Em nome desse sentimento de “apaga o que ele fez” depois de morto, nosso país deu nome de assassinos a praças e logradouros, porque a distorção do sentido “religioso” precisava ser sobreposta ao repúdio pelas atitudes do indivíduo enquanto encarnado, e a religião soube manusear esta condução com maestria quando lhe interessou fazê-lo.
Onde Olavo e Kardec se esbarram
Sigo estudando a vida, suas simplicidades cativantes e as complexas teias de sabedoria mundana que os que se julgam sábios estão a tecer.
Como observadora, tento não envolver as emoções no rol das análises e muitas vezes deixo apenas um pitaco irônico. Mas hoje sinto desejo de ir além da ironia e refletir no ponto da conduta religiosista de muitos espíritas progressistas, pois aqueles considerados “hegemônicos” já são religiosos.
Abrimos então o caso já explicando que não fazemos perseguição da religião, mas ao contrário, buscamos entender a influência dessa energia histórica e de poder em nossas vidas comuns de seres sociais. Pois acreditamos que o sentimento religioso em muitos casos é grande empecilho para a evolução espiritual, haja vista a quantidade de dores que estes nichos já promoveram na história humana.
Mas estas trilhas também são vistas como condutoras de salvação, e não diremos o contrário, porque a liberdade e o respeito afetuoso são fundamentais para o convívio entre tantas diferenças. Por que então a reflexão sobre o religiosismo do espírita progressista?
Justamente pela crítica fácil que este faz ao espírita “hegemônico”, “chiquista”, “divaldista”, “febiano”, que por sua vez se tornaram conhecidos pela alienação do conteúdo kardeciano na vivência do espiritismo.
Assim, foi comum encontrar textos escritos por espíritas progressistas em fortes críticas àqueles que despejavam antipatia pelo espírito Olavo de Carvalho, agora falecido, da mesma maneira que o faziam quando aquele estava encarnado.
Ou seja, pode criticar espírito encarnado. Desencarnado, não! Os que louvavam a indesejada por ter livrado o globo da presença de Carvalho, afetavam em cheio aqueles a quem analisamos como religiosistas, pois o espírita instruído por Kardec sabe que a morte não é senão um véu que se estende entre o mundo material e a erraticidade, na qual o espírito segue vivendo.
Se é verdade que autorizamos a guerra verbal contra encarnados, mas logo “obrigamos” o outro a perdoar o “inimigo” desencarnado no meio dessa guerra, há algo pouco explicado, pouco compreendido ou menos ainda vivenciado neste contexto.
Em nome desse sentimento de “apaga o que ele fez” depois de morto, nosso país deu nome de assassinos a praças e logradouros, porque a distorção do sentido “religioso” precisava ser sobreposta ao repúdio pelas atitudes do indivíduo enquanto encarnado, e a religião soube manusear esta condução com maestria quando lhe interessou fazê-lo.
Aos espíritas progressistas mais uma vez a observação do dia pelo exacerbado moralismo.
A evolução é política, por isso mesmo, tenho deixado estes véus do “religiosamente correto” espalhados ao longo do caminho, na busca da verdade sob as orientações de Kardec e outros espíritos sérios, que nos ajudam a cansar de repetir padrões em busca de aceitação, aprovação e inclusão em grupos.
O grupão cósmico parece bem instigante, e nele a verdade das almas ajuda no aprimoramento muito mais do que essa hipocrisia terrena de falar baixinho apenas para que o público não escute, pois sabemos que as ondas vibratórias não mentem.
Obrigado pelo material de então, seguir estudando a vida tem sido uma maneira interessante de estar aqui.
Conservadorismo entre espíritas progressistas: o desafio
Internet é caminho que nos liga pelo mundo das ondas e suas armadilhas estão à beira das passagens, nem sempre tão ocultas, porém de muitas maneiras subestimadas. A mais perigosa de todas para o meu olhar de ponderação é a criação e manutenção de dependências relacionais neste espaço de exercícios de poder pelo controle e determinação de quem é ou não digno de existir.
A criação de guetos e bolhas ultrapassa a ideia original de conservador e progressista, direita e esquerda, e consegue gerar em todos os territórios citados políticas de massificação comportamental virtual.
Há tempo tenho levado a sério os cuidados com o que separa quem sou e aquilo que produzo como conteúdo intelectual, político, literário, do afã de mando coercitivo que impera em muitos grupos.
Outro elemento que não pode passar despercebido é o fato de por ser mulher, ter a obrigação de agradar a certos homens – coisa essa daquele tipo não verbalizado, mas imposto na prática.
Assim sendo, relato mais uma experiência do tipo “péssima” com um destes grupos espíritas progressistas dispersos pela rede, quando um administrador quis me obrigar a mudar o título de um texto porque não concordou com ele.
O título: Onde Olavo e Kardec se esbarram.
A pressa em ser do “bem”, da “justiça social” e da “democracia”, assanhou de tal modo estas individualidades que começaram a brigar com o texto pelo título, mostrando insipiente (mas perdoável) desenvoltura literária, associada ao afã de “desconstruir” quem ousou desagradar, principalmente se tratando de uma mulher. No final das contas, tudo não passaria de mal entendido por falta de leitura e boa interpretação de texto, se eu como autora não desafiasse o postulado do logos espírita progressista dialogando com os tais.
Depois de relevar muitas acusações ao texto, fui obrigada a ler uma frase xeque-mate do administrador: mudar o título! Pois segundo sua interpretação do meu diálogo eu havia posto com a intenção de criar desconforto no grupo.
Respira devagar e pensa: de acordo com ele eu escrevi um texto para um único grupo sair da zona de conforto.
Como espírita progressista me sinto na obrigação de relatar esta indecência e reafirmar que não basta se dizer progressista para de fato mostrar que é.
Maus leitores tentando convencer uma mulher que escreve de que ela não sabe escrever, agredindo com autoritarismo de efeito um texto que não soube interpretar, e ainda exigindo que mude o título porque Olavo e Kardec não podem ficar lado a lado na mesma linha de uma escrita.
Olavo, Kardec, Jesus, Deus e até Lúcifer podem ficar lado a lado em qualquer trabalho de cunho literário que se sustente, e esse hábito antigo de fazer o sinal da cruz diante daquilo que não gostamos como gesto de desprezo, por certo só nos leva a confrontar nossas relações com o espiritismo religiosista que empurramos sob falácias filosóficas e políticas.
O caminho largo do aprendizado não foi fechado, mas as minhas relações não acatam a parte da intromissão naquilo que escrevo, por essa razão e somente por ela, saí do grupo.
Mas fica aqui o alerta para os grupos que se autodenominam espíritas progressistas mantendo na essência forte apelo à condução de seguidores encabrestados: a essência do progresso é o livre pensamento! O crescimento coletivo passa pelo crivo esperançoso das vitórias individuais sobre os vícios de mando, seja à direita ou esquerda, no conservadorismo ou no progressismo.
Questionemos.
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