domingo, 30 de outubro de 2011

Das melhores horas, uma das mais importantes é o agora



"A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente"

Rubem Alves

O conhecimento formal e o conhecimento vivencial



Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Vida e Morte: irmães siamesas


Se vale a pena viver
e se a morte faz parte da vida,
então,
morrer também vale a pena...

Immanuel Kant (1724-1804)

A única coisa tão inevitável quanto a morte
é a vida.

Charlie Chaplin (1889-1977)



Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?


Confúcio (551 a. C. - 479 a. C.)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Tudo o que importa escapa à razão



É sempre assim... algo significativo vem sem que tenhamos pretendido... se enterra na alma sem que percebamos.... nasce sem que compreendamos... nos domina sem que queiramos... se vai quando menos esperamos...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lições de Chico Xavier para se aprender a viver...


Quando você conseguir superar
graves problemas de relacionamentos,
não se detenha na lembrança dos momentos difíceis,
mas na alegria de haver atravessado
mais essa prova em sua vida.

Quando sair de um longo tratamento de saúde,
não pense no sofrimento
que foi necessário enfrentar,
mas na bênção de Deus
que permitiu a cura.

Leve na sua memória, para o resto da vida,
as coisas boas que surgiram nas dificuldades.
Elas serão uma prova de sua capacidade,
e lhe darão confiança
diante de qualquer obstáculo.

Uns queriam um emprego melhor;
outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta;
outros, só uma refeição.

Uns queriam uma vida mais amena;
outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos;
outros, ter pais.

Uns queriam ter olhos claros;
outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita;
outros, falar.

Uns queriam silêncio;
outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo;
outros, ter pés.

Uns queriam um carro;
outros, poder andar.
Uns queriam o supérfluo;
outros, apenas o necessário.

Há dois tipos de sabedoria:
a inferior e a superior.

A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa intelectualmente sabe
e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe.

Tenha a sabedoria superior.
Seja um eterno aprendiz na escola da vida.

A sabedoria superior tolera;
a inferior, julga;
a superior, alivia;
a inferior, culpa;
a superior, perdoa;
a inferior, condena.

Tem coisas que o coração só fala
para quem sabe escutar!


Chico Xavier (1910-2002)
(contribuição de Silnara Araújo Galdino)

O ser é irredutível à razão



É tão eficaz tentar descrever a alma ou a consciência em termos racionais quanto compreender o significado de um poema dissecando-o em sua estrutura gramatical. A ciência cuida do objetos e fatos, mas o ser só pode ser compreendido a patir de uma instância mais alta, através do sentimento. Não se entende uma pessoa divindindo-a em compartimentos ou partes.
Já dizia com propriedade Edmund Husserl que "as meras ciências de fatos criam tão só homens de fato". O que precisamos hoje não é mais de especialistas que sabem muito de muito pouco, mas de pessoas que saibam ligar as coisas de modo coerente e útil à evolução da alma.


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quem sonha pode transformar a realidade



Há um risco para quem sonha: que seu sonhar nunca venha a se concretizar...
Mas ninguém vai tirar de quem sonha a ousadia de não aceitar uma realidade desumana.
Já o realista usa essa palavra para maquiar o fato de ser muitas vezes tão somente um conformista.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Apesar da frieza neoliberal, da sisudez formal...



Na parede de um botequim de Madri, há um cartaz que avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca!.



Eduardo Galeano

domingo, 23 de outubro de 2011

A imbecilidade dos Neoliberais e a manifestação esclarecida dos Jovens








Carlos Antonio Fragoso Guimarães


Em 1989 ocorreu o que muita gente torcia, mas ninguém esperava: caiu o muro de Berlim e com sua implosão rachou o bloco soviético que viria a ruir totalmente em 1991. Com isto, muitos empresários, banqueiros, capitalistas e pseudo-intelectuais correram a dizer: "A História Acabou!", agora, o capitalismo triunfante, com sua nova abordagem neoliberal, iria trazer o paraíso na terra e estabelecer uma sociedade tecnocrática prontinha para universalizar o bem-estar social para todos.

