terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Viagem, filme crítico e espiritualista dos irmãos Wachowski, com direção de Tom Tyker



Carlos Antonio Fragoso Guimarães




Em dezembro (ao que parece), a Warner Bros estará lançado o filme "Cloud Atlas" que, no Brasil, terá o título de "A Viagem". A produção é dos irmãos Wachowski (os mesmos de "Matrix" ). A direção, do alemão Tom Tyker (de "Corra, Lola, corra"). Por questões mercantis, contudo, a estréia do filme pode ficar para janeiro de 2013, já que superproduções como O Hobbit, de Peter Jackson, e "As Aventuras de Pi", de Ang Lee, estarão estreando na época do Natal.


Baseado no romance Cloud Atlas, de  David Mitchell, a história conta  a vida, em flashes e de forma entrelaçada - num desenvolvimento atípico dentro das produções ordinárias de Hollywood -, de seis pessoas que vivem, em épocas diferentes, vidas que são expressões dramáticas e cômicas da luta humana para adquirir e manter uma noção mais crítica, humana e justa do mundo, no que, impreterivelmente, acabam por ser perseguidas  - os perseguidores, pertencentes à classe dominante que explora a maioria dominada, também retornam em outras vidas e outras roupagens. Existe uma sugestão no filme de que os personagens, em distintas épocas, são animados pelas mesmas almas que tornam a encarnar e vivenciar situações semelhantes (e não sem razão, a peça musical composta no filme por um compositor emocionalmente conturbado, chama-se "Eterno Retorno"). As histórias desses personagens formam uma tapeçaria complexa, cujos fios vão do século 19 até um futuro possível e um tanto indeterminado. 

O filme retoma a mesma crítica social já presente em produções dos irmãos Wachowski, como Matrix e V de Vingança, especialmente ao fato de que as classes dominantes impedem qualquer desenvolvimento de um pensamento crítico desta mesma sociedade, onde todas as idéias de  justiça, igualdade e expansão da realidade cruel do sistema são vistas como perigosas heresias a serem duramente combatidas, denunciado até mesmo a tecnologia e o mecanicismo como meios de alienação e sedução das pessoas e ainda toca em questões como vida após a morte, justiça, evolução, reencarnação, afetividade, preconceito racial e sexual e a ligação sutil, sistêmica, entre nossos atos e escolhas junto a nós mesmos, ao mundo e às pessoas. Contudo, o filme não é tão fácil de digerir pelas pessoas que estão acostumadas com as produções de ação superficial que povoam as salas de cinema nos últimos trinta anos e é necessário uma abertura e atenção para entender o enredo do filme,  que, contudo, traz todos os ingredientes de uma história  filosoficamente instigante.

No elenco: Tom Hanks, Halle Berry, Susan Sarandon, Ben Whishaw, Hugo Weaving, Jim Sturgess e Jim Broadbent

domingo, 23 de setembro de 2012

A desvalorização do humano na hipervalorização das coisas

De fato
Uma minoria cada vez menor impõe modelos de consumo e alienação
O resultado estamos vendo: violência contra o humano e a natureza,
Aquecimento global, especulação imobiliária e financeira...
Qualidade de vida cada vez pior, pois a pópria mas mal utilizada e endusada tecnologia está causando estragos vários.
As pessoas cada vez mais isoladas, se tornando menos gente e mais máquia...
Grande Karl Marx!

sábado, 22 de setembro de 2012

O fenômeno da Experiência de Quase Morte - EQM

   
 A ascenção das almas, detalhe de uma tela de Hyeronimus Bosch

     Existe um estranho e fascinante fenômeno encontrado em todos os povos e culturas e que possuem tantos traços em comum no relato das pessoas que por ele passaram que acabou por chamar, nos últimos 37 anos, uma quantidade crescente de médicos, psicólogos e pesquisadores: a chamada lembrança da Experiência de Quase Morte, ou EQM (em inglês, Near Death Experience, NDE, ou seja, experiência próxima da morte).

   Os relatos, que já vinham sendo recolhidos por médicos, enfermeiros e outros há muito tempo, se tornaram mais conhecidos a partir do livro do Dr. Raymond Moody Jr, Life after Life (1975), traduzido para o português, Vida Depois da Vida, publicado no Brasil pela editora Nórdica.

  Moody compilou um conjunto de relatos de pessoas que, após passarem por um tempo em que foram consideradas clinicamente mortas, ao voltarem através de técnicas de ressuscitamento, traziam lembranças e informações - várias das quais podiam ser confirmadas - do que ocorreram com seus corpos durante o processo de ressuscimtaneto e, mais além, de encontros com pessoas e sobre eventos diversos. Esta compilação mostrou haver um  certo padrão que poderia ser montado através da comparação dos relatos das lembranças de diferentes pessoas que passaram pela experiência e que tinam vários pontos em comum.  Assim, em uma experiência de EQM, é possível que a narração da pessoa, independente de cultura, religião, idade ou sexo, se aproxime dos seguintes pontos gerais:

1.º De início, a pessoa sente um mal-estar e exaustão devido a algum problema clínico grave (um ataque cardíaco, por exemplo), ou simplesmente se encontra em uma situação repentina, confusa, do qual não consegue apreender bem a situação (um acidente de carro, por exemplo, ou uma perda súibita de consciência). No primeiro caso, é possível que ele ouça a ação agitada de enfermeiros tentando reverter a situação e chamando os médicos para reanimá-lo, bem como o médico ou as pessoas ao redor declarerem de que  está morto. No segundo, a pessoa, após um breve lápso de consciência, simplesmente se vê em uma situação repentina, confusa, sem entender direito o que se está passando, mas também ouvindo o que se passa ao seu redor: as pessoas gritando e buscando ajudá-lo.

2.º Logo, a pessoa pode ouvir algum tipo de zumbido ou outro tipo de som qualquer e ao mesmo tempo sente que está se elevando ou sendo puxado para cima. Em casos de acidente ou mesmo em vários de colápso clínico, a pessoa simplesmente já se vê flutuando em algum canto do quarto, observando o espetáculo das tentativas de reanimação do seu corpo. É neste momento que algumas pessoas relatam ações e diálogos entre os médicos e enfermeiros que serão confirmados muitas vezes, posteriormente, após sua reanimação. A pessoa pode também ver que possui um corpo idêntico ao que está na cama do hospital ou noutro local e pode estranhar que esteja se sentindo tão bem, ao mesmo tempo que o corpo físico está sendo tão manipulado, às vezes violentamente, pelos médicos lá embaixo.

3.º Você agora começa a ver outras pessoas que se aproximam de você. Dentre elas, algum parente já falecido ou outros desconhecidos. Elas parecem estar lá para apoia-lo neste momento. É comum que as pessoas nesta situação se sintam bem e calmas. Neste momento ela pode se sentir atraída pelo famoso túnel onde uma luz muito brilhante se faz perceptível em seu final.

