Obra integra a mostra "Sessões Especiais" do festival e foi recebida de forma calorosa pelos espectadores
Do ICL Notícias, com Folhapress
“Lula”, documentário que os cineastas Oliver Stone e Rob Wilson preparam há anos sobre o presidente, finalmente teve sua primeira sessão para o público.
Exibido no Festival de Cannes na noite deste domingo, o filme integra a mostra “Sessões Especiais” do evento e foi recebido de forma calorosa pelos espectadores que lotaram a sala Agnès Varda. A obra foi ovacionada pela plateia formada principalmente por estrangeiros, que aplaudiram a estreia por quatro minutos após a exibição.
“Este filme é sobre uma pessoa muito especial no mundo hoje. Acho que ele é um dos únicos líderes que é da classe trabalhadora, que veio da base, que aprendeu a ler tarde. Ele realmente lutou para ser quem ele é. E ele luta mais ainda no filme. Por favor, eu admiro este homem profundamente. E eu sei que muita gente o odeia. Eu não acho que vocês o odeiam. Por favor, não o odeiam muito porque ele tem uma alma maravilhosa”, declarou o cineasta ao apresentar o filme.
Diretor de obras contundentes como “Platoon” (1986), JFK (1991), “Nascido em quatro de julho”, Stone sempre fez um cinema politizado e crítico sobre os grandes temas da sociedade norte-americana.
Em paralelo, também tem paixão por documentários e investiga as grandes questões do mundo e da América Latina em filmes como “Ao sul da fronteira”, uma tentativa de entender os movimentos que elegeram líderes de esquerda na América Latina no início do século 21.
Em “Lula”, Stone investiga o fenômeno de Luiz Inácio Lula da Silva como um político fora do comum, cuja trajetória, como o cineasta afirmou, nasceu na pobreza e tem uma trajetória de superação incomparável.
“Lula” parte da infância de Lula em Pernambuco, conta sua chegada em São Paulo, o curso profissionalizante na adolescência, o acidente de trabalho que lhe custou um dedo e a entrada no movimento sindicalista até a criação do PT.
Definido como um “feel good movie” pelos produtores, o que parece improvável e quase impossível para um documentário sobre o cenário político do Brasil, “Lula” de fato apresenta uma narrativa que “faz sentir bem” ao final, com a conclusão de que, depois de anos conturbados com a Lava Jato, o golpe sofrido por Dilma Roussef, a prisão de Lula e a eleição de Jair Bolsonaro, o país retomou o curso da democracia.
A plateia embarcou na proposta e, mesmo que sóbria, aplaudiu muito no final. Houve gritos de “obrigado” para Stone e equipe, e gritos de “Olê, olê, olá, Lula, Lula” quando Stone deixava a sala.
“Vocês fizeram um ótimo trabalho”, respondeu o cineasta agradecendo os brasileiros presentes.
“Lula” contextualiza história recente do Brasil
Ainda que, obviamente, pró-Lula, o documentário toma o cuidado de contextualizar a história do Brasil recente, explicando o processo para uma plateia mais ampla que a do Brasil.
“Sei que há bons filmes sobre o Lula. Eu vi ‘Democracia em vertigem’, de Petra Costa. É um filme muito bom, gostei muito. Mas é um filme brasileiro e tem detalhes sobre os quais o público norte-americano ou europeu talvez não estejam interessados. Então, meu documentário é um pouco mais amplo e menos detalhado. E ela (Petra) fez um ótimo trabalho”, declarou o cineasta em entrevista ao Splash UOL em dezembro de 2022, durante o Red Sea International Film Festival, em que foi presidente do júri.
À época, sua equipe acabara de filmar o dia da eleição de Lula e ainda trabalhava no último corte. E, de fato, “Lula” é um documentário que dialoga com o público internacional, não tão versado na política latino-americana e nem brasileira, mas pode servir muito bem ao público do Brasil, que poderá ver não só a história contemporânea repassada e resumida, mas também explicada.
As conversas de Stone com Lula em diversas ocasiões funcionam como fio condutor da narrativa, que também não poupa os Estados Unidos e sua interferência nas tomadas de decisões da política brasileira.
O cineasta afirma claramente que houve envolvimento norte-americano na derrubada de Dilma e conta com depoimentos do jornalista Glenn Greenwald, que também analisa a Vaza Jato.
“É muito interessante. A gente vai até aí, mas não nos aprofundamos muito sobre onde o Departamento de Estado (norte-americano) se intersecciona com Sérgio Moro e a Direita brasileira. Mas essa foi uma história suja. Mais uma das centenas de crimes que os Estados Unidos cometeram na América do Sul”, comentou Stone em 2022.
Esta tese está presente no documentário, assim como também o brasileiro Walter Delgatti Neto, o Vermelho, ou o “hacker da Vaza Jato”, que forneceu a Greenwald as conversas vazadas da Lava Jato, caso que mudou o rumo da história e desembocou na soltura de Lula, em 2019.
O filme também atribui a grande parte da mídia brasileira a responsabilidade de contribuir para o cenário de desinformação que tomou conta do país e que desembocou no golpe de Dilma Rousseff, e também na eleição de Bolsonaro.
“Oligárquica, conservadora e propagandista, controlada por poucas famílias ricas”, define Stone.
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