 E teve gente que acreditou (e ainda acredita) nisto! Hoje, passados 22 anos, o que vemos?

Nunca o grau de servidão branca, desemprego, falta de perspectiva e o fosso entre os mais ricos o os comuns dos mortais foi tão intenso...

Nunca houve uma crise tão universalizada como as de 2008 e a de 2011. Em 1929 a crise fazia empresários se matarem. Hoje, a crise faz empresários e banqueiros matarem econômica e moralmente famílias e populações inteiras. Ainda assim, o discurso dos Neoliberais continua o mesmo: não há salvação fora do neoliberalismo. E leia os veículos deste dfiscurso pífio e ridículo: A Globo, a sórdida Revista Veja, as urubólogas reflexões de Miriam Leitão...

Contudo, há uma reação - que a mídia divulga menos do que deveria, dando mais espaço à morte de um ditador líbio que ao fato de que milhares de jovens de todas as idades estão indo às ruas em protesto contra este modelo que está a destruir a tudo e a todos em favor de uma minoria.

Eles, os jovens (de todas as idades), apesar da indiferença da mídia, conseguiram demonstrar a existência de uma consciência para além do ego, que não aceita que milhões paguem a especulação de algumas míseras dezenas. Que gerações ainda por nascer não tenham o direito a estudar, dormir e comer para que militares, industriais, banqueiros se refastelem com o melhor que o dinheiro pode ter e ainda acusem os primeiros de incompetentes...

Dizem os defensores do status quo que quem protesta contra o todo poderoso Mercado demonstra infantil ingenuidade... Onde já se viu o desejo por um mundo melhor questionar toda uma teoria técnica feita para enriquecer os já ricos? Quem já se viu criticar o certo, mesmo que este certo se faça sobre a dor e a miséria da maioria? São loucuras de jovens, quer tenham 15, quer tenham 75 anos... Tolos que acham que se pode tirar o poder de uns poucos para que o mesmo seja de todos. Dizem, contudo, que por qualquer coisa, se eles insistirem nisso, se esse protest se espalhar mais pelo mundo, poder-se-á financiar repressões nos países ricos e, em países "periféricos", uns tantos golpes militares - haverão sempre hipócritas e sádicos fardados prontos para isto -, o que seria até bom para a indústria e bancos, e ainda daria para demonstrar força para tentar calar a voz de todos, inclusive o de uns poucos "sonhadores" dos países mais  capitalistas... Onde já se viu ressurgirem novos Che Guevaras contestadores por ai sem a permissão do patrão?

Democracia, para as elites, só é boa para a liberdade de consumo e a manutenção de uma classe no poder. Se isso pode mudar, que mude primeiro a democracia para qualquer outra coisa que mantenha os privilegiados por cima.

Como diz com propriedade Juremir Machado da Silva, publicado no site Correio do Povo:


"No Chile, observe-se que loucura, jovens querem que o Estado se encarregue da educação de todos. Afirmam eles que a educação - tão lucrativa que é! - não pode ser um negócio como qualquer outro.
Atrevem-se a sustentar que o lucro não pode ser o motor do sistema
educacional. Como são ingênuos e alienados esses jovens de hoje. Apostam
que podem mudar o mundo, contrariando as evidências e as previsões, e
acabam conseguindo o que querem. Jovens não sabem o que fazem. Ignoram
que quando forem mais velhos mudarão de opinião. Os jovens indignados
americanos são muito perigosos. Defendem a humanização do capitalismo.
Outros, em vez de usar as redes sociais para namorar ou "ficar",
organizam manifestações, derrubam ditadores no mundo árabe ou sacodem
dogmas ocidentais escorados no cinismo transformado em filosofia
política e econômica.