4.º A pessoa começa a se deslocar rapidamente por este túnel. Alugmas passam por uma espécie de rememoração holográfica de tudo o que viveu, pensou e sentiu durante toda a sua vida.

5.º A pessoa se apercebe, em retrospecto, de que sua vida tinha um sentido, que seus atos repercutiam na vida de outras pessoas e que sua experiência na Terra foi bem ou mal aproveitada, mas sente que outras pessoas que a acompanham não a julgam, apenas a aceitam com amor. Também se apercebe que ainda tem um corpo e que a morte não é nada daquilo que ela imaginara. Ao chegar perto do ponto luminoso, ou fim do túnel, ela pode ser recebida por um ente de grande beleza e bondade, um ser espiritual que a pessoa pode, a depender de sua cultura, interpretar como sendo um anjo, Jesus, Buda, Deus ou qualquer ente semelhante que se ligue a algum aspecto de elevação moral, independentemente de ter sido ou não religiosa. Este ser é sentido como tão compreensível e amoroso que a pessoa simplesmente se emociona e se entrega completamente à sensação de paz que está sentindo, ainda que permaneça um tanto constrangida pela avaliação que faz com a vida que viveu.

6.º Neste momento, é dito à pessoa que está passando por esta experiência que se ela for mais adiante não poderá voltar. Por vezes está ideia é representada por um portão, uma porta ou um limiar qualquer. Muitas vezes é dada à pessoa escolher entre ir adiante ou voltar. Lembrando dos filhos ou dos parentes e amigos, ou de que, diante da experiência, ela poderia mudar e fazer algo de bom, a pessoa ou decide voltar ou simplesmente é "mandada" de volta, muitas vezes contrariando a sua vontade, que é a de permanecer neste plano espiritual.

7.º A pessoa volta novamente ao ponto de partida e continua a ver as pessoas se esforçando por reanimá-la quando, repentinamente, parece ser sugada de volta ao corpo. Neste momento, sente a dor do corpo e de todo o procedimento e se frustra diante da paz e alegria que estava sentido momentos antes, na experiência de EQM.

8.º Mas tarde, ela tenta contar o que viveu. Começa a perceber que o que vivenciou é muito dificil, senão impossível, de ser expressado coerentemente através de palavras. A depender do contexto onde vive, ela sequer tenta descrever o que viveu, com medo de ser considerada louca ou de ter tido um delírio.

9.º A pessoa, qualquer que tenha sido suas idéias sobre a vida e a morte anteriormente, sente-se completamente mudada pela experiência vivida, muitas vezes apresentando uma segurança e sensação de propósito e afirmando que seu medo da morte diminuiu muito, quase desaparecendo completamente.

O pesquisador e psicólogo experimental Charles T. Tart afirma que
"O fato de Moody ter conseguido criar um resumo do que geralmente se passa nas EQMs chama a nossa atenção para uma das coisas mais importantes acerca dessas experiências: a enorme semelhança das EQMs em uma vasta gama de pessoas e culturas. Se as EQMs não passassem de experiências alucinatórias induzidas pelo mau funcionamento do cérebro no momento em que alguém morre, como querem crer os materialistas, o normal seria que houvessem grandes variações nas alucinações de pessoa para pessoa, e as características da experiência seriam em grande parte determinadas pelas culturas e crenças daqueles que a tivessem. Em vés disso, o que aponta para a existência de alguma coisa 'real' nas EQMs,que não seria, assim, mera alucinação. Na verdade, alguns de seus aspectos geralmente contradizem os sistemas de crenças (anteriores) das pessoas que as vivenciam. Os (ex-)ateus, por exemplo, ficam desconcertados por se verem diante de um ser de luz de aspecto divino, ainda que as descrições desse ser sejam muito semelhantes àquelas dadas por pessoas que têm outras crenças" (TART, Charles. O Fim do Materialismo, Ed. Cultrix, 2012, pp. 257-258).

Atualmente, entre os pesquisadores de renome a estudarem estas experiências incluem-se os nomes dos clínicos e pesquisadores Dra. Elizabeth Kübler-Ross, Dr. Sam Parnia e do Dr. Peter Fenwick, entre outros (Keneth Ring, D. Scott Rogo, etc.). O livro de D. Sott Rogo, "Volta à Vida" (publicado no Brasil pela Ibrasa), faz um estudo abrangente de todas as implicações e possibilidades do fenômeno EQM.

Um documentário que pode aprofundar o estudo deste tema foi feito pelo Discovery Channel e pode ser visto aqui:

 Um excelente documentário em longa metragem, disponível em DVD sobre o tema, chama-se "Vida Depois da Morte", baseado nos estudos de Moddy, Elizabeth Kubler-Ross e outros (foto ao lado).

 Hoje, com o desenvolvimento das técnicas de ressuscitação, o número de pessoas quevivenciaram uma EQMs eleva-se à cifra de milhões de pessoas, em todo o mundo.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Leonardo Boff escreve sobre o Mensalão, as Elites e o PT


Leonardo Boff

Manter viva a causa do PT : para além do “Mensalão”

17/09/2012

 


Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele, hoje, se aplica ao PT com referência ao processo do “Mensalão”. Você bate nos acusados mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão, mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT.

De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização nos meios populares. Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis.

Muitos sentimo-nos decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções e cantos de sereia inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em que este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático.

Lamentavelmente houve a queda. Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.

Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto apenas duas decisivas.

A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo. Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil 1965,14) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”.

Ora, o PT e Lula vem desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula Presidente representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas, amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e liquidar com seus líderes.

A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos, ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração. Difamaram a coragem de um Presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens.

Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo do PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.

Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência.

Essa utopia mínima é factível. O PT se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.

*Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e dr.h.causa em politica pela Universidade de Turim por solicitação de Norberto Bobbio.

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/09/17/manter-viva-a-causa-do-pt-para-alem-do-mensalao/

 

domingo, 16 de setembro de 2012

Carl Jung no cinema: Uma Análise do Filme Labirinto, a Magia do Tempo, de Jim Henson


texto de
 
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
 
I - Introdução

 
Este pequeno artigo visa a uma interpretação psicológica, dentro do referencial da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, do enredo do filme Labyrinth (no Brasil, Labirinto – A Magia do Tempo) do diretor norte-americano Jim Henson, o criador dos Muppets e da Vila Sezamo.
 
