sexta-feira, 18 de março de 2022

O grande momento de ascensão da China, por Luis Nassif

 

O principal ponto de fortalecimento da China, dizem eles, está na sua tradição diplomática, em contraste com o clima bélico da Rússia e dos Estados Unidos.


Os presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China). Foto: © Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin – via Agência Brasil


Um dos grandes enigmas do momento é sobre a posição da China após a guerra da Ucrânia.

Um artigo assinado por Stephen S. RoachPaul De GrauweSergei GurievEstranho Arne Westad traz subsídios interessantes, Roach é professor de Yale e ex-presidente do Morgan Stanley Asia; Grawe é presidente do Instituto Europeu da London School; Guriev é ex-economista-chefe do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento; e Westad é professor de História da Universidade de Yale.

O principal ponto de fortalecimento da China, dizem eles, está na sua tradição diplomática, em contraste com o clima bélico da Rússia e dos Estados Unidos.

A China está em posição única para suspender a guerra, devido a duas vantagens críticas.

A primeira, seus próprios princípios fundamentais. Desde o período de Zhou Enlai, na década de 1950, a política externa da China tem sido guiada pelos “Cinco Princípios da Coexistência Pacífica”. Entre eles, o respeito mútuo pela soberania e integridade territorial.=, a não agressão e a não interferência nos assuntos internos de outros países.

A segunda vantagem é a parceria com a Rússia.  No dia 4 de fevereiro, Xi e Putin assinaram um acordo amplo, enfatizaram a importância da cooperação entre as grandes potências.

Com a guerra da Ucrânia, o quadro muda. Há um rápido enfraquecimento da economia da Rússia, isolada do mundo e dependendo cada vez mais da China.

Essa dependência reforça a influência da China para conseguir encerrar a guerra. E também é uma oportunidade mundial de olhar atentamente o fenômeno chinês, dizem os autores.

O país deve aproveitar a oportunidade, liderando em três frentes:

O primeiro passo será convocar uma cúpula de emergência dos líderes do G20, visando um cessar-fogo imediato e incondicional e desenvolver uma agenda para uma paz negociada.

Os autores enfatizam a relevância do G20, que chegou à maturidade no final de 2008 – sob liderança do Brasil (observação minha). Essa nesta articulação poderia ser repetida.

O segundo passo será a China assumir a liderança na contribuição para a assistência humanitária. Especialmente quando se sabe que pelo menos metade dos mais de três milhões de refugiados da Ucrânia são crianças. A China deverá fazer uma doação incondicional ‘a UNICEF, a maior agência de ajuda humanitária para crianças.

O terceiro passo será a China assumir a liderança no apoio à reconstrução ucraniana. O bombardeio indiscriminado da Rússia destruiu parte significativa da infraestrutura urbana. O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) estima a necessidade de US$ 100 bilhões para a reconstrução.

Segundo os autores, a China deverá usar seu foco inigualável em infraestrutura moderna para fornecer parte considerável da reconstrução pós-conflito, mas não restrita à Ucrânia. O apoio deverá se dar no bojo da Iniciativa do Cinturão e Rota, da qual a Ucrânia é membro desde 2017. Deverá ter o mesmo papel que os Estados Unidos tiveram no pós-guerra com o Plano Marshall.

Concluem os autores:

“À medida que a terrível guerra de Putin se arrasta, levando o mundo mais perto do abismo, a China tem uma oportunidade única e urgente de demonstrar liderança global. O querido sonho chinês de Xi e os sonhos de todos nós estão em jogo. Precisamos de líderes que defendam a globalização, a paz mundial e a humanidade”.

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