segunda-feira, 29 de abril de 2024

Jesus de Nazaré e os cristianismos criados em seu nome – o que têm ambos em comum?, por Dora Incontri

Parece que a mensagem é tão bela, tão inédita e inovadora, fala tão profundamente à alma humana, que muitos usurpadores se vestem dela

Cristo em mosaico em igreja ortodoxa em Chipre.


Jesus e os cristianismos – o que têm em comum?

por Dora Incontri, no Jornal GGN:

Há uma tendência hoje a se colocar na conta do cristianismo todas as mazelas de nossas opressões. O patriarcado? O projeto colonial? O racismo? A repressão sexual? Tudo cabe no discurso de rejeição raivosa da mais numerosa tradição espiritual do planeta (quase empatando com o islamismo, que fica por enquanto em segundo lugar). Mas há que se perguntar com honestidade: não havia patriarcado na Grécia, em Roma, na China, na Índia e mesmo em muitos lugares da África? Há quem queira defender o matriarcado africano, mas ele não foi e não é generalizado. E as discriminações étnicas, as conquistas colonizadoras e as religiões promovendo a repressão do corpo? Tudo isso já não houve em outras culturas e outros momentos históricos em que cristãos não estavam presentes?

Por outro lado, quando falamos em cristianismo, de que cristianismo se trata? Até o Concílio de Niceia (325 D.C.) havia dezenas de denominações cristãs: marcionistas, pelagianos, arianos, gnósticos, montanistas, docetistas e outras tantas, incluindo a ortodoxia vencedora e imposta, a católica apostólica romana, que silenciou a ferro e fogo todas as outras correntes, declaradas como heréticas. Isso sem mencionar a Igreja do Oriente, a partir do Império Bizantino, onde se enraizaram as Igrejas ortodoxa grega e a ortodoxa russa; a Igreja maronita, a Igreja apostólica armênia (que reclama para si uma descendência direta dos apóstolos).

Não houve durante todos esses 2 mil anos de mensagem de Jesus inúmeras formações cristãs, algumas perseguidas e eliminadas, outras absorvidas ou ainda presentes em nossos tempos? Na Idade Média, por exemplo, os valdenses e os cátaros? Ou a mensagem de Francisco de Assis, que pela imitação pura da proposta de vida de Jesus, contestou o luxo e o poder da Igreja Católica? O movimento franciscano foi sim cooptado pela igreja, mas ainda germina mudanças na cristandade. Antes e a partir da Reforma, os anglicanos, os hussitas, os luteranos, os anabatistas, os calvinistas, os batistas, os presbiterianos, os metodistas, os quakers – todos cristãos.

E ainda no século 19, temos o próprio espiritismo kardecista, largamente divulgado no Brasil, que se pretende uma forma reencarnacionista de cristianismo, embora isso horrorize os cristãos tradicionais e alguns espíritas por sua vez não se reconheçam como cristãos.

Isso tudo demonstra que o cristianismo é multifacetado, e dentro de cada uma dessas denominações, há tendências e movimentos, pensadores e obras, conservadores e de vanguarda, num debate constante, onde não faltam fluxos e refluxos históricos, perseguições e martírios.

Mas, afinal, quem foi Jesus, o que ele disse, o que ele fez e por que ainda estamos falando num homem, filho de um carpinteiro e de uma camponesa, de um rincão pobre da Palestina dominada pelos romanos, e que reuniu um punhado de homens e mulheres (sim, mulheres também) pobres como ele e analfabetos quase todos? Não será esse o maior milagre, se milagre houve? Um mito, uma lenda, uma farsa histórica não teria tal poder de impactar o mundo, cujos valores até hoje germinam nos corações.

Todos esses cristianismos mantêm a sua mensagem de alguma maneira viva, atraindo ainda e sempre as multidões. Mas a seiva da ideia aparece embrulhada em muitos sincretismos (há, por exemplo, nas Igrejas romana e oriental amálgamas com o paganismo), envolta ainda em muitos dogmas e divagações teológicas inacessíveis. E sobretudo, em nome desse mestre, que nada teve, que sobre ninguém exerceu poder, e que só pregou e exemplificou a paz e a fraternidade, guerreia-se, persegue-se, oprime-se, impõe-se, coloniza-se.

Parece que a mensagem é tão bela, tão inédita e inovadora, fala tão profundamente à alma humana, que muitos usurpadores se vestem dela, como uma aparência, com um manto hipócrita, para dominar e explorar os povos. Quem entre gregos, romanos, judeus – só para citar as culturas em que o cristianismo brotou e se enraizou em primeiro lugar – propunha práticas estapafúrdias (que até hoje a maioria dos ditos cristãos não aceitam e não praticam) como perdoar setenta vezes sete, pagar o mal como bem, querer servir e não ser servido, amar os próprios inimigos? Ao invés, lavar a honra com sangue, retornar um mal recebido com males sem conta, acreditar muito mais na força das armas do que na força do amor era e continua sendo o que se pratica no mundo, por cristãos ou não.

Mas aqueles que se levantam para agir na dimensão ética que Jesus propôs (e nisso não importa se aceitem ou não certos dogmas ou se sigam ou não certa denominação cristã), esses são os que de fato entenderam a que veio o mestre de Nazaré. E suas vidas inspiradoras nos arrebatam com seus exemplos de amor e trabalho pela humanidade, tentando aliviar suas dores e mudar o mundo com suas injustiças.

Nesse caso, pode alguém agir como um cristão, sem se dizer cristão, como podem outros se afirmarem cristãos e se portarem na vida como anticristos! É preciso, pois, separar as coisas. Na mesma denominação amplíssima de cristianismo, há um Francisco de Assis e um Torquemada. O cristianismo, aqui entendido como a mensagem de Jesus, não é a causa de todos os males do mundo. Mas aqueles que abusam do seu nome e agem ao contrário do que ele agiu, esses sim fazem parte dos algozes sociais que estão em toda parte, nas igrejas, na política, nas famílias, na estrutura injusta da sociedade. Jesus para estes, é apenas um pretexto, um discurso, um disfarce para sua tirania.

No entanto, mesmo 2 mil anos depois da vinda do mestre, suas lições verdadeiras, legítimas, podem nos levar a um mundo melhor, aliás àquele Reino que ele anunciou.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

Despertar de consciência ecológico-espiritual: Somos Terra que pensa, sente, ama e cuida, por Leonardo Boff

 

Conhecendo um pouco esta história do universo e da Terra estamos conhecendo a nós mesmos e a nossa ancestralidade


Somos Terra que pensa, sente, ama e cuida

No dia 22/4 celebrou-se o dia da Terra. Ela se transformou atualmente no grande e obscuro objeto da preocupação humana. Damo-nos conta de que podemos ser destruídos. Não por algum meteoro rasante, nem por algum cataclismo natural de proporções fantásticas, mas por causa da irresponsável atividade humana especialmente pelo modo de produção capitalista dominante.