"Definitivamente não dá para confiar nos jovens. Por falta de experiência
e de conhecimento, negam os valores mais sadios dos seus pais e avós,
entre os quais privilegiar a especulação financeira e diminuir gastos
públicos com a saúde. Jovens americanos são bobos. Desejam que o
orçamento destinado à saúde pública seja maior que o da guerra. Vê-se
que os pais perderam o controle sobre os filhos e já não conseguem
transmitir-lhes o que pensam de pior. Em vez de adorar Wall Street, os
jovens cospem ou fazem xixi em cima daquilo que representa a visão de
mundo por excelência dos seus antepassados. Sem dúvida, será preciso
tomar medidas rigorosas em relação aos jovens. Se eles continuarem
agindo livremente, sem o menor senso de realidade, acabarão por
construir um mundo lamentavelmente melhor.

"Nos lares republicanos dos Estados Unidos só se ouve uma exclamação: "A
juventude está perdida". Não dá para se confiar em ninguém com menos de
20 anos. É um pessoal com ideias próprias antes do tempo. Sonha-se com
um mundo em que a cooperação seja tão importante quanto a competição.
Que horror! Que falta de educação! É o fim."

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O paradoxo do fanatismo e o perigo de uma teocracia: como fica o Estado Laico?



"Nem todo aquele que diz 'Senhor', 'Senhor' entrará no Reino dos Céus
(...) Naquele dia, muitos vão me dizer:
‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos
demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então, eu lhes declararei:
‘Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade’."
Jesus Cristo

Jesus de Nazaré, em partes variadas no Evagelho de Mateus, critica a teocracia e superficialidade dos falsos doutores da Lei que se preocupam mais em viajar por mares e terra em busca de fazer prosélitos que, no fim, são tão radicais ou ainda mais quanto a eles mesmos, sempre prontos a verem qualquer pequeno cisco no olho dos demais quando possuem uma enorme trave de conceitos duros em frente aos próprios olhos... São como cegos guiando cegos na certeza de que assim poderão obter graças dos céus pela loucura da quantidade e homogeinidade do pensar. 

E mais, embora Jesus de Nazaré seja a meiga e sublime pessoa conhecida e amada de todas (inclusive admirada por não cristãos), eles, os fundamentalistas cristãos, querem que as pessoas aceitem o Jesus igrejeiro, para eles fiscalizador, recompensador e exclusivista, como o "único que salva", algo diferente do Jesus histórico, como pesquisadores do porte de um James Charlesworth, Geza Vermes, Gherd Theissen, Bart Ehrman e outros discutem. Do contrário, por melhor que seja a pessoa em obras e caráter (como é o quer o Jesus de Nazaré dos Evangelhos, mas não propriamente dos "evangélicos"), ela impreterivelmente estará condenada ao inferno...

Isso é ser cristão do Cristo ou uma corruptela de uma interpretação literalista dos textos sagrados, em especial os de Paulo de Tarso, que não conviveu com Jesus mas ajudou a disseminar uma religião sobre ele, com a estranha base de que só a fé é suficiente, e não dele, Jesus, que tanto disse que obras e mudança íntima para o bem a todos é o que mais importa e não o fato de se dizer mesmo discípulo dele, como no texto de Mateus transcrito acima?

Falam também estes novos doutores literais da Lei tanto no surgimento de Falsos Profetas nos últimos dias e muitas das seitas fundamentalistas pró-pentecostais são de, no máximo, menos de quarenta anos...

Engraçado como as pessoas, que se reconhecem limitadas em tantas coisas, possam achar que detém a avaliação correta e defintiva sobre um Absoluto sempre inacessível, quase podendo engarrafá-Lo e vendê-Lo como propiedade particular, de acordo com seus interesses....

