terça-feira, 31 de março de 2015

Bob Fernandes sobre a operação Zelotes, o SwissLeaks, a Sonegação dos grandes e a hipocrisia dos golpistas da direita


Segue vídeo e transcrição do comentário do analista político Bob Fernandes sobre a Operação Zelotes, o SwissLeaks e a hipocrisia da direita classe média golpista:



Bob Fernandes / Escândalos: CARF/ Sonegação, 19 Bi. SwissLeaks, 19 Bi. Haja panelaço.

O CARF é uma espécie de Supremo Tribunal da Receita Federal. No CARF, 105 mil processos contestam R$ 520 bilhões em impostos devidos e já autuados pelos auditores.

Da contestação nasceu um megaescândalo. A Polícia Federal fez prisões e fareja 70 dos processos suspeitos. É investigada fraude de R$ 6 bilhões que pode chegar a R$ 19 bilhões.

Heráclio Camargo, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores, resume essa ópera: "Isso é coisa dos oligopólios e cartéis que dominam a economia".

Entre centenas de investigados, pelo menos 5 dos maiores bancos do país, 2 montadoras gigantes, empreiteiras, grandes industrias, um grande grupo de comunicação... 

Outro megaescândalo é o das contas secretas do HSBC, o "Swissleaks"

Foram vazadas do HSBC suíço 106 mil contas de clientes de 203 países. Brasileiros têm -ou tiveram- R$ 19 bilhões e meio em 5.500 contas secretas.

Só nesse banco... A estimativa, de outubro de 2010, é que brasileiros teriam US$ 520 bilhões em contas secretas em paraísos fiscais... Aja varanda, rua, e panela. 

O SwissLeaks é caso complexo. Porque contas foram fechadas há anos. Porque não se sabe ainda quem declarava contas à receita e pagou os impostos.

Muitos dos nomes vazados e expostos podem ser de quem tinha conta legal no exterior. Donos de grandes grupos de comunicação têm sido citados. 

Vale, ou deveria valer em todos os casos, o princípio da presunção de inocência: a culpa tem que ser provada.

Registre-se, nessa véspera de aniversário da finada ditadura: as instituições estão funcionando. 

Há alguns anos a PF começou a prender também ricos e poderosos, o ministério público atua, e a Justiça começa a se ver impelida a julgar também quem tem grana e poder.

Quanto mais democrática e plural for a Mídia- no sentido dos espaços, inclusive econômicos- mais o Brasil avançará. 

Isso, ou o exposto na frase de um conto do escritor Sergio Sant'Anna: "O ruído total equivale ao silêncio total".

Armandinho e a educação enviesada para adestrar pessoas para o "deus" Mercado


quarta-feira, 25 de março de 2015

A grande imprensa e a midia em questão: o caso da blindagem de FHC pela Globo e pela Reuters

 "O noticiário pessimista induzido pela imprensa diariamente teria menos efeito no ânimo dos cidadãos se eles soubessem como é produzido."



A NOTÍCIA COMO ELA É

A receita da salsicha

Por Luciano Martins Costa em 25/03/2015 na edição 843 do Observatório da Imprensa

“Os cidadãos não dormiriam tranquilos se soubessem como são feitas as leis e as salsichas.”

  A frase, atribuída ao chanceler do império germânico Otto von Bismarck (1815-1898), poderia receber uma paródia muito a propósito: “Os cidadãos dormiriam mais tranquilos se soubessem como é feito o jornalismo”. Seria uma maneira de dizer que o noticiário pessimista induzido pela imprensa diariamente teria menos efeito no ânimo dos cidadãos se eles soubessem como é produzido.

 Eventualmente, um vacilo da redação torna pública a manipulação de reportagens e entrevistas, como aconteceu no dia 8 de fevereiro deste ano, quando circulou nas redes sociais cópia de mensagem enviada pela diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria, recomendando aos chefes de núcleo da emissora que retirassem qualquer referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do noticiário sobre o escândalo da Petrobras.

 Segundo o jornalista Luís Nassif, que divulgou o fato em seu site noticioso (ver aqui), o texto trazia como assunto: “Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato” (sic) e alertava: “Revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique”.

 A confissão explícita de que o mais influente telejornal da emissora que domina as audiências é condicionado de cima para baixo não surpreende quem sabe como a salsicha é feita: o Grupo Globo deve ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso o saneamento de suas dívidas, obtido com um empréstimo do BNDES, no valor de R$ 600 milhões, concedido em 2002, no fim do seu segundo mandato. Além disso, a parceria tem outras raízes: a jornalista que constrangeu o ex-presidente com um filho que não era dele – e que FHC, inadvertidamente, reconheceu num cartório da Espanha (ver aqui) – era funcionária da TV Globo e foi premiada com um exílio na Europa há vinte anos.

 A vida privada de políticos não deveria interessar ao jornalista, desde que os eventos particulares não interfiram nos fatos públicos. Não é o caso: a cumplicidade entre a principal emissora do país e um ex-presidente que segue influenciando a política e a economia nasce de ato indecoroso do então ministro do governo Itamar Franco, acobertado pela empresa de comunicação e que, possivelmente, criou as condições para uma decisão de Estado – o favorecimento num empréstimo do banco estatal de desenvolvimento.

 Autobiografia terceirizada

  Nesta semana, as entranhas da salsicha midiática voltam a ser expostas à visitação pública por um ato falho do correspondente-chefe da agência de notícias Reuters, Brian Winter, que em sua edição brasileira publicou entrevista com o ex-presidente, na qual Fernando Henrique Cardoso afirma que seu sucessor, Lula da Silva, tem mais responsabilidade no escândalo da Petrobras do que a atual presidente, Dilma Rousseff.

  Às 9h08 de segunda-feira (23/3), a entrevista assinada por Brian Winter trazia uma afirmação de Fernando Henrique segundo a qual a corrupção se tornou mais intensa durante o governo Lula. Mas logo adiante, no sexto parágrafo, podia ser lido o seguinte: “Entretanto, um dos delatores do esquema, o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco, disse que o esquema de pagamento de propinas começou em 1997, durante o governo tucano”.

  A pérola é o que se segue – entre parênteses, o autor faz uma ressalva ao editor: “(Podemos tirar, se achar melhor)”. Ou seja, o jornalista inseriu informação que relativizava a declaração do entrevistado e, em seguida, recomendou que a referência à origem da corrupção na Petrobras, durante o governo FHC, fosse cortada do texto final.

  Após alguma repercussão nas redes sociais, o site da Reuters republicou a entrevista, sem a recomendação de Winter, mas deixava uma pista também entre parênteses: “(Reenvia texto publicado originalmente na segunda-feira para excluir nota do editor no fim do 6º parágrafo)”.