Três máquinas de morte foram construídas e podem destruir a biosfera: o perigo nuclear, a sistemática agressão aos ecossistemas e a mudança climática. Em razão deste triplo alarme, despertamos de um ancestral torpor. Somos responsáveis pela vida ou pela morte de nosso planeta vivo. Depende de nós o futuro comum, nosso e de nossa querida casa comum: a Terra que amamos entranhadamente.

Como meio de salvação da Terra é invocada a ecologia. Não apenas no seu sentido palmar e técnico como gerenciamento do recursos naturais, mas como uma visão do mundo alternativa, como um novo paradigma de relacionamento respeitoso e sinergético para com a Terra, tida como um super organismo vivo (Gaia) que se autorregula.

Mais e mais entendemos que a ecologia se transformou no contexto geral de todos os problemas, da educação, do processo industrial, da urbanização, do direito e da reflexão filosófica e religiosa.

A partir da ecologia se está elaborando e impondo um novo estado de consciência na humanidade que se caracteriza por mais benevolência, mais compaixão, mais sensibilidade, mais enternecimento, mais solidariedade, mais cooperação, mais responsabilidade para com a Terra e com sua preservação.

A Terra pode e deve ser salva. E será salva. Ela já passou por mais de 15 grandes devastações. E sempre sobreviveu e salvaguardou o princípio da vida. E irá superar também os atuais impasses.

Entretanto, sob uma condição: de mudarmos de rumo, de senhores e donos para irmãos e irmãs entre nós e com todas as criaturas. Essa nova de ótica implica numa nova ética de responsabilidade partilhada, de cuidado e de sinergia para com a Terra.

O ser humano, nas várias culturas e fases históricas, revelou essa intuição segura: pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra; somos Terra, pois, como se diz no Gênesis, viemos do pó da Terra (Gn 2,7). Daí que homem vem de húmus.

Viemos da Terra e voltaremos à Terra. A Terra não está à nossa frente como algo distinto de nós mesmos. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao momento de autorrealização e de autoconsciência.

Inicialmente não há, pois, distância entre nós e a Terra. Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e única.

Foi o que testemunharam os vários astronautas, os primeiros a contemplar a Terra de fora da Terra. Disseram-no enfaticamente: daqui da Lua ou a bordo de nossas naves espaciais não notamos diferença entre Terra e humanidade, entre negros e brancos, democratas ou socialistas, ricos e pobres. Humanidade e Terra formamos uma única entidade esplêndida, reluzente, frágil e cheia de vigor. Essa percepção é radicalmente verdadeira.

Dito em termos da moderna cosmologia: somos formados com as mesmas energias, com os mesmos elementos físico-químicos dentro da mesma rede de conexões de tudo com tudo que atuam há 13,7 bilhões de anos, desde que o universo, dentro de uma incomensurável instabilidade (big bang= inflação e explosão), emergiu na forma que hoje existe. Conhecendo um pouco esta história do universo e da Terra estamos conhecendo a nós mesmos e a nossa ancestralidade.

Cinco grandes atos, nos ensinam os cosmólogos, estruturam o teatro universal do qual nós somos coatores.

O primeiro é o cósmico: irromperam as energias e elementos primordiais que subjazem ao universo. Começou o em processo de expansão; e na medida em que se expandia, se autocriava e se diversificava. Nós estávamos lá nas virtualidades contidas nesse processo.

O segundo é o químico: no seio das grandes estrelas vermelhas (os primeiros corpos que se densificaram e se formam há pelo menos 5 bilhões de anos) formaram-se todos os elementos pesados que hoje constituem cada um dos seres, como o oxigênio, o carbono, o silício, o nitrogênio etc.

Com a explosão destas grandes estrelas (viraram super novas) tais elementos se espalharam por todo o espaço; constituíram as galáxias, as estrelas, os planetas, a Terra e os satélites da atual fase do universo. Aqueles elementos químicos circulam por todo o nosso corpo, sangue e cérebro.

O terceiro ato é o biológico: da matéria que se complexifica e se enrola sobre si mesma, num processo chamado de autopoiese (autocriação e auto-organização), irrompeu, há 3,8 bilhões de anos, a vida em todas as suas formas; atravessou gravíssimas dizimações mas sempre subsistiu e veio até nós em sua incomensurável diversidade.

O quarto é o humano, subcapítulo da história da vida. O princípio de complexidade e de autocriação encontra nos seres humanos imensas possibilidades de expansão. A vida humana surgiu e floresceu na África cerca de 8-10 milhões de anos atrás. A partir dai, difundiu-se por todos os continentes até conquistar os confins mais remotos da Terra.

O humano mostrou grande flexibilidade; adaptou-se a todos os ecosistemas, aos mais gélidos dos pólos aos mais tórridos dos trópicos, no solo, no sub-solo, no ar e fora de nosso Planeta, nas naves espaciais e na Lua.

Por fim, o quinto ato, é o planetário: a humanidade que estava dispersa, está voltando à Casa Comum, ao planeta Terra. Descobre-se como humanidade, com a mesma origem e o mesmo destino de todos os demais seres. Sente-se como a mente consciente da Terra, um sujeito coletivo, para além das culturas singulares e dos estados-nações.

Através dos meios de comunicação globais, da interdependência de todos com todos, se está inaugurando uma nova fase de sua evolução, a fase planetária. A partir de agora a história será a história da espécie homo, da humanidade unificada e interconectada com tudo e com todos.

Só podemos entender o ser humano-Terra se o conectarmos com todo esse processo universal; nele os elementos materiais e as energias sutis conspiraram para que ele lentamente fosse sendo gestado e, finalmente, pudesse nascer.

Mas que significa concretamente, além de nossa ancestralidade, a nossa dimensão-Terra?

Significa, primeiramente, que somos parte e parcela da Terra. Somos produto de sua atividade evolucionária. Temos no corpo, no sangue, no coração, na mente e no espírito elementos-Terra. Dessa constatação resulta a consciência de profunda unidade e identificação com a Terra e com sua imensa diversidade.

Não podemos cair na ilusão racionalista e objetivista de que nos situamos diante da Terra como diante de um objeto estranho ou como seus senhores e donos. Num primeiro momento vigora uma relação sem distância, sem vis-a-vis, sem separação. Somos um com ela.

