sábado, 19 de março de 2016

Os juizes parciais e midiáticos, promotores da imbecilidade no Brasil

Moro assinou sua falência ao declarar que o grampo que divulgara era ilegal, que a divulgação, portanto, era ilegal, mas que 'isso não era relevante'.

Flávio Aguiar, pesquisador e professor da USP - Blog da Boitempo

Em conjunto, eles se acham a nova encarnação da Santa Ceia: um bando de apóstolos, em torno 
de um Messias. Não há Judas no meio deles, no entanto. O Judas está fora, deve ser caçado, 
condenado, expurgado, esfolado vivo, trancafiado, e impedido de concorrer ao que quer que seja 
daqui para a frente.

Ao redor deles, o Supremo Juiz, mais alguns, os áulicos promotores, a soldadesca da PF á solta 
age como se fora a Legião de Anjos da Morte enviados para limpar o antigo Egito de seus, não, 
de seu primogênito.

Agem de modo semelhante como agia o bando de oficiais da Aeronáutica reunidos em torno de 
Carlos Lacerda nos anos 50, contra Vargas, fanatizados ídolos e próceres de uma classe média 
ascendida que se sentia ameaçada pelos aumentos do salário mínimo concedidos pelo governo 
de Vargas. O manifesto das forças terrestres se chamava “O manifesto dos coronéis”. Entrou 
para a vergonha da história brasileira.

Hoje os coronéis e outros oficiais estão recolhidos a sua função constitucional, o que é bom para 
todos. Então o conluio messiânico, que corresponde aos anseios das hordas fascistas reunidas em 
todo o Brasil mas sobretudo na Avenida Paulista do dia 13, encontra representação na seara jurídica.

Não surpreende. O sistema judiciário brasileiro sempre foi o setor mais conservador da nossa sociedade. 
Mais que os militares. Ele é presa constante, por exemplo, da Opus Dei. Ele goza de um sentimento 
corporativo entre seus pares maior do que o militar, o eclesiástico e o universitário juntos. Por isto a 
atitude de Moro, da trinca Cássio Marx, José Carlos Engels e Fernando Hegel, de outros juízes e 
motores açodados em busca de manchetes apressadas, não surpreende.

Há uma novidade. Olhando-se a foto dos juízes militares que julgavam a então futura presidenta Dilma 
nos temos da Resistência Armada à Ditadura de 64, vê-se que eles, pudicamente, tapam os olhos, como
 aqueles macaquinhos de prateleira, já que tapavam os ouvidos aos direitos da acusada e tapavam a
 boca desta. Agora não. Estes promotores da demência e os juízes da agonia do regime democrático 
escancaram a face, os olhos cúpidos ou fascistas, e arreganham os dentes em sorrisos que mais
parecem escárnios, na TV Globo, nas manifestações de estilo nazi-messiânico que promovem
o ego ressentido dos que se sentem prejudicados pela melhora da situação dos pobres que as
administrações populares promoveram, não só na esfera federal, mas em todas, as estaduais e as
municipais também.

Como dito antes, eles pensam que são os enviados do Senhor: a Corte do Justiceiro que desce do 
Planalto de Curitiba em busca de galgar o Planalto do Palácio ou o Palácio do Planalto 
(alguém ainda duvida que Moro quer ser o Berlusconi brasileiro?).

Mas quem são eles na verdade? O promeresidente, fazer operações escusas e ilegais que apenas 
coroam sua carreira de vtido Messias é um juiz medíocre, vingativo ao ponto de ao se ver privado de 
seu alvo, o ex-piolações dos direitos básico da cidadania, um proto-fascista em busca de seu público-
alvo. Já pensaram num juiz que diz que “se deve ouvir a voz das ruas”? Alguém se lembra do imortal 
filme dirigido por Stanley Kramer, O julgamento de Nuremberg (1961, Oscar de melhor ator 
coadjuvante para Maximilien Shell no papel do advogado de defesa dos nazistas)? Um juiz tão 
medíocre que, sem saber o que faz, cita a Operação Mãos Limpas, um desastre para a Itália, e o 
caso Watergate, uma bênção, ainda que tardia, para os EUA, em seu favor. Só dá pra dizer: 
perdoamos, porque ele não sabe o que fala.

Sobre a trinca pseudo-marxista e hegeliana já se falou. Quanto aos restantes, bem, serão lembrados 
não como as legiões do Senhor, mas as hordas nazis que perseguiam judeus e inimigos do regime, 
remanescentes da ditadura de 64, cujo final melancólico estava mais para um regime policial (que é o 
que querem implantar agora) do que até mesmo para um regime militar stricto sensu.



O juiz Moro assinou sua completa falência ao declarar que o grampo que divulgara era ilegal, que a 
divulgação, portanto, era ilegal, mas que “isso não era relevante”. Caramba, eu não votaria neste 
homem nem para juiz de futebol de várzea, até porque pela fama que está criando ele seria trucidado 
no primeiro pênalti que marcasse. Ele conta com a Rede Globo, a Folha, o Estadão, o Globo, etc.

Mas não adianta. Ele vai entrar para a história como o Grande Torquemada do século XXI no Brasil.
 Os outros, como os pequenos. A PF comprometida com tais desmandos, como os neo-SS ou neo-SA 
ou ainda neo-pandorgas da ditadura que se queria impingir ao Brasil.


De todo modo, o melhor que poderá acontecer a toda esta caterva de medíocres e arrogantes será 
caírem no esquecimento da História. Que o pó lhes seja leve.

***


Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde 
atua como correspondente para publicações brasileiras. 
Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três 
vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), 
publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que t
ematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, 
Crônicas do mundo ao revés (2011) e o recente lançamento A Bíblia segundo Beliel (2012). 
Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.




Créditos da foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

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