quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O pensamento sistêmico na percepção da vida e do mundo


Fritjof Capra
 A concepção sistêmica (ecológica, interrelacional) vê o mundo em termos de relações e integração. Percebemos, na música, as relações entre notas, intensidade, ritmo e combinações entre estes elementos, não notas, batidas rítmicas ou sons fortes e fracos isolados, nem percebemos nas pessoas pedaços orgânicos isolados. Os sistemas são totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às de unidades menores. Em vez de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas, que destroem as características do todo, a abordagem sistêmica enfatiza princípios de organização. Os exemplos de sistemas são abundantes na natureza. Todo e qualquer organismo - desde a menor bactéria até os seres humanos, passando pela imensa variedade de plantas e animais - é uma totalidade integrara e, portanto, um sistema vivo (com características bem diferentes dos sistemas inorgânicos). As células são sistemas vivos, assim como os vários tecidos e órgãos do corpo, sendo o cérebro humano o exemplo mais complexo. 
 Mas os sistemas não estão limitados a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos por sistemas sociais -como o formigueiro, a colméia ou uma família humana - e por ecossistemas que consistem numa variedade de organismos e matéria inanimada (que vem sendo destruída pela especulação imobiliária e financeira) em interação mútua. O que se observa numa região selvagem não são árvores ou organismos individuais isolados, mas a teia complexa da relação entre eles.
 Todos esses sistemas naturais são totalidades cujas estruturas específicas resultam das interações e interdependência de suas partes. A atividade dos sistemas envolve um processo conhecido como permuta\transação - a interação simultânea e mutualmente interdependente entre componentes múltiplos. As propriedades sistêmicas são destruídas quando um sistema é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes.
  Embora seja de uma natureza especializada e secundária, as operações do tipo mecânico (tão destacadas pela ciência moderna a partir de Descartes) ocorrem também em todo o mundo vivo. A descrição reducionista-mecanicista de organismos pode, portanto, ser útil e, em alguns casos, necessária. Ela só é perigosa quando interpretada como se fosse o modelo explicativo completo. Reducionismo conceitual e holismo, análise e síntese, são enfoques complementares que, usados em equilíbrio adequado, nos ajudam a chegar a um conhecimento mais profundo da vida.

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