quarta-feira, 16 de março de 2011

A realidade de uma nova América Latina no controvertido documentário "Ao Sul da Fronteira", de Oliver Stone




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Polêmico, perturbador, brilhante, excêntrico, louco... Estes são ordinariamente os predicados que os críticos lançam sobre o trabalho do diretor norte-americano Oliver Stone, desde seu primeiro sucesso, Platoon, de 1986, que versava sobre o absurdo da Guerra do Vietinã (e que, em parte, é auto-biográfico, já que Stone foi realmente soldado naquela Guerra). Platoon ganhou o Oscar de melhor filme e a crítica de Stone sobre as guerras imperialistas continuou em obras como Nascido em 4 de Julho e em Entre o Céu e a Terra, de 1993.

Mas a crítica histórica de Stone não se ateve apenas à temática do Vietnã. Seu olhar inquisidor sobre o calculismo do capitalismo o fez faz dar vida ao aplaudido Wall Street, de 1987 e, depois, no polêmico JFK - A Pergunta que Não quer Calar, de 1991, seguido de Nixon, de 1995.

Mas o aprofundamento do olhar crítico de Stone sobre o império Americano começou a alcançar o período mais polêmico a partir de 2003, quando foi a Cuba para uma série de entrevistas com Fidel Castro. O documentário foi barrado nos Estados Unidos de Bush e dos neoconservadores fundamentalistas do partido republicano, mas fez sucesso na Europa, especialmente na Inglaterra e França. Stone voltaria à Cuba em 2004 onde iria filmar Looking for Fidel que, apesar dos protestos dos alienados, foi ao ar na HBO no mesmo ano.

Os contatos com Fidel e com os pensadores de esquerda o fizeram aprofundar as táticas de manipulação do governos dos EUA em benefício dos interesses de uma minoria, normalmente ligada a Wall Street. Seguindo uma linha semelhangte a de Michael Moore, Stone passou a procurar líderes e pensadores da América Latina passando a construir filmes que mostrassem o ponto de vista dos excluídos e dos dominados. Tal trabalho iria se concretizar no recente e mais polêmico trabalho de Oliver Stone: "Ao Sul da Fronteira" (South of the Border), de 2009 (veja o vídeo completo mais abaixo ou clicando aqui).

"Ao Sul da Fronteira" começa com uma crítica ao tratamento que a mídia norte-americana dá aos latino-americanos, e muito em especial aos presidentes de esquerda, dividindo-os em “bons” e “maus”, seguindo o maniqueísmo superficial e capenga de Bush e seus companheiros neoconservadores. Assim, na divisão de Bush, Lula estaria entre os “bons”, enquanto Chávez mais Evo Morales, da Bolívia, estariam entre os “maus”, ao lado de Fidel. Segundo o próprio Stone, a mídia dos EUA não saberia classificar os Kirchner, da Argentina. Stone não nega sua simpatia a estes líderes que vê como enfrentadores do imperialismo norte-americano. O resultado é que este documentário agradou latinos e europeus, mas causou uma chuva de críticas ácidas nos Estados Unidos e, aqui no Brasil, a mídia atrelada ao neoliberalismo e seus representantes não ficou atrás. Por exemplo, Arnaldo Jabor, o intelectual frustrado, afirmou que Stone é um "grosso" e "medíocre" ( o autor de filmes como Platoon e Wall Street é medíocre?). De qualquer modo, a maior parte dos intelectuais independentes aplaudiram o documentário, que fez verdadeiro furor no festival de Veneza de 2010.

Logo depois, no documentário, Stone faz um crítica avassaladora ao FMI como instrumento de dominação imperialista nos países da América Latina, empobrecendo-os e levando o povo a escolher líderes de esquerda como forma de protesto a este estado de coisas. Stone fala claramente que tal atitude é benéfica e um elemento relativizador da visão de mundo aritificialista dos Estados Unidos, o que seria de interesse de todos os demais países após a crise de 2008 (ainda que existam oportunistas e falsos socialistas no continente, como no caso do prefeito “vândalo” da cidade de João Pessoa, Paraíba, destruidor de Aeroclubes).

"Ao Sul da Fronteira" é filme indispensável para se entender a reação da América Latina à ideologia neoliberal exploradora de Washingnton, em um contraponto necessário à massificação de consciências da mídia comercial atrelada ao neoliberalismo.



Elenco

Hugo Chávez ... O Próprio
Lula ... O Próprio
Tariq Ali ... O Próprio
Raúl Castro ... O Próprio
Rafael Correa ... O Próprio
Cristina Kirchner ... A Própria
Néstor Kirchner ... O Próprio
Fernando Lugo ... O Próprio
Evo Morales ... O Próprio

Ficha Técnica

Título Original: South of the Border
País de Origem: EUA
Gênero: Documentário
Tempo de Duração: 102 minutos
Ano de Lançamento: 2009
Direção: Oliver Stone
Distribuição: Europa Filmes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá... Aqui há um espaço para seus comentários, se assim o desejar. Postagens com agressões gratuitas ou infundados ataques não serão mais aceitas.