domingo, 28 de setembro de 2014

Aberrações evangélicas passando por cima do reconhecimento da árvore por seus frutos: Pastor Fernandinho Beira-Mar



  Fernandinho Beira-Mar, ou Luis Fernando da Costa, famoso traficante e líder da facção criminosa Comando Vermelho, que cumpre pena no presídio de Catanduvas, foi aporvado com nota 7,4 no vestibular de Teologia da Faculdade Batista do Paraná (confira em http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/posts/2013/03/16/a-coluna-de-hoje-490007.asp). Ou seja, da prisão, estará estudando para ser pastor batista. É este apenas um caso entre outros em que criminosos subitamente se convertem em pastores, à exemplo do que houve, entre vários, com Suzanne Richtofen e Antonio de Pádua...

  O futuro "teólogo" evangélico e "Pastor", Fernandinho Beira-Mar, receberá aulas, por meio de apostilas, em sua cela e fará provas de avaliação em uma sala da penitenciária.

  Pela legistação em vigor, um presidiário que faça algum curso superior poderá abater um dia de sua pena a cada 12 horas de estudo (seria bom que isto também pudesse ressuscitar uma vítima de suas ações, ordens e negócios no mesmo intervalo).

  Convém lembrar que Fernandinho Beira-Mar é considerado internacionalmente como um dos maiores traficantes de drogas e armas da América Latina e um dos maiores do mundo (confira na Wikipedia), exercendo ainda, ao que tudo indica, parte da chefia do C.V. de dentro da penitenciária. 

 A grande dúvida é se esta súbita entrada na formação evangélica se deu por uma conversão real ou será apenas uma nova maneira de adentrar em nova modalidade de negócios, desta vez através da extorsão da fé, ganhando milhões sem pagar impostos e sem que se seja importunado pelas autoridades, de quebra ainda exercendo certo poder político?

  Será que em breve veremos o futuro Pastor Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, sendo homenageado no Encontro da Consciência Cristã evangélica de Campina Grande, sendo aplaudido pelos Jovens Marcados?

Se só a leitura literal do Evangelho transformasse as pessoas....




Se tão somente o conhecimento literal dos Evangelhos melhorasse as pessoas, ou as transformassem em anjos, não haveriam Malafaias nem tampouco Felicianos.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

domingo, 21 de setembro de 2014

Os deuses do mercado e a intolerância religiosa: fundamentalisticamente, irmãos siameses




Jornal GGN - "É besteira pensar que o sonho de banqueiros e neopentecostais não seja dominar o mundo", disse Sebastião Nunes, em sua coluna "Cuidado! Dois deuses sinistros te amam". 

O articulista explica a articulação religiosa dos neopentecostais com a política, para afirmar a criatura ambígua do deus de Marina Silva.

Enviado por Romério Rômulo
De OTempo
Por Sebastião Nunes

Quando eu tinha 13 ou 14 anos, apareceu na minha terra um pastor protestante chamado José Bonifácio. Alugou uma casa modesta, ajeitou um templo na sala da frente e, aos poucos, reuniu número razoável de fiéis. Meu pai, que acreditava em Deus mas desconfiava de padres, tornou-se amigo dele. Várias vezes fomos pescar juntos, palmilhando longamente os cinco quilômetros até os riachos mais próximos. Bonifácio nunca me falou de religião. Talvez por isso, porque soubesse reconhecer limites, ganhou a amizade de meu pai, que não era fácil de conquistar. Não foi à toa que padre Agostinho o apelidou de “Levizinho do olho de cobra” ao lhe pedir donativo, uma única vez, para os cofres da matriz. Donativo recusado, nunca mais repetiu a tentativa.

Na mesma época, um colega de escola teve brilhante ideia: fabricar toscas notas de 100 cruzeiros com tesoura e cola, usando-as para compras no mercado municipal, aos sábados, dia de feira. Muito roceiro ingênuo caiu no conto, que fazia Fulano (prefiro não revelar o nome) dar pulos de alegria. Anos depois ele se tornou banqueiro. Nada de admirar, já que a vocação se escancarava ali, na falsificação das notas e na falta de escrúpulos para ludibriar camponeses simplórios.

TOTALITARISMO

É besteira pensar que o sonho de banqueiros e neopentecostais não seja dominar o mundo. Em certa medida, os banqueiros já o dominam. O neopentecostalismo ainda não chegou lá, mas vai comendo pelas beiradas, tipo mineiro enfrentando uma pratada de mingau quente: soprando e engolindo.

Favor notar que não estou confundindo os diversos ramos do protestantismo com o NP, ou mesmo com o pentecostalismo tradicional. Tive e tenho amigos protestantes, principalmente batistas, que respeito e admiro. Me refiro aqui à chamada Terceira Onda do Pentecostalismo, aquela que morde e assopra ao mesmo tempo.

Claro que uma coisa é querer e outra, conseguir. Numa crônica recente citei uma afirmação de Darwin, segundo a qual todas as espécies vivas estão aptas a dominar o planeta, só não o conseguindo pela oposição de outras espécies. É a mesma guerra que se trava, desde sempre, entre os vários extratos da sociedade.

TIRA ESSE POBRE DAQUI!

A grande sacada do NP foi transformar pobreza em “prova” da falta de fé. Segundo seus “profetas da prosperidade”, a marca da fé plena está em ser bem-sucedido, buscando a todo custo a prosperidade material. É lógico que tal ideia bate de frente com os postulados cristãos originais, mas quem se importa com isso?

É a sopa no mel. Claro que esses princípios já eram evidentes em Lutero, mas nunca foram tão claramente assumidos. Os templos faraônicos que se constroem hoje são a contraposição às catedrais católicas da Idade Média: ostentação como afirmação de riqueza e poder. Mas – pergunto – e a pobreza, onde ficam os pobres?

Os pobres param na contribuição de 10% (ou mais, dependendo dos argumentos) de seus salários miseráveis para que os donos dos templos triunfem. Simples assim.

EVANGELISTA DO ÓDIO

Conforme Kiko Nogueira, no “Diário do Centro do Mundo”, “o pastor Silas Malafaia segue e dissemina dois evangelhos: o do ódio e o da tagarelice. (...) Entre 3 de março e 3 de setembro, ele teria feito apenas 59 menções a Jesus Cristo e 87 a homossexuais. (....) Ele, juntamente com colegas como Marco Feliciano e outros pastores e bispos, sonha com um Brasil livre de abominações como gays, abortistas, ‘umbandistas’ etc., e que tenha a interpretação literal da Bíblia como constituição”.