Imagine-se, então, se tais pessoas, multiplicando o número de membros de suas agremiações por promessas muitas vezes de ganho material pela cômoda dádiva de uma "salvação" sem muitos eforços além de "aceitar" a interpretação deles de Jesus, pagar impreterivelmente o dízimo ao pastor - por vezes tão altruista que agride outras pessoas que não sejam da sua Igreja para o "bem" delas - e forçar a paciência dos outros gritando e impedindo o sono da vizinhança, quiserem tomar o poder?

Isto parece um absurdo, mas é exatamente o que está acontecendo nos últimos anos e a tomada do horário nobre e das madrugadas de rádios e tvs por estanhos e ensaiados "espetáculos" da fé demonstram claramente isso e até Edir Macedo escreveu um livro chocante e explítico sobre suas pretensões políticas.

Mas o estado moderno não é laico? As concessões de rádios e tvs são são feitas pelo governo laico para o bem de todos, independentemente de diferenças de credo? Já não está provado que a união Estado-Clero é sinônimo de retrocesso e perseguição? Para eles, não.

A procuradora Simone Andréa Barcelos Coutinho, procuradora em Brasília do município de São Paulo, preocupada com o andar das coisas neste sentido, defende corajosamente uma reforma no código eleitoral que impeça no Congresso Nacional a existência de representações religiosas, ainda que informais, como a da poderosa bancada evangélica e, em reação a esta, a de outras denomiaçãoes religiosas.

Para ela, essas representações são incompatíveis com o Estado laico estabelecido pela Constituição brasileira: "O Poder Legislativo é um dos Poderes da União; se não for o Legislativo laico, como falar-se em Estado laico?"

Em artigo no site Consultor Jurídico, Simone escreveu muito apropriadamente que há duas formas de separação entre o Estado e as instituições religiosas, uma é total e outra é atenuada - e esta é o caso brasileiro.

"Num Estado laico todo poder emana da vontade do ser humano, e não da ideia que se tenha sobre a vontade dos deuses ou dos sacerdotes", escreveu. "Se o poder emana do ser humano, o direito do Estado também dele emana e em seu nome há de ser exercido."

Por isso, acrescenta ela, a importância do interesse público, resguardando o direito íntimo do livre-pensar, "jamais poderá ser aferido segundo sentimentos ou ideias religiosas, ainda que se trate de religião da grande maioria da população."

O que define um Estado verdadeiramente laico, argumenta a procuradora, não são apenas a garantia da liberdade religiosa e a inexistência formal de relações entre esferas governamental e religiosa, mas também a vigência de normas que proíbam qualquer tipo de influência das crenças na atividade política e administrativa do país.

Vejam, agora, algumas absurdas propostas de Lei a tramitarem no congresso, nas assembléias legislativas e nas câmaras municipais de todo o Brasil pela ala dos fundamentalistas:

- Projeto de Resolução que determinada obrigatoriedade de leitura de versículo bíblico antes de cada sessão na Câmara dos Deputados (PRC 4/1999) e no Senado Federal (PRS 10/2007)
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=21630 e
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=80322

- Projeto de Lei (873/1999) que obriga leitura de versículos bíblicos antes de cada aula nas escolas públicas de SP
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download?poFileIfs=2480350&%2F01_0873_1999_2480350.tif%22


- Projeto de Lei (256/2011) que obriga todos estabelecimentos de ensino (públicos e privados) do Estado de SP a fixar crufixos em local e em tamanho de fácil visualização, em área de circulação.
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download?poFileIfs=22010914&%2Fpl256.doc%22


- Emenda evangélica ao projeto de lei acima obrigando também os estabelecimentos de ensino públicos e privados de SP a exporem uma Bíblia em cima da mesa de cada sala de aula.
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download.do?poFileIfs=22041287&%2Fsl49.doc


- Projeto de Lei (PL 7924/2010) que determina que só terão validade legal os casamentos celebrados por instituições religiosas.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=487034


Conclusão? Para o bem de todos e para a manutenção da paz e da liberdade, que Deus nos ajude a que não venhamos a cair no retrocesso de uma teocracia fundamentalista!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O perigo da arrogância evangélica neoconservadora de direita nos EUA e no mundo



Pela gravidade da situação (do retorno de um Bush com base em um discurso religioso-fundamentalista), reproduzo matéria publicada no Opera Mundi, de 07/10/2011. Infelizmente, faz tempo que existe a associação entre a ética protestante e o espírito do capitalismo (WEBER)...

