terça-feira, 20 de abril de 2010

A Formação do Cristianismo depois de Jesus - Parte I



texto de
Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Escrito em janeiro de 2000

Publicado originalmente na extinta GeoCities e lá exposto até outubro de 2009


Quando, hoje, buscamos referências sobre o início do Cristianismo, muito freqüentemente nos debruçamos nos documentos canônicos que constituem o chamado Novo Testamento, ou seja, os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, o texto intitulado Atos dos Apóstulos, as Epístolas de Paulo, de Pedro, de João e de Tiago, e o Apocalipse de João. Subsidiariamente, podemos consultar os escritos do judeu romanizado Flávio Josefo, em especial sua obra Guerras Judáicas, e alguns parcos comentários sobre o nascente movimento dos cristãos feitos por escritores romanos muito depois da morte de Cristo. Mas é pouco lembrado, porém, que os textos oficiais do Novo Testamento foram estabelecidos como tais em uma época bastante posterior aos acontecimentos que envolveram a vida de Jesus e o trabalho desempenhado por seus discípulos diretos, pois o cânone oficial só veio a ser estabelecido em 397 d.C. durante o chamado Concílio de Cartago, onde as diretrizes do que seria a Teologia Romana - paradoxalmente extremamente ligada aos processos políticos e administrativos do mesmo Império que havia perseguido tão duramente os cristãos - foram cristalizadas, num desdobramento político que veio se fazendo desde que Constantino oficializou o cristianismo como a Religião do Império - sem que tivesse, contudo, postergado diretamente a religião pagão anterior.

Por esta época estavam sendo erguidos os estatutos da instituição chamada Igreja - na verdade, mais especificamente os da Igreja Romana, incentivada pelo imperador Constantino, e que, por isso, deveria ser a hegemônica por estar ligada diretamente à sede do Império, pois várias eram as tradições cristãs vigentes, como as da Igreja Grega, a Igreja de Alexandria, a Igreja de Antioquia, a Igreja de Éfeso, a Igreja Copta, a Igreja Gnóstica e outras tradições, nem uma delas mais poderosa que as demais, com excessão, talvez, da Igreja de Alexandria, cujas profundidades ou idéias eram divergentes das de Roma e que seriam vistas e condenadas como ameaças ao poder do núcleo romano, sendo, pois, consideradas heresias. Parte destas igrejas orientais permaneceram críticas da teologia construída por Roma, com especial ênfase na primazia quase supra-humana do bispo de Roma, o Papa, o que levou, no século XI, ao cisma definitivo entre a Igreja Romana e as do Oriente, hoje conhecidas como Igrejas Católicas Ortodoxas.

Os textos que se tornaram a base da Bíblia Cristã oficial foram escolhidos, como hoje sabemos, entre vários outros que circulavam sobre a vida de Cristo à época - alguns extremamente fantasiosos, mas outros com aprofundadas informações sobre Jesus e o pensamento dos cristãos da época - e que, a partir de então, em especial com São Jerônimo, foram editados e copiados em um processo que, atualmente sabe-se, não escapou de ser cheio de manipulações e adaptações aos interesses da nascente instituição religiosa, em especial na construção e edição de um texto dirigido a leitores romanos, orgulhosos de sua nacionalidade e da história de seu Império, o que levou a expedientes como o recheio dos textos com enxertos de frases, supressões ou adendos interpretativos que procuravam dar uma visão de mundo que fosse concorde com os interesses da Igreja que se estabelecia como instituição. Um dos exemplos deste tipo de manipulação é o esforço para se minimizar a participação dos romanos na execução de Jesus, jogando a responsabilidade quase que completamente em cima dos judeus (a esta altura já dispersos pelo Império depois da destruição de Jerusalém por Tito no ano 70), esquecendo-se que o Galileu foi vítima de dois processos: um político-religioso, da parte dos judeus, e outro político, por parte dos romanos. Esta temática será desenvolvida mais adiante.