EVANGELISTA FUNDAMENTALISTA

Muito antes de recuar de sua posição contra os transgênicos, em clara tentativa de atrair os votos do agronegócio para o seu nome, a então senadora Marina Silva fez o seguinte discurso em 2002 (recortado do blog de Mário Magalhães):

“Em Gênesis 21,33, o próprio patriarca Abraão, com mais de 80 anos, resolve plantar um bosque. Quem planta um bosque com quase [SIC]100 anos está pensando nas gerações futuras, que têm direito a um ambiente saudável. (...) No Êxodo 22,6, há determinação explícita no sentido de que quando alguém atear fogo a uma floresta ou bosque deverá pagar aquilo que queimou. (...) Com relação aos transgênicos, o livro Levítico 22,9 expressa claramente que não se deve profanar a semente da vinha e que cada uma deve ser pura segundo a sua espécie.”

Não é de enlouquecer? Imagine Marina, caso eleita presidente, justificando cada projeto de lei com argumentos extraídos da Bíblia. Morreremos de tédio ou retornaremos à ignorância primordial.

CRIACIONISMO

O prefeito de Nova Odessa (SP), Benjamin Bill Vieira de Souza, vetou lei que impunha a leitura diária de um trecho da Bíblia nas escolas municipais aos alunos do 10 ao 50 anos, atingindo 4.000 alunos de 12 estabelecimentos. Na defesa de seu projeto, o vereador Vladimir Antônio da Fonseca, evangélico, argumentou que a leitura da Bíblia nas escolas não é ato religioso. Sua intenção é a de “incentivar uma reflexão sobre os bons hábitos”. (Citado emwww.paulolopes.com.br)

Nos Estados Unidos, informa a “Folha de S. Paulo”, 58% dos republicanos e 41% dos democratas afirmam acreditar no Criacionismo, ou seja, que Deus criou os humanos, como eles são hoje, há menos de 10.000 anos. Também nos EUA, e segundo a revista “Exame”, o governo gasta US$ 1 bilhão por ano para ensinar o Criacionismo nas escolas, valor maior do que o PIB de 23 países.

O deus de Marina Silva e do NP é uma criatura ambígua, que acende uma vela para o deus do mercado financeiro e outra para o deus da ignorância científica e cultural como arma de dominação coletiva e imposição do obscurantismo.

Que Deus (com maiúscula) nos livre e guarde dessa horrível possibilidade.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O olhar de Leonardo Boff sobre o fundamentalismo e o capitalismo neoliberal na campanha da ex-ambientalista Marina Silva

Segue texto de Leonardo Boff:

Marina foi cooptada pelos grupos da velha política




Entrevista de Leonardo Boff para Cleideana Ramos, do jornal A Tarde, de Salvador, Bahia




  Leonardo Boff, Doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique, Alemanha. 75 anos, com cerca de 90 livros publicados, Leonardo Boff é um dos expoentes da Teologia da Libertação (TL). Essa corrente de pensamento abriu caminho, na década de 1970, para a politização de segmentos como os moradores das periferias das grandes cidades. Não à toa, vários desses grupos participaram da criação do Partido dos Trabalhadores (PT). 

 Conhecido pela defesa de uma fé comprometida com os combates às desigualdades, Boff analisa a persistência de posições religiosas no debate sobre temas do Estado laico, no momento em que pela primeira vez uma candidata de profissão evangélica, Marina Silva (PSB), têm possibilidades de vencer a disputa, embora, ele afirme que aposta na reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Nessa entrevista, realizada via email, Boff analisa as denúncias de corrupção no governo do PT e a trajetória de Marina Silva.

 Cleideana Ramos.- Em 2010, na polarização da campanha entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), posições a partir de um julgamento religioso estiveram em evidência no debate de questões como a legalização do aborto. Nessa atual campanha é a união civil de casais homoafetivos que tem essa interferência de base religiosa. Além disso, uma das candidatas, Marina Silva (PSB), é de profissão evangélica. Como um estado laico desde a sua fundação pode, ainda, em sua avaliação, sofrer tanta influência de posições próprias da prática religiosa de base católica-cristã?

 Leonardo Boff. - O Estado brasileiro, por sua constituição, é laico e pluralista. Isto significa que não privilegia nenhuma das confissões religiosas, admite todas elas desde que se inscrevam dentro do marco constitucional. Aprecia a colaboração que trazem para a educação e para os valores morais e espirituais, importantes para o país. Mas como vivemos numa democracia, cada grupo ideológico e religioso pode apresentar as suas teses e convicções. O que não pode, pois seria ofender a natureza da democracia, é querer impor a todos os demais os seus ditames e preceitos religiosos particulares. Pode expô-los, esforçar-se com argumentos na conquista de pessoas que os adotem. Mas não lhes é lícito impô-los ao estado e aos demais cidadãos. 

  Como somos uma sociedade aberta, com predominância católica e cristã, podem grupos de igrejas pressionar o estado e os cidadãos para rejeitar, por exemplo, o aborto e sua criminalização, a legalização da união estável de homoafetivos, o experimento com células-tronco e temas afins. Esses assuntos são particulares desses grupos de igrejas e por isso não podem ser impostas como gerais para todos. Aqui prevalece o preceito democrático. E se ocorrer constrangimento, especialmente, pelos vários canais de comunicação, pode configurar-se como delito ao qual cabe aplicar democraticamente a lei.

  C. R. - Marina Silva é uma candidata evangélica que reclamou, em uma entrevista, ser confrontada com questões do ponto de vista religioso apenas por sua opção de fé. O Sr. considera que há tratamento diferenciado em relação a Dilma e Aécio?


    L.B.- Marina faz uma profissão de fé evangélica, explícita e pública e é seu direito de fazê-lo. Os demais candidatos se atém ao campo político e não introduzem, normalmente, em seus discursos, elementos religiosos. Tais conteúdos se inscrevem no campo da plena liberdade de consciência dos cidadãos. A liberdade religiosa implica também a liberdade de não ter nenhuma religião e de ser ateu e revelá-lo publicamente. O problema surge quando Marina, não como cidadã, mas como candidata, postula o mais alto cargo da nação e por razões religiosas internas à sua igreja, a Assembléia de Deus, e condena quem pratica o aborto e rejeita as uniões estáveis homoafetivas e outros temas afins da moral familiar. Ela como candidata deve deixar estas questões à livre discussão da sociedade. Deve deixar claro que sua opinião é uma entre outras e que não lhe cabe impô-la aos demais, nem em razão de suas convicções condenar quem quer que seja. Esta seria a posição democrática, numa sociedade pluralista e ecumênica na qual as diferenças são aceitas e respeitadas. No entanto cabe enfatizar que estas questões morais pertencem ao campo da consciência individual. Um chefe de estado tem que pensar no bem-estar de toda a população, especialmente quando se trata do aborto. Em si, ninguém o quer. Mas como é sabido, morre uma mulher sobre três que o praticam sem condições higiênicas, o que cria um problema de saúde pública para o qual o estado deve se preocupar. Ao invés de chamar a polícia para penalizar a mulher que abortou, deve-se chamar um médico para impedir que morra. Devemos defender a vida desde a sua concepção mas também a vida das mães que se sentem constrangidas a abortar. Devemos especialmente criar as condições para que as crianças que nascem não sejam abandonadas à subnutrição e depois sejam largadas na rua sem proteção e educação. Um governante deve considerar esta questão sob todos estes ângulos e tomar medidas de responsabilidade visando salvaguardar a vida do maior número possível de cidadãos.