  Este observador pediu explicação à agência de notícias e até a manhã de quarta-feira (25/3) não obteve resposta.

  O correspondente Brian Winter, no Brasil desde 2010, publicou quatro livros, três dos quais são biografias: uma de Pelé, outra do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, e a terceira de Fernando Henrique Cardoso. O livro intitulado O improvável presidente do Brasil, publicado em 2007, originalmente em inglês, foi ditado pelo ex-presidente ao jornalista Brian Winter, que aparece como coautor, o que permite ao modesto sociólogo falar de si mesmo na terceira pessoa.

 Deu para entender como é feita a salsicha?

domingo, 22 de março de 2015

Se Cristo estivesse a iniciar seu ministério no Brasil de hoje....





 E ele entregou à vida à causa que acreditava: que o Reino pertencia aos Excluídos, aos pobres, aos proscritos sociais.... Por defender e exemplificar esta mensagem, as elites, judaicas e romanas, de seu tempo o assassinaram...  E ainda depois, como faz a mídia de hoje, manipularam sua mensagem para justificar a permanência das divisões, as velhas injustiças e as elites (incluindo, entre elas, as religiosas) de sempre! Estivesse ele no Brasil de hoje e a bancada e igrejas evangélicas seriam os primeiros a persegui-lo, seguido de perto pela mídia elitista.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

O domínio da elite paulista ou "a orgulhosa vanguarda do atraso", por Luciano Martins Costa


  A Folha de S. Paulo, em 22/12/14, traz resultado de pesquisa Datafolha segundo a qual os paulistanos são vistos por um número crescente de brasileiros como invejosos, egoístas e orgulhosos.

OLHAR SOBRE SÃO PAULO

A orgulhosa vanguarda do atraso

Por Luciano Martins Costa em 22/12/2014 na edição 829 do Observatório da Imprensa

Os dois jornais paulistas que dominam a cena da imprensa escrita no Brasil voltam a atenção para o território onde têm suas bases. O Estado de S. Paulo publica, na edição de segunda-feira (22/12), um novo painel sobre o aumento da criminalidade na capital e no interior. A Folha de S. Paulo, por sua vez, traz resultado de pesquisa Datafolha segundo a qual os paulistanos são vistos por um número crescente de brasileiros como invejosos, egoístas e orgulhosos.
As duas reportagens se cruzam em alguns pontos, mas os textos e gráficos publicados reduzem a perspectiva do leitor a aspectos formais dos temas abordados, evitando um olhar para questões mais profundas, tanto do aumento da violência como da deterioração da imagem dos paulistas. Embora a Folha cite, de passagem, que a polarização das últimas eleições possa ter afetado a visão que o resto do país tem dos habitantes de São Paulo, faltou penetrar um pouco mais fundo nas causas dessa polarização.
No que se refere ao problema da criminalidade e da violência, mais uma vez a imprensa é conduzida por estatísticas oficiais, sem investir em dados paralelos que permitiriam mensurar o fenômeno num campo mais amplo do que aquele determinado pela ação de delinquentes ou pelos confrontos entre os criminosos e agentes públicos. Ficam parcialmente fora das análises os atos violentos praticados por cidadãos sem histórico de delitos, o que seria importante para o estudo da violência na rotina da sociedade.
Visto das estatísticas que apenas levam em conta boletins de ocorrência de assaltos, furtos, homicídios e latrocínios, o quadro se limita a contabilizar a atividade do crime contumaz ou organizado, que tem sempre um importante fator de sazonalidade. Por exemplo, em determinadas épocas aumenta o roubo de carga, em outros períodos cresce o furto de telefones celulares, e o assalto a bancos pode aumentar quando se intensifica a repressão ao tráfico de drogas.
Sem essa abordagem complexa, o noticiário apenas reproduz os gráficos da polícia que, como admitem as próprias autoridades, são distorcidos por fatores banais, como a isenção de taxa para a emissão de documentos em caso de roubo ou furto: supõe-se que muita gente registra boletins falsos para não ter que pagar pela emissão de uma nova carteira de identidade.
Perfil reacionário
No caso da pesquisa Datafolha, segundo a qual a imagem dos paulistas piorou, nos últimos onze anos, do ponto de vista dos outros brasileiros, a análise se concentra no fato de que o estado de São Paulo tem perdido importância relativa com o processo de redução das desigualdades regionais. A capital paulista cresce num ritmo menor do que o Nordeste, por exemplo, e isso a torna menos atraente, enquanto a melhoria das condições de vida em outras regiões reduz a necessidade de migrar em busca de bem-estar.
Folha de S. Paulo se refere ao perfil político que foi diferenciando os paulistas dos outros brasileiros nos últimos anos, mas não faz uma relação entre a questão das escolhas eleitorais e a realidade criada pelas políticas nacionais de redução da pobreza. “Pelo menos desde 2006, o comportamento eleitoral dos paulistas – e mais fortemente, dos paulistanos – destoa do comportamento dos eleitores do Nordeste. Enquanto São Paulo consolidou-se como maior reduto do PSDB, os Estados nordestinos firmaram-se como celeiro de votos do PT”, diz o jornal.
O que não está dito é que uma parcela importante do eleitorado paulista, e, como reflexo disso, da própria sociedade paulista, vem se tornando mais conservadora, e essa característica define um comportamento que é visto, de outras regiões, como sinal de egoísmo e arrogância.
À medida que se comprovam os resultados econômicos de políticas sociais que reduzem as diferenças regionais pela diminuição da pobreza, quebra-se a histórica hegemonia de São Paulo sobre o resto do país e surgem os dois sentimentos presentes na percepção dos brasileiros: os paulistas se tornam ressentidos e reagem com manifestações de desprezo e preconceito.
O estudo do Datafolha mostra com clareza que os demais brasileiros notam o recrudescimento de um sentimento de superioridade dos paulistas, que foi bastante manifestado após a eleição presidencial. Mas a pesquisa passa ao largo de um ponto importante: ao omitir, durante anos, os benefícios da política econômica de interesse social, e ao se comportar como um partido político conservador, a mídia tradicional tem contribuído para forjar esse perfil justamente na região onde tem mais influência.
Não estranha que milhões de reacionários com elevado grau de educação formal e alta renda se mostrem tão orgulhosos de compor a vanguarda do atraso.


