sexta-feira, 25 de março de 2022

Prefeitos relatam lobby dos pastores no MEC: “não dá pra ajudar todas as cidades, mas eu posso ajudar a sua”

 Pastores pediram ouro e dinheiro para a liberação de recursos do Ministério da Educação, capitaneado por Milton Ribeiro, no governo Bolsonaro a determinadas cidades. Aos poucos, os prefeitos de municípios do país vêm denunciando as petições dos pastores, que não ocupam cargo no governo federal, mas participaram de esquema de repasses, conforme revelado pela imprensa.

Do Jornal GGN:


Pastores em encontro com Bolsonaro, em fevereiro de 2021; Gilmar Santos e Arilton Moura aparecem ao lado de Milton Ribeiro – Foto: Reprodução/Redes/PR

Pastores pediram ouro e dinheiro para a liberação de recursos do Ministério da Educação, capitaneado por Milton Ribeiro, no governo Bolsonaro a determinadas cidades. Aos poucos, os prefeitos de municípios do país vêm denunciando as petições dos pastores, que não ocupam cargo no governo federal, mas participaram de esquema de repasses, conforme revelado pela imprensa.

Arilton Moura chegou a pedir 1kg de ouro e mais R$ 15 mil antecipados para que os pedidos do prefeito Gilberto Braga (PSDB), da cidade de Luis Domingues, no Maranhão, fossem atendidos pelo MEC. A informação foi divulgada pelo Estadão nesta semana.

O percurso do lobby dos pastores junto ao MEC envolveu cidades do interior de São Paulo. A afiliada da TV Globo divulgou, hoje (24), que o prefeito da cidade de Boa Esperança do Sul, Manoel do Vitorinho (PP), também denunciou o pastor de ter cobrado R$ 40 mil de propina em troca das verbas do MEC.

O pedido envolveu um encontro dos prefeitos com o próprio ministro da Educação, Milton Ribeiro, em março do ano passado. Logo depois da agenda oficial do MEC, o pastor teria negociado com o prefeito que os repasses ocorreriam, mas pediu R$ 40 mil em troca.

Pelo relato do prefeito Manoel do Vitorinho, as negociações eram de conhecimento do ministro: “Quando acabou a reunião [no MEC] eu encontrei o prefeito de Gavião Peixoto e o de Nova Europa e falei ‘acho que viemos numa furada, que reunião sem conteúdo’. Nisso, veio um cara que eu não lembro o nome, e perguntou se eu estava bravo, respondi que sim e ele me perguntou se eu tinha levado ofícios. Depois de protocolar, ele convidou para almoçar no restaurante do hotel e disse ‘é que lá vai estar o pastor Arilton e o pastor Gilmar, eles vão falar um pouquinho sobre as demandas que vão liberar para os municípios’. Pegamos um táxi e fomos”, narrou.

“Ele [Arilton] falou: ‘prefeito, você sabe como as coisas funcionam, não dá pra ajudar todas as cidades, mas eu posso ajudar seu município’. Perguntei como, e ele [Arilton] disse que era com uma escola profissionalizante. Respondi que isso não era uma necessidade do município e ele disse: ‘olha prefeito, eu consigo fazer um papel, um ofício agora, te libero a escola, mas em contrapartida você precisa depositar R$ 40 mil na conta da igreja evangélica’. Eu levantei, bati no ombro dele e falei ‘muito obrigado, pastor. Pra mim, dessa forma, não serve!’”, disse o prefeito.

“Eu me senti totalmente enojado, descrente. Em plena pandemia, pastores roubando a educação… Foi uma sensação horrível. Nós três [prefeitos de Gavião Peixoto e de Nova Europa] voltamos meio que desacreditados. Se o governo federal, se os pastores estão fazendo parte [do esquema]… Ter que pagar para você ter algo que é direito do município, foi uma sensação muito ruim”, continuou.



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