Em nossa análise, partimos do pressuposto de que a linguagem do filme é de conotação mítica. Como bem expressam os mitólogos, todo o mito possui um significado simbólico e imagético (a linguagem própria da psique profunda) em que se entrelaçam quatro dimensões distintas: o mito trata de uma visão simbólica sobre os processos de desenvolvimento das forças psíquicas internas próprias do ser humano. Essas forças precisam, para se atualizar, de se enfrentar com os aspectos sociais que se apresentam historicamente, ao mesmo tempo que fazem referência às forças inerentes aos inconsciente e às pulsões mais básicas do ser humano, pulsões que se enraizam no inconsceinte, representado pela floresta ou o oceano dos contos de fadas populares. Estas forças são as raízes que ligam o ser às estruturas evolutivas estimuladas pelo próprio ambiente e o cosmos inteiro.
 
Nesse sentido, o filme de Henson parece, quer seus autores tivessem ou não consciência disto – o co-rodutor do filme, George Lucas, da série Guerra nas Estrelas, foi profundamente influenciado pelos estudos em mitologia de Joseph Campbell, um estudioso de Jung -, refletir o esquema básico da maior parte dos épicos da mitologia, conhecido como A Jornada do Herói – ou, no caso do filme em questão, a jornada da Heroína, que parte de um estado de consciência imatura, passa por desafios, e retorna mais amadurecida, com uma nova percepção de si mesma e da vida.
 
II – A Jornada da Heroína

 
O psicanalista e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um dos mais importantes estudiosos a se debruçar sobre os aspectos psicológicos dos mitos, no século XX. Ele demonstrou que a linguagem mais profunda da psique se expressa simbolicamente e que os mitos, que são frutos da criação coletiva, apontam para aspectos do desenvolvimento humano expressos de modo simbólico através do imaginário.
 
Suas idéias foram retomadas e desenvolvidas por pesquisadores como Mircea Eliade e Joseph Campbell. Ambos dirão quase a mesa coisa: “as imagens e símbolos expressam as mais profundas modalidades do ser” (ELIADE, 1996), ou, como diz Campbell, os contos e histórias que tem como base uma figura heróica – que não necessariamente precisa ser um indivíduo, mas também pode ser um grupo de pessoas – expressam figuradamente as capacidades de superação e transcendência presentes em todos. Isso lembra os conceitos de processo de individuação, de Jung, ou da confiança básica dos psicólogos humanistas na capacidade de auto-atualização ou auto-realização, como postulam Carl Rogers e Abraham Maslow. Deste modo, costumava dizer Campbell que, em havendo condições favoráveis mínimas, cada pessoa poderá ter a chance de desenvolver suas capacidades a partir dos desafios da vida, como ocorrem nos diferentes mitos do herói:
 
“Siga sua bem-aventurança até lá, onde há um profundo sentido do seu ser, lá onde seu corpo e sua alma querem ir. Quando você alcançar essa sensação, fique aí e não deixe ninguém arrancá-lo desse lugar. E portas se abrirão onde você nem sequer imaginava que pudesse haver algo."

 
Em uma análise mais psicológica, Jung dirá que o herói de um conto ou mito é o ego que se vê repentinamente envolto em desafios de toda a ordem, freqüentemente para lhe fazer ver que o mundo é mais amplo e mais dinâmico do que ele imagina. Muitos dos desafios e monstros de sua jornada advém do seu meio, mas eles estão ligados igualmente às forças internas do inconsciente. Deste modo, parte da ameaça que o Ego percebe ser externa pode, de fato, ser parcela dass projeções de elementos que o próprio sujeito possui e de que seu ego não faz idéia, elementos esses - como coragem, generosidade, compaixão – que só se sabe que se tem diante de desafios.
Neste sentido, o filme de Henson expressa à perfeição essa jornada de auto-conhecimentoe maturação. Talvez isso explique, em grande parte, o fascínio deste filme que, apesar de não ter sido um sucesso de bilheteria à época de seu lançamento (1986) se transformou em um Cult, marcou a infância e a adolescência de muita gente e vem se consolidando em meio a uma legião de aficcionados que vem crescendo nestes últimos 26 anos.
 
III – Sinopse da história e interpretação do seu significado.
 

 

A jovem Sarah Williams (interpretada pela belíssima Jennifer Connelly que, à época do filme, 1985, ainda não tinha completado 15 anos), é uma garota sensível, que adora os personagens do livro Labyrinth. O filme inicia-se com Sarah, vestida ao estilo medieval, citando os trechos finais do livro.
 
Logo depois, ao badalar do relógio, a jovem é despertada de seu mundo de fantasia e ficamos sabemos que Sarah é uma jovem adolescente órfã de mãe e que se sente ofendida pela madrasta, que a faz ficar em casa tomando conta de seu meio irmão Toby, enquanto ela e o pai saem para se divertir. Sarah se acha impedida de ter vida própria (não é isso o que sete a maioria dos adolescentes, que se vêm crescidos demais para serem vistos como crianças, mas ainda jovens demais para terem a liberdade que sonham?) e, inevitavelmente, culpará os pais e o irmãozinho de menos de dois anos por isso.
A ver que um de seus ursinhos estava faltando em seu quarto, Sarah corre ao quarto do irmão e, irada, pega o ursinho do chão, afirmando que odeia o bebê. Ao mesmo tempo, devido à tempestade que cai lá fora, o bebê, visivelmente assustado com os trovões e relâmpagos, chora desesperadamente. Sarah começa a desabafar contando a história de uma linda garota que era obrigada a cuidar de seu irmão menor. Não agüentando mais o choro do bebê ela expressa o desejo de que o rei dos Gnomos, Jareth (interpretado pelo famoso roqueiro David Bowie) viesse e levasse o irmão para seu reino mágico. E é exatamente o que acontece. Ao agir assim, Sarah demonstra ser como todos os heróis: uma pessoa imperfeita, falível, mas que reconhece seu próprio erro. Ou seja, estava pronta pela vida (e pelo destino) a adentrar em uma aventura que permitesse amadurecer suas qualidades positivas, apesar de seus traços ainda infantis, psicologicamente falando.
 
É assim que, arrependida das consequencias do que desejou, Sarah implora ao Rei dos Duendes (que demonstra uma clara “queda” pela mocinha) que devolva o irmãozinho. Jarethde início tenta convencer Sarah, por meio de um afago ao ego, de que estar sem o irmão traria vantagens para ela. Sarah, contudo, já despertou o suficiente para superar essa tentação e implora pela volta do irmão. Jareth então diz que ela o terá de volta se conseguir, dentro de 13 horas (e ai vemos o tempo psicológico transcendendo o tempo cronológico. São 13 horas porque no mundo do desenvolvimento interno o tempo não segue o padrão do relógio que, como sabemos, marca apenas doze horas em seu mostrador), chegar ao centro do labirinto mágico, onde está seu castelo, ladeado pela cidade dos gnomos ou duendes.
 
Vemos, então, que a aventura de Sarah se dá em um espaço diferente do trivial, o espaço da significação psicológica, com características próprias. A busca pelo irmão no centro do labirinto é o caminho de reconhecimento de suas próprias capacidade. Sarah busca o centro do labirinto e, com isso, caminha ao reconhecimento de seu próprio Self, seu centro interno, sua essência.

