sábado, 1 de setembro de 2012

Charles Tart e o problema da ciência e do cientificismo


Charles Tart: Ciência e cientificismo, Ceticismo Real e Pseudoceticismo (falso ou pretenso ceticismo) e a Parapsicologia

 

Passagens extraídas e adaptadas do livro O Fim do Materialismo, de Charles T. Tart, Editora Cultrix, São Paulo, 2012.


Existe a ciência pura e honesta e existe o cientificismo. Tendo em vista que a ciência praticada por seres humanos, seres que, como todos nós são falíveis, existem mecanismos de defesa patológicos que constituem os modos de não sabe – modos em que a ciência pura se cristaliza em forma de cientificismo, ou seja, um rígido sistema de crenças no qual o ceticismo autêntico, que é uma busca honesta de verdades maiores, se transforma em pseudoceticismo ou deboche. Como tenho observado ao longo de minha carreira, e como acredito que o psicólogo Abraham Maslow concordaria comigo, a prática científica pode ser tanto um sistema de desenvolvimento pessoa ilimitado quanto um dos mecanismos de defesa mais eficientes, renomados e neuróticos dentre os disponíveis (p. 31).

 

                Como diz Maslow, com grande beleza: “A ciência, portanto pode ser uma defesa. Basicamente, ela pode ser uma filosofia de segurança, um sistema de proteção, um modo complexo de evitar a ansiedade e os problemas que nos afligem (especialmente se ligadas a questões éticas). Levada a extremos, pode ser uma maneira de evitar a vida, uma espécie de enclausuramento intencional. Nas mãos de certas pessoas, pode tornar-se, na melhor das hipóteses, uma instituição social com funções basicamente defensivas e conservadoras, muito mais voltada para a regulamentação e estabilização que para a descoberta e renovação” (p. 74).

                Patologias da cognição e percepção, próprias do cientificista:

 

Necessidade compulsiva de ter “certeza”: caracteriza-se peça incapacidade de tolerar ou apreciar os paradoxos e ambiguidades dos fatos.

Generalização prematura: Buscar-se enquadrar o incomum em critérios familiares ainda que estes não dêem conta das características do fenômeno. É consequência da necessidade compulsiva de ter certeza.

Apego compulsivo à generalização: Despreza as informações que contradizem a visão de mundo e as crenças aos quais o pseudocético se apega.

Negação dos limites intelectuais ou da própria ignorância: caracteriza-se pela incapacidade  de admitir que “não sei” ou “eu estava errado”.

Negação da dúvida: Recusa em admitir a perplexidade, a dúvida ou a confusão (Thomas Kuhn discorre sobre isto, sobre a reação dos defensores de paradigmas antigos frente a novos desafios conceituais em seu célebre livro A Estrutura das Revoluções Científicas).

Necessidade patológica de se mostrar inflexível, duro, intransigente, poderoso: utiliza-se de mecanismos pretensamente intelectuais para encobrir inseguranças, ou seja, se utiliza de táticas baseadas no poder que são contrafóbicas.

Comportamento dominador e autoritário: impede o debate de ideias que se mostrem opostas às suas.

Racionalização disfarçada  de razão: ocorre no caso típico da antipatia “não gosto deste sujeito e vou inventar uma bom motivo para justificar minha aversão”;

Intolerância à ambiguidade: Fatos ou ocorrências que não se enquadram no sistema de crenças ou visão de mundo do pseudocético são descartadas como má pesquisa, fraude ou erro de interpretação.

Necessidade de aprovação: desejo obsessivo de parecer pertencer ao grupo dominante.

Arrogância: defesa contra a insegurança de seus defeitos.

Racionalidade compulsiva: incapacidade de correr riscos, de arriscar.

Intelectualização: evita-se os aspectos não racionais da realidade.

Medo da verdade: ansiedade diante de fatos que podem questionar boa parte da visão de mundo adotada pelo pseudocético.

Sistematização, categorização e estereotipia inadequados: táticas que justificam evitar o aprofundamento da percepção e da reflexão.