   C.R. - O sociólogo Boaventura de Sousa Santos aponta fatores como as Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), surgidas a partir da Teologia da Libertação, movimento do qual o Sr. é um dos expoentes, como um dos motivos da religiosidade inerente aos movimentos sociais brasileiros. O Sr. concorda?

  L. B. - As comunidades eclesiais de base são mais originárias que a Teologia da Libertação. Elas nasceram nos anos 50 do século passado como forma de suprir a carência de padres para atender a população, em sua grande maioria católica. A característica destas comunidades, geralmente oriundas das periferias e nos meios pobres, é de se reunirem ao redor da Palavra de Deus, a Bíblia. Leem uma página da Bíblia e a confrontam com a página da vida. E aí tiram suas conclusões. Uma das primeiras foi que Deus está do lado dos oprimidos e quer a sua libertação. Leram isso no livro do Exôdo, nos profetas e na mensagem e na prática de Jesus. Começaram a se organizar na mútua ajuda. Descobriram que uma forma de avançar na sua libertação era entrar no sindicato ou nos vários movimentos sociais, por direitos humanos, por terra, por saúde, por educação. Deram-se conta de que a política é uma forma de transformar este tipo de sociedade que cria tantas desigualdades. Elas não entraram no PT. Fundaram núcleos do PT como maneira de, afirmavam, realizar melhor os bens do Reino de Deus que são a justiça, a solidariedade, a luta contra violação dos direitos humanos, a defesa de suas terras contra o avanço do latifúndio, o apoio à causa das mulheres oprimidas, dos afro-descendentes e dos indígenas. Realizar tais coisas é concretizar o sonho de Jesus, chamado Reino de Deus. Refletindo a partir destas práticas, surgiu a Teologia da Libertação. Ela supõe a prática libertadora, que foi enormemente animada pela pedagogia de Paulo Freire, contra as opressões. Ela é palavra segunda face à palavra primeira que é a ação das comunidades e, em geral, dos movimentos sociais organizados.

  C.R. - Marina Silva, assim como Lula, vem das camadas mais populares da sociedade brasileira. Dilma Rousseff foi ministra do governo Lula. As duas lideram as pesquisas de intenção de voto. Para alguns analistas é um sinal do triunfo da centro esquerda contra a centro direita ou direita mais conservadora. O Sr. concorda com esse tipo de leitura do contexto político?

  L.B. - Não devemos esquecer que Marina se contava entre as fundadoras do PT no Acre. Por muitos anos militou no partido com os ideais libertários próprios do ideário petista. De católica, por razões pessoais, converteu-se à igreja evangélica. Ela assumiu a leitura piedosa da Bíblia com acentos fundamentalistas. Quer dizer, toma as palavras da Bíblia ao pé da letra e procura nelas a vontade de Deus para cada situação concreta que vive. Teve esta prática também quando era Ministra do Meio Ambiente. Esse tipo de comportamento pode ser politicamente limitador e inibidor. Parte de um pressuposto - considerado pelos estudiosos das Escrituras - equivocado: que na Bíblia se encontra a solução para os problemas humanos. Na verdade, a Bíblia, como o tem insistido o Papa Francisco não contém um fetiche de verdades fechadas. É antes um livro que nos inspira soluções que devemos encontrar juntos, usando os instrumentos que nos são dado pela cultura, pela ciência, pela inteligência que também foi criada por Deus. 
  
  O primeiro livro escrito por Deus é o livro da criação natural. Dele aprendemos lições diuturnas, basta observar os ciclos e a beleza da natureza. Como desaprendemos a ler este livro, Deus nos deu o segundo livro, a Bíblia. Não para pô-lo diante dos olhos e assim esconder a realidade. Mas para pô-lo atrás e acima da cabeça para iluminar a realidade. Este método combina inteligência humana com a Palavra de Deus, ambas se completando e destarte evitando um viés biblicista. Este está presente em muitos setores das religiões e das igrejas, também em grupos católicos. No fundo estes grupos pensam que a verdade deles é a única válida e os demais estão no erro. E o erro não tem direito, por isso pode e deve ser combatido. Daí nascem as intolerâncias e as violências de cunho religioso que pode chegar a verdadeiras guerras entre vários grupos fundamentalistas, como ocorre entre grupos islâmicos, embora o islamismo originário seja tolerante e conviva pacificamente com outras expressões religiosas.

  C.R. - Aliás, em sua avaliação, é possível ter campos ideológicos tão bem demarcados no atual contexto de disputa política brasileira?

  L.B. - É lamentável a pobreza ideológica que caracteriza a atual disputa política. Ao invés de se discutir que Brasil queremos para nós e para nossos filhos e filhas, verifica-se uma corrida desenfreada pelo poder. Questões importantes como o fato de 85% da população viver em cidades com os problemas graves que tal fato acarreta para o abastecimento, para a mobilidade, para a moradia, para a ordem democrática, abrindo espaço para a violência, a droga e o surgimento de outros grupos que assumem nas favelas funções de estado como a segurança, a manutenção de certa ordem sob violência e morte e o atendimento de necessidades básicas da população, distribuição de cestas básicas, de remédios, não aparecem. 

  Outro problema totalmente ausente é ligado à crise ecológica mundial que pelo aquecimento global e pelo desequilíbrio criado no sistema-vida e no sistema-Terra podemos conhecer e já estamos conhecendo graves perturbações ecológico-sociais com eventos extremos como grande seca em uma parte do país e grandes enchentes em outra. Os temas da segurança e da infra-estrutura de nossas cidades não são superficialmente abordados e aparecem mais como promessas que se fará alguma coisa do que com projetos sérios e eficazes. 

  Os partidos políticos brasileiros nunca foram construídos a partir de projetos ideológicos consistentes, mas ao redor de interesses de poder, especialmente, das elites que sempre controlaram o ter, o poder, o saber e os meios de comunicação. Os governos dentro do tipo de presidencialismo de coalizão com vários partidos procura com isso garantir a base de sustentação necessária para a aprovação de projetos. Mas se transformou num jogo de trocas de favores e de cargos. Desta forma o bem comum foi ao limbo, dando lugar aos interesses particulares e eleitoreiros de cada partido. 


Se não se fizer uma profunda reforma política, nunca sairemos de uma democracia de baixa intensidade que temos atualmente. O que distingue o PT dos demais partidos foi ter feito -isso é seu mérito- uma revolução democrática pacífica ao introduzir mais que uma alternância de poder uma alternância de classe social. Isto quer dizer, aqueles que sempre estiveram fora do poder e à margem, graças a um conglomerado de forças sociais populares, conseguiram fundar um partido, o PT, e fazer de um sobrevivente da grande tribulação, Lula, presidente do Brasil. Esta conquista é de magnitude histórica. Não pode ser perdida. Não nos é lícito voltar atrás. Mas nos é imposta a obrigação de consolidá-la, aprofundá-la e enriquecê-la com uma democracia participativa que vem de baixo, de cunho popular.

