(...) Naquele dia, muitos vão me dizer:
‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos
demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então, eu lhes declararei:
‘Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade’."
Jesus de Nazaré, em partes variadas no Evagelho de Mateus, critica a teocracia e superficialidade dos falsos doutores da Lei que se preocupam mais em viajar por mares e terra em busca de fazer prosélitos que, no fim, são tão radicais ou ainda mais quanto a eles mesmos, sempre prontos a verem qualquer pequeno cisco no olho dos demais quando possuem uma enorme trave de conceitos duros em frente aos próprios olhos... São como cegos guiando cegos na certeza de que assim poderão obter graças dos céus pela loucura da quantidade e homogeinidade do pensar.
E mais, embora Jesus de Nazaré seja a meiga e sublime pessoa conhecida e amada de todas (inclusive admirada por não cristãos), eles, os fundamentalistas cristãos, querem que as pessoas aceitem o Jesus igrejeiro, para eles fiscalizador, recompensador e exclusivista, como o "único que salva", algo diferente do Jesus histórico, como pesquisadores do porte de um James Charlesworth, Geza Vermes, Gherd Theissen, Bart Ehrman e outros discutem. Do contrário, por melhor que seja a pessoa em obras e caráter (como é o quer o Jesus de Nazaré dos Evangelhos, mas não propriamente dos "evangélicos"), ela impreterivelmente estará condenada ao inferno...
Isso é ser cristão do Cristo ou uma corruptela de uma interpretação literalista dos textos sagrados, em especial os de Paulo de Tarso, que não conviveu com Jesus mas ajudou a disseminar uma religião sobre ele, com a estranha base de que só a fé é suficiente, e não dele, Jesus, que tanto disse que obras e mudança íntima para o bem a todos é o que mais importa e não o fato de se dizer mesmo discípulo dele, como no texto de Mateus transcrito acima?
Falam também estes novos doutores literais da Lei tanto no surgimento de Falsos Profetas nos últimos dias e muitas das seitas fundamentalistas pró-pentecostais são de, no máximo, menos de quarenta anos...
Engraçado como as pessoas, que se reconhecem limitadas em tantas coisas, possam achar que detém a avaliação correta e defintiva sobre um Absoluto sempre inacessível, quase podendo engarrafá-Lo e vendê-Lo como propiedade particular, de acordo com seus interesses....
Imagine-se, então, se tais pessoas, multiplicando o número de membros de suas agremiações por promessas muitas vezes de ganho material pela cômoda dádiva de uma "salvação" sem muitos eforços além de "aceitar" a interpretação deles de Jesus, pagar impreterivelmente o dízimo ao pastor - por vezes tão altruista que agride outras pessoas que não sejam da sua Igreja para o "bem" delas - e forçar a paciência dos outros gritando e impedindo o sono da vizinhança, quiserem tomar o poder?
Isto parece um absurdo, mas é exatamente o que está acontecendo nos últimos anos e a tomada do horário nobre e das madrugadas de rádios e tvs por estanhos e ensaiados "espetáculos" da fé demonstram claramente isso e até Edir Macedo escreveu um livro chocante e explítico sobre suas pretensões políticas.
Mas o estado moderno não é laico? As concessões de rádios e tvs são são feitas pelo governo laico para o bem de todos, independentemente de diferenças de credo? Já não está provado que a união Estado-Clero é sinônimo de retrocesso e perseguição? Para eles, não.
A procuradora Simone Andréa Barcelos Coutinho, procuradora em Brasília do município de São Paulo, preocupada com o andar das coisas neste sentido, defende corajosamente uma reforma no código eleitoral que impeça no Congresso Nacional a existência de representações religiosas, ainda que informais, como a da poderosa bancada evangélica e, em reação a esta, a de outras denomiaçãoes religiosas.
Para ela, essas representações são incompatíveis com o Estado laico estabelecido pela Constituição brasileira: "O Poder Legislativo é um dos Poderes da União; se não for o Legislativo laico, como falar-se em Estado laico?"
Em artigo no site Consultor Jurídico, Simone escreveu muito apropriadamente que há duas formas de separação entre o Estado e as instituições religiosas, uma é total e outra é atenuada - e esta é o caso brasileiro.
"Num Estado laico todo poder emana da vontade do ser humano, e não da ideia que se tenha sobre a vontade dos deuses ou dos sacerdotes", escreveu. "Se o poder emana do ser humano, o direito do Estado também dele emana e em seu nome há de ser exercido."
Por isso, acrescenta ela, a importância do interesse público, resguardando o direito íntimo do livre-pensar, "jamais poderá ser aferido segundo sentimentos ou ideias religiosas, ainda que se trate de religião da grande maioria da população."
O que define um Estado verdadeiramente laico, argumenta a procuradora, não são apenas a garantia da liberdade religiosa e a inexistência formal de relações entre esferas governamental e religiosa, mas também a vigência de normas que proíbam qualquer tipo de influência das crenças na atividade política e administrativa do país.
Vejam, agora, algumas absurdas propostas de Lei a tramitarem no congresso, nas assembléias legislativas e nas câmaras municipais de todo o Brasil pela ala dos fundamentalistas:
- Projeto de Resolução que determinada obrigatoriedade de leitura de versículo bíblico antes de cada sessão na Câmara dos Deputados (PRC 4/1999) e no Senado Federal (PRS 10/2007)
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=21630 e
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=80322
- Projeto de Lei (873/1999) que obriga leitura de versículos bíblicos antes de cada aula nas escolas públicas de SP
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download?poFileIfs=2480350&%2F01_0873_1999_2480350.tif%22
- Projeto de Lei (256/2011) que obriga todos estabelecimentos de ensino (públicos e privados) do Estado de SP a fixar crufixos em local e em tamanho de fácil visualização, em área de circulação.
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download?poFileIfs=22010914&%2Fpl256.doc%22
- Emenda evangélica ao projeto de lei acima obrigando também os estabelecimentos de ensino públicos e privados de SP a exporem uma Bíblia em cima da mesa de cada sala de aula.
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download.do?poFileIfs=22041287&%2Fsl49.doc
- Projeto de Lei (PL 7924/2010) que determina que só terão validade legal os casamentos celebrados por instituições religiosas.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=487034
Conclusão? Para o bem de todos e para a manutenção da paz e da liberdade, que Deus nos ajude a que não venhamos a cair no retrocesso de uma teocracia fundamentalista!
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