A "grande" mídia apostando na pauta das 'inguinorânças', por Luciano Martins Costa



  Há um mito generalizado segundo o qual a imprensa faz a narrativa dos fatos mais relevantes de seu tempo. Essa crença ainda sustenta o poder de influência que tem os profissionais de jornalismo a serviço das empresas de comunicação hegemônicas, e de certa forma explica o fato de a mídia tradicional ainda controlar quase toda a agenda pública. Por esse motivo, análises genéricas, platitudes e mesmo contrafações grosseiras acabam sendo aceitas como verdadeiras por grande parte da população.


ALFABETIZAÇÃO PARA A MÍDIA

A pauta das "inguinorãças"

Por Luciano Martins Costa em 08/10/2014 na edição 819 do Observatório da Imprensa

Há um mito generalizado segundo o qual a imprensa faz a narrativa dos fatos mais relevantes de seu tempo. Essa crença ainda sustenta o poder de influência que tem os profissionais de jornalismo a serviço das empresas de comunicação hegemônicas, e de certa forma explica o fato de a mídia tradicional ainda controlar quase toda a agenda pública. Por esse motivo, análises genéricas, platitudes e mesmo contrafações grosseiras acabam sendo aceitas como verdadeiras por grande parte da população.
Esse efeito é mais perceptível nos grandes aglomerados urbanos, onde uma ideia, por mais estúpida que seja, pode se espalhar e se afirmar como sensata e verdadeira com muita rapidez. No contexto de insegurança e ansiedade em que vivem as populações das grandes cidades, é natural que a visão de mundo seja mais suscetível às pregações negativistas do que às mensagens otimistas. O ambiente opressivo que marca o cotidiano dificulta a percepção de sinais de melhoria no médio e longo prazos e aumenta o peso do mal-estar.
Trata-se de dois aspectos do campo comunicacional que raramente são observados em suas interações: a propensão das pessoas a supervalorizar as dificuldades do dia a dia e a ação manipuladora da mídia diante de fatos que aumentam a ansiedade e a sensação de insegurança. Esses dois elementos, somados e interconectados, explicam em boa parte as reações massivas a determinadas ideias e interpretações superficiais, ou mesmo a manipulações da realidade.
Veja-se, por exemplo, como a defesa da pena de morte predominou na sociedade brasileira durante décadas, alimentada pelo discurso de boa parte da mídia sobre a impossibilidade de recuperação dos delinquentes. A narrativa típica do jornalismo omite dados estatísticos e elementos que permitiriam entender a complexa questão da reincidência e, portanto, impede que a população imagine outras soluções que não a da execução sumária dos suspeitos. O resultado é a popularidade de frases emblemáticas como “a solução é a Rota nas ruas”, que celebrizou o notório deputado Paulo Maluf.
Analfabetismo midiático
A Rota – sigla das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de impacto da Polícia Militar de São Paulo – sempre foi símbolo da truculência policial. São incontáveis as vítimas que seus integrantes produziram na periferia da região metropolitana, entre as quais uma grande porcentagem de jovens sem relação com o crime, executados simplesmente por serem negros ou pardos em circunstância que o arbítrio do policial considerou suspeita.
Com a mesma superficialidade é tratada a questão da maioridade penal, que passou transversalmente pela campanha eleitoral deste ano e, como foi citado neste Observatório, desapareceu subitamente do noticiário. Por quê? Porque aconteceu um assalto na Universidade de São Paulo, do qual participaram algumas crianças, uma delas aparentando nove anos de idade.
Em vez de aprofundar o debate, a imprensa escondeu o assunto, evitando que se questionasse a ideia equivocada, que parece convencer grande número de brasileiros, segundo a qual basta prender adolescentes que os índices de violência vão se reduzir.
A mesma coisa se pode dizer sobre a criminalização do aborto: muitos brasileiros acham que autorizar o procedimento em clínicas regulares, em casos específicos, é o mesmo que apoiar ou estimular o aborto.
Da mesma forma, a superficialidade com que se trata o problema das drogas mantém na agenda uma ideia difusa segundo a qual basta legalizar o comércio de maconha que imediatamente se irá desmanchar o poder das quadrilhas de traficantes.

A lista das platitudes não tem fim e mostra de que maneira a mídia funciona como um entrave ao crescimento da consciência social dos indivíduos. Embora possa parecer leviandade, pode-se demonstrar que o leitor típico de jornais tem todas as características do analfabeto em mídia, ou seja, quanto mais fiel é o leitor, menos capaz ele se torna de ler criticamente o noticiário.
media illiteracy, expressão em inglês utilizada para definir a incapacidade de interpretar a mensagem midiatizada, é uma característica das classes médias urbanas. É nesse terreno de meias-verdades e preconceitos que se concentra o poder da mídia.
Como diria o poeta Manoel de Barros, é preciso encarar as inguinorãças e desinventar a imprensa.

Manifestação midiaticamente fomentada e "a profecia autocumprida" discutidas por Sylvia Debossan Moretzsohn

 

    Martelar uma ideia até que ela seja incorporada pelo público e apareça como expressão espontânea – embora, ao contrário do que se costuma pensar, nada seja, de fato, espontâneo, porque nada surge do nada –, martelar uma ideia até transformá-la em suposta expressão espontânea de uma legítima e inquestionável reivindicação é uma conhecida estratégia da propaganda, que tem a ver com o conceito de “profecia autocumprida”. O sucesso ou fracasso dependerá da predisposição do público em aceitar a ideia.



JORNALISMO POLÍTICO

A profecia autocumprida

Por Sylvia Debossan Moretzsohn

extraído do


 “Contra a corrupção e o governo” era a frase mais repetida na cobertura das manifestações de domingo (15/3) na GloboNews. O professor Guilherme Nery, da Universidade Federal Fluminense, notou a insistência. Não era necessário ser estudioso do assunto, como ele, para perceber a associação semântica: governo = corrupção, e vice-versa. “É gritante a falta de responsabilidade”, concluiu.

  Martelar uma ideia até que ela seja incorporada pelo público e apareça como expressão espontânea – embora, ao contrário do que se costuma pensar, nada seja, de fato, espontâneo, porque nada surge do nada –, martelar uma ideia até transformá-la em suposta expressão espontânea de uma legítima e inquestionável reivindicação é uma conhecida estratégia da propaganda, que tem a ver com o conceito de “profecia autocumprida”. O sucesso ou fracasso dependerá da predisposição do público em aceitar a ideia.

  O jornalismo transformado em propaganda – esse que, segundo a própria entidade representante das grandes empresas que o produzem, anunciou que assumiria o papel que a oposição não estava conseguindo exercer – tentou essa estratégia no caso do mensalão. Não teve êxito, pelo menos não imediatamente: apesar de tudo, o PT venceu as eleições em 2010. Mas a estratégia se manteve e agora, diante do escândalo da Petrobras, finalmente parece render frutos.