  C.R. - Embora com uma trajetória política iniciada no PT, Marina Silva começa nesse momento de polarização da disputa a ser combatida por movimentos sociais e também por sindicatos. Para o Sr. o que na candidata desperta esse tipo de combate? Apenas o confronto com o PT?

  L. B. - Podemos visualizar, embora em forma não muito clara, dois projetos em curso: um progressista, hegemonizado pelo PT que quer um estado republicano, indutor de mudanças, que decide abrir uma brecha na macroeconomia que se impõe no mundo inteiro, também entre nós, e fazer políticas públicas que beneficiam milhões de pobres e marginalizados. Em 12 anos de governo do PT com seus aliados, o Brasil avançou e foi bom para as grandes maiorias, integradas na sociedade organizada. Houve avanços inegáveis em todos os campos, talvez menos quanto à reforma agrária e à preocupação com as terras indígenas ameaçadas pelo agronegócio. O outro projeto, neoliberal e conservador pensa ainda alinhar o Brasil ao grande jogo mundial hegemonizado pelos USA, alia-se aos grandes capitais nacionais e transnacionais e visa a um estado menor para dar mais liberdade ao mercado, aos capitais especulativos. Postula-se a independência do Banco Central que é tudo o que o sistema financeiro nacional e mundial quer, pois assim pode controlar a moeda, as taxas de juros, o superavit primário e o valor do dólar. Ocorre que Marina, por força da correlação de forças foi cercada e depois cooptada por grupos ligados à velha política cujo projeto político beneficia as elites dominantes. Não sem razão que sua ligação com os movimentos sociais é quase nula. Mas os banqueiros e o sistema financeiro se sentem tranquilos com as teses que apresenta, especialmente com a autonomia do Banco Central. Se triunfar, significaria um retrocesso a tudo o que foi conquistado, pois para implementação de seu projeto se impõe arrocho salarial, aumento de impostos que permitiriam projetos que no fim e ao cabo iriam beneficiar os que historicamente sempre foram beneficiados.


  C.R. - Diferentemente de Lula, a presidente Dilma enfrenta dificuldades muito maiores para a sua reeleição, inclusive com risco de perder a eleição segundo as pesquisas eleitorais e os índices de rejeição. Em sua avaliação, Dilma se afastou em algum momento das bases do governo Lula ou tudo é questão de individualidade e perfil carismático do ex-presidente?

  L.B. - Não creio que Dilma vá perder esta eleição. À retórica de Marina, sem apresentar fatos e ações, Dilma contrapõe avanços inegáveis que ocorreram em nosso país e os projetos sociais populares que beneficiaram 36 milhões de pessoas. Penso que Marina chegou ao teto de seu crescimento. A dificuldade de Dilma é sistêmica. O mundo todo, especialmente, os países centrais como os USA e a Europa mergulharam numa profunda crise da qual não sabem como sair. Isso produziu no mundo inteiro desalento, decepção e fúria dos 100 milhões de desempregados. A façanha de Dilma foi manter o crescimento, embora exíguo, o controle da inflação e um nível baixíssimo de desemprego, um dos mais baixos de nossa história (5%). Lá fora ocorre o contrário, estagnação, crescimento pífio e altas taxas de desemprego. Estes fatos podem ser apresentados como argumento para sua reeleição. Apesar dos escândalos que houve por parte de grupos do PT, seu projeto, enriquecido, aprofundado e construído em diálogo com a sociedade, com os movimentos sociais e com os jovens que foram às ruas em 2013 é ainda o melhor para o povo brasileiro. Portanto, trata-se de avançar para consolidar e aprofundar as conquistas populares já alcançadas.

  C.R. - Em sua avaliação, o governo Dilma distanciou-se dos movimentos sociais? Se positivo, de quais segmentos?

 L.B. - Deve-se reconhecer que Dilma não dialogou suficientemente com os movimentos sociais. Ela exercia a presidência como uma grande e inteligente executiva aprofundando projetos de longo alcance como o PAC 1 e o PAC 2. No estilo de presidencialismo de coalizão que vigora, teve que cuidar muito de manter uma base de sustentação suficientemente alinhada para aprovar seus projetos. Teve enormes dificuldades, especialmente, com referência ao Código Florestal e à iniciativa da convocação de uma consulta popular para uma reforma política, exigência dos milhões que foram às ruas em 2013. Não teve o sucesso esperado. Cabe reconhecer que temos um congresso composto por grupos comprometidos com o grande capital, com o latifúndio, de mentalidade atrasada e com parca sensibilidade social. Pensam mais em defender seus privilégios que garantir os direitos individuais e sociais da maioria dos cidadãos. São os que mais resistem às reformas com medo de perder seu poder. Mas podemos dizer seguramente: nunca aprovou um projeto que prejudicasse o povo. Nunca criminalizou os movimentos sociais. Sempre se manteve incorruptível e severa para com os corruptos seja do PT, seja dos outros partidos. Ultimamente começou a viajar pelo país e deu-se conta da vitalidade dos movimentos sociais. Ela mesma se modificou e tornou-se mais popular.

 C.R. - Qual a sua comparação entre o tratamento das questões sociais nos governos dos últimos 20 anos no Brasil (FHC, Lula e Dilma)?

 L.B. - Como disse anteriormente: trata-se duas visões de futuro para o Brasil. Uma, de FHC e hegemonizado pelo PSDB, era nitidamente neoliberal, no estilo da social democracia europeia que acabou sendo desmantelada pela crise econômico-financeira de 2008. O Estado foi diminuído, ocorreram grandes privatizações, algumas danosas para o nosso futuro como a venda da Vale do Rio Doce e parte da Petrobras e houve uma alinhamento claro às políticas dos USA que são claramente imperais, visando o poder sobre todo o planeta e não admitindo nenhuma força que os possa eventualmente desafiar. O Brasil não mostrou grandeza nem sentido de soberania. Como bem afirmou nosso Chico Buarque de Holanda sobre nossa política externa, ” falava fino com Washington e falava grosso com o Paraguai e a Bolívia.” Contentava-se em ser força auxiliar e parceiro subalterno ao grande projeto da globalização controlada pelas grandes corporações multinacionais. A outra visão de futuro era a de Lula. Queria um país soberano que tivesse como foco o povo e suas carências. Embora não pudesse livrar-se da macroeconomia mundial, criou condições para que se fizessem poderosas políticas públicas populares que conferiram outro rosto ao Brasil. Diminuiu em 7% a desigualdade que é a grande chaga histórica do Brasil. Reforçou a soberania do país, fazendo-se escutar nos foros mundiais como uma das lideranças mais expressivas do mundo. Trouxe esperança para os povos e orgulho nacional. Os tempos mudaram ultimamente e de forma perigosa, especialmente com o ocaso da hegemonia norte-americana, incapaz de vencer guerras de conquista e impondo medidas de segurança que violam os direitos humanos internamente nos USA e no mundo inteiro. O Brasil é a sétima economia do mundo. Possui um peso nas riquezas ecológicas que nenhum país pode apresentar. Caberá a nós gerenciá-las de tal forma que ajudem a humanidade inteira a atravessar tempos difíceis que virão por falta de água potável e pelas consequências desastrosas do aquecimento global que não para de subir.

