sábado, 3 de setembro de 2016

Mulheres de fibra e coragem tomam as ruas contra Michel Temer


Porto Alegre é grelo duro contra o golpe
Foto: Caco Argemi -Mídia NINJA
Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
 Leio no Mídia Ninja, deliciado, um post com as palavras seguintes: “Porto Alegre é grelo duro contra o golpe!” Vejo a foto, linda, que está sob uma luz de rara beleza, mergulhada em uma atmosfera de intima coesão, ampliada ainda pela ressonância oferecida pelos arcos em torno. E vejo, em primeiro plano na imagem, uma jovem que segura um cartaz, bem no centro da cena, com duas palavras apenas: GRELO DURO.
Penso: é isso aí, não podia ser mais politicamente acertado. Contra um golpe misógino, um governo com um ministério só de homens políticos, ou melhor, paleolíticos, que arma pode ser mais letal senão o Grelo Duro?
Sim. Grelo duro contra o Batalhão de Choque. Grelo duro contra o Golpe. Não só em Porto Alegre, que tem o mérito de ter saído na frente, mas no Brasil inteiro, tem que por nas ruas o grelo duro contra o golpe fascista.
Cada época de rebelião política inventa a sua fantasia militante, a sua erótico-política, como fez o movimento hippie com o “Faça amor, não faça a guerra”, ou o Maio de 1968, com essa pichação nos muros:
"Quanto mais amor faço, mais vontade tenho de fazer a revolução.
Quanto mais revolução faço, maior vontade tenho de fazer amor".
Mas quando vence um fascismo, ao contrário, ele impõe a sua perversão castradora. Contra essa perversidade dos vilões, contudo, a história costuma inverter as coisas para o gozo dos rebeldes.
Foi assim como a marcha das vadias, que nasceu de uma reação ao senso perverso de um policial no Canadá. Em janeiro de 2011, depois de várias ocorrências de abuso sexual na Universidade de Toronto, o policial Michael Sanguinetti recomendou que "as mulheres evitassem se vestir como vadias (sluts), para não serem vítimas".
Nada sutil, o policial, com sua típica percepção de tira, culpava as mulheres pelas violências de que eram vítimas. A Marcha das Vadias nasceu assim, com um protesto de três mil pessoas nas ruas daquela cidade.
A Marcha foi um ninja bem aplicado na repressão, simbólica e comportamental, e tem protagonizado o desmascaramento continuado da retórica da perversão. A cada edição da Marcha, em cada lugar do mundo onde ela acontece, se coloca de novo o dedo na ferida do moralismo perverso.
No caso do Brasil, o carcereiro mór da masmorra de Curitiba, Sérgio Moro, como quem espalha vídeos íntimos na internet, tentou desmoralizar Lula com a divulgação, de conversas gravadas ilegalmente. Mas o efeito foi o contrário, as mulheres adoraram:
LULA: Nós vamos pegar esse de Rondônia [o procurador que torturava a mulher] agora e vamos botar a Fátima Bezerra e a Maria do Rosário em cima dele.
VANNUCCHI: Isso mesmo.
LULA: (...) Faz um movimento da mulher contra esse filho da puta. Porque ele batia em mulher, levava ela pro culto, deixava ela se fuder, dava chibatada nela. Cadê as mulheres de grelo duro do nosso partido?
VANNUCCHI: É isso aí. Sua fala foi muito boa.

O dedo duro de um juiz carcereiro se quebrou contra o grelo duro simbólico. O que deveria gerar escândalo, na cabeça do juiz que foi doutrinado nos Estados Unidos, e que imaginou envergonhar, constranger, um líder como Lula, ao expô-lo no uso de uma expressão insólita, deu o resultado totalmente contrário.
Lula, exposto por Moro, criou e trouxe à público a melhor expressão para definir o empoderamento, e a desrepressão, das mulheres no momento de hoje.
No combate contra a Ditadura Militar, na década de 1980, havia um número enorme de mulheres engajadas, como se dizia. Nas universidades, ocupavam muitas vezes a liderança, e dirigiam muitos centros acadêmicos e diretórios estudantis.
Mas as mulheres hoje não só estão presentes, mas são maioria ativa. Essa é a grande diferença. Basta olhar a foto que ilustra esse artigo. Basta lembrar que há dois dias, Déborah Fabri, uma jovem, foi quem foi atingida e perdeu a visão no combate nas ruas. Se tudo isso não bastasse, observem os dados abaixo, que mostra que as mulheres dominam entre os leitores de O Cafezinho. E mais: que predominam com folga na faixa mais ativa na rejeição ao golpe nas ruas, essas entre os 18 e 24 anos. Enfim, podem escrever, vai ser osso duro de roer, ou melhor, o Brasil já é grelo duro contra o golpe.
Gráfico

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