 Há fatores concretos para a revolta? Evidentemente sim, e não é preciso ter estômago especialmente sensível para se chegar ao limiar do vômito diante da platitude com que os envolvidos na Operação Lava Jato expõem o sistema de distribuição de propinas milionárias. Mas imaginemos como o público se comportaria se outros escândalos tivessem sido investigados: o caso Sivam, a compra de votos para o segundo mandato de Fernando Henrique, a privatização das teles, o caso Banestado...

 O fio da meada

 Lembrar esses episódios não significa tentar minimizar ou diluir as atuais denúncias de corrupção, no velho estilo “sou, mas quem não é?” – ou, como disse Lula quando percebeu que não poderia abafar a história do mensalão, “sempre foi assim”, inclusive porque quem votou no PT apostou na mudança. Significa oferecer argumentos para se entender por que “a pecha de corrupto pegou mesmo no PT”, como certa vez comentou um membro do governo, enquanto outros partidos posam de campeões da moralidade.

 Se quisermos entender como o movimento pró-impeachment ganhou as proporções atuais, precisaremos recuar até as vésperas do segundo turno, em outubro do ano passado, quando a Veja antecipou a distribuição de sua edição semanal para uma sexta-feira e saiu com a famosa capa – pela qual foi condenada a oferecer direito de resposta – acusando Dilma e Lula de saberem “de tudo”. (“Tudo”, como se recorda, era o esquema de corrupção na Petrobras, e a denúncia se baseava em depoimento do doleiro Alberto Youssef, pelo acordo de delação premiada.)

 Naquela mesma sexta-feira, o jornalista Merval Pereira, de O Globo,escreveu que, se comprovada a denúncia, “o impeachment da presidente será inevitável, caso ela seja reeleita no domingo”. Escreveu assim, no meio da coluna, como quem não quer nada, e ali plantou a semente.

  O desdobramento é conhecido: no domingo seguinte, Dilma foi reeleita por pequena margem e já na segunda-feira um grupo saía às ruas de São Paulo para pedir o impeachment. Trinta pessoas: uma irrelevância que, entretanto, O Globo transformou em notícia. Ao mesmo tempo, a eleição era posta sob suspeita pelo PSDB, que ensaiou um pedido de recontagem de votos. Foi-se consolidando, entre os derrotados, o sentimento de que o governo era espúrio e precisava ser derrubado.

 O cúmulo da parcialidade

 A imprensa fez a sua parte: contrariando os critérios elementares que levam um fato a se tornar notícia, cobriu os mais insignificantes atos em favor do impeachment, como o promovido por um grupelho de direita que destila seu ódio nas redes sociais e reuniu 20 (vinte) pessoas no Centro do Rio de Janeiro, na quarta-feira (11/3). Na sexta (13/3), dia da manifestação organizada pela CUT, ao mesmo tempo favorável e crítica ao governo, O Estado de S.Paulo dedicou em seu site uma notícia de cinco parágrafos (ver aqui) para a presença de oito (repito: oito) pessoas que, em Brasília, protestaram contra Dilma. (A notícia original falava em seis, mas foi atualizada.)

 Na semana que culminou com a monumental manifestação em São Paulo, a Folha de S.Paulo foi “desequilibrada”, ora com a avalanche de notícias negativas para o governo, ora com o tratamento díspare dedicado aos atos a favor e contra Dilma. Assim avaliou a ombudsman do jornal, que entretanto não apontou o cúmulo da parcialidade, revelado num detalhe: ao pé de reportagem sobre os protestos, na página 6 do caderno principal da edição de 10/3, o jornal publicava um quadro no estilo “serviço”, informando os “Atos contra Dilma”, “quando” e “onde”. O que levou o escritor e humorista Gregório Duvivier a publicar uma montagem no Instagram: “Onde? Shopping JK Iguatemi. Serviços: babá, empregada e open bar”.

  O pequeno “tijolinho” provocou também a ironia de uma jovem jornalista, que lembrou a campanha publicitária do jornal e sugeriu um texto mais honesto: “A Folha é contra a Dilma. Eu também”.

 Na véspera – ou seja, no início da semana –, o site da Folha publicava um “mapa interativo” dos protestos e destacava os “grupos contra Dilma”, prometendo informar “quem são os organizadores”. A reportagem, entretanto, se limitava a entrevistar os líderes daquelas organizações, que é a isso que se resume o jornalismo amestrado. (A expressão é do jornalista Licínio Rios Neto, num artigo publicado no final dos anos 1980. Não é fenômeno recente, portanto.)

 Criando o clima

 Traçar esse quadro propício à explosão da revolta contra o governo é apontar o sucesso da profecia autocumprida empreendida por uma imprensa que ajuda a criar o clima favorável para depois colher os resultados, com a agravante de esconder seu próprio papel nesse processo ao apresentar-se como responsável por simplesmente “relatar fatos”.

 Esse “simples relato”, que passa ao largo de uma apuração criteriosa, facilitou o discurso mistificador de parte dos organizadores do protesto, que evitaram – de acordo com a orientação geral das próprias lideranças do PSDB – carregar nas tintas do impeachment. Contrariando as evidências expostas nas faixas mais exuberantes, que pediam o afastamento da presidente, eles anunciaram que iriam às ruas em nome da democracia e contra a corrupção. Como se não estivéssemos vivendo em pleno regime democrático e os escândalos não estivessem sendo apurados, aliás de maneira inédita: o curioso, nessa história, é perceber que o ônus recai sobre quem apura.

 Da mesma forma, tanto esses organizadores quanto a própria mídia tentaram minimizar o impacto das faixas e cartazes exortando o retorno dos militares – algumas falavam em “intervenção militar constitucional” – e destilando ódio contra a suposta “doutrinação marxista nas escolas”, o que incluía um “basta a Paulo Freire”. Houve mesmo quem sugerisse que estas seriam manifestações plantadas pelo PT para desqualificar o movimento, o que nem a imprensa mais antigovernista – com o perdão do pleonasmo – ousou acolher.

 Brincando com o perigo

 Não foram poucos os que, nas redes sociais, denunciaram o risco da aliança com esse “ovo da serpente”, justamente no dia em que o país completava 30 anos de democracia.

 “Contra a corrupção e o governo”, essa perversa associação semântica, favorece a onda pró-impeachment. Um bom jornalismo poderia apontar o vazio da primeira consigna, apresentada assim genericamente: quem pode ser a favor da corrupção, a não ser os próprios beneficiários do esquema, que entretanto não podem assumir-se como tais? Poderia apontar, também, filigranas que talvez causassem algum mal-estar: as pequenas espertezas cotidianas dessa multidão que se perfila com a mão no peito para cantar o hino nacional a plenos pulmões, vestida com as cores da bandeira e convicta da retidão de sua conduta.