  C.R. - O Sr. tem ainda alguma militância em movimento católico? Qual? Quais são hoje suas principais atividades?

 L.B. - Eu sempre me entendi como teólogo ecumênico de raiz católica. Nunca abandonei a teologia. Minha produção cresceu com o meu afastamento da institucionalidade eclesiástica. Mas nunca deixei a Igreja como comunidade de fiéis. Alarguei o discurso da teologia da libertação introduzindo a temática ecológica. Se a marca registrada de teologia da libertação é a opção pelos pobres contra a pobreza e pela justiça social, então entre os pobres devemos colocar hoje a Terra, o grande pobre, ultra explorado e devastado pela voracidade produtivista que visa antes a acumulação do que o atendimento das demandas humanas. Vivo dando cursos sobre temas de ética, espiritualidade, direitos humanos, ecologia, teologia, política e democracia seja no Brasil seja no exterior. Sou co-fundador e presidente de honra do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis que trabalha e apoia as comunidades, jovens e espoliados de seus direitos na Região Serrana do Rio e no próprio estado. Acompanho os movimentos sociais e participo na medida do possível de sua caminhada. Como todo teólogo da libertação, procuro ter um pé no mundo dos oprimidos e dos sofredores e outro pé no estudo, na pesquisa e no trabalho intelectual. Sou um  trabalhador, como qualquer outro que, durante 10-12 horas por dia, utiliza 24 sílabas para reconstruir um mundo através de artigos e livros.

 C.R. - Mesmo um governo surgido de camadas mais populares como o PT e que, historicamente, fez um discurso de moralidade enfrenta seguidos escândalos de corrupção. A oposição diz que o governo foi contaminado. A presidente Dilma diz que a visibilidade das irregularidades aumentou devido às práticas do governo como autonomia para a Polícia Federal (PF). Qual é a sua análise pessoal sobre esse quadro?

 L.B. - A corrupção vem de muito antes e constitui uma marca de nossa história. Já as capitanias hereditárias traziam em seu bojo a corrupção que depois se perpetuou nas relações políticas. Muitos se tornam políticos para enriquecer e para ganhar imunidade pelos malfeitos que praticam. O governo do PT foi talvez o governo que mais criou instâncias de combate à corrupção. Grande parte da corrupção que vem à tona não é de hoje mas de muito antes. Apenas que somente agora é desmascarada. Com isso não quero isentar grupos do PT que também não foram fiéis à bandeira da ética e se deixaram corromper. O governo nunca foi leniente para com esses. Animou os processos judiciais para que se fizesse justiça e ocorressem as punições.

  C.R. - O carro-chefe do combate à desigualdade social dos governos Lula e Dilma é o Bolsa Família. Tanto que até os adversários da atual presidente – Marina Silva e Aécio Neves- não o combatem, mas falam em aperfeiçoamento. Qual é a sua opinião sobre a estrutura do Bolsa Família? É necessária ou precisa ser aperfeiçoada?

 L.B. - A primeira tarefa do Estado é cuidar da vida de seus cidadãos. Se há milhões de pobres que passam fome e outras necessidades, é dever do governo implementar políticas públicas que os tirem dessa situação indigna. Isso não é assistencialismo. É humanitarismo em grau zero. Um estado que não fizesse tais políticas seria cruel e sem piedade. A Bolsa Família não é apenas para matar a fome. Ela criou condicionamentos: enviar os filhos à escola, obrigar os beneficiários no curso de três anos aprenderam alguma profissão para se verem livres da Bolsa Família e terem sua sustentabilidade garantida por eles mesmos. Por isso junto à Bolsa Família vieram os outros projetos de educação, de criação de dezenas de escolas profissionais, de apoio à agricultura familiar e outros já conhecidos. Ela é necessária na medida em que em amplos estratos persiste ainda não só a pobreza, mas a miséria. Para os miseráveis a presidenta Dilma criou o programa Brasil Carinhoso. Em dois anos tirou da miséria milhões de pessoas. Não obstante isso, sempre há quem se aproveita indevidamente da Bolsa Família sem precisar dela e assim rouba o pão que falta a outros. Mas são casos individualizados e que são também combatidos. Entretanto, na medida em que as pessoas se autonomizam, se profissionalizam, elas mesmas cessam de receber a Bolsa Família. É um sentido de dignidade pessoal poder levar avante com seu trabalho e esforço a sua vida e de sua família.

  C.R. - Espaço para as considerações que o Sr. julgar necessárias.

 L.B. - Estamos numa fase de transição de um tipo de civilização tecnológica que para realizar o seu propósito de progresso ilimitado devastou o planeta. Um planeta limitado não suporta um projeto ilimitado. Encostamos nos limites da Terra. Este sistema está atacando as bases físico-químicas que sustentam a vida. Temos que mudar, pois caso contrário poderemos ir ao encontro do pior. E essa mudança só será eficaz se não a esperarmos caída do céu, mas se cada um fizer a sua revolução molecular, quer dizer, viver em si mesmo a mudança que quer para os outros e para o mundo. Estimo que o Brasil tem toda as condições para iniciar um outro tipo de civilização, amante da vida, respeitadora dos ritmos da natureza e capaz de inserir a todos sem grandes discriminações. Abominará todo tipo de guerra e será promotora da paz e da convivência jovial com todos os povos. Será uma civilização cujo eixo articulador será a vida, a vida da natureza, a vida da Mãe Terra e a vida de cada pessoa. A economia, a política, a ética e a espiritualidade servirão à vida e não ao mercado e à acumulação. Podemos ser mais com menos e viver uma sobriedade compartida que permitirá que todos possam ter o suficiente e o decente para viver na única Casa Comum que temos, o planeta Terra. Talvez a isso nós como país somos chamados a inaugurar.

sábado, 13 de setembro de 2014

O "sagrado" tiro "tuitaço" de Malafaia saiu pela culatra atingindo o pastorzinho neopentecostal fundamentalista em cheio

Extraído do Estadão:


Malafaia tenta 'tuitaço' contra Dilma e reação de internautas chega ao topo do Twitter


MATEUS COUTINHO

12 Setembro 2014 | 19h 02

Pastor escreveu post acusando 'ativismo gay' de acabar com comemorações do dia dos pais e das mães nas escolas e dizendo que governo Dilma é 'o maior financiador deles'

O pastor Silas Malafaia foi alvo de críticas em massa no Twitter ao iniciar um "tuitaço" para criticar o ativisto gay e o governo da presidente Dilma Rousseff, ao meio-dia desta sexta-feira, 12.