Num segundo momento, podemos pensar a Terra, distanciarmo-nos dela para vê-la melhor e intervir nela. E então, sim, nos distinguimos dela para podermos estudá-la e poder atuar nela mais acertadamente. Esse distanciamento não rompe nosso cordão umbilical com ela. Portanto, esse segundo momento não invalida o primeiro.

Ter esquecido nossa união com a Terra foi o equívoco do racionalismo em todas as suas formas de expressão. Ele gerou a ruptura com a Mãe-Terra. Deu origem ao antropocentrismo, na ilusão de que, pelo fato de pensarmos a Terra e podermos intervir em seus ciclos, podermos nos colocar sobre ela para dominá-la e para dispôr dela a nosso bel-prazer. Aqui reside a raiz da atual crise ecológica.

Por sentirmo-nos filhos e filhas da Terra, por sermos a própria Terra pensante e amante, vivemo-la como Mãe. Ela é um princípio generativo. Representa o Feminino que concebe, gesta, e dá à luz. Emerge assim o arquétipo da Terra como Grande Mãe, Pachamama, Tonantzin, Nana e Gaia. Da mesma forma que tudo gera e reproduz a vida, ela também tudo acolhe e tudo recolhe em seu seio. Ao morrer, voltamos à Mãe Terra. Regressamos ao seu útero generoso e fecundo.

Sentir que somos Terra nos faz ter os pés no chão. Faz-nos perceber tudo da Terra, seu frio e calor, sua força que ameaça bem como sua beleza que encanta. Sentir a chuva na pele, a brisa que refresca, o tufão que avassala. Sentir a respiração que nos entra, os odores que nos embriagam ou nos enfastiam.

Sentir a Terra é sentir seus nichos ecológicos, captar o espírito de cada lugar (spiritus loci). Ser Terra é sentir-se habitante de certa porção de terra. Habitando, nos fazemos de certa maneira limitados a um lugar, a uma geografia, a um tipo de clima, de regime de chuvas e ventos, de uma maneira de morar e de trabalhar e de fazer história. Configura o nosso enraizamento.

Mas também significa nossa base firme, nosso ponto de contemplação do Todo, nossa plataforma para poder alçar vôo para além desta paisagem e deste pedaço de Terra, rumo ao Todo infinito.

Por fim, sentir-se Terra é perceber-se dentro de uma complexa comunidade de outros filhos e filhas da Terra. A Terra não produz apenas a nós seres humanos.

Produz a miríade de micro-organismos que compõem 90% de toda a rede da vida, os insetos que constituem a biomassa mais importante da biodiversidade.

Produz as águas, a capa verde com a infinita diversidade de plantas, flores e frutos. Produz a diversidade incontável de seres vivos, animais, pássaros e peixes, nossos companheiros dentro da unidade sagrada da vida porque em todos estão presentes os vinte aminoácidos e as quatro bases nitrogenadas que entram na composição de cada vida.

Para todos, produz as condições de subsistência, de evolução e de alimentação, no solo, no sub-solo e no ar. Sentir-se Terra é mergulhar na comunidade terrenal, no mundo dos irmãos e das irmãs, todos filhos e filhas da grande e generosa Mãe Terra, nosso Lar comum.

São estes sentimentos de pertença que nutrimos neste Dia da Mãe Terra.

Exército bolsonarizado comprou e utilizou ilegalmente maleta espiã que grava ligações e ativa microfone de celular

 

Do iclnoticias.com.br:

Governo Bolsonaro monitorou jornalistas, políticos e até ministros do Supremo Tribunal Federal



Por Cézar Feitoza e Thaísa Oliveira

(Folhapress) — O Exército comprou uma maleta espiã que permite interceptar ligações, ativar remotamente o microfone de celulares e bloquear comunicações sem a necessidade de autorização judicial para executar as tarefas.

O sistema de inteligência é chamado de GI2 e é vendido pela Verint (atualmente conhecida como Cognyte) como um complemento ao FirstMile -software espião cujo uso ilegal por integrantes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) é investigado pela Polícia Federal.

Segundo documentos da Verint repassados por um ex-funcionário da empresa à Folha de S.Paulo, a venda casada dos produtos é sugerida a clientes pelo menos desde 2013.

Na época, a empresa usava no lugar do FirstMile outro produto, chamado SkyLock, que possui o mesmo princípio do sistema investigado pela PF – obter acesso à localização aproximada de celulares por meio de brechas nos serviços de telecomunicações.

“Um exemplo disso (uso combinado dos sistemas) é utilizar o SkyLock em conjunto com o ENGAGE GI2 para primeiro identificar a localização de uma célula alvo e, em seguida, usar o GI2 da Verint para identificar a localização precisa desse alvo”, diz trecho do material de divulgação do produto.

O GI2 foi comprado pelo Exército durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, no final de 2018, que era comandada pelo general Walter Braga Netto. A informação foi relatada pelo vendedor da Verint Caio Santos Cruz, em depoimento à Polícia Federal obtido pela Folha.

Santos Cruz disse ainda que o Exército comprou, no mesmo pacote, os sistemas FirstMile, WebAlert e FaceDetect ao custo de cerca de US$ 10,8 milhões (R$ 56 milhões na cotação atual).

Sem explicação do Exército

O Exército afirmou, em nota, que a legislação brasileira a impede de comentar assuntos de inteligência. Procurada, a Abin disse que a informação é sigilosa para “preservar capacidades operacionais”.

Em portfólio apresentado a clientes, a Verint detalha as funcionalidades do GI2. Entre elas, estão “localizar com precisão o alvo usando um dispositivo dedicado de busca sem desativar a capacidade de comunicação do alvo” e “extrair as coordenadas GPS do telefone móvel do alvo em redes GSM e UMTS”.

Outras utilidades do equipamento são “ouvir, ler, editar e redirecionar chamadas e mensagens de texto de entrada e saída”, “ativar remotamente o microfone de um telefone móvel”, “identificar a presença de telefones móveis alvo” e “bloquear comunicações celulares para neutralizar IEDs (Dispositivos Explosivos Improvisados, em inglês)”.

A maleta espiã possui um sistema intricado. Na prática, quando o GI2 é acionado, ele passa a funcionar como uma antena de telecomunicação, e todos os celulares em um raio próximo de 1 km se conectam a ela.

Dessa forma, o operador do GI2 consegue aplicar suas funções contra todos os celulares próximos à região em que se encontra.

Uma função do sistema, porém, permite que o operador da maleta espiã selecione um celular-alvo –e, assim, todos os demais telefones voltam a se conectar com a antena mais próxima.