 Mas, principalmente, poderia lembrar que essa palavra de ordem genérica – quantos notaram a ausência de demandas pela reforma política e pela mudança nas regras de financiamento de campanha? – estimula reações histéricas de nefastas consequências.

P orque, sim, o governo pode ser derrubado, por vias legais ou não. Mas não custaria recordar que foi em nome do fim da corrupção – e da ameaça comunista, associada ao então governo constitucional e “corrupto” – que se promoveu o golpe, há mais de meio século.

 ***

 Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)



sexta-feira, 20 de março de 2015

Teste de conhecimentos: Marx ou Jesus disse isso?



Você é bom em filosofia? Então, responda rápido cada questão do teste abaixo

Leonardo Sakamoto


Você consegue identificar qual dos dois personagens históricos disse isso?
marxjesus
Assinale a alternativa correta:
1) Não pensem que vim trazer paz. Vim trazer a espada. Vim causar a divisão entre filho e pai, filha e mãe, nora e sogra. Criar inimigos dentro da própria casa
( ) Jesus de Nazaré
( ) Karl Marx
2) No final das contas, será muito difícil salvar um rico.
( ) Jesus de Nazaré
( ) Karl Marx
3) Venda tudo o que tem e dê aos pobres. 
( ) Jesus de Nazaré
( ) Karl Marx
4) Não importa o quanto você tem. Importa quem você é.
( ) Jesus de Nazaré
( ) Karl Marx
Respostas: 1) Jesus (Mateus 10: 34-39); 2) Jesus (Lucas 18:18-30); 3) Jesus (Mateus 19:21); 4) Jesus (Mateus 6: 19-21)
Resultados: Se você acertou todas, meus pêsames. Estes últimos tempos de intolerância e falta de diálogo devem estar bem pesados pra você, né?
Extraído do Blog de Leonardo Sakamato

OAB, Rede Nacional dos Advogados e Advogados Populares sobre as manifestações fascistas do último dia 15 de março



Sobre as manifestações do dia 15 e posicionamentos de setores da OAB


A Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares – RENAP é um espaço de articulação de assessores(as) jurídicos/(as) de movimentos populares. Sendo assim, são profissionais postos a serviço de segmentos mais vulnerabilizados da sociedade, historicamente violados, que se organizam para conquistar e efetivar direitos, como também, defender-se de ações e omissões violadoras, por parte do Estado ou do Poder Econômico.
Esta atuação da Renap termina por coincidir com diversos dispositivos da Constituição Federal, como a busca pela erradicação das desigualdades sociais, a luta por uma sociedade mais justa e solidária, os direitos dostrabalhadores (as) e as garantias e direitos fundamentais. Neste sentido que a Renap entende a importância da Ordem dos Advogados do Brasil. Seus membros, como inscritos(as) à Ordem, buscam sua valorização e fortalecimento, contribuindo com que está posto em seu Estatuto: defender a Constituição Federal, a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito, os Direitos Humanos, a Justiça Social (art. 44, I, da Lei nº 8.906/1994).
Por isso, a Renap se surpreendeu ao ver que algumas seccionais e subseções pelo país procuraram legitimar e até participar de atos que, dentre outras reivindicações, pediam a ruptura do Estado Democrático de Direito, com a intervenção militar. Certo que foi uma minoria, mas não se pode e nem se deve colocar o nome da Ordem dos Advogados do Brasil para instrumentalizar interesses menores, não democráticos e nem republicanos.
Se é garantido na democracia o direito à livre manifestação, é um contrassenso reivindicar contra o mesmo sistema que permite essa democracia. Também, mesmo o impeachment, previsto em nosso ordenamento jurídico, devem existir fatos comprovados e seguir o que estabelece a Lei nº 1079/1950.  Não é papel da OAB fazer agitação política, que vise desestabilizar as instituições democráticas, muito pelo contrário.
A crítica e as divergências políticas são salutares. O momento político do país mostra os limites de diversas instituições, mas não para retroceder, e sim, para avançar em mecanismos democráticos de controle social e participação popular. Deve haver mudanças e estas podem acontecer dentro de um processo democrático. A reforma política mostra-se necessária, inclusive, englobando aí, as instituições do Sistema de Justiça.
Na defesa das funções da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, a Renap se manifesta contrária a qualquer ação que fragilize ou ataque as instituições democráticas. Repudia setores que assim o fizerem e se coloca ao lado do Conselho Federal da OAB a favor de uma ampla reforma política.
REDE NACIONAL DE ADVOGADOS E ADVOGADAS POPULARES-RENAP
Apoio: Movimento Nacional de Direitos Humanos em SC (MNDH-SC)


quinta-feira, 19 de março de 2015

Armandinho e a hipocrisia de certos "esclarecidos"













Simples, profundo, direto e claro.... Armandinho é genial!

Bob Fernandes sobre as manifestações, os interesses dos partidos, em especial o PMDB, e a manobra da mídia para canalizar corações e mentes




  Segue vídeo do comentarista politico Bob Fernandes, da TV Gazeta, sobre as manifestações, os  "líderes" insufladores guardados em apartamentos, vendo de longe, São Paulo demonstrando sua aliança com o candidato derrotado, o governo empurrado para mais perto do PMDB e os interesses de Eduardo Cunha e Renan Calheiros mais interessados em salvar o próprio pescoço da lista de Janot que o governo, o desencontro proposital dos números de manifestantes do dia 13 e dia 15 e, ainda mais com o nome de suas famílias na lista do Escândalo HSBC-Swissleaks, a mídia no cerco para imposição de sua hegemonia narrativa tendenciosa....

Nas ruas e mídias, a batalha pelos corações e mentes




A "enorme multidão" na Paulista, com redundância, exibe inúmeros significados e sentimentos. Primeiro alguns dos sentimentos.

O sentimento de se opor, em São Paulo e Brasil afora, para além do governo e crises. O de "pertencimento" a um "momento histórico".

A catarse num Estado que deu 64,5% dos votos ao candidato da oposição.

Isso em meio a uma disputa, também entre classes, de parte a parte recheada de ódios e deboche no antes, durante e no depois.

Significados: nas ruas os partidos, todos, estão a reboque de movimentos e forças sociais. Os que se pode chamar de "líderes" estão nas janelas ou nos sofás, diante das telas.

Salvo uma guinada, manobra agora cheia de riscos e para a qual parecem faltar pontes sólidas, um lado das ruas de Março empurra ainda mais o governo para o colo do PMDB.

