quinta-feira, 28 de abril de 2011

A verdade que os militares do Brasil não gostam....



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Diferentemente da Argentina, que fez filmes e peças maravilhosas revelando a crueldade da ditadura militar ocorrida lá no lado portenho - o que no final logou por na cadeia criminosos tais quais o General Videla -, ou no Chile cujos autores, como Isabell Allende, fez dos seus romances armas de esclarecimento mundial e que ganharam as telas (A Casa dos Espíritos, De Amor e de Sombras), no Brasil falar sobre os crimes de militares e de canalhas sádicos atuantes no DOPS e no DOI-CODI causa "chiliques" em culpados e é ainda tabu, apesar da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA já ter dito duas vezes que a tal "Lei" da Anistia, que protege esses criminosos, não tem validade contra crimes contra a humanidade (torturas e assassinados oficiosos em um estado de excessão) e o Brasil deve sim abrir os arquivos da Ditadura.

Foi só uma novela aparecer com o tema ("Amor e Revolução", do SBT) para que algumas de suas excelências da caserna se sentissem agredidos. Ora, agredidos foram os estudantes, os intelectuais, a democracia e a inteligência nacional com o golpe,cujas más-consequencias e rios de sangue ainda repercutem em nosso país. Quem não sente vergonha ao tratamento dados pelos ditadores a um Paulo Freire, a um Darcy Ribeiro, a um Hélio Fernandes, a um Geraldo Vandré ou a um Dom Hélder Câmara? Por que, ao contrário da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Paraguai, o Brasil não pode enfrentar a verdade dessa "pagina infeliz de nossa História"?

Os porões da ditatura, com seus "paus-de-arara" e suas "cadeiras do dragão" já eram conhecidos e comentados na Europa, como prova o excelente filme (francês) de Costa-Gavras, "Estado de Sítio", de 1973, que fala muito sobre as torturas correntes no Brasil, mostrando mesmo militares assistindo a um "show" de tortura, sob instrução de agentes dos EUA, tendo por trás a bandeira do Brasil.

Na verdade, seria mesmo um resgate e um serviço às Forças Armadas mostrar e provar que não eram todos os militares que concordaram com o Golpe e seus métodos, tendo alguns deles mesmo sido "afastados" das três armas por serem oposicionistas tanto ao Golpe Militar quanto das tortura, senão diretamente praticadas, estimuladas pela linha-dura fardada de extrema direita, contra civis.

Sobre a celeuma causada em alguns pela novela Amor e Revolução, enfim, segue trecho de uma reflexão do escritor Walcyr Carrasco, autor de novelas da Globo, extraído de seu blog:

Que mania temos de esconder tudo embaixo do tapete!

A novela “Amor e Revolução”, de Tiago Santiago (SBT), mal estreou e já causou apreensão entre os militares. O Judiciário não aceitou o questionamento da novela. Mas houve uma tentativa de tirar a novela do ar. Eu me pergunto: qual o problema? Já se sabe que houve tortura durante o governo militar. Temos uma presidente que foi, ela própria, vítima da tortura. Então, por que a oposição dos militares a uma novela que quer, simplesmente, retratar um momento da História?

Os governos militares e a guerrilha produziram obras de arte de alto nível em países próximos. O filme argentino “A História Oficial” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. A chilena Isabel Allende escreveu livros de reconhecimento internacional, como “A Casa dos Espíritos” e “De Amor e de Sombras”. E nós? Basta alguém tocar no tema e lá vem uma minicrise. Mas como projetar o futuro sem avaliar o passado?

Eu conheço jovens que não tem a menor idéia do que foi a Ditadura Militar. Pessoas sem consciência do que foi o país é que votam num palhaço para parlamentar, como se isso fosse engraçado. Não sabem valorizar a Democracia, que, com todos os seus problemas, ainda é a Democracia.

domingo, 24 de abril de 2011

A Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA Condena mais uma vez o Brasil pelos crimes da Ditadura Militar



E agora, Brasil?

Fábio Konder Comparato

A Corte Interamericana de Direitos Humanos acaba de decidir que o Brasil descumpriu duas vezes a Convenção Americana de Direitos Humanos. Em primeiro lugar, por não haver processado e julgado os autores dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver de mais 60 pessoas, na chamada Guerrilha do Araguaia. Em segundo lugar, pelo fato de o nosso Supremo Tribunal Federal haver interpretado a lei de anistia de 1979 como tendo apagado os crimes de homicídio, tortura e estupro de oponentes políticos, a maior parte deles quando já presos pelas autoridades policiais e militares.

O Estado brasileiro foi, em conseqüência, condenado a indenizar os familiares dos mortos e desaparecidos.
Além dessa condenação jurídica explícita, porém, o acórdão da Corte Interamericana de Direitos Humanos contém uma condenação moral implícita.

Com efeito, responsáveis morais por essa condenação judicial, ignominiosa para o país, foram os grupos oligárquicos que dominam a vida nacional, notadamente os empresários que apoiaram o golpe de Estado de 1964 e financiaram a articulação do sistema repressivo durante duas décadas. Foram também eles que, controlando os grandes veículos de imprensa, rádio e televisão do país, manifestaram-se a favor da anistia aos assassinos, torturadores e estupradores do regime militar. O próprio autor destas linhas, quando ousou criticar um editorial da Folha de S.Paulo, por haver afirmado que a nossa ditadura fora uma “ditabranda”, foi impunemente qualificado de “cínico e mentiroso” pelo diretor de redação do jornal.

Mas a condenação moral do veredicto pronunciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos atingiu também, e lamentavelmente, o atual governo federal, a começar pelo seu chefe, o presidente da República.