Os atuais estudiosos das Orígens do Cristianismo, porém, às custas de um esforço hercúleo ainda pouco reconhecido, relativamente livres, em sua maior parte, da pressão política e teológica das Igrejas estabelecidas (sejam Católicas - do Ocidente e/ou do Oriente - ou Protestantes), conseguiram, a partir dos dados de novas descobertas arqueológicas, como os achados vários documentos arqueológicos da época de Cristo (Manuscritos do Mar Morto; inscrições) ou próxima a ela (Evangelho de Tomé), estudos interpretativos e análise de textos, delinear um quadro mais aceitável da história da formação do Cristianismo do que a que se tinha até o início do século, e que era ainda a dada pela teologia oficial.

Após a morte de Jesus que, ao que tudo indica as mais recentes pesquisas (c.f. Bibliografia ao final do texto), teria ocorrido no ano 30 d. C. ( tendo Jesus nascido entre os anos - 8 a - 4 a. C. estando, portanto, nosso calendário errado em ao menos quatro anos ), o incipiente movimento por Ele liderado só não se dissolveu diante da crua realidade da execução do mestre e da forte oposição teológica, policial e política do Sinédrio -- preocupado em manter a ordem pública e evitar a ira de Roma, conseguindo, através de manobras, envolver o movimento galileu num falso halo de conspiração política que despertou a atenção da Administração Romana, o que levou Jesus à morte sob o peso de duas acusações: uma religiosa (blasfêmia) e outra política (Jesus como pretendente ao trono de Davi), sendo a primeira, crime capital pelas leis judáicas; a segunda, crime capital pelas leis de Roma -- por conta das chamadas aparições póstumas do próprio Cristo diante de seus abatidos discípulos, o que lhes estimularam e fortaleceram em seus ideais e lhes deram confiança e coragem para levar adiante o movimento de renovação espiritual, com conseqüências sociais notáveis, iniciado por Jesus. Convém notar, entretanto, que se tais aparições foram o impulso necessário ao maior sucesso religioso de todos os tempos, também causou, logo no princípio, uma mudança de ênfase, nos discípulos mais exaltados, do sentido da mensagem universalista do Nazareno, seu legado mais importante, para o da figura extraordinária do próprio Jesus, que passou a ser visto como muito mais que um iluminado profeta e homem que atingiu o pico mais alto de desenvolvimento humano para o de um Ser não humano, e com Paulo levou paulatinamente à idéia de que Cristo era o próprio Deus.

Não devemos nos espantar com o fato de que o movimento cristão primitivo se aglutinou ante os fenômenos que hoje chamamos de psíquicos, mediúnicos ou paranormais como, por exemplo, os das aparições póstumas de Jesus. Geddes MacGregor, em seu estudo dos vários movimentos cristãos paralelos que floresceram durante os primeiros quatro séculos de nossa era, é mesmo taxativo a este respeito ao dizer que "Toda a literatura do Novo Testamento, para não dizer a vasta literatura não canônica do cristianismo primitivo, foi escrita por e para pessoas que haviam desenvolvido considerável sensibilidade aos fenômenos psíquicos" (Cit. in Miranda, 1992, p. 29), e sobre os quais os vários relatos contidos nos Atos dos Apóstolos, em especial a Conversão de Paulo, por exemplo, são ricos exemplos. Mesmo que não se aceite o fenômeno, convém porém lembrar que foi a convicção dos discípulos nestas aparições que se tornaria o "Big Bang" do maior sucesso religioso de que se tem notícia na História ( sucesso no sentido de se expandir uma doutrina que teve orígem em Jesus, mas que não foi tão bem sucedida da conservação e transmissão da real mensagem original do Cristo, como nos mostram vários estudiosos ).
Apesar das novas idéias e revigoração da ética humana trazidas por Jesus, o grupo galileu ainda era - e assim se via até a diáspora judáica do ano 70 - um movimento de renovação dentro do judaísmo, baseado na herança teológica deste povo, e que visava passar adiante uma mensagem mais espiritualizada e humana da relação entre Deus e os homens e, através desta, uma nova forma de relação ética entre estes, baseada na fraternidade que resulta do fato de todos sermos filhos do mesmo Deus (C.f. a home page Jesus e Sua Mensagem e os livros abaixo relacionados).

