O primeiro texto (a parte selecionada), de Eduardo Guimarães, foi extraído de seu Blog da Cidadania. O segundo, de Luciano Martins Costa, foi extraído do Observatório da Imprensa:
Pesquisas fajutas mostram do que o PSDB é capaz
Texto de Eduardo Guimarães
(...) quero registrar meu mais profundo repúdio a um crime eleitoral que vem sendo cometido a favor do PSDB e de seu candidato a presidente, Aécio Neves, sob o olhar complacente – e até cúmplice – das autoridades.
Ao longo da semana passada, foram divulgadas nada mais, nada menos do que três pesquisas eleitorais claramente fajutas. As duas primeiras foram dos institutos Paraná e Veritas e a última, no sábado, do instituto Sensus.
As duas primeiras foram cabalmente desmentidas pelas pesquisas Ibope e Datafolha 24 horas após terem sido divulgadas. A pesquisa Paraná registrou 54% para Aécio e 46% para Dilma e a Veritas registrou 54,2% para Aécio e 45,2% para Dilma.
Nem 24 horas depois das pesquisas Paraná e Veritas, que deram quase 10 pontos de vantagem para o tucano, Ibope e Datafolha, insuspeitos de serem “petistas”, registraram empate técnico entre ele e sua adversária (51% para Aécio e 49% para Dilma).
Uma informação: ontem, na festa de minha filha, os blogueiros consultamos nossas fontes e descobrimos que a situação de empate técnico entre Dilma e Aécio permanece tanto nos trackings da campanha de Dilma quanto nos da campanha de Aécio.
Quanto ao Sensus, foi contratado pelo PSDB para fazer pesquisas para o partido nestas eleições. No primeiro turno da eleição presidencial, divergiu de todas as outras pesquisas, mas, desta vez, a diferença a favor do tucano foi de inacreditáveis DEZESSETE PONTOS (!?).
Detalhe: nem 48 horas após Datafolha e Ibope terem registrado empate técnico.
O que teria acontecido em menos de dois dias? Dilma matou alguém? Foi flagrada espancando alguma criancinha?
Ao desmentir Paraná e Veritas poucas horas depois de terem sido divulgadas, Datafolha e Ibope – que, repito, são insuspeitos de serem petistas – sugerem que ou eles ou os outros dois institutos cometeram crime eleitoral, pois produzir pesquisas falsas é crime eleitoral punível com prisão e multa.
O caso do Sensus é mais grave porque trabalha para a campanha de Aécio e pertence, oficiosamente, a Clésio Andrade, ex-vice-governador do ex-governador Aécio Neves, e que está envolvido até o pescoço no dito “mensalão mineiro do PSDB”.
Quem vai tomar alguma providência? A Procuradoria Geral Eleitoral? O Tribunal Superior Eleitoral? E a campanha de Dilma, já preparou a representação? Ou será que vai ficar por isso mesmo?
Se um candidato pode usar pesquisas falsas, usar meios de comunicação amigos para fazer vazamentos seletivos de investigações, então, em eleição, passa a valer tudo?
O Brasil vive um golpe eleitoral que começou no ano passado com a colaboração da esquerda que a direita adora, que, agora, vendo a merda que fez ao fortalecer essa direita hidrófoba, passou a apoiar Dilma, vislumbrando o risco de um partido capaz de armações como essas voltar ao poder e saquear de novo o país.
PESQUISAS ELEITORAIS
O círculo vicioso das manipulações
Por Luciano Martins Costa em 07/10/2014 na edição 819
Na expectativa das alianças que irão recompor as forças partidárias para o segundo turno da eleição presidencial, os jornais apresentam aos leitores um jogo de adivinhações que tenta dissimular suas preferências políticas. Daqui para a frente, seja qual for o movimento das peças, tudo será levado ao propósito maior da mídia tradicional, que é recompor sua influência sobre o poder Executivo federal.
O núcleo das análises ainda é o destino que será dado aos votos que foram para a ex-ministra Marina Silva no primeiro turno. No entanto, há muita especulação sobre o significado da manifestação dos eleitores e muito desencontro nas opiniões em torno de algumas das disparidades reveladas pelas urnas. Por exemplo, a derrota de Aécio Neves em Minas Gerais e o massacre sofrido pelo Partido dos Trabalhadores em São Paulo, seu local de origem.
Em meio às profecias fundamentadas no desejo de seus autores, pode-se encontrar alguma reflexão consistente, como a manifestação de humildade dos diretores do Ibope e do Datafolha, os institutos de pesquisa que foram desmoralizados pelas urnas.
Vale a pena observar o que diz Márcia Cavallari, diretora do Ibope: “As pesquisas medem a opinião, e as opiniões vão mudando. Elas só se consolidam quando o eleitor aperta o botão e confirma seu voto, lá na urna”. Mais interessante ainda é a declaração de Mauro Paulino, presidente do Datafolha: “Até por markenting, nós mesmos, dos institutos de pesquisa, tratamos esses números divulgados na véspera como prognósticos, mas na verdade eles são diagnósticos. Eles refletem uma realidade que já passou. Não estão olhando para a frente”, disse o executivo.
Diante dessas duas confissões, restaria ao leitor e eleitor perguntar: “Então, por que tanto barulho a cada rodada de consultas, se no fim das contas essas pesquisas não retratam a realidade?” A resposta talvez esteja embutida na própria pergunta: a imprensa dá muito valor às pesquisas de intenção de voto porque elas passam uma ilusão de objetividade, oferecendo aos editores a chance de manipular os dados e usar essa interpretação como argumento para convencer o eleitor.
As sandálias da humildade
Neste momento de transição entre os dois turnos da eleição presidencial, por exemplo, os jornais tentam empurrar para a opinião do público a tese de que todos os votos destinados a Aécio Neves e Marina Silva retratam um desejo majoritário de mudança. Então, nos editoriais e nos artigos de seus colunistas mais engajados, dá-se uma nova definição para essa suposta manifestação dos eleitores, com o intuito de nominar o candidato que seria o depositário desse desejo.
Essa manipulação fica mais clara após a declaração explícita de apoio a Aécio Neves feita pelo jornal O Estado de S.Paulo. Para o leitor típico do tradicional diário paulista, não há estranheza: quem lê o Estado não apenas espera que ele se declare contra o governo do PT, mas se regozija com cada linha que reafirma essa orientação ideológica.
O jornal é conservador desde sempre, produz e realimenta uma visão de mundo típica da elite paulista, e não há mal nenhum nisso. O problema está em fingir-se uma expressão da vontade popular, coisa que nenhum dos grandes diários representa.
Isso transparece quando a imprensa alimenta preconceitos para obter certos efeitos eleitorais. Por exemplo, o debate sobre a redução da maioridade penal é impactado por um assalto ocorrido na Universidade de São Paulo, do qual participou um menino de nove anos de idade. Seria o caso de os jornais questionarem: “Então, a maioridade penal deve começar aos sete ou aos oito anos?” Não. Quando a realidade desmoraliza a tese reacionária, os jornais deixam o assunto de lado.
As pesquisas são importantes para esse processo de manipulação – porque sinalizam temores, desejos e aspirações difusas, que são interpretados segundo o viés ideológico da imprensa. Essa agenda é trabalhada nas redações e devolvida ao público alguns dias antes de cada nova rodada de pesquisa de intenção de voto, de modo que o material colhido pelos institutos dá novo impulso a esse círculo vicioso de manipulações.
Quando os institutos de pesquisa calçam as sandálias da humildade e admitem que não perscrutam o futuro, mas tentam explicar o passado, as distorções ficam escancaradas.
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