General Braga Netto estava à frente da intervenção no RJ, em 2018, quando Exército comprou maleta de espionagem. Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Após definir o celular-alvo, a maleta consegue extrair os dados e acessar remotamente somente os dados do telefone monitorado, permitindo ao operador ouvir ligações e ativar o microfone do aparelho.

O Parlamento Europeu concluiu em 2023 uma investigação sobre a utilização de softwares espiões entre os países-membros da União Europeia. Parte do documento é destinado a relatar as negociações e suspeitas envolvendo as empresas Verint e Cognyte.

O relatório final do inquérito destaca que a empresa vendeu produtos espiões para governos repressivos, como Mianmar, Azerbaijão, Indonésia e Sudão do Sul. “Neste último caso, o Serviço de Segurança Nacional do Sudão do Sul utilizou equipamento de interceptação da Verint contra ativistas dos direitos humanos e jornalistas entre março de 2015 e fevereiro de 2017.”

O documento ainda diz que a tecnologia GI2, da Verint, foi enviada a uma filial da empresa na Polônia para “fins de demonstração”. “A tecnologia GI2 permite acessar um determinado dispositivo e fazer-se passar pelo proprietário e enviar mensagens falsas através desse dispositivo”, completa.

A reportagem procurou a Verint por ligações, emails e mensagens a funcionários da empresa, mas não teve resposta.

Como funciona a integração de FirstMile e GI2

A Verint Systems é uma empresa israelense que fornece mundialmente serviços e soluções de inteligência para governos e agências. Em 2021, o grupo decidiu desmembrar seu setor de inteligência para a Cognyte Software, que manteve os contratos firmados pela antecessora com diversos órgãos governamentais brasileiros.

Em documentos enviados aos seus clientes, a Verint oferecia a venda dos sistemas SkyLock (antecessor do FirstMile e que fornece o mesmo serviço) e GI2 em conjunto. Na prática, as funcionalidades dos dois produtos são complementares.

O FirstMile utiliza uma brecha no protocolo internacional das telecomunicações, chamado de SS7 (Sistema de Sinalização nº 7), para obter acesso da localização aproximada de celulares.

O protocolo funciona da seguinte maneira: quando alguém liga para o celular de outra pessoa, a rede de telefonia precisa localizar em qual antena de celular cada um dos interlocutores está conectado.

A operadora da pessoa que faz a chamada solicita à operadora de quem recebe a ligação a localização da antena. O protocolo é quase instantâneo, e a conexão entre os dois celulares é estabelecida.

Empresas de inteligência encontraram uma brecha nesse protocolo internacional ao descobrir que nenhuma operadora bloqueava os pedidos de localização — já que são muitas as solicitações feitas a todo momento.

Esses grupos viram que seria possível criar empresas de telecomunicação de fachada para solicitar às operadoras reais a localização de celulares.

O FirstMile foi criado nesse contexto. O operador do sistema consegue incluir o telefone de qualquer pessoa na plataforma e, assim, pode realizar o monitoramento em tempo real do celular.

Toda vez que o telefone entra em contato com a antena de telecomunicação ao receber ligação, SMS, ou atualizar serviço, um registro da localização do celular é feito no sistema do FirstMile.

Segundo relatos de pessoas que conhecem o funcionamento do sistema, é possível ainda realizar outros tipos de consulta, como solicitar os números de telefone conectados a uma determinada antena ou estabelecer critérios para receber notificações sempre que algum celular passar por um local predefinido.

O GI2 se torna útil neste momento. Com a localização da pessoa monitorada, obtida pelo FirstMile, o investigador pode se locomover para perto da região e usar a maleta espiã para escutar as ligações feitas pelo alvo ou mesmo ligar o microfone do aparelho sem deixar rastros.

O produto ainda consegue dar a “localização exata do suspeito para detenção, tornando praticamente impossível para os alvos escaparem, não importa o local em que estejam no mundo” — segundo documento da Verint que sugere a venda conjunta dos sistemas.

O Tribunal de Contas da União (TCU) está investigando o contrato do Exército com a empresa que ofereceu a ferramenta israelense usada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no governo de Jair Bolsonaro (PL), para monitorar jornalistas, políticos e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Firmado com dispensa de licitação, o acordo se deu por meio do escritório de Washington — um mecanismo de compras que é alvo de apuração, segundo o Estadão. A Marinha também tem contratos com a empresa.

 

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Políticos progressistas brasileiros vão aos EUA para criação de frente mundial pela democracia e contra o fascismo representado por Trump, Bolsonaro, Orbán e outros da extrema direita

 

Parlamentares brasileiros pretendem tratar sobre a importância do Brasil como laboratório do extremismo de direita internacional

Do iclnoticias.com.br


Por Chico Alves

Dois senadores e quatro deputados federais brasileiros desembarcam hoje nos Estados Unidos para encontros com políticos americanos em articulação para criar uma frente internacional em defesa da democracia. O objetivo é se contrapor ao avanço mundial da extrema direita. Na agenda, estão previstas reuniões com vários parlamentares americanos — incluindo Jamie Raskin, deputado democrata que preside a CPI que investiga a invasão do Capitólio — integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OEA, representantes dos movimentos sociais e com o senador Bernie Sanders.

Estão no grupo a senadora Eliziane Gama ( PSD/MA) — que presidiu a CPMI do 8/1 –,  o senador Humberto Costa ( PT/PE) e os deputados- Rogerio Correa ( PT/MG), Rafael Brito ( MDB/AL), Jandira Feghali ( PCdoB/RJ) Pastor Henrique Vieira ( PSOL/ RJ).

“Esta viagem tem por objetivo iniciar uma articulacão mais orgânica entre forças e representações politicas que concordam em fazer o contraponto à articulação da extrema direita em nome dos valores democráticos”, explicou a deputada Jandira Feghali, em entrevista ao ICL Notícias. “Nos Estados Unidos e no Brasil houve duas CPIs para apurar as tentativas de golpe tanto no Capitolio em 06 de janeiro, que nos convida, quanto a que investigou o 8 de janeiro. Vamos começar por este encontro”.

Deputada Jandira Feghali

Deputada Jandira Feghali

Segundo a deputada, a ideia é reforçar a democracia e o respeito aos direitos democráticos. “Isto inclui a regulação das redes”, destaca ela. “Obviamente que esta articulacao enfrentará o movimento que a extrema direita tem feito. A ideia é expandir para países de outros continentes, a comecar pela Europa”.

No contato com esses políticos americanos, os parlamentares brasileiros pretendem tratar sobre a importância do Brasil como laboratório do extremismo de direita internacional. A agenda de encontros vai se estender até o dia 2 de maio.