Na verdade, apesar da ignomínia e covardia que o Sinédrio havia cometido para com Jesus, ninguém no grupo dos nazarenos pensou em romper com o judaísmo, até mesmo porque, apesar das manipulações de Anás e Caifás, haviam simpatizantes do movimento de Jesus dentro mesmo do Templo e, como judeus que eram, com toda a tradição e história típicas da raça, não havia sequer a possibilidade de pensarem em ser outra coisa que não judeus que acreditavam ser mensageiros de uma atualização da Lei mosáica contida na Torá. Mas com a evolução dos acontecimentos, o que de início começara como um movimento de questionamento e de novas idéias sobre o judaísmo logo iria se transformar em algo mais: teria, aos olhos dos demais judeus, conotações de uma seita - ainda dentro do judaísmo - para, por fim, se delinear como um movimento plenamente independente, em especial a partir da dispersão dos judeus pelo Império - como conseqüências de duas sublevações nacionalistas contra Roma - e do ministério de Paulo pelos países adjacentes à Palestina até chegar em Roma.

De início ainda titubente, diante das forças do Sinédrio e de Roma, mas com a segurança que só a convicção mais absoluta logra obter, os discípulos de Jesus, após as suas últimas aparições e depois do Pentecostes, começaram a sair e se fazer cada vez mais presentes na comunidade judáica, de início em Jerusalém e, logo após, por toda a Palestina. O sucesso da mensagem do Cristo - ou ao menos da parte de sua mensagem que chegou até nós, ainda assim plena de acréscimos, cortes e manipulações, como o demonstram os estudos de experts vários em cristologia (veja a Bilbliografia sugerida abaixo) - se deve em grande medida à força da convicção destes homens e mulheres heróicos nas primeiras décadas da segunda metade do século I de nossa era, muito embora já a ênfase começasse a ser dada, devido ao impacto ocorrido com as aparições de Cristo, mais à figura do histórica de Jesus que ia se transformando em mito - pois para eles, Jesus era o "super-homem" que havia Ressuscitado (ou melhor, se dado a ver algumas vezes "estando as portas trancadas", como disse João em seu Evangelho) - que à sua mensagem propriamente dita, o que era o mais importante.
Eles eram conhecidos, inicialmente, como os Nazarenos ou representantes de um movimento que se intutulava O Caminho e, a rigor, nos primeiros anos, só se diferenciavam de tantos outros braços e correntes do judaismo, como os Fariseus, Saduceus, Essênios, Zelotes e outros, pela sua impetuosidade, pela minoria nômica e pelas idéias - que poderíamos chamar, mantendo a devida diferenciação com a conotação da palavra nos dias de hoje, de socialistas - o que explica, como muito bem nos aponta Mircea Eliade, que de toda produção intelectual da cultura ocidental apenas o Cristianismo e o Marxismo tenham chamado realmente a atenção de outros povos e civilizações, como a Oriental ou a Africana, por exemplo, exatamente porque ambas têm como objetivo resgatar o homem enquanto homem das amarras negras que o prendem, seja por conta de uma visão de mundo ainda brutal, seja por conta de uma visão patriarcal e xenófoba, como no caos do judaísmo ao tempo do Cristo, seja por conta de um sistema econômico explorador, como no caso do Capitalismo, muito bem dissecado por Marx . Outro ponto em comum entre Cristo e Marx foi o fato de que seus seguidores acabavam por os interpretar à sua maneira, como veremos mais adiante, pois muito do que foi dito por Cristo foi recebido de acordo com o entendimento e maturidade espiritual de quem o ouvia, o que não deixou de trazer várias interferências na mensagem original de Jesus.

Devido ao orgulho pátrio, à crença na superioridade do Povo Escolhido de Deus e na esperança da vinda de um Messias que restabeleceria a glória de Israel frente às demais nações, em especial à odiada Roma, por cujo jugo estavam submetidos, bem como a um não completo entendimento da missão espiritual do Mestre, paulatinamente os futuros cristãos mesclariam ainda mais o entendimento parcial da doutrina de Jesus às várias revelações apocalípticas vigentes então, que viam o domínio de Roma sobre Israel um sinal de decadência drástica ao qual só uma reforma radical do mundo, marcando um fim do mundo antigo e trazendo um vitorioso Reino de um Deus dos Exércitos, o Yhavé de Moisés, poderia fazer renascer uma nova humanidade. Daí o cunho escatológico tão freqüente na narração dos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas de Paulo, o que não deixou de se refletir especialmente na redação dos Evangelhos, cujos textos iniciais foram escritos bem depois de Jesus, mais ou menos na época da destruição do Templo no ano 70.