Enquanto o ceticismo normal é útil e saudável, ele se mostra nocivo quando confundido com o posicionamento pseudocético. Estes são adeptos e defensores de algum outro sistema de crença que, na opinião deles, já tem toda a verdade necessária. Esses Pseudocéticos chamam  a si próprios de céticos em razão do grande prestígio desta palavra, em vez de se rotularem mais propriamente, digamos, de “crentes no Sistema M”, que não apreciam os fatos ou as ideais sobre os quais você está falando e querem desacreditá-lo em defesa do Sistema M. São mistificadores, pretensos cientistas, missionários, advogados. Porém, como a palavra crente não desfruta do mesmo prestígio nos meios intelectuais, eles preferem chamar-se de céticos (p. 85).

O pseudocético típico: costuma afirmar que o resultado de pesquisas em Parapsicologia real são impossíveis. Você deve estar errado, suas observações devem resultar de um experimento descuidado, de interpretações baseadas nos próprios desejos, e não em fatos ou de são frutos da mera desonestidade de seus objetos de pesquisa, ou mesma da sua desonestidade, uma vez que suas afirmações, para ele, são cientificamente impossíveis. Assim, o pseudocético coloca-se não apenas como um buscador da verdade, mas também como um especialista nas disciplinas científicas importantes para avaliação do trabalho alheio.

                Observação de Henri Sidgwick: Um dos primeiros pesquisadores dos fenômenos paranormais, o renomado filósofo inglês  Henry Sidgwick (1838-1900), fez a seguinte observação: “Teremos feito tudo o que foi possível quando o crítico não tiver mais nada a alegar, a não ser que o pesquisador está trapaceando. Porém, quando ele não tiver mais nada a alegar, será essa a sua alegação. Charles Tart complementa dizendo os pseudocríticos fazem isso há muito tempo e que se considera elogiado quando eles impreterivelmente põe em dúvida a sua competência ou a qualidade de seus projetos de pesquisas (mais de quarenta e cinco anos de experiência nos estudos em psicologia experimental, engenharia e parapsicologia, com artigos em diversos periódicos sérios), ou mesmo quando afiram que ele ou os participantes de suas pesquisas não passam de embusteiros.

Um comentário:

  1. Eu sou uma legítima fã de Charles Tart, recentemente li o livro O Fim do Materialismo, o que me chamou muita atenção pois é um livro que uni espiritualidade e ciência, ou seja para mim é um sonho, pois sonho em ser uma pesquisadora e cientista, além de que desde criança leio sobre espiritualidade. Atualmente sou blogueira no Espiritualidade e Mensagens, e fiz 3 postagens sobre ciência e espiritualidade. Te convido a ler, pois sei que você, assim como eu, gosta de Charles Tart e de também, ciência e espiritualidade.

    Resenha do livro 'O Fim Do Materialismo'
    http://www.espiritualidadeemensagens.com/2012/06/resenha-do-livro-o-fim-do-materialismo.html

    Na berlinda: Parapsicologia (comparativo entre livros)
    http://www.espiritualidadeemensagens.com/2012/08/na-berlinda-parapsicologia-comparativo.html

    Resenha do livro A Força Está Conosco (Esse livro tbm fala sobre espiritualidade e ciência, a leitura dele é mais fécil e ñ chega aos pés do Fim Do Materialismo, mas tbm trás fatos bem interessantes como por exemplo a comprovação de pesquisas relacionadas a áurea e os chacras
    http://www.espiritualidadeemensagens.com/2012/08/resenha-do-livro-forca-esta-conosco.html

    Pena que nem todas as pessoas tem o mesmo amor por essa temática, o Livro o Fim do Materialismo deveria ser um livro essencial para as pessoas, pois depois de Lê-lo, minha percepção em relação a muita coisa foi alterada.

    Bela postagem! Fico feliz em conhecer mais uma pessoa q admira o Charles Tart.

    Desejo uma semana abençoada.

    Com carinho,

    Jéssica

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