segunda-feira, 1 de abril de 2019

Aos que lutam, por Cilene Victor



A capacidade de ver e de compreender a realidade é só para os que têm a coragem de viver a vida bravamente.
Não, nunca houve porão. Metaforicamente, tudo aconteceu em praça pública, no térreo. Não viu, quem não quis ver!

Aos que lutam

por Cilene Victor

“Vivi durante a ditadura e nunca soube dessa história de censura, de tortura, de presos políticos ou de perseguição”.
Li isso agora há pouco e fiquei pensando que não devo duvidar desse tipo de relato. Essas pessoas realmente não viram nada. Essa visão da realidade é a que remete à ideia equivocada de que houve porão na ditadura. “Se aconteceu isso, não sei, deve ter sido nos porões da ditadura”.
Não, nunca houve porão. Metaforicamente, tudo aconteceu em praça pública, no térreo. Não viu, quem não quis ver!
Este hoje, em breve, será um futuro e muitos dirão que viveram neste final da segunda década do século XXI e não viram a barbárie ser construída e fomentada diariamente no nosso país.
Vão negar o genocídio da juventude negra e dos povos indígenas, vão negar a homofobia e transfobia, vão negar o feminicídio, vão negar a existência de milhões de brasileiros vivendo na extrema pobreza, vão negar a perseguição aos intelectuais, acadêmicos e à imprensa. Vão negar a intolerância e o obscurantismo.
E, novamente, terei de reconhecer que essas pessoas não estarão erradas em dizer que não viram nada.
A capacidade de ver e de compreender a realidade é só para os que têm a coragem de viver a vida bravamente, lutando contra todo o tipo de barbárie que ameaça o nosso tímido projeto civilizatório.
Muita gente não saiu da escuridão e por isso segue celebrando fatos que nós combateremos, brava e ternamente.
Em memória de todas as vítimas da barbárie de ontem e de hoje.

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