 
               Sarah recebe o chamado da aventura e não o recusa. Ela assume sua decisão de ir em busca do irmão, passando por inúmeros perigos e dificuldades, mas que a fará conhecer amigos e ajudantes pelo caminho, como o aparentemente inútil Hogle, o afetuoso grandalhão Ludo e o espevitado Fox Terrier Sir Dydimus. Ou seja, ela adentra no modelo do herói: por escolhas acaba por cair em uma aventura e se lança em busca em meio desconhecido, o labirinto, onde passará por dificuldades e enfrentará os perigos até se encontrar, finalmente, com seu grande rival, Jareth, encontrando, pelo caminho, ajuda improváveis. Cada uma dessas estranhas criaturas ajuda Sarah a entender parte de sua própria realidade e capacidade íntima.

 
                 No final, Jareth, aparentemente querendo fazer o mal, possui a mesma si de Mefistófeles no Fausto de Goethe: por mais que queira fazer o mal, acaba por fazer o bem. Jareth é a representação das projeções da própria Sarah, sua sombra, sua personificação de capacidades boas e más e mesmo sua projeção íntima do que seria do seu ideal infantil do masculino sedutor. No final, Jareth é seu professor. Poderia, como tenta, fazer Sarah fracassar em seu processo de individuação, quando ele mais uma vez a tenta ao dizer que daria tudo o que ela mais desejasse se ela o amasse e obedecesse. Sarah, contudo, aprendeu com sua viagem por este mundo que esta promessa era mais uma armadilha.
 
                Muita gente que assistiu o filme sonha ou desejava que a menina aceitasse o convite de Jareth, o que equivaleria a vender sua alma, rompendo com o mundo real. Mas a moça integrou a força sedutora dos arquétipos em si, fortaleceu o Ego (que não é mais tão egoísta) e triunfa do último grande desafio que lhe foi dado: a tentação de viver fora do mundo real (o que derruba muita gente no universo da fantasia com traços da loucura).
 
 
 
Quando, finalmente, Sarah reconhece, na cena do enfrentamento final, que Jareth não tem poderes sobre ela, ela o derrota – ela integrou os aspectos de seu próprio inconsciente, reconhecendo que os poderes do rival são dela mesma – e, supera seu erro e sai da experiência triunfante e amadurecia, renovada e possuidora de um novo patamar de identidade.
 
O incrível é que essa mesma sensação de completude e alegria atinge uma parte grande das pessoas que assistem o filme, jovens e adultos, indicando que ele desperta nos mesmos uma empatia inconsciente com a personagem central.
 
A jornada de Sarah pelo labirinto é uma metáfora da jornada ao auto-conhecimento que todos nós somos convidados a fazer pela vida, mas que poucos têm coragem de aceitar.
 
FICHA TÉCNICA

Diretor: Jim Henson
Elenco: David Bowie, Jennifer Connelly, Toby Froud, Brian Henson, Shelley Thompson, Christopher Malcolm, Natalie Finland, Ron Mueck, Daivd Barclay.
Produção: David Lazer, Eric Rattray.
Roteiro: Lewis John Carlino, Jim Henson, Edward C. Hume, Terry Jones, John Varley.
Fotografia: Alex Thomson
Trilha Sonora: Trevor Jones
Duração: 101 min.
Ano: 1986
País: EUA – Reino Unido
Gênero: Aventura Fantasia

Sobre a diferença entre céticos reais, pseudocéticos e ateus que são reais crentes

Destaque de uma parte da reflexão do psicólogo, pesquisador Psi e engenheiro, Dr. Charles Tart, da Universidade da Califória, sobre pseudocéticos:


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Curas Psíquicas, Mediúnicas ou Espirituais


Pesquisas Científicas e Casos Registrados

Carlos Antonio Fragoso Guimarães




Em 1965, o Dr. Bernard Grad, da McGill University, Quebec, Canadá, publicava seus estudos pioneiros sobre a questão polêmica das capacidades de influenciação biológica através da chamada cura psíquica, mediúnica ou paranormal.

                Estudioso sobre a questão da oncologia, seu trabalho sobre o câncer o levou a se interessar pelo trabalho de, inicialmente, médicos e enfermeiros que pareciam ser mais potencialmente benéficos a seus pacientes e, a partir destes, sobre o trabalho de pessoas que pareciam ter alguma capacidade de fazer regredir doenças por meio de preces, passes ou unicamente pela vontade de ajudar doentes, em especial a partir do seu contato com Oskar Estabany, que tinha essa aparente capacidade, descoberta ainda na Primeira Guerra Mundial, quando de inicio parecia que seus cuidados com cavalos, utilizados na Guerra, que eram feridos pareciam se recuperar extraordinariamente rápido. Logo se descobriu que sua presença, em especial sua técnica de imposição de mãos, também parecia funcionar extraordinariamente com os soldados feridos.

                Para evitar o problema da autossugestão e do efeito placebo, onde o doente, por estar confiante no progresso do tratamento, consegue melhorar mesmo quando os remédios ministrados são inócuos, o Dr. Grad buscou avaliar os supostos dons de Estabany sobre elementos vivos que não fossem sugestionáveis. Para isso, ele elaborou duas séries de experimentos, uma envolvendo ratos de laboratório e outra, sementes de cevada.

                Os ratos, divididos em um grupo experimental e dois de controle, eram feridos através do corte de uma dobra de pele, onde a área das feridas eram medidas. Um total de 48 ratos foram assim feridos e acompanhados, sendo que uma parte deles era tratada por Estabany, que os tocavam (estando cada rato tratado dentro de um saco de pano, evitando um contato direto com o curador. Os ratos de controle também o eram postos em sacos, mas não tinham contato com o médium, no mesmo momento em que os ratos experimentais recebiam o tratamento, pelo mesmo intervalos de tempo de vinte minutos duas vezes ao dia).

 Na figura abaixo, temos uma amostra dos tamanhos dos ferimentos dos ratos antes da cura paranormal. A primeira série apresenta os ferimentos do grupo de controle, o segundo dos ratos que seriam tratados pelo curador e o terceiro, o do segundo grupo de controle, que seriam submetidos a um tratamento térmico com a temperatura do corpo humano (simulando a temperatura das mãos de Estabany).


