terça-feira, 1 de março de 2016

Jean-Paul Sartre, Bertolt Brecht, Ernesto Sabato, Tulio Monsalve e outros em reflexões sobre a cadela fascista da direita




"O fascista da nova onda não tem de usar a violência; basta envenenar-nos lentamente com sua informação, sim, editorializada, e, se repetida durante a tarde, melhor. Ao fascista não interessa o número de suas vítimas, e sim a notícia com que as aniquila. As expressões mais acabadas de fascismo surgem com Franco, que copia Mussolini, que havia tomado de Adolf Hitler; como raiz comum eles todos eram seres de temperamento conservador, reacionários, ultradireitistas e antipopulares." - Túlio Monsalve

fascismo
Venezuelano cita Sartre (o motivo de combater o fascismo), Brecht (que o associa ao capitalismo) e aponta papel da mídia ao questionar violência de direita em seu país
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho), publicado no Outras Palavras
 Frases de Jean-Paul Sartre e Bertolt Brecht iniciam e finalizam artigo do venezuelano Tulio Monsalve sobre fascismo, publicado no site chavista Aporrea, em 2013, no contexto de uma chacina de 11 pessoas – duas delas, crianças – ocorridas em abril daquele ano, em seu país. Como o próprio autor tece algumas frases impactantes sobre o tema (como aquelas sobre o papel das notícias e dos jornais), publico o artigo na íntegra, em tradução livre. Título e link original: “… de pronto se despertó y descubrió que era fascista… fin“.
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Logo acordou e descobriu que era fascista. Fim
Tulio Monsalve
“Não se combate o fascismo porque se possa ganhar dele; se combate porque é fascista” (Jean-Paul Sartre, 1945, em “A Idade da razão”)
Eis que, não por acaso, nem azar, brotam palavras que entram na moda e se tornam coringas, quase muletas; e, para muitos, ornamentos que utilizam e aplicam para agredir ou para se defender de quem os enfrentam. Logo vêm o abuso e sua aplicação, e de tanto esgrimir as palavras elas perdem sentido. Desgastam-se. Tal qual assinala esse poeta que disse: “se me rompió el amor de tanto usarlo”.
Acontece neste momento com a palavrinha “fascista”. Não a tratam como conceito, senão como mera soma de letras, sem plena compreensão real de seu sentido.
De tal forma que chegará um momento no futuro onde os fascistas chamarão a si mesmos de antifascistas.
Entendamos: para um fascista o problema nunca é como apresentar a verdade de sua conduta, mas sim como manejar as notícias para enganar, e que sua operação redunde em produto crematístico e poder.
O fascista da nova onda não tem de usar a violência; basta envenenar-nos lentamente com sua informação, sim, editorializada, e, se repetida durante a tarde, melhor.
Ao fascista não interessa o número de suas vítimas, e sim a notícia com que as aniquila.
Seu comportamento se desenvolve com tal intensidade e intolerância em relação a outras raças, partidos, classes sociais – sem povão, melhor – que por isso ele se torna impiedoso na falsidade de seus modos, sobretudo quando se trata de buscar a volta ao poder.
O fascismo, sem dúvida, é uma enfermidade esperada no temperamento: os do norte da Itália contra os do sul. Os do norte da América – os Wasp -, pior, contra os do sul.