Jamie Raskin, deputado democrata dos EUA

Jamie Raskin, deputado democrata dos EUA. Foto: Mandel Ngan/AFP

CPI nos EUA

Junto com outros 38 parlamentares da base do governo dos Estados Unidos no Congresso, o deputado Jamie Raskin ajudou a articular em meados de 2022 a carta ao presidente Joe Biden que pediu que ele deixasse  “inequivocamente claro” para Jair Bolsonaro que o Brasil ficará “isolado dos EUA e da comunidade internacional” em caso de “tentativas de subverter o processo eleitoral do país”. Além disso, ele sugeriu que os EUA revissem a proximidade do Brasil com a Otan e a entrada na OCDE se isso ocorresse.

Na CPI do Capitólio, Raskin investigou ligação entre Bolsonaro, Trump, Putin e Orbán, lideranças da extrema direita internacional.

Na semana passada foi aberta na Hungria a Conferência de Ação Política Conservadora, na verdade o encontro de representantes da extrema direita de vários países. No sábado (27), ao lado do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou a afirmar que a democracia brasileira está sob ataque e que seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e os seus apoiadores estão sofrendo censura, em referência à tentativa de golpe do 8 de janeiro. Na ocasião, o parlamentar também elogiou o dono do X, Elon Musk, que tem feito campanha contra o Suoremo Tribunal Federal do Brasil e o governo Lula.

Articulação internacional da extrema direita

Em uma das agressões dessa onda de ataques, que comprova a articulação internacional dos reacionários, o dono do “X” (antigo Twitter) chamou Moraes de “ditador brutal” e disse que o ministro tem o presidente Lula “na coleira”.

Musk atacou Moraes pela primeira vez no dia 6 de abril e ameaçou reativar os perfis de usuários bloqueados pela Justiça. O bilionário, queridinho da extrema-direita, acusa o ministro de censura e de ameaçar prender funcionários da rede social no Brasil.

Depois, Musk respondeu a publicações feitas pelos deputados federais Marcel van Hattem (Novo–RS) e Nikolas Ferreira (PL–MG). Ao interagir com o parlamentar gaúcho, o bilionário questionou o motivo de o Congresso manter Moraes como ministro.

“Por que é que o parlamento permite a Alexandre o poder de um ditador brutal? Eles foram eleitos, ele não. Jogue-o fora”, escreveu.

 

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Portal do José: MORAES FUGIU? BOLSONARISTAS PUBLICAM INSANIDADE! RIDÍCULOS E PERIGOSOS EXTREMISTAS: MUSK NÃO OS SALVARÁ DA CADEIA!

 

Do Portal do José:

26/04/24 É TEMPO DE RESGATARMOS A NORMALIDADE DOS DEBATES PÚBLICOS. Para isso é fundamental que os insanos criminosos ridículos sejam contidos pelo ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. SIGAMOS.




O silêncio de Deus, por Leonardo Boff

 

Vivemos num mundo trágico. Poderemos não ter mais retorno ou, forçados pela situação, recuperaremos a razão sensível e sensata?

(Foto: Divulgação)

O silêncio de Deus


Vivemos globalmente num mundo trágico, cheio de incertezas, de ameaças e de perguntas para as quais não temos respostas que nos satisfaçam. Ninguém nos poderá dizer para onde estamos indo: para o prolongamento do atual modo de habitar a Terra, devastando-a em nome de um maior enriquecimento de poucos. Ou mudaremos de rumo?

No primeiro caso, seguramente a Terra não aguentará a voracidade dos consumistas (já agora precisamos de uma Terra e meia para atender o nível atual de consumo dos países ricos) e nos confrontaremos com crises e mais crise, como o coronavírus e o aquecimento global já irrefreável (lançamos na atmosfera por ano 40 bilhões de toneladas de gazes de efeito estufa). Poderemos não ter mais retorno e iremos ao encontro do pior.

Ou, forçados pela situação, recuperaremos a razão sensível e sensata, pois agora está enlouquecida, definimos um novo rumo mais amigável para com a natureza e a Terra, mais justo e participativo de todos os humanos. Trabalharemos a partir do território, desenhado pela natureza, pois ai pode ser sustentável e criar uma verdadeira participação de todos. Então começará um novo tipo de história com um futuro para o sistema-vida e o sistema-Terra.

Teremos tempo, coragem e sabedoria para esta conversão ecológica? O ser humano é flexível, tem mudado muito e se adaptado aos vários climas. Ademais a história não é linear. De repente surge o inesperado e o impensável (um salto para cima em nossa consciência) que inaugurariam um novo rumo para a história.

Enquanto esperamos, sofremos pelos males que estão ocorrendo na Terra: há 17 lugares de guerra. O Papa Francisco falou muitas vezes que estamos já na terceira guerra mundial aos pedaços. Não é impossível que irrompa um conflito nuclear inteiro e leve a perder toda a humanidade.

Neste contexto nos colocamos no lugar de Jó e clamamos a Deus no meio de tantas mortes de inocentes, de genocídios e de guerras altamente letais.

“Deus, onde estavas naqueles momentos aterradores em que a fúria genocida de Benjamin Netanyahu dizimou 13 mil crianças inocentes e mais de 80 mil pessoas e mães na Faixa de Gaza? Por que não intervistes, se podias fazê-lo? Mais de 500 mil casas, hospitais escolas, universidades, mesquitas e igrejas foram arrasadas. Por que não detiveste aquele abraço assassino? Teu Filho bem-amado, Jesus, saciou cerca de 5 mil pessoas famintas. Por que permites que centenas e centenas morram de sede e de fome?

Onde está a tua piedade? Estas vítimas não são também teus filhos e filhas, especialmente queridos, porque representam teu Filho crucificado.

Recordo com dor as palavras do Papa Bento XVI quando visitou o campo de extermínio de judeus em Auschwitz-Birkenau: “Quantas perguntas surgem neste lugar. Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar esse excesso de destruição, este triunfo do mal?”.

Jó tinha razão em reconhecer que”Deus é grande demais para que possamos conhecê-lo” ( 36, 26). Ele pode ser e fazer aquilo que não entendemos, pois somos limitados. Não obstante teimosamente Jó professa sua fé, dizendo a Deus: “Mesmo que me mates, ainda assim creio em ti” ( 15,13)?

Inesquecível é o testemunho do judeu antes de ser exterminado no Gueto de Varsóvia em 1943. Deixou escrito num papelzinho posto dentro de uma garrafa: “Creio no Deus de Israel, mesmo que Ele tenha feito tudo para que não creia nEle. Escondeu seu rosto…Se, um dia, alguém a encontrar esse papelzinho e o lerá, vai entender, talvez, o sentimento de um judeu que morreu abandonado por Deus, esse Deus em quem continuo a crer firmemente”.

