"A Sociedade de Arqueologia Brasileira soltou nota sobre o episódio nefasto para a nossa história. E alerta que não só a história da arqueologia brasileira, mas tantos outros campos do conhecimento científico, se perdem neste incêndio. E perdas de valor incomensurável ali se deram."
Foto: Francisco Proner
Jornal GGN - O Brasil e sua comunidade científica estão de luto. A Sociedade de Arqueologia Brasileira soltou nota sobre o episódio nefasto para a nossa história. E alerta que não só a história da arqueologia brasileira, mas tantos outros campos do conhecimento científico, se perdem neste incêndio. E perdas de valor incomensurável ali se deram.
A Sociedade de Arqueologia aponta que todos os canais de tv e mídia ali estavam para cobrir a tragédia, mas o que se pode fazer diante de tanta perda?
Leia a nota a seguir.
Nota da Sociedade de Arqueologia Brasileira sobre o Incêndio no Museu Nacional
As lágrimas correm em nossos rostos enquanto os dedos trêmulos procuram as teclas para expressar tamanha dor e indignação em poucas palavras. Não temos como manifestar o sentimento de perda e a profunda tristeza que tomam conta de todas e todos nós. Gostaríamos que as lágrimas pudessem apagar o incêndio em nossa própria casa, o endereço oficial da Sociedade de Arqueologia Brasileira, no Rio de Janeiro, ali na belíssima Quinta da Boa Vista.
A história da Arqueologia Brasileira, e de tantos outros campos do conhecimento científico, se fundem e se confundem com a do Museu Nacional. Coleções e mais coleções, acervos e mais acervos, bibliotecas, milhões de peças etc., todos de valor incomensurável à humanidade, ardem em chamas e viram cinzas. Bombeiros tentam apagá-las. Tudo parece em vão. “Está tudo perdido”, dizem colegas do Rio de Janeiro nas redes sociais. Emissoras de TV mostram o incêndio ao vivo, jornais divulgam mais e mais matérias sobre o assunto e muitos de nós, à distância, não sabemos o que fazer para ajudar a reverter a situação.
O que dizer sobre isso tudo isso no calor da hora? Misturas de dor, indignação e tristeza tomam conta de nossos corações. Ali foi a residência de um rei, sabemos, mas também a casa de tantas outras pessoas que por lá passaram em busca de conhecimento, formação acadêmica e tantos outros propósitos. Somos testemunhas do clamor dos colegas do Museu Nacional por apoio e recursos para restaurar o prédio e melhor salvaguardar tudo aquilo que abrigava. São duzentos anos de história. Vivenciamos ali a formação altamente qualificada de tantos profissionais e de estudos em andamento, os quais agora estão comprometidos. Luzia, um dos mais antigos esqueletos humanos encontrados nas Américas, estava lá. Múmias egípcias, fósseis, documentos escritos, artefatos de origem indígena e tudo o mais, tudo em cinzas.
Sem mais palavras, a Sociedade de Arqueologia Brasileira, ainda profundamente abalada, entristecida e enlutada, manifesta total solidariedade à Instituição e a todos os colegas de lá, repudia toda forma de negligência por parte de autoridades governamentais, as quais desde longa data tomaram ciência da necessidade de restauração da Instituição e praticamente nada fizeram, e ainda registra a disposição inabalável para somar naquilo de estiver ao seu alcance para somar na luta do Museu Nacional.
Um país que não valoriza sua memória e seu patrimônio cultural está fadado à desgraça, ao atraso, à dominação e o seu povo a não saber de onde veio, quem é e para onde deve caminhar rumo à construção de um país mais solidário, justo e feliz.
Somos todas e todos Museu Nacional!
Nota da Sociedade de Arqueologia Brasileira sobre o Incêndio no Museu Nacional
Brasil, 03 de setembro de 2018.
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