Isso não significa, porém, que já na época de Cristo não houvesse algum ou alguns textos ou mais especificamente algumas anotações feitas por admiradores alfabetizados, contendo os principais pontos de sua doutrina e que tenham servido de base aos debates entre os discípulos e aos demais textos posteriores. Possivelmente estes existiam, se não diretamente contemporâneos a Cristo, ao menos esboçados pouco depois de sua morte. Hoje existe quase uma unanimidade em relação à existência de, ao menos, uma fonte primitiva escrita, que se perdeu. Este texto fonte primário (quelle em alemão) é conhecido entre os especialistas como o Evangelho Q (de quelle), cujos traços podemos ver nos demais evangelhos e que tem, provavelmente, sua expressão mais aproximada no chamado Evangelho de Tomé (ou de Tomás) que foi encontrado, aliás, redescoberto (pois já tínhamos conhecimento da existência deste evangelho nos primeiros quatro séculos de nossa era por meio de citações dos primeiros teólogos da Igreja) em 1945 no Egito, isso se não for quase todo ele, ou boa parte dele, o próprio Evangelho Q, como pensam alguns.

A força da personalidade de Jesus (cujo nome em hebráico é Yoshua sendo Jesus a adaptação latina da forma grega Iesous), junto com a eletrizante notícia de suas aparições iria se amalgamar na imaginação dos novos discípulos que cada vez mais se juntavam aos primeiros para se fazer nascer a crença, com poucas exceções, de que Jesus seria realmente o Messias reformador esperado, tendo poderes supra-humanos no imaginários popular e que não apenas iria fazer surgir uma nova espiritualidade e uma ética social revolucionária decorrente desta - seu real objetivo -, mas que iria, de fato, estabelecer fisicamente um Reino de Deus na Terra em sua segunda vinda ao orbe - tema este que surgiu devido à exaltação dos discípulos e a uma má interpretação das palavras de Jesus, o que se justifica, em parte, pelo fato de que nos primeiros séculos, as várias comunidades cristãs eram formadas por grupetos de gente que estavam espalhadas em áreas díspares, especialmente depois da diáspora dos judeus na década de 70 do século I. Era difícil o contato entre estas comunidades, e muito do que se sabia sobre Cristo era esparso, fragmentário e transmitido oralmente. Nestas comunidades, aos poucos, a ênfase recaia nos talentos de cura extraordinários de Jesus e em seu carisma pessoal, o que fortalecia ainda mais a esperança de ser ele o Messias político esperado, o que, infelizmente, eclipsou grande parte de sua mensagem, e fez nascer a imagem mítica de um ser sobrenatural, singular, cada vez mais distante da humanidade. A ênfase messiânica acabou por contaminar mesmo os escritos evangélicos em detrimento de uma melhor apresentação de sua mensagem e na distorção de certos fatos históricos.

Com o constante crescimento dos simpatizantes da causa do Cristo entre os judeus - não nos esqueçamos que este movimento ainda era visto como um movimento de Reformas dentro do Judaísmo, pelos discípulos, muito embora a visão de Jesus fosse universalista - o Sinédrio se inquietou ainda mais, em ressonância com o crescente clima de rebelião que se fazia sentir em toda a Judéia ocupada. Se antes eles eram relativamente tolerados até mesmo dentro do Templo por demonstrarem seguir as normas das cerimônias ortodoxas, o aumento geométrico de simpatizantes trouxeram os mesmos receios na elite sacerdotal que provocara a morte de Jesus. Pedro e outros apóstolos foram detidos mas escaparam da morte com a ajuda dos aliados que tinham em meio aos sacerdotes - e que, infelizmente, devido às urdiduras de Caifás, não puderam comparecer em grande número ao julgamento de Jesus. A mesma sorte, porém, não tiveram outros discípulos, como por exemplo, Estevão, que foi morto a pedradas, não porque lhe faltassem defensores, mas por causa do ardor de seu posicionamento diante da Doutrina de Cristo, o que feriu muito as susceptibilidades dos Doutores da Lei. Entre os que estavam presentes, um dos mais irados foi Saul de Tarso, que se fizera um implacável combatente das idéias do Cristo (e dos seus discípulos). Ele foi o responsável direto pela prisão de inúmeros discípulos e simpatizantes do Cristo.
Saul (ou Saulo) era exaltado e inteligente, de temperamento forte e com extremo espírito combativo, um futuro sacerdote exemplar do Templo. Mas seu posicionamento ante o cristianismo iria dar uma completa reviravolta.