                Duas semanas após a fase de tratamento, o Dr. Grad fez uma avaliação do processo de cicatrização dos ratos. Tanto a análise visual quanto a estatística do processo de remissão das áreas das feridas foram significativos. Veja-se a figura 2, abaixo, que o grupo tratado pelo curador vieram a ter uma evolução positiva de recuperação muito superior ao dos dois grupos de controle:




               
                Outro experimento, com as sementes de cevada, que eram parcialmente queimadas, teve um resultado análogo. As sementes era postas em um forno por um tempo limitado. Algumas morriam e outras ficavam danificadas em grau de relativa gravidade. DForam divididas em grupos de tratamento e de controle, como ocorreu com os ratos, mas desta vez o curador não as tocava ou sequer ficava próximo a elas. Ao invés disso, ele recebia uma garrava com soro, onde impunha as mãos. Depois, a garrafa era deixada em repouso para que a temperatura ficasse idêntica a do ambiente e só depois era aspergida sobre as sementes. As sementes de controle recebiam o mesmo soro, com a única diferença de que ele não passara pelas mãos de Estabany. As demais condições de luminosidade, temperatura e de envasamento e tratamento eram idênticas nos dois grupos.  

                Novamente, uma análise estatística demonstrou que as sementes tratadas com o soro que havia sido “energizado” por Estabany tinham brotado de modo mais saudável e desenvolvido que as sementes tratados com o soro comum. Na foto, os dois grupos de brotos da pesquisa do Dr. Grad. Notar que o grupo X, exatamente o que recebeu o soro "energizado" por Estabany, apresenta-se mais desenvolvido e forte que o grupo de controle Y.


                Estudos semelhantes, evolvendo médiuns e curadores, foram feitos esporadicamente ao logo dos anos, após o trabalho pioneiro do Dr. Grad. Atualmente, o Dr. Larry Dorsey, chefe da equipe do Hospital Municipal de Dallas, Texas, é um dos mais conhecidos pesquisadores sobre a questão do processo de cura paranormal.
               


               Vejamos uma consideração do Dr. Charles Tart, da Universidade da Califórnia, sobre os curadores espirituais, que surgem independentemente das tradições ou vertentes culturais e religiosas, embora algumas possam dar um suporte que permita o desenvolvimento destas capacidades psíquicas mais que outras:


     “Observe-se que os bons paranormais de cura provêm de todas as tradições, o que significa que a cura espiritual pode ser real, ainda que não comprove a veracidade de nenhuma religião em particular em comparação com as outras (...)” (TART, Charles. O Fim do Materialismo, Editora Cultrix, São Paulo, 2012, p. 200)

No Brasil, houveram conhecidos médiuns de cura. Atualmente, o mais conhecido internacionalmente (na verdade, mais conhecido fora que dentro do próprio Brasil) é João de Deus, da cidade de Abadiânia, Goias, constamente visitado por pesquisadores e jornalistas de todo o mundo. Sobre este médium, veja-se os seguintes vídeos:






segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O problema da natureza e localização da Mente/Consciência e sua relação com o cérebro




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

          Em qualquer área de conhecimento, todo problema parte de condições específicas de cada saber e, assim, as perguntas devem ser feitas de acordo com as características próprias do objeto que se quer apreender. Não se discute o sabor de um raio de luz ou qual a fórmula química de um poema pois cada uma destas coisas possuem estrutura e características bem diversas que impedem que sejam reduzidas a outras modalidades de conhecimento (no caso, a biologia e a química no caso da luz ou da poesia). Desta forma, o que está presente quando perguntamos “o que é a mente?” “O que é a consciência?” Quais as ideais ou referenciais implícitos em tais questões? Por que é tão difícil se falar, nos meios acadêmicos, tão atrelados a uma visão atualmente dominante de mundo que é basicamente mecanicista e reducionista?

Na questão “o que é a consciência” está implícita certo pressuposto: a consciência é alguma coisa semelhante a alguma outra coisa. Se é coisa, deve ser, pressupõe-se, passível de alguma manifestação física e, assim, é de esperar-se que possua rastros que devam ocupar algum volume no espaço. Ou seja, a própria questão, como formulada, leva em si a suposição de que a consciência humana deve ser semelhante a outros “objetos” que nos são familiares e, assim, se enquadrar na imagem mecânica de mundo dominante ainda hoje. O problema é que pouco se leva em conta as prováveis limitações deste conjunto implícito de suposições.

Lawrence LeShan em seu livro De Newton à Percepção Extra-sensorial discorre sobre o assunto a partir da reflexão sobre a possibilidade ou não de aplicação de conceitos característicos de um domínio da realidade em outro. Enquanto a questão do “volume” faz sentido a partir e quando aplicada a objetos tridimensionais, ela deixa de fazer qualquer sentido na geometria plana. Utilizar-se dos axiomas fundamentais da geometria plana em objetos tridimensionais causam paradoxos. Portanto, diferentes dimensões ou domínios da realidade possuem características próprias que levam a elaboração de os conceitos novos ou reformulação de conceitos antigos. As características próprias de uma dimensão trazem problemas quando ampliadas a uma outra dimensão, reino, domínio da realidade ou referencial teórico.

Por exemplo, o espaço das mesodimensões, tão característico do uso bem sucedido da física newtoniana,  é algo bem diferente do espaço-tempo da física relativística aplicada a grandes dimensões e grandes velocidades e, de tão diferentes, não significam a mesma coisa.  Do mesmo modo, ambas as físicas se tornam problemáticas no universo microdimensional da física das partículas subatômicas. Ao sair de um domínio ou reino para outro, ainda que adjacente e a este ligado, surgem novas características inexistentes e paradoxais no domínio anterior. Ninguém pensa em explicar as excentricidades do personagem Dom Quixote a partir da escrita gramaticalmente rebuscada mas correta de Miguel de Cervantes, ou da composição do papel ou da sintaxe da língua espanhola.

Não nos preocupamos como surgem ou emergem estas características em um novo patamar da realidade (por exemplo, o volume no espaço, a ingenuidade de Dom Quixote), mas como podemos estuda-las e compreende-las, uma ao nível do pragmatismo empírico e outra ao nível do significado psicológico, o que acaba por estruturar uma ciência voltada para as características daquele domínio, com os fatores observáveis em seus próprios termos. 

Foi muito doloroso aos cientistas aceitarem que os paradoxos dos átomos só eram paradoxos enquanto se tentasse compreendê-los com os conceitos familiares que aplicamos à realidade física mesodimensional. No caso, o domínio das dimensões médias constitui um “reino” diferente do das macro e microdimensões e cada qual possui suas próprias características, assim como o reino da vida possui características próprias diferentes do reino físico, mas esteja com este ligado e relacionado.

Cada domínio, portanto, necessita de um diferente modelo de realidade, com conceitos que possuem acepções e características próprias que não podem ser aplicados a domínios adjacentes ou diferentes. Quando isso ocorre, tem-se paradoxos e confusões epistemológicas.

