Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Martin Scorsese ganhou fama de competente diretor de filmes densos, quase sempre centrados em conflitos sociais urbanos. Mas sempre primou por uma fotografia de grande beleza e roteiros bem delineados recheados de ecos filosóficos, especialmente existencialistas. Contudo, seu mais recente filme, Hugo (no Brasil, A Invenção de Hugo Cabret) se apresenta como uma pedrinha preciosa em um formato aparentemete atípico na produção deste diretor.
O filme, o primeiro feito por Scorsese no formato 3D (nos cinemas), se apresenta como uma história aparentemente infantil, mas na verdade é dirigida a todos, num desenrolar repleto de lirismo e beleza do começo ao fim. Não bastasse isso, possui também uma mensagem filosófica muito bonita de crítica social e a um intelectualismo mecanicista que vêm desencantado a tudo e a todos, em uma sociedade em que as pessoas são canalizadas a se transformarem em especialistas "autômatos". Segue, bem de perto, a própria magia do livro em que se inspira, A Invenção de Hugo Cabert, do escritor americano Brian Selznick.
A principal mensagem do filme é: A técnica e a tecnologia devem e podem servir ao ser humano, a todas as pessoas, e não o contrário. Se for utilizada para servir e ajudar o homem, ela pode despertar a magia da poesia (no caso, da poesia cinematográfica). Mensagem esta muitíssimo necessária nestes tempos de crise do capitalismo mecanicista, desumano e pretensamente racional, que faz a maioria esquecer que as pessoas, todas e cada um de nós, é que fazemos a História, e não o inverso.
O filme também critica instituições parasitas, baseadas em preconceitos de classe social, que tentam modelar e impor padrões de comportamentos fixos e frios, portanto mecânicos, representadas no filme pela perseguição do herói, um menino de seus dez anos, por um guarda com a perna ferida apoiada por uma estrutura mecânica - mais uma metáfora dos males do mecanicismo tomado como representação da realidade e não como elemento auxiliar instrumental - e altamente alienado e frustrado, personagem muito bem representado por Sacha Baron Cohen, o comediante britânico que ficou famoso no papel do jornalista ingênuo Borat.
Outros elementos que apontam para uma crítica do paradigma mecanicista em vigor e sua característica destrutiva quando usado sem o uso do coração do homem que os produzem se vêem em quase todas as cenas do filme, desde o autômato psicógrafo que só funciona quando se acha uma chave com formato de coração, até aos dizeres de que os filmes poéticos dos primórdios do cinema deixaram de ser procurados e vistos pelos soldados que experimentaram os horrores genocidas da I Guerra Mundial e seu uso intensivo de novas máquinas destrutivas, como tanques e canhões de grosso calibre.
O filme também critica instituições parasitas, baseadas em preconceitos de classe social, que tentam modelar e impor padrões de comportamentos fixos e frios, portanto mecânicos, representadas no filme pela perseguição do herói, um menino de seus dez anos, por um guarda com a perna ferida apoiada por uma estrutura mecânica - mais uma metáfora dos males do mecanicismo tomado como representação da realidade e não como elemento auxiliar instrumental - e altamente alienado e frustrado, personagem muito bem representado por Sacha Baron Cohen, o comediante britânico que ficou famoso no papel do jornalista ingênuo Borat.
Outros elementos que apontam para uma crítica do paradigma mecanicista em vigor e sua característica destrutiva quando usado sem o uso do coração do homem que os produzem se vêem em quase todas as cenas do filme, desde o autômato psicógrafo que só funciona quando se acha uma chave com formato de coração, até aos dizeres de que os filmes poéticos dos primórdios do cinema deixaram de ser procurados e vistos pelos soldados que experimentaram os horrores genocidas da I Guerra Mundial e seu uso intensivo de novas máquinas destrutivas, como tanques e canhões de grosso calibre.
O personagem central do filme, Hugo Cabret, é um menino que se tornou órfão (representado perfeitamente pelo notável Asa Buttrerfield, que já impressionou anteriormente no filme "O Menino de Pijama Listrado") quando o carinhoso e dedicado pai (Jude Law, de "Gattaca" e "Sherlock Holmes"), um relojoeiro talentoso, morre repentinamente em um incêndio dentro de um museu. Hugo passa, então, a viver com um tio beberrão que era responsável pela manutenção dos grandes relógios da central de trem de Paris, em fins dos anos 1920. Só que o tio, irresponsável, deixa tal trabalho nas mãos do sobrinho para se dedicar integralmente ao seu vício. Hugo passa a viver entre as paredes e corredores ocultos fazendo a manutenção dos relógios de forma anônima, saindo de vez em quando para conseguir comida e algumas peças mecânicas na loja de brinquedos de um misterioso senhor, de aparência severa, na estação central. Mal sabe Hugo e este senhor (um antigo mágico e, surpreendemente, um importante personagem da história do cinema, representado pelo "Gandhi" Ben Kingsley) que o encontro entre os dois, mediados pela esperta e carinhosa garota Isabelle (Chloë Grace Moretz, de "Deixe-me entrar"), em meio a aventuras e descobertas, mudará suas percepções de mundo para sempre.... E mexerá com a percepção de muitos dos que forem assistir a este filme com o coração de criança e olhos de adultos....
A Invençãode Hugo Cabret é um daqueles filmes mágicos para todos os que sabem que, como diz o psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), no coração de quase todo adulto "ainda espreita uma criança - uma criança eterna, que está sempre vindo a ser, que nunca está completa e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. A melhor parte da personalidade humana, que quer desenvolver-se sempre"
A Invençãode Hugo Cabret é um daqueles filmes mágicos para todos os que sabem que, como diz o psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), no coração de quase todo adulto "ainda espreita uma criança - uma criança eterna, que está sempre vindo a ser, que nunca está completa e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. A melhor parte da personalidade humana, que quer desenvolver-se sempre"
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