O PMDB tem a vice-presidência. O partido comanda Senado, Câmara e CPI da Petrobras. Seus líderes são investigados.

Renan e Eduardo Cunha sequestraram a pauta do Congresso. Para salvar o pescoço entregarão qualquer coisa. O mandato de Dilma se preciso for.

Por isso a batalha pelos corações e mentes nas ruas. Na confecção desse embrulho, a refrega nos números e repercussão. Na quarta-feira antecipamos aqui:

-Para domingo falam em 100 mil pessoas. Subestimam de propósito porque esperam mais e sabem do impacto que a "surpresa" provocará nas manchetes. E na repercussão.

Na sexta, com 41 mil manifestantes pró-Dilma detectados pelo DataFolha na Paulista, a opção por repisar apenas os números da PM de São Paulo: 12 mil manifestantes.

Domingo. Mesmo depois dos 210 mil apontados pelo Datafolha, a insistência apenas no "1 milhão" - da mesma PM- para embasar repercussão e análises.

Esse debate geométrico parece ocioso, mas não é.
A escolha é parte do que se move e do processo político. Não basta a multidão nas ruas. Para o antes, o durante e o depois. é preciso manter o controle, a hegemonia na narrativa.

quarta-feira, 18 de março de 2015

O que está por trás do incentivo a tanto ódio?






 "Tirar o foco de uma mudança estrutural do sistema político brasileiro para debater a volta do regime militar e novas formas de chamar os petistas de “petralhas” só ajuda os políticos que há anos se aproveitam do patrimônio público. E quando se fala em anos, o recorte pode até ser estendido aos séculos que alcançam a formação institucional do país, há mais 500 anos.

 "Formado em sua essência como uma estrutura disponível exclusivamente para ter seus recursos roubados para o proveito da metrópole e não usufruídos pela população, o Brasil tem no sangue um sistema político falho. E não são quatro anos de qualquer gestão que irão resolver o problema."


DISCURSO DO ÓDIO

A encarnação da espiral do silêncio

Por Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa em 16/03/2015 na edição 842 do Observatório da Imprensa
Ela é uma senhora de quase 70 anos, uma avó. E é xingada de “vaca”, “vagabunda” e “asquerosa” por aqueles que querem atingi-la na esfera política. A presidente Dilma Rousseff (PT) merece críticas, mas certamente nem ela nem ninguém merece boçalidade em formato de mal disfarçado ativismo político.
Presidentes que governaram e governam democraticamente em situações políticas e econômicas piores que Dilma seguem incólumes sem nenhuma sombra de protestos pró-impeachment. Claro que cada país tem suas particularidades institucionais, mas a lição que se tira disso tudo é que Dilma Rousseff não consegue mais se comunicar. Nem com sua base de apoio no Congresso Nacional e menos ainda com seus eleitores.
Foi o “muso” dos conservadores, Olavo de Carvalho, quem introduziu indiretamente na roda de discussão um conceito que volta e meia é debatido na comunicação, a teoria da espiral do silêncio. Em seu perfil no microblog Twitter, ele disse: “Mostrem força e a mídia ficará do seu lado, por mero cagaço que seja. Jornalista é puta: adere sempre ao mais fortão”. Pulando o machismo perceptível no raciocínio simplista, a ideia é a mesma embutida na teoria da espiral do silêncio, cujo conceito surgiu na década de 1970 por meio de trabalhos da alemã Noelle-Neuman: aqueles que detêm as opiniões maioritárias tendem, mesmo que indiretamente, a silenciar os detentores de opiniões minoritárias, que com o receio de represálias acabam por não expor o seu pensamento.
Se, naturalmente, a opinião pública influencia a opinião individual, já passou então da hora de Dilma Rousseff e sua equipe de comunicação tratarem de tentar inverter o sentido do vento o mais urgente possível. O destino para onde o vento sopra hoje leva à instabilidade política e econômica, cujo desfecho é incerto, mas já amedronta.
Eleita pela maioria dos brasileiros, Dilma não se comporta como vencedora nem como maioria. A resignada solidão e o isolamento político refletem-se numa percepção pública de que a presidente está fraca. Tentando a autopreservação, até os petistas atacam a própria carne, como se Dilma sangrando não contaminasse todas as possibilidades de manutenção da sigla no poder em 2018, com a perspectiva cada vez mais frágil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se candidatar novamente ao Palácio do Planalto. E, não custa lembrar, ao ver o menor sinal de sangue, os tubarões fazem a festa.
Para que tanto ódio?
Defender a volta de uma ditadura militar só porque o governo no poder não é o que mais lhe agrada é ser mimado, e não maduro. O asfixiamento que Dilma vive – sem fôlego para começar um mandato, impregnada na lama de membros do PT e de outras siglas – não deixa de ser uma retirada do ar da população em geral. Com o discurso de uma tecla só (leia-se “Lava Jato + Petrobras + corrupção”) o país vive uma cortina de fumaça sobre o tema mais importante do momento: a possibilidade concreta de retirar do papel a reforma política.
Tirar o foco de uma mudança estrutural do sistema político brasileiro para debater a volta do regime militar e novas formas de chamar os petistas de “petralhas” só ajuda os políticos que há anos se aproveitam do patrimônio público. E quando se fala em anos, o recorte pode até ser estendido aos séculos que alcançam a formação institucional do país, há mais 500 anos.
Formado em sua essência como uma estrutura disponível exclusivamente para ter seus recursos roubados para o proveito da metrópole e não usufruídos pela população, o Brasil tem no sangue um sistema político falho. E não são quatro anos de qualquer gestão que irão resolver o problema.
O discurso do ódio, reverberado pela mídia, não é capaz de gerar nada além de um humor social ainda mais feroz, retroalimentando uma lógica que atende mais à insensatez do que ao avanço do debate público. Ao invés de discutir soluções dentro da democracia, estamos sendo neutralizados pelo radicalismo. Ao invés de ação e movimento, o brasileiro continua agindo como um fantoche que segue o trem – mesmo que esse trem dê voltas sobre si mesmo.
***
Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa é jornalista

O que é que dá poder à grande mídia? A audiência sustenta a mídia que controla a audiência



  Extraordinário resumo do processo do círculo vicioso da grande mídia, feito pelo jornalista T.T. Catalão:

"A audiência-corrente transferiu a decisão de existir por si mesmo. Ela só existe por tabela, uma vida de segunda mão. Ela só “vive” se “acontece” na cadeia dramatizada por algo fora de si. O rebanho dócil não é físsil, é fóssil!
“A gente precisa voltar a ser a gente”, escutei de um caboclo de lança do maracatu de Chã de Camará – Aliança (PE). Ele estava entusiasmado com o seu Ponto de Cultura e a chance de recuperar a sua vida. Queria mostrar a sua cara do jeito que ele canta, dança, festeja, come, veste, fala, reza, ama, trabalha e até se revolta...
"Quebrar esse desejo de “voltar ser a gente, mesmo” é a tática que lubrifica a corrente para que o giro não se interrompa. Uma vez desperto a submissão morre e o encanto da sedução dominadora para...
"E se a audiência quebra, o tal público-alvo deixou de estar na mira e a sociedade não é mais um mero “segmento de mercado”... Quebrou-se o encanto imobilizador, rompeu-se a grade da programação... e aí sai da frente (ou de cima) porque quando a base se mexe o salão se move."
 Veja o texto completo clicando aqui.