Em um discurso polêmico, o pré-candidato republicano a presidência Mitt Romney afirmou nesta sexta-feira (07/10) que Deus criou os Estados Unidos para que o país comandasse o mundo.


“Deus não criou este país para que fosse uma nação de seguidores. Os EUA não estão destinados a ser um dos vários poderes globais em equilíbrio”, afirmou Rommey. O discurso foi feito em um colégio militar no estado da Carolina do Sul.

Segundo o pré-candidato, “os EUA devem conduzir o mundo ou outros o farão”. As afirmações ocorrem no dia que marca os 10 anos da invasão do Afeganistão pelos EUA. Na época, o país justificou a invasão afirmando que deveria capturar o saudita Osama Bin Laden, responsável por articular os ataques de 11 de setembro.

Para Romney, o mundo seria muito mais perigoso caso os EUA não tivessem um papel de liderança. “Deixem-me ser claro: como presidente dos Estados Unidos, eu me dedicarei a um século americano. Nunca, jamais, pedirei perdão em nome dos EUA”, concluiu.

Romney está em primeiro lugar nas intenções de voto entre os pré-candidatos republicanos, segundo informaram as últimas pesquisas. “Isso é muito simples: se você não quer que os EUA sejam a nação mais forte do planeta, eu não sou seu presidente”, concluiu o pré-candidato.
*Com informações da AFP.


 Bem, o perigo é a piora do atual estado de ignorância televangélica generalizada...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Refletindo sobre os 44 anos do brutal ASSASSINATO de um Herói: Che Guevara


Ernesto Rafael "Che" Guevara de la Serna
 (1928-1967)

Reproduzo a seguir um texto que diz muito aos que sentem a brutal perda de um herói na luta pela justiça e igualdade aos povos explorados da América Latina. Há no final deste texto um video,  onde a atriz e cantora francesa  Nathalie Cardone, canta a música “Hasta Siempre”, de Carlos Puebla, em bela e pungente homenagem ao Che. Sugerimos assistir os filmes "Diários de Moticicleta", do brasileiro Walter Sales, com Gael Garcia Bernal no papel de Che, e também "Che - o Argentino" e "Che - a Guerrilha", de Steven Soderbergh, com Benício del Toro no papel de Che. Subsidiariamente, vejam também o documentário de Oliver Stone, Ao Sul da Fronteira.

Os mortos que não morrem e os vivos que não vivem

De Eric Nepomuceno, no Carta Maior

“No dia em que executaram o Che Guevara (09/10/1967)  em La Higuera, uma aldeola perdida nos confins da Bolívia, Julio Cortázar – que na época trabalhava como tradutor na Unesco – estava em Argel. Naquele tempo – 9 de outubro de 1967 – as notícias demoravam muito mais que hoje para andar pelo mundo, e mais ainda para ir de La Higuera a Argel.


Vinte dias depois, já de volta a Paris, onde vivia, Cortázar escreveu uma carta ao poeta cubano Roberto Fernández Retamar contando o que sentia: “Deixei os dias passarem como num pesadelo, comprando um jornal atrás do outro, sem querer me convencer, olhando essas fotos que todos nós olhamos, lendo as mesmas palavras e entrando, uma hora atrás da outra, no mais duro conformismo… A verdade é que escrever hoje, e diante disso, me parece a mais banal das artes, uma espécie de refúgio, de quase dissimulação, a substituição do insubstituível. O Che morreu, e não me resta mais do que o silêncio”.

