"No mundo maniqueísta dos idiotas da aldeia, bom é resignar-se, preferir acreditar que foi a ordem que nos conduziu ao progresso ou que o progresso se encontra na submissão à ordem. Tão bandeira do Brasil. Tão positivista. Tão Comte. E não os conte que o slogan é projeto fracassado. Freud não explica, talvez Jung e seus símbolos. Não somos mais guiados pelo sacrifício de tantas pessoas, após décadas sob o jugo da ditadura. Preferível pensar cada um por si em qual será a melhor vingança privada a ser praticada. Uma tatuagem, um acorrentamento? O império da lei é superado pelo império da vontade. Mas de quem seria essa vontade? Enganam-se aqueles que acreditam serem algozes apenas os que se põem ao público. O cabo da espada também tem as digitais de tantos quanto têm uma visão tão amesquinhada que preferem ignorar tudo aquilo que acontecerá, em favor da fama, dos interesses espúrios e escusos."
Do Justificando:
Sexta-feira, 6 de Abril de 2018
Lula e o dilema de Sócrates
Uma decisão controversa. Uma fuga que seria aplaudida por muitos. Um filósofo que não teria entrado para a História.
Essa é a pecha da vanguarda: submeter-se à ordália (judicium Dei) em favor da expiação pelas massas, como decorrência do processo inquisitório disciplinado no Malleus Maleficarum (Martelo das Feiticeiras, escrito em 1484 pelos monges alemães Heinrich Kramer e James Sprenger).
A moral nem sempre caminha com a lei, sobretudo quando os homens-toga se expõem aos holofotes, subvertendo o papel de juristas ao de celebridade. Vai-se dos átrios dos fóruns aos midiáticos estúdios em busca dos viciantes aplausos do público, onde também são lançadas ameaças de possíveis consequências acaso alguém ouse desrespeitar a vontade dos já bem lavados a jato cérebros, obedientes aos comandos das manchetes e das chamadas dos jornais, do que quer que lhes digam ser a verdade.
No mundo maniqueísta dos idiotas da aldeia, bom é resignar-se, preferir acreditar que foi a ordem que nos conduziu ao progresso ou que o progresso se encontra na submissão à ordem. Tão bandeira do Brasil. Tão positivista. Tão Comte. E não os conte que o slogan é projeto fracassado. Freud não explica, talvez Jung e seus símbolos. Não somos mais guiados pelo sacrifício de tantas pessoas, após décadas sob o jugo da ditadura. Preferível pensar cada um por si em qual será a melhor vingança privada a ser praticada. Uma tatuagem, um acorrentamento? O império da lei é superado pelo império da vontade. Mas de quem seria essa vontade? Enganam-se aqueles que acreditam serem algozes apenas os que se põem ao público. O cabo da espada também tem as digitais de tantos quanto têm uma visão tão amesquinhada que preferem ignorar tudo aquilo que acontecerá, em favor da fama, dos interesses espúrios e escusos.
Quem arquitetou o projeto de poder possui mais de 900 bases militares espalhadas pelo mundo e encarcera, dentre seus próprios nacionais, mais de 2.2 milhões de pessoas. Não subscreve tratados, mas impõem aos outros que o subscrevam para si. É a raposa que frequenta o galinheiro. A engrenagem foi muito bem construída e os criadores perderam-se nos meandros dos confrontos entre a lei e a política. É a rule of law, law of rules… Não basta que morram os sírios, os palestinos, os iemenitas.
Sócrates bebeu a cicuta e, mártir, pagou com o próprio corpo a concupiscência das massas ensandecidas. Lula deve fazê-lo?
Jorge Bheron Rocha é defensor público do estado do Ceará, professor de Direito e Processo Penal, mestre em Ciências Jurídico-Criminais pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e doutorando em Direito Constitucional na Unifor.
Mariella Pitari é defensora pública do estado do Ceará, especialista em Direito Público, alumni do Institute for U.S Law, Washington DC, e aluna do programa Master of Law em Cornell University.
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