Não pretendemos ser juízes de Deus. Mas podemos como o filho do homem no Jardim das Oliveiras e no alto da cruz. Jesus, quase desesperado, clamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste (Marcos 15, 34)?

Nossos lamentos não são blasfêmias, mas um grito doloroso e insistente a Deus: “Desperta! Não tolere mais o sofrimento, o desespero e o genocídio de inocentes. Acorda, vem libertar aqueles que criastes no amor. Acorda e venha, Senhor, para salvar-los.

No meio desta melancolia, nossa esperança prevalece, porque pela ressurreição de um irmão nosso, Jesus de Nazaré, se antecipou nosso fim bom. É isso que nos confere algum sentido e de não desesperar face à dramática situação da humanidade e da Terra.

Manifestações estudantis em solidariedade aos palestinos se espalham nas universidades dos EUA

 

Acampamentos em solidariedade com o povo palestino foram montados em instituições de renome mundial como Harvard, Yale, Columbia e Princeton

Estudantes dos EUA protestam contra genocído na Palestina
Estudantes dos EUA protestam contra genocído na Palestina (Foto: Caitlin Ochs/REUTERS)

247De Los Angeles a Nova York, de Austin a Boston, de Chicago a Atlanta, estudantes e membros do corpo docente das principais universidades dos Estados Unidos continuam a se mobilizar em apoio à causa palestina, apesar da repressão policial e das dezenas de prisões em muitas universidades.

Acampamentos em solidariedade com o povo palestino foram montados em instituições de renome mundial como Harvard, Yale, Columbia e Princeton, destaca reportagem da agência de notícias palestina WAFA.

Os estudantes expandiram sua presença erguendo mais barracas nos campi, amplificando sua mensagem para as comunidades locais e os formuladores de políticas em Washington, pedindo intervenção imediata para interromper o genocídio e apoiar os direitos dos palestinos.

Esforços estão em andamento para pressionar a administração dos EUA a desinvestir de Israel e boicotar empresas que apoiam a ocupação da terra palestina, bem como boicotar universidades israelenses cúmplices no genocídio contra os palestinos.

Esses protestos começaram na semana passada na Universidade de Columbia, em Nova York, onde um grupo de estudantes decidiu realizar um acampamento aberto de sentinela no campus, condenando a agressão contra o povo palestino.

Houve quase 550 prisões de manifestantes na última semana nas principais universidades dos EUA, segundo um levantamento da agência de notícias Reuters.

Algumas universidades convocaram a polícia para reprimir as manifestações, resultando em ferimentos e prisões, enquanto outras parecem estar aguardando enquanto o semestre acadêmico entra em seus últimos dias.

Na Emerson College de Boston, 108 manifestantes não violentos foram presos durante a noite pela polícia, que apareceu em um vídeo avançando pela multidão com força, jogando alguns estudantes ao chão.

No campus de Atlanta da Universidade Emory, 28 pessoas foram detidas e o braço local do grupo ativista Jewish Voice For Peace disse que a polícia usou gás lacrimogêneo e tasers nos manifestantes.

Na Universidade de Indiana Bloomington, policiais com escudos e cassetetes avançaram sobre uma linha de manifestantes, prendendo 33 pessoas.

No City College de Nova York, os policiais recuaram dos protestos, para o aplauso das centenas de estudantes reunidos no gramado do campus de Harlem.

Na California State Polytechnic University em Humboldt, os estudantes estão barricados em um prédio do campus desde segunda-feira, com funcionários tentando negociar.

Na Universidade de Connecticut, um manifestante foi preso e barracas foram derrubadas, enquanto os protestos continuavam na Universidade de Stanford e no campus de Princeton, em Nova Jersey.

Na Universidade de Columbia, em Nova York, onde o movimento de protesto começou, as autoridades  da universidade permanecem em um impasse com os estudantes.

Leandro Demori, no Desperta ICL: DOCUMENTO PROVA QUE CRIMINOSOS GOLPISTAS BOLSONARISTAS DERRUBARAM TORRES DE ENERGIA NO 8 DE JANEIRO

 

Do Canal de Leandro Demori:




O almirante branco autoritário e o Almirante Negro heróico e libertário em artigo de Chico Alves

 

Olsen deve achar que heroicos seriam os subordinados negros que aceitassem submissos as chibatadas



Muitos integrantes das Forças Armadas brasileiras não perdem uma oportunidade de mostrar que estão na vanguarda do que há de mais atrasado no país.

O racismo, elitismo, corporativismo, reacionarismo e a aversão ao pensamento crítico, marcas das classes mais abastadas desde o início da história do Brasil, encontram em boa parte dos fardados o terreno fértil para se reproduzir. Tudo sob o surrado discurso de patriotismo e honestidade, como se a turma da caserna tivesse o monopólio da retidão.

Ao menos para isso serviram os anos de Jair Bolsonaro na Presidência, provar que a autoimagem dos militares não corresponde à realidade. Vimos oficiais negociando joias que são patrimônio público e “patriotas” fardados que conspiram contra o próprio país, em tentativa de golpe.

Mesmo aqueles que não são golpistas estão longe do razoável. Aí está o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, para provar.

Dessa vez, temos o almirante branco destilando em público e sem pudor todo o seu racismo contra o Almirante Negro. Para Olsen, João Cândido, o herói da Revolta da Chibata, que, em 1910, se insurgiu contra os castigos físicos impostos por seus superiores da Marinha, seria um “exemplo reprovável de conduta”.

Ele se manifestou contra a inclusão do nome de João Cândido no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”. Chamou os marinheiros envolvidos na revolta de abjetos, e disse que os enaltecer significa exaltar atributos que não contribuem para “o pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito”.

Certamente, Olsen deve achar que heroicos seriam os subordinados negros que aceitassem submissos as chibatadas de seus superiores, brancos como ele. Esse é o seu “Estado democrático” ideal.

A revolta contra os maus tratos, para o comandante da Marinha, foi episódio “vergonhoso” e “deplorável”, apesar de classificar como “inaceitáveis” os atos de violência dos oficiais sobre seus subordinados.

Por esse pensamento, Olsen parece achar que os marinheiros negros deveriam aceitar o inaceitável até que seus superiores brancos chegassem à conclusão de que estavam fazendo algo reprovável.

Estariam apanhando até hoje.

O almirante branco ainda acusa os insurgentes de reivindicar “vantagens corporativistas e ilegítimas”, citando aumento de salários, regime de trabalho menos exigente e exclusão de oficiais.