Explico-me. A Lei Complementar nº 73, de 1993, que regulamenta a Advocacia-Geral da União, determina, em seu art. 3º, § 1º, que o Advogado-Geral da União é “submetido à direta, pessoal e imediata supervisão” do presidente da República. Pois bem, o presidente Lula deu instruções diretas, pessoais e imediatas ao então Advogado-Geral da União, hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal, para se pronunciar contra a demanda ajuizada pela OAB junto ao Supremo Tribunal Federal (argüição de descumprimento de preceito fundamental nº 153), no sentido de interpretar a lei de anistia de 1979, como não abrangente dos crimes comuns cometidos pelos agentes públicos, policiais e militares, contra os oponentes políticos ao regime militar.

Mas a condenação moral vai ainda mais além. Ela atinge, em cheio, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República, que se pronunciaram claramente contra o sistema internacional de direitos humanos, ao qual o Brasil deve submeter-se.

E agora, Brasil?

Bem, antes de mais nada, é preciso dizer que se o nosso país não acatar a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, ele ficará como um Estado fora-da-lei no plano internacional.

E como acatar essa decisão condenatória?

Não basta pagar as indenizações determinadas pelo acórdão. É indispensável dar cumprimento ao art. 37, § 6º da Constituição Federal, que obriga o Estado, quando condenado a indenizar alguém por culpa de agente público, a promover de imediato uma ação regressiva contra o causador do dano. E isto, pela boa e simples razão de que toda indenização paga pelo Estado provém de recursos públicos, vale dizer, é feita com dinheiro do povo.

É preciso, também, tal como fizeram todos os países do Cone Sul da América Latina, resolver o problema da anistia mal concedida. Nesse particular, o futuro governo federal poderia utilizar-se do projeto de lei apresentado pela Deputada Luciana Genro à Câmara dos Deputados, dando à Lei nº 6.683 a interpretação que o Supremo Tribunal Federal recusou-se a dar: ou seja, excluindo da anistia os assassinos e torturadores de presos políticos. Tradicionalmente, a interpretação autêntica de uma lei é dada pelo próprio Poder Legislativo.

Mas, sobretudo, o que falta e sempre faltou neste país, é abrir de par em par, às novas gerações, as portas do nosso porão histórico, onde escondemos todos os horrores cometidos impunemente pelas nossas classes dirigentes; a começar pela escravidão, durante mais de três séculos, de milhões de africanos e afrodescendentes.
Viva o Povo Brasileiro!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Tortura é Crime Imprescritível contra a Humanidade


A Tortura (especialmente a oficiosa) é Crime Imprescritível contra a Humanidade... Mas no Brasil, sempre se dá um jeitinho....


A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou oficialmente o Brasil por sua responsabilidade pelos desaparecimentos de 62 pessoas, ocorridos entre 1972 e 1974, no meio do Araguaia, durante a estúpida Ditadura Militar que durou de 1964 a 1985.

Na justificativa da sentença, além de destacar a arbitrariedade e a truculência dos oficiais da ditadura, a Corte Interamericanda de Direitos Humanos declara que “as disposições da Lei de Anistia que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana e carecem de efeitos jurídicos” e determinha que o Estado brasileiro investigue penalmente os fatos por meio da Justiça ordinária. Assim, a Lei de Anistia a qual os saudosos da arbitariedade - incluindo alguns "juristas" civis que se beneficiaram com estado ilegal de então - tanto se apegam para encobrirem criminosos não representaria um obstáculo para a identificação e punição dos responsáveis por assassinatos e torturas. A Corte Interamericana já notificou a respeito de sua sentença o governo brasileiro, os representantes das vítimas e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Apesar de Condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, os torturadores da ditadura podem ainda ficar tranquilos.... Aqui não é a Argentina condenando um sórdido Videla, nem um Uraguai que decida passar a limpo os torturadores de seus anos de chumbo, nem muito um menos um Chile que busca resgatar o sangue acumulado por ordens de Pinochet.

Os filmes de Costa-Gravas, especialmente Estado de Sítio e Missing, o desaparecido, e as atitudes corajosas da Argentina e do Uruguai condenandos seus torturadores deveriam servir de inspiração e coragem aos brasileiros a resgatarem do esquecimento ao meno os nomes dos criminosos dos porões da Ditadura...

Vejamos, sobre o assunto, um texto de Fábio Konder Comparato, escrito em janeiro de 2011 (fonte: Blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim)


Há dois meses, exatamente em 24 de novembro de 2010, o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso conhecido como “Guerrilha do Araguaia”. A imprensa, o rádio e a televisão, como esperado, limitaram-se a noticiar o fato segundo o estilo de um famoso ministro da justiça do regime militar: “Sem comentários”.

Até aí, conforme o ditado, “tudo como dantes no velho quartel de Abrantes”; o qual, pelo visto, localiza-se em pleno centro de Brasília (DF).

O que espanta, porém, é que o novo governo federal, presidido por uma vítima da repressão criminosa comandada pela gente fardada no poder, resolveu proceder como se nada tivesse a ver com isso. “Fomos mesmo condenados? Bem, ainda não tivemos tempo de nos ocupar do caso.”

Vale a pena, pois, indicar a seguir os principais pontos conclusivos dessa sentença condenatória, que mostra o caráter invariavelmente dúplice das classes dirigentes brasileiras: civilizadas por fora e selvagens por dentro. Os trechos em itálico são transcrições literais do teor do acórdão.

1) “As disposições da Lei de Anistia brasileira [tal como pervertidamente interpretada pelo Supremo Tribunal Federal], as quais impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos, são incompatíveis com a Convenção Americana de Direitos Humanos e carecem de efeitos jurídicos”. Em consequência, decidiu a Corte que o Estado brasi-leiro tem o dever de submeter os agentes públicos que praticaram tais vio-lações às sanções penais previstas em lei, mediante processos a serem movidos perante a justiça ordinária e não no foro militar. A Corte fez questão de precisar que, malgrado o tempo decorrido, os réus não podem invocar a prescrição penal a seu favor.