A hipocrisia de quem prega uma inexistente "intervenção militar constitucional" e exige "esmagar vermes", "expulsar vagabundos" em nome de uma "democracia" elitista.... A marcha do ódio



  O povo simples e trabalhador precisa saber quem é essa gente que está nas ruas e na internet espalhando ódio, pregando violência.

O ódio de quem prega a “Democracia” – mas quer esmagar “vermes”, expulsar “vagabundos” – veja a turma do dia 15 a se repetir com menor numero no dia 12 de abril


Texto de Rodrigo Vianna



  Publiquei hoje um pequeno post, com o vídeo de uma senhora que quer acabar com o Bolsa-Familia, e diz que no Ceará ninguém quer trabalhar (clique aqui para ver).

 A senhora, branca, estava na marcha domingo (dia 15) no Rio. Ao lado de “famílias inteiras” que pediam a volta da ditadura – com cartazes em inglês.

 Depois de publicar o texto, recebi muitos comentários no facebook. Muitos indignados com a fala da senhora. Mas alguns preferiram reforçar o ódio – mostrando que a turma da “passeata pela Democracia” quer mesmo é xingar, bater:

“Verme”, “petralha”, “imundo”, “cala a boca”.

 Mas não. Eles não vão calar ninguém. Precisam ser derrotados. Ninguém vai convencê-los de nada. Com essa gente não tem conversa.

 Há muitos motivos para criticar o governo, protestar. Há muitos motivos para criticar o PT (mas, curiosamente, só o PT tem problemas? E os outros? E a mudança social ocorrida nesse país nos últimos 12 anos?).

 O povo simples e trabalhador precisa saber quem é essa gente que está nas ruas e na internet espalhando ódio, pregando violência.

 Enfim, vejam só os exemplos mais fortes da turba:

 Fernando Carlos Ribeiro – “Mentira nojenta, nem vale a pena comentar…..SÓ ESTA CORJA DO PT PARA ESPALHAR UMA CONVERSA DESTA MESMO…..se alguem neste País prega o ÓDIO ENTRE IRMÃOS, ESTE ALGUÉM É ESTA CORJA INFAME DO PT QUE AÍ ESTA…….INFAME E COVARDE…..VERMES IMUNDOS….”

(expliquei a ele que “vermes imundos” era como chamavam judeus, ciganos e socialistas na Alemanha dos anos 40; mas parece que não entendeu; gosta de fazer piadas sobre o risco de ter “namorada gostosa”; problemas sérios tem o rapaz…)

 Toddy Hassman - “O PT traz um ódio contra os brancos, racistas Fdp.”

 Fernando Tardioli- “foda-se, a elite branca que banca essa porra de país. a opinião deles tem o mesmo valor da sua, e digo mais, se quiserem a elite branca vai toda embora e deixa vcs desempregados passando fome, bando de esquerdista vagabundo imundo”

 (esse aqui é valentão de facebook; traz foto com bebezinho, a mulher com cachorrinho, um sujeito “família” – carinhoso em casa, mastodonte nas redes)

 Tiago Santos – “vcs são uns vagabundos o nordeste em peso foi as ruas contra o governo de dilma ccontra os partidos comunistas!”

 (esse parou nos anos 60; PT é comunista?)

 Colombo Melo – “Cala a boca, imbecil. Sou nordestino e detesto o PT e os petralhas. Nordestino honesto e trabalhador odeia o PT (…)

 Vocês estão ferrados… Perderam… O povo brasileiro acordou… A mentira foi desmascarada… Não somos otários, babaca. Somos um povo trabalhador e honesto. Muitas vezes temos boa fé e acreditamos em vigaristas, mas vocês abusaram de nossa boa vontade. Vocês mentiram, roubaram, foram canalhas, e nós, os brasileiros honestos e trabalhadores, detestamos gente da sua espécie. (…) Detesto vagabundos, parasitas, sanguessugas como os do MST, da UNE, do MTST e dos tais movimentos sociais. São todos vigaristas, e querem tomar à força o que conquistamos com muito trabalho e muita competência. FORA, VAGABUNDOS!!!

 (esse é o mais violento, acha que querem tomar as coisas dele “à força”; e trata os que pensam diferente dele como se fossem de outra “espécie”; de fato, tenho interesse quase veterinário em gente desse “tipo” – digamos assim)

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 Espalhem seu ódio!


 Vocês são didáticos.


 O Brasil precisa de vocês…

Grande mídia, redes sociais e movimentação golpista: a ação de setores conservadores para influenciar a nação

"No atual léxico do pensamento político, a palavra “impeachment” virou eufemismo para “golpe de Estado”. Segundo a grande imprensa, um panelaço produzido por alguns membros das classes sociais mais abastadas contra Dilma Rousseff representa a opinião pública nacional. Já nas redes sociais, a nova moda dos “revoltados online” é gravar e compartilhar vídeos insultando a presidenta com palavras de baixo calão e atribuindo a ela todos os males do país. Em suma, parece que muitos brasileiros perderam totalmente o senso do que é viver em sociedade e aceitar as diferenças."




