, o homem que combateria no governo a corrupção e o crime organizado, Moro acumula derrotas e constrangimentos em menos de três meses no cargo.
O mais recente revés aconteceu nesta quinta. O “passa-moleque” do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, lembrou o magistrado de sua real posição no governo. Em entrevista coletiva, Maia enviou um recado ao ex-juiz dizendo que política não se resolve dessa maneira. “Eu acho que ele conhece pouco a política. Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro, funcionário do presidente Bolsonaro. Ele está confundindo as bolas. Ele não é o presidente da República”, afirmou Maia.
Moro ficou irritado com a decisão do presidente da Câmara em determinar a criação de um grupo de trabalho para analisar seu projeto anticrime. Na prática, Maia congelou a tramitação da proposta, pois a elaboração deste grupo tem o prazo de 90 dias para debater as matérias.
Maia lembrou que a prioridade do governo é a aprovação da Reforma da Previdência e que qualquer outro assunto deve ser postergado. Alguns outros parlamentares da base de Bolsonaro já vinham mostrando preocupação em enviar um projeto tão polêmico ao mesmo tempo que a reforma.
Moro rebateu o presidente da Câmara e disse que era possível, sim, debater os dois projetos ao mesmo tempo. “O povo brasileiro não aguenta mais. Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o senhor Presidente da Câmara, esperando eu que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs”, disse Moro.
Freixo e Paulo Teixeira na Comissão
Não bastasse o presidente da Câmara colocar o projeto de Moro para escanteio, ele também selecionou parlamentares que são críticos a sua proposta para participar da Comissão. Na quarta-feira 20, Maia indicou Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP) para integrarem o grupo de trabalho que vai analisar o pacote anticrime.
“Quero que esse grupo seja o lugar para ouvirmos a sociedade civil sobre o pacote do Moro. Tenho muita experiência na
área, e eles reconhecem isso”, diz Freixo.
área, e eles reconhecem isso”, diz Freixo.
Copia e cola
As críticas do presidente da Câmara não foram apenas a Moro. Maia desqualificou o projeto anticrime apresentado pelo ministro e disse que o texto é um cópia e cola de proposta sobre o mesmo tema que foi apresentada no passado pelo ex-ministro da justiça Alexandre de Moraes, hoje ministro no STF.
“Ele conversa com o presidente Bolsonaro e, se o presidente Bolsonaro quiser, ele conversa comigo. Eu fiz aquilo que eu acho correto. O projeto é importante, aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro Alexandre de Moraes. É um copia e cola. Não tem nenhuma novidade, poucas novidades no projeto dele”, disse.
Mais tarde e mais calmo, Maia deu uma entrevista à Band News e afirmou que o “copia e cola” não era uma crítica e sim uma afirmação feita pelo próprio ministro . “O próprio Moro me disse que tinha copiado muitos artigos (do projeto de Moraes) é por isso que eu disse isso”. O presidente da Câmara contou que o próprio presidente Jair Bolsonaro havia pedido para ele prioridade total na previdência e que deixasse os outros projetos para depois.
Capa de revista
Moro sempre foi protagonista nos processos da operação Lava Jato. Nesses cinco anos, o juiz ganhou fama no pais e vinha se comportando como um superstar da Justiça. Entrevistas, prêmios, coletivas e jantares faziam parte da rotina do magistrado.
Além disso, a imprensa sempre era avisada com antecedência sobre qualquer movimentação da operação. O presidente da Câmara ironizou o ministro e insinuou que Moro busca destaque na mídia ao querer aprovar a proposta apresentada. “O projeto vai andar no momento adequado, ele pode esperar para ter um Jornal Nacional, um Jornal da Band, ou da TV Record, ele pode esperar”, disse.
A ilusão do superpoderes
Sérgio Moro vinha sendo considerado o herói contra a corrupção do Brasil. Após a vitória de Bolsonaro, o presidente convidou o ex-juiz para comandar o Ministério da Justiça e lhe garantiu superpoderes e total autonomia.
Moro disse ter aceitado o convite de Bolsonaro por estar “cansado de tomar bola nas costas”. Ele assumiu o cargo dizendo que teria total autonomia e status de super ministério. Isso foi só ilusão, pois, na prática, até o momento, Moro só teve derrotas.
Como primeira medida, o presidente Jair Bolsonaro fez um decreto flexibilizando a posse de armas. Moro tentou se desvincular dessa ideia e propôs ao presidente que o decreto permitisse apenas 2 armas por pessoa. A ideia de Moro foi completamente ignorada e o decreto surgiu permitindo quatro armas por pessoa.
E quando o ministro enviou ao Congresso o projeto anticrime, o Palácio do Planalto exigiu que a proposta de criminalização do caixa dois tramitasse separadamente do restante do projeto.
O clã Bolsonaro se irritou com o ministro quando ele indicou Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. A magistrada é contrária ao afrouxamento das regras de acesso a armas e criticou a ideia de ampliação do direito à legítima defesa que está no projeto do ministro. Moro foi obrigado a exonera-la após a pressão do presidente.
Alexandre Putti
No CartaCapital
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