2) “O Estado brasileiro deve oferecer o tratamento médico e psicológico ou psiquiátrico que as vítimas requeiram.”

3) O acórdão da Corte em seu inteiro teor, salvo as notas de rodapé, deve ser publicado no Brasil, no Diário Oficial.

4) Dentro de um ano, a partir da notificação da decisão condenatória, o Estado brasileiro deve realizar um ato público de reconhecimento de sua responsabilidade internacional, a respeito dos fatos ocorridos durante a chamada “Guerrilha do Araguaia”, em presença de altas autoridades e das vítimas.

5) O Estado brasileiro deve implementar, em prazo razoável, um programa ou curso permanente e obrigatório de direitos humanos, dirigido a todos os níveis hierárquicos das Forças Armadas.

6) O Estado brasileiro deve tipificar em lei o crime de desaparecimento forçado de pessoas.

7) “O Estado brasileiro deve continuar desenvolvendo as iniciativas de busca, sistematização e publicação de toda a informação sobre a Guerrilha do Araguaia, assim como de informação relativa a violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar, garantindo o acesso à mesma.”

8 ) O Estado brasileiro deve pagar às vítimas da “Guerrilha do Ara-guaia”, ou a seus familiares, uma indenização por dano material e moral.

9) O Estado brasileiro deve realizar uma convocatória em, ao menos, um jornal de circulação nacional e um da região onde ocorreram os fatos da “Guerrilha do Araguaia”, a fim de que, por um período de 24 meses, contado a partir da notificação da decisão condenatória, os familiares das vítimas apresentem elementos para identificação das pessoas desaparecidas.

Em conclusão, declarou a Corte que ela irá supervisionar o cumprimento integral de sua decisão, e determinou que, dentro de um ano, a partir da notificação do acórdão, o Estado Brasileiro apresente à Corte um relató-rio sobre as medidas adotadas para a sua execução.

Se o Estado Brasileiro não apresentar tempestivamente esse relatório, ou apresentá-lo sem justificativa aceitável quanto ao não-cumprimento de qualquer parte da condenação que lhe foi infligida, o nosso país voltará ao banco dos réus.

Mas não se alvoroce, caro leitor. Os nossos oligarcas têm uma longa experiência para enfrentar situações como essa. No Brasil, o país legal é sempre muito diferente do país real. Durante quase meio século, mantivemos a ilegalidade oficial do tráfico negreiro (“para inglês ver”) e a sua cruel efetividade no dia-a-dia, com o beneplácito das autoridades governamentais, dos legisladores e dos magistrados. Até hoje, como todos sabem, inclusive os figurões de Brasília, ainda há trabalho escravo em nosso país (até mesmo dentro de bancos e Ministérios Públicos).

Acontece que, como diz o ditado, “a morte liquida todas as contas”. Vamos obviamente esperar que os últimos assassinos, torturadores e estupradores, sobreviventes do regime militar, entreguem suas almas a Deus (ou ao demônio), para informarmos a Corte Interamericana de Direitos Humanos de que sua decisão (é bem o caso de dizer) foi religiosamente cumprida.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O significado da Páscoa para o Capitalismo



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

 Tanto quanto o Papai Noel, estranho personagem fruto de uma deturpação da imagem de São Nicolau e que foi popularizado pela Coca-Cola e encampado pelo "mercado" que tanto fez para encobrir o significado do Natal, também a Páscoa há muito deixou de ter qualquer sentido de reflexão espiritual. O mais irônico é que boa parte desta perda de sentido foi promovida por "cristãos" atrelados a uma forma de religião bastante ligado ao espírito do capitalismo...

 A atual Páscoa deixou de ser um momento de reflexão/meditação sobre o significado de uma vida exemplar e do sacrifício por uma ideia, por uma visão de sociedade e humanidade igualitária, de uma esperança de vida para além da vida para se tornar puramente festa (para supermercados, agências de viagens e lojas)...

 Então, dentro do espírito do capitalismo (tão associado com a ética calvinista que tanta influencia exerce nas seitas midiáticas pentecostais e mercantis de hoje), nada melhor que retirar o sentido espiritual em prol de um comercial... Mais uma tática mercadológica dentre tantas outras...

 E um Coelho aparece "pondo ovos", que na verdade é uma imbecilização mercadológica, já que são comprados a preços absurdos (pelos que podem) para ajudar no aumento do colesterol, assim como os vinhos importados vendidos no período podem igualmente ajudar nosso trânsito tão harmonioso...

 E, afinal, onde fica Cristo para os cristãos, ou a libertação do Egito, para os judeus? Bem, não se deve pensar neles nem nesta época, e melhor ainda se não se pensar sempre... vai que pensar e refletir em seu exemplo humano e espiritual faça questionar a febre de consumo vazio, não é verdade?

Especuladores e Bancos querem mais "arrocho" salarial para "conter a inflação"






É sempre e sempre a mesma velha ladainha para encobrir outros interesses... Em "época de inflação", nada melhor que maltratar os trabalhadores e garantir os juros nas alturas... Esquecem que a inflação, quando há, é resultante de uma sopa que tem muito de especulação e ganância, além de motivação política (especialmente de quem quer "arrochar" salários).

Os investidores da bolsa e os bancos (ah, sempre eles!) adoram... Quais as instituições que mais lucram no Brasil (e no mundo)? Agiotas da jogantina das bolsas e banqueiros... Quem criou a crise de 2008? Agiotas das bolsas e banqueiros... Quem mais ganha com as maiores taxas de juros do mundo? Adivinhem...

Quem paga a conta? Sempre e sempre os inocentes: os trabalhadores...
Se arrocho salarial resolvesse inflação, os anos 80 teriam sido uma maravilha, não teria havido inflação com mais de três dígitos e o Brasil seria do primeiro mundo há décadas...
Mas, claro, Arnaldo Jabor, Boris Casoy, os Civitas e congêneres farão de tudo para que tal engabelação neoliberal e a velha mentira de que a culpa de tudo é do povo, de tão repetida (e de tão interesse da poderosa minoria), soe como verdade....