Desde quinta, 11, o líder religioso vinha divulgando em seu perfil que faria a ação que, segundo ele, teria "2 posts indefensáveis". A estratégia, contudo, acabou dando errado e a #menosodiomalafaia, criticando a iniciativa, ficou entre os tópicos mais falados na rede social durante toda a tarde.

Diferente dos "tuitaços", o pastor não criou uma hashtag específica, apenas postou duas mensagens acusando o "ativismo gay" de querer acabar com as comemorações do dia dos pais e das mães nas escolas. No mesmo post, disse que o governo Dilma é o maior financiador deles (gays). A critica dos usuários da rede social à iniciativa, contudo, teve uma repercussão muito maior que o "tuitaço" de Malafaia.

Nesta sexta, por volta do meio-dia, o perfil oficial da presidente Dilma Rousseff divulgou no Facebook uma mensagem convocando a militância a reagir à ofensiva do pastor com a hashtag #menosodiomalafaia. "Vamos todos para o Twitter mostrar que o País não aceita o discurso do ódio, da homofobia e da ignorância ", dizia a mensagem.


Post do pastor Silas Malafaia contra "ativismo gay" e governo Dilma

A #menosodiomalafaia ficou a tarde toda entre os tópicos mais falados na rede social. O pastor até tentou reagir fazendo vários posts com a hashtag #roubalheiraePTtudoaver, mas não conseguiu chegar aos trending topics do Twitter.
A reportagem tentou contato com a assessoria do pastor, mas ela não atendia as ligações. A assessoria da campanha de Dilma ainda não retornou os contatos da reportagem.

Obs. do blogueiro: Marco Feliciano - aquele mesmo pastor fundamentalista que sujou a Comissão de Direitos Humanos do Congresso - declarou seu apoio a Marina Silva. E então, agora, você que vota nela, aceita Feliciano como seu representante pessoal?

Fina ironia: as Capas que nunca foram nem serão vistas na Revista Veja

As montagens a seguir foram feitas por O Capetista e os comentários são de Carlos Antonio Fragoso Guimarães:


Sensacional Capa, muito esclarecedora, baseada em fatos reais e que poderia ter sido, mas não foi e nunca será (ou veremos igual) na mais "imparcial", "neutra" e sempre "bem embasada" revista semanária do Brasil....



Mais uma das Capas que nunca foram, apesar de poderem ter sido, e bem embasada em fatos reais que a revista fez questão de ajudar a "virar pó"...


Capa Histórica, se tivesse sido.... Pela revista que, segundo, seus "colonistas" luminares, como Rodrigo Constantino, zela pela "correta" e "imparcial" divulgação dos fatos e pela "democrática" "alternância de poder" (ao que parece, menos em São Paulo)....


Nos áureos tempos do iluminista sociólogo, o fundo (monetário internacional) era o limite...

E, para terminar, façamos uma comparação de notícias entre importantes revistas mundiais e a Veja (tanto faz se na revista impressa ou no site da mesma, a qualidade contestável e destestável do conteúto é a mesma).... Escolhemos a divulgação da morte do arquiteto Oscar Niemeyer, reconhecido internacionalmente... Não foi à toa que esta colocação do "esclarecido" Reinaldo Azevedo, da dita cuja, recebeu uma resposta contundente de Leonardo Boff (veja esta resposta em http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Oscar-Niemeyer-a-Veja-online-e-o-Escaravelho/26684):


terça-feira, 9 de setembro de 2014

O golpismo da Veja e da Globo, mais uma vez, às vésperas das eleições



Segue texto de Luis Nassif:

Sobre a posição atual dos grupos de mídia


A atuação da mídia como partido foi liderada pelo falecido Roberto Civita, do grupo Abril, inspirado no modelo de atuação de Rupert Murdock nos Estados Unidos.
Sentindo o fim do monopólio virtual do mercado de opinião, com o avanço da Internet, Murdock montou uma frente política com os demais grupos de midia para eleger o seu presidente. Buscou na ultra-direita a retórica mais virulenta, inaugurou os ataques pessoais a políticos e jornalistas "inimigos", inundou o país de boatos e injúrias da pior espécie, disseminando-as pelas redes sociais. E valeu-se de todos os recursos dos grupos de mídia - dramatização da notícia, demonização do inimigo, aceno com o fim dos tempos - para emplacar seu candidato.
Perdeu e a primeira atitude de Barack Obama, eleito, foi convidar os presidentes da Apple, Google e Facebook para visitá-lo na Casa Branca.
Foi a marca das eleições brasileiras de 2006 e, especialmente, de 2010.
O padrão é cansativo, de tão previsível.
Veja saia na frente com seus factoides e o grupo repercutia em seguida. O fórum de orquestração se dava no Instituto Millenium. A um mês das eleições, aumentava-se a dose e tentava-se a bala de prata.
A morte de Civita acelerou o processo de perda de rumo dos grupos de mídia  Pagou-se um preço caro com a orquestração contra a Copa do Mundo, que marcou o fundo do poço da credibilidade da mídia.
Sem a antiga orquestração, os jornalões passaram a agir com o fígado, sem obedecer a uma estratégia concatenada.
De um lado, perceberam que precisariam recuperar credibilidade para dar eficácia às rodadas de ataque que antecederiam as eleições. Aí um jornal levanta o caso do aeroporto de Aécio, osoutros vão atrás, na crença de um escândalo menor legitimando os escândalos maiores contra o PT. De repente, o tema sai do controle, e Aécio se queima.
Depois, vêem  Marina subindo, e ajudam na ascensão.
No meio do caminho dão-se conta de uma realidade:
1.    Aécio lhes garante a volta ao controle do Estado.
2.    Com Dilma, nada perdem, mas nada ganham. Dilma mantém a cartelização da publicidade  mas não faz negócios.
3.    Marina é uma incógnita. Seu programa aprofunda o conceito de democracia participativa ao mesmo tempo em que ela se curva às pressões de pastores evangélicos - o grupo que mais cresceu na mídia tradicional, enfrentando inclusive o poder da Globo. A política econômica é mercadista mas seus princípios ambientais são contra a economia real. Ora ela diz sim, ora ela diz não.
Sobre o álibi Veja
Em um segundo turno, entre  ela e Dilma, o ódio ao PT fala mais alto. Embora o Estadão avente a hipótese de que Marina seja braço auxiliar de Lula - o que comprova que  os jornalões estão pretendendo tirar da blogosfera até o monopólio das teorias conspiratórias.
Não mais que de repente, o factoide de Veja traz a esperança de uma respiração boca a boca capaz de ressuscitar a candidatura Aécio,.
O fato em si é simples.
Não se discute a existência do esquema Paulo Roberto Costa. É evidente que controlava uma organização criminosa incrustada na Petrobras e que tinha padrinhos políticos. E é fato que gravou depoimentos, dentro do acordo de delação premiada.
A reportagem da Veja não traz um indício de acesso ao relato. Pode ter enfiado na reportagem o que ela achasse melhor. Ou alguém acredita no respeito da revista pelos fatos?
O que importa é a maneira como os grupos de mídia tratam o escândalo.
Soltam a matéria, dão a repercussão e cobrem as páginas dos jornais com matérias sem fontes, informando que "o comando da campanha de Dilma entrou em pânico", "o PT vai ter que alterar sua estratégia e parar de falar no pré-sal", "fontes do Palácio temem que as revelações derrotem Dilma" e coisas do gênero.
Não há menção a nomes e isso lembra em muito a cobertura brasiliense do Planalto no período Geisel. O primeiro time da mídia ouvia Golbery em off. O segundo time, o Sargento Quinsan, personagem folclórico, espécie de ordenança de um dos secretários de Geisel. Na reportagem, tanto um quanto outro era "fonte do Palácio". Ou não? Aparentemente o fantasma de Quinsan voltou a frequentar o Palácio.
No centro da campanha de Dilma, a capa de Veja foi interpretada como um tiro de festim. E a repercussão da mídia atribuída à falta de experiência política das direções de redação, incapazes de avaliações mais aprofundadas sobre estratégias políticas do noticiário. Não se tem dúvida de que o segundo turno será entre Dilma e Marina.
Se houvesse algum efeito, seria a favor de Dilma. Há 12 anos, os eleitores de Lula e Dilma convivem com denúncias e factoides. Se continuam eleitores, é porque as denúncias não têm mais eficácia.
Já os simpatizantes de Marina, atraídos pela ideia de que ela é diferente, são bombardeados com factoides informando que Marina é igual ao PT.
Provavelmente os leitores aumentarão a convicção de que, com Dilma ou Marina, o jornal será sempre igual.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Paulo Moreira Leite: O perigo dos "escândalos" de última hora