A ciência muitas vezes não se preocupa diretamente com a “natureza de algo”, ou seja, em descrever o que seja algo, do que sejam constituídas coisas de um reino ou domínio. Ela não diz o que é a gravidade, ou a eletricidade, mas apenas como elas se manifestam através daquilo que é observável.  Assim, a gravidade é reconhecida como uma força (mas não se diz o que seja essa força) que atua na atração de massas em relação à distância entre elas, ou o que seja a energia elétrica, mas  que nesta existem fluxo de elétrons que trazem consequências físicas tais como calor, atração/repulsão, efeitos fisiológicos, etc.

Se não faz muito sentido se dizer “o que é”, mas sim “o como atua ou se relacionam” os objetivos observáveis de um domínio, o que permite inferir algo atuando sobre estes, também não faz muito sentido se perguntar o que é a consciência, porque esta pergunta parece defini-la como um objeto e, assim, ela possuiria deveria possuir características que a inferissem enquanto tal, quando na prática suas reais características que não permitem entende-la como algo definido, restrito ou estático. Na verdade, ela parece ser algo sutil como o é a vida e a gravidade, mas ainda se tenta explica-la não enquanto algo com características próprias (e que assim deve ser estudada), mas enquanto subproduto de outra coisa.

Ela, a consciência, é sumamente qualitativa e dinâmica, processual e não parece confinada a um espaço definido e, ainda mais, ela é justamente aquele elemento não passível de mensuração e manipulação que, contudo, possibilitou a reflexão de tudo o que constitui a ciência produzida pelo homem. É sumamente perceptual, faz parte do reino da realidade onde se percebe uma atividade interior e que possui a característica única de ser reflexiva. Deste modo, são estas características, que não se mostram distanciadas em espaço e em que a questão do tempo também parece se desfazer, que constituem o Domínio da Consciência.

O que observamos no Domínio da Consciência? Processos, intensidades (emoções, ideais), senso de identidade, clareza ou confusão, estado de ânimo, presença ou ausência de informações. Como se relacionam estes observáveis? De modo bem diferente de como se relacionam os objetos do mundo sensorial pelo simples motivos de que eles não são “objetos” no sentido corriqueiro do termo. Você pode sentir e pensar várias coisas, consciente e conscientemente, concomitantemente, sem que haja um conflito de “corpos ocupando um lugar no espaço”.

LeShan cita William James: “Todas as pessoas acreditam, sem hesitar, que elas se sentem pensando e que distinguem o estado mental, como qualquer atividade ou paixão interior, de todos os objetos com os quais tal estado pode lidar cognitivamente”.

“Precisamos enfatizar”, afirma LeShan,  “que a ciência, na os atualidade, não pergunta o que uma coisa é, mas como ela se relaciona com outros fatores nos mesmos domínios e talvez nos domínios adjacentes. Até mesmo a definição formal de volume – o comprimento, a largura e a altura multiplicados e expressos através de unidades cúbicas – é uma constatação de relacionamentos e não aquilo que é.” (p. 95).

A consciência é inferida por uma série de coisas das quais temos experiência direta e subjetiva: ela tem ciência dos sentimentos, das ideias, das reflexões, até mesmo das intuições que são seus elementos observáveis mais comuns, mas não se reduz a estes. Indagações do tipo “o que é” quando apenas conseguimos inferir observáveis podem induzir a um círculo-vicioso, em especial quando se quer entender suas características próprias com conceitos próprios de um outro nível ou dimensão da realidade. Explicar “o que é a energia” geralmente deixa os físicos em maus lençóis e até hoje não se conseguiu criar-se uma fórmula ou conceito convincente do que é que é a vida e tudo o que se diz a respeito sempre se resumirá a expor descrições de relações de coisas e ações, nunca sobre o que é aquilo que promove tais relações.

Se a ciência, reflete LeShan, não indaga, na prática, o que é energia, o que é a vida, por que perguntamos constantemente “o que é a consciência” ou “O que é a paranormalidade”? Isso ocorre porque, intuitivamente, sabemos que ambas apontam para algo bem diferente daquilo que constitui o mundo dito objetivo, o que relativiza nossas certezas.  Mas isso não implica abandonar os métodos da ciência, mas perceber quais os apropriados ou não para auxiliar na compreensão destas realidades. Contudo, estamos tão encharcados de um modelo, transferido pela educação em geral e pela cultura pragmática da sociedade industrial, que “aceitamos” a falsa ideia de que tudo o que existe segue as mesmas linhas do modelo reducionista que transforma o mundo em uma grande máquina semelhante às feitas pelo próprio homem. E mais: esta grande máquina do mundo é fruto totalmente do acaso, sem setido, sem objetivo, apenas seguindo as regras das leis da física e da química, o que inclui, em seu percurso acidental, a vida e a consciência.

Nas palavras críticas do psicólogo, engenheiro e pesquisador Psi, Dr. Charles T. Tart:

“Em um período relativamente breve, comparado com a história do nosso uni verso –centenas de milhões de anos, como os materialistas gostam de enfatizar - , ocorreram eventos físicos e químicos específicos ao qual nos referimos como vida e biologia. Os materialistas rejeitam a ideia de que haja algo de especial na vida, alguma coisa tão real quanto a matéria, mas de natureza distinta, uma “força vital” ou vitalismo. Por ser um tipo de dualismo, o vitalismo não pode” – dentro do escopo filosófico mecanicista – “estar correto; não existe nada além da realidade material. A vida significa apenas que, obtidas as combinações físico-químicas certas, os resultados serão as ações autossustentáveis  e autorreprodutivas que constituem a vida do modo como a conhecemos.

“Por fim, essa reação eletroquímica vital torna-se complexa a ponto de permitir que falemos sobre cérebros e, em seguida, sobre o cérebro humano. Ainda é basicamente controlada e limitada pelas leis da matéria, e há inúmeras influências diretas sobre seu funcionamento (...).  Curiosamente – e esse é um enigma para os materialistas, embora eles costumem ignorá-lo -, esse cérebro humano desenvolve a consciência, uma mente ou uma capacidade de discriminação perceptiva para as quais ele não se restringe às dimensões materiais da vida. Acredita-se que a consciência seja uma consequência exclusiva das propriedades sistêmicas do cérebro. Embora o materialismo acredita cegamente que algum dia a ciência descubra exatamente como a consciência surge da estrutura e do funcionamento físicos do cérebro – o que a explicaria de modo ‘definitivo’ -, até o momento não temos nenhuma teoria científica que sequer se aproxime de tal proeza. Esse é o motivo pelo qual o surgimento da consciência a partir de processos cerebrais exclusivamente físicos é conhecido como problema difícil entre os pesquisadores contemporâneos.  Quando não há nada de concreto a dizer, a crença na solução futura desse problema costuma ser expressa pela afirmação de que sabemos que o cérebro é responsável pela consciência. Em ternos de ciência pura, sem dúvida sabemos que o cérebro tem uma participação importante na consciência, da maneira como ela se manifesta em nosso dia a dia, mas isso é bem diferente de saber se o cérebro cria a consciência.” (Charles T. Tart, O Fim do Materialismo, ed. Cultrix, pp. 90-91).