Veja o que diz isso o deputado Brizola Neto em seu blog Tijolaço.com:

O "mercado" quer arrocho salarial

A turma do mercado financeiro, toda ela muito bem remunerada, acha que a inflação é culpa dos pobres, que pegaram esta estranha mania de querer comprar comida e outras coisas supérfluas.

A Folha publica declarações de economistas destas consultorias.

O economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini, diz que o aumento do salário-mínimo do ano que vem (algo em torno de 13%), “vai impulsionar o consumo das classes de baixa renda, que consomem mais itens como alimentos e bens não duráveis. Quando aumenta a demanda, a tendência é que o preço também suba.”

Já o economista chefe do banco West LB, Roberto Padovani, diz que o desequilíbrio fiscal como efeito colateral do reajuste. Isso porque o salário mínimo corrige os benefícios dos aposentados e pensionistas que recebem o piso.

A receita de ambos? Juros mais altos, para restringir o consumo e, claro, aumentar os ganhos dos aplicadores financeiros. Um deles chega a dizer que é “o que está no manual”.

A mesma que vinha sendo aplicada há décadas e deixou o Brasil de “roda presa”.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Qual é a felicidade possível?



Leonardo Boff


A felicidade é um dos bens mais ansiados pelo ser humano. Mas não pode ser comprada nem no mercado, nem bolsa, nem nos bancos. Apesar disso, ao redor dela se criou toda uma indústria que vem sob o nome de auto-ajuda.

Com cacos de ciência e de psicologia se procura oferecer uma fórmula infalível para alcançar “a vida que você sempre sonhou”. Confrontada, entretanto, com o curso irrefragável das coisas, ela se mostra insustentável e falaciosa.

Curiosamente, a maioria dos que buscam a felicidade intui que não pode encontra-la na ciência pura ou nalgum centro tecnológico. Vai a um pai ou mãe de santo ou a um centro espírita ou freqüenta um grupo carismático, consulta um guru ou lê o horóscopo ou estuda o I-Ching da felicidade. Tem consciência de que a produção da felicidade não está na razão analítica e calculatória mas na razão sensível e na inteligência emocional e cordial. Isso porque a felicidade deve vir de dentro, do coração e da sensibilidade.

Para dizer logo, sem outras mediações, não se pode ir direto à felicidade. Quem o faz, é quase sempre infeliz. A felicidade resulta de algo anterior: da essência do ser humano e de um sentido de justa medida em tudo.

A essência do ser humano reside na capacidade de relações. Ele é um nó de relações, uma espécie de rizoma, cujas raízes apontam para todas as direções. Só se realiza quando ativa continuamente sua panrelacionalidade, com o universo, com a natureza, com a sociedade, com as pessoas, com o seu próprio coração e com Deus.

Essa relação com o diferente lhe permite a troca, o enriquecimento e a transformação. Deste jogo de relações, nasce a felicidade ou a infelicidade na proporção da qualidade destes relacionamentos. Fora da relação não há felicidade possível.

Mas isso não basta. Importa viver um sentido profundo de justa medida no quadro da concreta condição humana. Esta é feita de realizações e de frustrações, de violência e de carinho, de monotonia do cotidiano e de emergências surpreeendentes, de saúde, de doença e, por fim, de morte.

Ser feliz é encontrar a justa medida em relação a estas polarizações. Dai nasce um equilíbrio criativo: sem ser pessimista demais porque vê as sombras, nem otimista demais porque percebe as luzes. Ser concretamente realista, assumindo criativamente a incompletude da vida humana, tentando, dia a dia, escrever direito por linhas tortas.

A felicidade depende desta atitude, especialmente quando nos confrontamos com os limites incontornáveis, como, por exemplo, as frustrações e a morte. De nada adianta ser revoltado ou resignado, mas tudo muda se formos criativos: fazer dos limites fontes de energia e de crescimento. É o que chamamos de resiliência: a arte de tirar vantagens das dificuldades e dos fracassos.

Aqui tem seu lugar um sentido espiritual da vida, sem o qual a felicidade não se sustenta a médio e a longo prazo. Então aparece que a morte não é inimiga da vida, mas um salto rumo a uma outra ordem mais alta. Se nos sentimos na palma das mãos de Deus, serenamos. Morrer é mergulhar na Fonte. Desta forma, como diz Pedro Demo, um pensador que no Brasil melhor estudou a “Dialética da Felicidade”(em três volumes, pela Vozes):
”Se não dá para trazer o céu para terra, pelo menos podemos aproximar o céu da terra”.

Eis a singela e possível felicidade que podemos penosamente conquistar como filhos e filhas de Adão e Eva decaídos.

Os "Intocáveis" do Mercado ganham com o roubo... e os Trabalhadores pagam cada vez mais a conta



Texto de Brizola Neto

Na crise de 1929, eles se jogaram das janelas dos prédios.

Na crise dos anos 80, centenas de executivos foram parar na cadeia, pelos prejuízos causados.

Na crise de 2008, só comparavel ao “crack” da bolsa nova-iorquina no citado 1929, apenas uma meia-dúzia de dirigentes de empresas que quebraram responde a algum tipo de processo. A grande maioria deles, ao contrário, recebeu seus “bônus de desempenho”, enquanto as autoridades públicas, no máximo, lamentavam que os culpados fossem, ainda ,premiados.

Hoje, as articulistas Gretchen Morgenson e Louise Story publicram, na quinta-feira artigo no New York Times, reproduzido hoje pela Folha sobre esta nova casta de “intocáveis” .