Segue artigo do jornalista Paulo Moreira Leite:

A prudência recomenda cautela contra denúncias divulgadas em véspera de eleição. O risco é óbvio: escândalos de última hora causam sensação na mesma medida em que prejudicam uma apuração serena. Hipóteses que não foram provadas ganham a fisionomia de fatos reais. Suspeitos – ou nem isso – logo são apontados como culpados.
Escândalos dessa natureza são mais difíceis de apurar e, muitas vezes, não há o interesse de esclarecer. O que se quer é o barulho.
É claro que estou falando da delação premiada de Paulo Roberto da Costa, o diretor da Petrobrás que está nos jornais e revistas – em breve estará na TV – fazendo uma delação premiada contra o PT e o governo Dilma.
Não custa lembrar que a suspeita mais consistente, até o momento, aponta para o próprio Paulo Roberto. Ameaçado de cumprir 30 anos de prisão por corrupção, ele tem todo interesse em diminuir a própria acusação em troca de denúncias que possam envolver políticos e autoridades.
Li num jornal que, se fizer o serviço direitinho, Paulo Roberto poderá, dentro de poucos dias !, voltar para casa com um chip no tornozelo.
Outro aspecto é que ninguém sabe o que ele disse — oficialmente.
Sabemos de acusações que lhe são atribuídas pelos jornalistas mas não há denúncias entre aspas, assinadas, que poderiam ter um valor maior do que palavras impressas que tanto podem virar coisa séria como apenas embrulhar peixe na feira do dia seguinte.
O fato de que o depoimento de Paulo Roberto foi criptografado e se encontra guardado num computador que não pode ser acessado via internet torna o conteúdo da denúncia – e seu vazamento – ainda mais misterioso.
As informações são verdadeiras? Não se sabe — até porque não tivemos uma investigação com base em provas e outros indícios para atestar sua consistencia, ou não.
As informações estão sendo divulgadas com isenção, ou de forma seletiva, de acordo com a preferência politica de quem publica a história? Também não podemos saber antes de ter acesso ao conteúdo integral dos depoimentos.
O que sabemos é que entre as personalidades acusadas, nenhuma denúncia foi confirmada, por mais vaga que fosse. Os envolvidos desmentiram mas não receberam o devido crédito por suas palavras.
Você não precisa acreditar neles e achar que têm todo interesse em falar mentiras. Mas se é assim, por que acreditar que o delator sempre fala a verdade?
Estamos falando de reportagens que querem construir um pré-julgamento quando faltam quatro semanas até a eleição, o que torna a comparação com o mensalão de 2005, ensaiada por vários veículos, particularmente irônica.
Não custa lembrar que a suposta compra de votos do esquema Delúbio-Marcos Valério nunca foi demonstrada e o desvio de milhões de reais do Banco do Brasil é desmentido por todas as auditorias realizadas na instituição.
Restaram, é claro, as reportagens sobre o assunto e, graças a elas, um dos mais perversos exercícios de criminalização da atividade política.
Por que achar que dessa vez tudo está sendo feito corretamente? Temos uma “nova” midia, para fazer companhia a uma “nova” política?
Impossível saber. A experiência ensina que não se deve julgar aquilo que não se conhece, certo?
Já vimos este filme, que tem sempre o mesmo personagem. Em 1989, a campanha de Collor trouxe Lurian para o horário político, usando um depoimento comprado para acusar Lula.
Em 2006, a denúncia da AP 470 parecia sob encomenda para impedir a reeleição — mas não funcionou. Em 2012, o julgamento deveria atingir os candidatos do PT mas eleições municipais. Também não funcionou.

Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

domingo, 7 de setembro de 2014

Mídia e eleições: a grande imprensa nas mãos das familias elitistas e a estratégia do "setembro negro"


Extraído do Luis Nassif Online:

Mídia e Eleições: A estratégia do "setembro negro".




Por Weden

Sempre em setembro, antes de eleições, o cartel de mídia "encontra" um grande escândalo ou uma grande ameaça. Vamos relembrar os últimos 12 anos.

Em 2014, para tentar atingir Dilma Rousseff, e a campanha de Marina, Estadão, Folha e Veja se saem com listas de propinas na Petrobras. Sem apresentar qualquer prova, tentarão até o dia 5 de outubro, de alguma forma, ressuscitar Aécio Neves, o candidato das corporações.

Em 07 de setembro de 2010, para tentar atingir Dilma Rousseff, Globo, Folha, Estadão e Veja lançaram, juntos, a denúncia contra a chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. Eram denúncias diárias, que que se extinguiram num passe de mágica ao término da eleição. Depois de alguns meses, nada ficou provado.

Em 15 de setembro de 2006, para tentar atingir Lula, Globo, Folha, Estadão e Veja lançaram a denúncia sobre um "dossiê contra Serra" (que ficou conhecido como "Escândalo dos Aloprados"), que supostamente teria sido forjado por militantes petistas. A denúncia contou com apoio de setores da PF ligados a José Serra. Num dos fatos mais curiosos, a uma semana das eleições, o delegado Edmilson Bruno vazou foto da tal "montanha de dinheiro", devidamente maquiada pela TV Globo e repercutida pelos jornais. Nunca se provou que o dinheiro estaria ligado ao caso. Definidas as eleições, a denúncia se extinguiu.