Mas Cortázar escreveu:

Yo tuve un hermano
que iba por los montes
mientras yo dormía.   


Lo quise a mi modo,
le tomé su voz
libre como el agua,
caminé de a ratos
cerca de su sombra.

No nos vimos nunca
pero no importaba,
mi hermano despierto
mientras yo dormía,
mi hermano mostrándome
detrás de la noche
su estrella elegida.


A ansiedade de Cortázar, a angústia de saber que não havia outra saída a não ser aceitar a verdade, a neblina do pesadelo do qual ninguém conseguia despertar e sair, tudo isso se repetiu, naquele 9 de outubro de 1967, por gente espalhada pelo mundo afora – gente que, como ele, nunca havia conhecido o Che.

Passados exatos 44 anos da tarde em que o Che foi morto, o que me vem à memória são as palavras de Cortázar, o poema que recordo em sua voz grave e definitiva: “Eu tive um irmão, não nos encontramos nunca mas não importava, meu irmão desperto enquanto eu dormia, meu irmão me mostrando atrás da noite sua estrela escolhida”.

No dia anterior, 8 de outubro de 1967, um Ernesto Guevara magro, maltratado, isolado do mundo e da vida, com uma perna ferida por uma bala e carregando uma arma travada, se rendeu. Parecia um mendigo, um peregrino dos próprios sonhos, estava magro, a magreza estranha dos místicos e dos desamparados. Foi levado para um casebre onde funcionava a escola rural de La Higuera. No dia seguinte foi interrogado. Primeiro, por um tenente boliviano chamado Andrés Selich. Depois, por um coronel, também boliviano, chamado Joaquín Zenteno Anaya, e por um cubano chamado Félix Rodríguez, agente da CIA. Veio, então, a ordem final: o general René Barrientos, presidente da Bolívia, mandou liquidar o assunto.

O escolhido para executá-la foi um soldadinho chamado Mario Terán. A instrução final: não atirar no rosto. Só do pescoço para baixo. Primeiro o soldadinho acertou braços e pernas do Che. Depois, o peito. O último dos onze disparos foi dado à uma e dez da tarde daquela segunda-feira, 9 de outubro de 1967. Quatro meses e 16 dias antes, o Che havia cumprido 39 anos de idade. Sua última imagem: o corpo magro, estendido no tanque de lavar roupa de um casebre miserável de uma aldeola miserável de um país miserável da América Latina. Seu rosto definitivo, seus olhos abertos – olhando para um futuro que ele sonhou, mas não veria, olhando para cada um de nós. Seus olhos abertos para sempre.

Quarenta e quatro anos depois daquela segunda-feira, o homem novo sonhado por ele não aconteceu. Suas idéias teriam cabida no mundo de hoje? Como ele veria o que aconteceu e acontece? O que teria sido dele ao saber que se transformou numa espécie de ícone de sonhos românticos que perderam seu lugar? Haveria lugar para o Che Guevara nesse mundo que parece se esfarelar, mas ainda assim persiste, insiste em acreditar num futuro de justiça e harmonia? Um lugar para ele nesses tempos de avareza, cobiça, egoísmo?

Deveria haver. Deve haver. O Che virou um ícone banalizado, um rosto belo estampado em camisetas. Mas ele saberia, ele sabe, que foi muito mais do que isso. O que havia, o que há por trás desse rosto? Essa, a pergunta que prevalece. ´

O Che viveu uma vida breve. Passaram-se mais anos da sua morte do que os anos da vida que coube a ele viver. E a pergunta continua, persistente e teimosa como ele soube ser. Como seria o Che Guevara nesses nossos dias de espanto? Pois teria sabido mudar algumas idéias sem mudar um milímetro de seus princípios.

Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia.

Assim seria ele hoje.
Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che.

E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas, mas nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. Como o Che.”