“Trata-se de uma pergunta feita repetidamente em quase toda parte, nos Estados Unidos: por que, depois da confusão financeira que resultou em centenas de bilhões de dólares em prejuízos, nenhum dos participantes mais renomados do desastre foi alvo de processo?

E responder a essa pergunta nada tem de simples.

Determinar se os promotores públicos e as autoridades regulatórias foram agressivos o bastante em seus esforços de punir delitos será causa de debate por muito tempo. Todos alegam ter feito o melhor que podiam sob circunstâncias difíceis.

Mas passados diversos anos da crise financeira, causada em larga medida por empréstimos irresponsáveis e por operações de risco excessivo empreendidas pelas instituições financeiras, nenhum executivo importante foi alvo de acusações criminais ou detido, e não emergiu um esforço coletivo do governo para punir os culpados.”

Nem emergirá. A divindade do “mercado” tranforma seus operadores em sacerdotes – e regiamente pagos – que são saudados pelos governos e pela mídia como oráculos, de onde provêm a revelação e a verdade. E o sofrimento das dezenas de milhões de trabalhadores que, pelo mundo afora, foram lançados ao desemprego, ah, é uma fatalidade….

sábado, 16 de abril de 2011

O conhecedor que se desconhece nada sabe de fato


"Nós, que somos homens do conhecimento, não conhecemos a nós próprios; somos de nós
mesmos desconhecidos, e isso não é sem ter um motivo.

"Nunca nós nos procuramos: como poderia,
então que nos encontrássemos algum dia? Com razão alguém (Cristo) disse: "onde está o teu
tesouro, aí estará também o teu coração"
. Nosso tesouro está onde se assentam as colméias
do nosso conhecimento.

"Estamos sempre no caminho para elas como se fôssemos animais alados desde o nascimento e recolhedores do mel do espírito. Nos preocupamos de coração propriamente de uma só coisa - de "levar para casa" alguma coisa. No que se refere, por demais, à vida, às denominadas "vivências" - quem de nós tem sequer suficiente seriedade para elas? Ou o suficiente tempo? (A vida não é "coisa" fácil de ser apropriada e muito menos de ser "racionalizada")

"Jamais temos prestado bem atenção 'ao assunto': ocorre precisamente que não temos ali nosso coração - e nem sequer nosso ouvido!

"Antes bem, assim como um homem divinamente distraído e absorto a quem o sino acaba de estrondear fortemente os ouvidos com suas dozes batidas de meio-dia, e de súbito acorda e se pergunta "o que é que, em realidade, soou?", assim também nós abrimos, às vezes, os ouvidos já depois de ocorridas as coisas e nos perguntamos, surpreendidos e perplexos de tudo, "o que é que, em realidade, vivemos?"

"E também nos perguntamos "quem somos nós realmente?" e nos pomos a contar, com atraso, como temos dito, as doze vibrantes campainhas de nossa vivência desapercebida, de nossa vida, de nosso ser - ah! e nos equivocamos na conta...

"Necessariamente permanecemos estranhos a nós mesmos, não nos entendemos, temos que nos confundir com outros, e, em nós servirá sempre a frase que disse "cada um é para si mesmo o mais distante"... (Ainda assim) continuamos a nos considerar "homens do conhecimento"."

Friedrich Nitzsche, in Genealogia da Moral (com adaptações)

O preço de voar mais alto...



É fato
que se quisermos voar mais alto
iremos ficar cada mais livres, ou talvez mais sós...
Quanto mais alto, mais distante estaremos dos que ficam...

E quanto mais alto quisermos nos elevar
menor pareceremos aos olhos dos que não sobem
e preferem no chão ficar...

Como ocorreu com a gaivota Fernão,
Ousar voar mais alto pode despertar
pouca admiração e, quase sempre,
excesso de incompreensão


Carlos Guimarães

Melhor está do lado certo que estar de lado...


Um dia a gente vai então perceber que não se pode prender pássaros e nem corações e que,
estar junto não é estar tão só ao lado,
mas sim do lado de dentro.

Carl Rogers

Na dor da solidão, a liberdade....


Cada um só pode ser ele mesmo,
inteiramente,
apenas pelo tempo em que estiver sozinho.
Quem, portanto, não ama a solidão,
também não ama a liberdade:
apenas quando se está só é que se está livre.


Arthur Schopenhauer

É o ser humano realmente um sensível ser pensante?



Todos os dias, o sol apresenta raios dourados ao "nascer" e ao "se por"... Não importa se a Terra é quem gira: a beleza que transcende palavras se faz presente tingindo de fios de ouro as núvens, a paisagem... Beleza gratuita e a cada dia mais escondida por prédios e fábricas, metáforas concretas de nossa própria mente compartimentada e encadeada num racionalismo que é reducionista e que despreza a oferta gratuita de nossa estrela... Ah como são poucos os que se dão ainda a chance ver a beleza reconfortante da natureza!

Todos os dias, o azul do céu fica mais vivo ao amanhecer e ao anoitecer... A maioria só pensa em largar um trabalho massante e voltar para casa para ver tv... Ver a "vida" de outros na tela nos parece fazer esquecer da monotonia de nossa própria vida desvitalizada, burocratizada, cada um na sua sala... E nos consideramos seres sociais...

Por vezes, apesar do cimento, do asfalto, dos carros, do plástico, ainda surgem flores ousadas e belas em alguma pracinha esquecida onde, há tempos, as pessoas se reuniam em manhãs e à noitinha para se curtir e sentirem como é bom estar com amigos, hoje separados, entre outras coisas, pelas TVs ...

Choro por ti, florzinha humilde, que, se ainda notada, poderá mais provavelmente ser arrancada para ser logo fora jogada, senão de antemão como "mato" daninho considerada. Nós mesmos, florzinha, assim agimos por nos tornamos e nos tornarem objetos tão facilmente descartáveis... de nós mesmos arrancamos a delicadeza e a possibilidade de florir...