De vantagens corporativistas e ilegítimas, militares de alta patente como Olsen entendem. Basta olhar os salários e benefícios que recebem atualmente a cúpula das Forças Armadas e comparar com a remuneração dos civis ou mesmo de militares de baixa patente.

O almirante branco, nesse caso, utiliza com o Almirante Negro a tática vil da extrema direita contra os inimigos: acuse-os do que você faz.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Do Portal do José: BOLSONARO E PASTOR EXPOSTOS: RELIGIÃO JÁ ERA! O NEGÓCIO É OUTRO! DIRCEU: DECLARAÇÃO AGITA A POLÍTICA

 

Do Portal do José:

24/04/24 - BRASIL PASSA POR OUTRA PROVA. Manifestação bolsonarista de domingo em Copacabana simplesmente não causou resultado algum, exceto nas mentes perturbadas ou iludidas de extremistas de direita do mundo paralelo. Para eles, Alexandre de Moraes está prestes a sumir do mapa de algum modo. essa visão mistura agouros sinistros, profecias de vigaristas e teorias conspiratórias. Mas nada acontecerá nesses mundos. Cada vez mais os debates político necessitam de reflexões importantes para todos nós. Mas para isso é necessário que haja o debate. Nesse particular o Brasil está sem um contraponto eficaz. Lula está ausente cada vez mais acreditando que fazer um bom governo bastará. Não está certo. Mas se ninguém o chama a atenção, tudo fica mais complicado. Nas próximas semanas teremos a conclusão de inquéritos que colocam o genocida mais próximo da Papuda. Seu pastor segue no discurso de ódio alheio a qualquer mandamento cristão. é a vigarice em seu estado mais puro. Enquanto isso, José Dirceu explica o óbvio para o mundo da política: o governo Lula é de centro-direita e que tem como oposição a extrema direita. Na área econômica Lula segue o modelo neoliberal. Na área social segue o modelo mais próximo da esquerda. É para reclamar ou refletir sobre isso? Sigamos.



O perigoso avanço do discurso e do gestual religioso teocrático fundamentalista de Michelle Bolsonaro

 Discussão com o Professor João Cezar de Castro Rocha, com os comentaristas do ICL, sobre o perigo de um Brasil teocrático evangélico fundamentalista bolsonarista de dextrema direita e as expressões de pseudo-"messiânicas" Michelle Bolsonaro

Do Instituto Conhecimento Liberta:




Tarcísio de Freitas, a mais perigosa expressão do bolsonarismo, por Luís Nassif

 

Tarcísio repetiu a jogada de Paulo Guedes com precatórios, tirando dos pobres para entregar aos ricos


Do Jornal GGN:

Poder 360


O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, é administrativamente medíocre. Mostrou no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), transformando-o em balcão de negócios para empresas ligadas a militares. Mostrou-se no Ministério de Infraestrutura de Bolsonaro, deixando as estradas federais na pior condição em décadas, segundo estudos da Confederação Nacional dos Transportes.

No governo de São Paulo tem colocado em prática o aprendizado com o bolsonarismo.

Primeiro, no campo dos grandes negócios ocultos.

No final do ano passado, repetiu a jogada de Paulo Guedes com precatórios, na melhor prática de como tirar dos pobres e entregar aos ricos. De um lado, deixou atrasar precatórios do estado – em geral precatórios alimentícios. De outro, fez aprovar uma lei permitindo o pagamento de ICMS com precatórios.

O jogo é simples. Apertado, o pequeno titular de precatórios vende seus direitos com enormes deságios – que chegam a 50%. O escritório de advocacia ou instituição financeira adquire e vende, depois, para empresas quitarem seus débitos em ICMS.

Foi o mesmo método adotado pelo ex-Ministro Paulo Guedes: de um lado, atraso no pagamento de precatórios; de outro, abertura para sua utilização em negócios públicos. É uma versão um pouco mais sofisticada da famosa “caixinha de Ademar”, utilizada pelo ex-governador Ademar de Barros.

O segundo ponto é no aparelhamento da Polícia Militar. Em editorial de hoje, após uma abertura elogiando Tarcísio, a Folha trata o fato como se fosse um mero caso de empreguismo na área pública. Não se deu conta que se trata de uma corporação armada, da qual foram expelidos todos os comandantes legalistas e aberto espaço para transformação uma corporação de Estado em uma milícia.

Os massacres de Guarujá precedem a milicialização da PM de São Paulo, da mesma maneira como ocorreu no Rio de Janeiro. E de modo semelhante ao da rebelião da PM do Ceará, contida de modo quase heróico por Cid Gomes.

A reação de Tarcísio às críticas – “não estou nem aí” – ou sua menção ao suposto apoio que recebeu de empresários da baixada santista demonstram claramente sua intenção. Sem controle algum do Ministério Público Estadual, sem limites impostos pela Justiça paulista, o que impedirá setores da PM de se aliarem a organizações criminosas, como ocorre no Rio de Janeiro?

A enorme burrice institucionalizada do país – e da mídia – impede qualquer análise prospectiva, mesmo em temas óbvios. O carro, sem freios, caminha em direção ao abismo, e ficam todos olhando, aparvalhados. Quando despenca é aquele frenesi: como aconteceu?

O terceiro ponto de Tarcísio foi tirar a gratificação de professores que trabalham em áreas críticas e, pior que isso, acabar com o apoio que o Estado dava a alunos com deficiência na rede escolar. Havia uma seleção de apoiadores, com cursos de pedagogia, incumbidos da assistência a todas as crianças com deficiência na sala de aula.

Um dos grandes avanços civilizatórios brasileiros – a educação inclusiva – foi transformado em ação familiar: família que quiser, tem que pagar pela pessoa que irá apoiar seu filho, sem ter a menor orientação sobre quem está apto ou não a apoiar.

Repito o que já disse em outros momentos: Tarcísio é a maior ameaça à democracia, maior até que Bolsonaro. Primeiro, por ser genuinamente oriundo do segmento militar. Depois, por não ter o histrionismo de Bolsonaro. Terceiro, porque terá o apoio de parte da mídia para convencer a população de que ele é dom Sebastião da Terceira Via.

Evangélicos dominam posts de extrema direita (e do discurso de ódio) no Brasil, revela estudo

 

Pesquisa inédita mostra que entre os dez publicadores de extrema direita mais influentes nas redes sociais, oito são evangélicos.

Do Icl Notícias:




Uma pesquisa inédita mostra que entre os dez publicadores de extrema direita mais influentes nas redes sociais, oito são evangélicos.

