Foto principal: A instalação de arte “Algo a dizer?”, uma escultura de bronze do escultor italiano Davide Dormino, representando (esquerda) Edward Snowden, Julian Assange e Chelsea Manning, localizada ao lado das Nações Unidas em Genebra. 15 de setembro de 2015.
The intercept. - NOS ÚLTIMOS 15 ANOS, ambos os partidos no controle do governo americano inventaram métodos completamente novos para ocultar suas atividades por trás de uma intransponível barreira secreta. Desde novas doutrinas legais radicais, desenvolvidas para evadir a supervisão jurídica, até a quebra de recorde de abertura de processos contra fontes, cada vez mais, as ações do governo têm sido deliberadamente ocultadas da opinião pública.
No Brasil, são usados métodos semelhantes para ocultar certas medidas da sociedade civil. Em alguns casos, governantes têm em mãos métodos ainda mais extremos. Consequentemente, as medidas e decisões de maior importância tomadas em Brasília, assim como os órgãos de segurança e policiamento, são veladas à população brasileira.
Nos EUA, o vazamento de informações e a contribuição de delatores voluntários são duas das únicas alternativas restantes para entender o que está acontecendo no governo — além da propaganda vendida aos americanos e, por consequência, reproduzida pelos veículos de comunicação. Dentre os muitos heróis americanos na guerra ao terror, estão as mulheres e homens das mais diversas agências de inteligência americanas que descobriram irregularidades gravíssimas sendo perpetradas em sigilo e arriscaram suas próprias vidas para garantir que o público tomasse conhecimento daquilo que não deveria ser segredo.
As mais importantes revelações dos dois últimos mandatos presidenciais dos EUA só foram possíveis graças a fontes que tiveram a coragem de vazar documentos sob essas circunstâncias. Foi assim que descobrimos os abusos em Abu Ghraib, a existência de instalações destinadas à tortura por parte da CIA, o programa de espionagem sem mandado de Bush, o brutal massacre no Iraque e no Afeganistão, a irresponsabilidade e a farsa por trás do programa de drones dos EUA, a construção secreta do maior sistema de vigilância sigilosa em massa da história da humanidade pela NSA e muitos outrosescândalos, fraudes e crimes de guerra que, caso contrário, seriam desconhecidos. Essas reportagens só foram possíveis por causa de pessoas conscientes que decidiram ignorar a decisão do governo americano de que essas informações deveriam ser mantidas sob um sigilo destinado a proteger a segurança nacional, e não as reputações e interesses de dirigentes políticos.
Por essa razão, quando o The Intercept foi criado, um de nossos principais objetivos institucionais era possibilitar que o envio de dados para jornalistas fosse feito de forma segura e produtiva. Visando oferecer máxima segurança para nossas fontes e jornalistas, contratamos alguns dos engenheiros e especialistas em segurança da informação e em criptografia mais competentes do mundo. Adotamos os mais avançados programas para permitir que a comunicação e a transferência de informações de nossas fontes se desse de forma anônima e oculta, como o SecureDrop. E, no âmbito institucional, nos comprometemos a investir os recursos necessários para proteger a liberdade de nossos jornalistas, de forma que possam trabalhar sem a ameaça de recriminação, fazendo todo o esforço possível para proteger e defender as fontes que possibilitam esse importante tipo de jornalismo.
Nos últimos dois anos, nossos especialistas em segurança publicaram diversos artigos sobre como fontes (e a sociedade em geral) podem se comunicar e transmitir informações da forma mais segura possível, minimizando assim as chances de serem detectados. Publicamos entrevistas com outros especialistas, como Edward Snowden, sobre as ferramentas e os métodos mais eficazes para garantir a segurança de contatos on-line. Conforme explicou Micah Lee, nosso tecnólogo, não há método infalível, portanto, “recomenda-se cautela àqueles que desejam se comunicar conosco sem expor suas verdadeiras identidades”. Contudo, há ferramentas e práticas que facilitam o anonimato. Nós nos comprometemos a usá-las, além de informar o público sobre como fazê-lo da forma mais segura e eficiente possível.
Donald Trump ainda não tomou posse, mas tudo indica que seu mandato será extremamente hostil aos princípios básicos da transparência. Durante a campanha, Trump violou normas antigas sobre a divulgação de informações de candidatos, inclusive recusando-se a publicar seu imposto de renda, além de ter quebrado a tradição de não fornecer informações sobre suas atividades e localização durante a transição de poder.
Além disso, as instituições do poder executivo são treinadas para resistir à transparência ao máximo e contam com inúmeros meios de ocultar suas atividades mais importantes. A inércia institucional, em especial quando exacerbada pelos impulsos de Trump contra a transparência, praticamente garante que seu mandato será extremamente controverso quanto a prestação de contas com os eleitores americanos.
Por esses motivos, o The Intercept – TANTO NOS EUA QUANTO NO BRASIL – está mais empenhado do que nunca em fazer todo o possível para permitir que fontes e whistleblowers possam trabalhar com nossos jornalistas da forma mais segura possível, garantindo que as informações que devem estar sob a tutela da sociedade civil sejam apuradas, em vez de ocultadas. Certamente, haverá diversas medidas e informações na administração Trump que serão ocultadas, mesmo que devessem ser apuradas, e a sociedade civil precisará de whistleblowers e delatores voluntários corajosos dentro do governo para garantir que elas sejam trazidas à tona.
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