Entretanto, faço também minhas as palavras de Miguel Torga, quando clamava:

"Homem novo que vens, olha a beleza!
Olha a graça que o teu instinto pede.
Tira da natureza
O luxo eterno que ela te concede."

Finais de semana na praça já foram, um dia, momentos mágicos: depois da missa, as pessoas lá iam para se verem e ousarem um inocente flerte, ou para rever colegas de escola, de outros lugares, para comentarem fatos, sonhos e planos.

Não há tanto tempo, nossas casas tinha muros baixos e amplas janelas quase sempre abertas: convidávamos as pessoas a entrar...

Hoje, fechamos o rosto, preferimos ir a Shoppings orgulhosos de estarmos trancados em grandes carros, pagando estacionamento para comprar milhões de quinquilharias inúteis a preços superfaturados... Nos homogeneizamos em tais lugares para preencher o vazio de não ter ninguém que nos escute. E neles, as novas "praças" pagas, só temos olhos para a moça que se pareça com uma estrela, dispensando o conteúdo, ou um rapaz que demonstre ter "$aber", não importando o que quer ser para além do parecer... E enchemos o peito para dizermos: "somos modernos".

Até há um tempo atrás, íamos a clubes nadar em piscinas e torcer pelos times das escolas, reencontrar amigos, brincar e jogar.... O importante era estar com pessoas, conhecer novas pessoas. Hoje, é melhor fazer parte de um grupinho fechado, nem sempre de pessoas que gostamos... Agora, condicionando-nos a pagar por "abadás" e "passaportes" para nos padronizar-mo-nos de uma "classe" definida e ouvir o mesmo lixo da "moda" fabricada, construída para ser logo esquecida...

Houve tempo em que estudante discutia política, lia Marx e Sartre, cantava Chico, admirava os Beatles, apreciava Beethoven, se emocionava com Chopin e não perdia um filme do Godard, entendia a mensagem de um Renato Russo... sonhava com um mundo de igualdade, acreditava que seria mais gente se todos pudessem também ser gente... Tom & Jerry e a Pantera cor-de-rosa eram desenhos inteligentes... Hoje, se um estudante precisa ser um vencedor solitário e se ler ao menos três livros por ano no estilo Harry Potter é considerado "intelectual"....

Com tudo isso, dá para acreditar que a Teoria da Evolução das Espécies funciona para os humanos do chamado Mundo Industrial?

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

domingo, 10 de abril de 2011

O racionalismo sem coração, assim como o fanatismo cego, mata....




"Por mais terríveis que sejam as ortodoxias religiosas, as ortodoxias científicas são muito mais terríveis."

Miguel de Unamuno

Nossa civilização se orgulha de sua tecnologia e de seu conhecimento. Não percebe que um e outro perdem a razão de ser se aplicados apenas à exploração e ao domínio, seja do próprio homem, seja da natureza.
A ciência que se financia para o lucro, maquiada de ciência pura, não existe enquanto capacidade de se estar ciente de suas conseqüências... Transforma-se em cientismo ou cientificismo, algo perigoso se não leva em conta as conseqüências sociais de suas pesquisas, de suas produções, em um mecanismo de defesa que racionaliza o negativo destacando o pretensamente positivo.

Nesse sentido, ensina ainda o poeta e filósofo espanho Miguel de Unamuno (1864-1936): "A ciência tira a sabedoria das pessoas e costuma convertê-las em fantasmas carregados de conhecimentos."

A razão puramente instrumental é utilizada muitas vezes como arma, como meio de previsão e controle, como "bem de consumo", como mais um meio de produção (para benefício de alguns), como mercadoria cujos cérebros produtores podem ser comprados. A ela devem-se juntar o pensamento crítico, a educação para a autonomia, a responsabilidade sócio-ambiental e a sensibilidade poética, se quisermos ainda ser gente...

Tanto quanto o excesso de informação - com os quais somos bombardeados pela mídia comercial, estimulando-nos à compra de supérfluos nocivos ou de tranqueiras que poluem, quanto para a modelagem do comportamento político -, o excesso de tecnologia é muitas vezes prejudicial se apenas feito para o mercado, por explorar demais, por poluir de mais, por destruir demais, por isolar demais, por iludir demais...

Pensem um pouco nisso...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Qual a razão da Vale ser chamada de empresa privada? E os minérios, as terras, as riquezas do Solo? Provas da Privataria Tucana



Análise do jornalista Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro

Qual a razão da Vale ser chamada de empresa privada? De quem eram ou são os minérios raríssimos, as terras vastíssimas, as riquezas incalculadíssimas? Só por que um cidadão destrambelhado e globalizado doou tudo? E o Bradesco?

Helio Fernandes

Não existe na coleção de escândalos, corrupção, roubo do patrimônio nacional, nada parecido com a D-O-A-Ç-Ã-O da Vale do Rio Doce. Não existe país, em qualquer parte do mundo, que tenha patrimônio de minérios igual ao Brasil. De alguns deles, mais de 90 por cento estão no Brasil, acelerando a inveja, a cobiça e a posse das chamadas grandes potências.

Pode ser dito, sem qualquer exagero, que a Vale nunca foi brasileira, no sentido de contribuir para o nosso desenvolvimento, progresso, prosperidade do país e do seu povo.

Desde 1950 até 1964, as riquezas extraídas da terra eram propriedade da Vale, que por sua vez era e continua sendo propriedade de um único senhor, Eliezer Batista. Veio o golpe de 64, ele, lógico, se acumpliciou, participou, exauriu essas riquezas a partir do riquíssimo e raríssimo manganês do Amapá.

Até a D-O-A-Ç-Ã-O, ninguém ousava chamar a empresas de minérios, de privada ou particular. Mas era como se fosse. Para a prosperidade nacional, a Vale contribuía com “zero ao quadrado”. O genial Barão de Itararé disse do presidente da Vale do Rio Doce: “Bebeu o rio, comeu o doce, deixou o vale na caixa”.