Em 2002, para tentar evitar a vitória de Lula, Globo, Folha, Estadão e Veja reforçavam juntos o que ficou conhecido como o "Risco Lula". Que não deu em nada. Meses mais tarde, o mundo não acabou..

sábado, 6 de setembro de 2014

A mídia golpista exemplificada na jogada suja da Revista Veja



  É a mesma velha tática, desde 1964....


 Merval Pereira, o campeão da direita elitista mais sórdida, já tinha alertado seus pares "não abandonem Aécio, pode surgir algo que derrube Marina...". E, claro, a grande mídia, nas mãos de seis famílias empresariais comprometidas com o modelo neoliberal, não ficou esperando a democracia agir contra seus interesses e foi atrás de um novo "escãndalo" maquiado sob medida, e aqui temos a Revista Veja para demonstrar isso.  Dilma não vai perder votos com mais uma de milhares de campanhas da Veja contra seu governo, o objetivo velado é outro: ressuscitar Aécio Neves. Como fica claro nos dois artigos transcritos abaiso, eles tentam dar um ar de denúncia - mais uma - "contra o PT", pra fingir certa imparcialidade. Mas o principal acusado é Eduardo Camposm que, assim, respingaria em Marina... Por isso estão todos os veículos de mídia estudando o melhor jeito pra tratar do assunto Paulo Roberto Costa, demitido por Dilma Rousseff há dois anos. Menos Veja, que é Aécio Neves desde criancinha. Essa é a operação para ressuscitá-lo.

Delação em véspera de eleição tem mau cheiro. Parece desespero.


6 de setembro de 2014 | 04:46 Autor: Fernando Brito, Tijolaço.com

Segundo o que já foi divulgado pela revista Veja – porque será que 11 entre 10 policiais federais e promotores preferem a Veja para vazar informações sigilosas? – a lista de nomes apresentada pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, atingiria meio mundo, ou pouco mais, da política.

Do falecido Eduardo Campos a deputados de partidos do governo e de outros,  integrantes de coligações anti-Dilma, passando pelos presidentes da Câmara e do Senado, a lista de Costa tem um imenso potencial explosivo.

Por isso mesmo, deve ser encarada com muita cautela.

A começar pelo fato de que é algo que parte de um homem em situação de desespero, apanhado em um monte de negócios irregulares aqui e lá fora, que estava ameaçado de 30 anos de prisão e ao qual se acena com uma, na prática, absolvição.

É o que narra o Estadão:

“Calcula-se que Costa poderia pegar pena superior a 50 anos de cadeia se respondesse a todos os processos derivados da Lava Jato – já é réu em duas ações penais, uma sobre lavagem de dinheiro desviado da Petrobras, outra sobre ocultação e destruição de documentos e é investigado em vários outros inquéritos. 

Angustiado com a possibilidade de não sair tão cedo da prisão, ele decidiu delatar como operava a rede de malfeitos na Petrobras. O acordo prevê que, em troca de suas revelações, Costa deverá sofrer uma pena tão reduzida, que se aproxima do perdão judicial”.

Agora, antes que esse acordo fosse homologado no Supremo, vaza o sigilo e, claro, mesmo que haja pouca consistência nas suas declarações, cria-se um clima político para que elas sejam aceitas como verdade absoluta.

Isso a um mês das eleições.

Uns dizem que a lista de Costa contém 39 nomes, outros dizem 42 e a “nominata” da Veja elenca, segundo divulgado no blog de Ricardo Noblat elenca 12.(Aliás, vejo que a nota foi retirada, mas pode ser conferida aqui).

Seja qual for o tamanho e sejam quais forem os integrantes, não basta a delação de um homem acuado, é preciso que haja elementos e fatos para sustentá-la.

Que empresas financiam campanhas eleitorais, todos sabem e, infelizmente, é essa a regra num modelo político de financiamento privado de eleições. Só no financiamento exclusivamente público, proposto por este governo e repelido, de forma quase unânime, pelos políticos e pela mídia, candidatos não dependem de empresários.

O que se tem de verificar, portanto, são quais destes favores empresariais foram clandestinos e, pior, quais deles foram destinados a enriquecer pessoalmente seus beneficiários.

Tudo isso cheira mal e já vinha cheirando, desde que Luís Nassif nos chamou a atenção sobre um “abraço de afogado” de Aécio Neves.

E não é apenas o cheiro dos negócios sujos de Costa, aliás afastado do cargo, contra a vontade dos políticos,  pela mulher a quem se procura atingir: Dilma Rousseff.

Verdade, no Brasil, é algo que quando aparece, é só pela metade.

Os Cuidados com as jogadas da Veja



texto de Luis Nassif


Jornal GGN - É sempre útil ter cautela com a embalagem que Veja usa para embrulhar suas “denúncias”.

No final da tarde de sexta-feira, depois da primeira matéria da Agência Estado sobre o suposto depoimento de Paulo Roberto Costa, o comentário geral era que a revista Veja divulgaria todo o depoimento e a lista de políticos citados (que chegava a 62).

A revista estimulou o boato, antecipando para as 18h a divulgação da capa da semana.  Uma capa genérica, sem nomes. O texto anunciava que eles viriam na edição impressa, junto com informações exclusivas sobre o “esquema de corrupção da Petrobras”.

Mais uma vez, Veja vendeu o que não tinha, ou muito mais do que tinha. Quanto a nomes, dois ex-governadores, a governadora Roseana, o ministro Lobão, um ex-ministro do PP, oito parlamentares e o tesoureiro do PT. Os suspeitos de sempre.

A revista não traz as prometidas informações sobre negociatas na Petrobras. O único exemplo mencionado é uma notícia requentada sobre uma operação de debêntures, que supostamente envolveria a Postalis (e que não se realizou porque os supostos autores foram presos).

Sobrou a embalagem. Sobrou? Veja não mostra papel, não mostra vídeo, não mostra um indício sequer de que botou a mão na massa. Tanto quanto o Estado e a Folha, ouviu um relato sobre o depoimento. A revista não cita fontes, reais ou fictícias. Não ousa escrever que “teve acesso ao depoimento”. Sequer recorre ao surrado “uma fonte ligada às investigações”.

Veja blefa, mais uma vez. Mas alguém conversou sexta-feira com a revista e com os portais, e vendeu um prato requentado.  E quase simultaneamente, o Valor  informava sobre mais um advogado que deixava a defesa de Paulo Roberto. Assim, de repente, sem explicações.

Um advogado à solta, neste momento, é conveniente para ocultar e lançar pistas falsas sobre a fonte do vazamento. Fonte criminosa, posto que a delação corre em sigilo.

A bola está com a direção da PF, com o PGR e com o ministro Teori, que podem dar um basta nesses vazamentos seletivos.