Assista agora ao video "Hasta Siempre" com
a bela atriz e cantora francesa Nathalie Cardone,
em homenagem a Che Guevara

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sábado, 8 de outubro de 2011

Protestando contra a corrupção dos neoliberais especuladores em Wall Street



Amigos,

Milhares de pessoas, nos Estados Unidos, estão se reunindo contra a exploração de uma elite minoritária que nos últimos vinte anos tem edestroçando o mundo com sua especulação financeira.

Estas pessoas - estudantes, profissionais liberais, donas de casa, etc. -  estão agindo publicamente contra a corrupção especulativa, que trouxe as crises de 2008 e de 2011. Elas estão sendo vítimas da repressão por parte dos poderosos, incluindo uma mídia comprometida que não tem interesse em divulgar a causa. Os manifestantes muitas vezes sendo presos, apesar do aspecto pacífico do seus protestos, unicamente por confrontarem os interesses dos podersos (de banqueiros e mega-especuladores à indústria da guerra).

Peço a vocês que participem da campanha mundial de apoio a estes nossos irmãos que estão fazendo a sua parte por um mundo melhor, entre outras coisas, associando-se à de campanha efetuada pelo Avaaz em apoio a estas pessoas, participando do abaixo assinado virtual. Quanto maior o número de pessoas participando, maior a pressão contra a corrupção capitalista, financiadora de golpes. Participem! O link para isso é: http://www.avaaz.org/po/the_world_vs_wall_st/?tta

Vamos nos unir por uma democracia social e mundial verdadeira!

Carlos

domingo, 2 de outubro de 2011

Um Método Muito Perigoso entre Freud, Carl Jung e Sabina Spielrein





cartaz italiano do filme A Dangerous Method, de David Cronenberg, com Keira Knightley, Viggo Mortesen e Michael Fassbender


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Carl Gustav Jung (1875-1961) era um talentoso, jovem e promissor psiquiatra residente no hospital Burghözli, em Zurique, quando, em 1904, iniciou o tratamento de uma jovem e inteligente judia russa de classe média-alta, de 19 anos, chamada Sabina Spielrein (1885-1942), que apresentava então severos sinais de neurose de conversão (chamada então de histeria). Jung foi muito bem sucedido no tratamento de Sabina que, recuperada e devido à sua inteligência e beleza, atraiu as atenções do jovem médico mais do que seria esperado, após sua alta do hospital. Sabina foi uma das primeiras pacientes em que Jung  passou a aplicar o método de tratamento baseado numa concepção da mente como sendo formada por duas instâncias: consciente e inconsciente (sendo este último, com seu conjunto de desejos e pulsões justamente inconscientes, o principal motor do comportamento), desenvolvido por um autor então controverso e maldito nos meios acadêmicos: Sigmund Freud (1856-1939).

Freud, por sua vez, via na competência e inteligência de Jung um vetor para a divulgação da psicanálise pelo mundo, passando, inicialmente, a considerá-lo como seu herdeiro intelectual, que estaria acima intelectualmente dos primeiros psicanalistas de seu círculo íntimo, em Viena. Ao saber do caso de Sabina, passa a acompanhá-lo, inicialmente de longe, mas se deixando envolver pelo carisma da moça logo que a conhece.

Sabina Spielrein, recuperada e afetivamente fortemente ligada a Jung, fez o curso de Medicina com excelente desempenho e resolve se dedicar à psicologia e psiquiatria. Jung foi seu orientador de tese de doutoramento sobre esquizofrenia, obtida em 1911. No mesmo ano, Sabina é aceita no círculo psicanalítico íntimo de Freud, onde exerce profunda influência nas idéias do pensador (sendo a principal, segundo alguns autores, os elementos do conceito de pulsão de agressividade, de morte, ou tânatos). Também exerceu forte impacto em Jung e idéias como o arquétipo da Ânima podem, talvez, estarem ligadas à sua influência sobre o psiquiatra suíço, embora após o rompimento com Freud, em fins de 1912, Sabina já fosse uma lembrança e outras pessoas estivessem mais presentes na vida de Jung (como Emma Jung e Tony Wolf, por exemplo).