Mais do que genial, era lancinante. A céu aberto, nossas riquezas minerais eram contrabandeadas, enriqueciam os Batistas, os que já existiam e os herdeiros, que encontraram tudo preparado. Não vou repetir tudo o que venho escrevendo (como tenho dito, desde 1956 pelo “Diário de Notícias”), fui o primeiro a escrever artigo e coluna diários, desmascarando os que enriqueciam com a riqueza nacional. E nada aconteceu.

Agora, vou tratar apenas da Vale, DOADA, transacionada, roubada. O governo entregou tudo por um preço miserável, e ainda mais grave: “recebendo” com o que chamei de “moedas podres”. Rebotalhos de títulos, que valiam UM CENTÉSIMO do que estava escrito, desmoralizadíssimos, mas que o DOADOR aceitava pelo valor de face. Façam as contas, imaginem os prejuízos para o país.

Nos 50 anos que se passaram entre 1950 e a DOAÇÃO, a Vale, estatal do ponto de vista administrativo, era apenas uma fábrica de LUCROS FAMILIARES. Depois da DOAÇÃO, a empresa continuou fabricando lucros familiares, mas aí passou a exarcebar, a aumentar, a crescer espantosamente a cobiça dos mais diversos grupos, pessoas e bancos protegidos por todos os governos. Bancos que dominam o Brasil, empobrecendo-o assombrosamente.

Começaram então as combinações acionárias, tantos por cento de um lado, outros tantos de novos ajustes, cada qual acelerando as compras e aquisições de ações, para que na soma geral pudessem se considerar majoritários.

Concluam então, estarrecedoramente; como disse no início dessas notas, tudo era do povo, terras, minérios, riquezas. Some-se a isso, o mais vergonhoso e supersuperescandaloso: a maioria das ações pertencia à PREVI, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Foram se juntando, aumentando o poder na empresa, favorecendo os minoritários, depreciando a potencialidade da majoritária Previ, que foi se submetendo inacreditavelmente a todas as manipulações, que só tinham como objetivo diminuir o seu poder de fogo. Que aconteceu mesmo.

Começou então a batalha, perdão, a guerra pelo controle interno da Vale. FHC DOOU, Lula ENCAMPOU. Não fez nada do que havia declarado na campanha presidencial de 2002. A primeira que venceu.

Surgiu então esse desconhecido Roger Agnelli (nome de família do dono da Fiat da Itália), ninguém se interessou em desvendar, outros fingiam que era mesmo parente. Até hoje, dois mandatos ininterruptos, mistério total: por que Lula não cumpriu o compromisso de DESDOAR não só a Vale, mas todo o resto do nosso patrimônio? Que vergonhosamente passou a ser P-R-I-V-A-D-O.

Aí surgiu esse Roger Agnelli, patrocinado pelo Bradesco. Dele só se sabia que era funcionário do banco, que provavelmente por causa disso, foi nomeado. Mas não era personagem destacado na constelação interna do banco voraz e sem escrúpulos.

Agnelli assumiu e pouco depois já morava na emblemática Vieira Souto. Convidou o presidente Lula para jantar, este foi, quase fecharam a Zona Sul, para que Lula pudesse jantar em calma, com a potência que surgia.

Dúvidas sobre a alegada e divulgada nomeação de Agnelli para presidente da Vale. Motivo: na época, o Bradesco era minoritaríssimo na Vale, não dava para indicar, referendar e controlar Agnelli ou qualquer outro nome para presidente da riquíssima Vale do Rio Doce. (Só que quando os outros estão indo, o pessoal do Bradesco já está vindo, triunfante e cheio de troféus).

Como “seu” Brandão é ótimo em aritmética (que ele chama de matemática, desculpem, isso não altera a sua formidável obsessão por lucros ávidos e ilícitos), fez as contas, concluiu: “Precisamos de mais 200 milhões em ações, para derrubar Agnelli”. (Já contei isso há meses, ainda nem se sabia da derrubada de Agnelli).

De banco para banco, o Bradesco conseguiu “empréstimo” no BNDES. Precisava de 200 milhões, “arranjou” 242 milhões, a 4 por cento ao ano, aceita o que quiserem. O que sobrar compra de “bônus” do governo, que recompensa com juros de 11,75% (até agora, vai aumentar, não demora passará de 12 por cento).

***

PS – Não existe a menor veracidade no que espalharam: “O governo há 10 anos tem acordo para manter Agnelli como presidente da Vale. Ha!Ha!Ha! É o máximo da desinformação.

PS2 – Agnelli recebia de “salários” 15 milhões por ano, mais de 1 milhão e 200 mil por mês, nem Ronaldinho Gaúcho e Neymar ganham isso.

PS3 – Será o salário do “presidente” que está entrando? E o Bradesco, mandará tanto ou mais na Vale, quanto mandava com Agnelli? Por enquanto, mistério total.

PS4 – Mas acredito: até agora, Dona Dilma não é Lula.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Vamos agora brincar de ser gente?




“Vamos brincar de imaginar
um mundo diferente?
As pessoas deixam de ser coisas
e passam a ser gente”.


Roberto Freire (1927-2008)

Um pouco mais de verdade sobre os Horrores da Ditadura



Segue texto do excelente jornalista Hélio Fernandes sobre o pouco que se sabe sobre uma "página infeliz de nossa História".... Sobre isso, temos muito a aprender com a Argentina, que teve a coragem e o vigor de caçar criminosos contra a humanidade em situação semelhante...

Carlos


Já se falou muito sobre as mortes no Araguaia. Os assassinatos covardes de guerrilheiros. Mas agora o repórter Lucas Figueiredo faz revelações inéditas e sensacionais: índios torturados, cortavam a cabeça de homens e mulheres, e morriam também.