Texto de Francisco Fernandes Ladeira, retirado do Observatório da Imprensa:


MANIFESTAÇÕES DE RUA

Grande mídia, redes sociais e movimentação golpista

Por Francisco Fernandes Ladeira em 16/03/2015 na edição 842

Um espectro ronda o Brasil: trata-se do terceiro turno, a tentativa desesperada dos setores conservadores de nossa sociedade em influenciar (mesmo por vias não democráticas) nas principais decisões da nação. No atual léxico do pensamento político, a palavra “impeachment” virou eufemismo para “golpe de Estado”. Segundo a grande imprensa, um panelaço produzido por alguns membros das classes sociais mais abastadas contra Dilma Rousseff representa a opinião pública nacional. Já nas redes sociais, a nova moda dos “revoltados online” é gravar e compartilhar vídeos insultando a presidenta com palavras de baixo calão e atribuindo a ela todos os males do país. Em suma, parece que muitos brasileiros perderam totalmente o senso do que é viver em sociedade e aceitar as diferenças.
Ao contrário do que pensam muitos apedeutas (os famosos “comentaristas de internet”), denunciar a perseguição midiática sofrida pelos governos petistas não é relativizar casos de corrupção ou tampouco defender incondicionalmente o Partido dos Trabalhadores (diga-se de passagem: para esse mister, existe a “imprensa pelega”). O que devemos colocar em pauta é a seletividade do conteúdo dos principais noticiários do país. Casos de condutas moralmente condenáveis por parte de políticos da oposição são propositalmente negligenciados. Não é difícil entender os motivos para tanto ódio da imprensa hegemônica e das classes sociais mais abastadas em relação ao PT, pois, afinal de contas, o governo Lula ampliou de 499 para 8.094 o número de veículos que recebem publicidade estatal, diminuindo assim os lucros dos grandes empresários da mídia. Ademais, a ascensão social promovida na última década, apesar de não ter bases sólidas, fez com que indivíduos das classes baixas pudessem frequentar lugares que anteriormente estavam destinados somente às parcelas mais favorecidas da população. Essa “invasão” de pobres em aeroportos, restaurantes e shopping centers temcausado calafrios nas elites. Simbolicamente, para as classes dominantes, acostumadas a ver seus pares ocuparem os cargos máximos da nação, deve ter sido muito difícil ter que conviver durante oito anos com um governo liderado por um ex-retirante nordestino, oriundo da classe baixa e sem formação secundária.
Por outro lado, Dilma Rousseff parece ser um alvo mais fácil de ser atacado. No dia 8 de março, durante o discurso da presidenta em cadeia nacional, moradores de bairros nobres das principais capitais brasileiras protagonizaram um panelaço em protesto contra o governo. Como não poderia deixar de ser, a mídia hegemônica reverberou tais acontecimentos, colocando-os como sendo a posição da maioria da população. “Enquanto a presidente pede paciência em pronunciamento, população reage”, destacou o jornal O Globo em sua edição de segunda-feira (9/3). Por sua vez, a Folha de S.Pauloestrategicamente comparou o panelaço burguês ao clima que precedeu o impeachment de Fernando Collor há duas décadas. Ora, o velho Marx, ao dissertar sobre o conceito de ideologia, já dizia que um dos mais poderosos mecanismos de dominação de uma determinada classe é difundir e naturalizar as suas ideias como se fossem inerentes a toda a sociedade.
O partido político das forças conservadoras
Entretanto, o momento mais aguardado dos movimentos antigoverno seria a mobilização nacional marcada para 15 de março. Grande parte da mídia deixava transparecer seu apoio incondicional já nos dias que antecederam os protestos. A Folha de S.Paulo publicou uma agenda com horários e locais das manifestações, em uma tácita intenção de atrair potenciais manifestantes. O Estação, periódico distribuído gratuitamente nas estações do metrô paulistano, estampou em uma capa o cartaz do grupo Movimento Brasil Livre, um dos mentores aos atos contra Dilma. “Povo brasileiro, chegou o momento das manifestações legítimas e de exigirmos a saída dessa mulher que se chama Dilma Rousseff e que atrasou o país em mais de 50 anos”, escreveu o articulista da Rede Globo Arnaldo Jabor. Ao fazer uma análise sobre a atual onde de protestos urbanos, Reinado Azevedo, da revista Veja, asseverou que as manifestações em repúdio ao impeachment e a favor da Petrobras foram marcadas para um dia de semana porque seus adeptos não trabalham e, em contrapartida, a mobilização contra a presidenta Dilma só poderia ocorrer durante o domingo, pois os “cidadãos de bem” labutam nos outros dias.
Já nas redes sociais, espaço onde não há limites para os delírios ideológicos, foram compartilhados artigos contento títulos sensacionalistas como “Militares aguardam apenas o pedido do Povo para agirem, dia 15 será o dia da libertação”; “Exército se posiciona em todo o Brasil, aguardando a ordem do Povo Brasileiro” e “Entenda o que é Intervenção Militar, e o que Você deve fazer para que Aconteça”.
Conforme era de esperar, os principais canais de televisão do país concederem amplo destaque para as manifestações de domingo. Desde as primeiras horas da manhã, a Rede Globo “convocava” os brasileiros a saírem às ruas desde. Cada aumento do número de manifestantes foi comemorado pelo canal da família Marinho como se fosse um gol da seleção brasileira em final de Copa do Mundo. Como bem apontou o jornal Brasil de Fato, a maior emissora do país mobilizou, como há muito tempo não se via, toda a sua estrutura com o objetivo de ampliar a visibilidade dos atos. Quase a totalidade dos seus jornalistas esteve de plantão, e durante as entradas nas cidades onde aconteciam mobilizações os microfones da emissora captaram gritos de guerra contra o atual governo e xingamentos contra a presidenta. Em seu site, a Folha de S.Paulo incentivou os leitores a enviar relatos, fotos ou vídeos das manifestações.
Um evento com milhões de pessoas nas ruas também é uma boa oportunidade para o desfile de “celebridades”. Entre os “famosos engajados”, o destaque foi Ronaldo Fenômeno que, em clima de campanha eleitoral, utilizou uma camiseta com os dizeres “A culpa não é minha, eu votei no Aécio”. Por sua vez, manifestantes mais exaltados empunhavam cartazes contendo frases como “Fora ditadura gayzista”, “Libertem o Brasil, ou o mundo sangrará” e “Lula anticristo”.
Evidentemente não se pretende aqui apoiar qualquer atitude para impedir as pessoas de se manifestarem. Em uma sociedade que se pretende minimamente democrática, o direito à liberdade de expressão deve estar relacionado, sobretudo, ao respeito em se ouvir opiniões contrárias. Todavia, é importante questionar o papel da mídia hegemônica nas coberturas das manifestações de sexta-feira (13) e domingo (15). Enquanto a primeira – em defesa da Petrobras e em repúdio aos pedidos de impeachment – teve uma visibilidade modesta e distorcida, a segunda – contrária ao governo – foi retratada como o ato cívico mais importante da Nova República.
Segundo o pensamento do filósofo italiano Antonio Gramsci, em épocas como a atual, marcada pela crise eleitoral das tradicionais organizações partidárias de direita, a grande imprensa assume a função de principal partido político das forças conservadoras. Nada mais condizente à atual conjuntura brasileira.
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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG