segunda-feira, 20 de maio de 2024

A farsa do Brasil Paralelo nas lacunas da verdade, por Saulo Barbosa

 

Filipe Valeriam, Henrique Viana e Lucas Ferrugem, criaram, em 2016, a empresa Brasil Paralelo após perceber que havia público que consumia ideias anti-científicas influenciadas pelo astrólogo Olavo de Carvalho.



Brasil Paralelo nas lacunas da verdade

por Saulo Barbosa Santiago dos Santos

Do Jornal GGN:

Após as manifestações ocorridas no Brasil em 2013, os estudantes universitários Filipe Valeriam, Henrique Viana e Lucas Ferrugem, criaram, em 2016, a empresa Brasil Paralelo após perceber que havia público que consumia ideias anti-científicas influenciadas pelo astrólogo Olavo de Carvalho. Para Olavo e seus seguidores, a educação brasileira está corrompida pelo “marxismo cultural” e se não houver mudança, o país será invadido pelo comunismo. O objetivo deste texto é criticar a empresa Brasil Paralelo por distorcer fatos, deslegitimar a ciência e promover uma agenda ideológica de direita, visando engajamento e lucro em detrimento da veracidade dos dados.

 A Brasil Paralelo (BP) se apresenta como uma produtora de conteúdo imparcial que visa contar a história livre de ideologia, disposta a apresentar uma versão alternativa daquilo que é estudado nas academias, contando fatos que não são ensinados e eventos omitidos. Claro que na academia eles não seriam levados a sério porque na primeira tentativa de defender suas teses, seriam facilmente refutados com vasta fonte documental, então preferiram oferecer seus “estudos” no antro das “fake news”, na casa da manipulação da verdade: redes sociais.

Em terreno fértil para manipular a verdade, a BP desenvolve narrativas que deslegitimam os trabalhos científicos apenas afirmando que os estudos estão corrompidos pelo “marxismo cultural”. É mais ou menos assim, digamos que 99,9% dos historiadores concordam que o Brasil sofreu uma ditadura empresarial-militar, entretanto, 0,1% de outros profissionais, negam sem provas, a ditadura. O que o Brasil Paralelo faz é justamente dar voz a esta exceção acadêmica e transparecer que eles são vítimas do silenciamento esquerdista.

Numa entrevista ao canal “inteligência ilimitada”[1], dada em 2022, os fundadores da BP exemplificam a metodologia usada por eles na construção de documentários. Segundo eles, num trabalho de campo na República Tcheca sobre a interferência da União Soviética na política brasileira na década de 60, a equipe da empresa contratou um brasileiro que falava polonês, mas o entrevistado não entendia a língua polonesa, então, contrataram um tcheco, que sabia polonês, com isso, eles faziam a pergunta para o brasileiro, o brasileiro traduzia para o polonês, e o polonês traduzia para o tcheco e as resposta seguiam a mesma linha.

Há dois fatos importantes que o historiador Gaiofato, do “história cabeluda”, percebeu e pôs em check os métodos da Brasil Paralelo na entrevista citada no parágrafo anterior: Primeiro, por que entrevistaram um tcheco se a república tcheca nem fazia parte da União Soviética? Eles tinham todo o leste europeu para fazer o trabalho de campo, foram justamente atrás de quem não tinha nada a ver, que não estava, sequer, no lugar de fala? Segundo, foram usadas três línguas diferentes na entrevista, o que se perdeu no uso das palavras, interpretações, contextos e tudo mais, levam a  consequências incontáveis e diminui drasticamente a qualidade do trabalho.

Os estudos que a BP fez a partir desta dinâmica não seria aceito nem na faculdade mais miserável, mas por que mesmo assim fazem e publicam? Porque o objetivo e a preocupação não está na veracidade dos fatos, mas sim na manipulação da verdade para levantar engajamento e gerar lucro.

Chegamos à conclusão de que a Brasil Paralelo conseguiu crescimento a partir de três atos estratégicos: busca de terreno fértil para manipular a verdade, deslegitimação da ciência e, por fim, substituí-la por argumentos pautadas por ideologias de direita. O importante não é passar conhecimentos, mas moldar fatos que contribuam à desinformação, causando assim um impacto negativo e desnecessário no desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária.


[1] https://www.youtube.com/watch?v=9BX-j5QrKIE

Saulo Barbosa Santiago dos Santos – Guarda Civil, Professor de filosofia e Autista

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