É calor que se produz na combustão interna de um cérebro de direita, com pouca capacidade para se irrigar de bondade.
As expressões mais acabadas de fascismo surgem com Franco, que copia Mussolini, que havia tomado de Adolf Hitler; como raiz comum eles todos eram seres de temperamento conservador, reacionários, ultradireitistas e antipopulares.
Imagem que a ficção converte – literatura, cinema, teatro, música – em belzebu do modelo fascista mais conhecido. Aposta que lhes resulta conveniente, ao serem tomados como figuras de proa; títeres. Simples condotieros (em italiano: condottieri, no singular, condottiero), que eram os capitães das tropas dos verdadeiros monstros e reais donos da barbárie: os patrões do grande capital industrial, que os encobrem e os mantêm enquanto isso favoreça a circulação de seus negócios. Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet, Videla, duram, existiram por serem amparados pelos grandes capitais industriais. Sacramento vigente enquanto demonstre eficácia econômica. DESCARTADOS quando sua urbanidade (brutalidade, terror, tortura) deixa de ser útil.
Foram fraudes, e no fim das contas não chegaram nem a bodes expiatórios. Uma farsa mais da direita e de seu tenebroso acompanhante, o sionismo de sempre.
Não por acaso a história demonstra que o fascismo provém unicamente de regimes capitalistas avançados (Alemanha).
Atenção, confundir stalinismo com fascista não resulta axiomático. Somente podem ser percebidos como próximos no uso da violência e da barbárie policial extrema. Corolário, a frase de Ernesto Sabato: “O espírito fascista renasce assim, sutilmente, na alma de seus próprios algozes”.
ernesto sabato, porquegritara-005
Quando há algozes, os humanos podem se ver forçados a aceitar, caso do Chile, passado, atual e futuro, e se associarem ao fascismo como meio para eliminar a honorabilidade e permitir que surja uma sociedade de seres covardes o suficientes para deixá-los agir. Franco, Pinochet e Videla o demonstram.
Cabe assinalar que o fascismo se torna verdade, acontece, se torna real somente se o aceitamos. Deixamos que se realize. Ocultamos. Como desconhecer e admitir que se faça burla, e se trate de apagar com estratagemas e fotos de jornais a dor humana de 11 mortos no dia 15 de abril? Assino embaixo do romancista russo Vasily Grossman: “Compreendia vagamente que, sob o fascismo, ao homem que deseja continuar sendo um homem se apresenta uma opção mais fácil que a de conservar a vida: a morte”.
Menos mal que existem seres que não se dobram ante a chantagem; por isso há 29 culpados – atores materiais – em vias de serem julgados. Faltam os atores intelectuais, que mais da metade do país não está disposta a ocultar. Chega uma etapa onde o crime, o assassinato e demais vilanias cometidas são ocultadas pelo caminho político e pela mentira midiática. Poderá se tapar o sol com um falso editorial, uma caricatura ou uma página de jornal? Como dizia Bertolt Brecht : “Contra a injustiça e a impunidade! Nem perdão nem esquecimento”.
Opino. Gosto muito pouco das lideranças em cujo fundo e forma há muito espírito classista e, portanto, racista, e, desta forma: com essência fascista.
Mas de igual modo valorizo e estimo e respeito a grande massa que vota em qualquer um e que as escolha. Sem dúvida pessoas que amadureceram politicamente. Com consciência, e sentido do humano; para quem essas barbaridades de sair às ruas “drenar a raiva” [manifestações violentas que sucedem panelaços] são algo que não os animam. Muito pelo contrário. Para terminar, é salutar detectar onde está o fascismo, e que condutas concretas se executam em seu nome. Para assim poder fixar distância delas. Vimos com estupor que os livros de Reich foram queimados por nazistas em 1933, pelo macartismo nos Estados Unidos nos anos 50 e que, em 2012, o presidente chileno declarou: “Aqui acabou a educação gratuita, se querem educação que paguem”. Ou, aqui, o editorial do jornal El Nacional, que se afirma como uma das grandes afrontas ao gênero humano, quando diz: “As hordas chavistas são brutas; pata por el suelo [miseráveis]“. Assim como chamou os que apoiavam Chávez de marginais, tierruos [termo pejorativo para moradores pobres de periferia], desdentados, pagos com aguardente… e outros etc etc.
“Estar contra o fascismo sem estar contra o capitalismo – ou rebelar-se contra a barbárie que nasce da barbárie – equivale a pedir um pedaço do bezerro sem querer sacrificá-lo”(Bertolt Brecht).

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