Pouca gente, hoje, sabendo da íntima relação entre o aparelho físico de televisão e sua imagem, iria dizer que é este aparelho quem cria a imagem....

Onde se localiza a consciência? Em relação a esta questão, a ciência convencional parece iludir-se. É quase aceito por um consenso um tanto frouxo que a biologia e fisiologia  teriam chegado à conclusão (que não é unânime) de que a consciência se localiza no cérebro. No entanto, ao presumir tal fato, implicitamente está presente a ideia de que a consciência existe no espaço, é quase um objeto, e que se encontra no mesmo tipo de espaço que o crânio. Só que hoje é sabido que conceitos de espaço, tempo, causalidade e mesmo objeto são dramaticamente transformados, possuindo significados muito diferentes, em diferentes domínios ou dimensões da realidade. O que tem um sentido X em um determinado campo ou não faz sentido ou terá um sentido bem diferente em outro campo da realidade.

Outra idéia comum dentro da visão atualmente dominante é a de que a consciência é um subproduto das funções cerebrais mas, neste caso, como este subproduto consegue apresentar características que escapam à matéria, incluindo a capacidade de possuir consciência e, algumas vezes, transcender espaço e tempo?

As entidades físicas acessíveis aos sentidos (e percebidas pela mente) existem no meso-espaço do domínio sensorial e, quando separadas nesse espaço, constituem aparentemente entidades separadas. É assim que percebemos qualidades geométricas no espaço das dimensões médias. A consciência, no entanto, não existe no espaço físico. Ela não tem qualidades materiais. O espaço no qual a consciência existe tem qualidades completamente diferentes da do espaço físico.

Quando falamos de mente “localizada” o fazemos por analogia aos objetos físicos e pensamos que a consciência também tem tamanho, forma, contornos, limites e ocupa um espaço. Esses não são aspectos daquilo que conseguimos sentir existir na consciência. Ideia tem forma? Desejo possui um contorno? Falar de centímetros cúbicos de consciência é o mesmo que dizer que dizer que o número sete tem uma cor dourada o que um conceito coletivamente aceito pesa uma tonelada.

“Ninguém tem o direito de atribuir posições, tamanhos, formatos ou cores a coisas que, devido à sua própria natureza, não podem sustentar tais qualidades.  Seria o mesmo que atribuir um cheiro a um facho de luz.” H. Margenau.

Os fatores observáveis nos elementos da consciência, como amor, reflexão, alegria, não ocupam espaço pois nenhum deles possuem comprimento, largura ou altura. Não estão a centímetros um do outro ou formam ângulos restos. Mas podem ter intensidade. O espaço geométrico da realidade sensorial não se aplica. Os modelos mecanicistas sobre a mente não tiveram muito sucesso, e os atuais são cada vez mais sistêmicos que mecânicos. Vários pesquisadores (Wilder Penfield, David Bohm, Carl Jung) não pensam que a mente/consciência seja redutível ao sistema nervoso, embora este seja um instrumento de ligação entre aqueles e a realidade sensorial que vivenciamos enquanto seres-no-mundo.

Para ler:

Lawrence LeShan: De Newton à Percepção Extra-Sensorial, Summus Editorial, São Paulo, 1996.

Charles T. Tart: O Fim do Materialismo. Editora Cultrix, São Paulo, 2012.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Leonardo Boff: a base biológica da espiritualidade



Texto de Leonardo Boff


Esta profundidade espiritual, dizem pesquisas científicas, tem uma base biológica. Realizadas do final do século 20 e conduzidas pelos neuropsicólogos MichaelPersinger e Ramachandran, pelo neurologista Wolf Singer e pelo neurolinguista Terrence Deacon, outrossim por técnicos usando scanners modernos para fazer imagens cerebrais, detectaram o que eles chamaram de “o ponto de Deus no cérebro” (God spot ou God module).

Pessoas que em suas vidas deram espaço significativo ao profundo, ao espiritual, revelam nos lóbulos frontais do cérebro uma excitação detectável acima do normal. Estes lóbulos são ligados ao sistema límbico, o centro das emoções e valores. Aí se dá uma concentração naquilo que tais cientistas chamaram de “mente mística” (mystical mind). Tal estimulação do “ponto de Deus” não está ligada a uma ideia ou a algum pensamento objetivo. Ele é ativado sempre e quando a pessoa se sente emotivamente envolvida com os contextos globais que conferem sentido à vida ou quando, de forma autoimplicada, se referem ao Sagrado, a temas religiosos ou diretamente a Deus. Trata-se de emoções e não de ideações, de fatores ligados a experiências de grande sentido que implicam um percepção do Todo e de algo incondicional.

Estudos mais recentes apontam que pode haver de fato não apenas uma mas múltiplas regiões do cérebro estimuladas pela experiência de totalidade e de sacralidade. Isso indica que o “ponto de Deus” pode ser, na verdade, uma “rede de Deus” compreendendo regiões normalmente associadas a emoções profundas e carregadas de significação. Outros pesquisadores como Eugene D’Aquili e Andrew Newberg chamaram a esta realidade, como temos referido acima, a ”mente mística”.
Esta mente mística pertence ao processo mais geral, antropogênico-cosmogênico. Ela representa uma vantagem evolutiva da espécie homo. Como externamente somos dotado de sentidos pelos quais apreendemos a realidade através do ouvido, do olho, do tato e do olfato, assim seríamos internamente enriquecidos com um órgão pelo qual captamos o Mistério do Mundo, o que nos faz sensíveis àquela Energia poderosa e amorosa que perpassa de ponta a ponta todo o Universo e que subjaz à nossa existência. As tradições religiosas a chamaram de Deus.

Se ela está em nós e nós somos parte do Universo, significa então que esta inteligência espiritual constitui uma propriedade do próprio Universo. Só porque está no Universo pôde estar em nós. É por esta razão que a filósofa e física quântica Danah Zohar e o psiquiatra Ian Marshall afirmam que o ser humano não é apenas dotado de inteligência intelectual e emocional, mas também de inteligência espiritual. Esta é um dado de realidade com o mesmo direito de cidadania que a libido, a autoafirmação, a inteligência e o amor (QS: inteligência espiritual – Record, 2000).

Hoje faz-se urgente, mais que antes, dar realce à inteligência espiritual. Porque vivemos numa cultura entorpecida pelo materialismo e pelo consumismo induzido. O efeito deste modo de ser é bem relatado pela literatura contemporânea: sentimentos de náusea (Sartre), de estar-de-sobra (Marcel), de alienação (Marx), de “derelição-abandono”(Heidegger), de estrangeiros na própria pátria (Camus). Numa palavra, padecemos de graves doenças de sentido como denunciaram os psicanalistas Rollo May e Victor Frankl. Tudo isso porque embotamos a inteligência espiritual.

