quarta-feira, 2 de março de 2011

As duras e necessárias verdades do documentário "Inside Job - Trabalho Interno: a Verdade da Crise", de Charles Ferguson




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Se você se interessa em saber muito mais do que é dito pela imprensa comercial (comprometida com o sistema econômico-financeiro) sobre as causas e efeitos da crise financeira mundial de 2008, você deve assistir ao documentário “Inside Job”, que no Brasil teve a tradução de “Trabalho Interno, a Verdade da Crise”, e que ganhou o Oscar (mais que merecido) de melhor documentário em 2011.

Este documentário, junto com o de Michael Moore, “Capitalismo, uma história de Amor”, nos apresenta uma excelente perspectiva dos crimes financeiros elaborados e executados por uma minoria no interior de Wall Street com a conivência de políticos e incentivos dos grandes bancos e em detrimento das pessoas que acreditavam no mercado e que, por isso, perdem seus empregos, economias, casas, carros, poupança e que, não tendo a quem recorrer, precisam baixar à cabeça diante do capitalista “deus” mercado em sua ânsia de destruição do ecossistema e da dignidade humana.

Baseado em entrevistas com pessoas de dentro de Wall Street, com pesquisadores, com autoridades, com políticos e trabalhadores, todo o documentário mostra os tentáculos do mercado financeiro pelo mundo e sua doutrina neoliberal, ideologia que racionaliza e encobre a exploração da humanidade e da natureza para a alegria e prosperidade de uma sempre menor minoria.

A pergunta do filme é: como é que se causa uma crise de âmbito mundial, com conseqüências sociais graves e uma quebradeira de meros 20 trilhões de dólares? A resposta é: por meio de uma farra de negócios especulativos e manipulação de informações.

E enquanto as benesses da farra são capitalisticamente abocanhadas por uma minoria, já o prejuízo é socializado para todos: a conta das falcatruas do capitalismo é cobrado de milhões de simples pessoas que não participaram da festa, mas que são pressionadas a pagar pela decisão de alguns através de impostos e medidas econômicas de arrocho (lembram-se da Grécia, da Irlanda, de Portugal? Ou daqui mesmo do Brasil, com a alta dos juros e o do tal "Superávit Primário" - que só existe aqui - para pagar os juros da dívida interna aos famintos bancos? Ou a caça aos direitos trabalhistas?). Em vários países (inclusive no Brasil), as crianças inocentes já nascem devendo, e elas pagam com fome e miséria a bonança dos banqueiros...

O objetivo do documentário Inside Job é o de apresentar todo o comportamento criminoso, ganancioso e calculista de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise econômica mundial de 2008.

O exemplo dos banqueiros, tal como mostrado no filme, causa espanto e revolta, especialmente por serem eles os arautos da desregulamentação desenfreada da doutrina neoliberal que os deixou fazer o que bem quisessem com a economia mundial, destroçando as políticas e leis locais de países diferentes, sempre buscando a desregulamentação do setor financeiro para benefício de uma elite de especuladores.O exemplo dos lucros astronômicos de bancos como Itaú e Bradesco (na casa de dezenas de bilhões de reais ao ano) deixa claro que este enriquecimento advém do comprometimento do dinheiro que deveria servir á sociedade, que vai para o bolso de banqueiros devidos às taxas surreais de juros nacionais.

Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight, documentário que desnuda o governo de mentiras de George W. Bush) e narrado por Matt Damon, Inside Job, Trabalho Interno, apresenta ao espectador a história do racionalismo mecanicista em busca gananciosa de lucro que é produto de Wall Street e seus agentes pelo mundo, e que tanto faz para que a imprensa (quarto poder financiado) tente minimizar, até mesmo para que 2008 seja esquecido, possivelmente para que o enredo do vampirismo se repita.

Em No End in Sight, o documentário anterior, Charles Ferguson faz uma análise fria sobre o governo de George W. Bush e sua conduta megalomaníaca em relação à Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram seriamente a vida de milhões de pessoas – dores, miséria, violência e prejuízos que continuam a atingir inocentes mundo à fora.

Uma das chamadas do documentário diz: “Se você não ficar revoltado ao final do filme, você não estava prestando atenção”, e, de fato, é difícil evitar de, ao assistir o filme, sair com um gosto amargo de revolta diante da realidade de sermos todos (ou quase todos, visto que uma ínfima parte está muito bem) vítimas da especulação traiçoeira e alienadora de uma minoria. Revolta que se torna ainda maior ao saber que, ainda gora, muitos dos causadores da crise, dos empresários à banqueiros, ao invés de estarem presos, voltaram a dar “conselhos técnicos” c na mesma Bíblia neoliberal para governos e sociedades. Algumas das mais novas vítimas são os gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do FMI”.

De fato, mesmo depois da Crise de 2008, todas as iniciativas e pretensas “reformas” do sistema dos bancos foram feitas com o único objetivo de enriquecer ainda mais os já ricos às custas da pauperização das demais camadas da sociedade, o que vem aumentando visivelmente nos últimos anos... Mas não era, depois da queda do Muro de Berlim, o “Fim da História”, nas palavras do estúpido Francis Fukuyama, com o vencimento do Capitalismo cujas “leis” de mercado trariam desenvolvimento e felicidade a todos? O neoliberalismo e a globalização tem, isso sim, é comprometido cada vez mais a qualidade de vida de bilhões de seres humanos e não humanos ao redor do mundo e transformado a política em um jogo de sepulcros caiados para impressionar por fora, guardando todo o tipo de podridão e interesses escusos, por dentro.

Os arautos do Neoliberalismo e das privatizações, da racionalização que destrói famílias e sonhos e da desregulamentação das leis de controle financeiro para a defesa do cidadão-contribuinte-eleitor (royalties ao grande Hélio Fernandes) são também os arautos da destruição das leis em favor do bem-estar social e da proteção ao meio-ambiente e seguem soltos com seus carrões e mansões e condomínios fechados, investindo na especulação imobilária, comprando prefeitos e mandando até mesmo destruir pistas de pousos em Aeroclubes aqui no Brasil (caso recente do Aeroclube da Paraíba), como se nada tivesse ocorrido.

Inside Job mostra as entranhas fétidas deste mundo de cobiça, cinismo e mentira que é o capitalismo especulativo das Bolsas de Valores e dos Bancos. São estes criminosos de colarinho branco que seguem mandando, desmandando e dando as cartas do jogo de exploração em todo o nosso planeta.

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