Sabina também foi uma das causas e testemunha  do processo de rompimento entre os dois mestres, mas não a única. Na verdade, desde  1911 Freud utilizava-se de Sabina para "espionar" Jung. Mas toda esta história e a redescoberta desta mulher extraordinária só vieram à tona após o achado, nos anos 1970, de cartas e um diário de Spielrein, juntamente com algumas de Freud e Jung, que a citam. Esta descoberta e história é a base do excelente livro "Um Método Muito Perigoso", de John Kerr (publicado no Brasil pela editora Imago, 1997), que serviu de base para o roteiro da peça "The Talking Cure" de Christpoher Hampton e de fundamento para o filme "A Dangerous Method" do competente cineasta David Cronenberg (de Senhores do Crime), e que foi muito aplaudido no Festival de Veneza de 2011. O Filme será lançado no Brasil provavelmente entre janeiro e fevereiro de 2012.

  Antes do livro de Kerr, o material descoberto sobre Sabina serviu de base para o livro de Aldo Carotenuto, chamado "Diário de uma Secreta Simetria", publicado no Brasil pela editora Paz e Terra.

Sabina Spielrein, a antiga histérica, se tornou a primeira psicanalista mundial (antes de Melanie Klein e Anna Freud) a se interessar e cuidar de crianças a partir das teorias de Freud e Jung. Ela criou, na Rússia, a Escola Branca para o desenvolvimento de crianças. Sabina foi assassinada, junto com suas filhas, pelos nazistas na Rússia, em 1942.

Anteriormente a história do relacionamento de Sabina, Freud e Jung já fora levada às telas por Roberto Faenza em seu filme belo filme de 2002, "A Jornada da Alma" (disponível em DVD), contudo a película se centrava mais no romance entre Jung (interpretado perfeitamente por Ian Glen) e Sabina (muito bem interpretada por Emily Fox) sendo Freud apenas citado, como meramente citada também é a sua influência no movimento psicanalítico nascente. Um ótimo documentário, feito pela diretora suíça Elizabeth Marton, chamado "Meu Nome era Sabina Spielrein" foi lançado também em 2002. Esperemos, agora, para ver o que nos dirá e trará "Um Método Perigoso", de David Cronenberg, que traz Keira Knightley no papel de Sabina Spielrein, Michael Fassbender no de Carl Gustav Jung e Viggo Mortesen no de Sigmund Freud.

O filme de Cronenberg parece focar naquilo que ele mais destaca em suas obras: a ação do inconsciente, chocando até mesmo seus protagonistas. Ele parte do pressuposto fundamental da psicanálise de que o inconsciente tem esse nome por exatamente isso, inconsciente, que é uma região de desejos, idéias, emoções e capacidades que temos e desconhecemos e que se faz notar na relação entre duas ou mais pessoas. E assim nos surpreendemos como, malgrado a imagem ideal que possamos ter, podemos ser mesquinhos, violentos e irracionais, ou, como destaca Jung, como algumas vezes podemos ser maiores e mais notáveis do que esperávamos. No filme vemos que, aos poucos, a relação de respeito mútuo entre Freud e Jung vai sendo minada por pulsões nada nobres: Freud vai se enchendo de inveja da jovialidade, independência e inteligência de Jung e este recente-se do cada vez maior papel artificial de autoridade de Freud, que se recusa a contar um sonho a Jung por temer perder sua ascendência de líder sobre o jovem suíço, e pelo exclusivismo caprichoso de impor suas idéias como intocáveis e inquestionáveis, a não ser por ele mesmo. Ambos se relacionam em um contexto de luta com um universo intelectual que, ao mesmo tempo que os vêem com desconfiança, passa aos poucos a admirá-los por suas idéias.

Segue abaixo o trailler legendado do filme.