A espiritualidade nos ajuda a sair desta cultura doentia e agonizante. A integração da inteligência espiritual com as outras formas de inteligência — intelectual e emocional — nos abre para uma comunhão amorosa com todas as coisas e para uma atitude de respeito e de reverência face a todos os seres, muito mais ancestrais do que nós. Só assim, poderemos nos reintegrar no Todo, sentirmo-nos parte da comunidade de vida e acolhidos como companheiros na grande aventura cósmica e planetária.

sábado, 1 de setembro de 2012

Charles Tart e o problema da ciência e do cientificismo


Charles Tart: Ciência e cientificismo, Ceticismo Real e Pseudoceticismo (falso ou pretenso ceticismo) e a Parapsicologia

 

Passagens extraídas e adaptadas do livro O Fim do Materialismo, de Charles T. Tart, Editora Cultrix, São Paulo, 2012.


Existe a ciência pura e honesta e existe o cientificismo. Tendo em vista que a ciência praticada por seres humanos, seres que, como todos nós são falíveis, existem mecanismos de defesa patológicos que constituem os modos de não sabe – modos em que a ciência pura se cristaliza em forma de cientificismo, ou seja, um rígido sistema de crenças no qual o ceticismo autêntico, que é uma busca honesta de verdades maiores, se transforma em pseudoceticismo ou deboche. Como tenho observado ao longo de minha carreira, e como acredito que o psicólogo Abraham Maslow concordaria comigo, a prática científica pode ser tanto um sistema de desenvolvimento pessoa ilimitado quanto um dos mecanismos de defesa mais eficientes, renomados e neuróticos dentre os disponíveis (p. 31).

 

                Como diz Maslow, com grande beleza: “A ciência, portanto pode ser uma defesa. Basicamente, ela pode ser uma filosofia de segurança, um sistema de proteção, um modo complexo de evitar a ansiedade e os problemas que nos afligem (especialmente se ligadas a questões éticas). Levada a extremos, pode ser uma maneira de evitar a vida, uma espécie de enclausuramento intencional. Nas mãos de certas pessoas, pode tornar-se, na melhor das hipóteses, uma instituição social com funções basicamente defensivas e conservadoras, muito mais voltada para a regulamentação e estabilização que para a descoberta e renovação” (p. 74).

                Patologias da cognição e percepção, próprias do cientificista:

 

Necessidade compulsiva de ter “certeza”: caracteriza-se peça incapacidade de tolerar ou apreciar os paradoxos e ambiguidades dos fatos.

Generalização prematura: Buscar-se enquadrar o incomum em critérios familiares ainda que estes não dêem conta das características do fenômeno. É consequência da necessidade compulsiva de ter certeza.

Apego compulsivo à generalização: Despreza as informações que contradizem a visão de mundo e as crenças aos quais o pseudocético se apega.

Negação dos limites intelectuais ou da própria ignorância: caracteriza-se pela incapacidade  de admitir que “não sei” ou “eu estava errado”.

Negação da dúvida: Recusa em admitir a perplexidade, a dúvida ou a confusão (Thomas Kuhn discorre sobre isto, sobre a reação dos defensores de paradigmas antigos frente a novos desafios conceituais em seu célebre livro A Estrutura das Revoluções Científicas).

Necessidade patológica de se mostrar inflexível, duro, intransigente, poderoso: utiliza-se de mecanismos pretensamente intelectuais para encobrir inseguranças, ou seja, se utiliza de táticas baseadas no poder que são contrafóbicas.

Comportamento dominador e autoritário: impede o debate de ideias que se mostrem opostas às suas.

Racionalização disfarçada  de razão: ocorre no caso típico da antipatia “não gosto deste sujeito e vou inventar uma bom motivo para justificar minha aversão”;

Intolerância à ambiguidade: Fatos ou ocorrências que não se enquadram no sistema de crenças ou visão de mundo do pseudocético são descartadas como má pesquisa, fraude ou erro de interpretação.

Necessidade de aprovação: desejo obsessivo de parecer pertencer ao grupo dominante.

Arrogância: defesa contra a insegurança de seus defeitos.

Racionalidade compulsiva: incapacidade de correr riscos, de arriscar.

Intelectualização: evita-se os aspectos não racionais da realidade.

Medo da verdade: ansiedade diante de fatos que podem questionar boa parte da visão de mundo adotada pelo pseudocético.

Sistematização, categorização e estereotipia inadequados: táticas que justificam evitar o aprofundamento da percepção e da reflexão.

Enquanto o ceticismo normal é útil e saudável, ele se mostra nocivo quando confundido com o posicionamento pseudocético. Estes são adeptos e defensores de algum outro sistema de crença que, na opinião deles, já tem toda a verdade necessária. Esses Pseudocéticos chamam  a si próprios de céticos em razão do grande prestígio desta palavra, em vez de se rotularem mais propriamente, digamos, de “crentes no Sistema M”, que não apreciam os fatos ou as ideais sobre os quais você está falando e querem desacreditá-lo em defesa do Sistema M. São mistificadores, pretensos cientistas, missionários, advogados. Porém, como a palavra crente não desfruta do mesmo prestígio nos meios intelectuais, eles preferem chamar-se de céticos (p. 85).

O pseudocético típico: costuma afirmar que o resultado de pesquisas em Parapsicologia real são impossíveis. Você deve estar errado, suas observações devem resultar de um experimento descuidado, de interpretações baseadas nos próprios desejos, e não em fatos ou de são frutos da mera desonestidade de seus objetos de pesquisa, ou mesma da sua desonestidade, uma vez que suas afirmações, para ele, são cientificamente impossíveis. Assim, o pseudocético coloca-se não apenas como um buscador da verdade, mas também como um especialista nas disciplinas científicas importantes para avaliação do trabalho alheio.

                Observação de Henri Sidgwick: Um dos primeiros pesquisadores dos fenômenos paranormais, o renomado filósofo inglês  Henry Sidgwick (1838-1900), fez a seguinte observação: “Teremos feito tudo o que foi possível quando o crítico não tiver mais nada a alegar, a não ser que o pesquisador está trapaceando. Porém, quando ele não tiver mais nada a alegar, será essa a sua alegação. Charles Tart complementa dizendo os pseudocríticos fazem isso há muito tempo e que se considera elogiado quando eles impreterivelmente põe em dúvida a sua competência ou a qualidade de seus projetos de pesquisas (mais de quarenta e cinco anos de experiência nos estudos em psicologia experimental, engenharia e parapsicologia, com artigos em diversos periódicos sérios), ou mesmo quando afiram que ele ou os participantes de suas pesquisas não passam de embusteiros.