Helio Fernandes, jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro


Ainda está para ser contada a verdadeira história sangrenta e criminosa, que se travou no Araguaia. Na verdade, os crimes praticados pelos militares em toda a repressão começada timidamente em 1964, que foi se agravando com o tempo, e se transformou em barbaridade, com base no AI-5, ainda são um mistério.

Alguma coisa, mínima, foi contada sobre o Doi-Codi no Rio e que em São Paulo se chamou Operação Bandeirantes, depois reduzida e sumarizada como Oban. Mas como Rio e São Paulo eram mais perto, se soube um pouco. Muito ficou escondido, os principais órgãos de comunicação davam cobertura aos assassinatos fardados e até mesmo colaboravam nas mortes impiedosas, selvagens, monstruosas.

O assassinato covarde e bárbaro do jornalista Wladimir Herzog, praticado ali em São Paulo, só teve uma parte divulgada, pois se sabia que ele não era suicida, e da forma como foi encontrado seu corpo, seria impossível ter se matado. E a repercussão maior se deve ao general Ernesto Geisel, que merece muitas críticas, mas não era torturador nem protegia torturadores.

Sua decisão imediata de demitir o comandante do II Exército, general (de 4 estrelas) Ednardo Davila Mello, garantiu a repercussão nacional. E o aparato militar para a missa de sétimo dia, contada pelo bravo D. Evaristo Arns, mostrou que o Exército se julgava culpado pelo assassinato. Primeiro, não queria autorizar a missa na catedral. Depois, temendo represálias, cercaram a Catedral com espantosas tropas militares, incluindo “atiradores de elite”, no alto dos edifícios mais próximos.

Nem mesmo a História desvendará esses crimes impiedosos. Quem sabe, inesperadamente aparece uma testemunha, um depoimento, uma revelação, como faz agora o repórter Lucas Figueiredo. Com fatos rigorosamente novos, destinados a repercussão nacional. É preciso esclarecer tudo, mostrar o que aconteceu.

Em 7 páginas (cheias de fotos, da revista mensal GQ), Lucas Figueiredo conta a história dos índios aikevara, pouca gente ouviu falar deles. São eles mesmos que contam: “Eram levados para o interior (os militares não sabiam andar na selva), diziam, “para matar macacos”. Mas era para “cortar a cabeça de homens e mulheres, guerrilheiros”.

Vou transcrever algumas das afirmações do repórter Lucas Figueiredo, que confirmam com dados e datas o pouco que se sabia. Sobre os índios pacíficos, não sabíamos de coisa alguma.

Tudo que está abaixo, é citado entre aspas, trabalho de alta qualidade do repórter Lucas Figueiredo.

1 – “Dois anos depois do golpe de 64, o PCdoB começou a infiltrar guerrilheiros no Araguaia. Objetivo: preparar a luta armada para derrubar a ditadura”.

2 – “Em 1972, as Forças Armadas descobriram a guerrilha do Araguaia”.

3 – “Havia então 69 insurretos divididos em 8 bases, entre os municípios de Marabá e Xambicá. Mais 7 guerrilheiros estavam a caminho”.

4 – “Ainda em 1972, o Exército promoveu duas operações antiguerrilhas com 3 mil e 400 combatentes. Foi a maior mobilização de tropas desde a II Guerra Mundial.”

5 – “Em 1973 o Exército deflagrou (textual) uma terceira campanha contra os guerrilheiros, a Operação Marajoara”.

6 – “56 guerrilheiros foram caçados por 250 militares de elite”.

7 – “No final de 1974 a guerrilha estava dizimada. E o Exercito jamais entregou os corpos, ou divulgou o que fez deles”.

8 – “Nestes 37 anos desde o fim do conflito, dos 60 guerrilheiros mortos, apenas 2 foram encontrados (Maria Lucia Petit e Bergson Gurjão Farias)”.

9 – “Em 2003, a Justiça condenou a União a informar o paradeiro dos mortos”. (HF: o Exército não ligou para a Justiça. Por que iria ligar, se sempre foi mais forte e mais poderoso?)

10 – “Em 2009, o Ministério da Defesa criou o Grupo de Trabalho Tocantins, cujo objetivo ou missão é devolver às famílias os corpos dos guerrilheiros”. (HF: essa missão não tem tempo ou data para acabar o trabalho. E até agora, não “descobriu” nenhum corpo. Nem vai “descobrir”).

11 – “Os civis recrutados para esse missão trágica eram recompensados (HF: em dinheiro), por cada guerrilheiro morto”.

12 – Lucas Figueiredo diz que o pagamento de recompensa pela mortes dos guerrilheiros é garantido e confirmado por Hugo Studart, historiador e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).

13 – Depoimento do índio Warani, testemunha do Araguaia: “Nos levaram para a selva, dizendo que era para caçar macacos. Mentira. Era para caçar guerrilheiros”.

***

PS – Sobre o Araguaia, é até agora o mais recente e importante libelo.

PS2 – Ficará sem resposta, as vítimas nem querem mais punição e sim a devolução dos corpos, para serem sepultados como se tivessem morrido normalmente.

PS3 – Também não adiantaria exigir punição, estão todos praticamente mortos. E dos generais que comandavam, estavam no alto da pirâmide, não há um só que esteja vivo.

quarta-feira, 06 de abril de 2011 | 05:10

Uma forte letra sobre a hipocrisia de uma sociedade de aparências




Cidadão

Esta canção, composta por Lúcio Barbosa e Zé Geraldo, é um soco na hipocrisia de uma sociedade que vive das aparências.

Composta da década de 70, fez algum sucesso e é um contraponto inteligente às aberrações de hoje.

A canção Cidadão foi gravada, entre outros, por Zé Ramalho, cujo video pode ser visto no final deste texto.

Abraços,

Carlos

Cidadão

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar

Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"


Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...

Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar

Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"


Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...

Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também

Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar!

Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar!

Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar!"