Realizado por pesquisadores da UFF e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) entre novembro do ano passado e janeiro de 2024, o estudo mapeou a movimentação de extremistas ao longo de três meses. As informação são da Deutsche Welle.

Segundo o trabalho, financiado pela Fundação Heinrich Böll, Santa Catarina e São Paulo são os dois principais centros dessas postagens.

“No universo acompanhado pela pesquisa, os atores que se autodeclaram evangélicos são os que mais postam e os que têm maior alcance junto aos seguidores desse espectro político”, diz Christina Vital, professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e uma das coordenadoras da pesquisa divulgada nesta segunda-feira (22/04), que mapeou perfis e técnicas usadas pela extrema direita.

Os posts são marcados por publicações curtas e conteúdos que exploram sentimentos de ameaça, medo e desconfiança, e pela repetição de palavras negativas e críticas.

“Em muitos casos, as postagens apenas direcionam o leitor para links que induzem à leitura de outros materiais desse ecossistema”, observa Vital, que dividiu a coordenação da pesquisa com Michel Gherman, professor do Programa de Pós-Gradução em História da UFRJ.

O estudo investigou 191 “atores sociais” de extrema direita, divididos em quatro grupos: políticos, influenciadores, blogs ou sites e antidemocráticos. Deste total, 14 eram mulheres, 111 homens e 66 coletivos — como sites de notícias ou comunidades com histórico de publicações de apoio à tentativa de golpe de 8 de janeiro ou ao ex-presidente Jair Bolsonaro, além de agendas associadas ao extremismo.

Na lista dos oito perfis com maior engajamento no campo evangélico, aparecem nomes como os do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro — única mulher a constar no grupo, segundo a pesquisadora.

Entre as quatro redes sociais analisadas, o X (antigo Twitter) — cujo dono, Elon Musk, fez ataques recentes contra o ministro Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes —, aparece disparado como a mídia mais utilizada pelos perfis extremistas mais populares, seguido por Instagram, Facebook e YouTube.

Extrema direita: posts de 8 de janeiro

No último 8 de janeiro, aniversário de um ano dos atos golpistas em Brasília, um fluxo febril de postagens com ataques contra o STF se disseminou desde cedo em perfis de extrema direita nas redes sociais. Havia também muitas mensagens favoráveis ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Nas postagens, eles tentavam separar a manifestação do vandalismo, e imputar a desordem ao atual governo. Para esses influenciadores extremistas, o STF é o verdadeiro inimigo da democracia. É a chamada ‘retorsão’ do argumento”, explica Vital.

Também no X, uma postagem do perfil Movimento sem Picanha chamou atenção da pesquisadora. A publicação dizia que o 8 de janeiro foi o “dia da traição dos patriotas” e trazia uma imagem das Forças Armadas criada por inteligência artificial, que retratava seus integrantes como melancias, abaixados no chão e pintando faixas no asfalto.

“No linguajar do militarismo, a melancia é associada aos traidores — com o verde por fora, vinculado ao Exército, e o vermelho por dentro, vinculado à esquerda e ao comunismo. Seria mais um indício de que um golpe estava sendo armado, mas foi esvaziado no último minuto pelas Forças Armadas?”, indaga a pesquisadora.

A coleta de dados, feita com um software de inteligência artificial, alcançou 50 milhões de pessoas por dia.

“Em sua maioria, os atores mais atuantes e com maior alcance são homens, brancos, influenciadores, políticos e lideranças religiosas”, diz Vital.

Para o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Joanildo Burity, o resultado da pesquisa confirma o potencial de mobilização dos evangélicos de extrema direita no Brasil — apesar de o segmento ser minoritário no país.

Projeções de institutos de pesquisa indicam que cerca de 30% da população brasileira, estimada em 230 milhões de habitantes, se identifica como evangélica.

“Em termos numéricos, o segmento de extrema direita não deve ser maior do que 10% da população evangélica. Mas é um grupo militante, com muito acesso à mídia, recursos financeiros e conexões internacionais, o que faz com que tenha uma capacidade de projeção muito maior do que o seu tamanho”, diz o pesquisador.

Estigmatizada por sua associação com a ditadura militar, com os skinheads e com grupos pró-nazismo, a extrema direita não tinha popularidade, nem bases sociais no país, observa Burity. E foi exatamente isso que a militância religiosa trouxe.

“Os evangélicos deram uma base social de massas para o movimento de extrema direita. Se você tirar essa militância religiosa da extrema direita, ela se reduz ao que sempre foi: grupelhos de intelectuais, de empresários, de militares, muito coesos, mas capazes de reunir bem pouca gente”.

As conexões internacionais da extrema direita

Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, conectou extrema direita brasileira com estrangeira (/Elizabeth Frantz/Reuters)

Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, conectou extrema direita brasileira com estrangeira. Foto: Elizabeth Frantz/ Reuters

Para Burity, essa projeção dos evangélicos nas redes não é casual. Ela é facilitada pela formação que eles recebem tradicionalmente nas igrejas para “comandarem a palavra” — o que traz vantagens do ponto de vista da comunicação pública.

Também é resultado de um processo deliberado de mobilização política — inclusive internacional. Apesar de majoritariamente conservadores, do ponto de vista político e moral, os evangélicos não tinham, até pouco tempo, uma posição de extrema direita, muito menos militante, diz o pesquisador.

Essa vinculação foi se construindo: “desde 2017, mais ou menos, começou a haver uma aproximação entre a família Bolsonaro e o Steve Bannon [ex-estrategista de Donald Trump], nos EUA.

O Bannon resolveu investir em um braço do seu movimento, o seu The Movement, no Brasil. E o Eduardo Bolsonaro [deputado federal pelo PL-SP] foi o contato. Eles organizaram eventos, atividades, investiram recursos”.
Além disso, houve uma intensificação da atuação de think thanks de extrema direita americanos no Brasil.

“Não foi algo voltado especificamente para os evangélicos, mas para mobilizar certos segmentos — sobretudo os mais jovens, nesse campo”.

O pesquisador cita ainda uma série de articulações entre evangélicos brasileiros e grupos da extrema direita americana, que envolvem, por exemplo, o Tea Party, ala ultraconservadora do Partido Republicano, e o grupo Capitol Ministries, ligado à direita cristã nos Estados Unidos, que chegou a ter acesso direto à Casa Branca no governo Trump.

O impacto desse segmento hoje pode ser explicado também pela atuação coordenada de pastores, políticos, empresários, teólogos e leigos, que começou há cerca de uma década no Brasil.

“Assim se formou o discurso de alinhamento desses evangélicos em relação a posições altamente reacionárias”.