Em uma de suas viagens, Saul passou por uma experiência psíquica que lhe impactou tanto que de perseguidor passou a ser o maior defensor do cristianismo entre os judeus e, posteriormente, entre os não judeus, chamados por estes de gentios. Na estrada para Damasco, onde iria levar a cabo mais perseguições e prisões de cristãos, Saul teve ele mesmo uma experiência não usual ao ver o próprio Jesus diante de si (os que o acompanhavam presenciaram igualmente "alguma coisa" que não souberam definir).

Ao mesmo tempo, os primeiros judeus helênicos e egípcios, junto com gentios destes mesmos países e que tinham entrado em contato com Jesus e sua doutrina, começaram a formar núcleos em Antioquia e em Alexandria, no que seria os primeiros passos reais do cristianismo pelo mundo.

Após as primeiras perseguições, os ânimos do Sinédrio, em especial diante da atitude moderada de sacerdotes como Gamaliel, se acalmaram por um certo tempo, outros problemas políticos melindrosos com relação à Roma se tornaram mais importantes, mas o movimento Galileu não foi negligenciado totalmente, e por uma década os discípulos que haviam escapado dos primeiros embates diretos com o Sinédrio passaram a retomar à divulgação da Boa Nova com maior sucesso especialmente na Galiléia, região relativamente livre do domínio direto de Roma e mais distante do braço fiscalizador do Sinédrio. O núcleo de Jerusalém ficou sob o comando de um irmão de Jesus chamado Tiago, o Justo (assim chamado por ser fiel cumpridor de grande parte da ortodoxia judáica que não se chocava com as idéias do irmão).

Enquanto isso, Pedro iria ser um grande divulgador da mensagem de Cristo nas demais regiões (muito embora tenha sido ele a começar a fazer de Jesus mais que um Messias espiritual, desenhando-o cada vez mais como o Filho Unigênito de Deus e como o Messias militar que era esperado pelos judeus). Tiago, porém, iria ser morto ao redor do ano 62 por ordem dos sacerdotes do Templo. Esse foi o início de uma nova fase de perseguição aos cristãos na região da judéia, tendo muitos, por isso, procurado refúgio da Galiléia e em outras localidades, até mesmo em outras países, como foi o caso, por exemplo, de Tomé, que foi à Índia, ainda que pelo caminho tenha pregado a outros povos, como os Egipcios e os Persas. Foi Tomé o autor do evangelho que leva seu nome, e que se julgava perdido até que foi reencontrado, como já dissemos, junto com outros documentos, em 1945 no Egito, perto da cidade de Nag Hammadi, uma cópia copta deste evangelho, o que trouxe uma retumbante reviravolta nos estudos cristológicos e históricos, talvez potencialmente maior que a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, que foi feita em 1947. Estudiosos como Elaine Pagels, Helmut Koester, Hans Jonas e outros admitem que os aforismos contidos neste evangelho são os mais próximos das palavras autênticas de Jesus - o que serve como referência para se saber o que foi enxertado na mensagem dos Evangelhos sinóticos oficialmente reconhecidos pela Igreja, sem falar de outros pontos que só são encontrados neste evangelho, o que muito ajuda a esclarecer o real pensamento de Jesus, que é um tanto diferente de muitos pontos defendidos pelas igrejas cristãs oficiais. Para um estudo aprofundado sobre este tema, aconselhamos a leitura de "O Evangelho de Tomé - Texto e Contexto" de Hermínio C. Miranda, 1992, Editora Arte e Cultura, Niterói; e de "O Evangelho de Tomé" de Marvin Meyer, Editora Imago, Rio de Janeiro, 1993.

Ao mesmo tempo, por esta época, a situação política na Judéia tinha chegado a um grau explosivo, com muitas subvleções contra o domínio romano, em especial diante da militância do movimento dos Zelotes, que possuiam vários líderes carismáticos que se supunham, um após outro, serem o próprio Messias.

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