No Brasil, o filme de Oliver Stone - que tem o título orignal SNOWDEN e só - é chamado, diante do nosso público em grande parte mesmerizado por uma mídia golpista, de "Snowden - Herói ou Traidor".... Título que quer agradar a lúcidos e a zumbis.... Não importa, o filme é uma Obra-Prima do cinema político.... Muito bem feito, muito direito... A cena em que se mostra a espionagem da Petrobrás para garantir a sua falência e a espionagem sobre líderes mundiais, incluindo a legítima presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, incomoda paneleiros e "manifestantes" elite classe A... Seja como for, é um senhor filme sobre um corajoso Davi que teve a coragem de enfrentar o mais poderoso dos Golias para mostrar ao mundo sua voracidade e hipocrisia plutocrática.... Segue, para reflexão, um bom texto sobre este imperdível filme. - Carlos Antonio Fragoso Guimarães
por Roberto Jorge Regensteiner
GGN. -O filme é uma dramatização da história pois os fatos são narrados por atores. A montagem é digna de um thriller. As interpretações vão de boas a ótimas. Excelentes atores a reencarnar a história. O roteiro escrito e dirigido por Oliver Stone com base em diversos livros, no documentário Citizenfour e, presumo, com a consultoria e assentimento dos personagens reais, inclusive de Snowden que é mostrado ao final.
Quem acompanha este épico contemporâneo de uma certa distância, poderá conhecer muitas novas informações graças ao recheio de fatos, detalhes e footage de mídia da época editados com arte, bom-humor e suspense.
A cena inicial abre naquele famoso junho de 2013 quando as denúncias vieram a público. A cineasta estadounidense Laura Poitras e o jornalista Glenn Greenwald aguardam a chegada de Snowden no hall de um hotel em Hong-Kong. Após uma espera carregada, ansiosa e cuidadosamente planejada os três se encontram e vão ao quarto dele. Lá se inicia a etapa seguinte da operação: dar a conhecer ao mundo inteiro que o governo dos Estados Unidos invade maciça e sistematicamente a privacidade de governos, empresas e cidadãos. Em nome da luta anti-terror e de objetivos nacionais, a máquina estatal estadounidense se constituiu num ente autônomo em busca do controle e do poder total. Para eles a guerra cibernética já começou.
Apreciadores da História de TI gostarão de um maravilhoso dialogo, em que Nicolas Cage personifica um expert que tentou se rebelar contra os abusos do sistema e foi encostado na "geladeira" de uma escola em que recrutas da CIA, como Snowden, então com menos de 20 anos de idade, eram treinados nos conceitos, nas artes e nas técnicas da guerra cibernética. No desenvolvimento deste dialogo há um vislumbre dos mitológicos Enigma, do SIGABA, do ENIAC e do supercomputador Cray, marcos históricos de uma caminhada em que os supercomputadores de outrora tornaram-se insignificantes quando comparados com os atuais smartfones.
As cenas que expõem a etapa inicial do treinamento do futuro agente da CIA mostram, através das aulas e dos relacionamentos com os colegas, como vão se expressando as contradições que opõem o técnico talentoso, cuja carreira profissional a meritocracia corporativa premia e promove, ao cidadão desejoso de fazer o bem e de respeitar a lei.
O drama interior se acentua à medida que Snowden se dá conta do até então insuspeitado grau de intromissão e manipulação que o Estado e o Governo dos EUA promovem na vida das pessoas, abusando da confiança que a população neles deposita, ultrapassando todos os limites imagináveis, destruindo a vida de inocentes e invadindo a sua própria privacidade e a de sua relação amorosa, levando a ambos ao limite da desconfiança e do rompimento. Este é o pano de fundo do qual ele, inicialmente, tentará se afastar trabalhando para empresas privadas e sendo enviado ao Japão em tarefas aparentemente menos invasivas. Posteriormente, constatará que mesmo assim permanece no radar e na teia da CIA e sucumbirá a uma oferta na qual desafios técnicos lhe serão oferecidos sob a nobre roupagem da defesa nacional num posto de trabalho localizado no Havaí.
O desfecho da epopéia se dá quando planejam como realizar a denúncia que - rompendo com o cerco imposto pelo governo - irá desaguar nas publicações no The Guardian, no Washington Post e, depois, na grande imprensa do resto do mundo. O filme pouco revela da linha de pensamento e ação que o fez vencer uma batalha na qual muitos sucumbiram antes dele. Quando as denúncias começaram a chegar ao grande público, o governo dos EUA moveu mundos e fundos para repatriá-lo e julgá-lo exemplarmente como traidor. Não pouparam a si próprios do vexame de forçar o pouso do avião do presidente da Bolívia na Austria, na suposição de que ele estaria clandestinamente a bordo rumo ao Equador. Mostraram assim até que ponto são capazes de desrespeitar as leis quando consideram seu interesse ameaçado.
A capacidade de se preparar para a reação que buscou localizá-lo, prendê-lo e extraditá-lo em Hong-Kong ou onde quer que ele estivesse foi para mim o toque de gênio, o pulo do gato, ainda pouco desvelado deste rapaz que conseguiu expor as entranhas da fera e sair ileso. Nestes tempos de vitórias de Temer e Trump é um estimulante gole de esperança!
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